RELATÓRIO PARCIAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA CNPq ANÁLISE DOS FATORES ESTILÍSTICOS ENVOLVIDOS NA PRODUÇÃO DA FALA DE UM RAPPER EM DIFERENTES SITUAÇÕES COMUNICATIVAS Bolsista: Rafaela Defendi Mariano RA: 082587 Orientador: Profa. Dra. Anna Christina Bentes da Silva Área: Sociolingüística Local de Execução: Universidade Estadual de Campinas Vigência: 01 de agosto de 2009 a 31 de julho de 2010 1. RESUMO DO PLANO INICIAL O projeto de pesquisa em desenvolvimento tem por objetivo analisar como fatores tais como a mudança de tópico discursivo e o desejo de identificar-se com o grupo ao qual pertence ou a um terceiro grupo, reforçando o lugar identitário a partir do qual o discurso é produzido (design de referência), encontram-se intrinsecamente relacionados com a mudança estilística, e como esta última, por sua vez, encontra-se condicionada tanto pelo contexto mais amplo como pelo cenário micro-conversacional (design de audiência). Para tanto, teremos como corpora a fala de um rapper (Mano Brown, líder do grupo Racionais MCs) em diferentes contextos situacionais: fala pública (discurso em um evento cultural), depoimento a uma jornalista no interior do seu carro e conversa informal entre conhecidos a respeito do rap. Esses três eventos fazem parte do conteúdo “Extra” do CD 100% Favela, assim intitulado porque foi inteiramente produzido na e pela periferia de São Paulo. O pressuposto é de que haverá marcas de variação estilística de acordo com a audiência e a proposta é analisar como há variação de tópico a partir desse fator (design de audiência) e do fato dos sujeitos quererem reforçar suas identidades sociais (design de referência). As análises serão desenvolvidas com base nas teorias de autores como Labov (2001), Bell (2001) e Finnegan e Biber (2001) sobre a questão do estilo e da variação estilística. Nossa pesquisa privilegiará o modelo desenvolvido por Bell (2001), que postula como fatores determinantes para a variação estilística o design de audiência e de referência. Em relação ao conceito de tópico, basearemos nossa pesquisa na teoria de Jubran (2006), proposta a partir da observação dos turnos de fala em textos conversacionais As atividades propostas para o segundo semestre de 2009 foram: a) maior levantamento bibliográfico; b) transcrição de dados; c) início das análises e d) produção do presente relatório. 2. RESUMO DAS SEMESTRE DE 2008 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NO SEGUNDO 2.1 Pressupostos teóricos Sustentaram os estudos sobre estilo na sociolingüística variacionista nas décadas de 80 e 90 as teorias do design de audiência e da acomodação. Coupland (2007) busca superá-las, apontando as limitações dessas teorias que, segundo ele, ao imporem uma prioridade em favor de falantes ou ouvintes como alvos ou beneficiários, tornam-se restritivas. Diz ainda que a chave da teoria do design de audiência escolhida por Bell “implica claramente em ação motivada e estratégica” (COUPLAND, 2007, p. 78), ou seja, a ação do falante é em resposta à audiência que representa uma ação mais passiva, apesar de Bell negar e falar em “estilo responsivo”. Bell contra-argumentaria essas críticas de Coupland com respostas que estão em seu próprio texto de 2001. Primeiramente, Bell (2001) afirma que a audiência não é o único fator responsável pela mudança estilística. Nos dados que ele possuía, esse fator se tornou único pelo fato dos outros fatores não variarem. Quando Bell (1984 apud BELL, 2001) analisou as falas de leitores de notícias de duas rádios neozelandesas, ele percebeu que havia variação estilística: “os leitores de notícia mudaram, em média, 20 por cento em cada acontecimento lingüístico entre as estações YA e ZB”, porém, os leitores eram os mesmos, a instituição era a mesma, a combinação dos tópicos das notícias eram muito similares (em alguns casos era lido o mesmo script), os estúdios de transmissão e gravação eram idênticos e segundo Bell (2001) “não há razão para supor que a quantidade de atenção dada à fala estivesse variando sistematicamente”. Somente a mudança da audiência podia ser tida como fator da mudança estilística no caso analisado, pois era o único fator variável entre as rádios: “a estação YA era a Rádio Nacional Neozelandesa, que tinha um público de status mais elevado em relação à estação comunitária local ZB” (BELL, 2001). Assim como Bell, nos corpora que tínhamos antes de desenvolver o projeto, observamos num projeto-piloto que havia mudanças de tópicos e mudanças de marcadores textuais de mudança ou permanência de tópico entre as três situações da fala do Mano Brown. A partir de Bell (2001), pudemos concluir que essas mudanças estavam relacionadas com a mudança da audiência (design de audiência) e também ao desejo de identificação com um terceiro grupo (design de referência1), visto que os três eventos de fala possuem diferentes audiências: o discurso tem como audiência os moradores da favela, já que ele é feito durante o prêmio Cooperifa2 realizado em uma comunidade na zona sul de São Paulo; o depoimento à jornalista é informalmente realizado dentro do seu carro durante o trajeto entre a premiação e a casa na zona sul de São Paulo onde vai ocorrer a conversa informal entre conhecidos e por último, temos a conversa informal sobre rap numa casa da zona sul de São Paulo em que estão presentes Mano Brown, Ferréz, Negredo, Mc Yisão e outros que não foram identificados, mas que parecem pertencer a grupos de rap. Quanto à passividade de que fala Coupland (2007), Bell (2001) diz ser o design de audiência parte de uma teoria dialógica da linguagem: A responsividade à audiência é uma regra ativa dos falantes. De novo, podemos comparar com a natureza essencialmente dialógica da linguagem de Bakhtin (1981:280): “O Discurso... é orientado em direção a um entendimento que exige ‘resposta’ ...Compreensão responsiva é uma força fundamental... e é além do mais uma compreensão ativa.”(...) Para alguns, falar é responder e ser respondido por alguém: “Um marcador de fala essencial (constitutivo) é sua qualidade de ser direcionada a alguém, seu endereçamento” (Bakhtin 1986:95).Considero o design de audiência, então, como parte de uma teoria dialógica da linguagem. Isto é, ouvintes bem como falantes são essenciais 1 Ou o que Coupland (2001) chama de manejo de personas. A Cooperativa Cultural da Periferia (COOPERIFA), fundada pelo poeta Sérgio Vaz, produz uma série de ações culturais na periferia de São Paulo. Sua principal ação é a de promover, todas as quartas-feiras, o Sarau da Cooperifa, encontro que tem por objetivo apresentar e discutir a produção poética da periferia e de fora dela. O evento que acontece desde 2001 já resultou em livro, 'Rastilho de Pólvora- Antologia Poética do Sarau da Cooperifa'. 2 e constitutivos de uma natureza da linguagem não só pela forma como é feita sua produção. Além disso, com a proposta do design de referência, Bell (2001) não separa aquilo que Coupland (2007) diz ser impossível separar: a questão das relações sociais e a questão da identidade. Ao definir o design de referência como uma mudança estilística feita pelo falante com o intuito de identificar-se mais fortemente com o próprio grupo ou com um terceiro grupo, Bell (2001) coloca a questão da identidade também em relação à audiência (e conseqüentemente em relação às questões sociais), pois essa mudança “é essencialmente uma redefinição feita pelo falante da sua própria identidade em relação a sua audiência”. Então, não como uma dicotomia, design de audiência e design de referência funcionam como um continuum em que: “Sim, nós estamos projetando nossa conversa para a nossa audiência. Mas estamos também simultaneamente modelando-a em relação a outros grupos de referência incluindo nosso próprio grupo.” (BELL, 2001). Para eliminar essa dicotomia, Bell (2001) teve de propor uma metodologia que não privilegiasse a análise quantitativa (para encontrar padrões a serem explicados pelo design de audiência), deixando as exceções para ser explicadas pelo design de referência (análise mais de cunho qualitativo). Essa metodologia consiste em análises quantitativas e qualitativas complementares. No seu estudo cujos corpora consistiam em entrevistas que mesclavam etnias (os Maori: indígenas polinésios que habitam a Nova Zelândia e os Pakeha: neozelandeses de origem européia) e gênero (homem, mulher), além da análise de dados quantitativos (quantas palavras são pronunciadas como em inglês e quantas como na língua Maori pelos informantes), Bell (2001) analisou “a pronúncia de símbolos individuais (ocorrências individuais), junto ao comentário voluntário que três dos quatro oradores ofereceram sobre o exercício, seu próprio desempenho, e as implicações sócio-culturais disto”. No nosso caso, como não estamos analisando entrevistas por nós formuladas, mas eventos já “prontos”, a nossa análise qualitativa consistirá na observação dos recursos multisemióticos mobilizados pelos falantes e na descrição dos tópicos de cada situação de fala do rapper. Essa descrição contará ainda com um gráfico com a organização tópica de natureza hierárquica, procurando estabelecer o supertópico, os quadros tópicos co-constituintes e os seus subtópicos nos moldes propostos por Bentes e Rio (2006). Também, procurarei empreender um quadro linear dos tópicos de acordo com o seu aparecimento. Esse quadro possibilitará ver mais facilmente onde há mudança e assim verificar como esta ocorre: com presença de marcadores textuais ou não. Em relação à questão sobre estilo, cabe apontar que Coupland (2001, 2007) e Bell (2001) convergem a respeito de que a produção