Pólo de Gemas e Jóias do Estado de Goiás INTRODUÇÃO O Estado de Goiás é, reconhecidamente, um grande produtor de gemas. Notadamente, de ametista, berilo, citrino, esmeralda,granada, topázio, quartzo e turmalina, com reservas espalhadas em diversas regiões. Levantamento, realizado pelo SEBRAE/GO, AGETUR e Universidade do Estado de Goiás, identificou a existência de 8.000 artesãos que fabricam diversos produtos, entre eles, jóias em prata. Eles atuam em 15 cidades, com destaque para Goiânia (cerca de 1500), Pirenópolis (800), Góiás Velho (800) e Olhos D’Água (100), o que demonstra a importância desse segmento na geração de emprego e renda. Cabe registrar que o Estado de Goiás dispõe de recursos do Fundo Mineral (FUMINERAL), o que tem permitido financiar, tanto a aquisição de matéria-prima (até R$ 5 mil) quanto de máquinas e equipamentos (até R$ 10 mil) para micro e pequenos empresários. Atualmente, Goiânia constitui-se em grande centro produtor e consumidor de jóias de ouro, prata e folheados. Possui umarua – José Hermano, Bairro Campinas – onde se localizam inúmeras lojas dedicadas à comercialização desses produtos. O município de Caldas Novas, dada a intensa atividade turística, também representa importante centro consumidor, embora os artesãos tenham, gradativamente, abandonado seus equipamentos em favor da aquisição dos produtos já elaborados.,Passaram a utilizar, basicamente, matéria-prima originária do Rio Grande do Sul (ágata e ametista). Não há, assim, a caracterização do produto regional, sendo o mesmo, encontrado em diversas outras regiões turísticas brasileiras. Em Cristalina, a atividade passa por um período de recuperação, a partir do apoio financeiro concedido pelo Fundo Mineral do Estado, cujos financiamentos têm prazo de 48 meses, com seis meses de carência e juros de 6% ao ano. Os mais de 120 empresários e artesãos da região – metade deles está associada à Associação dos Produtores de Pedra de Cristalina (ASPEC) – estão direcionando suas linhas para produtos utilitários, como artefatos minerais, tabuleiros de xadrez, bandejas, etc. Ressalte-se que, além dos importadores tradicionais, os chineses têm adquirido grandes quantidades de quartzo em lasca, na região de Cristalina, para fabricação de quartzo sintético e fundido. No Município de Campos Verdes, tradicional produtor de esmeraldas, o FUMINERAL tem também financiado inúmeras pequenas empresas de mineração, lapidação e artefato mineral para aquisição de máquinas e equipamentos, com grande aceitação. No mês de novembro é realizada a Feira Internacional de Esmeraldas, que conta com o apoio da prefeitura, do SEBRAE/ GO, do DNPM/MME e do governo do Estado. ASSOCIAÇÕES E ENTIDADES DE CLASSE Existem, no Estado, diversas entidades de classe como a Associação dos Joalheiros e Artesões de Pirenópolis (AJAP), o Núcleo Goiano de Joalheiros, criado no âmbito do CDL, a Cooperativa de Campos Verdes (Coop-Camp) e a Associação dos Pedristas de Cristalina (ASPEC), entre outras. No entanto, as citadas entidades atuam em distintas regiões e em segmentos específicos da cadeia produtiva, não ocorrendo maior integração entre elas. Tal situação caracteriza uma realidade fragmentada da estrutura produtiva do Setor, com frágil atividade associativista e esparsa busca de apoios oficiais dos órgãos de fomento. INFRA-ESTRUTURA DE APOIO Há cerca de 30 anos, o Estado possui um Centro de Gemologia vinculado à antiga Companhia de Mineração do Estado de Goiás (METAGO), localizado na cidade de Anápolis. Tal Centro representou, durante muitos anos, a melhor estrutura operacional do Centro-Oeste para apoio ao desenvolvimento do segmento de Gemas, incluindo lapidação e artefato/artesanato mineral, tanto pela acumulação de conhecimentos quanto pela infra-estrutura disponível. Na década de 90, o Centro desenvolveu importante trabalho de capacitação de mão-de-obra no segmento, em diversas cidades, como Pirenópolis, Caldas Novas, Santa Terezinha de Goiás, Cristalina e Goiânia. Lamentavelmente, as informações dão conta de que o Centro sofreu processo de desestruturação e desaparelhamento, encontrando-se semi-paralisado. No entanto, o governo de Goiás pretende revitalizar o Centro, via concessão ou terceirização. Outra importante instituição que atua no Estado é a CPRM, responsável pelo serviço geológico no Brasil. A CPRM tem desenvolvido importantes trabalhos para identificar o potencial produtivo de pedras preciosas em Goiás, destacando-se o Catálogo de Gemas de Goiás em 1998, e o Mapa de Ocorrências de Gemas do Estado de Goiás, este, elaborado em parceria com a Secretaria de Minas e Energia do Estado. Mais recentemente tem desenvolvido estudos aerogeofísico de jazidas, mediante convênio com o MME, nas regiões de Pirenópolis, Cristalina