DOI: 10.5327/Z1519-1672201400620002 Artigo Original Processo de acreditação hospitalar internacional de um hospital geral público da Grande São Paulo International hospital accreditation process of a public general hospital in Greater São Paulo Lisiane Valdez Gaspary1 Palavras-chave Administração hospitalar Acreditação Gestão de qualidade Segurança RESUMO O Hospital Geral de Itapecerica da Serra, desde a sua inauguração, se preocupou com a qualidade da assistência prestada, trabalhando com princípios norteadores de excelência, que resultaram em vários reconhecimentos no decorrer dos anos, como Referência Nacional para o Método Canguru e em Boas Práticas de Atenção ao Parto e Nascimento, além de Referência Estadual em Boas Práticas de Humanização. Em 2009, foi acreditado com excelência pela Organização Nacional de Acreditação e, em 2012, pela Joint Commission International. A acreditação internacional se concretizou após dois anos de aprofundamento do manual, levantamento de evidências de conformidades, elaboração de planos de ação de melhoria, elaboração e aprimoramentos de documentos, como políticas, programas, planos, protocolos técnicos assistenciais, procedimentos operacionais padrão, impressos, entre outros, e articulação e alinhamento dos processos para a disseminação das mudanças aos profissionais da instituição. Na avaliação diagnóstica, o hospital conseguiu nota geral 8,12 e 79,1% de conformidade; na primeira avaliação simulada educativa, a nota foi 8,15 e houve 73,8% de conformidade; na segunda, a nota foi 9,44 com 92,3% de conformidade, sendo que havia 91 itens parciais e não conformes, assim como 2 padrões com nota abaixo de 5,0. Na avaliação de acreditação, dos 1.221 itens avaliados, o hospital obteve conformidade em 1.202 (98,4% de conformidade). Keywords Hospital administration Accreditation Quality management Safety ABSTRACT Recebido em: 09/01/2014 Aprovado em: 27/03/2014 Conflito de interesses: nada a declarar Fonte de financiamento: nenhuma Trabalho realizado no Hospital Geral de Itapecerica da Serra (HGIS) – Itapecerica da Serra (SP), Brasil. 1.Enfermeira; Especialista em Administração Hospitalar pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e em Gestão da Qualidade pelo Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE) – São Paulo (SP); Gerente da Qualidade do HGIS – Itapecerica da Serra (SP), Brasil. Endereço para correspondência: Lisiane Valdez Gaspary – Avenida Guacy Fernandes Domingues, 200 – CEP: 06854000 – Embu-Mirim (SP), Brasil – E-mail: [email protected] The General Hospital of Itapecerica da Serra has been concerned with the quality of care since its inception, working with the guiding principles of excellence as a National Reference for the Kangaroo Method and Good Practice of Childbirth Attention, besides the State Reference in Practice Humanization; besides, the facility has been presented with several awards over the years. In 2009, it was accredited with excellence by the National Accreditation Organization and, in 2012, by the Joint Commission International. The international accreditation was achieved after two years of hard workbook studies, finding evidence of conformity, preparation of action plans for improvement, development and enhancements of documents, such as policies, programs, plans, technical assistance protocols, standard operating procedures and others, printed and articulation and alignment of processes for the dissemination of changes to the institution professionals. In diagnostic evaluation, the hospital got an overall score of 8.12 and 79.1% of compliance; in the first educational simulated review, the note was 8.15 and 73.8% of compliance; in the second one, the note was 9.44 with 92.3% of compliance, of which there were 91 partial and non-conforming items and 2 standards with grades below 5.0. In the accreditation assessment, from 1,221 items, the hospital got conformity 1,202 (98.4% of compliance). 4 Gaspary LV A HISTÓRIA DA ACREDITAÇÃO A preocupação com a qualidade da assistência e dos serviços prestados na saúde surgiu muito antes das primeiras instituições acreditadoras. O imperador da Babilônia grafou no Código de Hammurabi, cerca de 2.000 anos a.C., a recomendação de “não causar mal a alguém”. Hipócrates também referiu em seu juramento, 400 anos a.C., “primum non noscere” (primeiro não causar dano)1. Durante a Guerra da Criméia, em 1854, Forence Nightingale inseriu algumas medidas inovadoras, tais como ventilação e uso de desinfetantes, melhorando o ambiente de cuidados aos doentes nos campos de batalha e reduzindo de maneira drástica a taxa de mortalidade nos hospitais1. Em 1910, nos Estados Unidos, o Doutor e Professor Ernest Amory Codman, cirurgião do Hospital Geral de Massachusetts, desenvolveu um trabalho denominado End Results Systems (Sistema de Resultados Finais), no qual monitorava e avaliava os resultados dos tratamentos e procedimentos cirúrgicos realizados no hospital, com objetivo de identificar intercorrências negativas nos processos e, a partir dessa identificação, propor melhorias para garantir a qualidade da assistência prestada. De seus achados e ações de acompanhamento, também se desenvolveram as teorias do que hoje é chamado de Outcomes Management (Gerenciamento dos Resultados)2. O Doutor Codman, comprometido com a qualidade da assistência, foi um dos líderes do movimento que culminou, em 1913, com a fundação do Colégio Americano de Cirurgiões (CAC), o qual adota o “Sistema de Resultados Finais” como uma de suas premissas, visando à melhoria da qualidade no cuidado prestado nos hospitais americanos. Como desdobramento desse trabalho liderado pelo CAC, foi desenvolvido, em 1917, um conjunto de padrões chamados de “Minimum Standards” (Padrões Mínimos), sendo esses os primeiros padrões relacionados com processos de melhoria da qualidade, oficialmente estabelecidos, associados a um programa de padronização hospitalar2. Em 1918, o CAC realizou as primeiras avaliações com base nos padrões mínimos, abrangendo 692 hospitais, dos quais apenas 89 atendiam aos requerimentos previstos nesses padrões. Oficializou-se, então, o Programa