Mônica Alcantara de Oliveira Santos ESTUDO COMPARATIVO DOS ACHADOS NA VECTOELETRONISTAGMOGRAFIA EM INDIVÍDUOS NORMAIS E PORTADORES DE PARALISIA DE BELL Tese apresentada ao curso de Pósgraduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do título de Doutora em Pesquisa em Cirurgia. São Paulo 2013 Mônica Alcantara de Oliveira Santos ESTUDO COMPARATIVO DOS ACHADOS NA VECTOELETRONISTAGMOGRAFIA EM INDIVÍDUOS NORMAIS E PORTADORES DE PARALISIA DE BELL Tese apresentada ao curso de Pósgraduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do título de Doutora em Pesquisa em Cirurgia Área de concentração: Reparação Tecidual Orientador: Prof. Dr. Paulo Roberto Lazarini São Paulo 2013 FICHA CATALOGRÁFICA Preparada pela Biblioteca Central da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo Santos, Mônica Alcantara de Oliveira Estudo comparativo dos achados na vectoeletronistagmografia em indivíduos normais e portadores de paralisia de Bell./ Mônica Alcantara de Oliveira Santos. São Paulo, 2013. Tese de Doutorado. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – Curso de Pós-Graduação em Pesquisa em Cirurgia. Área de Concentração: Reparação Tecidual Orientador: Paulo Roberto Lazarini 1. Paralisia facial 2. Paralisia de Bell 3. Doenças vestibulares 4. Eletronistagmografia 5. Estudos prospectivos BC-FCMSCSP/68-13 A toda minha família, por me incentivar a enfrentar os desafios, em especial a minhas filhas, que me ensinaram a vêlos com importância. sua verdadeira AGRADECIMENTO ESPECIAL Ao Professor Doutor Paulo Roberto Lazarini, Professor Adjunto do Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, um orientador presente e companheiro. AGRADECIMENTOS À Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e à Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, meu amado berço na medicina e na otorrinolaringologia. Ao Prof. Dr. Ivo Bussoloti Filho, Professor Adjunto do Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo, pela confiança. Ao Prof. Dr. Otacílio Lopes Filho, Professor Titular do Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo, pelo muito que me ensinou. Ao Prof. Dr. Lidio Granato, Professor Titular do Departamento Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo, um professor nato. de Ao Prof. Dr. Ney Penteado de Castro Júnior, Professor Titular do Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo, que sempre me incentivou. Ao Prof. Dr. José Eduardo Lutaif Dolci, Professor Titular do Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo, pela oportunidade de fazer parte desta instituição. Ao Prof. Dr. Henrique Olavo Olival Costa, Professor Titular do Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo, por impulsionar o pensar. Ao Prof. Dr. Fernando Quintanilha Ribeiro, Professor Adjunto do Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo, por acreditar na pesquisa. Ao Prof. Dr. Carlos Alberto Herrerias de Campos, Professor Adjunto do Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo, por me incentivar a escolher esta especialidade. Ao Prof. Dr. Osmar Mesquita de Sousa Neto, Professor Adjunto do Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo, por compreender minha ausência quando esta foi necessária. À Profa. Dra. Cláudia Alessandra Eckley, Professora Assistente da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, pelo exemplo de postura. Aos Profs. Drs. Ana Cristina Kfouri Camargo, Celina Siqueira Barbosa Pereira, Leonardo da Silva e Alessandro Murano Ferre Fernandes, membros de minha banca de qualificação, por enriquecerem este trabalho. Ao Prof. Dr. Edson Kiyoshi Taciro, Professor Instrutor do Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo, pelas palavras de incentivo. Ao Prof. Dr. Edson Ibrahim Mitre, Professor Instrutor do Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo, pelos conhecimentos cirúrgicos. Ao Prof. Dr. André de Campos Duprat, Professor Instrutor do Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo, pelos conhecimentos e conselhos. Ao Prof. Dr. Carlos Kayoshi Takara, Professor Instrutor do Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo, pelo exemplo de paciência e humildade. Ao Prof. Arnaldo Szajubok, Professor Convidado do Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo, pelo ensino voluntário. Ao Prof. Dr. Arthur Guilherme Leite de Bittencourt Sousa Augusto, Professor Convidado do Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo, por acreditar na ciência. Às Profas. Dras. Ana Paula Saccab Zarzur, Bianca Maria Liquidato e Rita de Cássia Soler, Professoras Convidadas do Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo, por doarem parte de seu tempo à formação dos residentes do departamento. Ao Prof. José Carlos Burlamaqui, Professor Convidado do Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo, pelos ensinamentos durante minha formação profissional. Ao Prof. André Ricardo Mateus, Professor Convidado do Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo, por ser muito presente durante minha residência. Ao Prof. Oscimar Benedito Sofia, Professor Convidado do Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo, por introduzir novos conhecimentos no departamento. Ao Prof. Salah Ali Osman, Professor Convidado do Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo, por sua capacidade de chefiar com inteligência. Aos Profs. Rodolfo Alexander Scalia, Carlos Augusto Correia de Campos, Eduardo Landini Lutaif Dolci, Gustavo Noffs, Ricardo Landini Lutaif Dolci e Andressa Guimarães de Prado Almeida, que compartilham a doação e a alegria de estar na Santa Casa. Aos Profs. Gil Junqueira Marçal, Julia Maria Olsen, Ligia Elena Silva Ricioli, Lucas Bevilácqua Alves da Costa, Milena Alves Lima, Renata Nunes Périco, Samantha Regina Dutra Ferrari Bannwart, Professores Convidados do Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo, por terem participado de minha formação e ainda fazerem parte de meu crescimento profissional. Às fonoaudiólogas da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, em especial à Profa. Dra. Lucia Kazuko Nishino, Profa. Dra. Maria do Carmo Redondo, Fga. Lizanne Ikegaya e Silva e Fga. Lissa Maira Matsuo, por possibilitarem a execução deste trabalho. Aos amigos Dra. Andrea Kussama Matsunaga, Dr. Marco Antônio dos Anjos Corvo, Profa. Dra. Melissa Ferreira Vianna, Profa. Dra. Sandra Doria Xavier e Profa. Dra. Sylvia Heloisa Arantes Cruz, Dra. Taciane Brinca Soares Saliture, que acompanharam de perto esta fase de minha vida. Aos residentes do Departamento de Otorrinolaringologia, pelo auxílio indispensável na realização deste estudo. Aos secretários da pós-graduação e funcionários do NAP, sempre presentes e prestativos. A todos os assistentes, colegas e funcionários do Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo, em especial às secretárias Maria Zélia Cirino Vieira, Telma Vieira Arlindo e Ana Lúcia de Oliveira, pela amizade e apoio. Aos pacientes, que mais do que possibilitarem a execução deste trabalho, são o motivo real para esta e outras pesquisas. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo suporte financeiro concedido. ABREVIATURAS E SÍMBOLOS °C Graus Celsius °/s Graus por segundo dB NA Decibel nível de audição DNA Ácido desoxirribonucleico EIFO Efeito inibidor da fixação ocular ENG Eletronistagmografia HB House- Brackmann MAI Meato Acústico interno mL Mililitro OMC Otite média crônica PAETE Potencial auditivo evocado de tronco encefálico PB Paralisia de Bell PCR “Polymerase Chain Reaction” = Reação de Polimerase em Cadeia PDN Preponderância direcional do nistagmo PFP Paralisia facial periférica PL Predomínio labiríntico PRPD Prova rotatória pendular decrescente RM Ressonância magnética SRH Síndrome de Ramsay Hunt SVP Síndrome vestibular periférica VACL Velocidade angular da componente lenta VEMP “Vestibular Evoked Myogenic Potencial” = Potencial Evocado Miogênico Vestibular VENG Vectoeletronistagmografia VHH – 6 Vírus herpes humano do tipo 6 VHS Vírus herpes simples VVZ Vírus varicela zoster SUMÁRIO 1 - INTRODUÇÃO .............................................................................................. 