REVISTA DO BNDES, RIO DE JANEIRO, V. 7, N. 14, P. 273-300, DEZ. 2000 Aspectos Relevantes de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas CONCEIÇÃO VEDOVELLO* RESUMO O atual cenário econômico tem sido pautado pela geração, utilização e difusão de informação, conhecimento e tecnologia. Esses novos parâmetros têm norteado os esforços competitivos de empresas, setores, regiões e países na busca por um melhor desempenho econômico. Para apoiar os agentes econômicos e sociais relevantes, diversos programas e mecanismos têm sido discutidos e delineados, tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento. Este trabalho tem como objetivo discutir a natureza de dois desses mecanismos: parques tecnológicos e incubadoras de empresas. A partir de alguns conceitos relevantes, são indicados e delineados os papéis dos principais agentes envolvidos com o desenvolvimento desses mecanismos, identificados alguns objetivos relacionados à sua implementação e operação, além de apontados os fatores de sucesso desses empreendimentos. Com base na literatura e na experiência internacionais, procura-se contribuir para um melhor entendimento desses mecanismos de políticas industrial, tecnológica e de desenvolvimento regional, sem, entretanto, discutir o caso brasileiro, que será objeto de trabalhos futuros. The current economic scenario has been marked by the generation, use and diffusion of information, knowledge and technology. These new parameters have pointed out the competitive effort of enterprises, sectors, regions and countries in their search for a better economic performance. In order to support the relevant economic and social agents, several programs and mechanisms have been discussed and designed in both developed and developing countries. This paper aims to discuss the nature of two of these mechanisms: technology parks and incubators. Through some relevant concepts, it is indicated and delineated the functions of the main involved agents, identified objectives concerned to their implementation and operation, besides highlighting the success factors. This paper, focused on the international literature and experience, seeks to contribute to the better understanding of these industrial, technological and regional development policies mechanisms, without, however, discussing the Brazilian case, that will be the subject of future research work. ABSTRACT * Economista do Convênio BNDES/Pnud ([email protected]). A autora agradece as contribuições de Maurício Serrão Piccinini e os comentários dos pareceristas do Conselho Editorial desta revista, eximindo-os de qualquer responsabilidade por eventuais imprecisões. 274 ASPECTOS RELEVANTES DE PARQUES TECNOLÓGICOS E INCUBADORAS DE EMPRESAS 1. Introdução s processos de globalização e de abertura comercial têm ampliado dramaticamente o número de competidores e demandado maior nível de competitividade de empresas, setores, regiões e países, fazendo com que a busca por melhor desempenho econômico se constitua no centro das preocupações e do desenho de políticas públicas. A expansão dos mercados tem sido acompanhada pelo crescente e rápido desenvolvimento tecnológico de processos produtivos mais complexos e custosos, reduzindo o ciclo de vida de produtos e requerendo a utilização de todos os recursos disponíveis para viabilizar a produção de bens e serviços. E o desenvolvimento tecnológico, ou o processo de inovação tecnológica, pré-requisito ao bom desempenho das unidades produtivas, seja sob uma perspectiva micro ou macroeconômica, transcende a execução de atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) pelas empresas. Ele envolve aspectos relacionados com a política industrial, de ciência e tecnologia, educacional, de investimento, comercial, mas também, e principalmente, a capacidade de desenvolver habilidades e negócios empreendedores que possam estabelecer nichos de mercado através de produtos e serviços inovadores [Lalkaka (1997)]. Como enfatizado no Relatório do Banco Mundial [World Bank (1998/99)], as economias não são mais construídas exclusivamente pela acumulação física de capital e de recursos humanos, mas contam também com insumos mais intangíveis, como informação, aprendizado e adaptação. E o processo de globalização, notadamente acentuado nas relações comerciais, nos fluxos financeiros e no fluxo de informações, está intensificando a competitividade. Essas constatações reforçam a necessidade de que qualquer discussão envolvendo competitividade e desempenho econômico passe pelo melhor entendimento (e utilização) de conceitos e instrumentos vinculados à globalização e localização, sociedade da informação, sociedade do conhecimento, sistemas nacionais de inovação, políticas de desenvolvimento regional e políticas de emprego que, com todas as suas peculiaridades, semelhanças e mesmo inconsistências, moldam o novo cenário econômico. Busca-se, acima de tudo, entender quais são os novos contextos em que o desenvolvimento ocorre e como melhor adquirir, utilizar e difundir os recursos disponíveis e os necessários, sejam eles materiais, humanos, técnicos ou financeiros, para viabilizá-lo. É dentro desse contexto que uma série de propostas e programas, de mecanismos ou instrumentos – tais como o fortalecimento da interação REVISTA DO BNDES, RIO DE JANEIRO, V. 7, N. 14, P. 273-300, DEZ. 2000 275 universidade-indústria, a implementação de parques de ciência e tecnologia, centros de inovação, centros de transferência de tecnologia, incubadoras de empresas – têm sido discutidos e delineados, tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento. A esses instrumentos tem sido imputada a responsabilidade de identificar, facilitar e fortalecer a interação entre agentes sociais semelhantes ou distintos – como são, por exemplo, a universidade e a indústria –, revitalizar áreas economicamente declinantes, promover a geração de empregos e estimular e apoiar a criação de empresas. O estabelecimento, a operação e a performance desses mecanismos apresentam uma grande diversidade e heterogeneidade não só entre si mas também em relação aos modelos implantados no exterior – como discutido adiante –, diferenças essas que são acentuadas pela rapidez com que as mudanças sociais, econômicas e tecnológicas ocorrem atualmente. Este trabalho tem como objetivo discutir a natureza de dois mecanismos indutores de desenvolvimento: parques tecnológicos e incubadoras de empresas. Assim, são apresentados alguns conceitos consagrados, bem como indicados e delineados os papéis dos principais agentes envolvidos com o desenvolvimento desses mecanismos, identificados alguns objetivos relacionados à sua implementação e operação, além de apontados os fatores de sucesso desses empreendimentos. Pretende-se, com isso, contribuir para um melhor entendimento dos parques tecnológicos e das incubadoras de empresas, tendo em vista que esses mecanismos são objeto de um programa especial do governo brasileiro, incluído no seu Plano Plurianual (PPA). Parques e incubadoras integram políticas industrial, tecnológica e de desenvolvimento regional, com especial atenção à geração e fortalecimento das micro, pequenas e médias empresas (MPMEs), e poderão, eventualmente, requerer do BNDES modelagem de apoio financeiro específico para o seu desenvolvimento. Além desta introdução, o trabalho conta com três seções. A Seção 2 apresenta o contexto no qual parques tecnológicos e incubadoras de empresas estão inseridos. A Seção 3 divide-se em quatro subseções: a primeira apresenta um conjunto de conceitos e definições que se aplicam a esses mecanismos, bem como suas principais diferenças; a segunda detém-se nos principais agentes que fazem parte do processo de planejamento, implementação, desenvolvimento e operação de parques de incubadoras; a terceira refere-se ao conjunto de objetivos colocados em perspectiva para esses dois mecanismos; e a quarta delineia alguns dos fatores determinantes de sucesso desses empreendimentos. Finalmente, a Seção 4 apresenta as considerações finais. 