de Padronização Hospitalar. Como consequência dessa avaliação considerada preocupante, o CAC consolidou a discussão sobre a questão da qualidade hospitalar e iniciou o desenvolvimento de novas estratégias para a criação e implantação de padrões de qualidade. Em 1926, foi lançado o primeiro manual de padrões2. RAS _ Vol. 16, No 62 – Jan-Mar, 2014 Com o avanço do programa e a introdução de novos padrões, em 1950, mais de 3.200 hospitais já estavam participando do processo de avaliação, em caráter voluntário, por reconhecerem as melhorias advindas com a implantação dos padrões2. Em 1951, o CAC, em conjunto com a Associação Americana de Clínicos, a Associação Médica Americana, a Associação Americana de Hospitais e a Associação Médica Canadense, criaram a Joint Commission on Accreditation of Hospitals (JCAH), entidade independente, não governamental e sem fins lucrativos. A missão dessa nova entidade era a provisão de acreditação, em caráter voluntário. E, em 1959, a Associação Médica Canadense se retira da JCAH para criar uma agência acreditadora no Canadá2. Segundo o dicionário Michaelis3, o significado de “acreditar” é crer, dar crédito a, ter como verdadeiro, confiar em, conferir reputação a. A JCAH, no decorrer dos anos, desenvolveu esse papel de avaliar e acreditar os hospitais americanos segundo os padrões de qualidade. Assim, a acreditação ficou conhecida como um método de avaliação dos recursos institucionais, voluntário, periódico e reservado, que busca garantir a qualidade da assistência por meio de padrões previamente definidos, ou seja, uma entidade avalia a instituição de saúde para determinar se ela atende a uma série de requisitos (padrões) criados para melhorar a segurança e a qualidade do cuidado2,4. Em 1970, a primeira mudança se estabelece no Programa de Acreditação, quando os padrões são redefinidos e passam a estabelecer requerimentos de excelência da qualidade, com a substituição de padrões mínimos por padrões ótimos alcançáveis. Essa mudança propiciou também o fortalecimento da cultura da melhoria contínua, uma vez que as instituições passam a estabelecer novos parâmetros de referência da excelência para os processos de cuidado desenvolvidos em seus serviços2. Em 1987, a JCAH muda de nome para Joint Commission on Accreditation of Health Care Organizations (JCAHO), refletindo a expansão dos programas para diversos segmentos de serviços de saúde, incluindo também ambulatórios, laboratórios, saúde mental, rede de serviços, home care, entre outros2. A ACREDITAÇÃO NO BRASIL As iniciativas de criar requisito de avaliação da qualidade hospitalar no Brasil vêm ocorrendo desde 1990. A primeira entidade a estimular os hospitais a desenvolverem programa de qualidade foi a Associação Paulista de Medicina5. Processo de acreditação hospitalar internacional de um hospital geral público da Grande São Paulo Assim, em 1989, foi criado o Programa Compromisso com a Qualidade Hospitalar (CQH), que se inspirou nos trabalhos da Comissão Conjunta de Acreditação de Organizações de Saúde (CCAOS), dos Estados Unidos, e resultou de ampla discussão entre diversas entidades ligadas ao atendimento médico-hospitalar no Estado de São Paulo, catalisada pelo Serviço de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde6. Em 1991, o CQH iniciou suas atividades com o encaminhamento de comunicação a todos os hospitais do Estado de São Paulo (aproximadamente 800 na época), informando sobre os objetivos do Programa, sua metodologia e convidando-os a se filiarem, mediante o preenchimento de um Termo de Adesão. Hoje, existem em torno de 200 participantes, sendo que alguns são de fora do Estado de São Paulo6. Em 1994, o CBC organizou, juntamente com a Academia Nacional de Medicina e o Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/UERJ), o Seminário “Acreditação de Hospitais e Melhoria da Qualidade”, que contou com a participação de especialistas internacionais. Como fruto desse Seminário, foi criado pelas instituições organizadoras o Programa de Avaliação e Certificação de Qualidade em Saúde (PACQS), com o objetivo de aprofundar a análise e a implementação de procedimentos, técnicas e instrumentos voltados para acreditação de hospitais e prestar cooperação técnica às instituições de saúde comprometidas com o processo de melhoria contínua da qualidade2. Em junho de 1995, o Ministério da Saúde criou o Programa de Garantia e Aprimoramento da Qualidade em Saúde (PGAQS). Com a implantação desse programa, foi também criada a Comissão Nacional de Qualidade e Produtividade, da qual faziam parte, além do grupo técnico do Programa, representantes de provedores de serviço, da classe médica, órgãos técnicos relacionados ao controle da qualidade e representantes dos usuários dos serviços de saúde. Essa Comissão ficou responsável pela discussão dos temas relacionados com a melhoria da qualidade do serviço prestado nas instituições de saúde, definindo estratégias para o estabelecimento das diretrizes do Programa2. O grupo técnico do Programa iniciou levantamento de Manuais de Acreditação utilizados no exterior, como nos Estados Unidos, Canadá, Catalunha/Espanha, Inglaterra e outros, além dos manuais que começavam a ser utilizados no Brasil pelos estados anteriormente mencionados (Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná)4. Esse conjunto de atividades fez com que fosse encaminhado um projeto ao Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade (PBQP), que definia metas para implantação de um processo de certificação de hospitais identificado como Acreditação Hospitalar. A partir do manual editado pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e das experiências estaduais, buscou-se então estabelecer um consenso de opiniões para alcançar padrões de avaliação comuns a todos. Surge, então, em 1998, o Manual Brasileiro de Acreditação Hospitalar. Em abril/maio de 1999, foi então constituída juridicamente a Organização Nacional de Acreditação (ONA), iniciando-se, a partir daí, a implantação das normas técnicas do Sistema Brasileiro de Acreditação4. Os requisitos do Manual Brasileiro de Acreditação Hospitalar estão distribuídos