1 1.1 – Revisão da Literatura ....................................................................................... 7 2 – OBJETIVOS ............................................................................................... 24 3 – CASUÍSTICA E MÉTODO .......................................................................... 25 3.1 – Seleção dos casos clínicos ............................................................................. 25 3.1.1 – Critérios de inclusão ................................................................................ 25 3.1.2 – Critérios de exclusão ............................................................................... 25 3.2 – Grupo controle ................................................................................................ 26 3.3 – Método ........................................................................................................... 26 3.3.1 – Acompanhamento médico ....................................................................... 26 3.3.2 – Exame audiométrico ............................................................................... 27 3.3.3 – Exame vestibular .................................................................................... 27 3.3.4 – Exame de imagem .................................................................................. 28 3.4 – Análise estatística........................................................................................... 29 3.5 – Levantamento bibliográfico ............................................................................. 29 4 – RESULTADOS ........................................................................................... 31 4.1 – Análise descritiva do grupo caso .................................................................... 31 4.2 – Análise descritiva do grupo controle ............................................................... 33 4.3 – Análise comparativa dos grupos caso e controle ............................................ 34 4.4 – Análise comparativa dos resultados da VENG nos grupos caso e controle .... 35 4.5 – Análise comparativa dos valores da prova calórica entre o lado afetado e o lado não afetado pela paralisia ............................................................................... 37 4.6 – Análise comparativa entre os indivíduos com PFP com VENG normal e alterada .................................................................................................................. 38 4.6.1 – Idade........................................................................................................ 38 4.6.2 – Sexo ........................................................................................................ 39 4.6.3 – Lado da paralisia ..................................................................................... 39 4.6.4 – Grau de paralisia no momento da admissão ............................................ 40 4.6.5 – Audiometria ............................................................................................. 41 4.6.6 – Reflexo estapediano ............................................................................... 42 4.6.7 – Evolução .................................................................................................. 42 4.6.8 – Tontura ................................................................................................... 43 5 – DISCUSSÃO .............................................................................................. 45 5.1 – Sobre os dados epidemiológicos da amostra ................................................. 46 5.1.1 – Sexo ........................................................................................................ 46 5.1.2 – Idade........................................................................................................ 46 5.2 – Sobre os controles ......................................................................................... 47 5.3 – Sobre o método .............................................................................................. 50 5.3.1 – Sobre a VENG ......................................................................................... 50 5.3.2 – Sobre a prova calórica a água ................................................................. 51 5.4 – Sobre os resultados da VENG ........................................................................ 54 5.4.1 – Testes oculomotores................................................................................ 54 5.4.2 – Testes vestibulares .................................................................................. 55 5.5 – Sobre os pacientes com VENG alterada ........................................................ 57 5.5.1 – Sobre a idade .......................................................................................... 57 5.5.2 – Sobre o sexo............................................................................................ 57 5.5.3 – Sobre o lado da paralisia ........................................................................ 58 5.5.4 – Sobre o grau de paralisia na admissão ................................................... 58 5.5.5 – Sobre os achados audiométricos ............................................................ 59 5.5.6 – Sobre o reflexo estapediano ................................................................... 61 5.5.7 – Sobre a evolução .................................................................................... 61 5.5.8 – Sobre a tontura ....................................................................................... 62 5.6 – Considerações finais ...................................................................................... 64 6 – CONCLUSÕES .......................................................................................... 65 7 – ANEXOS .................................................................................................... 66 Anexo 1 ................................................................................................................... 66 8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 68 FONTES CONSULTADAS ............................................................................... 73 RESUMO.......................................................................................................... 74 ABSTRACT ...................................................................................................... 75 APÊNDICES..................................................................................................... 