276 ASPECTOS RELEVANTES DE PARQUES TECNOLÓGICOS E INCUBADORAS DE EMPRESAS 2. O Contexto Não é objetivo deste trabalho analisar minuciosamente a interação universidade-indústria. Entretanto, considerando a sua importância em termos de motivadora de várias medidas relacionadas com políticas de ciência e tecnologia e de inovação tecnológica, e mesmo de geração de empregos e de apoio a empresas, incluindo aqui o estabelecimento de parques tecnológicos e mecanismos similares, optou-se por apresentar alguns comentários genéricos sobre a mesma. A interação universidade-indústria, em áreas relacionadas com a ciência e tecnologia, é parte de uma infra-estrutura nacional mais ampla envolvendo instituições de ensino superior e pesquisa, tanto públicas quanto privadas, centros de pesquisa públicos e privados, empresas, planejadores e representantes de organismos governamentais que estão engajados na geração, transferência, utilização e difusão do conhecimento, da informação e da tecnologia. Essa área de interação universidade-indústria, embora não seja nova, tem-se tornado mais formal, freqüente e planejada desde o início dos anos 70 e vem despertando um crescente interesse por parte de governos e planejadores, tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento, que ainda a consideram um recurso científico-tecnológico subutilizado.1 Tem sido sistematicamente argumentado que um relacionamento mais próximo entre esses parceiros pode gerar benefícios mútuos, além de contribuir fortemente para a melhoria da competitividade industrial dos países. O argumento implícito dessa análise é o de que as universidades, como geradoras e repositórios de conhecimento científico e tecnológico e recursos humanos altamente qualificados, podem transferir, através de mecanismos adequadamente articulados, ao menos parte desse acervo para as empresas. Do ponto de vista das empresas, a universidade representa uma das possíveis fontes de informação, conhecimento e tecnologia utilizados em seus processos produtivos. Assim, o estabelecimento de interações com a mesma pode contribuir positivamente para um melhor desempenho competitivo através da crescente capacidade de suas atividades inovadoras. Do ponto de vista 1 A análise das funções das universidades, da atividade de pesquisa desenvolvida no contexto acadêmico e a percepção e o uso dessa atividade do ponto de vista das empresas apontam os caminhos nos quais a interação universidade-indústria pode florescer. Entretanto, cumpre salientar que informações históricas sobre essa interação – e respectivas ligações –, com suas variações no tempo e no espaço, sugerem que tem ocorrido uma contribuição importante, porém modesta, das universidades às atividades de inovação das empresas [ver, dentre outros, Klevorick et alii (1995), Faulkner e Senker (1994 e 1995), Rosenberg e Nelson (1994), Nelson e Rosenberg (1993), OECD (1993) e Gibbons e Johnston (1974)]. REVISTA DO BNDES, RIO DE JANEIRO, V. 7, N. 14, P. 273-300, DEZ. 2000 277 das universidades, a interação com empresas pode gerar recursos financeiros adicionais para o desenvolvimento de projetos de pesquisa em um contexto em que financiadores tradicionais dessa atividade (governos) operam, em muitos casos, sob fortes restrições orçamentárias. A expansão e a atualização das agendas de pesquisa acadêmica através de questões relacionadas à demanda técnica e científica das empresas podem criar um estímulo extra para as interações. É nesse contexto que a universidade e a indústria, motivadas por diferentes propósitos, têm sido estimuladas a promover e fortalecer seus laços. A necessidade de análises mais sistemáticas desse tópico tem sido reconhecida tanto por estudiosos como por planejadores. O Comitê para a Política Científica e Tecnológica da OECD, por exemplo, já há algum tempo vem enfatizando a ausência e/ou a inadequabilidade de análises qualitativas e quantitativas no que tange às ligações entre universidades e indústrias [OECD (1990)]. Observa-se que ainda persistem dificuldades no desenvolvimento de avaliações sobre essa interação principalmente devido a três fatores: a) a inexistência de parâmetros de aferição adequados que reflitam a complexidade e a diversidade das ligações estabelecidas por esses dois agentes sociais; b) a gama de objetivos substancialmente distinta observada em todos os agentes sociais envolvidos com essas questões (universidades e centros de pesquisa, empresários, agentes financeiros e venture capitalists, autoridades governamentais e agências de desenvolvimento); e c) a pressão econômica e o uso político que tem sido feito tanto da interação universidade-indústria como dos mecanismos estabelecidos para fomentá-la, impedindo, dessa forma, processos isentos de avaliação. 3. Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas O novo cenário econômico, pautado pela geração, utilização e difusão de informação, conhecimento e tecnologia, tem produzido um volume significativo de estudos. Aspectos interessantes abordados pela literatura referemse, por exemplo, à promoção e ao fortalecimento das relações entre agentes sociais similares (pequenas e grandes empresas) ou distintos (universidade e indústria), ou mesmo ao estabelecimento de mecanismos de apoio aos diferentes agentes sociais. Os parques tecnológicos e as incubadoras de empresas têm recebido particular atenção, devido, principalmente, à relevância que assumiram em termos de desenho da política industrial. Essa relevância é reconhecida por Lundvall (1988), principalmente no que se refere aos parques tecnológicos. Para o autor, o florescimento de Vales do Silício, caracterizados por uma interação próxima entre universidades 278 ASPECTOS RELEVANTES DE PARQUES TECNOLÓGICOS E INCUBADORAS DE EMPRESAS com alto grau de excelência e firmas devotadas a atividades de alta tecnologia, em diferentes partes do mundo, tem promovido o debate sobre ciência e tecnologia com estímulos adicionais. Ele salienta ainda que o estabelecimento de parques tecnológicos e tecnópolis na maioria dos países membros da OECD tem se tornado parte importante da política industrial.2 Parques tecnológicos e incubadoras de empresas podem ser considerados como fazendo parte de uma mesma “família” de instrumentos de políticas tecnológica e industrial. Muito embora compartilhando muitos pontos em comum e apresentando uma dinâmica similar, algumas distinções persistem e acabam por apontar ou influenciar os caminhos nos quais cada um deles atua. Ambos pressupõem a concentração de um conjunto de empresas, apresentando, como vantagem competitiva, a proximidade física a outras empresas e instituições, em particular universidades e centros de pesquisa, ampliando, dessa forma, as possibilidades de estabelecer sinergias. Entretanto, fatores conjunturais também podem influenciar a escolha do mecanismo a ser estabelecido em um determinado milieu, dependendo das circunstâncias locais e dos objetivos colocados em perspectiva pelos vários agentes sociais. Com relação aos parques tecnológicos, por exemplo, Massey, Quintas e Wield (1992) enfatizam que eles assumem formas radicalmente diferentes em termos de relação com a economia local, com os diferentes tipos de empresas localizadas dentro dos seus limites, seus propósitos financeiros e políticos, e mesmo em relação aos setores público e privado. Parques tecnológicos e incubadoras de empresas têm sido geralmente examinados como um instrumento de política de desenvolvimento regional. Diversos estudos3 têm focalizado sua atenção nos aspectos relacionados com o impacto econômico regional da implantação de parques e incubadoras. A geração de novos empregos, a criação de pequenas empresas – particularmente as de base tecnológica – e a revitalização de economias locais e regionais são aspectos que têm sido analisados, geralmente através de uma abordagem descritiva, por pesquisadores e planejadores nos níveis local, regional e nacional. Pouca atenção tem sido dada na análise a esses mecanismos como instrumentos de políticas voltadas para a promoção da inovação tecnológica e da melhoria da competitividade industrial. 