dentro de três níveis que abordam três conceitos: estrutura, processos e resultados. Cada um dos três níveis também expressa os fundamentos da qualidade: visão sistêmica, liderança e estratégias, orientação por processos, desenvolvimento das pessoas, foco no cliente, foco na prevenção, foco na segurança, responsabilidade socioambiental, cultura da inovação, melhoria contínua e orientação para resultados4. Os selos de qualidade da ONA, da JCAHO, do CQH, entre outros, são métodos desenvolvidos para diagnosticar a assistência médico-hospitalar prestada e sistematizar os processos, visando à melhoria da qualidade na prestação de serviços5. O processo de acreditação foi desenvolvido para criar uma cultura de segurança e qualidade no interior de uma instituição que se empenha em aperfeiçoar continuamente os processos de cuidado ao paciente e os resultados obtidos. Através disso, as instituições2: • elevam sua credibilidade junto à população no que diz respeito à sua preocupação com a segurança do paciente e com a qualidade do atendimento; • proporcionam um ambiente de trabalho seguro e eficiente, que contribui para a satisfação do trabalhador; • escutam os pacientes e seus familiares, respeitam seus direitos e criam com eles uma parceria no processo de cuidado; • criam uma cultura aberta a aprender com os relatórios realizados regularmente sobre eventos adversos e questões de segurança; e • estabelecem um estilo de liderança colaborativa que define prioridades e uma liderança contínua que prima pela qualidade e segurança do pacientes em todos os níveis. RAS _ Vol. 16, No 62 – Jan-Mar, 2014 5 6 Gaspary LV A HISTÓRIA DO HOSPITAL GERAL DE ITAPECERICA DA SERRA O Hospital Geral de Itapecerica da Serra (HGIS) pode ser considerado uma conquista de todos. Em 3 de março de 1999, após mais de 10 anos de mobilização popular em prol de sua construção, o HGIS é inaugurado e tem sua gestão de serviços realizada por uma Organização Social de Saúde — o Serviço Social da Construção Civil do Estado de São Paulo (Seconci-SP) —, por meio de uma parceria celebrada com o governo do Estado de São Paulo. Desde a sua inauguração, o hospital vem passando por um processo de adequação do seu perfil assistencial. Até 2003, 50% das saídas hospitalares do HGIS eram obstétricas. A partir de 2004, com a reforma e ampliação dos leitos para partos de baixo risco nas maternidades municipais em Itapecerica da Serra e Embu das Artes, houve uma significativa mudança no seu perfil assistencial, caracterizada pela ampliação das saídas cirúrgicas e aumento de sua complexidade. Assim, aumenta o número e a complexidade das cirurgias ortopédicas, pediátricas, obstétricas, vasculares, oftalmológicas, urológicas, de cabeça e pescoço e torácica. Ao mesmo tempo, o hospital passa a atender prioritariamente os partos de alto risco, tornando-se referência nesse tipo de atendimento para a sua região. Em 2007, o hospital aumenta de 7 para 20 o número de leitos de terapia intensiva para adultos. A partir de 2009, passa a atender a especialidade de neurocirurgia, aumentando o número de cirurgias de urgência e emergência e sua complexidade. Em 2010, inaugura o serviço de reabilitação, visando à continuidade dos cuidados a esses pacientes de maior complexidade. Atualmente, o HGIS possui 222 leitos, distribuídos da seguinte maneira: 28 em Ginecologia e Obstetrícia; 30 em Neonatologia (10 de Unidade de Terapia Intensiva – UTI Neonatal); 17 em Clínica Pediátrica; 21 em Clínica Médica; 43 em Clínica Cirúrgica; 21 em Clínica Ortopédica; 6 em UTI Pediátrica; 20 em UTI Adulto; 10 em HospitalDia; 8 em Recuperação Anestésica; 14 em Pronto-Socorro; 4 em Terapia Semi-Intensiva. O HGIS atende uma população total de 265.620 pessoas7, sendo 59% residentes em Itapecerica da Serra, 24% em Embu Guaçu, 11% em Juquitiba e 6% em São Lourenço da Serra. Em 2012, 19,5% das saídas hospitalares foram referentes a gravidez, parto e puerpério, 16,6% a lesões, envenenamento e algumas outras consequências de causas externas e 10,6% a doenças do aparelho digestivo, demonstrando um aumento significativo desses três grupos no último ano, conforme os Gráficos 1 a 3. ADOÇÃO DE MODELOS DE GESTÃO DA QUALIDADE Desde a sua inauguração, em 1999, o HGIS procura trabalhar com princípios norteadores de excelência, buscando expressar fundamentos que traduzem as melhores 50,0% Gravidez, parto e puerpério (O00-O99) Lesões, envenenamento e algumas outras consequências de causas externas (S00-T98) Doenças do aparelho 45,0% 40,0% 35,0% 30,0% 25,0% 20,0% 15,0% 10,0% 5,0% 0,0% 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Fonte: Informação, Medição e Análise do Hospital Geral de Itapecerica da Serra. Gráfico 1. Percentual relativo das três principais causas de diagnóstico de saída (Grupo da CID-10) segundo o ano. RAS _ Vol. 16, No 62 – Jan-Mar, 2014 2011 2012 Processo de acreditação hospitalar internacional de um hospital geral público da Grande São Paulo práticas e resultados, como a visão sistêmica, foco no cliente, melhoria contínua, entre outros. Criar, fortalecer e manter uma cultura organizacional forte e consistente tem sido um dos objetivos perenes do HGIS. Para sustentar essa cultura, o hospital possui missão, visão e valores bem definidos de onde derivam suas políticas, programas e ações. Sua missão é: Defender a saúde da comunidade e contribuir para o aprimoramento do Sistema Único de Saúde. Sua visão é: Ser reconhecido pela excelência em gestão de serviços de saúde. Seus valores são: Ética, Dignidade no atendimento e no trabalho, Pioneirismo e Inovação, Excelência e Economicidade, Compromisso com a Comunidade. A partir de 2007, o hospital passou a utilizar a metodologia Balanced Scorecard em seu planejamento. Essa ferramenta possibilitou a tradução e o desenvolvimento da estratégia organizacional em objetivos claros para cada perspectiva analisada por meio de um mapa estratégico, 3,05% 4,00% 5,66% 1,84% 1,56% Itapecerica da Serra Embu Guaçu São Paulo Juquitiba Embu São Lourenço da Serra Outros 9,30% 74,59% Fonte: Informação, Medição e Análise do Hospital Geral de Itapecerica da Serra Gráfico 2. Atendimento de urgência/emergência segundo o município (2012). 