76 1 – INTRODUÇÃO A paralisia facial periférica (PFP) foi descrita por Sir Charles Bell (17741842) em 1821 (Bell, 1821). Inicialmente, todos os quadros de paralisia do nervo facial passaram a ser chamados de Paralisia de Bell (PB), entretanto, com a descoberta de causas da doença, apenas os quadros de paralisia facial periférica idiopática mantiveram esta denominação. A PB é a forma clínica mais comum de PFP (Adour, 1982; Morgan et al, 1995; Takahashi et al, 2001). Sua incidência foi estimada em 20 a 30 casos em cada 100.000 pessoas (Davis, 1981; Hadar et al, 1983; Linder et al, 2005). Embora seja o tipo mais frequente de PFP, a causa da PB ainda é objeto de inúmeras teorias e questionamentos. Após 150 anos de sua primeira descrição, na década de 70, alguns autores publicaram alterações neurológicas que acompanhavam o quadro da PB e relataram possíveis evidências de que a doença seria apenas uma das manifestações de uma neuropatia difusa e generalizada, uma polineuropatia (Djupesland et al, 1977; May, Hardin, 1977; Adour et al, 1978). Mesmo após esta década, associações de casos de PFP com acometimentos de outros nervos cranianos, como o III (oculomotor), V (trigêmeo), VI (abducente), VIII (vestibulococlear), IX (glossofaríngeo), X (vago) e XII (hipoglosso) são encontrados na literatura (Cicala et al, 1977; Lapresle et al,1980; Bertier et al, 1992). O acometimento do VIII nervo craniano, em associação com a PFP, foi particularmente aventado por alguns autores por sua proximidade com o nervo 2 facial, tanto no trajeto dentro do meato acústico interno (MAI), como das estruturas de orelha interna. Algumas etiologias foram levantadas, na tentativa de explicar esta associação: • Philipszoon (1962), que defendia a etiologia vascular para a PFP, referia que o labirinto, em especial o canal semicircular lateral, que se situa muito próximo ao trajeto do nervo facial, também seria afetado. Segundo o autor, lesões isquêmicas no MAI ou próximas aos núcleos facial e vestibular, na ponte, levariam à ocorrência simultânea de PFP e disfunções vestibulares. • Fish, Esslen (1972) descreveram a presença de edema na porção intratemporal do nervo facial que poderia, por compressão, levar a uma disfunção vestibular associada. • Adour, Doty (1973) acreditavam na etiologia viral - provavelmente pelo vírus varicela zoster (VVZ) - para a associação da PB com alterações vestibulares. A etiologia viral é atualmente a mais aceita para a PB. A associação do VVZ com a PFP foi primeiramente descrita por Tryde* em 1872 e, apenas em 1907, James Ramsay Hunt† (1872-1937) descreve sistematicamente manifestações de PFP e lesões cutâneas típicas (vesículas e bolhas na pele das conchas auriculares), associadas frequentemente a zumbido e vertigem. Quadro que passou a ser chamado de Síndrome de Ramsay Hunt (SRH). * Tryde C. (1872) apud Tschiassny K. The site of the nerve lesion in cases of Ramsay Hunt´s Syndrome. Ann. Otol. 1946; 55:152-74. † Hunt JR. (1907) apud Peitersen E. Bell's palsy: the spontaneous course of 2,500 peripheral facial nerve palsies of different etiologies. Acta Otolaryngol Suppl 2002; (549):4-30. 3 Diversas pesquisas clínicas, sorológicas, imunológicas e morfológicas indicam que o vírus herpes simples (VHS) é o principal vírus envolvido, de forma direta ou indireta, nos mecanismos de agressão ao nervo facial na PB (Adour et al, 1975; Davis, 1981; Furuta et al, 1992; Takahashi et al, 2001). O advento do teste de reação de polimerase em cadeia (PCR) possibilitou novas publicações que vieram a confirmar esta hipótese (Furuta et al, 1997; Murakami et al, 1998; Pitkäranta et al, 2000; Lazarini et al, 2006b). McCormick (1972) foi o primeiro a sugerir o envolvimento do VHS na PB e a propor a teoria da reativação viral, que explicaria a relação da PFP não apenas com o VHS, como também com o VVZ, entre outros vírus. De acordo com esta teoria, após um contágio inicial, o vírus seguiria por via sanguínea ou axonal retrógrada até os gânglios sensitivos e nestes, permaneceria latente, como demonstrado pelos estudos de Bastian et al (1972), Furuta et al (1992) e Takasu et al (1992). A reativação viral ocorreria por uma diminuição da atividade imune que poderia ser desencadeada por alterações metabólicas (McCormick, 1972), procedimentos cirúrgicos ou odontológicos (Furuta et al, 2000; Safdar et al, 2006) ou mesmo situações de estresse ou imunossupressão (Tomishima et al, 2001). Os vírus, quando reativados, sofreriam replicação e difundir-se-iam pelo nervo facial e seus ramos, levando ao processo inflamatório que acarretaria a PFP. Esta teoria permitia aventar que os vírus, quando reativados, não acometeriam apenas o nervo facial e seus ramos, mas outras estruturas com 4 alguma relação de proximidade, como o nervo vestibular e as estruturas da orelha interna. Nos casos de SRH é comum a queixa de tontura. Adour, em revisão de literatura sobre complicações do VVZ (Adour, 1994), afirmou que Ramsay Hunt, um ano após descrever a SHR, considerou que a doença teria uma extensão maior que apenas a PFP, podendo acometer principalmente os nervos cranianos V, IX e X, cunhando o termo "herpes zoster cefálico". No caso da PB, os achados vestibulares seriam considerados uma disfunção latente, uma vez que é incomum a queixa de tontura (Watanabe et al, 1993). Algumas pesquisas foram conduzidas na tentativa de descrever achados de disfunção vestibular em pacientes com PB. Os trabalhos existentes utilizaram a eletronistagmografia (ENG), instrumento que permitia detectar e mensurar o nistagmo com mais precisão do que as técnicas existentes até o momento, que eram baseadas no exame físico sob visão direta e a utilização dos óculos de Frenzel (Philipszoon, 1962). Sendo uma técnica nova na época, a ENG era bastante questionada pelos próprios autores, que afirmavam que o exame exigia experiência por parte do examinador e que os achados anormais eram discutíveis, principalmente em portadores de PFP sem queixa vestibular específica (Adour, Doty, 1973; Uri, Schuchman, 1986). Jongkees, Philipszoon (1964) descreveram a utilização da medida da velocidade angular da componente lenta do nistagmo (VACL) como base para as mensurações, mas ainda não havia sistematização dos parâmetros utilizados. Em alguns trabalhos, a prova calórica era realizada com 30 segundos de estimulação 5 com água a 30 e 44 °C (Philipszoon, 1962); outros utilizaram 20 mL de água a 27 e 47 °C (Lämmli, Fish, 1974) e ainda houve autores que optaram entre 20mL de água a 44 ou 30 ou 20 °C (Watanabe, Suzuki, 2006). A definição de anormalidade também não era bem definida. Adour, Doty (1973) consideraram diferenças maiores que 15% entre os lados, como resposta alterada. Uri, Schuchman (1986) consideraram diferenças maiores que 20%. Philipszoon (1962) definiu como alteradas as respostas com diferença maior que dois desvios padrões de um grupo controle com 47 indivíduos normais. Estudos com grupo controle eram raros. Watanabe, Suzuki (2006) utilizaram pacientes com otite média crônica (OMC) como controles. Adour, Doty (1973) avaliaram a presença de nistagmo espontâneo em indivíduos que foram considerados controles normais. Nestes, observou-se que 4% apresentaram nistagmos espontâneo ou posicional, o que os autores consideraram um valor dentro da normalidade. Isso porque outros trabalhos contemporâneos que avaliaram indivíduos normais apresentavam presença de nistagmo espontâneo variando de 1,2% (Jongkees, Philipszoon, 1964) a 35% (Bergstedt, 1961). Estes achados permitem questionar a qualidade dos grupos controles escolhidos, assim como a acurácia do exame em questão. Atualmente dispõe-se da vectoeletronistagmografia (VENG) computadorizada. O exame possui três canais de registro, o que possibilita a avaliação dos movimentos oculares oblíquos e melhor caracterização da velocidade do nistagmo (Flores, Franco, 2003). Além disso, o uso do computador permite avaliar parâmetros como: latência, precisão, ganho, fase e simetria; todos 6 por comparação entre as intensidades do estímulo e da resposta (Ganança et al, 2000). Diante desta realidade, na qual há uma tecnologia mais evoluída de registro das respostas nistágmicas, de padrões já definidos para a técnica de estimulação e para os critérios de normalidade, reconhecemos a importância de estudar a presença de alterações vestibulares em pacientes com PB, utilizando-se da VENG. Além disso, a possibilidade de avaliar um grupo controle adequado e pareado nos permite não apenas descrever a frequência desta associação – PB e alterações vestibulares – mas definir sua importância e caracterizá-la em nosso meio. 7 1. 