Mariangela M. F. Kurozawa Jóias: uma saída à efemeridade UNISAL Americana 2006 2 Mariangela M. F. Kurozawa Jóias: uma saída à efemeridade Trabalho de Conclusão de curso apresentado como exigência parcial para obtenção do grau de Bacharel em Moda no Centro Universitário Salesiano de São Paulo, sob a orientação do Prof. Mestre Jarbas Martins. UNISAL Americana 2006 3 Comissão Julgadora Convidado: Helton Jorge Filho Pres. Pólo Têxtil Professor convidado: Celso Gazeta Professor Orientador: Jarbas Martins 4 Dedico este trabalho aos meus pais por fazerem de mim o que sou hoje e a minha querida irmã que são muito importantes na minha vida e que através da compreensão e estímulos me ensinaram a ultrapassar as barreiras da minha vida e contribuíram assim para a conclusão de mais esta etapa. 5 AGRADECIMENTOS Agradeço: • • • Ao meu professor-orientador Jarbas Martins, Aos professores: Luciana Ramos de Souza Cordenonsi e a professora Joelma Leão, A todos aqueles que contribuíram de alguma forma com esta dissertação, E, sobretudo, agradeço: • • A Deus; A minha família - pais, irmã, prima – que ajudaram de inúmeras formas à realização deste trabalho. A todos o meu muito obrigada. 6 “No momento em que o belo está tão intimamente relacionado à subjetividade humana que, no limite, ele se define pelo prazer que proporciona, pelas sensações ou os sentimentos que desperta em nós. Não é mais porque um objeto é intrinsecamente belo que ele agrada, mas é porque proporciona um certo tipo de prazer que o chamamos de belo; a linguagem da estética contemporânea é daí em diante a das experiências vividas”. (apud ROCHE, 1750, p. 110.) 7 RESUMO Este estudo sobre as jóias como sendo uma saída à efemeridade faz uma abordagem sobre a sua importância desde a pré-história até os dias atuais. Retratando, além de ser um objeto ornamental, como também um grande fator capaz de fixar um momento através do tempo obtendo elementos simbólicos significativos de fundamental relevância para a compreensão de que as jóias não são algo frívolo. A pesquisa valeu-se de um método qualitativo de investigação através de consultas a materiais como: livros, apostilas, sites, entre outros. Visando como principal objetivo que o leitor possa obter uma imagem positiva deste objeto de desejo. Palavras – chave: Objeto ornamental, desejo e efêmero. 8 ABSTRACT This study on jewels as being an exit to the ephemeral it makes a boarding on its importance since daily pay-history until the current days. Portraying, beyond being an ornamental object, as well as a great factor capable to fix a moment through the time getting significant symbolic elements of basic relevance for the understanding of that the jewels are not something trifler. The research used a qualitative method of inquiry through consultations the materials as: books, you emend, sites, among others. Aiming at as main objective that the reader can get a positive image of this object of desire. Key – words: ornamental object, desire and ephemeral. 9 LISTA DE FIGURAS FIGURA 01 – Colar amuleto em âmbar.............................................................14 FIGURA 02 – Colar de dentes de javali.............................................................14 FIGURA 03 – Colar de garras de diversos ursos..............................................15 FIGURA 04–Colar de conchas..........................................................................16 FIGURA 05– Anel egípcio..................................................................................17 FIGURA 06 – Fíbula Grega...............................................................................18 FIGURA 07 – Braceletes e brincos Gregos.......................................................18 FIGURAS 08 – Jóias confeccionadas pela técnica de Filigrana........................19 FIGURA 09 – Camafeu......................................................................................20 FIGURA 10 – Gargantilha em ouro com fragmento de meteorito e brilhante....28 FIGURA 11 – Colar feito com bolas de pingue-pongue.....................................29 FIGURA 12 – Elizabeth Taylor e suas jóias.......................................................36 FIGURA 13 - Aliança do século XVI..................................................................39 FIGURA 14 - Par de alianças do século XXI.....................................................39 FIGURA 15– Tipos de Coroas...........................................................................41 FIGURA 16 – Rainha Elizabeth II usando Coroa...............................................42 FIGURA 17– Miss Universo 2006......................................................................43 FIGURA 18 – Rainha do pop Madonna usando Coroa.....................................43 FIGURA 19 – Crucifixo tradicional.....................................................................45 FIGURA 20– Releitura de um Crucifixo.............................................................45 FIGURA 21 – Anel de formatura........................................................................46 FIGURA 22 – Broche com madeixa de cabelo..................................................47 10 SUMÁRIO INTRODUÇÃO.............................................................................................11 1 – A HISTÓRIA DA JOALHERIA................................................................13 1.1 – Pré-história (até 4.000 a. C)...........................................................13 1.2 - Idade Antiga (4.000 a.C até 476 d.C).............................................16 1.2.1 – Egito (3.200 a.C a 1.085 a. C)........................................16 1.2.2 - Grécia (2.000 a 388 a. C)...............................................17 1.2.3 - Etrúria ............................................................................18 1.2.4 - Roma (753 a.C a 476 d.C)..............................................19 1.3 – Idade Média(476 d.C. a 1453 d.C.)