do estilo é uma realização situacional cujo intuito é obter propósitos comunicativos em relação a determinadas situações sociais. Bell (2001) ao postular que um estilo particular está normalmente associado a m grupo ou situação particular, traz a discussão de Irvine (2001 apud BENTES, 2006) sobre a relação entre estilo, registro e dialeto. Irvine estudou o caso da variação estilística em javanês e concluiu que havia um sistema estilístico de distinção que motiva algumas das características dos estilos javaneses de fala e oferece muitos graus e diferenciação de um estilo para o outro. A distinção, portanto, entre dialeto e registro fica mais complexa quando se analisa o repertório de uma comunidade de fala particular, visto que há exploração criativa de “vozes” associadas a grupos sociais. É esta exploração criativa de “vozes” que explica a chave do estilo tanto para Bell (2001) como para Irvine (2001 apud BENTES, 2006). Ainda em relação aos grupos sociais, pessoas típicas desses grupos são organizadas num sistema cultural-ideológico de forma que suas imagens ficam disponíveis como um “quadro de referência”. Então, os indivíduos manipulam essas vozes de forma a se aproximar ou não delas de acordo com a situação e a audiência. O conceito de registro antes definido de acordo com a situação e não em elação às pessoas e grupos, define-se a gora pelas imagens culturais das pessoas juntamente com as situações. Com o conceito de dialetos sociais também pode ser pensado de acordo com os indivíduos e cenas. Por isso, podemos dizer a relação intrínseca entre registro e dialeto. Os estudos sobre registros sempre enfocaram variedades e padrões relativamente estáveis e institucionalizados, padrões estes que inclusive eram explicitamente nomeados no interior de suas comunidades de uso, conectados com determinadas situações institucionalizadas, ocupações, etc. (por exemplo, a fala de locutores esportivos). O estilo inclui isso, mas também inclui as formas mais subliminares por meio das quais os indivíduos “navegam” entre as variedades disponíveis e tentam encenar uma representação coerente de si mesmos (...). Talvez haja uma outra diferença: enquanto dialetos e registros, pelo menos como a sociolingüística os define, apontam para o fenômeno lingüístico apenas, o estilo envolve princípios de distinção que podem se estender para além do sistema lingüístico, para outros aspectos do comportamento que estão semioticamente organizados (IRVINE, 2001 apud BENTES, 2006). Em relação às questões sociais envolvidas nos estudos lingüísticos, cabe refletirmos sobre aquilo que Goffman (apud RIBEIRO E GARCEZ, 2002) diz ser “a situação negligenciada”. E a observação de Goffman sobre os problemas dos estudos sociolingüísticos cabe à nossa pesquisa que visa analisar interações face a face. Goffman diz haver um espaço de negligência nesses estudos pelo fato de não haver a situação social como cenário da pesquisa. Ele não trata aqui da falta de estudos correlacionais entre variáveis lingüísticas e variáveis sociais que parecem estar tendo um espaço privilegiado nos estudos sociolingüísticos, mas sim da falta da análise da situação social envolvida nas comunicações face a face. Essa falta torna-se negligência a partir do momento que passamos a levar em conta os múltiplos recursos semióticos como “um complexo ato humano” envolvido também no falar, visto que “a forma do gesto pode ser intimamente determinada pela órbita microecológica na qual o falante se encontra” (GOFFMAN apud RIBEIRO E GARCEZ, 2002, p. 14). Isso significa que para se avaliar e interpretar a altura do som de uma afirmação deve-se saber coisas tais como: distância dos falantes, situação auditiva dos falantes, etc., ou seja, “devemos apresentar o ambiente de forma mais sistemática”. Como ele afirma: (...) um estudioso interessado nas propriedades da fala pode se ver obrigado a olhar para o cenário físico no qual o falante executa seus gestos simplesmente porque não se pode descrever completamente um gesto sem fazer referência ao ambiente extracorpóreo no qual ele ocorre. E alguém interessado nos correlatos lingüísticos da estrutura social pode acabar descobrindo que precisa se voltar para a ocasião social toa vez que um indivíduo possuidor de certos atributos sociais se fizer presente diante de outros. Ambos os estudiosos precisam, portanto, olhar para o que chamamos vagamente de situação social. E é isso que tem sido negligenciado. (GOFFMAN apud RIBEIRO E GARCEZ, 2002, p. 16) Não significa também extrair uma tipologia de situações sociais a partir de meras deduções estatísticas e dicotômicas (homem-mulher, mulher-mulher, homem- homem), pois, afinal, uma interação face a face tem seus próprios regulamentos, processos e estruturas que não são somente de natureza lingüística, apesar de muitas vezes serem expressas por essa natureza e que devem ser analisados tanto como o que é dito nos turnos de fala. Outro ponto que merece destaque em nossa abordagem é o fato das audiências, como diz Coupland (2007) terem “configurações relacionais diferentes”. Nos estudos de Bell (1984 apud BELL, 2001) a respeito da mudança estilística de leitores de notícias em rádios neozelandesas, temos uma audiência que só existe na mente dos leitores ou nos termos de Goffman (apud RIBEIRO E GARCEZ, 2002) “interlocutores imaginados” (itálico do autor). No caso do estudo de Coupland (2007) a respeito da falante Sue, funcionária de uma agência de viagens que conversava com diferentes clientes (tanto face a face como pelo telefone, sobre conselhos de viagens, reservas, pagamentos, etc.), com funcionários de outras companhias de viagens e com as colegas de trabalho a respeito de assuntos profissionais e também assuntos de ordem pessoal, temos envolvida audiência face a face e também ao telefone, mas que na sua maioria são não-familiares a ela. Então, Coupland (2007, p.77-8,) diz que “Sue claramente trabalha para estabelecer um grau de aproximação e confia nesses encontros como parte de seu papel profissional, e sua mudança estilística é parte desse esforço” (minha tradução), ou seja, o estudo analisa uma audiência que está ligada ao falante pelo papel profissional e isso interfere sobremaneira na mudança estilística. Por último, Coupland (2007) cita o estudo de John Rickford e Fair McNair-Knox que analisam as entrevistas com Foxy Boston, uma adolescente de dezoito anos, americana da Califórnia e negra. A primeira entrevista é feita por Faye, a própria pesquisadora que também é negra, tem cerca de quarenta anos e é professora da Universidade de Stanford. Nessa entrevista está presente a filha de Faye, Roberta de dezesseis anos, também negra. Ambas conhecem Foxy anteriormente à entrevista. A segunda entrevista é feita por Beth, uma jovem de vinte e cinco anos, americana de origem européia (branca), graduada em Stanford e desconhecida de Foxy. À respeito dos dados obtidos, Coupland (2007, p. 66-7) diz que “três das cinco variáveis mostram estatisticamente variação significante entre os dois contextos de fala, com alta freqüência de variantes não-padrão ou “African Americanassociated” ocorrendo no discurso do primeiro evento.” (tradução nossa). Nesse estudo, vemos envolvidas audiências fisicamente presentes e que se diferenciam por intimidade social pré-existente e experiência pessoalmente compartilhada (origem africana). “É o que Clark (1996) e Gumperz & Levinson (1996) chamam de conhecimento partilhado (communal common ground), o conjunto de conhecimentos, crenças e suposições partilhados por membros de uma determinada comunidade” (AZANHA, 2008). Em nosso estudo, temos também como corpora eventos cujas audiências têm configurações relacionais diferentes e cada uma dessas configurações deve ser considerada em nossas análises. No primeiro evento, o discurso público, Mano Brown apesar de ter uma audiência fisicamente presente, faz o mesmo como Goffman propôs que ocorre aos comunicadores televisivos: “os comunicadores são pressionados a modular suas falas como se fossem dirigidas a um único ouvinte” (GOFFMAN, 1964 apud AZANHA, 2008). Isso parece revelar que os telejornais, por exemplo, tentam simular uma interação face a face, interação esta que no discurso já existe. O termo platéia se faz adequado à fala que vem da tribuna, segundo Goffman (apud RIBEIRO E GARCEZ, 2002, p. 125-26), pois as platéias escutam de uma maneira “que lhes é peculiar”, pois não constituem um conjunto de companheiros de conversa e podem ter “o direito de examinar o falante diretamente com uma franqueza que seria ofensiva numa conversa”. Além disso, “o papel de uma platéia é o de apreciar as observações feitas e não o de responder de forma direta”, apesar de serem testemunhas ao vivo (“co- participantes numa mesma ocasião social”) e poderem dar sinais de concordância, atenção, etc. No segundo evento, temos uma interação face a face com apenas um “participante endereçado e ratificado” (GOFFMAN apud RIBEIRO E GARCEZ, 2002), ou seja, Mano Brown só endereça a sua fala a apenas um interlocutor, mesmo sabendo que podem estar presentes outros participantes, que são denominados por Goffman como “circunstantes”, que apesar de ratificados, não são os diretamente endereçados. Além disso, nessa fala como será mais bem explicado adiante, não há uma divisão dos turnos de fala nos moldes convencionais, pois Mano Brown faz uso de todo o turno e deixa apenas gestos e olhares de concordância ou não para o interlocutor, caracterizando um depoimento. No terceiro evento, por sua vez, temos turnos de fala mais divididos entre os participantes que podem ser caracterizados como endereçados, apesar de