2 No caso brasileiro, o Programa Nacional de Apoio a Incubadoras de Empresas (PNI), no âmbito do Ministério da Ciência e Tecnologia, é exemplo de articulação e agregação de esforços institucionais que apóiam o segmento das pequenas e médias empresas, atividades inovadoras e empreendedoras. 3 Ver os relatórios sobre os parques tecnológicos britânicos preparados pela United Kingdom Science Park Association (UKSPA). REVISTA DO BNDES, RIO DE JANEIRO, V. 7, N. 14, P. 273-300, DEZ. 2000 279 Cumpre ainda ressaltar que parte substancial dos estudos desenvolvidos sobre parques tecnológicos e incubadoras de empresas concentra-se na experiência de países desenvolvidos. Entretanto, países em desenvolvimento também têm sido fortemente motivados – pelas mesmas razões e expectativas observadas nos casos dos países desenvolvidos – a implantar parques e incubadoras e a fortalecer sua atuação como instrumento de política industrial.4 Definições e Conceitos Parques tecnológicos tiveram sua origem nos Estados Unidos, fortemente calcados nas experiências do Vale do Silício, na Califórnia, e da Rota 128, em Massachusetts, os dois mais famosos modelos americanos cuja emulação transcende aquele contexto. Ambos surgiram no bojo da Segunda Guerra Mundial e buscavam estimular as economias locais (Califórnia, sem tradição industrial, e Massachusetts, em declínio). O sucesso dessas duas primeiras experiências americanas contribuíram decisivamente para o desenvolvimento de parques tecnológicos na Europa, com destaque para os pioneiros parques britânicos [Massey, Quintas e Wield (1992)]. O estabelecimento dos parques britânicos, que também buscam desenvolver as economias locais, tem sido uma conseqüência direta de dois fatores principais (que podem se fazer presentes em outros contextos): a) a redução do apoio financeiro governamental às universidades, principalmente durante as décadas de 70 e 80; e b) a ausência de dinamismo tecnológico dentro do setor industrial, gerando a necessidade de fazer um melhor uso dos recursos científicos e tecnológicos disponíveis e, conseqüentemente, melhorar a performance industrial em geral. Assim, a idéia de colocar empresas e universidades em um mesmo espaço físico e esperar ligações mais efetivas entre ambos os grupos sugere que os parques tecnológicos representam uma tentativa de solução parcial para os problemas acima mencionados.5 Incubadoras de empresas, por sua vez, têm sua origem mais relacionada às políticas e aos programas de apoio a pequenas e médias empresas. Entretan- 4 A título de ilustração, a International Association of Science Parks (Iasp) tem, entre seus afiliados, 193 empreendimentos (associados), representando 48 países. O Brasil participa com três afiliações: a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos de Tecnologias Avançadas (Anprotec), o Parque Tecnológico do Rio de Janeiro e o Parque Tecnológico de São Carlos. Já a World Technopolis Association (WTA), fundada mais recentemente, congrega 27 afiliações, representando principalmente desenvolvimentos asiáticos, mas contando, também, com representantes americanos e europeus. No Brasil, a Anprotec congrega 135 afiliados e tem como missão “agregar, representar e defender os interesses das entidades gestoras de tecnópolis/pólos, parques e incubadoras, promovendo estes modelos como instrumentos para o desenvolvimento do país, objetivando a constante criação e fortalecimento de empresas de base tecnológica” (http://www.anprotec.org.br). 5 Para informações históricas sobre o desenvolvimento de parques tecnológicos, ver Larsen e Rogers (1988), Saxenian (1985a e 1985b), Dorfman (1983), Monck et alii (1988) e Massey, Quintas e Wield (1992). 280 ASPECTOS RELEVANTES DE PARQUES TECNOLÓGICOS E INCUBADORAS DE EMPRESAS to, sua implementação e sua operacionalidade muitas vezes se confundem com os próprios parques tecnológicos. Pelo fato de serem fisicamente menores que os parques e objetivarem apoio a novos empreendedores e a pequenas e médias empresas – foco central, ou cliente, de muitos parques –, é bastante comum encontrar incubadoras de empresas instaladas em parques tecnológicos. Assim, a partir da bem-sucedida experiência americana, da necessidade de apoio a pequenas e médias empresas, aliada à necessidade de melhor explorar os resultados da produção acadêmica, é possível observar, a partir dos anos 60-70, a avidez e a agilidade com que policy-makers, autoridades governamentais (nos níveis local, regional e nacional), agências de desenvolvimento regional, empresas e universidades, tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento, têm estimulado a implantação de parques, incubadoras e vários outros instrumentos similares.6 Não há uma definição única que possa ser aplicada a todos os parques de tecnologia e incubadoras de empresas, devido ao fato de esses mecanismos apresentarem uma diversidade e uma heterogeneidade muito grandes em relação aos seus modelos. Por exemplo, no contexto europeu, mas encontrando eco em outros milieux, o relatório do European Innovation Monitoring System [Eims (1996)] enfatiza que a grande diversidade de estratégias observadas no estabelecimento de parques e incubadoras na Europa reflete as diversidades e/ou peculiaridades nacionais dentro do próprio continente, tais como diferenças nos níveis médios de desenvolvimento tecnológico-empresarial, nas políticas nacionais de apoio às empresas e na maior ou menor tradição na implantação de parques e incubadoras. O relatório identifica dois modelos básicos, dependendo do foco e do grau de compromisso institucional que os agentes envolvidos com o estabelecimento de parques e incubadoras apresentam: x empreendimentos mais relacionados a uma “estratégia universitária” – tais como os parques ingleses –, cuja ênfase é no fortalecimento da interação universidade-indústria e onde se observa uma participação preponderante da universidade no desenvolvimento de todo o processo de instalação e operação do mecanismo; e 6 Com relação aos parques de ciência e tecnologia, por exemplo, Castells e Hall (1994) cruzam o mapa dos Estados Unidos (Silicon Valley e Route 128) com o do Japão (Tsukuba e Kansai), passando pela Inglaterra (Cambridge), França (Sophia-Antipolis), Coréia do Sul (Taedok), Formosa (Hsinchu), e Sibéria (Akademongorodok). Luger e Goldstein (1991) e Miller e Côté (1987) estudam a experiência americana. A OECD (1987), Aydalot e Keeble (1988) e Cohen e Simmie (1991) observam a experiência européia. Os trabalhos desenvolvidos por Monck et alii (1988), Massey, Quintas e Wield (1992) e Westhead e Storey (1994) se relacionam, particularmente, à experiência britânica. REVISTA DO BNDES, RIO DE JANEIRO, V. 7, N. 14, P. 273-300, DEZ. 2000 281 x empreendimentos mais relacionados com uma “estratégia regional” – tais como os parques alemães e portugueses –, que têm o foco de atuação mais voltado para aspectos de desenvolvimento regional, como a geração de novos postos de trabalho e a criação de empresas, e onde