................................................20 1.3.1 – Bizantinos.......................................................................21 1.3.2 - Arte Gótica (Século XII ao Século XVI)..........................22 1.4 – Idade Moderna (1453 a 1789)........................................................23 1.4.1 - Renascimento (Século XV ao Século XVII).....................23 1.4.2 - Barroco (Século XVII)......................................................23 1.4.3 - Rococó (Século XVIII).....................................................24 1.5 – Idade Contemporânea(1789 até os dias atuais)............................24 1.5.1 - Século XVIII ao XIX.........................................................24 1.5.2 - Século XX .......................................................................25 1.5.3 - Século XXI.......................................................................26 2– DEFINIÇÕES DE UMA JÓIA...................................................................27 2.1 – A jóia vista como objeto de desejo.................................................29 3 – RELAÇÃO ENTRE JÓIA E MODA.........................................................31 3.1 – A jóia associada ao Luxo...............................................................33 4 – AS IMPORTÂNCIAS SIMBÓLICAS, FINANCEIRAS E SENTIMENTAIS DAS JÓIAS...................................................................................................35 4.1 – Financeiro.......................................................................................35 4.2 – Simbólico........................................................................................37 4.2.1 – Alianças de compromissos...............................................38 4.2.2 – Coroas..............................................................................40 4.2.3 – A cruz e o Crucifixo...........................................................44 4.3 – Sentimental ...................................................................................46 CONCLUSÃO...............................................................................................49 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................50 11 INTRODUÇÃO Segundo o Dicionário de símbolos de LEXIKON (1998) as jóias são símbolo da riqueza material, podendo representar a futilidade e a aparência meramente exterior de tudo o que é terreno. Contudo este trabalho tem por objetivo argumentar a importância das jóias no desenvolvimento da sociedade, atribuindo uma outra imagem deste objeto de desejo através de fatores simbólicos significativos e sentimentais com o intuito de mostrar que não possa ser considerado algo frívolo. Este é, sem dúvida, um tema que está ligado com o desenvolvimento da sociedade e por este motivo o primeiro capítulo deste trabalho retrata a história da Joalheria de um modo geral, argumentando o uso das jóias desde a época da pré-história, passando pela Idade Antiga ou Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea até os dias atuais. No capítulo seguinte é de extrema importância argumentar as definições de uma jóia já que atualmente não se limitam apenas na utilização de metais nobres (ouro, platina e prata) e gemas raras, mas também são utilizados materiais alternativos (plástico, papel, madeira) e metais menos nobres (cobre, latão, bronze, entre outros). Além da preocupação com o design da peça que é um atributo agregado ao objeto que faz toda a diferença, sendo fundamental para a jóia poder ser um objeto de desejo. No capítulo três, mostraremos a relação entre jóia e moda, como também a jóia associada ao luxo. Já no ultimo capítulo retrataremos as importâncias simbólicas, financeiras e sentimentais das jóias, fundamentais para a compreensão de que elas não são superficiais em nossas vidas contrapondo assim com o argumento de Lexikon. Falar sobre este assunto poderá ser uma maneira de incentivar as pessoas a olharem as jóias de outro modo, vista além de um objeto signo da 12 riqueza e da diferenciação social. E assim estudando-as como um sendo algo fundamental para a compreensão de que são capazes de simbolizar e fixar sentimentos de um momento através do tempo firmando a sua importância nos dias atuais em que o novo de hoje é o velho do amanhã. Desse modo, este trabalho visa contribuir com a imagem superficial das jóias. 13 1 – A HISTÓRIA DA JOALHERIA Segundo Coutinho (2006), não há uma data, nem momento exato para se dizer quando a jóia foi criada; ela nasceu junto com a vaidade humana. Deste modo, em cada época da sociedade elas tiveram diversas características como: diferentes estilos, valores estéticos e domínios técnicos, sendo fundamentais para a compreensão da história assim como a pintura, a arquitetura e a indumentária. Desde o início da humanidade a joalheria esteve presente como forma de expressão artística; em todas as culturas, das mais primitivas às mais desenvolvidas; registrando assim mais do que qualquer outra arte, as sutilezas de nossa civilização. 1.1 – Pré-História (até 4.000 a. C). De acordo com Braga (2006) esse período não possui nenhum documento escrito, pois é exatamente a época anterior à escrita. Tudo o que sabemos dos homens que viveram nesse tempo é o resultado da pesquisa de antropólogos, historiadores e dos estudos da moderna ciência arqueológica, que reconstituíram a cultura do homem. Porém, o homem primitivo precisava controlar seu destino e influenciar a sorte utilizando-se de ornamentos como o amuleto. Essa palavra deriva do latim Amuletum e é sinônimo de cliclâmen, ou seja, uma planta que era usada para proteger contra venenos. Assim, os amuletos eram objetos usados junto ao corpo como proteção e atrativo de sorte. 14 Figura 1: Colar amuleto em âmbar encontrado no Equador. Materiais utilizados como amuletos de proteção. Fonte: site: http://www.portaldasjoias.com.br/historia_da_joia.htm. Acesso em 18 de julho de 2006. Nota-se que os ornamentos primitivos possuíam uma outra finalidade que era identificar e distinguir função de uma mesma tribo, por exemplo, um colar feito de dentes de urso identificava o bravo caçador. Esses objetos eram feitos de conchas, ossos e garras e presas de animais, portanto não eram usados materiais que hoje denominamos preciosos, porém através do caráter antropológico, sociológico e arqueológico são consideradas verdadeiras jóias sendo mais que uma questão material e sim valorizadas pelo caráter histórico. Figura 2: Colar de dentes de javali encontrado no Brasil. Fila de dentes de animais simbolizando a força física e a classe dos caçadores. Fonte:site http://www.portaldasjoias.com.br/historia_da_joia.htm. Acesso em 18 de julho de 2006. 15 FIGURA 3: Colar feito de garras de diversos ursos pertencia a um chefe índio da América do Norte. Como outras peças de unhas ou dentes, ela denotava posição social pela façanha de ter caçado o urso e transmitia o poder do animal. Fonte: MITFORD, 2001, 86 p. No final do período Neolítico (7.000 a 5.500 a. C), o homem aperfeiçoou os seus instrumentos através do uso da metalurgia. Os artefatos de pedra polida foram substituídos por ferramentas de metal, inaugurando a chamada Idade dos Metais (5.500 a. C), que foi uma época caracterizada pelo desenvolvimento de técnicas baseadas em metais. O primeiro metal a ser fundido foi o cobre, devido a sua pouca dureza. Depois foi o estanho, que permitiu a obtenção do bronze, que é o resultado da liga dos dois minerais. Com este avanço, foi possível a confecção de objetos mais resistentes. 