1 - Revisão da Literatura Bergstedt, em 1961, com o objetivo de estudar os nistagmos posicionais, utilizou uma prova centrífuga, na qual os sujeitos da pesquisa permaneciam em rotação por um tempo que variava de 15 minutos a duas horas e meia. Inicialmente, o autor analisou 17 indivíduos sadios (grupo A) e nove indivíduos que apresentavam nistagmo espontâneo ou posicional (grupo B). O teste centrífugo não provocou nistagmo no grupo A, nem alterou os nistagmos espontâneos préexistentes, porém aumentou a intensidade dos nistagmos posicionais. Parte dos sujeitos de cada grupo receberam álcool, de forma a apresentarem o que os autores chamaram de “nistagmo pós álcool”. Observou-se que a aceleração angular aumentava os “nistagmos pós álcool”, porém, a quantidade de álcool ingerida não teve relação com a intensidade deste aumento. O autor avaliou um terceiro grupo (grupo C), composto por 42 indivíduos com tontura. A avaliação destes 42 pacientes mostrou que 18 apresentaram nistagmo posicional e, destes, em 13 houve aumento da intensidade com o teste centrífugo; 19 apresentaram nistagmo espontâneo e, destes, em quatro houve um aumento na intensidade com o teste; cinco pacientes não apresentaram nistagmo e permaneceram sem nistagmo após terem sido submetidos ao teste centrífugo. Após o extenso trabalho observacional, os autores concluíram que a intensidade do nistagmo posicional teria relação com o campo gravitacional e, portanto, os órgãos otolíticos poderiam ser considerados os mecanismos primários de deflagração dos nistagmos posicionais. Philipszoon, em 1962, baseado na hipótese de etiologia vascular para a PFP e devido à proximidade do canal semicircular lateral com o nervo facial, 8 avaliou 12 pacientes com PB quanto aos achados na ENG, como nistagmo espontâneo e diminuição da resposta à prova calórica com água, com estimulação por 30 segundos a 30 e 44 °C. O autor considerou resposta anormal a diferença entre as orelhas maior do que dois desvios padrões dos achados em 47 controles normais. Dos seus resultados, dez indivíduos apresentaram nistagmo espontâneo, sendo seis com direção da componente rápida para o lado da paralisia, três para o lado contrário e um, bidirecional. Nove indivíduos foram submetidos à prova calórica: quatro tiveram resposta diminuída do lado afetado, três respostas normais e dois não apresentaram respostas bilateralmente. O autor concluiu que seus achados reforçavam a ideia de que uma causa comum acometeria o nervo facial e causaria os nistagmos. Jongkees, Philipszoon, em 1964, publicaram um trabalho pioneiro, com o objetivo de demonstrar o valor da ENG como método de avaliação vestibular. Os autores descreveram como funcionaria o registro da movimentação ocular, como deveria ser calibrado o aparelho, como seriam fixados os dois eletrodos de captação e um eletrodo terra, que funcionariam a partir da captação da diferença de potencial entre a córnea e a retina. Foram avaliados 149 indivíduos sadios, 145 indivíduos com perdas auditivas sensorioneurais uni ou bilaterais e 68 indivíduos com perdas auditivas condutivas. Os indivíduos foram avaliados com o uso da ENG quanto à presença de nistagmo espontâneo e posicional. Dos 149 indivíduos sadios, 36 apresentaram nistagmo em uma ou mais posições. Destes, 9% tiveram VACL maior que seis graus por segundo e apenas 3% dos indivíduos, velocidade acima de sete graus por segundo. Os autores concluíram que os nistagmos espontâneos maiores que sete graus por segundo deveriam ser considerados 9 patológicos, assim como a presença de nistagmo em mais de duas posições. Em uma segunda parte, os autores avaliaram 12 pacientes com PB e dez deles apresentaram nistagmo posicional. A prova calórica foi realizada em nove dos 12 pacientes e evidenciou quatro indivíduos com resposta diminuída do lado da paralisia, dois com ausência de resposta e três com exame normal. Os autores concluíram que a PB e a disfunção vestibular, assim como outros acometimentos da orelha interna, teriam uma causa única, cuja origem seria vascular. A terceira parte do artigo tratou da prova calórica, na qual os autores propuseram a realização da prova utilizando estimulação com água a 30 e 44°C e a valorização da diferença relativa entre os resultados encontrados. McCormick, em 1972, publicou sua hipótese de reativação viral como causa da PB, na qual afirmou que grande porcentagem dos casos de PB poderia ser causada pelo VHS. O vírus, segundo sua teoria e observações, ficaria latente, de forma a proteger-se de anticorpos e células mononucleares. A PB ocorreria quando o vírus, uma vez reativado, migraria pelo nervo facial e levaria a uma neurite compressiva dentro do seu canal ósseo, no osso temporal. Adour, Doty, em 1973, compararam os achados da ENG e da função de outros pares cranianos em 28 pacientes com PB e em 19 com SRH, no intuito de avaliar características similares que reforçassem a ideia de que o fator etiológico da PB também seria viral. Vinte e cinco controles normais também foram avaliados. A prova calórica foi realizada com estímulos com água por 30 segundos a 44 e 30 °C, sendo considerado alterado o resultado da prova com diferença maior que 15% entre os lados. Oito dentre os 28 pacientes com PB, oito entre os 19 com SRH e um entre os 25 controles apresentaram nistagmo espontâneo e/ou 10 de posicionamento. Oito pacientes com PB e um paciente com SRH apresentaram hiporreflexia na prova calórica, sendo, em cinco casos, contralateral à PFP. Os outros possíveis achados nos controles não são descritos. Hipoestesia acometimento trigeminal - foi encontrada em 25% dos casos de PB e em 60% dos de SRH. Os autores concluíram que, apesar da ENG ainda ser um exame com falhas na definição de valores normais e nos parâmetros de interpretação, os resultados obtidos sugeriam que, como os achados foram semelhantes nos grupos com PB e com SRH, a causa das duas doenças seria a mesma, ou seja, ambas teriam origem viral. Lämmli, Fish, em 1974, com o objetivo de avaliar as alterações vestibulares nos pacientes com PB e relacioná-las ao grau da paralisia, submeteram 25 pacientes com PB à ENG, utilizando-se de estímulo com 20mL de água a 27 e 47 °C. Observaram nistagmo espontâneo de até cinco graus por segundo em 75% dos pacientes. Após quatro meses, ainda 16% dos pacientes exibiam esta alteração, o que os autores consideraram um valor dentro da normalidade. Naqueles pacientes cujo nistagmo desapareceu mais precocemente, houve menor alteração vestibular. Observaram hiporreflexia ipsilateral à PFP em 50% dos casos e hiperreflexia ipsilateral nos outros 50%. Os autores concluíram que não houve relação entre as alterações vestibulares e o grau da paralisia; apenas o desaparecimento mais precoce do nistagmo espontâneo estava relacionado com os casos de menor acometimento vestibular. Adour et al, em 1975, verificaram a presença de anticorpos anti-VHS em amostras sanguíneas de 41 indivíduos com PB (100%) e em 35 dos 45 controles sadios (85%). Os autores afirmaram que, como os anticorpos não indicaram 11 infecção aguda, ratificava-se a hipótese de que o vírus ficaria latente nos gânglios sensitivos e, após reativação, levaria à neurite e, consequentemente, à PFP. Coats et al, em 1976, observaram que a prova calórica com estímulo com ar parecia apresentar maior variabilidade de resposta que a prova com água. Os autores realizaram experimentos utilizando ar a 25 e 47 °C por 60 segundos, 10 litros por minuto e verificaram que a variabilidade do teste diminuía quando o fluxo de ar era maior e mais longo. Como a temperatura ambiente exercia influência sobre a temperatura do ar, os autores sugeriram aproximar a temperatura do ar da temperatura do corpo humano. Concluíram que a prova com ar deveria ser realizada a 27,5 e 45,5 °C por 100 segundos e 13 litros por minuto. Cicala et al (1977) descreveram um caso de uma paciente de 64 anos com PFP esquerda que apresentou acometimento dos nervos cranianos V, VII, VIII, IX e X. A paciente manifestou, além da PFP, disfagia, dor em hemiface e orelha, hipoacusia, zumbido e paralisia do véu palatino ipsilaterais à paralisia, com vesículas na mucosa orofaríngea e pavilhão auricular esquerdos. Os autores definiram como possíveis mecanismos patogênicos: a difusão do vírus pelo nervo, a compressão dos nervos pelo processo inflamatório vigente e a propagação pelos gânglios. May, Hardin (1977) avaliaram 500 pacientes com paralisia facial no intuito de diferenciar a PB de outras causas de paralisia. Os indivíduos foram analisados quanto a movimentação facial, alterações oculares, de língua e de palato, sensibilidade facial, gustação, reflexo estapediano e disacusia, além de serem submetidos à ENG, cuja técnica e os parâmetros utilizados não foram descritos. Os autores relataram que 20% dos casos não foram considerados como PB, pois 12 foram detectadas outras causas para a paralisia, principalmente neurológicas e tumorais. Oitenta e oito pacientes com PB (22%) apresentaram alterações na ENG, que não foram detalhadas. Os autores propuseram que, devido ao grande número de achados neurológicos, a PB seria resultado de uma polineuropatia, que se iniciaria nos ramos sensitivos dos nervos cranianos. Greven et al (1979), realizaram provas calóricas em 28 indivíduos, utilizando estimulação com ar a 30 e 44 °C e estimulação com água a 20 e 50 °C. Os autores observaram que na estimulação com água, a resposta foi significantemente mais forte que com ar. Concluíram que a prova calórica com estimulo com água seria o método de escolha para a avaliação vestibular e que a prova com ar deveria ser uma opção apenas nos casos em que a primeira não pudesse ser utilizada. Lapresle et al, em 1980, observaram alterações no nervo trigêmeo, de diminuição da sensibilidade da face, em 14 de 24 pacientes com PB e discutiram uma possível origem vascular para os casos, devido à irrigação comum dos dois nervos acometidos que ocorre pelo ramo petroso da artéria meníngea média. Além disso, para exemplificar esta teoria, descreveram um caso de complicação pós embolização no qual houve envolvimento dos nervos cranianos VII e VIII. Uri, Schuchman, em 1986, avaliaram a função vestibular de 24 pacientes com PB, que foram submetidos aos exames: potencial auditivo evocado de tronco encefálico (PAETE) e ENG com estimulação com água a 30 e 44 °C, sendo consideradas alteradas as respostas com diferença maior do que 20% entre as orelhas. Vinte indivíduos sadios formaram o grupo controle. Seis pacientes do grupo estudo (25%) apresentaram alterações no PAETE. Sete pacientes 13 apresentaram alteração na ENG, sendo quatro indivíduos com nistagmo espontâneo e cinco, com resposta diminuída na prova calórica do lado comprometido pela paralisia. Os controles apresentaram a ENG normal. Os autores concluíram que as alterações encontradas contribuíram para o entendimento da fisiopatogenia da PB e que o advento de técnicas mais sensíveis poderia revelar possíveis alterações vestibulares latentes ou sub clínicas. Koizuka et al, em 1988, avaliaram 40 pacientes com PB quanto às alterações vestibulares, observadas à ENG. Os autores observaram que os indivíduos com diminuição da resposta vestibular à prova calórica apresentavam um maior grau de paralisia na fase inicial, mas não houve relação com o grau de melhora. Nos indivíduos que apresentaram preponderância direcional, não houve relação dos achados vestibulares com o grau de paralisia inicial, nem com o grau de melhora. Maior grau de paralisia e menor grau de melhora foram observados em pacientes que não demonstraram efeito inibidor da fixação ocular. Yagi et al, em 1988, com o objetivo de diferenciar casos de PB de casos de SRH pela avaliação otoneurológica, submeteram 23 pacientes com PB e 25 com SRH a audiometria tonal e ENG (os parâmetros utilizados não foram descritos). Os pacientes com PB apresentaram: audiometrias com limiar pior do lado afetado pela paralisia em 21,7% dos casos, 26,1% de nistagmo espontâneo com olhos abertos no escuro e 13% de hipofunção na prova calórica. Nos casos com SRH, o limiar audiométrico do lado afetado era pior em 54,2% dos casos, 60% dos indivíduos apresentaram nistagmo espontâneo e 52%, hipofunção na prova calórica. Diante da grande incidência de alterações nos pacientes com PB, bem 14 como naqueles com SRH, os autores consideraram que a diferenciação das duas doenças não poderia ser feita pelos achados otoneurológicos. Berthier et al, em 1992, descreveram 15 casos de polineuropatia idiopática, sendo 12 casos com PFP. Apenas um caso apresentou acometimento dos VII e VIII nervos cranianos. Os autores referiram que, neste caso, considerando a ausência de outros sinais associados e a característica regressiva da doença, a etiologia provável seria de natureza inflamatória. Watanabe et al (1993) avaliaram pacientes com PB e SRH que foram submetidos ao teste de oscilação galvânica, teste este descrito pela própria equipe japonesa, consistindo na oscilação do corpo para os lados por dez vezes em nove segundos, com o objetivo de diagnosticar alterações retro-labirínticas. Foram encontrados achados anormais em quatro dos cinco pacientes com PB (80%) e em todos os cinco pacientes com SRH (100%). Os autores concluíram que, independentemente da causa da paralisia, esta alteração é devida a uma disfunção retro-labiríntica, assim como o é a neurite vestibular e a surdez súbita. Adour (1994), em uma revisão de literatura sobre complicações do VVZ, afirmou que Ramsay Hunt, um ano após descrever a SHR, considerou que a doença teria uma extensão maior do que apenas o acometimento do nervo facial e que também poderia acometer outros nervos cranianos, principalmente os nervos V, IX e X, cunhando o termo "herpes zoster cefálico". Relatou que, na ressonância magnética, seria possível observar a impregnação do nervo facial por contraste e, nos pacientes com tontura e zumbido, os nervos vestibulares e o nervo coclear também eram contrastados, o que indicaria e comprovaria o envolvimento de outros nervos durante esta afecção, como proposto por Hunt. 15 Alvarenga et al (1995) avaliaram 62 indivíduos de 18 a 30 anos, sem queixas auditivas ou vestibulares, quanto à presença de nistagmo espontâneo, utilizando a VENG. Nenhum indivíduo apresentou nistagmo espontâneo de olhos abertos. O nistagmo espontâneo de olhos fechados foi observado em 56,5% dos indivíduos, sendo que, em três indivíduos (8,6%) houve variação na direção e sentido durante o registro. A direção predominante foi a oblíqua (77,1%). Os autores concluíram que, mesmo considerando a análise subjetiva do exame, o nistagmo espontâneo de olhos fechados foi um achado frequente e a mudança de direção e sentido do nistagmo não ocorreria apenas em portadores de vestibulopatias centrais. Furuta et al, em 1997, publicaram estudo realizado em 36 pacientes com PFP aguda, os quais foram submetidos à pesquisa de VVZ em swab de orofaringe, pela técnica de PCR, e à dosagem sérica de IgG e IgM anti-VVZ. Os pacientes foram acompanhados por duas semanas, sendo que, dos 36 pacientes, foram coletadas 84 amostras de swab. O número de amostras não foi igual para todos os pacientes, variando de uma a quatro amostras por indivíduo. Os controles positivos foram quatro pacientes com SRH e dois pacientes com VVZ no nervo trigêmeo e os controles negativos foram 15 voluntários sadios. O VVZ foi detectado por PCR em seis pacientes (17%) com PFP. Em três deles, o exame foi positivo no momento da admissão e negativo nas duas (dois pacientes) ou três consultas (um paciente) subsequentes. Dois pacientes não retornaram para acompanhamento e, portanto, só têm um exame