se observa uma atuação preponderante de agentes governamentais no processo como um todo. Entre esses dois extremos, o relatório do Eims ainda indica a possibilidade de encontrar modelos mistos, como as experiências irlandesa e francesa, em que os vários intervenientes do processo – governo central ou local, câmaras de comércio e indústria, universidades e institutos de pesquisa – desempenham um papel mais igualitário entre si. As razões para essa diversidade residem no fato de os parques e as incubadoras aglutinarem diferentes motivos, expectativas e interesses que têm norteado o engajamento dos diferentes agentes sociais em um empreendimento comum, isto é, universidades, institutos de pesquisa, empresários e os chamados acadêmicos-empresários, agentes financeiros e venture capitalists, agências de desenvolvimento e autoridades ligadas aos governos nacional, regional e local. Com relação aos parques tecnológicos, a resposta a uma simples questão – “o que é um parque tecnológico?” – provoca conjectura sobre os mais variados termos comumente utilizados para definir empreendimentos similares, tais como centros de inovação, parques de pesquisa, parques de ciência, parques tecnológicos, parques industriais, parques de negócios, e mesmo tecnópolis7 [Monck et alii (1988)]. Currie (1985), por exemplo, propõe a utilização de duas distinções básicas – espaço e nível de atividade de manufatura permitida no local – para categorizar os diferentes mecanismos. Segundo o autor, o espaço determina o tipo de empresa a ser localizada nesses empreendimentos e as potencialidades para expansão das suas atividades. Nesse sentido, centros de inovação, por exemplo, construídos em áreas físicas mais limitadas, são mais adequados para abrigar pequenas empresas com planos de expansão mais restritos. Os parques de tecnologia, ocupando áreas físicas maiores, apresentam-se 7 Devido à sua dimensão, tecnópolis parece constituir um tipo de empreendimento diferente. Segundo Gibson et alii (1988, p. xvii), o conceito de tecnópolis – a moderna cidade-estado ligando tecnologia e desenvolvimento econômico – é relativamente novo. Algumas vezes referido como um centro de tecnologia ou um corredor de alta tecnologia ou triângulo, tecnópolis parece ser um fenômeno emergente mundial. Entretanto, na ausência de um conceito mais preciso ou de uma aceitação universal, alguns pesquisadores tendem a circunscrever tecnópolis no mesmo contexto de parques de tecnologia. 282 ASPECTOS RELEVANTES DE PARQUES TECNOLÓGICOS E INCUBADORAS DE EMPRESAS como modelos mais flexíveis, no sentido de poderem abrigar empresas de maior porte, bem como aquelas com planos de expansão mais arrojados. Currie (1985) também considera o nível de atividade de manufatura permitido nesses locais como uma variável útil para contrastar os diversos mecanismos. Por exemplo, o escopo de atividades desenvolvidas em centros de inovação é fortemente limitado pela disponibilidade de espaço físico, não permitindo, portanto, a atividade de manufatura. Por outro lado, parques tecnológicos, maiores e detendo certa flexibilidade na sua gestão, podem, eventualmente, permitir o desenvolvimento de atividades de manufatura leves ou, ao menos, o desenvolvimento de protótipos. Uma outra definição interessante de parque de tecnologia é a proposta pela UKSPA, para quem os parques são empreendimentos que: a) apresentam ligações operacionais e formais com universidades, centros de pesquisa e/ou instituições de ensino superior; b) são projetados para encorajar a formação e o crescimento de negócios (empresas) de base tecnológica; e c) desempenham uma função de gestão que é ativamente relacionada com a transferência de tecnologia e habilidades de negócios para apoiar as empresas localizadas dentro do seu âmbito físico. No início dos anos 90, a UKSPA ampliou seus critérios de afiliação a fim de acomodar parques cujas empresas são apoiadas por centros de pesquisa estabelecidos por grandes empresas [Massey, Quintas e Wield (1992)]. A OECD (1987) menciona que os parques de tecnologia são áreas físicas muito variáveis, podendo atingir vários milhares de hectares, porém aponta duas características comuns em todos esses empreendimentos: a) elevada concentração de atividades de alta tecnologia; b) proximidade física a uma universidade ou um instituto tecnológico com quem as empresas possam estabelecer ligações e, conseqüentemente, usufruir de acesso físico e intelectual facilitado. Já as incubadoras de empresas se apresentam como instrumentos mais limitados em termos físicos, embora talvez mais flexíveis no que diz respeito ao escopo das atividades permitidas, quando comparadas aos parques. Segundo a Unido,8 uma incubadora de empresas é um empreendimento capaz de apoiar empreendedores, principalmente os novos e/ou recentemente estabelecidos e os vinculados às pequenas e médias empresas, em todas as fases do negócio. Esse apoio apresenta-se através da provisão de: a) instalações físicas adequadas e de qualidade tanto em termos físicos como financeiros; b) serviços de apoio, compartilhados com outras empresas 8 Ver webpage Unido (http://www.unido.org/) sobre Industrial business development services. REVISTA DO BNDES, RIO DE JANEIRO, V. 7, N. 14, P. 273-300, DEZ. 2000 283 localizadas no mesmo espaço físico, tais como serviços de secretaria, comunicação etc.; e c) aconselhamento através de estudos de viabilidade, estudos de mercado, estudos tecnológicos, aspectos legais e financeiros, certificação e padronização, desenvolvimento de plano de negócios e treinamento. Além disso, a Anprotec, no caso brasileiro, considera incubadora de empresas como “um ambiente flexível e encorajador onde é oferecida uma série de facilidades para o surgimento e crescimento de novos empreendimentos” (http://www.anprotec.org.br). Dois outros aspectos relevantes podem resultar da localização das empresas em uma incubadora: a) o fortalecimento das ligações entre as empresas estabelecidas na incubadora; e b) a melhoria da dinâmica interna das empresas como resultado do trabalho em conjunto e da divisão de um mesmo espaço físico. Todos esses aspectos levam à criação de um ambiente favorável ao “empreendedorismo” (espírito empreendedor) e à expansão das atividades das pequenas e médias empresas, promovendo, inclusive, uma mudança cultural nas mesmas. Independentemente do mecanismo adotado, vale ressaltar que, embora demonstrando certo fôlego e flexibilidade, os parques tecnológicos acabam, inevitavelmente, por limitar o tipo de empresa a ser ali abrigada. As empresas candidatas devem, em princípio, apresentar um escopo de atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) que lhes permita estabelecer ligações com universidades e centros de pesquisa, ou seja, essas empresas devem estar engajadas em atividades mais voltadas para o segmento de alta tecnologia. Por outro lado, os planos de trabalho dos parques normalmente restringem, ou mesmo inibem, o desenvolvimento de atividade manufatureira. Nesse sentido, ao introduzir a componente de P&D e remover a atividade de manufatura, os parques tecnológicos se tornam inadequados ao modelo de inovação ao qual eles, teoricamente, deveriam se integrar (isto é, o modelo em cadeia), perpetuando, dessa forma, o modelo linear de inovação que não mais satisfaz a dinâmica contemporânea.9 Além disso, os parques, pela sua dimensão e diferentemente das incubadoras, apresentamse como mecanismos que exigem maior volume de recursos financeiros na fase de estabelecimento, requerendo, por outro lado, tempo de maturação mais longo no que concerne aos retornos ao investimento. 