16 Os homens e mulheres apreciavam muitas jóias, pois usavam anéis, braceletes, golas e presilhas de cabelo. Os ricos usavam colares com pedras preciosas, tais como: lápis-lazúli, ágata, ametista e cristal de rocha, intercalados com pérolas. Figura 4: Colar de conchas do período Neolítico, as conchas amplamente utilizadas neste período, continuaram a ser usada pelas egípcias como proteção contra a esterilidade. Fonte:site http://www.portaldasjoias.com.br/historia_da_joia.htm Acesso em 18 de julho de 2006. 1.2 –Idade Antiga (4.000 a.C até 476 d.C) A Idade Antiga ou Antiguidade as jóias tiveram um significativo papel de diferenciação individuais e sociais, representando em todos estes períodos as diferentes técnicas de fabricação destes objetos caracterizando as riquezas de cada civilização. 1.2.1 – Egito (3.200 a.C 1.085 a. C). A descoberta da tumba do faraó Tutankamon – 18 ° Dinastia revelou seus tesouros que o acompanharam durante sua vida e após sua morte, assim como o alto grau de excelência dos ourives egípcios, comprovados pelos diademas, anéis, amuletos, pendentes, braceletes, brincos e peitorais que 17 eram um tipo de colar elaborado com pedras preciosas e/ou contas de vidro (os egípcios foram os primeiros a desenvolver a técnica de elaboração do vidro), cuja qualidade técnica e decorativa são altíssimas e raramente foram igualadas na historia da joalheria. As jóias egípcias eram predominantemente compostas por símbolos, sendo uma forma de expressão estreitamente ligada à simbologia da escrita hierográfica, por exemplo: o escaravelho, o nó de Isis, o olho de Horus, a flor de lótus, a serpente, o falcão, a esfinge, são motivos decorativos carregados de simbologia religiosa. Na joalheria egípcia, o uso do ouro é predominante e, em geral era complementado decorativamente pelo uso das gemas: turquesa, corneliana e lápis-lazúli ou por pastas vítreas imitando-as. Figura 5: Anel egípcio. Fonte:http://www.artecleusa.trix.net/joias2.htm. Acesso em 18 de julho de 2006 1.2.2 – Grécia (2.000 a 388 a.C.). As roupas gregas eram drapeadas e por isso necessitavam do uso de broches e alfinetes, como também o uso de um cinto ou um cordão em volta da cintura. O broche desenvolveu-se da antiga fivela greco-romana chamada fíbula, que tinha a forma de um alfinete de segurança e sua função era de segurar os drapeados das roupas além de serem extremamente decoradas com fileiras de animais, como: patos, esfinges e leões. 18 Figura 6: Fíbula Grega. Fonte:http://www.artecleusa.trix.net/joias2.htm. Acesso em 18 de julho de 2006 Verificou-se a opulência da arte ourivessaria grega, após as conquistas de Alexandre, o Grande, pois o ouro e as gemas eram encontrados em abundância, portanto as jóias foram enriquecidas com designes de influência orientais e embelezadas com gemas raras. Figura 7: Braceletes e brincos Gregos Fonte: site http://www.joia-e-arte.com.br/joia.htm. Acesso em 18 de julho de 2006 1.2.3 – Etruria Os etruscos destacaram-se como extraordinários joalheiros, elaborando cetros, coroas, brincos, colares, fivelas, braceletes e alfinetes com molas para prender seus mantos (tebenas) utilizando as técnicas de filigrana e granulação em ouro na arte de complementar a aparência da peça. A técnica de filigrana consiste num fio de ouro extremamente fino e delicado que é torcido e retorcido de modo a formar desenhos, sendo afixado na superfície da peça pela solda. Já a granulação são minúsculas esferas de ouro que são afixadas a uma base metálica por solda ou pela fusão. Utilizando 19 essas técnicas os ourives etruscos eram capazes de realizar maravilhosos e delicados designes com grande precisão. Figura 8: Jóias confeccionadas pela técnica de Filigrana Fonte: site http://www.joia-e-arte.com.br/joia.htm. Acesso em 18 de julho de 2006 1.2.4 – Roma (753 a.C. a 476 d.C) Os acessórios romanos sofreram uma vasta influência das civilizações antigas, tais como: os egípcios, gregos e etruscos. Utilizavam-se vários tipos de jóias, como exemplo: tiaras de ouro e prata, incrustadas com pedras preciosas e os camafeus que eram adorados. Homens e mulheres usarem anéis, no entanto tornozeleiras, pulseiras, colares e brincos. as mulheres acrescentavam 20 Figura 9: Camafeu A joalheria romana possuía características naturalistas e figurativas, pois ora eram Fonte:site http://www.joiabr.com.br/artigos/nov03.htm confeccionadas em linhas planas e simples, Acesso em 18 de julho de 2006 ora em elaborados motivos florais. A gema favorita dos antigos romanos era a esmeralda que podia ser usada na forma de cristal, junto com a pérola. Outras gemas apreciadas eram: a água-marinha, o topázio, a safira e o diamante. 1.3 – Idade Média (476 d.C. a 1453 d.C.). Neste período quando ocorreu o deslocamento do epicentro cultural da Roma para Bizâncio (Constantinopla), as jóias e a ourivesaria ganharam nova identidade. 1.3.1 – Bizantinos Inicialmente a joalheria bizantina representa uma continuidade do design e das técnicas romanas, porém a partir do século IV, surgiram mudanças aos novos gostos e cultura dominante. Com isso, a influência oriental se traduz num colorido alegre, em franjas, pingentes e jóias em oposição à simplicidade dos trajes romanos. Desse modo, o gosto bizantino por mosaicos era muito acentuado pelas exuberantes aplicações de pedras e pérolas presas às peças como as túnicas incrustadas de jóias; e ainda usavam fileiras inteiras desses mesmos componentes, que pendiam das coroas imperiais como a da imperatriz Teodora, que, além disso, adornava seus ombros com uma faixa bordada com fios de ouro e coberta com pedras preciosas e pérolas. 21 As peças da joalheria mais adoradas eram os braceletes que consistiam em um delicado e curvo cilindro de ouro, que poderia variar em: sólido ou vazado; plano ou com apliques elaborados; com desenhos estampados na superfície ou com cenas de cunho religioso e sempre eram decorados com gemas. E os brincos que poderiam variar de simples discos de ouro, para as menos afortunadas, até intricadas e grandes peças que retratavam figuras de santos. Usavam, também: cintos, fivelas e broches para ambos os sexos e eram fantasticamente decorados em diferentes técnicas e adornados com gemas. As gemas mais usadas eram: a pérola, esmeralda, safira, o rubi, o diamante e o lápis-lazúli, cujo brilho mostrava a opulência de quem às portavam. Uma característica da ourivesaria bizantina era que os ourives também trabalhavam metais mais baratos como o bronze e utilizavam o vidro no lugar da gema para confeccionar peças de adornos para os menos afortunados. 