2% 1% 6% 5% 7% 9% 54% 17% Itapecerica da Serra Embu Guaçu Juquitiba Outros São Paulo São Lourenço da Serra Cotia Osasco Fonte: Informação, Medição e Análise do Hospital Geral de Itapecerica da Serra Gráfico 3. Saídas hospitalares segundo o município (2012). focando: a segurança dos processos; o desdobramento das estratégias através do planejamento das operações e a comunicação da estratégia; a estruturação e monitoramento do sistema de medição da organização pelo painel de indicadores; o alinhamento com a estratégia do negócio e o aprendizado estratégico, propiciando o desenvolvimento das competências dos recursos humanos e um ambiente organizacional para mudança. Humanização A política assistencial adotada no HGIS, desde a abertura de seus serviços, está voltada para a humanização do atendimento e o uso adequado da tecnologia numa lógica de busca da qualidade. O HGIS entende a humanização como um atributo essencial dentro da visão integral do cuidado em saúde. Um olhar diferenciado para seu cliente e sua especificidade, sua história de vida, seu cotidiano e a comunidade a que pertence. Da preocupação com o acolhimento do paciente, ainda na recepção, até a formação de uma equipe profissional forte e multidisciplinar, o HGIS oferece aos seus pacientes uma assistência digna e de qualidade focada no cliente e alinhada com a visão da instituição. São inúmeras as iniciativas desenvolvidas com esse objetivo, tais como: Grupo de Cuidadores, Método Canguru, Parto Humanizado, Acompanhamento Psicológico ao Paciente Pediátrico no Hospital Dia, Visita Ampliada e Acompanhante na UTI. Muitas dessas iniciativas renderam ao HGIS prêmios e reconhecimentos nacionais. Em 2000, tornou-se referência nacional para o Método Canguru (Figura 1A), pelo atendimento humanizado ao recém-nascido de baixo peso. Nesse mesmo ano, recebeu o Prêmio Professor Galba de Araújo pelo atendimento à mulher e ao recém-nascido (Figura 1B), em reconhecimento ao estímulo ao parto normal e ao aleitamento materno. Conquistou, em 2001, o título de Hospital Amigo da Criança (Ministério da Saúde/Fundo das Nações Unidas para a Infância/Organização Mundial da Saúde) (Figura 1C) e, em 2004, recebeu o Prêmio Nacional Professor Fernando Figueira (Figura 1D), na categoria “melhor atendimento pediátrico da Região Sudeste”. Em 2010, foi eleito como a 2ª melhor maternidade e o 31º melhor hospital geral do Estado de São Paulo. Em 2012, passou a ser Referência em Boas Práticas de Humanização pela Secretaria de Estado da Saúde Programa Humaniza/SES e Centro de Referência em Boas Práticas de Atenção ao Parto e Nascimento - Ministério da Saúde e Rede Cegonha do Estado de São Paulo. RAS _ Vol. 16, No 62 – Jan-Mar, 2014 7 8 Gaspary LV Esses reconhecimentos demonstram que a busca e implantação permanente de boas práticas dá resultado, ao favorecer a produção de cuidado seguro, eficiente, eficaz, resoluto e, é claro, de qualidade. Da valorização do cuidado multiprofissional, passando pela humanização, capacitação profissional, protocolos técnico-assistenciais, criações de comissões e comitês até a adoção de metodologias de qualidade em serviços de saúde, tudo o que fazemos tem o claro objetivo expresso pela nossa missão: defender a saúde da comunidade e contribuir para o aprimoramento do Sistema Único de Saúde. A Programa de Controle da Melhoria da Qualidade e Segurança do Paciente O desenvolvimento do Programa de Controle da Melhoria da Qualidade e Segurança do Paciente (PCMQSP) foi uma das estratégias para o aperfeiçoamento contínuo dos processos na instituição, e sua concepção teve como base a adoção do modelo de avaliação externa preconizado pela ONA. Incorporou seletivamente o conteúdo das normas da Série NBR ISO 9000, do Programa CQH, Critérios de Excelência do Prêmio Nacional de Gestão da Qualidade (PNGS) e diretrizes do Manual da Joint Commission Internacional. B C D Fonte: Comunicação - Hospital Geral de Itapecerica da Serra. Figura 1. Prêmios e reconhecimentos. (A) Referência Nacional no Método Canguru; (B) Prêmio Professor Galba de Araújo pelo atendimento à mulher e ao recém-nascido; (C) Hospital Amigo da Criança (Ministério da Saúde/Fundo das Nações Unidas para a Infância/Organização Mundial da Saúde); (D) Prêmio Nacional Professor Fernando Figueira. RAS _ Vol. 16, No 62 – Jan-Mar, 2014 Processo de acreditação hospitalar internacional de um hospital geral público da Grande São Paulo A horizontalização na gestão e a abordagem multidisciplinar são dois importantes eixos, característicos do sistema de liderança adotado, por meio do qual a governança da instituição é exercida. Esse sistema busca autonomia e responsabilidade na gestão (Figura 2) e alinhamento das iniciativas com os objetivos estratégicos da instituição. Assim, a qualidade e a segurança na instituição são trabalhadas em todas as instâncias da organização, da alta direção (Conselho Técnico Administrativo), operadores do sistema (Qualidade, Informação, Vigilância de Risco e Serviço de Atenção ao Cliente), comissões e comitês, facilitadores e avaliadores internos até os gestores e equipes que atuam na base. O PCMQSP elaborado na instituição estabelece as lideranças, delineia o planejamento com base em princípios norteadores, apresenta as estratégias de melhoria da qualidade e segurança, a gestão de indicadores e a implementação e manutenção das mudanças que resultam em melhoria. O programa, alinhado às políticas institucionais, constitui-se de um instrumento-chave para a elaboração de outros documentos, como outros programas e planos demonstrados na Figura 3. O programa é revisado anualmente, e seus resultados são avaliados por meio do cumprimento das ações previstas no PCMQSP. O monitoramento também é feito a partir da definição das medidas e metas para o gerenciamento por meio de diretrizes, metas internacionais de segurança do paciente e por indicadores do Planejamento Estratégico. A divulgação do programa e seus resultados ocorrem por meio de relatórios: Relatório da Vigilância do Risco, Relatório do Serviço de Controle de Infecção, Relatório de Medidas de