inicial positivo. Um paciente realizou quatro exames, sendo os dois primeiros (quatro e 11 dias) positivos. Em relação à sorologia, a presença de IgM foi detectada em apenas um paciente na 16 primeira consulta e alterações na titulação de IgG e IgM foram encontradas em outros dois pacientes. Os autores concluíram que a detecção de DNA viral em swab de orofaringe seria superior aos métodos sorológicos para a pesquisa de VVZ, em pacientes com PB. Gonçalves-Coelho et al, em 1997, realizaram um estudo retrospectivo de dez anos no Hospital do Servidor Público Estadual, em São Paulo, descrevendo aspectos epidemiológicos de 239 pacientes com PB. A avaliação mostrou predominância do sexo feminino (70,71%), da faixa etária de 31 a 60 anos (40,59%) e de ocorrência da PB nos meses de outono (31,38%) e inverno (30,13%). Os autores afirmaram que esta distribuição temporal predominante nos meses frios reforçaria a hipótese de que a origem da PB seria infecciosa, uma vez que nestes meses haveria um aumento das infecções de vias aéreas superiores. Ganança et al (2000), diante do lançamento de um novo equipamento computadorizado para avaliação da função vestíbulo-oculomotora (Vectonistagmografia Digital Neurograff), avaliaram 20 indivíduos hígidos de forma a definir limites de normalidade. O equipamento permitia a comparação entre os estímulos efetuados e as respostas obtidas – movimentação ocular - em diversas provas. Os autores utilizaram limites de confiança de 95% em relação aos valores obtidos na avaliação dos indivíduos hígidos. Pitkäranta et al, em 2000, publicaram um estudo com 20 pacientes portadores de PFP idiopática com até uma semana de evolução da doença. Nestes, realizou-se detecção do DNA do vírus herpes humano do tipo 6 (VHH-6) e do VVZ, pela técnica de PCR, em amostras de secreção lacrimal. Os autores detectaram o VHH-6 em sete pacientes (35%) e o VVZ em dois (10%). Dentre os 17 controles (20 voluntários saudáveis), apenas um indivíduo apresentou resultado positivo para VHH-6 e nenhum foi positivo para VVZ. Os resultados sugeriram uma associação entre os vírus da família herpes e a PB. Valença et al, em 2001, avaliaram 180 casos de PFP atendidos em serviços de Pernambuco, de 1993 a 1999, com o objetivo de descrever aspectos epidemiológicos e evolutivos da doença. Os autores descreveram a amostra com predomínio do sexo feminino (66,7%), lado esquerdo ligeiramente mais acometido (55,6%) e faixa etária com dois picos de maior incidência: terceira e quarta década e outro na sexta década de vida. Dos 180 pacientes acompanhados, 22,8% apresentaram sequelas após a paralisia. Peitersen (2002) acompanhou 2570 pacientes com PFP por um período de 25 anos. Esta amostra incluiu 1701 indivíduos com PB, sendo 51,9% do sexo masculino e predomínio da faixa etária de 15 a 45 anos. A incidência da PB foi significantemente menor na faixa abaixo dos 15 anos e acima dos 60 anos. O acompanhamento revelou que 85% dos pacientes apresentaram melhora nas primeiras três semanas, sendo que 71% recuperaram totalmente a função da musculatura facial. Flores, Franco (2003), com o objetivo de avaliar a VENG computadorizada com estimulação calórica com ar a 42 e 18 ºC, analisaram 56 indivíduos hígidos, 31 do sexo feminino e 25 do sexo masculino, sem queixas de alteração vestibular. As autoras consideraram como normais valores de VACL entre dois e 19 º/s. As autoras observaram que a VACL do nistagmo pós calórico foi bastante variável; por outro lado, o efeito inibidor da fixação ocular (EIFO) ocorreu em 100% dos casos. Na prova calórica quente, não houve nenhuma alteração quanto ao valor 18 de VACL e, na prova calórica fria, houve casos de VACL acima de 19 º/s. No sexo masculino, encontrou-se 47,1% de casos de predomínio labiríntico (PL) e 40,9% de preponderância direcional do nistagmo (PDN) e, no sexo feminino, 52,9% e 59,1%, respectivamente. Lu e Young, em 2003, avaliaram oito pacientes com SRH, sendo cinco com tontura e três sem tontura. Eles foram submetidos à ENG e ao exame de Potencial Evocado Miogênico Vestibular (VEMP) cervical, com o objetivo de avaliar se a tontura seria oriunda de acometimento do nervo vestibular superior ou do inferior. Todos os pacientes com tontura apresentaram nistagmo espontâneo para o lado sadio e ausência de VEMP e quatro destes apresentaram ausência de resposta na prova calórica. Os autores consideraram ausência de resposta quando os nistagmos pós calóricos tiveram velocidades menores do que os nistagmos espontâneos. Os pacientes sem tonturas apresentaram exames normais. Após seis meses, os exames foram repetidos e os resultados da ENG e do VEMP não mudaram. Os autores concluíram que o VVZ afetaria o tronco do nervo vestibular no MAI, levando ao acometimento de seus ramos superior e inferior. Cruz et al, em 2005, avaliaram 1521 pacientes com PB do ambulatório de Otologia de um hospital terciário. Destes, 58,8% (894) eram pacientes do sexo feminino e 41,2% (627), do sexo masculino. A maior incidência da paralisia se deu entre os 11 e 31 anos de idade, sendo menor a incidência nas faixas etárias extremas: de zero a dez anos e maiores de 61 anos. Em relação à evolução, 69% dos pacientes evoluíram para grau I de paralisia pela classificação de House-Brackmann (HB). 19 Ruwer et al (2005), considerando o processo normal de envelhecimento, estudaram a função vestibular de idosos, comparando 40 indivíduos de um grupo de terceira idade com 40 idosos com queixas de alteração do equilíbrio corporal. A maioria dos idosos apresentou diagnóstico normal. Os casos alterados, caracterizados pelos autores como síndrome vestibular periférica (SVP) deficitária e SVP irritativa, não apresentaram diferença estatisticamente significante entre os dois grupos estudados. Os autores concluíram que as alterações vestibulares à VENG foram numericamente semelhantes entre o grupo de terceira idade e o grupo de idosos com queixas de alterações do equilíbrio corporal. Lazarini et al (2006b) estudaram 38 portadores de PB durante a primeira semana de evolução, comparando-os com um grupo controle de dez indivíduos sadios. Supondo ser o VHS um dos possíveis agentes etiológicos desta doença, os autores tiveram como objetivo avaliar a prevalência deste vírus na saliva dos pacientes pela técnica de PCR, relacionando-a, inclusive, com a evolução clínica dos casos (grau de paralisia e eletroneurografia). O DNA do VHS foi detectado em 29% dos pacientes com PB e em nenhum caso do grupo controle. Quanto ao acometimento axonal, embora não houvesse diferença estatística entre os resultados da eletroneurografia dos grupos com PCR positivo ou negativo, a evolução clínica mostrou-se pior nos pacientes em que o VHS foi detectado na saliva. Os autores concluíram que a presença do VHS na saliva dos portadores de PB indicaria uma reativação viral e, assim, possível causa da afecção. Watanabi e Suzuki, em 2006, com o objetivo de estudar as alterações vestibulares que ocorrem nos pacientes com PB, assim como nos pacientes com SRH, avaliaram, retrospectivamente, 83 pacientes com PB, 45 pacientes com 20 SRH e 82 controles - com otite média crônica - pareados por idade, mas não por sexo. Os indivíduos haviam realizado prova calórica com 20mL de água a 44 ºC, ou a 30 ºC, ou a 20 ºC. Os autores descreveram alterações nas provas calóricas em 7,2% dos pacientes com PB; 24,4%, com SRH e 6,1% dos controles, tendo considerado PL e PDN. As alterações não tiveram associação com o grau da paralisia ou da melhora. Os autores concluíram que a PB é uma polineuropatia causada por vírus. Martinez-Oviedo et al, em 2007, diante da grande incidência da SRH – sete a dez por cento do total das paralisias faciais periféricas unilaterais não traumáticas – descreveram dez casos acompanhados de 2001 a 2005. Os autores observaram 