1.3.2 – Arte Gótica (Século XII ao Século XVI) Os artesãos do período gótico possuíam o conhecimento de todas as técnicas de joalheria desenvolvidas pelas civilizações precedentes. E estes tinham paixão pelas cores, utilizavam minúsculas formas geométricas obtidas com pedras preciosas e esmaltes, além de desenhos decorativos com misturas de motivos geométricos, de pássaros e desenhos da natureza, a figura humana aparecia raramente. Entre o século XIII ao início do século XIV, foram os anos das grandes jóias reais destacando-se as coroas e os diademas. A moda havia mudado pouco com exceção de broches que eram costurados nas roupas e os crucifixos usados sobre o colo. 22 Foi neste período que surgiu uma lei que proibia os cidadãos comuns de usarem pedras preciosas e jóias em ouro e prata, ou seja, pela primeira vez na Europa ocidental, a joalheria tornou-se de uso exclusivo das classes privilegiadas. Na Idade Média não havia distinção entre os sexos na utilização de jóias; ambos usavam colares, anéis, broches, cintos ornados e diademas. A única diferença foi na grande variedade de jóias femininas, diversas eram as jóias para ornamentarem a cabeça e/ou os cabelos, assim como outros adereços de vestimenta. 1.4 – Idade Moderna (1453 a 1789) Na Idade Moderna ocorreram novas referências que marcaram a identidade das jóias, atraindo numerosos artistas para a prática da joalheria e da ourivesaria. 1.4.1 – Renascimento (Século XV ao Século XVII) No Renascimento peças históricas decoradas com esmaltes e pedras preciosas revelam um nível artístico equiparado aos da pintura e escultura. Eram produzidos peças de forma tão elaboradas que podiam ser colocadas acima de peças de arte, e seus portadores eram levados ao mais elevado status. Os ourives renascentistas utilizavam técnicas como: esmaltação, gravação e cravação para chegar a níveis de sofisticação nunca antes alcançados. As mulheres usavam brincos, anéis, aros, colares curtos e compridos e broxes seguravam as mangas. Faziam parte dos bordados jóias e perolas. 1.4.2 – Barroco (Século XVII) 23 Neste período as jóias tornaram-se ainda mais símbolo de status social, trazendo o gosto pela opulência na utilização do ouro e gemas como: os rubis, as esmeraldas, o diamante e as safiras (tinham predileção pelas perolas e pelo diamante lapidado). As jóias que eram caracterizadas pela ornamentação com gemas coloridas passam a ganhar uniformidade, preferindo a exploração decorativa em torno de uma só gema. Surge, então, a chamada “jóia-espetáculo” que é justamente a peça extremamente elaborada em torno de uma só gema, ou seja: uma maneira de ostentação pública de riqueza, poder ou credo religioso. 1.4.3 – Rococó (Século XVIII) O estilo rococó foi caracterizado por motivos rendilhados de flores, conchas, plantas, ondulados, sem regularidade geométrica (pela primeira vez na história da arte européia, começou a reinar a assimetria na ornamentação) e pela extravagância e excesso de adornos. As jóias eram assimétricas e leves, se comparadas com o período anterior. Surgem, pela primeira vez, jóias para serem utilizadas durante o dia, mais leves, e jóias para serem usadas à noite. 1.5 – Idade Contemporânea (1789 até os dias atuais) A Idade Contemporânea surgiu com a Revolução Francesa que marcou significativamente a História mundial. 1.5.1 – Século XVIII ao XIX No período Neo-Clássico o design adaptou-se ao estilo greco-romano. No século XIX inicia-se a fase das grandiosas jóias projetadas para corte do imperador Napoleão I, que serviram de padrão para toda a Europa, por exemplo: os conjuntos de jóias chamados parures (do francês: adorno pessoal), compostos de tiaras, brincos, gargantilhas ou colares e braceletes 24 fantasticamente adornados com gemas como: o diamante, a esmeralda, a safira, o rubi e a perola, cujo esplendor sobressaia mais do que o próprio design das peças. Neste século surgiram as alianças de casamento, usadas junto com o anel de noivado, após a cerimônia. Como também os broches apareceram mais associados a camafeus, agora não só feitos de marfim, mas também em pasta de porcelana ou vidro. Quase ao mesmo tempo, nasce o Romantismo que retornou o design das jóias da Antiguidade e dos tempos medievais. O gosto pelo luxo, encorajado por um período de prosperidade e baixos impostos foi expresso pelas jóias com diamantes, transformando o caráter da joalheria, que por várias décadas concentrou-se no brilho em detrimento da cor, do desenho e da expressão de idéias. As jóias eram em forma de relicários, broches de mosaicos e camafeus, cruzes, correntes de ouro com pequenos vidros de perfumes e pulseiras de ouro. Eram comuns o uso de vários braceletes com pedras preciosas e figuras gravadas. 1.5.2 – Século XX Joalheiros como Cartier e Boucheron, adotaram um novo estilo, inspirados no século XVIII, utilizaram a delicadeza e as flores estilizadas com a utilização da platina, uma reação as jóias cravejadas de diamantes. Por volta da mesma época, os joalheiros do Art Noveau, criaram furor na Exposição de Paris de 1900, apresentando inspiração em plantas e flores exóticas, em répteis e insetos e em figuras femininas. Utilizavam em suas jóias materiais como: marfim, osso e chifre de animais, cobre, vidro, casco de tartaruga, 25 madrepérola, prata e ouro. As gemas preferidas eram a pérola, a pedra da lua, a opala, a ametista, o jade, a água-marinha, o crisoberilo e o peridoto. Após a segunda guerra mundial a procura por jóias não acontece somente para o uso, mas também para investimento. A partir da segunda metade do século XX novas idéias, conceitos e materiais foram concebidos como os metais titânio e nióbio e diferentes tipos de plásticos e papéis, buscando novos caminhos de expressão. Contudo, este período favoreceu numerosas transformações na joalheria como as imitações de jóias com o uso de materiais menos nobres (plásticos, papéis), podendo ser de origem natural (semente, palhas, capins e madeira) e origem mineral (as pedras em aspectos brutos naturais), ocorrendo à democratização do uso dos ornamentos corpóreos; um exemplo disto foi a estilista Chanel que difundiu o uso de similares mais baratos em detrimento dos originais muito caros. Os designers ainda ousaram na criatividade das formas das jóias, além de variarem o local de uso sobre o corpo. 