nem todos participarem como falantes. Quanto ao conceito de tópico, utilizaremos o proposto por Jubran (2006). Assim como disse Mondada (1994 apud PENHAVEL, 2006, p. 145): “A noção de tópico não dispõe de uma definição estável, situação traduzida por uma multiplicação de abordagens independentes e pela ausência de um paradigma que as unifique.” Porém, ao contrário de Mondada (1994 apud PENHAVEL, 2006), não pretendemos aqui fazer uma revisão ampliada de todas as abordagens, apenas frisar que muitas contribuíram para que a que vamos adotar surgisse e não descartamos esta importância. A noção de tópico proposta por Jubran (2006) é uma revisão da noção que o Grupo de Organização Textual-Interativa do Projeto de Gramática do Português Falado (PGPF) propôs a esta unidade discursiva em Koch (1990 apud JUBRAN, 2006). Sem ainda tê-lo nesta época nomeado como tal e sem ter dado limites de extensão a ele, o conceito envolvia ainda a noção “tema”, o que fazia com que ele fosse vago e não permitia o entendimento de centração, característica que Jubran (2006) coloca ao lado da organicidade para definir tópico. Pode-se até questionar o fato da conceituação de tópico ter sido formulada a partir de um corpus constituído de textos dialogados e estarmos aplicando-o para a análise de um discurso e de um depoimento. Mas essa decisão foi tomada com base na própria colocação da autora que diz: “No entanto, se desbastada desses indícios de conversação [falava antes sobre turnos], a categoria tópica é aplicável à análise de textos de outros gêneros falados e também escritos [ver Pinheiro, 2005], uma vez que a topicalidade é um processo constitutivo do texto”, aplicação esta que não vimos na conceituação de Maynard (1980 apud SOUZA, 2006), por exemplo. Além de uma característica analítica do plano global do texto, o tópico se revela uma categoria interacional/colaborativa do discurso, visto que, como diz Jubran (1992 apud PINHEIRO, 2006, p. 44): “a construção tópica envolve um complexo de fatores contextuais, entre os quais as circunstâncias em que ocorre o intercâmbio verbal, o conhecimento recíproco dos interlocutores, os conhecimentos partilhados entre eles, sua visão de mundo, o background de cada um em relação ao que falam, bem como suas pressuposições”. Como interativa e discursivamente produzido, o tópico não está necessariamente materializado no texto, então, os críticos a essa abordagem dizem que a limitação do tópico e a escolha de um vocábulo que o represente se dão intuitivamente. Essa discussão, apresentada em Pinheiro (2006), é por este solucionada quando diz que “os traços de concernência e relevância que precisam a centração, uma das características do tópico, segundo Jubran et al. (1992), se apresentam como um critério a partir do qual o tópico pode ser identificado e depreendido.” (PINBHEIRO, 2006, p. 44) A concernência é segundo Jubran (2006, p. 35): “relação de interdependência entre elementos textuais, firmada por mecanismos coesivos de sequenciação e referenciação”, ou seja, permite-nos identificar quando se está falando sobre a mesma coisa e quando há mudança. A relevância consiste na “proeminência de elementos textuais na constituição desse conjunto referencial, que são projetados como focais” (Jubran, 2006, p. 35), ou seja, há focalização em certos elementos textuais, o que facilita a delimitação do tópico. Destas duas propriedades da centração, podemos dizer que surge a terceira, que é a pontualização: “localização desse conjunto em determinado ponto do texto, fundamentada na integração (concernência) e na proeminência (relevância) de seus elementos” (Jubran, 2006, p. 35). Quando aplicamos tais critérios como o fez Pinheiro (2006) ao texto, podemos proceder ao seu recorte em segmentos tópicos. Apenas não concordamos e não procederemos assim quando Pinheiro (2006, p. 46) diz que: “os diferentes gêneros textuais apresentam uma extensão variada, por isso é necessário recortar uma unidade menor para analisá-los”, pois achamos que se recortarmos um trecho dos eventos a serem analisados, estaríamos prejudicando a análise da organicidade em nível hierárquico que é o nosso propósito. Por isso, mantivemos até onde pudemos ter acesso às falas originais3. A noção de organicidade que é a segunda propriedade dada ao tópico por Jubran (1992 apud PINHEIRO, 2006), foi inicialmente utilizada para descrever as relações intertópicas de um texto, o que se depreende que é manifestada pelas relações de interdependência tópica e pode se dar em dois planos: no plano vertical, ou seja, os tópicos podem ser descritos hierarquicamente de acordo com a abrangência que tem no texto ou no plano horizontal, que consiste na linearização dos tópicos de acordo com a ordem em que surgem no texto. Rezende (2006) nos apresenta os modelos que podem ser aplicados para se proceder a descrição hierárquica dos tópicos num texto e assim como Bentes e Rio (2006) procede à análise de acordo com o modelo de Koch (1992 apud REZENDE, 2006), que é o modelo que utilizaremos também para proceder nossa análise. O modelo pode ser assim representado: Supertópico Quadro tópico Quadro tópico Subtópico 1 4 2 3 Subtópico 3 5 Subtópico 8 6 7 9 Subtópico 12 10 11 13 14 Lembramos que os nossos corpora são fonte de um documentário que pressupomos haver edição. 16 53 15 53 Este modelo apresenta, como diz Rezende (2006, p. 74), “o tópico em níveis mais ou menos abrangentes e interdependentes entre si, prevendo uma organização hierárquica em camadas, de forma que a delimitação de fronteiras entre tópicos e níveis diferentes se dá segundo a abrangência do assunto em foco”. Percebemos que neste o Quadro Tópico é intermediário entre o supertópico (tópico global do texto) e os subtópicos (mais próximos da materialização). O modelo de Jubran et al. (1992 apud REZENDE, 2006) se diferencia do anterior pelo Quadro Tópico ser relacional (níveis diferentes, porém próximos e vários quadros tópicos). 2.2 Sobre as transcrições4 Tínhamos o intuito nessa primeira fase da pesquisa transcrever os corpora que consistem em três eventos de fala para que as primeiras análises fossem produzidas. Como previsto, utilizamos as normas de transcrição formuladas pelo Grupo de Pesquisa Cognição, Interação e Significação coordenado pela professora Edwiges Maria Morato (MORATO et al., 2007). O modelo se fez adequado aos nossos objetivos de analisar o tópico e sua mudança através de recursos semióticos mobilizados pelos falantes e também por meio de marcadores textuais. Esses recursos multisemióticos tais como prosódia, gestos, retórica, etc. são importantes devido ao que explica muito bem Goffman (apud RIBEIRO E GARCEZ, 2002, p. 114): No gerenciamento da tomada de turno, na avaliação da recepção através das pistas visuais dadas pelo ouvinte, na função paralinguística da gesticulação, na sincronia da mudança de olhar, na mostra das evidências de atenção (como espiada à meia distância), na avaliação do alheamento mediante evidências de envolvimentos colaterais e expressões faciais- em todas essas instâncias, é evidente que a visão é fundamental tanto para o falante como para o ouvinte. Não pretendemos que uma transcrição que substitua o vídeo, mas que vise ao máximo a caracterização desses recursos para que a análise seja baseada neles também. Nosso intuito também é de usar um modelo de transcrição que permita que outras análises sobre os corpora possam ser produzidas, ou seja, os corpora irão fazer parte de um maior banco de dados para o nosso grupo de pesquisa (“É nóis na fita: a formação de um registro e a elaboração de estilos no campo da cultura popular urbana paulista”) que poderá obter informações sobre recursos multisemióticos (como, por exemplo, o estilo retórico, a prosódia, os símbolos visuais etc.), concebidos como marca de estilo de determinado grupo. Em anexo, a tabela que sintetiza as normas (MORATO et al., 2007) em que basearemos nossas transcrições. As transcrições foram feitas em formato de lista e para a identificação dos locutores em cada situação transcrita, utilizamos abreviaturas dos nomes, porém, optamos, diferentemente das normas que estamos seguindo, por fazer uma legenda (por ordem de aparição) com os nomes inteiros dos participantes que são, na sua maioria, personagens públicas. A seguir as três tabelas das legendas de cada situação transcrita: 4 Em anexo. É importante ressaltar que o presente relatório encontra-se com número excedido de páginas devido à presença das transcrições anexas. Situação: fala pública de Mano Brown em um evento cultural Sigla Indivíduo MB Mano Brown Situação: conversa dentro do carro Sigla Indivíduo MB Mano Brown Situação: conversa informal entre conhecidos Sigla Indivíduo MB Mc Yisão FR Ferréz MY Mc Yisão NG Negredo 2.3 Introdução às análises 2.3.1. Análise textual Ao analisarmos o discurso feito por Mano Brown no dia do recebimento do Prêmio Cooperifa pelo mesmo em uma comunidade na Zona Sul de São Paulo, percebemos traços típicos de uma fala, como nos expõe Koch (1998). A começar a hesitação inicial justificada pelo fato da fala acontecer sem “rascunho”, ao contrário do que acontece na escrita. Outra justificativa, e essa de efeito persuasivo, é que a hesitação seria feita propositalmente, mostrando que o locutor, no caso Mano Brown, reflete antes de falar, sendo assim um ser consciente da fala e das suas conseqüências. Um recurso bastante freqüente no discurso de Brown é o paralelismo. Tal repetição favorece a argumentação, porém, no caso como é feita repetidas vezes com as mesmas idéias e com frases quase que proverbiais faz com que vejamos o discurso como variante popular5. Variante essa, no entanto, que é adequada, afinal, o discurso é feito a interlocutores que partilham da variante popular ao falarem. Isso contribui para a proximidade entre o locutor e os interlocutores, que se sentem unidos pela mesma variante lingüística. Outra forma de fixar tal intimidade são as perguntas retóricas, como o uso do “né?”