ANÁLISE DE FIBRAS E CÁLCULO DO VALOR CALÓRICO DE REQUEIJÃO LIGHT E DE REQUEIJÃO SEM ADIÇÃO DE GORDURA ADICIONADOS DE FIBRA ALIMENTAR MIRELA G. BOSI1, ARIENE G.F. VAN DENDER2, KATUMI YOTSUYANAGI3 Resumo O objetivo deste trabalho foi avaliar o teor de fibras e o valor calórico de requeijão cremoso light e requeijão cremoso sem adição de gordura, ambos com fibra alimentar. Foram desenvolvidas cinco formulações de requeijão light: 3,3% e 6,7% de inulina; 6,7% da combinação de diferentes fibras (inulina e oligofrutose); 3,3% de polidextrose; e 3,3% de fruto-oligossacarídeo. Quanto ao requeijão cremoso sem gordura, foram desenvolvidas três formulações: 3,3% e 6,7% de inulina; e 6,7% da combinação de inulina e oligofrutose. Os resultados demonstraram redução de 46,76% do valor calórico dos requeijões light em relação aos requeijões sem adição de gordura. Palavras-chave: requeijão cremoso, fibra alimentar, valor calórico. Abstract The objective of this work was to evaluate the fiber content and the caloric value of low fat and no fat-added requeijão cremoso. Five low fat cheese types were developed: 3.3% and 6.7% inulin; 6.7% of a combination of different fibers (inulin and oligofructose); 3.3% polydextrose; and 3.3% fructooligosaccharide. Concerning no fatadded cheese, three types were developed: 3.3% and 6.7% inulin; and 6.7% of inulinoligofructose blend. The results showed reduction of 46.76% of caloric value when comparing low fat and no fat-added requeijão cremoso. Keywords: processed cheese, dietary fiber, caloric value. Introdução O mercado consumidor tem aumentado a procura por alimentos que promovam a saúde e que reduzam o risco de algumas doenças. Portanto, pesquisas relacionadas ao desenvolvimento de alimentos de fácil consumo e com propriedades benéficas são de significativa importância (BAYARRI, 2011). As fibras solúveis possuem características funcionais que possibilitam a redução do teor de gorduras em produtos alimentícios. Além disso, fibras apresentam a vantagem de agregar um componente que apresenta déficit de consumo (CASTRO, 2004). Deste modo, é importante que as fibras adicionadas a produtos alimentícios, com função tecnológica e/ou nutricional, sejam estáveis ao processamento e ao armazenamento. O objetivo deste trabalho foi avaliar o teor de fibras e o valor calórico de requeijão cremoso light e sem adição de gordura, ambos adicionados de fibra alimentar. 1 Professora UFES, Alegre-ES, [email protected] 2 Pesquisadora Tecnolat / Ital, Campinas-SP 3 Pesquisador CCQA / Ital, Campinas-SP. Material e Métodos Este trabalho foi dividido em três etapas. Cada etapa consistiu em três processamentos (repetições), que foram realizados no Tecnolat/Ital. Na primeira etapa, foram desenvolvidas três formulações, duas delas com diferentes concentrações de fibra de origem vegetal (3,3% e 6,7% de Orafti®HPX; inulina). Na terceira formulação utilizou-se uma combinação de diferentes fibras (6,7% de Orafti®Synergy1; inulina e oligofrutose). Na segunda etapa, foram desenvolvidas três formulações de requeijão sem adição de gordura, sendo utilizadas as mesmas concentrações de fibra presentes nos requeijões da primeira etapa. Na terceira etapa do trabalho, foram desenvolvidas outras duas formulações de requeijão light com fibra alimentar (3,3% de Litesse®; polidextrose, e 3,3 % de NutraFlora®; fruto-oligossacarídeo). Em cada repetição de cada etapa, foi processado também o requeijão controle (light ou sem adição de gordura), com adição de concentrado de proteína de soro – CPS (WPC) 34%. A caracterização do produto recém-fabricado foi feita por meio das análises de umidade (INTERNATIONAL DAIRY FEDERATION, 1982), gordura (SILVA et al., 2002) a partir do método oficial preconizado pela AOAC (1997), proteína total (INTERNATIONAL DAIRY FEDERATION, 1962;1964), cinzas (HORWITZ, 2005a), pH (INSTITUTO ADOLFO LUTZ, 2005). Nos requeijões com Orafti®HPX (inulina), Orafti®Synergy1 (inulina e oligossacarídeo) e NutraFlora® (fruto-oligossacarídeo), o teor de fibras foi determinado de acordo com Horwitz (2005b) por meio da utilização do kit K-FRUCHK, da empresa Megazyme International Ireland Limited, Bray, Co. Wicklow, Irlanda, indicado para determinação de fruto-oligossacarídeo. Por sua vez, a fibra Litesse® (polidextrose) foi determinada de acordo com Horwitz (2005b). A análise de fibras foi realizada no