1.5.3 – Século XXI A joalheria, nos dias atuais está voltada para o design, que deve ser criativo, identificável e corresponder a uma clientela sempre crescente e ansiosa por inovações, independente de qual seja o material escolhido, mas o importante são as técnicas de fabricação, a expressão dos estilos, os conceitos inseridos, os desejos intrínsecos de beleza e status social, certamente, premiam a qualidade, a criatividade e o valor artístico da jóia. 26 2 – DEFINIÇÕES DE UMA JÓIA A palavra jóia deriva do francês antigo joiel que, por sua vez, proveio do latim jocalis, que significa "aquilo que causa prazer", e que, na origem, tem a ver com jocus, graça, divertimento, brincadeira. Portanto, trata-se de uma ornamentação com o intuito de celebrar, comemorar, enfeitar, valorizar, reluzir. Do modo de vista tradicional, as jóias são ornamentos produzidos com metais e pedras preciosas, alguns artistas criadores contemporâneos ainda utilizam materiais alternativos para a confecção desses objetos. A natureza pode nos oferecer cerca de 70 metais puros. Podemos também obter outros elementos que formam os compostos, ou melhor, quando dois ou mais metais são fundidos juntos temos uma liga, como exemplo: o bronze que é uma liga de estanho mais o cobre. Essa liga é produzida pelo homem com o intuito de dar mais resistência aos metais. Existem também os metais nobres, assim chamados porque não são atacados por ácidos ou sais, não se oxidam, são raros na natureza e permanecem sempre puros como exemplo: o ouro, a prata e a platina. Porém, tanto a prata quanto o ouro são muito maleáveis para o uso em peças de adorno, podendo ser facilmente danificados por riscos e deformações, por isso para se utilizar esses metais, é preparada uma liga, como o ouro que pode ser utilizado uma mistura de prata e cobre. O ouro é o metal preferido e básico dos ourives, pois agrada por seu brilho, beleza, raridade, possibilidades de aplicação, texturas e seu valor econômico. 27 As pedras preciosas denominavam todo o material cravado nas jóias, porém a mais de vinte anos essa nomenclatura deixou de ser usada e comercialmente falando tudo o que se crava em jóias são consideradas Gemas, variando apenas, o seu grupo familiar, podendo ser de origem mineral: com forma definida constituem a crosta terrestre; cristal: um corpo uniforme com uma estrutura geométrica; rochas: agregados minerais naturais como os granitos; orgânicas: constituídas de animais marinhos (corais), pérolas, âmbar, madeira petrificadas e fósseis e as pedras ou rochas é popularmente tudo de sólido que constitui a crosta terrestre. As gemas mais conhecidas são: a esmeralda, o rubi, a safira, a ágata, a perola, a ametista, o topázio, a turqueza, o diamante, entre outros. Assim como os metais e as gemas reinaram durante séculos por sua beleza, durabilidade, raridade e riqueza. Hoje, a criatividade e a sensibilidade fazem com que as jóias contemporâneas sejam feitas com materiais alternativos como: madeiras, ossos e chifres de animais, plásticos, papéis, vidros, meteorito, resina, sementes, couro, palha, aço, cerâmica, conchas, silicone, bolas de pingue-pongue e nylon. São diversos materiais que podem ser usados para a confecção das jóias, onde o importante é a harmonia e a forma que os materiais dialogam entre si com o intuído de enfatizar a beleza destes objetos ornamentais. Figura 10: Gargantilha em ouro com fragmento de meteorito e brilhante da Designer Miriam Mamber. Fonte: http://www.portaldasjoias.com.br/Junho_03/porta_joias/porta_joias. Acesso em: 28 de outubro de 2006. 28 Figura 11: Colar feito com bolas de pingue-pongue revestidas por fragmentos de papel reciclado, tinta acrílica e resina da Designer Ofra Grinfeder. Fonte: http://www.portaldasjoias.com.br/Junho_03/porta_joias/porta_joias. Acesso em: 28 de outubro de 2006. Atualmente, o conceito de jóia se propaga a todo objeto de adorno que possua uma simbologia se caracterizando por seus valores agregados que correspondem as dimensões tecnológicas e culturais, o qual são capazes de acoplar formas de distinção e valores psicológicos de cada indivíduo. Contudo, as jóias conseguem fixar um determinado período da vida humana, sendo elas oriundas de presentes, lembranças, crenças, status, entre outros. 2.1- A jóia vista como objeto de desejo. Uma jóia é reconhecida por ser um objeto de desejo e não algo de necessidade, já que Kotler (1999) define como sendo necessidade alguns serviços básicos para nossa sobrevivência, como a alimentação, o ar, a água, o vestuário e abrigo, além de segurança, sentimento de posse e auto estima. Contrapondo com os desejos que são preferências por versões e marcas específicas para atender as necessidades. 29 Contudo, é fundamental que o objeto apresente elementos significativos que possa atrair o desejo dos indivíduos e para isto o design é muito importante, já que é visto como um diferencial que deve ser desenvolvido pela sua capacidade de agregar valor aos produtos e assim criar uma distinção para o objeto. Para Gomes Filho (2000), a arte se funda no princípio da pregnância da forma, ou melhor, na formação de imagens, os fatores de equilíbrio, clareza e harmonia visual são indispensáveis tanto numa obra de arte, num produto industrial, numa escultura ou em qualquer outro tipo de manifestação visual. Desse modo, é fundamental o profissional que irá produzir uma jóia analisar esse conceito, se preocupando com a forma, já que todo objeto possui um formato que irá nos informar sobre a natureza da aparência externa do mesmo; a harmonia que refere à disposição formal bem organizada entre as partes de um todo, predominando fatores de equilíbrio, de ordem e de regularidade visual inscritos no objeto; contraste, textura, cor, luz e sombra. E ainda se preocupar em produzir jóias com intenção, com significado, fazendo com que estas sejam mais do que simples adornos, é necessário criar emoção. Enfim, desejamos as jóias por todos esses fatores, incluindo a sua beleza através de suas formas inovadoras, o equilíbrio dos materiais, valor e emoção através do seu brilho, da lapidação das gemas, conhecidos como um trabalho artístico de fundição e modelagem, podendo ser artesanal ou industrial. 30 3 – A RELAÇÃO ENTRE JÓIA E MODA Os ornamentos sempre estiveram presentes nas expressões da indumentária e de acordo com Braga (2006), alguns estudiosos chegam a afirmar que os ornamentos precedem a vestimenta. E ainda, trazem em si, alguns significados e, assim como as vestimentas, são uma forma de linguagem não-verbal. A moda não pertence a todas as épocas nem a todas as civilizações: essa concepção está na base das análises que se seguem. Contra uma pretensa universidade trans-histórica da moda, ela é colocada aqui como tendo um começo localizável na história. Contra a idéia de que a moda é um fenômeno consubstancial à vida humano-social, afirmamo-la como um processo excepcional, inseparável do nascimento e do desenvolvimento do mundo moderno ocidental. Durante dezenas de milênios, a vida coletiva se desenvolveu sem culto das fantasias e das novidades, sem a instabilidade e a temporalidade efêmera da moda, o que certamente não quer dizer sem mudança nem curiosidade ou gosto pelas realidades do exterior. Só a partir da Idade Média é possível reconhecer a ordem própria da moda, a moda como sistema, com suas metamorfoses incessantes, seus movimentos bruscos, suas extravagâncias. A renovação das formas se torna um valor mundano, a fantasia exibe seus artifícios e seus exageros na alta sociedade, a inconstância em matéria de formas e ornamentações já não é exceção mas regra permanente: a moda nasceu. (LIPOVETSKY, 1989, p. 23). De acordo com Lipovetsky (1989), a moda começa em 1350 quando se desenvolviam os comércios e bancos, imensas fortunas burguesas se constituíram, surgindo o grande burguês, de padrão de vida faustoso, que se veste como os nobres, que se cobre de jóias e de tecidos preciosos, que rivaliza em elegância com a nobreza. Desse modo, essa imitação ao traje nobre fez multiplicar as leis suntuárias, na Itália, na França e na Espanha tendo por objetivo impedir a exibição ostentatória dos signos do poder e impor uma distinção do vestuário que devia lembrar a cada um seu lugar e seu estado na ordem hierárquica. 