9 O modelo linear de inovação é aquele no qual o processo de inovação tem início nas atividades de pesquisa básica, passando, seqüencialmente, para as etapas de desenvolvimento, de produção/manufatura e de venda, não ocorrendo, portanto, qualquer tipo de interação e feedback entre as diferentes fases. Cabe ressaltar que o processo de inovação pode ocorrer, também, a partir de qualquer uma das fases ou de outras atividades, tais como design, engenharia, marketing etc. No modelo interativo de inovação em cadeia, a compartimentalização das atividades não ocorre e a troca de informações e conhecimento se dá na forma de loopings constantes e em observância às demandas e sugestões surgidas nas diversas etapas [OECD (1992)]. 284 ASPECTOS RELEVANTES DE PARQUES TECNOLÓGICOS E INCUBADORAS DE EMPRESAS As incubadoras de empresas, por seu lado, constituem um mecanismo de dimensões mais modestas, embora com uma flexibilidade um pouco maior no seu plano de trabalho. Elas requerem um investimento inicial mais moderado e abrigam, em seu espaço físico, um número menor de empresas, que podem estar vinculadas aos segmentos tanto de tecnologia de ponta como de setores tradicionais, bem como operar em setores similares, o que pode, eventualmente, facilitar o estabelecimento de sinergias entre elas, ou não. Participantes A OECD (1987) classifica parques de tecnologia como empreendimentos espontâneos ou planejados, dependendo dos participantes envolvidos no seu design, da implementação, do desenvolvimento, da operação e gestão, bem como dos diferentes objetivos e expectativas que cada um desses agentes apresente em relação ao empreendimento. Os participantes podem, então, ser classificados como operadores e promotores. Entretanto, a OECD adverte que nem sempre é fácil distingui-los em termos práticos, pois em geral as atividades dos parques combinam iniciativas espontâneas e planejadas. A OECD (1987), então, define operadores como todas as organizações que estão empreendendo uma atividade que objetive a produção de um bem ou serviço, material ou intelectual. Promotores, por outro lado, podem ser entendidos como as organizações que estão empreendendo funções que facilitam o trabalho dos operadores, ou os encoraja a desenvolver suas tarefas [OECD (1987)]. Promotores, então, estão envolvidos com o desenvolvimento da infra-estrutura do local escolhido para abrigar o empreendimento, seja através do planejamento urbano e/ou da construção de edifícios, bem como com a inserção e/ou realocação de universidades e institutos de pesquisa. Em geral, a literatura sobre o planejamento e o estabelecimento de parques e incubadoras identifica o envolvimento de quatro grupos de interesses: x Universidades e institutos de pesquisa – A insuficiência de apoio finan- ceiro de fontes de financiamento tradicionais para empreender atividades de pesquisa tem aberto espaço para que universidades e institutos de pesquisa encontrem no setor produtivo uma nova fonte potencial de recursos financeiros. Os constrangimentos financeiros vividos pelo meio acadêmico têm levado os pesquisadores a um estreitamento nos contatos com a indústria, alterando, muitas vezes, tópicos de pesquisa desenvol- REVISTA DO BNDES, RIO DE JANEIRO, V. 7, N. 14, P. 273-300, DEZ. 2000 285 vidos por suas instituições para aqueles mais relacionados com os interesses e necessidades industriais. x Empresários e os chamados acadêmicos-empresários – Apesar das difi- culdades institucionais e financeiras dos pesquisadores, a proximidade do setor produtivo com o científico/tecnológico tem estimulado e encorajado o surgimento de uma nova “carreira” para esses profissionais, dirigindo-os para o “empreendedorismo” e estimulando-os a explorar os resultados de suas atividades acadêmicas e de pesquisa em uma base comercial. Esses pesquisadores têm estado, geralmente, envolvidos com as chamadas pequenas empresas de base tecnológica em áreas muito específicas, tais como microeletrônica e biotecnologia. Na perspectiva dos empresários, seus interesses (vantagens) em trabalhar com acadêmicos e instituições de caráter mais científico encontram-se em utilizar a expertise e os recursos científicos para melhorar suas atividades produtivas (produtos, processos, técnicas de gestão) a fim de elevar sua posição de mercado através da melhoria de sua competitividade. A expectativa de obter melhores resultados econômicos e lucros mais consistentes tem estimulado a interação e o trabalho conjunto entre acadêmicos e empresários. Cabe ainda ressaltar que a proximidade entre a academia e a indústria tem contribuído, de certa forma, para a ampliação do mercado de trabalho para estudantes e recém-graduados. x Agentes financeiros e venture capitalists – A esse grupo interessa investir em novas empresas de base tecnológica com alto e rápido potencial de crescimento econômico e retornos financeiros. Embora esses investimentos envolvam taxa de risco elevada, o retorno econômico pode ser mais expressivo do que em qualquer outra atividade econômica. x Governo, autoridades e agências de desenvolvimento – Aparentemente, os interesses desse grupo de participantes são um misto dos propósitos dos outros grupos de interesse. Entretanto, motivação adicional encontra-se na convicção de que parques e mecanismos similares podem ser utilizados para a revitalização de regiões economicamente deprimidas, o que pode se dar através do estabelecimento de empresas altamente competentes e competitivas, aliadas às universidades e institutos de pesquisa locais, na busca pela excelência e geração de empregos. Particularmente no caso das incubadoras de empresas, além dos participantes mencionados anteriormente, pode-se acrescentar a participação de empresas de grande porte em fases subseqüentes à implantação da pequena empresa na incubadora, quando as operações iniciais já foram financiadas por outros sponsors. A atuação dessas grandes empresas pode ocorrer, por exemplo, através de sua ação como fornecedora de bens e equipamentos à 286 ASPECTOS RELEVANTES DE PARQUES TECNOLÓGICOS E INCUBADORAS DE EMPRESAS empresa infante, ou como cliente, através da aquisição de seus bens e serviços. Dois outros eixos de ação importantes são: a aquisição, pela grande empresa, de tecnologia desenvolvida pela empresa incubada e que ainda não dispõe de recursos que a viabilizem; e a terceirização da produção da grande empresa, através da subcontratação dos serviços da jovem incubada. Devem ser acrescentados, ainda, como prováveis participantes, em muitos casos, investidores estrangeiros, muitas vezes vinculados ao comércio internacional de tecnologias, que atuam não só no suprimento de tecnologias necessárias ao negócio nascente, mas também como uma espécie de broker para pequenas empresas estrangeiras que queiram se instalar em um determinado mercado. É dentro desse contexto que se dá a implementação de incubadoras internacionais (como é a International Business Incubator, localizada no coração do Vale do Silício, em San José, Califórnia). Merece destaque a função dos investidores estrangeiros no que se refere à atração de cérebros, de expertise, para o mundo dos negócios. Cabe, finalmente, enfatizar novamente o papel preponderante dos novos empreendedores, que, segundo Arzeni (1997), são agentes de mudança essenciais na economia de mercado e cujo comportamento é a chave para acelerar a geração, disseminação e aplicação de idéias inovadoras. Objetivos Massey, Quintas e Wield (1992) identificam, para esses grupos de interesse, um conjunto bastante amplo de objetivos, que se aplicam tanto para parques como para incubadoras. Alguns desses objetivos são explicitamente relacionados a universidades e objetivam a promoção de suas ligações com empresas ou uma melhor exploração de seus recursos. Outros se relacionam especificamente