Internação, Relatório de Produção Assistencial, Relatório de Atividade Assistencial Hospitalar, Ambulatorial e de Qualidade do Contrato de Gestão da Secretaria Estadual da Saúde, Relatório de Mortalidade Geral e Infantil, Relatório de Nascidos Vivos, Relatório de Morbidade e Perfil Nosológico, entre outros. A comunicação ocorre por Boletim de Gerenciamento de Risco, Jornal “Vivendo o HGIS”, reuniões, Comitê Gestor Hospitalar, comunicação visual, canal aberto e direto, Intranet, Internet, blogs, murais, e-mail etc. A educação da qualidade e segurança acontece vinculada a outros programas, eventos (Semana Multiprofissional, Qualidade, Risco, Higienização das Mãos, Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho - SIPAT), treinamentos, simulados (Simulação Realística, Atendimento de Múltiplas Vítimas, Combate a Incêndio e Abandono, Gestão de Conflitos) e rastreadores com foco educativo. O processo de acreditação Conselho Técnico Administrativo Gestores e equipes Facilitadores e Avaliadores Internos Programa de Controle da Melhoria da Qualidade e Segurança do Paciente Qualidade, Informação e Vigilância de Risco Serviço de Atenção ao Cliente Comissões e Comitês Responsabilidade Compartilhada Abordagem Multiprofissional Gestão Horizontal Fonte: Qualidade - Hospital Geral de Itapecerica da Serra. Figura 2. Responsabilização do Programa de Controle da Melhoria da Qualidade e Segurança do Paciente. Foi um desafio iniciado em dezembro de 2002 com a palestra “Modelos de Avaliação Externa”, ministrada pela Professora Ana Maria Malik. Em 2003, a instituição definiu o modelo de acreditação que seria adotado (ONA) e foram criados a Comissão de Acreditação Hospitalar e os Comitês Locais da Qualidade. Em 2004, o HGIS passou na avaliação de diagnóstico e foi instituído o Comitê da Qualidade. Em 2005, foi realizado o 1º Curso de Formação de Multiplicadores/ONA; criação da Agência da Qualidade com a responsabilidade de identificar e propor melhorias nos processos internos, elaborar planos, políticas e diretrizes para a implementação, gerenciamento e monitoramento dos processos, dar suporte às lideranças na avaliação técnica dos resultados, análise e acompanhamento das melhorias, propor ferramentas da qualidade, mapear processos, entre outros, e a primeira Avaliação Interna; o hospital passou a integrar a Rede Sentinela da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) como hospital colaborador e, finalmente, obteve a Acreditação (nível I - segurança). Em 2006, foram realizados os cursos de Formação de Multiplicadores e Avaliadores ONA, houve o lançamento RAS _ Vol. 16, No 62 – Jan-Mar, 2014 9 10 Gaspary LV da Política da Qualidade e a avaliação de Manutenção da Acreditação. Em 2007, foi elaborado o Planejamento Estratégico do HGIS, e a instituição recebeu a Acreditação Plena (nível II - gestão integrada). Em 2008, também aconteceram cursos de multiplicadores e avaliadores da ONA, a elaboração do Planejamento Estratégico Seconci-SP e a criação do Serviço de Vigilância de Risco, com a responsabilidade de coordenar o sistema de gerenciamento e vigilância de riscos e a avaliação de Manutenção - Nível 2. Em 2009, fomos Acreditados com Excelência (nível III - excelência em gestão). As manutenções e reacreditações aconteceram nos anos seguintes. O processo de acreditação levou à concretização de uma rotina diária em torno da qualidade e ao cumprimento de padrões de qualidade preestabelecidos. Em suas três fases, o Hospital pôde se confrontar com desafios de mudanças que envolveram todos os colaboradores em cada um de seus setores. O processo de certificação também formaliza o compromisso em melhorar a segurança e a qualidade do cuidado ao paciente e garantir um ambiente seguro. Esse processo desenvolve uma cultura institucional forte e focada, que se empenha em aperfeiçoar continuamente os processos de cuidado ao paciente e monitorar os resultados obtidos. Ainda promove o trabalho em equipe, aprimora a educação dos profissionais, fortalece a confiança da comunidade na instituição e incentiva a melhoria contínua. A ACREDITAÇÃO INTERNACIONAL A escolha da certificadora Após conquistar essas certificações, o Hospital propôs um novo desafio na busca pela qualidade da assistência: o padrão internacional de qualidade. Para essa tarefa, o Hospital escolheu a líder mundial em certificação de organizações de saúde, a Joint Commission International (JCI), Plano de Segurança contra Incêndio Política da Qualidade Política de Gestão de Riscos Programa de Gerenciamento e Segurança das Instalações Política de Gestão da Informação Plano de Gerenciamento de Materiais Perigosos Plano de Gerenciamento de Tecnologias Programa de Prevenção e Controle de Infecção Hospitalar Plano de Prevenção e Controle de Infecção Hospitalar Programa de Gerenciamento de Resíduos de saúde Plano de Gerenciamento de Resíduos de Saúde Programa de Malhoria da Qualidade e Segurança do Paciente Plano de Melhoria da Qualidade e Segurançado Paciente Programa de Prevenção de Riscos Ambientais Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional Plano de Prevenção de Acidentes com Materiais Perfurocortantes Fonte: Qualidade - Hospital Geral de Itapecerica da Serra. Figura 3. Articulação do Programa de Controle da Melhoria da Qualidade e Segurança do Paciente com outros programas e planos. RAS _ Vol. 16, No 62 – Jan-Mar, 2014 Processo de acreditação hospitalar internacional de um hospital geral público da Grande São Paulo que tem como palavras-chave: Qualidade e Segurança. A JCI é uma instituição presente em 90 países e responsável, no Brasil, pela acreditação de hospitais de referência, como Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital Samaritano, Hospital Sírio-Libanês, Hospital Alemão Oswaldo Cruz e Hospital do Coração. Criada em 1994 pela The Joint Commission (maior e mais antiga agência acreditadora e definidora de padrões em cuidados de saúde dos Estados Unidos), a JCI tem presença em mais de 90 países e trabalha com organizações de cuidados de saúde, governos e defensores internacionais na promoção de padrões rigorosos de cuidados e oferta de soluções para