31 Essa tentativa de igualação das aparências fez com que se introduzisse continuamente novidades, tomando exemplo dos contemporâneos e não mais no passado, a moda permitiu dissolver a ordem imutável da aparência, alterou o princípio da desigualdade de vestuário, vetor de individualização e tornou-se elemento principal do culto estético do Eu. Como dito, a roupa e as jóias são elementos que possuem grande importância para o desenvolvimento da moda. Assim, o uso de jóias sempre foi ditado e relacionado com estilos de roupas usadas em diferentes épocas, um exemplo disto ocorreu no século XIX com os vestidos impérios que promoviam o uso de pendentes para atrair a atenção para o colo da mulher valorizado pelos decotes baixos e cintura alta tão em voga na época. Outra relação entre jóia e moda está ligada ao prazer de ver e de ser visto, de exibir-se ao olhar do outro. A essa moral do prazer acrescentam as novas normas que exaltam a idealização da mulher, o bem falar, as boas maneiras, o gosto pela bela linguagem e pelos belos objetos. E ainda o culto ao amor instituiu as transformações nas relações de sedução entre o homem e a mulher, fazendo com que os homens devem agradar às mulheres pelas boas maneiras e deve do mesmo modo sofisticar a sua aparência, fazendo ampliar o gosto feminino pelos ornamentos e por tudo o que enfatize a sua beleza. Segundo Klein (2004), as mulheres também utilizam jóias com a intenção de seduzir, encantar e agradar aos outros com sua beleza, principalmente aos homens, mas também a outras mulheres. Ou ainda, ao usar jóia a mulher está sendo generosa com aqueles que a observam, um presente que dá aos admiradores da beleza realçada pelas jóias, através do brilho das gemas e metais preciosos. 32 Podemos afirmar que a moda foi fundamental para a valorização de objetos ornamentais como as jóias que enfatizam a beleza e a complementa. 3.1 – A jóia associada ao Luxo Um fato importante analisado por Faggiani (2006) é a dimensão que as jóias vêm ganhando atualmente, ao se libertarem de seus códigos clássicos e se transformam em calças jeans, cintos, sapatos, óculos é até celulares e skis. Alguns exemplos disto são: a firlandesa Nokia colocou no mercado o celular Vertu, uma jóia que custa US$19.450, o italiano Renzo Rosso, dono da Diesel que vende suas peças por volta dos R$800 e cria uma categoria jeans de luxo;outro é a marca franco-italiana Diamant jeans que associa a alta joalheria ao jeans,onde a sua linha “Prestige” propõe modelos únicos com um ou vários botões em ouro, platina e diamantes ou outras pedras preciosas, e que ainda, são removíveis e adaptam-se a um anel para outras ocasiões. Uma calça chega a custar de 200 a 20.000 euros variando de acordo com o número de botões que a fazem brilhar. E ainda, a marca de skis Lacroix que criou um modelo único em madeira rara, incrustado de diamantes, safiras, opalas e até rubis em tom de rosa. Desse modo, a joalheria vem fazendo sua própria evolução criando novas peças que compõe o visual e o que antes não era jóia hoje pode ser visto como tal. Todavia, segundo Roux (2006), afirma que a grande diferença da moda e de objetos de luxo como as jóias é a sua inscrição na longa duração do tempo. Para um melhor esclarecimento pegamos o argumento de Lipovetsky (2006), argumentando que devido à febre da renovação e da obsolescência acelerada dos produtos fazem surgir à necessidade de bens que escapem a 33 impermanência e a tudo que é descartável, ocorrendo assim o interesse de produzir produtos que não está sujeito a sair de moda e buscando desenvolver hoje o gosto pelas raízes e pela eternidade, fazendo com que haja a necessidade de subtrair-se ao efêmero e poder tocar um solo firme, em que o presente obtém um referencial duradouro. Portanto, o objeto de luxo almejando a sua eternidade deve criar cada vez mais surpresa, a admiração, garantia de prazer, de emoção, de encantamento, pois, afinal, o luxo consiste em não apoiar-se nas tendências, mas sim em criá-las. E ainda, a jóia é capaz de ser uma saída à efemeridade representada pela moda, já que é inconstante e as jóias buscam a eternidade. 34 4 – AS IMPORTÂNCIAS SIMBÓLICAS, FINANCEIRAS E SENTIMENTAIS DAS JÓIAS. O valor simbólico de uma jóia é um fator muito importante para a compreensão de que ela não seja algo supérfluo ou fútil. Porém, além desta importância, é imprescindível argumentar neste trabalho o fator financeiro dela, a qual a volúpia exercida pelo seu brilho funciona também como demarcação social. E ainda, ambos fatores podem relacionar o sentimento que temos por ela, já que sentimos desejos de adquiri-las, tanto por questões financeiras, simbólicas ou apenas pela sua beleza. 4.1 - Financeiro Temos como referência a atriz norte-americana Elizabeth Taylor que compreende tão bem, a glória das gemas, o poder que elas incorporam e a distinção que elas conferem. Elizabeth só deseja as maiores e mais prestigiosas pedras como: o diamante Cartier, a pérola La Peregrina (a mais famosa pérola negra do mundo), o broche iguana de Schlumberger, o penacho com diamantes do príncipe de Gales. Não se sabe ao certo quando sua paixão por jóias começou, mas costuma ser datada da ocasião pública de 1949, quando aos dezessete anos de idade, foi coroada princesa do Jubileu do Diamante, em uma comemoração do Conselho da Indústria de Jóias. Sua coroa era uma tiara de diamantes, valendo 22 mil dólares e desde então passou a apreciar as jóias e ser capaz de olhar para um colar de diamantes e distinguir as pedras boas com um olho de avaliador, além disso, mostra que sempre se fala de dinheiro ao mesmo tempo em que se fala de suas jóias. 