. Tal expressão é usada, assim como outras do registro dos manos como 5 A questão de registro popular pode ser melhor vista em Bentes (2009). “tá ligado?”, “morô?”, para prender a atenção dos interlocutores, criando um discurso em que há participação interativa dos ouvintes, mesmo que em respostas dadas através de olhares e de outras pistas que demonstram concordância ou não como o movimento da cabeça. Outro recurso também usado por Mano Brown em sua fala é a exemplificação. Isso faz com que haja facilitação da compreensão das idéias que o locutor quer passar. Essa exemplificação se dá de modos diferentes nos três eventos: no discurso, Mano Brown exemplifica como se estivesse contando seu próprio cotidiano, começando com “muitas vezes”, “às vezes”; enquanto na conversa sobre rap, a exemplificação ocorre através de vocábulos como: “tipo assim”, “ó”, etc. Há apenas uma exemplificação com o uso de “por exemplo”. Ao mesmo tempo que a exemplificação facilita a compreensão das idéias no discurso, há fortalecimento da persuasão, pelo fato de se mostrar exemplos da realidade dos interlocutores: a favela. Também tal aproximação se dá através de vocábulos como: “a gente”, “nós”, “na minha quebrada”, etc. Nesse contexto, a fala de Brown se diferencia da fala sobre hip-hop em ambiente mais fechado, pois enquanto no discurso, ele parece querer demonstrar sua relação com a favela como se fizesse parte dela; na fala com os amigos, ele fala da favela como uma referência externa a ele, provando assim que há diferenciação de referência com a mudança de audiência. Como foi já mencionado, a fala é um evento não-planejável, porém pode se dizer que há um continuum de tal planejamento, assim como há um continuum de classificação de um evento de fala ou escrita que vai do registro mais formal até o mais popular. No caso de um discurso, por exemplo, o planejamento é maior, principalmente porque a natureza interacional é diferente de um evento de fala entre amigos, como já foi mencionado com a afirmação de Goffman (apud RIBEIRO E GARCEZ, 2002) a respeito. Nesse evento, por exemplo, há co-produção, por isso há turnos de fala em que os participantes negociam e esperam pelo momento adequado de falar, não havendo como respeitar todo um possível planejamento feito anteriormente. Há, então, planejamento e a verbalização simultaneamente. Na conversa que Mano Brown tem dentro do carro e a conversa com seus amigos, devido ao não-planejamento, há mais repetições, visto que, essas repetições são mais uma forma de ter tempo para planejar a fala seguinte e menos um recurso argumentativo, nesses casos. Percebe-se também menos concordância verbal e nominal em comparação ao discurso. Isso pode ser explicado pelo fato da mudança da audiência6. Outra característica presente na conversa é falta de separação entre a fala do próprio locutor e a fala ou opinião daquele que ele está mencionando, como pode ser observado nesse exemplo: “os cara ah mais cê tem que falá que:: mais xx eu falei mano”. Essa presença da fala do outro está muito forte tanto na conversa dentro do carro como na conversa entre amigos, nesta em maior evidência devido aos tópicos que são na sua maioria a respeito da sociedade e sua opinião. Outro traço marcante da fala e presente nos eventos analisados é o maior número de perguntas retóricas (“tá ligado?”, “né mano?”, “entendeu?”). Esse traço é típico numa conversa devido à presença da negociação de turnos de fala em que as perguntas retóricas reforçam, em sua maioria, que o turno pode ser tomado pelos interlocutores. A mudança da audiência influencia também no tipo de marcadores textuais e de conectivos. No discurso, temos uma maior presença de “né”, e “certo?” como recursos importantes no auxílio do processamento on line do texto que está sendo falado (KOCH, 1998) e também a presença do conectivo “e” e algumas ocorrências do 6 Para melhores análises de concordância e léxico, ver Bentes (2009). marcador “então”, Isso mostra maior grau de formalidade, já que no depoimento dentro do carro “e” e “então” não ocorrem, “né” quase desaparece, há algumas ocorrências de “aí” (que não havia estado presente no discurso de agradecimento) e as gírias “meu” e “tá ligado” ocupam o papel de marcadores desempenhado pelo “né”e pelo “certo?” no discurso de agradecimento. Na conversa entre amigos em um ambiente mais fechado, temos a presença de “então”, mas em menor proporção que no discurso e maior presença de “certo?”, “tá ligado?” e “entendeu?” assim como no depoimento dentro do carro. Os conectivos, no entanto, nesse contexto parecem estar em menor quantidade proporcionalmente, havendo continuação de idéias com pausas e não com a presença desses. Por fim, observamos que nos contextos mais informais de fala, Mano Brown parece estar mais relaxado, pois usa muitas vezes o adjetivo “loko” e expressões como “loko pá carai” e “som do caralho” ao descrever as favelas de 1977 vistas por ele em um documentário. Podemos ver, por meio dessa comparação, que para o falante facilitar a compreensão dos interlocutores e ser persuasivo não é necessário só o domínio de habilidades lingüísticas, mas também estratégias de ordem cognitiva, social e cultural. Então, Mano Brown “navega” entre as variedades lingüísticas, comporta-se de acordo com os interlocutores (design de audiência), por isso, seu alto desempenho persuasivo na periferia: as estratégias que o rapper sabe manipular. 2.3.2 Análise tópica Mano Brown profere um discurso crítico durante o agradecimento do prêmio Cooperifa. Crítica esta que se volta a si mesmo (“ISSO é burrice...eu já fiz isso”, “assim eu não sou um cara humilde”) e aos membros da favela (“cê pode virar a esquina e tratar um playboy com arrogância (...) ISSO é burrice; te dá raiva até da favela.. porque (como) é que eles aceita isso aí?”). Ao contrário do que se esperava, Brown não assume uma crítica ao o grupo dominante, mas uma crítica às suas próprias práticas e às práticas do grupo social ao qual faz parte. Brown faz a associação entre humildade e inteligência e diz desaprovar a arrogância em vários pontos do discurso: tanto a arrogância como sinônimo de preconceito como a arrogância devido à ostentação de bens materiais. A presença constante da primeira pessoa e de relatos confirma a arena de conflitos da linguagem quando em um nível de maior consciência, como nesse caso em que Brown pretende mostrar participação no grupo social ao qual dirige o discurso. No depoimento dentro do carro para uma jornalista, Mano Brown apresenta muitas hesitações e repetições para relatar aquilo que havia visto em um documentário: um ladrão dos anos 70 e suas façanhas, as prisões, as favelas (arquitetura), as opiniões das pessoas a respeito do ladrão e as música ouvidas (“funkão”). Mano Brown ao comparar a vida da periferia em dois momentos distintos, conclui que os ladrões não mudam em termos de idéias e gírias. Brown ainda revela sua auto-percepção para os detalhes de arquitetura, roupas, idéias, modo de falar e o que se fala. No final, ele admite ter sonhado que já estava preso, mas nunca morto. Essa confissão final demonstra um desabafo e talvez até um temor. Na conversa informal entre amigos em um ambiente mais fechado, observamos que Brown assume uma postura crítica em relação à sociedade, postura esta que não é vista no depoimento. Entre as críticas estão: o preconceito da sociedade por ele ter se tornado famoso, aparecer na mídia e ter melhorado economicamente sua vida; o fato do rap ser visto como aquele que tem que ajudar, devido o estilo tratar do tema e os outros artistas não carregarem essa obrigação imposta pela sociedade e sua escravização pela elite, devido à facilidade de se tornar elite. Em relação à favela, a crítica é mais forte, Brown fala sobre a desunião da periferia e o rap como uma exceção dessa desunião; a existência de ladrões, “playboys de favela” que vivem à custa do pai, crimes e violência. Quanto ao rap, trata da sua alienação em relação aos “outros mundos” (coisa que acontece, segundo ele, com os outros estilos musicais) e da sua necessidade de profissionalização, visto que aspectos como qualidade, som, luz, batida, letra e idéias estariam faltando. Ainda em relação ao rap, fala sobre a diferença entre o estilo americano e o brasileiro: os rappers americanos, segundo ele, gostam de posar como vilões e ricos e cantam a realidade deles que não é a mesma que a brasileira e sobre um novo estágio do rap brasileiro que se aproxima no qual aparecerá grupos de rap ricos e que ele e seus colegas terão que se impor, assim como em todas as barreiras da vida. Enfim, podemos dizer que no discurso há mais modéstia e inclusão por parte de Mano Brown no erro, enquanto que, na conversa se fala mais sobre os defeitos da sociedade, principalmente da periferia como se estivesse de fora. 3. OUTRAS INFORMAÇÕES 3.1 Encontros e apresentações Durante o segundo semestre de 2009, foram realizados encontros periódicos individuais e em grupos com a orientadora Profª Drª Anna Christina Bentes. Quanto aos encontros em grupo, além de questões relativas à pesquisa de cada um de seus orientandos e questões sociolingüísticas, foram discutidos formatos de entrevista para o projeto maior no qual estamos inseridos. Durante o mês de janeiro, realizamos um seminário com orientandos de Iniciação Científica e alunos da graduação em Lingüística cujo tema foi estilo. Foram apresentados e discutidos o livro “Style. Language variation and identity” de Nikolas Coupland e os textos: “A situação negligenciada” e “Footing” de Erving Goffmam e “Convenções de contextualização” de John Gumperz. Temos ainda agendado outro seminário em que serão discutidas algumas questões da teoria de Bourdieu e Hanks. Houve também durante o segundo semestre de 2009 uma apresentação do presente projeto para os alunos de graduação em Lingüística que cursavam a disciplina Sociolingüística no Instituto de Estudos da Linguagem na Unicamp. Além da apresentação da teoria e dos corpora, foram apresentadas algumas análises iniciais que serão aprofundadas nessa segunda etapa do projeto. 