Centro de Química do Instituto de Tecnologia de Alimentos/Ital. O valor calórico, expresso em kcal por 100 gramas, foi calculado pela fórmula (KALIL, 1975 apud SILVA, 2003): V C = (% proteína total x 4) + (% carboidrato x 4) + (% gordura x 9) Resultados e Discussão Os resultados da composição e valor calórico estão apresentados na Tabela 1. Observa-se que, na maior parte das amostras, o teor de fibra é inferior ao calculado. Uma possível explicação é o tempo de estocagem das amostras quando a análise foi realizada, que variou de 60 a 240 dias, sendo a vida-de-prateleira estimada para o requeijão de 90 dias. TABELA 1. Composição e valor calórico de cada requeijão. Umidade Proteína Gordura Amostra Cinzas Fibra n=3 n=9 Carboidrato excluindo fibra Valor calórico (kcal/100g) Light controle 71,75 14,69 9,48 2,22 Sem adição 1,86 151,52 3,3 % inulina 70,48 13,70 9,58 2,03 2,84 1,37 150,76 6,7 % inulina 68,94 12,86 9,42 1,62 6,10 1,06 149,61 6,7% inulina e oligofrutose 67,46 13,23 9,91 1,75 6,76 0,89 155,81 3,3 % polidextrose 70,68 12,67 10,68 1,90 3,25 0,82 153,33 3,3 % FOS 68,84 13,23 11,59 1,94 2,76 1,64 169,31 Sem gordura controle 79,93 15,12 1,12 2,44 Sem adição 1,39 3,3 % inulina 76,43 15,45 1,20 2,63 2,79 1,50 82,79 6,7 % inulina 74,46 14,48 1,18 2,50 5,43 1,95 84,49 6,7% inulina e oligofrutose 73,96 14,52 1,15 2,46 5,31 2,60 86,80 76,12 Umidade, proteína, gordura, cinzas, fibra, carboidrato excluindo fibra são dados em g/100g Segundo Moura (2004), o fruto-oligossacarídeo resiste à temperatura de cerca de 140 ºC, e é resistente a pH acima de 3. A inulina, de acordo com Mitchel (2002), pode hidrolisar em pH inferior a 4,0. Estudos demonstraram que em pH 3,2 ocorre aproximadamente 20 % de hidrólise de inulina a 20 oC. A polidextrose, por sua vez, em solução diluída (concentração aproximada de 5 %) e submetida a tratamentos térmicos de 70, 85 e 100 oC por mais de 5 horas, em pH entre 3 e 6, mantém-se estável por mais de 30 semanas estocada a –20, 5, 20 e 40 oC. A hidrólise da fibra adicionada ao alimento depende do pH, atividade de água, temperatura e tempo. Os requeijões do presente estudo foram submetidos à temperatura de até 87 ºC durante o processamento e foram armazenados a 4 ± 2 ºC. O valor de pH das amostras variou de 5,81 a 5,91. Uma vez que cada fibra utilizada não é digerida no intestino delgado e, portanto, entra no intestino grosso praticamente em sua totalidade onde é fermentada, o seu valor calórico é inferior ao do carboidrato digerível, ou seja, inferior a 4 kcal por grama. Para o cálculo foram utilizados os seguintes valores calóricos de cada fibra: Orafti®HPX e Orafti ®Synergy1; 1,5 kcal/g (BENEO orafti, 2013); Litesse®; 1 kcal/g (MITCHEL, 2002); NutraFlora®; 2,0 kcal/g (BORNET et al., 2002). Comparando a média do teor de gordura dos requeijões light (10,11 %) com a média do teor de gordura dos requeijões sem adição de gordura (1,16 %), percebe-se uma redução de 88,53 % de gordura. Quanto ao valor calórico, houve uma redução de 46,76 %, ou seja, de 155,06 kcal/100g, que é a média do valor calórico dos produtos light, para 82,55 kcal/100g, média do valor calórico dos produtos sem adição de gordura. Conclusão Os resultados obtidos mostraram a viabilidade de se fabricar requeijão cremoso light e requeijão cremoso sem adição de gordura, ambos com adição de fibra alimentar. Foi verificado que, de um modo geral, as amostras apresentaram valores adequados para as análises físico-químicas, com exceção dos valores encontrados para o teor de fibra, que foram inferiores aos esperados. Os resultados indicaram a necessidade de utilização de uma maior margem de segurança para a obtenção da quantidade correta de fibra ao final da vida-de-prateleira do produto. Referências BAYARRI, S. Impact of sensory differences on consumer acceptability of yoghurt and yoghurtlike products. International Dairy Journal, v. 21, p. 111-118, 2011. BENEO orafti. Food regulation. Disponível em <http://www.orafti.com/Our-Products/FoodRegulation >. Acesso em: 14 maio 2013. BORNET, F. R. J.; BROUNS, F.; TASHIRO, Y.; DUVILLIER, V. Nutritional aspects of shortchain fructooligosaccharides: natural occurrence, chemistry, physiology and health implications. Digest and Liver Disease, v. 34, p. 111-120, 2002. CASTRO, F. B. O perfil do consumo de alimento e a obesidade. 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