atingir o máximo desempenho. Em junho de 2011, a JCI recebeu a acreditação pela International Society for Quality in Health Care (ISQua). A acreditação da ISQua assegura que os padrões, treinamento e processos utilizados pela JCI para avaliar o desempenho de instituições de saúde atendam aos mais altos critérios internacionais para entidades de acreditação. O programa de acreditação internacional no Hospital Geral de Itapecerica da Serra No HGIS, o projeto de acreditação internacional pela JCI foi apresentado ao Comitê Gestor Hospitalar, grupo que reúne todas as lideranças do hospital, em novembro de 2010, e contou com a presença do Sr. Heleno Costa Júnior, Coordenador de Educação da instituição, e da consultora Nancy Yamauchi. Nesse mesmo dia, foi nomeado o grupo de facilitadores, uma equipe multiprofissional envolvendo 35 líderes da instituição. No mesmo mês, já iniciaram as reuniões do grupo facilitador, com apresentação do Manual e da Metodologia da JCI pela consultora externa e, em dezembro, ocorreu o Evento de Gerenciamento de Risco sobre as Metas Internacionais de Segurança do Paciente. A partir de janeiro de 2011, as seguintes atividades foram realizadas pelo grupo: estudo aprofundado do manual de acreditação, com alinhamento do entendimento dos padrões e elementos de mensuração; diagnóstico inicial da instituição, com levantamento de evidências de conformidades através da montagem de pastas para cada capítulo e a elaboração de planos de ação de melhoria para a conformidade com os itens requeridos; processo de disseminação para o corpo de profissionais da instituição. A avaliação de diagnóstica aconteceu em março de 2011 com nota geral 8,12 e 79,1% de conformidade, com 933 itens conformes, 130 parcialmente conformes e 117 não conformes, bem como 5 capítulos com nota inferior a 8,0. Após o recebimento do relatório final, foram elaboradas e aprimoradas diversas políticas, programas, planos, protocolos técnicos assistenciais, procedimentos operacionais padrão, indicadores de processo e resultado, instrumentos de auditoria e de planejamento da assistência. Entre estes documentos, estão: Manuais Técnicos e Guias, como o de Ética Organizacional; Planos, como o de Segurança contra Incêndio, Gerenciamento de Materiais Perigosos e Manutenção dos Sistemas Utilitários; Planos de Contingência, como de Atendimento a Múltiplas Vítimas e de Reformas; Políticas, como Padronização e Gerenciamento do Acervo Documental (Norma Zero), Direitos dos Pacientes e Familiares, Prescrição Médica e Metas Internacionais de Segurança do Paciente; Programas, como PCMQSP, Programa de Gestão de Pessoas e Programa de Qualidade e Segurança da Unidade de Laboratório e Análises Clínicas; Protocolos técnicos assistenciais de Anestesia e Sedação, Cuidados Paliativos e Triagem, Avaliação e Gerenciamento da Dor; entre outros. Os impressos também precisaram ser revisados e elaborados, surgindo então a Avaliação Inicial para pacientes internados (Geral, Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia) e externos (Ambulatório e Centro de Reabilitação), plano educacional (Figura 4 — com diretrizes de temas a serem abordados com pacientes e acompanhantes), avaliação de risco (com os principais riscos, como de queda, nutricional, psicológico) e integração multidisciplinar para a alta (com registro de plano de cuidado prevendo a alta). Outros documentos elaborados e disponíveis na Intranet para consulta rápida foram o Siglário, lista de peritos, lista de profissionais com outros idiomas, minicurrículo dos profissionais, tabela de valores críticos, atualização de materiais e medicamentos padronizados na instituição, manuais de equipamentos médicos e outorga de privilégios de profissionais de enfermagem (gasometria arterial, passagem de cateter venoso central de inserção periférica, entre outros). Grupos de estudo e comitês também foram criados, como o Grupo de Cuidados Paliativos, Grupo de Gerenciamento da Dor e Comitê de Bioética, que auxiliaram na revisão e elaboração de documentos. Outra estratégia foi a melhoria da comunicação na instituição, que incluiu a comunicação à beira do leito e os murais (Figura 5). O grupo facilitador se reuniu periodicamente para realização de tracers focados nos objetivos de identificar fragilidades e orientar as boas práticas relacionadas ao Paciente, Gerenciamento RAS _ Vol. 16, No 62 – Jan-Mar, 2014 11 12 Gaspary LV de Medicamentos, Controle de Infecções, Melhoria da Qualidade e Segurança do Paciente e Gerenciamento e Segurança das Instalações, o que enriqueceu o aprendizado de todos e motivou o comprometimento da instituição. A metodologia rastreadora (tracer) é utilizada para investigar os sistemas de uma instituição, acompanhamento de pacientes individualmente através do processo de prestação de cuidados à saúde da instituição, na sequência vivenciada pelos pacientes. A cada tracer, a consultora, os facilitadores internos e as lideranças locais visitadas faziam o fechamento dos achados, com foco educativo e esclarecimento/interpretação dos elementos de mensuração. Fonte: Comunicação - Hospital Geral de Itapecerica da Serra. Figura 4. Modelo de plano educacional. Leito 201-1 Jejum Precaução de contato Queda Fonte: Comunicação - Hospital Geral de Itapecerica da Serra. Figura 5. Comunicação à beira do leito e murais no Hospital Geral de Itapecerica da Serra. RAS _ Vol. 16, No 62 – Jan-Mar, 2014 Processo de acreditação hospitalar internacional de um hospital geral público da Grande São Paulo Em novembro de 2011, aconteceu a primeira avaliação simulada educativa, na qual o hospital alcançou nota 8,15 (877 conformes, 196 parcialmente conformes e 115 não conformes), 73,8% de conformidade, 5 capítulos com nota inferior a 8,0 e 21 padrões com nota inferior a 5,0. Foi necessária uma revisão criteriosa dos itens parciais e não conformes (principalmente políticas ainda não vigentes), visando à adequação dos mesmos. Novamente, foram elaboradas e aprimoradas Políticas, Programas, Planos, Protocolos Técnicos Assistenciais e Procedimentos Operacionais Padrão, assim como a elaboração e revisão de instrumentos (Sistematização da