35 Figura 12: Elizabeth Taylor usando coroa e colar de brilhantes. Na mão esquerda, um dos maiores diamantes do mundo, com trinta e três quilates. Sobre o colo, a famosa e discutida pérola “La Peregrina” (a autêntica pertence a família Real Espanhola). Fonte:site: http://groups.msn.com/3s7up12of9996gm8/fotos2.msnw?action=ShowPhoto&PhotoID=362. Acesso em 14 de agosto de 2006. Outra associação no que se refere ao valor financeiro das jóias é como bens usáveis em último recurso, ou melhor, quando até mesmo a moeda corrente não pode ser trocada, ouro e diamantes preservam seu valor e são universalmente aceitos. A jóia vem, também, mantendo a integridade do valor material do investimento, se transformando em herança, o que gera um sentimento de prazer por possuí-la e a vontade de continuar a tradição numa mesma família. Por exemplo, os anéis de noivado que são passados de geração para geração, característica que tem funcionado como o grande álibi de seu consumo. 36 Sem dúvida que, as jóias são consideradas signos de riqueza representando um modo de vida faustoso daqueles que as possuem. Contudo, relacioná-las com a frivolidade pode ser uma visão degradada deste símbolo. 4.2 – Simbólico Para Klein (2004) as jóias são uma forma de ornamentação que mais diz sobre o estilo de uma pessoa, assim como uma tatuagem, a qual adere tão estreitamente à pele, que seu significado é sempre intimamente pessoal. E ainda, afirma que, as jóias possuem o poder de realçar a beleza e intensificam ou aumentam a impressão da personalidade de quem às usa, através da luz e brilho que elas emitem, por isso seus materiais sempre foram os metais e pedras preciosos brilhantes. Desse modo, várias simbologias estão ligadas as jóias como exemplo, o poder de sedução que o objeto representa. “Saber como ouvir as jóias falarem é uma arma formidável no arsenal da sedução, indispensável para ajustar estratégias e planejarem táticas”.(KLEIN, 2004, p. 72). Desse modo, uma gargantilha possui valor erótico atraindo o olhar para uma das partes mais sensuais da mulher, o colo. Que também pode simbolizar uma coleira e ao usála sugeriria submissão sexual. Mulheres que trazem um coração ou uma flor num cordão preso ao pescoço já estão anunciando que estão prontas para o amor. Pulseira de ouro maciço com grandes pedras quadradas incrustadas podem ser um sinal de intolerância racial e o uso de correntes nos tornozelos só seriam permitidas a odaliscas e prostitutas. Além disso, o fato das jóias representarem algo abstrato ou ausente através de um objeto tornam-as capaz de fixar, representar e simbolizar o sentimento de um momento através do tempo, por exemplo: as alianças de compromissos, os crucifixos, coroas, entre outros. 37 4.2.1 – Alianças de compromissos De acordo com Klein (2004), as alianças simbolizam a paz, união, comprometimento e seriedade entre duas pessoas. Sendo o único tipo de jóias feito sob medida, porque elas envolvem os dedos, vestindo-os. Sempre foram a menos frívola e a mais figurativa forma de jóia, a que é dada e recebida com a maior gravidade – a de um sentimento, fixando um compromisso entre duas pessoas. A mão é a parte que trava mais contato com os outros, assim como apertar as mãos é o modo mais antigo de confirmar um acordo; mão na mão pode ser a primeira forma de “ligação”. As figuras seguintes nos mostram que mesmo com as novas formas e o acesso a novas tecnologias, os anéis mantiveram íntegras as funções simbólicas de objetos que representam a união. Figura 13: a aliança data do século XVI. A peça, em ouro amarelo encontra-se no Museu das Artes Decorativas em Paris. Neste exemplo, a união é simbolizada pelo enlace de duas mãos no centro do aro e utilizou-se dos recursos das formas figurativas para literalmente representar o tema do compromisso. Fonte: LAMBERT, 1998, 65 p. 38 Figura 14: o par de alianças, em ouro branco e amarelo, é de autoria de Thomas Giesen. Cada um dos dois aros é o resultado da rotação realizada no próprio perfil do rosto de seu usuário. Este exemplo consegue realizar todo o desejo de subjetivação que o homem contemporâneo tem vivenciado. Aliando a este sentimento os penúltimos avanços tecnológicos. Esta criação satisfaz a vontade contemporânea, cada vez maior, de singularidade e, no entanto, não se distancia do significado que tem fundamentado tradicionalmente a criação das alianças. Fonte: Decide Magazine, 2002, 60 p. 4.2.2 – Coroas Para Gheerbrant (1999) as coroas são "um ornamento circular que cinge a cabeça", porém ela representa muito mais que isso, simbolizando não apenas o poder material, mas também simboliza uma dignidade, uma realeza, o acesso a um nível elevado e a forças superiores. Esse tão especial adorno de cabeça faz com que aquele que a usa pareça mais alto, grandioso, legitimando sua ligação a um mundo superior. Sua forma circular indica a perfeição e a participação da natureza celeste e é também relacionado ao Infinito. As pontas que aparecem em muitas peças lembram os raios do sol, o grande astro rei. Ressaltam ainda mais a ligação do soberano ao mundo patriarcal solar. Não é mero acaso a confecção da coroa em ouro amarelo, pois esse é o metal do sol. O uso das pedras preciosas eleva 39 ainda mais a qualidade do objeto, pois além de valorizarem a coroa, elas também expressam significados místicos, ou seja, buscam atrair determinadas qualidades para aquele que vai dirigir a nação. Têm a função de trazer sorte, coragem, equilíbrio, sabedoria, força, adjetivos indispensáveis ao bom líder. Desde antigas culturas até os dias atuais as coroas estiveram presentes como o ícone máximo da realeza. Assim, cada indivíduo da hierarquia teve sua própria coroa: barão, conde, visconde, marquês, duque, príncipe e rei, cada qual com suas características e diferentes umas das outras. Figura 15: Tipos de Coroas. Fonte: Enciclopédia Delta Universal, 1972, 2329/30 p. Atualmente muitas nações deixaram de usar a Coroa como representação de poder e supremacia, outras a utilizam em ocasiões muito especiais. Como o caso da rainha da Inglaterra Elizabeth II que usa suas coroas em algumas solenidades oficiais. 40 Figura 16 A rainha da Inglaterra Elizabeth II usando uma coroa de 1.333 diamantes feita para o rei George IV, em 1821, e ainda usada pela rainha nas solenidades anuais de abertura do Parlamento. Fonte:site: http://www.terra.com.br/istoedinheiro/262/estilo/262_tesouros_rainha.htm. Acesso em 15 de agosto de 2006. . Usada por longo tempo pela realeza a Coroa tem sido reestudada e empregada atualmente, como exemplo: a Noiva que também aprecia o Diadema (uma coroa "simplificada"), sendo de certa forma preservada ao incorporar-se a um outro usuário. Ela quer chegar ao altar portando um belo exemplar que adorne sua cabeça e torne ainda mais especial esse acontecimento importante na vida da mulher. Os místicos acreditam que as coroas representam uma passagem para uma nova vida, uma nova etapa. As coroas também são utilizadas por misses representando a soberania da beleza feminina e pode ainda ser incorporada nos trajes de pop stars contemporâneas como Madonna, simbolizando um nível superior que esta cantora alcançou no mundo da música sendo hoje considerada a rainha do pop. 41 Figura 17: Miss Porto Rico ganha Miss Universo 2006. Fonte:site: http://www.estadao.com.br/arteelazer/variedades/noticias/2006/jul/24/4.htm. Acesso em 15 de agosto de 2006. Figura 18: A rainha do pop Madonna usando uma Coroa. Fonte: Tiara Past and Present, 2002, 113 p. Portanto, cada cultura tem seus próprios valores e crenças no que diz respeito à concepção de uma Coroa que se mostra, cada vez mais, ligado às altas esferas, sejam elas de que plano forem. 