shutterstock INTERNA C IONAL Ambientes de integração Incubadoras e parques tecnológicos aproximam países da América Latina, promovendo intercâmbio de conhecimento e perspectiva de bons negócios na região A pós ter desempenhado papel de liderança no desenvolvimento do empreendedorismo inovador, o movimento de incubadoras e parques tecnológicos começa a assumir um novo desafio: capitanear uma integração científico-tecnológica entre os países no mundo. Fundamentais nesse processo, as redes e associações da área pretendem estimular interações entre as nações, proporcionando desde a transferência de conhecimento e tecnologia até a troca de experiências culturais sobre empreendedorismo. Na América Latina começa a ser desenvolvida uma iniciativa para articular cooperações e trocas de experiência entre parques e incubadoras de diversos países. A Rede Latino-Americana de Associações de Parques e Incubadoras (Relapi), entidade vinculada à Associação Internacional de Parques Científicos (IASP, na sigla em inglês), está liderando esse processo. Em seu primeiro projeto, a entidade promoveu um programa de formação de gerentes de incubadoras em diferentes países da região. No decorrer do programa, percebeu- 44 Locus • Outubro 2008 se a necessidade de divulgação internacional dos produtos de empresas incubadas. A ação seguinte, ainda em desenvolvimento, é atrair novos parques e incubadoras para realizar a divulgação, atuando como núcleos de promoção das propostas da integração tecnológica em suas regiões. “Esperamos que ao menos cinco novas entidades dos países da região venham a aderir à associação nos próximos meses”, afirma o chefe da divisão latino-americana da IASP, Gregorio Paluszny. Desequilíbrio Entidade representativa de parques tecnológicos de todo o mundo, a IASP está presente em 11 países da América Latina, dos quais sete são da América do Sul, três da América Central e o México. Esse desequilíbrio, explica Paluszny, é uma das motivações para a busca pela integração regional, que deve ocorrer com a criação de novos parques e incubadoras e o fortalecimento dos existentes. Nesse sentido, a associação vem tentando ampliar sua atuação em regiões de presença menos consolidada. Em 2008, os diretores da IASP participaram de conferências e eventos em países como México, Costa Rica e Guatemala, nos quais estiveram presentes representantes de El Salvador, Nicarágua, República Dominicana, Honduras, Belize e Panamá, entre outros países. Em outra frente, também é promovido o intercâmbio de conhecimento e experiência entre parques e incubadoras estabelecidas e em implantação. Dessa forma, os novos membros dispõem das vantagens de trabalhar em rede e de compartilhar experiências acumuladas. Em geral, processos como esses são caros e só seriam possíveis com o pagamento por parte da instituição que recebe o conhecimento gerado por outra. O presidente do Parque Tec, da Costa Rica, Marcelo Lebendiker, afirma que aprender com experiências que tiveram êxito está sendo de fundamental importância para o segmento de incubadoras e parques, que ainda é bastante incipiente em seu país. “Estamos começando agora, mas essa interação já nos permite estudar atentamente os diferentes modelos e adaptá-los a nossas realidades”. Para ele, o associativismo também é de grande importância para a construção da chamada “sociedade do empreendedorismo”. “As sociedades empreendedoras precisam de redes para potencializar as experiências exitosas e minimizar riscos na implantação de novos modelos”. As mesmas palmeiras Na análise de Paluszny, da IASP, é fundamental que os países da região iniciem esse associativismo e integração dentro da América Latina. Isso porque com idiomas e, principalmente, necessidades semelhantes, as possibilidades de trabalho em conjunto são potencializadas. “Deve ser lembrado que em todos os nossos países “crescem as mesmas palmeiras”, ou seja, compartilhamos de problemas similares, que não seriam facilmente entendidos, por exemplo, pelos finlandeses”, conclui. Apesar de um pouco mais afastado dos demais devido ao idioma, o Brasil também deve traçar o caminho de integração com a América Latina. Conforme o diretor da IASP, Maurício Guedes, tendo em vista que cerca de 20% das exportações brasileiras têm como destino a América do Sul – volume superior ao vendido para os Estados Unidos –, seria natural que o país tivesse desempenho semelhante no setor de produtos de alta densidade tecnológica. Além de a região ter uma importância comercial crescente para o Brasil, há vantagens de menores barreiras tarifárias e, principalmente, culturais. “A dimensão cultural da integração tecnológica tem importância equivalente à econômica”, explica Guedes. Segundo ele, as possibilidades de transferências efetivas de tecnologia posicionam-se no campo econômico. Seriam trocas formais, por meio de contratos para negociação de patentes e processos, ou na forma de investimentos, com uma empresa instalando-se e levando sua tecnologia a outro país, por exemplo. No campo cultural, estariam influências sobre a forma de se ver o empreendedorismo inovador e disseminar seu conceitochave: a transformação de conhecimento em riqueza. Para alcançar esse patamar de integração, Guedes sugere que os parques ou incubadoras poderiam até mesmo desenvolver programas para abrigar empresas de outros países. “A principal expectativa é que os laços institucionais e acadêmicos que já existem hoje possam se transformar em parcerias comerciais e em cooperação entre micro e pequenas empresas inovadoras”, afirma. Com o fortalecimento de redes e associações de parques e incubadoras, inovação e empreendedorismo tendem a formar as novas bases para a integração latino-americana. Locus • Outubro 2008 45