com a criação e o apoio de novas empresas de base tecnológica. Outros ainda dizem respeito a políticas de desenvolvimento regional e à revitalização de regiões economicamente deprimidas. Há ainda aqueles de caráter mais geral. Assim, para as universidades e institutos de pesquisa podem ser observados os seguintes objetivos: x encorajar e facilitar ligações entre a universidade e a indústria; x facilitar a transferência de tecnologia entre instituições acadêmicas e empresas localizadas nesses empreendimentos; x comercializar pesquisa acadêmica; x encorajar o surgimento de empresas spin-offs iniciadas por acadêmi- cos; REVISTA DO BNDES, RIO DE JANEIRO, V. 7, N. 14, P. 273-300, DEZ. 2000 287 x proporcionar às instituições acadêmicas acesso às atividades de P&D de ponta das empresas localizadas em parques e congêneres; x criar emprego e oportunidades de consultoria para pesquisadores e es- tudantes; x gerar retorno financeiro para as instituições acadêmicas; x aumentar o conhecimento acadêmico a respeito das necessidades indus- triais; e x melhorar a imagem das instituições acadêmicas junto ao governo. As empresas, por sua vez, objetivam: x acessar a agenda de pesquisas das universidades, promovendo a sua relevância; x acessar os equipamentos e laboratórios universitários, tanto para produ- ção como para análise e testes; x envolver estudantes em projetos industriais; x recrutar recém-graduados, bem como cientistas e engenheiros mais ex- perientes; x promover a atividade de consultoria por parte de acadêmicos; x estabelecer contratos de pesquisa e desenvolver pesquisa conjunta; x encorajar o crescimento de novas empresas de base tecnológica que apenas iniciaram suas atividades fora dos parques e incubadoras; x fomentar a sinergia entre as empresas para promover o benefício mú- tuo; e x aumentar a relevância, para a indústria, das pesquisas desenvolvidas por universidades. Para o grupo governo, autoridades e agências de desenvolvimento regional as prioridades são: x estimular a formação de novas empresas de base tecnológica; 288 ASPECTOS RELEVANTES DE PARQUES TECNOLÓGICOS E INCUBADORAS DE EMPRESAS x gerar novos postos de trabalho na região; x melhorar a performance da economia local; x reverter o contexto declinante das bases industriais locais/regionais; x reduzir os desequilíbrios regionais em termos de atividade de P&D (capacidade, investimento, inovação); x atrair investimento e atividade de P&D; x melhorar a imagem local, particularmente em regiões economicamente deprimidas; e x reproduzir o Vale do Silício e outras experiências bem-sucedidas. Já os objetivos de caráter geral são: x fomentar as tecnologias do futuro; x estimular inovações tecnológicas baseadas na ciência; x proporcionar um adequado retorno sobre o investimento do capital; x estimular mudanças comportamentais e culturais; x estabelecer confiança entre os diferentes agentes; e x engendrar uma cultura empresarial através dos exemplos de casos bem- sucedidos. No caso das incubadoras de empresa, em um sentido mais amplo, o principal objetivo pode ser facilitar o desenvolvimento econômico através da melhoria da base empresarial ou do surgimento de novos empreendedores. Dessa forma, geralmente as incubadoras são diretamente administradas pelos governos locais ou nacionais, embora existam casos nos quais universidades ou organizações privadas sem fins lucrativos possam assumir tal responsabilidade. Cabe ainda ressaltar que tanto os parques quanto as incubadoras podem abrigar empresas vinculadas a um único setor produtivo ou a vários, numa relação industrial complementar ou interdependente.10 10 Para o caso brasileiro, a Anprotec, através do seu estudo Panorama das incubadoras: pesquisa 2000, identifica que 48% das incubadoras brasileiras são setoriais e 52% multissetoriais (http://www.anprotec.org.br). REVISTA DO BNDES, RIO DE JANEIRO, V. 7, N. 14, P. 273-300, DEZ. 2000 289 Fatores Determinantes de Sucesso Apesar das particularidades de cada caso, a combinação de fatores-chave pode ser determinante para o sucesso do empreendimento. A partir da experiência inicial americana e de outros casos de sucesso, é possível identificar os seguintes fatores que contribuem para o sucesso dos parques e incubadoras: x Infra-estrutura – As localidades nas quais os parques e incubadoras são instalados necessitam dispor de uma infra-estrutura mínima que viabilize a recepção e o bom funcionamento de um conjunto de agentes sociais (empresas, universidades e institutos de pesquisa etc.). Essa infra-estrutura contempla, por exemplo, a oferta de áreas residenciais devidamente providas de saneamento básico e urbanismo, facilidades de transportes, facilidades de telecomunicações, em especial com a oferta de serviços de valor agregado. x Universidades e centros/institutos de pesquisa, com elevado grau de excelência,11 já localizados na região. Essas instituições tornam-se as responsáveis pela formação e pelo treinamento de recursos humanos altamente qualificados (cientistas, engenheiros e técnicos), estimulandoos a gerar, absorver e difundir um espírito empreendedor muito positivo entre seus pares e estudantes, bem como dar apoio às atividades desenvolvidas pelas empresas. Entretanto, cumpre ressaltar que a proximidade física entre os agentes (entre empresas e o meio acadêmico) não garante, por si só, que a interação entre eles seja estabelecida e, quando estabelecida, que todo o seu potencial seja explorado. Para que essa interação seja bem-sucedida, é necessário que os agentes sejam capacitados e que tenham postura empreendedora pró-ativa em relação às interações.12 x Características das empresas – Vale registrar que três outras caracterís- ticas das empresas – o tamanho, o setor produtivo no qual atua e o nível da atividade de P&D empreendida – podem influenciar o estabelecimento de suas ligações com a academia. Evidência empírica [OECD (1984), Parker (1992) e Corsten (1987a e 1987b)] sugere que, quanto maior a empresa, maior a probabilidade de ela empreender ligações com as universidades. Essa mesma probabilidade de interação é observada em 11 Muito embora reconhecendo a disponibilidade de expertise técnica como um fator essencial para o surgimento do Vale do Silício, Larsen e Rogers (1988, p. 99-115) não fazem qualquer referência mais explícita sobre a importância das universidades nesse processo. De certa forma, essa postura reforça a idéia de que a principal função das universidades reside, em muitos casos, na formação e no treinamento de recursos humanos qualificados e no desenvolvimento de atividades de pesquisa com o objetivo maior da geração do conhecimento per se. 12 Para maiores detalhes, ver Vedovello (1995, 1997, 1998 e 2000). 