42 4.2.3 – A cruz e o Crucifixo Segundo Tresidder (2000), a cruz é um dos símbolos mais difundidos e mais antigos tanto na religião quanto na arte e constitui o mais rico e resistente dos símbolos geométricos, assim os quatro braços da cruz se relacionam com os quatro pontos cardeais: Norte, Sul, Leste e Oeste. A cruz tem, logo de início, um significado cósmico: ao indicar os quatro pontos cardeais simbolizando a totalidade do cosmo e a sua correspondência quaternária ilustra a repartição dos quatro elementos: ar, terra, fogo e água. Ela também assumiu muitas formas ao longo da história, como exemplo: na China uma cruz representava a terra e a estabilidade já na Índia representava a energia divina. O crucifixo é a representação de um homem com os braços abertos pregados numa cruz e que não nos é apresentado antes do século VII. As primeiras representações da morte de Jesus na cruz vêm do Oriente (ano de 586) retratando uma das primeiras imagens de Jesus crucificado entre dois ladrões. Foi neste século que terminou o período de transição do simbolismo da cruz para o do crucifixo. Os pontífices determinaram que o crucifixo fosse colocado nos oratórios, pintado nas paredes e depois invadiu os templos, sendo colocado em lugar de honra. Deste modo, a cruz passou de imagem simbólico a representação de uma história, ocorrendo à consagração do crucifixo. E que mesmo ao longo do tempo a cruz possuiu diversos atributos, porém um dos mais conhecidos é tanto um emblema da fé cristã quanto um símbolo da proteção. 43 Figura 19: Crucifixo tradicional Fonte: http://www.jesussite.com.br/acervo.asp?id=158. Acesso em 23 de outubro de 2006. Figura 20: O designer fez uma releitura do modelo clássico, não sendo necessária a figura de Jesus Cristo que foi substituído por brilhantes. Neste caso a cruz é considerada a partir de duas linhas perpendiculares, acrescentando movimento e valores diferentes. Fonte; http://www.portaldasjoias.com.br/Agosto_03/porta_joias/porta_joias.htm. Acesso em 17 de outubro de 2006. Portanto, essas duas figuras nos mostram que mesmo com a diferença de design a qual a primeira é a cruz tradicional e a outra uma releitura, ambas permaneceram com a mesma simbologia ao longo do tempo. Confirmando, assim a importância das jóias como sendo opostos ao efêmero, mostrando que o tempo não excluiu certos objetos. 44 4.3 – Sentimental O termo sentimento é uma palavra muito comum na sociedade humana e incorpora diversos conceitos, diversas caracterizações, ou diversos modos de se apresentar, pois algumas vezes indica algo bom, e prazeroso. Em muitos outros momentos aparece como algo ruim (tristeza, raiva, rancor). Nesse ponto, as jóias também estão relacionadas como sendo capaz de obter um sentimento bom ou ruim, como exemplo: quando temos um anel de formatura, isto denota um sentimento bom de uma etapa de nossa vida concretizada, já o sentimento ruim pode ser visto quando guardamos um objeto que representa a morte de uma pessoa querida como exemplo um broche que guarda uma madeixa de cabelo, porém ambas possuem um sentimento de grande afeto. Figura 21: Anel de formatura em ouro 18 K com diamantes e pedra natural. Fonte: http://www.lorenzojoias.com.br. Acesso em 29 de outubro de 2006. 45 Figura 22: Broche em formato oval podendo ser visto pelos dois lados, guarda uma madeixa de cabelo símbolo da pessoa ausente. Fonte: MITFORD, 2001, 86 p. Desse modo, notamos que um objeto pode tanto simbolizar um momento como também possuir um sentimento, porém é necessário compreender a diferença entre quem usa a jóia e de quem a observa. Pegamos como exemplo as alianças de compromisso (4.2.1) a qual simboliza a união de um casal, visto de quem observa a aliança este objeto não possui sentimento algum, já para quem usa deveria representar o amor que o casal possui. Um outro fator importante associado as jóias é que para Lipovetsky (2006) argumenta que nos dias atuais em que tudo muda e se transforma muito fácil é necessário que os objetos de luxo atendem aos desejos dos indivíduos por uma relação emocional com as jóias. Para que assim, estabeleça uma relação afetiva que dá origem a um prazer tão intenso que parece durar para sempre. Portanto, esses três fatores (financeiro, simbólico e sentimental) são fundamentais para a compreensão de que as jóias não são algo frívolo, e 46 ainda, são capazes de fixar um momento através do tempo fazendo com que as jóias possam ser consideradas como uma saída à efemeridade. 47 CONCLUSÃO Nota-se, um certo esquecimento ou falta de percepção desses objetos ornamentais que convivem diariamente com o nosso dia-a-dia, a qual, infelizmente está relacionada com a frivolidade. Porém, observa-se no decorrer deste trabalho que as jóias não são fúteis já que passam por vários processos significativos, que abrange desde a pré-história, onde este adorno pessoal era usado como amuleto até nos dias atuais em que mesmo não havendo mais um ritual para seu uso, as jóias ainda são utilizadas por questões simbólicos, financeiros e sentimentais. Deste modo, podemos destacar que este objeto de luxo é capaz de ser uma saída ao efêmero, pois busca o gosto pela eternidade neste mundo em que predominam a obsolência acelerada dos produtos. E ainda, as jóias são atraentes para sempre, e atraentes em virtude dos enigmas que elas discretamente divulgam, sugerindo, sussurrando ou insinuando, por este motivo é necessário compreender o seu valor para obter uma opinião sobre esta arte aplicada. Por fim, esperamos que os argumentos utilizados neste trabalho possam promover umas visões positivas das jóias, fazendo com que alcancemos os nossos objetivos. 48 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRAGA, João. Reflexões sobre moda. São Paulo: Editora Anhembi Morumbi, 2006. CALDAS, Dário. Observatório de Sinais: teoria e prática da pesquisa de tendências. 1. ed. Rio de Janeiro: Senac Rio, 2004. 221 p. COLI, JORGE. O que é arte. 8. ed. São Paulo: Brasiliense, 2003. 131 p ELIADE, Mircea. Imagens e símbolos: Ensaio sobre o simbolismo mágicoreligioso. 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