3.2 Produção Científica Não houve nesse período produção científica como publicação de artigos e participação em eventos, visto que foi feito um esforço para que houvesse um maior aprofundamento teórico e para que as transcrições fossem feitas a fim de que as análises sejam empreendidas na segunda etapa e assim render uma melhor explanação sobre as conclusões em artigos e eventos. Já está prevista a participação no seguinte evento para o primeiro semestre de 2010: SePeG (Seminário de Pesquisas da Graduação) e para o segundo semestre de 2010 no Congresso Interno de Iniciação Científica da Unicamp. 3.3 Desempenho Acadêmico É relevante acrescentar que no segundo semestre de 2009, foram cursados 30 créditos (mais que o número de créditos obrigatório para o semestre) e houve melhora no desempenho acadêmico: aumento no CR, no CR padrão e no ranking da turma. 3.4 Atividades Extracurriculares Houve a colaboração no desenvolvimento do “Relatório diagnóstico sobre a avaliação da comunidade de Letras e Lingüística relativa aos periódicos do campo disciplinar”, de responsabilidade da ANPOLL, tanto em relação às planilhas quanto em relação à produção do texto e de algumas conclusões (BENTES et al., 2009) Ademais, participei do terceiro dia do CLCS - Colóquios em Língua, Cultura e Sociedade, realizados no IEL pela Profª Drª Anna Christina Bentes e do Seminário de Pesquisas sobre Identidades e Discurso coordenado pela Profª Drª Maria José Coracini. O primeiro evento foi e extrema importância para o aprofundamento teórico em Sociolingüística, principalmente no que diz respeito às pesquisas variacionistas e no que diz respeito à metodologia destas. A discussão de Coupland (2007) a respeito da Sociolingüística Variacionista, por sua vez, leva-nos a refletir que a Sociolingüística deve tomar um rumo em que sejam analisadas questões discursivas e textuais para que não se permaneça no sistema unicamente e se valendo de verdades estatísticas que consideram o social previamente. A proposta desse projeto vale-se do que discute e argumenta Coupland (2007), porém, desenvolveremos conclusões baseadas sim em dados, mas que tratem de questões discursivas e de questões relativas à identidade. 4. METAS PARA O PRÓXIMO SEMESTRE Como foram cumpridas as metas do primeiro semestre de pesquisa cujas prioridades foram o maior levantamento bibliográfico e a produção das transcrições dos corpora, como já foi dito antes, as metas para o próximo semestre continuarão a ser as análises mais detalhadas dos dados para que a produção e publicação de artigos possa ser efetuadas. Nessas análises mais aprofundadas, procurará descrever os tópicos de cada situação de fala do rapper e propor um gráfico com a organização tópica de natureza hierárquica, procurando estabelecer o supertópico, os quadros tópicos coconstituintes e os seus subtópicos nos moldes propostos por Bentes e Rio (2006). Também, procurarei empreender um quadro linear dos tópicos de acordo com o seu aparecimento. Esse quadro possibilitará ver mais facilmente onde há mudança e assim verificar como se dá essa mudança: se há presença de marcadores textuais dessa mudança ou não. Por fim, buscarei analisar como os tópicos, como se dão suas mudanças e os marcadores textuais manipulados estão relacionados com a mudança de audiência (design de audiência) e o processo de identificação social (design de referência). Para melhor execução dessas metas, cursarei a disciplina HL904 ministrada pela Profª Drª Anna Christina Bentes que possibilitará encontros mais freqüentes com a orientadora que poderão otimizar o resultado do projeto. 5. BIBLIOGRAFIA AZANHA, E.F.S. Gêneros televisivos na escola: a co-construção dos sentidos nasinterações de alunos do ensino médio. Campinas, 2008. Dissertação de Mestrado em Linguística. Orientador: Anna Christina Bentes. IEL, Unicamp. BELL, A. “Back in style: reworking audience design”. In: Penelope Eckert and John Rickford (eds.), Style and sociolinguistic variation. Cambridge: Cambridge University Press, 2001, pp. 139-169. Tradução livre: Antônio Pessotti; Christine da Silva Pinheiro; Lúcia Ap. de Campos Scisci; Marjorie Mari Fanton. BENTES, A. C. Linguagem como prática social: rappers, rap e a elaboração de estilos no campo da cultura urbana popular paulista. Relatório final do pós-doutorado. Fapesp, 2006. _____________ “Contexto e multimodalidade na elaboração de raps paulistas”. Investigações (Recife), v. 21, p. 199-220, 2008. _______________ “Tudo que é sólido desmancha no ar: sobre o problema do popular na linguagem. Gragoatá (UFF), v. 27, p. 12-47, 2009. BENTES, A. C.; NOGUEIRA, C. M. A. “A estilização paródica de um registro do português popular brasileiro no programa de rádio ‘Os Manos’” In: Maria Célia LimaHernandes; Maria João Marçalo; Guaraciaba Micheletti; Vilma Lia de Rossi Martin.. (Orgs.). A Língua Portuguesa no Mundo. São Paulo: FFLCH- USP, 2008, v. 1 BENTES, A.C.; RIO, V.C. “Razão e rima: reflexões em torno da organização tópica de um rap paulista”. In Caderno de Estudos Lingüísticos n.48, 2006 BENTES, A. C. et al.. Relatório diagnóstico sobre a avaliação da comunidade de Letras e Lingüística relativa aos periódicos do campo disciplinar. 2009. COUPLAND, N. “Language, situation and the relational self: theroizing dialect-style in sociolinguistics” in ECKERT, P. & RICHFORD, J.R. Style and Sociolinguistic Variation. Cambridge University Press, 2001. ______________ Style. Language variation and identity. Cambridge University Press, 2007. FINNEGAN, E., BIBER, D. “Register variation and social dialect variation”. In: Penelope Eckert and John Rickford (eds.). Style and sociolinguistic variation. Cambridge: Cambridge University Press, 2001, pp. 235-267. GOFFMAN, E. “A situação negligenciada” in RIBEIRO, B. T., GARCEZ, P. M. (orgs.). Sociolingüística Interacional. 2 ed. São Paulo: Loyola, 2002. Cap. 1, p. 13-20 _____________ “Footing” in RIBEIRO, B. T., GARCEZ, P. M. (orgs.). Sociolingüística Interacional. 2 ed. São Paulo: Loyola, 2002. Cap.5, p.107-148 GUMPERZ, J. “Convenções de contextualização” in RIBEIRO, B. T., GARCEZ, P. M. (orgs.). Sociolingüística Interacional. 2 ed. São Paulo: Loyola, 2002. Cap.6, p. 149-182. JUBRAN, C.C.A.S. “Revisitando a noção de tópico discursivo” in Caderno de Estudos Lingüísticos n.48, 2006. LABOV, W. “The anatomy of style-shifting” in Penelope Eckert and John Rickford (eds.). Style and sociolinguistic variation. Cambridge: Cambridge University Press, 2001, pp. 85-108. PENHAVEL, E. Resenha MONDADA, L. Des topics aux objets de discours. In:_Verbalization de l’espace et fabrication Du savoir: Approche linguistique de la construction des objets de discours. Lausanne: Université de Lausane, 1994, p.27-66. in Caderno de Estudos lingüísticos n.48, 2006. PINHEIRO, C.L. “O tópico discursivo como categoria analítica textual-interativa” in Caderno de Estudos Lingüísticos n.48, 2006. REZENDE, R.C. “O tópico discursivo em questão: considerações teóricas e análise de uma narrativa literária” in Caderno de Estudos Lingüísticos n.48, 2006. SANTOS, G.L.L. “O trabalho de estilização da linguagem em filmes brasileiros: o caso de ‘O invasor’ e ‘Narradores de Javé ’”. Campinas, 2008. Iniciação Científica. Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Orientador: Anna Christina Bentes. IEL, Unicamp. SOUZA, E.R.F. Resenha MAYNARD, D. “Placement of topic changes in conversation” (1980). Semiótica 30-3/4. pp.263-290. In Caderno de Estudos Linguisticos n.48, 2006. ANEXO 1 SITUAÇÃO 1: Discurso público no Prêmio Cooperifa Sérgio Vaz: mano...sem mais delongas...Mano Brown Racionais MC’s Platéia: ((palmas, gritos,assobios)) Sérgio Vaz: (por favor) Mano Brown: salve locos Platéia: ((palmas)) Alguém: salve salve Mano Brown: bom eh::: Alguém: salve locos... ((palmas) é isso aí Mano Brown: bom éh::...eh...peraí...já vai já vai esquentar (estralo com os dedos).. Platéia: ((risos, aplausos)) Mano Brown: eu tava prestano atenção é:: acho que a pior pobreza é quando (a gente) tá pobre de espírito eu não vou querer falá coisas bonita porque aqui é covardia né...só gente inteligente...e eu tava vendo que os inteligente são humildes né o/as pessoas que vêm aqui elas falam as coisa com... humildade né humildade é sabedoria...na verdade arrogância é burrice né e muitas vezes eu fui burro... porque:: a burrice vem da re/neurose do ódio da revolta você passa na frente de uma favela te dá ódio dá raiva...dá raiva até da favela...porque (porque) eles aceita isso aí?...por que nóis num vamo fazê alguma coisa...junto?...mais é assim né meu a gente::/e a revolta traz arrogância...então muitas vezes cê pode virá a esquina e tratá um playboy com arrogância...entendeu...um cara porque ele tem os olhos verde ((olha para trás))...e:: não é a mema cor que a sua e você acha que ele é rico cê vai tratar ele mal porque cê viu gente igual você sofreno...ISSO é burrice...eu já fiz isso...e eu vi gente aqui...inteligente gente da maior/melhor qualidade né?...eu falei pô mais os inteligente são humilde né mano...e às vezes eu vejo um malandro subin/em cima de um Nike de setecentos conto e é arrogante...por causa de um NIke...por causa de uma marca de um carro de uma moto de uma arma...e por outras...fita morô?...