Assistência de Enfermagem, Avaliação de Risco, Plano Educacional, Integração Multidisciplinar para a Alta etc.). Após a elaboração, foi necessária a disseminação dessas novas diretrizes aos colaboradores, envolvendo todos os membros das comissões. Foram utilizados treinamentos tradicionais, lúdicos (Peça de teatro, Verdadeiro e falso, Jogo da memória, Complete a frase), simulados (Metas Internacionais de Segurança do Paciente, Atendimento de Múltiplas Vítimas, Combate a Incêndio e Evacuação) e metodologia e-learning (Metas Internacionais de Segurança do Paciente e Reanimação Cardiorrespiratória), conforme demonstrado na Figura 6. No 1º semestre de 2012, foram realizados 503 treinamentos, com 11.682 colaboradores capacitados. Nesse período, os avaliadores internos incorporaram a metodologia rastreadora em suas visitas, e os comitês inseriram as auditorias de processos. Nesse processo, também foi utilizada a parceria com comunidade/escolas credenciadas, que desenvolveram atividades na instituição, disseminando a Política de Direitos dos Pacientes e Familiares, e os alunos participaram como atores nos simulados. A cada avaliação externa, as não conformidades e oportunidades de melhorias foram discutidas, e novos planos de ação e adequações nos processos foram realizados. Ao se analisar cada capítulo, pode-se citar que as principais melhorias foram: • Metas Internacionais de Segurança do Paciente (International Patient Safety Goals - IPSG): elaboração de política para cada meta, revisão de protocolos (Cirurgia Segura e Prevenção de Queda), revisão do processo (medicamentos de alta vigilância identificados com etiqueta vermelha), elaboração de procedimento operacional padrão (POP Ler de Volta); disseminação por treinamentos lúdicos, e-mail, mural, e-learning (Figura 7); • Acesso ao Cuidado e Continuidade ao Cuidado (Access to Care and Continuity of Care - ACC): elaboração de políticas (Política de Admissão e Registro de Pacientes Externos, Política de Informação sobre a Espera para Serviços Diagnósticos e Terapêuticos) e do Sumário Clínico para os pacientes ambulatoriais; • Direito dos Pacientes e Familiares (Patient and Family Rights - PFR): elaboração de política e de impressos que evidenciam os direitos e revisão de processos (Figura 8); • Avaliação dos Pacientes (Assessment of Patients AOP): elaboração de Política de Avaliação do Paciente e revisão dos processos; elaboração de programa e plano para o Serviço de Laboratório e de Radiologia e Diagnóstico por Imagem; • Cuidado aos Pacientes (Care of Patients - COP): elaboração de políticas (Política de Assistência ao Paciente, Assistência ao Paciente sob Contenção, Assistência ao Paciente Comatoso ou em Suporte à Vida, entre outros), revisão e criação de protocolos (Insuficiência Renal Aguda, Sepse Neonatal, Indicação de Transfusão de Concentrado de Hemácias entre outros); • Anestesia e Cirurgia (Anesthesia and Surgical Care ASC): elaboração de políticas (Anestesia e Sedação), protocolo (Anestesia e Sedação), revisão dos processos; • Gerenciamento e Uso de Medicamentos (Medication Management and Use - MMU): elaboração de políticas (Gerenciamento de Medicamentos, Gerenciamento e Uso de Medicamentos trazidos pelo Paciente, Prescrição Médica, Preparo de Administração de Medicamentos), Guia Farmacoterapêutico, intervenção farmacêutica, reorganização do espaço físico da farmácia, trigguer de drogas anestésicas, revisão de impressos e processos, que inclui revisão de procedimentos operacionais padrão; • Educação de Pacientes e Familiares (Patient and Family Education - PFE): melhorias de processos com a revisão e criação de impressos (Plano Educacional); • Melhoria da Qualidade e Segurança do Paciente (Quality Improvement and Patient Safety - QPS): elaboração do Programa de Controle de Melhoria da Qualidade e Segurança do Paciente, do Plano de Melhoria da Qualidade e Segurança do Paciente, revisão da categorização dos eventos conforme Organização Mundial da Saúde, revisão de impressos e de processos, gerenciamento de indicadores de áreas clínicas e administrativas; RAS _ Vol. 16, No 62 – Jan-Mar, 2014 13 14 Gaspary LV A B C D Fonte: Comunicação - Hospital Geral de Itapecerica da Serra. Figura 6. Treinamentos lúdicos e simulados no Hospital Geral de Itapecerica da Serra. (A) Disseminação das Metas Internacionais de Segurança do Paciente; (B) Simulado de Atendimento a Múltiplas Vítimas; (C) Treinamento Lúdico de Higiene das Mãos; (D) Treinamento Combate a Incêndio e Abandono. Fonte: Comunicação - Hospital Geral de Itapecerica da Serra. Figura 7. Estratégias de disseminação das Metas Internacionais de Segurança do Paciente. RAS _ Vol. 16, No 62 – Jan-Mar, 2014 Processo de acreditação hospitalar internacional de um hospital geral público da Grande São Paulo • Prevenção e Controle de Infecções (Prevention and Control of Infections - PCI): elaboração de planos (Prevenção e Controle de Infecções Hospitalares e de Reformas), políticas (Prevenção e Controle de Infecções Hospitalares, Gerenciamento de Validade os Insumos e Reprocessamento de Materiais de Uso Único), revisão de impressos e processos, que inclui revisão de procedimentos operacionais padrão; • • • Fonte: Comunicação - Hospital Geral de Itapecerica da Serra. Figura 8. Folder de Direitos dos Pacientes e Familiares • Fonte: Comunicação - Hospital Geral de Itapecerica da Serra. Figura 9. Kit de acidente com produto químico perigoso. Governo, Liderança e Direção (Governance, Leadership, and Direction - GLD): aprovação de todas as políticas e do manual de Ética Organizacional; Gerenciamento e Segurança das Instalações (Facility Management and Safety - FMS): elaboração do Programa de Gerenciamento e Segurança das Instalações e Equipamentos, de Planos e de Planos de Contingência (Falta de Energia Elétrica, Combate a Incêndios, Falta de Equipamentos Médicos, Sistemas Utilitários, Prevenção de Acidentes com Materiais Perfuro Cortantes, Gerenciamento de Materiais Perigosos etc.), implantação do kit para acidente com produto químico perigoso (Figura 9), revisão de impressos e processos, que inclui revisão de procedimentos operacionais