40% de casos com hipoacusia e 70% com tontura. Um paciente manifestou acometimento concomitante do ramo mandibular do nervo trigêmeo e um segundo, dos três ramos do nervo trigêmeo. Os pacientes foram tratados com aciclovir e prednisona. Os autores descreveram que a afecção facial pelo VVZ é inicialmente mais severa e possui pior prognóstico que a PB. Zapala et al (2008) defendiam o fato de que as provas calóricas vestibulares ainda não possuíam um método definido e valores de normalidade universalmente aceitos. A prova com ar seria particularmente mais problemática. Assim, os autores descreveram sua casuística de exames vestibulares realizados de 2002 a 2006 em 693 pacientes sem alterações vestibulares e em 68 pacientes com diminuição da resposta vestibular à prova calórica. A análise dos dados mostrou que, na estimulação com água, a prova quente mostrou-se mais estimulante que a prova fria; na estimulação com ar, as provas nas diferentes temperaturas provocaram estímulos semelhantes; as respostas dos testes 21 vestibulares foram diferentes nos grupos de indivíduos normais e com alterações vestibulares. Os autores concluíram que as provas calóricas, com estímulos com ar e com água, são capazes de identificar indivíduos com alterações vestibulares com valores de sensibilidade e especificidade entre 82 e 84%. Ganança et al, em 2009, descreveram em editorial que a prova calórica é um dos testes mais importantes da função vestibular, por avaliar os labirintos separadamente. Relataram que diversas foram as substâncias utilizadas para sua realização – água, ar, éter, cloreto de etila – sendo que, a prova com água é a mais estimulante e a mais utilizada. Pelas características do ar, que é mais confortável que a água e permite realizar exames em orelhas com perfuração de membrana timpânica, este tipo de estimulação tem sido estudado. Os autores afirmam que, para produzir uma resposta com intensidade semelhante à estimulação com água, a temperatura do ar deve ser de 50 e 24 °C e, definido isso, os valores de referência de normalidade estariam sendo definidos em estudo multicêntrico nacional. Lazarini et al, em 2009, acompanharam 18 pacientes com PB, realizando coleta de saliva por três semanas consecutivas para detecção de VHS pela técnica de PCR. Os autores encontraram cinco pacientes com PCR positivo para o VHS na primeira semana. Na segunda semana, três pacientes mantiveram o resultado positivo e um paciente que apresentara resultado negativo, apresentou resultado positivo na segunda amostra. Na terceira semana, dos quatro pacientes com resultado positivo na segunda semana, dois mantiveram a positividade. Três pacientes que até o momento eram considerados negativos para o VHS, apresentaram PCR positivo apenas na terceira semana. A positividade para o 22 vírus que era de 28% na avaliação inicial, passou a 50% com o seguimento de três semanas. Os autores concluíram que a avaliação seriada dos pacientes com PB mostrou a existência de uma dinâmica viral, fazendo com que o vírus pudesse ser detectado na saliva não apenas na primeira semana de evolução da doença e que, portanto, estudos que avaliassem a eficácia de drogas antivirais deveriam considerar a presença do vírus em diferentes estágios da doença. Santos et al, em 2010, com o objetivo de verificar a prevalência do VVZ na PB, avaliaram, prospectivamente, 120 pacientes com PB, sem uso prévio de antivirais e 20 controles hígidos. Destes indivíduos, foi coletada saliva, por três semanas consecutivas, para verificar a presença de DNA de VVZ pela técnica de PCR. Os autores encontraram 1,7% de VVZ na saliva dos pacientes avaliados. Albertino et al (2012) realizaram estudo multicêntrico onde avaliaram 211 indivíduos hígidos por meio de prova calórica com ar a 24 e 50 °C, durante um minuto, com fluxo de ar de oito litros por minuto, com o objetivo de definir valores de referência para esta prova. Os autores não encontraram nistagmo espontâneo e o valor da VACL do nistagmo pós-calórico variou de 3 a 46 °/s. Com base na avaliação estatística dos resultados obtidos nestes exames os autores propuseram valores relativos e absolutos para caracterização de disfunção vestibular à prova calórica. Barros, Caovilla, em 2012, com o objetivo de comparar o nistagmo póscalórico da prova calórica com ar a 50 e 24 °C, com o da prova com água, a 44 e 30 °C, submeteram 40 indivíduos hígidos às duas estimulações. As autoras descreveram que os valores da VACL do nistagmo pós-calórico foram 23 estatisticamente maiores na prova com água e na prova fria. Os resultados de PL e PDN foram semelhantes. Nishino e Granato (2012) analisaram os achados de prova calórica, com estimulação com ar, em 21 indivíduos que haviam sido submetidos a mastoidectomia radical e observaram assimetria de respostas em 80,9% dos pacientes na estimulação quente, em 72,7% nas provas frias e em 81,82% na análise das quatro estimulações, sendo as respostas maiores do lado da mastoidectomia. Estimulação paradoxal ocorreu em 47,6% das provas calóricas quentes. Os autores concluíram que as respostas são maiores do lado da mastoidectomia e a estimulação paradoxal é um achado frequente. 24 2 - OBJETIVOS Os objetivos deste estudo são: a) Verificar a frequência de alterações vestibulares em indivíduos com paralisia de Bell na fase aguda, por meio da VENG; b) Comparar as alterações vestibulares encontradas na VENG em indivíduos portadores de paralisia de Bell e em indivíduos normais. 25 3 - CASUÍSTICA E MÉTODO Estudo prospectivo realizado no Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, o qual foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa em seres humanos desta instituição (apêndice 1). 3.1 - Seleção dos Casos Clínicos Foram avaliados, prospectivamente, 120 pacientes atendidos no Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, sendo 60 diagnosticados clinicamente como portadores de PB e 60 casos controles, no período de dezembro de 2010 a junho de 2012, de acordo com os critérios de inclusão e exclusão predeterminados e descritos a seguir: 3.1.1 - Critérios de Inclusão (casos) a) PFP aguda, com início dos sintomas de até uma semana antes da data do primeiro atendimento; b) Exame clínico e otorrinolaringológico sem evidências de fatores causais para a paralisia; c) Aceitação do termo de consentimento livre e esclarecido (apêndice 2). 3.1.2 - Critérios de Exclusão (casos) a) Idade inferior a 12 anos; b) Doença psiquiátrica ou neurológica; 26 c) Perfuração de membrana timpânica ou doença otológica prévia; d) Cirurgia otológica prévia; e) Doença vestibular diagnosticada previamente; f) Doença metabólica descompensada; g) Episódio de PFP prévio. 3.2 - Grupo Controle O grupo controle foi composto de 60 voluntários, pareados por sexo e idade aos indivíduos do grupo caso. Foram submetidos a avaliação clínica otorrinolaringológica e fonoaudiológica e apresentavam-se sem queixa de tonturas, sem alterações otológicas ou neurológicas, sem antecedente de paralisia facial periférica e não estavam na vigência de qualquer infecção aguda. Todos os indivíduos foram pacientes atendidos no Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo por queixas não relacionadas às doenças estudadas neste trabalho. 3.3 - Método 3.3.1 - Acompanhamento médico No primeiro atendimento, os pacientes foram submetidos a anamnese e ao exame físico geral, otorrinolaringológico e neurológico (anexo 1). Todos eles foram encaminhados para retornos semanais para os procedimentos do estudo e para avaliação da evolução do quadro de paralisia. O grau de PFP foi mensurado de 27 acordo com a classificação de HB (House, Brackmann, 1985; Lazarini et al, 2006a) - apêndices 3 e 4. 