e Campos Verdes. Nesta última, o estudo já foi realizado. Há algum tempo, o SEBRAE/GO, juntamente com a METAGO, executou uma pesquisa sobre pedras preciosas existentes no Estado para levantar elementos, com vista à formulação de um programa de desenvolvimento do Setor de Gemas, Jóias e Folheados, visto que, embora revele um grande potencial mineral, não tem sabido traduzi-lo em agregação de valor e melhoria da produção. Atualmente, o SEBRAE/GO não implementa programa específico para o Setor de Gemas e Jóias, embora venha executando ações direcionadas para o turismo e o artesanato englobando os artesãos de jóias. Segundo o pesquisador Eduardo Nunes Guimarães, um aspecto relevante que se constitui em vantagem comparativa para o Estado de Goiás, é o de “suas gemas poderem ser exploradas em áreas não aparelhadas infra-estruturalmente, requerendo baixa logística de transporte, embalagem e padronização, o que favorece a obtenção de respostas mais rápidas a programas setoriais específicos” (Competitividade do Setor: Pedras Preciosas: Diamantes e Gemas de Cor, do Centro Oeste e Estado do Tocantins, SEBRAE/SACE, 1999). Dada a potencialidade existente no Estado, no momento está sendo instalada em Goiânia uma escola de lapidação e dedesign de jóias de nível superior, que deverá começar a operar no segundo semestre do corrente ano, buscando oferecer inovações, que possam atender aos requisitos técnicos e tecnológicos inexistentes em outros Estados. PRINCIPAIS GARGALOS Um grande problema que tem se apresentado para o desenvolvimento do segmento de extração mineral é a questão do meio ambiente e, em particular, as exigências burocráticas requeridas. A desativação do Centro Gemológico de Anápolis representa também a perda de um importante referencial com tradição e qualidade de bons serviços prestados ao Setor, embora exista a perspectiva de sua reativação pelo governo do Estado. Outro aspecto restritivo é o fato de as empresas operarem sem dispor de maiores informações sobre os mercados em que atuam. Levantamento patrocinado pelo SEBRAE registra que 33% das vendas se destinam ao comércio varejista, 32%, diretamente para o consumidor final e 18% ao comércio atacadista (Competitividade do Setor de Pedras Preciosas do Centro Oeste e Tocantins). As entrevistas realizadas pelo IBGM permitiram constatar que o segmento joalheiro de Goiás – poucas indústrias e muitos ourives/artesões, ressente-se de capital de giro, da escassez de mão-de-obra qualificada e mesmo da concorrência desleal com o mercado informal. Relativamente ao processo produtivo, assinalam que noções básicas de gemologia, fundição, design, modelagem, cravação e acabamento são problemas de grande relevância. Outro ponto fraco a ser superado é a fragilidade das entidades representativas dos diversos segmentos que compõem a Cadeia Produtiva, cujo fortalecimento é condição essencial para o bom desenvolvimento dos trabalhos de planejamento e implementação de ações, visando à organização de um Pólo de Gemas e Jóias em Goiás. PERSPECTIVAS Conforme visto, o Setor de Gemas, Jóias e Folheados do Estado de Goiás, a par de apresentar baixa quali.cação da mãode-obra, desatualização dos equipamentos e reduzida atuação coletiva; dada a potencialidade das suas reservas minerais, a existência de um bom número de empresas/artesões e o interesse do governo e de outros órgãos de fomento, reúne précondições, que o habilitam a estruturar um pólo, inclusive em associação às atividades turísticas. Relativamente a essa associação, há que se ter presente que o Estado possui produtos turísticos extremamente interessantes (místico, eco-turismo, aventura, rural, estâncias minerais e cultural), além de festas tradicionais, como a Procissão do Fogaréu, Congadas, Folia de Reis e a Festa do Divino, entre outras. Entrevistas realizadas com algumas lideranças evidenciaram que um trabalho de valorização da habilidade individualdos artesãos, associado ao aproveitamento de matérias-primas locais e regionais, valorizando a técnica, criatividade e a melhoria do design das peças encontraria grande receptividade. No entanto, há necessidade de se realizar entre outros, um trabalho consistente de melhorias de processos produtivos e incorporação de design, que permita diferenciar o produto e associá-lo a uma localidade ou aspecto regional, além de promoção comercial, para dar-lhes a necessária visibilidade. Na formulação de políticas públicas de apoio à cadeia produtiva de gemas e jóias, com vista à agregação de valor aos produtos e ao aumento de sua competitividade, há que se ter presente a predominância do segmento de extração numa ponta, e o varejo na outra, sem a indispensável articulação dos demais segmentos, capazes de gerar sinergias entre eles.