290 ASPECTOS RELEVANTES DE PARQUES TECNOLÓGICOS E INCUBADORAS DE EMPRESAS empresas que atuam em setores produtivos tecnologicamente mais dinâmicos (de alta tecnologia) [Deiaco (1992), Mansfield (1991) e Faulkner e Senker (1994 e 1995)]. Finalmente, a execução de atividades de P&D no âmbito das empresas tem sido considerada, em termos empíricos [Freeman (1994), Arora e Gambardella (1990) e Nelson (1987)], como essencial para a promoção da inovação tecnológica.13 Quanto à intensidade das atividades de P&D da empresa (que pode ser medida, por exemplo, pelo número e pela qualificação do pessoal envolvido com essas atividades e pelo número de patentes registradas), ela pode influenciar a capacidade de articular suas ligações com universidades e institutos de pesquisa. x “Empreendedorismo”, que emerge como uma combinação e conseqüên- cia da qualidade e quantidade de recursos humanos locais, que provêm tanto das universidades como de fora delas. Para a instalação de novas empresas cumpre criar um dinamismo especial, pautado em mudanças não só tecnológicas mas também comportamentais. x Fundos federais, disponibilizados pelo governo, podem assumir o papel de provedores de recursos financeiros, seja através de programas específicos ou da utilização do poder de compra do governo.14 x Venture capital, definido como o investimento em uma empresa nova voltada, em geral, para o segmento da alta tecnologia, com grande potencial para um crescimento rápido [Larsen e Rogers (1988)], pode contribuir fortemente para o sucesso econômico desses novos empreendimentos, através do encorajamento de potenciais novas empresas, da alocação de recursos financeiros e, ainda, da supervisão das questões relacionadas com a gestão das empresas ou do aconselhamento técnico aos novos empreendedores no mercado. Com referência específica às incubadoras de empresas, Lalkaka (1997) sugere que um empreendimento bem-sucedido se desenvolve, geralmente, através de quatro fases, cada uma delas com suas especificidades: x A primeira fase refere-se ao processo preparatório, que prevê o estudo das alternativas de localização do empreendimento, no qual os partici13 Quanto à intensidade das atividades de P&D da empresa, não há um consenso sobre a sua influência no estabelecimento de ligações com as universidades. Na realidade, e com referência específica aos parques tecnológicos, Massey, Quintas e Wield (1992, p. 43) enfatizam que esses mecanismos, embora relativamente sofisticados em termos tecnológicos, estão longe de operar na fronteira do conhecimento, parecendo estar mais envolvidos em novas aplicações de tecnologias relativamente novas do que com rupturas tecnológicas de grande porte. Em outras palavras, para os autores os parques tecnológicos, freqüentemente, operam como difusores de inovações, e não como inovadores. 14 É bastante esclarecedor o papel desempenhado pelo Estado americano – tanto como financiador como cliente – quando da implementação das primeiras empresas do Vale do Silício e da Rota 128. REVISTA DO BNDES, RIO DE JANEIRO, V. 7, N. 14, P. 273-300, DEZ. 2000 291 pantes interessados sejam informados sobre possíveis benefícios, custos e responsabilidades de longo prazo para iniciar e sustentar um novo mecanismo. Essa fase envolve, entre outros, os seguintes aspectos: – utilização de consultores familiarizados com as condições locais; – identificação de um grupo de financiadores para o empreendimento; – execução de estudos de viabilidade, com ênfase particular nos prováveis empresários com potencial de instalação no novo empreendimento; – identificação de ligações com universidades; – identificação de serviços de apoio; – disponibilidade de espaço físico adequado; e – estimativa de custos financeiros. x A segunda fase diz respeito ao processo de implementação do projeto da incubadora, que envolveria os seguintes aspectos: – estabelecimento do conselho consultivo e de gestão; – estabelecimento de suporte jurídico; – estabelecimento da equipe de gestão, incluindo o gestor principal;15 – identificação do potencial técnico, de negócios e de mercado de todos os candidatos ao espaço físico; – planejamento dos gastos relativos à construção, remodelação e instalação do empreendimento; e – execução de uma campanha promocional para mobilizar o apoio da comunidade como um todo. x A terceira fase é a etapa inicial das operações, que requer: – disponibilidade de crédito e facilidades financeiras aos novos empresários para viabilizar as atividades desenvolvidas na incubadora; 15 Via de regra, é desejável que o gestor principal demonstre um conhecimento substancial de outras experiências e que, inclusive, receba treinamento em incubadoras bem-sucedidas no país e no exterior. 292 ASPECTOS RELEVANTES DE PARQUES TECNOLÓGICOS E INCUBADORAS DE EMPRESAS – promoção do estabelecimento de sinergias entre as empresas localizadas na incubadora e as demais, seja através de subcontratação ou de outros arranjos adequados; – execução de programas de formação continuada, objetivando não só o pessoal administrativo do empreendimento, mas também de cada nova empresa; – promoção de ligações com outras empresas localizadas em mecanismos similares no país; e – promoção da troca de informações e experiências com entidades similares e associações de classe no exterior. x A quarta fase refere-se à sustenção do empreendimento e relaciona-se aos seguintes aspectos: – busca pró-ativa de oportunidades de negócio na região, no país e no exterior; – busca criativa de “autonomia” financeira do empreendimento, através de cobranças de taxas, de filiações, de aluguéis e de outras modalidades de funding; e – avaliações constantes do empreendimento para as devidas correções de rumo e replicações. Permeando todos esses elementos, é também desejável que o empreendimento se realize em um ambiente pró-ativo, gozando de estabilidade política, com uma estrutura regulatória e macroeconômica favorável à atividade empresarial e estimulante de novos bens e serviços. Além disso, como já referido anteriormente, modalidades de financiamento aos parques e incubadoras e, principalmente, às MPMEs – foco central desses mecanismos – devem ser desenvolvidas e implementadas. As MPMEs constituem um grupo específico de empresas, pois representam “a maior fonte de emprego, o fundamento da economia local, bem como da inovação e do desenvolvimento de novos produtos, além de desempenharem um papel central na área de serviços” [Comissão das Comunidades Européias (1999, p. 7)]. Em geral, as MPMEs não têm acesso a novas tecnologias e a técnicas mais avançadas de gestão. Em termos financeiros, entre outros fatores, a ausência de um histórico que permita investimentos iniciais e a ausência de garantias dificultam o acesso a fontes de financiamento, o que pode comprometer seriamente a capacidade de a pequena empresa sobreviver ou se desenvolver, seja através de expansão de suas atividades, de REVISTA DO BNDES, RIO DE JANEIRO, V. 7, N. 14, P. 273-300, DEZ. 2000 293 melhoria tecnológica ou de melhoria da gestão [Levitsky (1996)]. Assim, a ausência de instrumentos de financiamento adequados pode tornar-se um impedimento ao crescimento e mesmo à própria sobrevivência desse grupo de empresas. A Mesa-Redonda de Industrialistas Europeus, em seu relatório sobre a criação de emprego e competitividade através da inovação [ver European Round Table (1998)], observa que o acesso rápido ao capital de risco em termos e condições razoáveis é essencial para o “empreendedorismo” e as inovações bem-sucedidas, independentemente de se tratar de capital-semente (seed capital), capital de risco ou capital para o desenvolvimento. No relatório é enfatizado, ainda, que na Europa pequenas instituições financeiras, freqüentemente dominadas localmente, carecem de visão e de criatividade necessárias para avaliar o risco do empreendimento.16 Para a Associação Européia de Capital de Risco [(citado em European Round Table (1998)], os governos devem criar condições para o desenvolvimento adequado de um mercado financeiro que estimule e apóie as atividades empresariais, principalmente aquelas voltadas para as MPMEs. Todas as fontes de financiamento devem ser consideradas e trabalhadas no sentido de apoiar o desenvolvimento de negócios empreendedores e dinâmicos, sejam eles representados por empresas de menor dimensão ou mesmo voltadas para atividades artesanais. Cada fase ou estágio de desenvolvimento de um novo negócio requer um tipo específico de apoio financeiro, seja através do chamado capital-semente, do capital de risco ou de investimentos de bancos comerciais. O gráfico a seguir correlaciona os estágios de desenvolvimento das empresas (concepção, lançamento e crescimento, desenvolvimento e maturidade) com o tipo de financiamento requerido e o respectivo nível de risco: x Concepção do negócio – É a fase inicial do novo negócio, que surge como uma idéia cuja viabilidade ainda não foi provada e que requer, por exemplo, que a candidata a empresa seja conceptualizada, a equipe de gestão composta e o plano de oportunidade de negócio desenhado. Esse plano de oportunidade deve considerar as possibilidades do negócio, os riscos e retornos, a situação de mercado e o quão competitiva ela é, bem como permitir uma avaliação, em termos do empreendedor, da oportunidade de negócio frente aos seus objetivos e habilidades pessoais. Em 16 Esse pode ser o caso dos agentes financeiros das diferentes regiões do Brasil, que têm dificuldades em operar com esses empreendimentos de risco de MPMEs. 