é::...o importante num é nem a a humildade porque na verdade a gente nem nem somos/nós nem somos tão humilde assim eu não sou um cara humilde...eu sou um cara... eu tento ser verdadeiro tenho vários inimigo...falar o que qué ouve o que não qué eu falo o que eu quero((dá um sorriso))...então as conseqüência tamém são monstruosas cê entendeu?...e se eu tô vivo até hoje é porque:: de alguma forma eu acho que tem um um deus que olha por mim...e:: me livra da das covardia memo...e:: um dia como hoje... no final do ano ganhá um prêmio na minha quebrada certo meu? que eu posso dizer que é minha quebrada aqui tamo no (meu) Chácara Zona Sul é importante...pra mim é uma honra... estar entre entre vocês a minha falha é não estar sempre...porque/mesmo porque eu tenho problemas certo?...tenho inimigos...preciso ganhar dinheiro pa pagá as dívida que eu fiz depois que eu fiquei famoso Platéia: ((risos)) Mano Brown: porque isso é uma prisão acontece isso né ... que saudade que eu tenho quando eu:: eu era só mais um memo andando no meio da multidão desconhecido né infelizmente num dá pa se mais isso...mais vamo administrá os problema que:: aconteceram depois...e muito obrigado a vocês continue...éh::...inteligentes não vou dizer humildade porque humildade é inteligência entendeu inteligência é humildade...eu acho isso...certo? eu vou tentar ser menos burro...daqui pa frente e:: (virando-se para falar com Sérgio Vaz) eu sou o último a falar?não? Sérgio Vaz: não... Mano Brown: não né ... eu sou quase um dos último então eu fui favorecido porque eu vi todo mundo falar e de todo mundo eu peguei um pouco...certo?...os pensamentos os/aonde todo mundo qué chegá...eu entendo (eu) quero tá junto às vezes eu não estou junto mais eu preciso tá junto não me abandonem ((risos)) ...porque às vezes eu fico sozinho...dentro do meu mundo pequenininho pá de problemas individuais MEUS...não me abandonem...me chama me liga((faz o sinal de telefone)...por incrível que pareça eu tô facinho tô... Platéia: ((risos)) Mano Brown: firmeza((faz jóia com a mão))...muito obrigado aí ((levanta o prêmio)) Platéia: ((palmas, assovios)) ((em seguida, o rapper recita, junto com o público, que marca com palmas, parte da letra de um rap seu, Vida Loka Parte II)) SITUAÇÃO 2: Depoimento dentro do carro Mano Brown: vô fazê o seguinte... põe essas revista...daqui ó Mano Brown: nóis tá de teto solar mano... o negócio tá foda Mano Brown: eu assisti um documentário dum dum ladrão que fizeram em setenta e sete em são Paulo...chamava...é::Wilson...Wilsinho...Wilsinho numa favela daqui de São Paulo aqui... em setenta e sEte...o documentário mostrô casa de detenção os cara dano entrevista num dia de visita em setenta e sEte mano...aí mostra a favela que ele morava e paus os cara falô dos carro que ele gostava de::/ele tinha catorze assassinato tá ligado? Jornalista: nossa Mano Brown: aí ele tava com a fama de sê um ladrão frio né meu? um cara frio aí as pessoa que conhecia ele falava a versão dele a respeito dele né?...a versão a respeito dele e tal...pô achei loko pa carai...mostrô as favela como é que era mostrô as rua meu os camarada dele na rua...dano entrevista os cara da detenção...INCRÍVEL COMO LADRÃO NÃO MUDA mano...é sempre foi a mesma fita os cara é:::as mesma ideia de sempre/ ô mano cê acredita que aquelas mesma gíria de antigamente é as de hoje...a:: pique:: como é que eles fala morô?...num sei o que morô?...aí deu um desacerto aí na minha vida aí mais tá tudo ce::rto...mema coisa mesma coisa mesma coisa...ele virô um mito na época tá ligado? aí a polícia matô ele dentro de casa Jornalista: hum Mano Brown: u mano as favela era diferente...era outro modelo de favela...era mais espaçado né?...os telhado era de assim ó ((mostra com as mãos o formato))...é::...era de telha as favela tamém num era de Eternit...sô/eu presto muita atenção nas:: na:: nos detalhe...arquitetura nas roupa das pessoa...nas ideia nas palavra tá ligado?...i o loko é que na hora/tem uma hora que eles tão é... fazeno uma::...reconstituição duma fita eles tão no carro tão ouvino um som do caralho meu...os cara tá tipo ouvino um funkão meu Jornalista: ((risos)) Mano Brown: eu falei pÔ::rra que loko meu loko loko loko...eu já sonhei eu preso várias vez/tipo...já me imaginei várias vez/cê acredita?...várias vezes... morto nem tanto... Jornalista: não? Mano Brown: não ((faz som de não)) SITUAÇÃO 3: Conversa informal entre amigos a respeito de rap Mano Brown: a verdade mano o que acontece é o seguinte não dizeno que eu saiba mais eu to dizeno assim...quando começô toda essa cultura de cantá a realidade cantá A REalidade o que que é a realidade...dentro d’uma periferia? ((olha para os interlocutores, esperando resposta)) Alguém: é o crime...a violência Mano Brown: [Certo?] & Alguém:[o crime a violência] Mano Brown: &o rap num é a música da realidade? num veio do/não foi a:: a COluna que:: segurô toda essa estrutura de rap de todo mundo aqui? seus livro minhas música o documentário a realidade.. que que a realidade é dentro de uma periferia?...pobreza((contando nos dedos))...certo meu? trabalhadô [tamén]&((contando nos dedos)) Ferréz: (trabalhador) Mano Brown: ladrão tamém((contando nos dedos))...cara tamém que é playboy e mora na quebrada... playboy de favela que vive nas custa do pai...vários Ferréz: tamém... Mano Brown: tá ligado? Que enquanto ele tem um pão e um cafezinho com leite de manhã pra ele tá bom. : [ (suave)] Mano Brown:[tá bom] mano...o dia que faltá ele qué metê o revólver mas enquanto tá bom tá bom Alguém: vão vive(n)do.. Mano Brown:então a gente tem que citá a realidade...então quando o::...os rap que falam de crime começô a fazê sucesso então au-to-ma-ticamente...todo movimento é assim...uma legião:: Ferréz:[se desdobrou] Mano Brown:[de pessoas] passô a seguir esse mÉtodo né Alguém: [uma vertente xxx] Mano Brown: [de fazê música] Ferréz: é Mano Brown: falá de...crime...num bastô ao diário do deten[to] Ferréz: [é] Mano Brown: teve que tê um grupo de dEntro da detenção...entendeu mano? Ferréz: é é Mano Brown: cê entendeu? como as coisa, uma coisa puxa a outra Ferréz: puxa a outra né... MC Yisão: e tudo que foi:: assim:: cantado sobre crime estorô... Negredo: (então) ouvi rap...mano era o cri::me...tipo assim ô num sei o quê eu já vi vagabundo chegá e falá assim ô meu cês não fizeram uma música pro crime...mais eu num tenho nada a vê co crime eu num vo falá de crime se eu não vivi eu vivo o crime aqui...só que a minha ideologia é falá... sobre o social eu não quero falá do crime...os cara ah mais cê tem que falá que:: mais xx eu falei mano...ce qué colá pode colá mais é o seguinte...eu não fumo eu num bebo eu num róbo...então eu vô falá o que eu penso...não adianta você vim me cobrá entendeu? se eu achá que tem uma música que tal que eu vô falá do crime mais eu vô falá do meu jeito...só que... na favela pa falá a verdade quem manda é o crime... quem manda é o crime...ó...nois/os cara respeita nóis lá dentro da favela...porque tipo assim nóis segue na reta certinho mais a hora que nóis dé o pé...nóis lançamo [o CD...mais a hora que nóis dé o pé]&... Ferréz: [é chama o mundo do crime pra dá o nome].. Negredo: & ...já era...[por que os cara mano têm outra visão totalmente] Ferreéz: [xxxx] Negredo: os cara é o crime é o seguinte... o crime qué vê você sempre aqui ó cê tem que tá abaixo deles a hora que cê fez isso aqui os cara fala [pô os maluco já ta mais do que eu] Ferrez: pra intercedê por você tem que [sê alguém do crime na verdade] Negredo: [tem que (te) o do crime] Mano Brown: mas cê sabe que para virá elite basta você tá nu::ma corrida e se acontecê do jeito que cê qué cê tá arriscado a virá uma elite Ferréz: é verdade Mano Brown: da mema forma que o cara pode vê o Brown e falá o Brown é o rap da elite...venceu...ou ele pode vê o Ferrez dano entrevista no....no...igual eu vi você no programa do do... Alguém: [Jô Soares?] Mano Brown: [Altas horas] e falá...ah esse escritor é da um dia eu quero sê mai num quero sê que nem esse cara aí não...os cara já bate um sujo só porque sê ta lá Ferréz: é Alguém: [xxx] Mano Brown: isso...tudo isso é uma elite tá ligado?...a gente a gente memo forma a elite pode se transforma em elite sem vê Ferrez: não...hoje...hoje eu sô uma parte de uma elite da literatura...você é uma parte da elite da música...porque você vende mais que muito cara que é rico na música...vamo supô então cara fala mas o Brown alcança o que eu não alcanço ele é elite...só que você vive como elite?...cê consome como elite [bes-tamente...pá...]& Mano Brown: [xxx] Ferréz: & [toda semana shopping tá ligado? é o que você vive] Manos: [xxx] Mano Brown: [eu sô um escravo]& Ferréz: [então] Mano Brown: & eu nem sô elite..eu sô escravo da elite Mc Yisão:o povão vê o o:: grupo de rap como um partido político..que tem que dá isso que tem que dá aquilo que tem que me ajudá...e não é assim às vezes cê num tem nem o que comê... e os cara qué...não ah meu o Brown tá ganhando mó dinheiro tem que dá tanto e se num dá ta errado...então são coisa que num existe meu....ah o Ferrez...lançô um livro ó o cara tá ganhano mó dinheiro...então o povo...tipo assim...num sei...éh... tipo o pessoal centralizou isso daí...que tem que dá...tem que dá Ferréz: todo mundo achô que era fácil ganhá...e num viu... ninguém vê as pinga [as::...como que ele falou?]