padrão; elaboração de simulados (Atendimento a Múltiplas Vítimas e Combate e Evacuação durante Incêndio); reestruturação física do serviço de urgência e emergência; Educação e Qualificação de Profissionais (Staff Qualifications and Education - SQE): elaboração do Programa de Gestão de Pessoas com matriz de treinamento, Plano de Contratação, política (Prevenção e Controle de Doenças Infecciosas em Profissionais de Saúde, Credenciamento do Corpo Clínico e Avaliação de Desempenho do Corpo Clínico), avaliação de desempenho por competências anual, implantação da avaliação inicial e avaliação de desempenho do corpo clínico, atualização e readequação do prontuário funcional, treinamento de técnicas de ressuscitação para todos os colaboradores, conforme política, elaboração de impresso para outorga de privilégios, checagem na fonte das credenciais dos profissionais (graduação, especialização e residência), revisão de impressos e processos, que inclui revisão de procedimentos operacionais padrão; Gerenciamento da Comunicação e Informação (Management of Communication and Information – MCI): elaboração de políticas (Prontuário do Paciente e de Padronização e Gerenciamento do Acervo Documental), revisão do Guia do Prontuário, substituição do Sistema de Gestão Hospitalar, segurança nos transportes e permanência dos prontuários nas unidades, revisão de impressos e processos, que inclui revisão de procedimentos operacionais padrão. Em junho de 2012, em mais uma simulada educativa, a nota alcançada foi 9,44 e 92,3% de conformidade, todos os capítulos estavam com nota acima de 8,0, havia apenas 91 itens parciais e não conformes e 2 padrões abaixo de 5,0. RAS _ Vol. 16, No 62 – Jan-Mar, 2014 15 16 Gaspary LV Ou seja, finalmente, poderia ser solicitada a Avaliação de Acreditação Internacional pela JCI. Foi iniciado o processo junto ao Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA), setor de acreditação, solicitando uma avaliação. Foi preenchido documento com informações essenciais sobre a instituição, incluindo sua propriedade, perfil demográfico e tipo e volume de serviços prestados. As evidências requeridas para os capítulos, exigidos no Guia do Processo de Avaliação, foram atualizadas, assim como documentos traduzidos para o inglês. O contrato foi assinado e foram encaminhadas três propostas de datas para a avaliação Após dois anos para adequar-se às exigências internacionais e aos padrões de cuidado ao paciente, o hospital recebeu sua primeira equipe internacional de avaliadores em novembro de 2012. Durante cinco dias, a equipe visitou todas as áreas do hospital e acompanhou o atendimento a vários pacientes, avaliando se os padrões exigidos estavam sendo atendidos na prática assistencial. Conforme cronograma, foi realizada a reunião de abertura e orientação à instituição, reunião de planejamento da avaliação, revisão de documentos, revisão dos prontuários fechados de pacientes, avaliação de competências e credenciais, análise do ambiente de cuidado e visita predial, visitas às áreas de cuidado ao paciente e de serviço, orientadas por atividades de rastreador de paciente e de sistema, reunião de Qualidade e Segurança (QPS), entrevista com a liderança CONCLUSÃO O processo de certificação formaliza o compromisso de melhorar a segurança e a qualidade do cuidado ao paciente e de garantir um ambiente seguro. Esses reconhecimentos demonstram que a busca e implantação permanente de boas práticas dá resultado, ao favorecer a produção de cuidado seguro, eficiente, eficaz, resoluto e, é claro, de qualidade. O processo de acreditação internacional foi um aprendizado inigualável, que fortaleceu os vínculos entre colaboradores e pacientes/acompanhantes, consolidando a qualidade e a segurança na instituição. O desafio está só começando, a manutenção da acreditação (reacreditação) é o tônus que se precisa para garantir que as conquistas não se percam, caiam no esquecimento ou se deteriorem com o tempo. A continuidade do processo e a confirmação dos resultados ainda exigirão novas mudanças de rotinas e quebra de paradigmas. Assim, o grupo de facilitadores e avaliadores internos continuará ativo, permitindo um movimento contínuo e ascendente de melhoria, com foco no cliente, na visão sistêmica e na melhoria dos processos de forma segura e de qualidade. REFERÊNCIAS 1400 1202 1200 1000 e reunião de encerramento com a liderança. No final, dos 1.221 itens avaliados, o hospital obteve conformidade em 1.202 (98,4% de conformidade; Gráfico 4). Os parciais e não conformes resultaram em Planos de Melhoria Estratégico (Strategic Improvement Plan - SIP) que serão acompanhados pelo CBA e monitorados por meio de relatórios e indicadores. 1086 933 877 1. Vasconcellos MFB. Acreditação Hospitalar: ganhos de qualidade nas instituições de saúde. Três Corações: UVRV; 2005. 2. Consórcio Brasileiro de Acreditação [Internet]. Histórico. Disponível em: http://cbacred.org.br/institucional/historico. Acesso em: 20 de novembro de 2013. 3. Dicionário Michaelis [Internet]. Significado de “acreditar”. Disponível em: http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portuguesportugues&palavra=acreditar. Acesso em: 15 de novembro de 2013. 4. Organização Nacional de Acreditação [Internet]. Histórico. Disponível em: https://www.ona.org.br/Pagina/23/Historico. Acesso em: 14 de novembro de 2013. 5. Paim CRP, Ciconelli RM. Auditoria de avaliação da qualidade dos serviços de saúde. RAS. 2007;9(36):85-92. 6. Compromisso com a Qualidade Hospitalar [Internet]. Quem somos. Histórico. Disponível em: http://www.cqh.org.br/portal/pag/area.php?p_narea=95. Acesso em: 15 de novembro de 2013. 7. Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados [Internet]. Perfil Municipal. Disponível em: http://produtos.seade.gov.br/produtos/perfil/perfilMunEstado. Acesso em: 20 de novembro de 2013. 800 600 400 200 0 130 117 196 115 75 16 13 6 Junho 2011 Novembro 2011 Junho 2012 Novembro 2012 Conformes Parcialmente conformes Não conformes Fonte: Qualidade - Hospital Geral de Itapecerica da Serra. Gráfico 4. Evolução dos itens conformes nas avaliações. RAS _ Vol. 16, No 62 – Jan-Mar, 2014