294 ASPECTOS RELEVANTES DE PARQUES TECNOLÓGICOS E INCUBADORAS DE EMPRESAS termos de recursos financeiros, muito embora o volume não seja elevado, o seu risco é alto – o apoio financeiro emerge, normalmente, de fontes não-formais tais como família e amigos e os chamados fools. x Lançamento do negócio – É a fase na qual a candidata a empresa se torna um empreendimento, tendo na constituição e aprovação do plano de negócio o ponto de partida. O plano de negócio é o principal instrumento que o empreendedor dispõe para apresentar o seu negócio a potenciais investidores. Nessa fase inicia-se a constituição da empresa propriamente dita, e os requerimentos básicos dizem respeito ao espaço físico para instalações, montagem e/ou definição de utilização (via subcontração) de laboratórios para o desenvolvimento de protótipos e dos produtos (ou serviços) iniciais. Os apoios tecnológico e jurídico são essenciais nessa etapa, assim como a busca de potenciais investidores. Fontes não-formais de recursos financeiros ainda se fazem presentes, muito embora haja a possibilidade de contar com o apoio de seed capital através de investidores talvez mais modestos, como os business angels, mas que em muitos casos desejam transcender essa função financeira fazendo uma contribuição direta à gestão da jovem empresa com o intuito de melhorar e/ou expandir suas operações. x Crescimento, desenvolvimento e maturidade – Quando o novo empreen- dimento atinge a fase de crescimento, o plano de negócios da empresa deve estar completamente definido e reajustado em detalhes, permitindo colocar em perspectiva a posição e a evolução da mesma no mercado. A equipe de gestão também já está definida, muito embora se possa consi- Nível de Risco do Investimento Estágios de Desenvolvimento das Empresas Família, Amigos e Tolos Alto Business Angels Capital de Risco Fundos de Investimento Mercado de Ações Bancos Comerciais Baixo Start-up Crescimento Seed Fonte: Baseado em Conceição et alii (1999). Desenvolvimento Maturidade REVISTA DO BNDES, RIO DE JANEIRO, V. 7, N. 14, P. 273-300, DEZ. 2000 295 derar a ampliação dos recursos humanos disponíveis para atender às crescentes necessidades da empresa infante. Em termos financeiros, a partir da fase de crescimento, seguida da de desenvolvimento e maturidade, pressupõe-se a existência de instrumentos de apoio, tais como capital de risco, fundos de investimento e empréstimos de bancos comerciais, bem como a entrada da empresa na bolsa de valores. 4. Considerações Finais Este trabalho buscou discutir a natureza dos parques tecnológicos e das incubadoras de empresas, mecanismos que têm sido implementados – tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento – visando apoiar as políticas industrial e de ciência e tecnologia. Esses empreendimentos têm como principais agentes universidades e institutos de pesquisa, empresários e os chamados acadêmicos-empresários, agentes financeiros e venture capitalists, governo, autoridades, agências de desenvolvimento, empresas de grande porte e investidores estrangeiros – que se apresentam ora como promotores, ora como operadores –, dependendo das circunstâncias que cercam o estabelecimento desses instrumentos. O envolvimento desses diferentes grupos de interesse também depende dos múltiplos objetivos que compõem cada uma das diferentes agendas, confirmando o quão heterogêneos e complexos são os parques e incubadoras, assim como o processo de implementá-los. Alguns dos fatores determinantes do sucesso desses empreendimentos merecem destaque, como a necessidade de uma infra-estrutura que viabilize a recepção e potencialize a utilização dos recursos materiais, humanos e financeiros que ou já se encontram na respectiva região ou estão sendo canalizados para ela. A existência de universidades e de centros de pesquisa que apóiem o novo empreendimento é considerada primordial, pois cumpre a função de gerar, utilizar e difundir conhecimento, formar recursos humanos altamente qualificados e disseminar o espírito empreendedor no respectivo milieux. Entretanto, as ligações que venham a ser estabelecidas entre empresas e academia, facilitadas ou não por esses mecanismos, dependerá do tamanho da empresa, do setor produtivo no qual ela atua, da capacidade de desenvolver atividades de P&D, bem como da atitude pró-ativa dos respectivos empreendedores e acadêmicos quanto ao trabalho conjunto. Isto é, a proximidade física entre academia e empresas não garante, por si só, o estabelecimento e o uso das interações entre esses agentes. Aspectos relacionados ao financiamento de parques e incubadoras e, principalmente, ao apoio às MPMEs revelam-se altamente sensíveis e decisivos, 296 ASPECTOS RELEVANTES DE PARQUES TECNOLÓGICOS E INCUBADORAS DE EMPRESAS pois essas empresas, como salientado anteriormente, constituem um grupo específico com um potencial de gerar postos de trabalho e agilizar o processo de inovação de forma ímpar, mas com enormes dificuldades em obter apoio financeiro e tecnológico que sustentem seus objetivos. A Carta de Bolonha sobre Políticas de Apoio a MPMEs (adotada em 15 de junho de 2000)17 traduz, de forma bastante objetiva, os requerimentos políticos para viabilizar as MPMEs. É reconhecido que a competitividade dessas empresas pode ser beneficiada se um acesso efetivo aos serviços financeiros, particularmente ao seed money e ao capital para desenvolvimento, incluindo aí instrumentos financeiros inovadores para reduzir riscos e viabilizar custos de transação, for desenhado e implementado. É ainda recomendado que as políticas relativas às MPMEs considerem a redução de barreiras ao financiamento de inovações e levem em conta os seguintes fatores: a) facilidades para o desenvolvimento de mecanismos de mercado de ações, especialmente vocacionados para atender a novas empresas inovadoras; b) promoção de programas de compartilhamento de riscos, incluindo apoio financeiro e incentivos para a inovação e as atividades de P&D; e c) apoio a iniciativas que facilitem parcerias para a inovação entre empresários, financiadores e agências públicas. Os parques tecnológicos e as incubadoras de empresas são considerados importantes mecanismos de políticas tanto industrial e tecnológica quanto de desenvolvimento regional. Entretanto, sua complexidade exige o desenvolvimento de instrumentos de política adequados para sua implementação. Particularmente no caso das incubadoras, que têm maior participação de MPMEs, atenção especial deve ser dada ao desenvolvimento de modelagem de apoio financeiro que atenda adequadamente às suas necessidades. Referências Bibliográficas ANPROTEC (Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos de Tecnologias Avançadas) – http://www.anprotec.org.br. ARORA, A., GAMBARDELLA, A. Complementarity and external linkages: the strategies of the large firms in biotechnology. 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