& Alguém: [dificuldades] Ferréz: & as pinga que cê toma todo mundo vê mais ninguém vê as queda que cê leva né? então ninguém vê as dificuldade...ninguém reconhece o corre de ninguém...o cara qué faze o corre dele mais não reconhece o corre dos oto...entendeu? então...ele não viu que o bagulho tem um processo/vocês aprenderam que tem um processo...desd’o começo nóis sempre falô disso...tem um processo SE você chegá lá ainda...se você chegá...tá ligado? agora os cara só olhô...o principal...puta mano...quando eu comprei minha casa...nossa o Ferrez comprô a casa dele vendendo livro mano...nossa mano eu tenho que fazê livro...o cara nossa mano se embucetou aí fazeno livro aí ó...tá ligado?...não consigo nem editora... porque o bagulho é osso...[então, é mano...tá ligado?]& Alguém:[(o bagulho é osso)] Ferréz: & a oportunidade não chega igual...o::a chance não chega igual a batalha não é igual...o talento não é igual...então aí o o rap atraiu todo mundo...e agora tá tendo que falá...peraí que não é assim Mano Brown:o rap qué sê uma exceção...o rap na/se você for pará pra analisá a periferia é desunido...[certo?]& Jornalista:[mas o mas] Muitos: [xxx] Mano Brown: &[o rap é uma exceção]... o rap é uma exceção que ainda fala de união dentro dum lugar que não se fala...qual que é o lema da periferia?cada um, cada um né? ...e o rap é o quê?...é nóis na fita...é otra idéia...tá ligado? esse bagulho de...tá ligado? é nóis é nóis esse negócio de é nóis é nóis é coisa de rap...malandro quando tem dinheiro ó((faz som com a mão))... se joga& Manos: ((risos) Mano Brown: & [certo?] Alguém: [ele com a família] Mano Brown: & [o cara quando ganha dinheiro vai embora...ele tá ligado que os próprio cara da quebrada vai crescê o olho vai ca casar um::...uma casinha pra ele caí um barato...e o rap ainda prega o contrário...não vamo vamo tentá vocês são unido...eu to veno que cês são unido...não é totalmente todo mundo né...não é tão individual assim...(querendo ou não) cês são ligado eu sou ligado a ele indiretamente...agora tô ligado a você indiretamente e você ligado a outros... e outros são ligado a outros...noís tamo/é uma teia Alguém:é:: Mano Brown: é uma teia ((faz o entrelaçamento dos dedos))...fora daqui cê num vai vê isso muito...cê não vai vê isso na na rua Alguém: é difícil...é difícil mesmo Mano Brown: essa união que nóis tamo falano não existe em lugar nenhum em movimento nenhum...em profissão nenhuma Negredo: mas não não só se uni...mas se respeitá pelo menos Mano Brown: ah:: sim Negredo: [não existe] & Mano Brown: [ah sim...aí é outra coisa]((faz sim com a cabeça)) Negredo: & [eu acho que ...é tipo assim] Ferréz: [não se respeita] quantos cara aí que eu conheço mano ...do próprio movimento rap.. que pra você pegá o cara é só pela vaidade...cê elogiano o trampo do cara cê já amigo do cara mano...agora se você for criticá uma letra do cara...for falá duma capa dum negócio...vixe cê já arrumô inimigo...entendeu?...então ele só te mostra aquilo... e você só mostra o que cê qué mostrá também...tá ligado?... é:: (há) camadas né?então.. Mano Brown: eu acho que isso aí é em qualquer lugar [o Ferréz] & Ferréz: [qualquer lugar] Mano Brown: &[qualquer pessoa] cê vai pega um cara aí...um::...cara que mexe cum marketing aí um:: Wasshington Olivetto critica o trabalho dele pu cê vê...ele num vai gostá...ninguém gosta di [sê criticado] Muitos: [xx] Mano Brown: & o ser humano/todo mundo::...o ser humano tem seu ego mano Negredo: éh...a crítica nunca é bem acei[ta] Mano Brown: [e de]pende da palavra que cê usa tamém né? Ferréz: é:: Mano Brown: cê vai [usá..de/às vez] Negredo: [mais aí] eu acho que tem o lance crítica e o lance... que os cara usa como tiração tem cara que não critica...tem cara tipo assim... que nem eu já vejo no Ferréz o Ferrez quando opa isso aqui tá meio errado ele sabe explicar...agora tem cara que fala ô seu bagulho é um lixo...cê fala pô mano Alguém: ((risos)) Negredo: tens um cara que eu vô falá [pu cê]& Alguém: [( tem uns cara que é foda)] Negredo: & [aí] quando cê fala o meu é um lixo o seu é uma bosta... aí aí começa a guerra... rap... o grupo de rap é desse jeito nóis trampa com rap...é igual o Ferrez eu falo o mano num dá num dá pa toca porque é issu e issu...ô se você chegá ni mim e falá ô negredo...ô Wilson num dá pa cantá ainda porque essa música num tá assim...eu...eu paro e penso eu posso dá uma parada/e falá não o que o Brown tá falano... táa certo porque ce já tá...lá na frente ó uma quota... só que os cara num pensa assim...os cara num pensa assim...se você fala assim essa base tá meio assim...cê fala puta o Brown falô que tá assim ou o Ferréz falô o Maurício falo ali... eu vô:: chegá em casa eu vô analisá porque se esses cara tá falando alguma coisa tá errado...porque cês conhece mais a maioria dos grupo de rap não é assim...cê fala ô mano essa base tem que dá mais...não o bagulho é meu eu que fiz... é assim que vai e já era...[então]& Ferréz: [pego a marra né?] Negredo: o::[ barato é] Ferréz: [os cara pego] a marra do americano...pegô a marra...num pegô estudo num pego o trampo que o cara faiz todo dia trabalhano no rap dele só pegou a marra...a marra os cara pegô...xx os medalhão os bagulho mais por dentro o trampo que o cara tem...tá ligado?...cê acha que os cara vai dormi a noite?...os cara tá [trampando]& Negredo: [num pego] Ferréz: isso aí os cara num pegô eles num aprendeu que o bagulho é [trampo] Negredo: eles aprenderam só a marra num aprenderam ganhá dinheiro num aprenderam a [produzi] Mano Brown: [por exemplo] o rap nos estados unidos tá isso...os cara:: ho::hoje em dia eles num nem qué nem posá de mocinho mais os cara eu sô o vilão memo e já era tô rico...com o meu dinheiro eu compro todo mundo os cara pensa isso... nos estados unidos é assim...com dinheiro cê compra tudo mEsmo...aqui não porque nóis/ tá ligado? ninguém tEm esse dinheiro... onde tá esse dinheiro?...mais lá eles compra memo...eles compra mulher eles compra casamento eles compra mansão compra...o:: tá ligado?...os cara compra...é milhão de dólar entendeu mano?...é uma realidade tamém o que o Fifitycenti canta é uma realidade dele num é [a nossa]& Ferréz: [é xx] Mano Brown: & mais é a dele é a dele...tá ligado?...chego na boate as mininha olha pra mim eu tô com pô... relojão de ouro meu carro vale tantos mil/ é verdade...OFENDE NÓIS...MAIS É VERDADE Ferréz: é verdade ((risos)) é verdade ((rindo)) Negredo: (mais sabe) num tem um programa de rap pu cê vê na Globo...cê vai vê o que?....eu quero vê o tal grupo lá [num tem]& Jornalista: D2 Alguns: ((risos)) Negredo: & eu vô dá audiência...tem o D2 lá...memo eu não gostano do de dois os cara num gostano os cara vai vê D2...por que?...é o rap... tá lá na batida..num tá naquela Ferréz: mais aí nós num tamo higienizado que nem eles qué...eles qué um rap higienizado eles...qué um rap limpo ...[eles qué um rap]& Negredo: [eu sei] Ferréz: do padrão que eles [que eles qué vê no domingo]& Negredo: [mais cê xxx] Ferréz: & dá pa assisti no domingo Cabal...então ele vai vê só o Cabal o D2 Negredo: tinha a MTV...a MTV era/eu vô falá pu cê...eu ficava até duas hora pa vê o programa de rap...agora cê num vê mais cê num/praticamente num é o rap...pra mim num é o rap Ferrez: cê tem que vê até onde da pa cedê mano Negredo: não mais Ferréz: até onde o cara cedeu..é a a opção é:: dele ele cedeu pa te aquilo de repente você num tá veno...mais tem uma legião de moleque que ainda ta assistindo e é a única coisa que eles tem pa vê ta ligado?...porque o cara cedeu um pouco...o cara resolveu fazê Todos: ((conversas paralelas)) Negredo: se for pra ficar só no rap americano eu compro o::/ eu vejo no no Santo Amaro os camelô...porque rap nacional num passa Ferréz: a MTV tratô o rap assim porque o rap num:: também num se impôs mano... tá ligado?...quando o KLJay tava lá era outra pegada...agora o rap tinha que continuá se impondo...não se impôs...aí o que acontece?...você mandô e-mail pra MTV?...mandô carta?...ligô?...não? ...alguém aqui ligô?também não num tem pressão pu bagulho agora liga cem mil pessoas lá o cara nossa seu eu não pô um clipe nacional no outro dia...a audiência vai me matá ....entendeu? agora deixa de passar PItty no horário da MTV nobre...pra vê se os boys tudo já num liga passa e-mail já se involve entendeu?...agora o cara liga na cento e cinco pa falá de jogo mano Mano Brown: (vocês) tão falano/ colocando o rap como se fosse o:: centro do:: do:: universo da música e num é né meu...se você pará pa analisá os outros compositor dos outros estilo musical tá todo mundo fechado num mundinho tamém...pega música de Zélia Duncan tá falano daquelas poesia dela vaga que só diz respeito a ela e a namorada dela ou namorado...pega qualquer outro Caetano Veloso...ele tá no mundo dele tamém...de intelectual [inteligente]& Ferréz: [com certeza] Mano Brown: & pa caraio...num tem como os pobres analfabeto entendê o que o Caetano Veloso muitas veiz fala...tá todo mundo meio [elitizado meio no seu mundo] Ferréz: [ah com certeza] Negredo: [(a MPB)] Mano Brown: [o rap] tamém o rap tamém...é tribo mano...várias tribo..[tribo de roqueiro, tribo de reggae de rap entendeu?]& Ferréz: [aí o aprendizado dos cara é outro né mano?] Mano Brown: [dentro da nossa tribo nóis é alienado na nossa cultura...o rap também é alienado nóis é alienado na nossa cultura de rap Ferréz: qual que é o maior debate?...de todos os tempo?...desde que surgiu o hiphop?...tá ligado? é o estigma do Racionais num i na TV mano...igual...o:: o Brown vai falecê...va::/o Racionais vai acabá tudo vai mudá mais sempre vai tê aquele baguio.. um cara vai trombá um dia você na esquina com o seu neto e vai falá...mais por que que ele num foi mano?...porque pu cara pobre... você num compactuar com a elite é um crIme mano [tá ligado?]& Alguém: [é::] Ferréz: [é um crime mano] Alguém: [xxxxxx] Ferréz: & porque o cara ele qué pertence àquilo...e você diz não...nOssa cê ofende ele mano...entendeu?...ele num entende...outros entende...outros fala que entende mais num entende...o estigma do rap...a vida toda vai sê esse Mano Brown: que tipo de pergunta hoje que poderia::...quebrá as perna d’ um grupo de rap ...hoje? Alguém: ah::: Mano Brown: [(eu num vejo a ponto quebrá as perna na televisão a ponto de quebra um grupo)] Ferréz: [que cê faiz pela favela? que cê faiz pela favela?] Negredo: [mais aí eles väo faze outro tipo de pergunta] Ferréz: [que cê faiz pela favela quebra] as perna [de qualquer grupo] Mano Brown: [um tipo de pergunta] dessa cê tem que respondê com outro pergunta ...eu te [pedi voto?] Ferréz: [daí que cê xxx] Mano Brown: [eu pedi voto pa alguém? eu sô cantor de rap num sô] Negredo: [mais daí você tá]...aí você já tá ligeiro...tá ligeiro...você já tá ligeiro cê já tá já tá firme...[mais cata outros grupo aí...o cara fica mudo] Ferréz: [o cara perguntô uma vez isso] pra mim eu falei assim::... inveis d’eu explicá o que eu faço eu faeli pra ele...e o que que eu o Caetano faiz pela favela?...vende um milhão de disco...ah mai ele num fala de favela...falei mai num interessa o assunto da música pode sê [o que fo]& Mano Brown: [ele é brasileiro?]... [ele num tem responsabilidade (sobre o povo daqui)] Ferréz: &[ele é brasileiro ele tá aqui]...ele podê se assaltado pode sê::...então o que que ela faz? [o que que o Zezé de Camargo faz?] Mano Brown:[é isso é isso que eu acho errado]...por que que o rap é obrigado [a fazê as coisa] Ferréz: [a fazê] Mano Brown: é lógico ele faz de coração certo?...mais porque que o rap é obrigado a fazê e o Chico Buarque num é? Ferréz: o rap é obrigado a fazê...porque eles acham que a gente fala do tema...quando a gente fala..a gente tem que mostrá pra eles que a gente faz...eles acham isso...não mais se o cara critica então o que que ele faz?..entendeu?...ele tem que faze alguma coisa...ele tem que mostrá que faz alguma coisa...[entendeu?] Mano Brown: [é uma pergunta] pra [punir você por tê tocado no assunto] Ferréz: [é pra puni porque cê cê] tocô no assunto [é isso é isso memo é isso]& Mano Brown: [vô te puni]...vô te puni...porque [ce cutucô a ferida] Ferréz: [você cutucou então]...me diz o que é que cê faiz?...aí você não pá pá pá pá muitas vezes as pessoas fazem bastante...porque...uma vez o Chico me disse uma coisa...que ficou guardada dentro de mim até hoje mano..ele falô assim...mano o que você faz através dum livro dum CD...é mais do que qualqué projeto social mano...tá ligado?...cê dá orgulho no cara o cara trancado dentro do quarto dele a luz de vela leno cê dá orgulho no cara... o cara escutano sua música mano...na rua trampano... de camelô...você dá orgulho nele ...você injetô um baguio nele que ninguém injeta...nem uma Ong...nem escola....nem nada ...então esse/essa esse trabalho já é muito mano quantas vida foi mudada uma através da outra?...tá ligado? o Negredo tá aqui por causa de algum grupo de rap...tá ligado?...porque alguma coisa eles viram eu escrevi meu livro por causa de grupo de rap eu sempre falei isso em todos lugar que eu falo eu sempre falei que eu fui pego num show de rap... um show de rap que o cara cantô e depois desceu no público...pa falá cum nóis...pegô na minha mão eu só via show gringo... curtia rock... eu via os cara pequenininho lá em cima os cara saía e pegava o avião saía de são Paulo...e ia pa outro país... depois vi um grupo de rap desceno lá em baixo conversano com todo mundo falei...carai esses cara aí tem a vê comigo mano... então cê é sempre pego num baguio...tá ligado?...então num é a toa o trampo muda a vida de uma par de gente mano... isso já é um trampo fodido Mano Brown: mais pra quem curte o rap...é necessário que:: ele...ele se:: moder...num vô dizê modernizá...mais ele:: Alguém: (evoluir né)? Jornalista: profissionalize [xxxxx] Mano Brown: [éh::...o mais rápido possível] senão num vai sobrá nada pra ninguém entendeu?...porque as pessoa tá reclamando muito da rUindade do rap Alguém: é verdade...isso é verdade Mano Brown: falta qualidade falta tudo...falta som falta luz falta letra falta batida falta:: [idéia] Alguém: [ritmo] Mano Brown: & falta::...tá ligado? as pessoa tá/as própria pessoa que curte...tão reclamano da pobreza do rap...pobreza em todos os sentidos entendeu?...de idéia pobreza de roupa de:: palavra...idéia...de som....banheiro sujo...ambiente:: carregado o nosso póprio povo qué modernizá Negredo: eu penso assim...essa decadência do rap pra mim...infelizmente...ó até hoje eu não ganhei um real no rap...mais pra mim é bom....[porque eu vou falá pu cê]& Alguém: ó::...um real... Negredo: & não...[um real] Alguém: [cê vendeu seu disco...cachorro] ((risos)) Negredo: não...eu vendi mais eu produzi com o meu bolso...eu falo ganhá é você ter... ganhá que eu falo é você vivê do rap Mano Brown: éh...a gente vai passá por isso tamém mano...mais cedo ou mais tarde quando começá a aparecê os grupo de rap rico...éh::...us:: os DJ rico...a gente vai passá por isso tamém...aí já passa um novo estágio....aí você tem que se impô::...pus cara num acha que cê tá alienado porque cê tá rico cê vai te que se impô de alguma forma...pra você num perdê sua raiz...aí você vai tê que se impô pus malandro num achá que cê virô bunda mole...aí cê vai ter que se impô...aí cê vai/a vida é assim... quando você tá pobre cê tem que se impô porque o dono da padaria num:: num o balconista num num responde você na hora que você pergunta... tá ligado?..você perde((outros riem)) é tá ligado? Negredo: [acho que hoje a gente já se impõe né] Mano Brown: então toda toda (tudo quanto é) parte da vida cê vai tê barreiras cê vai tê que se impô mano... e o cara que vem da favela tem que se impô o tempo todo... o tempo todo...tem que se impô mano... desde du:: vizinho do lado cê tem que se impô...cê briga por/(porque) tudo é uma questão de sobrevivência ANEXO 2: NORMAS DE TRANSCRIÇÃO 1. Fenômenos seqüenciais Exemplo 1. overlap/encavalamento/superposição de [ inicio do overlap turnos ] fim do overlap MA é: EM [.h JM [nã:o num ve- num veio\ Exemplo 2: MA [é u que/] AN [é intru]so (.) AN e:[i:n:: ] MA [para de] cumê pra falá Latching palavra final= EM [.h JM [nã:o num ve- num veio\= =palavra inicial EM =ela falou pra mim/ (.) ela tem um parente fazendo cirurgia\ 2. Pausas micro pausas, inferiores a 0,3 segundos (.) uma pausas medidas com ajuda de programas MG a:nã:o/(0,2) editores de som, como Audacity, praat, etc. (0,4), (1,0), (2,3) a a a era- (0,2) unidade em segundos 3. Fenômenos segmentais MG alongamento silábico : .h a: p- prefessora nu:m ve:io\ MG alongamento silábico : .h a: p- a: p- prefessora nu:m ve:io\ MG truncamento de palavras - .h prefessora nu:m ve:io\ MG inspiração do locutor .h .h a: p- prefessora nu:m ve:io\ expiração do locutor H MS H °ahn°/ / EM ela falou pra 4. Prosódia entonação crescente/ ascendente mim/ (.) ela tem um parente fazendo uma cirurgia\ entonação decrescente \ EM ela falou pra mim/ (.) ela tem um parente fazendo uma cirurgia\ ênfase particular segmento AD sublinhado ai oh/ no:ssa/ issu (0.4) que: qu^é isso hein/ (1.6) a sinhora vai bater um pra:to (.) que eu vô tê fala hein/ volume forte de voz segmento em EM a MAIÚSCULA ROSAUra// dona MG : é: °° volume baixo, murmúrio de voz MA °num conhece o limo°xxx xx° COMENTÁRIOS E DESCRIÇÕES em itálico e entre parênteses encontram-se os comentários do transcritor e fenômenos e MH atividades trouxa\ não-transcritos, como risos, ((comentários)) pra carregar leitura, mudança de lugar, saída da sala, ma ((risos))MA aí conversas de fundo não transcrita etc. tá certo delimitação do segmento de fala MH <fui no correspondente à descrição feita (quando < > tororó/(.) beber> houver) mh <((cantando))> ou MH <((cantando))fui no tororó/ (.) beber> INCERTEZAS DO TRANSCRITOR e IMPRECISÕES quando o transcritor apresenta dúvida com (hipótese do que se MA depois chegô relação ao segmento produzido uma mãe cum uma ouviu) (criança)/ (hipótese1 /hipótese2) MH a gente fazia(trouxa/colcha) Segmentos incompreendidos/inaudíveis indicar com x , AD mas ela num correspondente, xxx/ sempre que MA naum xx ali possível, ao número sílabas hum/ de ele atendeu so u:(.) maridu\ produzido DESCRIÇÃO DE AÇÕES ( como gestos de apontar, direcionamento do olhar, postura relacionados à fala) * delimitação da MG +é:+ ação descrita na mg +balança linha seguinte afirmativamente relacionada à fala cabeça+ a ------ continuação MA +.h da ação. prefessora a: p- nu:m ve:io\+ ma +volta-se para JM --------+ ----> (linha x) indica DA tá\ (.8) seu que a ação descrita valmir/ +eu quero continua até que o senhor determinada linha desenhe pra mim aqui um relógio /+ da +entregando à VM uma folha de papel-------->+ $(.)marcando oito e vinti\ da *faz anotações no prontuário vm * ------desenha------->> (line 33) MARCAÇÕES GRÁFICAS MA sai da[i: não]& continuação do turno de fala pelo mesmo locutor após uma quebra da linha da transcrição para introduzir um overlap de outro interlocutor IS [eu não\ to & vendo/] MA &mexe aí IDEOFONES e INTERJEIÇÕES (extraído do NURC/SP No. 338 EF e 331 D2) Para manifestar concordância hum, hmm, hm-hm, EM num é/ hum-hum (.) NS Fáticos °hm-hum° ah / eh/ éh/ ahn/ JM °eu VI°(0,5) ehn/ uhn/ tá/ EM Ahn/ JM &um se- cretário da justi:ça° Fonte: Morato et al. (2007)