3.3.2 - Exame audiométrico Todos os pacientes com PFP e os indivíduos do grupo controle realizaram audiometria tonal, vocal e imitanciometria, com audiômetro Itera, Madsen ®. Considerou-se o limiar auditivo tonal de 25dB NA em todas as frequências, como limite de normalidade. A pesquisa do reflexo estapediano foi feita utilizando-se o imitanciômetro AZ7R, Madsen®. O reflexo contralateral foi avaliado, considerando-se o reflexo ausente quando não houve resposta até a intensidade máxima do aparelho, em todas as frequências testadas. Estas intensidades corresponderam a 110dB NA em 500Hz e 120dB NA em 1000, 2000 e 4000Hz. 3.3.3 - Exame vestibular Todos os 120 indivíduos do estudo foram submetidos à VENG, utilizando-se o equipamento da Contronic Sistemas Automáticos Ltda, software Nystagmus® e com estimulação visual com barra luminosa. O exame foi composto por testes oculomotores e vestibulares. Os testes audiométricos e vestibulares foram realizados no Serviço de Fonoaudiologia do Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo, por equipe especializada, em data até o sétimo dia de evolução da doença. A mesma equipe acompanhou o estudo durante todo o período de realização. 28 Os testes oculomotores incluíram: nistagmo de posição, calibração dos movimentos oculares, pesquisa do nistagmo espontâneo de olhos abertos e fechados, pesquisa do nistagmo semiespontâneo nas quatro direções, rastreio pendular e optocinético. Os testes vestibulares incluíram a prova rotatória pendular decrescente (PRPD) e a prova calórica com quatro estimulações. A estimulação calórica foi realizada com o otocalorímetro a água E96AG da Contronic Sistemas Automáticos Ltda, nas temperaturas de 44 e 30 °C. Os valores considerados para caracterização de disfunção vestibular à prova calórica foram os seguintes: - Valores relativos: predomínio labiríntico (PL) e preponderância direcional do nistagmo (PDN) > 33% - Valores absolutos: • hiporreflexia: valores da VACL < 3 º/s • hiperreflexia: valores da VACL > 51 º/s 3.3.4 - Exame de Imagem Os pacientes com alterações nos exames vestibulares foram encaminhados para realização de ressonância magnética (RM) de crânio, com ênfase na região do ângulo ponto-cerebelar. 29 3.4 - Análise estatística Os resultados obtidos, tanto sob os aspectos clínicos, como laboratoriais, foram submetidos à análise estatística, com auxílio dos softwares Minitab e SPSS 9.0 para Windows, supervisionada por um estatístico. Na análise descritiva, as variáveis qualitativas foram apresentadas em termos de frequências absolutas e relativas. Para as variáveis quantitativas, foram calculadas medidas resumo. Para testar a associação entre as variáveis qualitativas, foram utilizados os testes de qui-quadrado de Pearson ou exato de Fisher. Para comparar as variáveis quantitativas, foram utilizados os testes t de Student, Mann-Whitney e t pareado. Realizou-se análise comparativa dos indivíduos com PFP que apresentaram VENG normal e alterada, com o objetivo de observar se existiam características que diferenciavam estes dois grupos. Foi considerado estatisticamente significante o valor de p < 0,05. 3.5 - Levantamento bibliográfico O levantamento bibliográfico foi realizado através dos sites: www.bireme.br, que permite acesso a LILACS, MEDLINE, Biblioteca Cochrane e Scielo; www.pubmed.com ou www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed; www.google.com e http://scholar.google.com.br. As palavras utilizadas para acesso aos artigos foram: vestibular / "vestibular", tontura / "dizziness", vertigem / "vertigo", vectoeletronistagmografia / 30 “vectorelectronystagmography”, paralisia facial / “facial palsy”, paralisia Bell / "Bell palsy. 31 4 – RESULTADOS 4.1 – Análise descritiva do grupo caso Foram avaliados 84 pacientes que apresentaram o diagnóstico de PFP, no período de dezembro de 2010 a junho de 2012. Destes pacientes, 60 adequaramse aos critérios de inclusão e exclusão predeterminados. Dentre os pacientes excluídos, cinco apresentaram PFP acompanhada de vesículas em pele do pavilhão auricular, sugestiva de SRH. Dois pacientes apresentaram otite média aguda que foi identificada como causa da PFP. Onze pacientes tinham história, na primeira consulta, de mais de uma semana de evolução da paralisia, sendo excluídos pelos critérios do trabalho. Três pacientes foram excluídos do estudo por terem menos de 12 anos de idade. Três pacientes não aceitaram o termo de consentimento livre e esclarecido por não desejarem realizar o exame vestibular. Dos 60 pacientes incluídos no estudo, 24 (40%) eram do sexo feminino e 36 (60%), do sexo masculino. A idade variou de 14 a 88 anos, com uma média de 39,28 (±16,86) anos. A figura 1 apresenta a distribuição dos indivíduos por idade. 32 18 16 14 12 Número de pacientes 10 8 6 4 2 0 10-19 20-29 30-39 40-49 50-59 60-69 70-79 80-89 Faixa etária (anos) FIGURA 1: Distribuição, por faixa etária, de 60 pacientes com paralisia de Bell. Vinte e nove indivíduos (48,3%) apresentaram PFP à direita e 31 (51,7%), à esquerda. O tempo decorrido do início da paralisia até o momento do exame vestibular teve uma média de 4,4 dias e moda de cinco dias. O grau de paralisia na primeira consulta, de acordo com a classificação de HB (House-Brackmann, 1985), utilizando-se o esquema de figuras descrito por Lazarini et al (2006a), pode ser verificado na figura 2. 33 32% 20 28% 18 25% 16 14 12 Número de 10 pacientes 8 6 8% 7% 4 2 0 II III IV V VI Grau de paralisia (HB) FIGURA 2: Grau de paralisia de 60 pacientes com paralisia de Bell na primeira consulta, de acordo com a classificação de House-Brackmann. HB = House-Brackmann 4.2 – Análise descritiva do grupo controle O grupo controle foi composto de 60 indivíduos, pareados por sexo e idade. Portanto, 24 (40%) do sexo feminino e 36 (60%) do sexo masculino. A idade variou de 12 a 89 anos com média de 38,88 (±16,88) anos. A figura 3 mostra a distribuição dos indivíduos do grupo controle por idade, que segue o mesmo padrão do grupo caso. 34 18 16 14 12 Número de pacientes 10 8 6 4 2 0 10-19 20-29 30-39 40-49 50-59 60-69 70-79 80-89 Faixa etária (anos) FIGURA 3: Distribuição, por faixa etária, de 60 pacientes controles. 4.3 – Análise comparativa dos grupos caso e controle As médias das idades dos dois grupos foram analisadas pelo teste t de Student, que apresentou similaridade entre os grupos, com resultado de p = 0,897. A distribuição do sexo nos dois grupos é igual, uma vez que a amostra foi pareada, sendo p = 1. Na tabela 1 observaram-se as características do grupo controle e do grupo de pacientes portadores de PB. TABELA 1: Caracterização do grupo caso (pacientes portadores de paralisia de Bell) e do grupo controle, de acordo com idade e sexo. Casos Controles idade média (anos) 39,28 (±16,86) 38,88 (±16,88) p = 0,897 M = sexo masculino sexo M 60% 60% F 40% 40% p=1 F = sexo feminino 35 O gráfico de box plot (Fig. 4) apresenta a distribuição etária dos grupos caso (pacientes portadores de PB) e controle, demonstrando sua similaridade descrita pelo teste estatístico. FIGURA 4: Distribuição etária de 60 pacientes com paralisia de Bell (grupo caso) e 60 pacientes do grupo controle. 4.4 – Análise comparativa dos resultados da VENG nos grupos caso e controle Todos os 120 indivíduos estudados realizaram exame vestibular (VENG). Os testes oculomotores apresentaram-se dentro dos padrões da normalidade em 100% dos casos e 100% dos controles (p = 1). 36 Quinze dos 60 pacientes com PB apresentaram resultado da VENG compatível com síndrome vestibular periférica deficitária (25%). Os 45 pacientes restantes apresentaram exame dentro dos padrões da normalidade. Dos quinze pacientes com exames alterados, todos mostraram hipofunção ipsilateral à paralisia facial. No grupo controle, todos os exames mostraram resultados dentro dos padrões da normalidade. Não foram observados quaisquer outros achados nas VENG realizadas (Fig. 5). Os pacientes com VENG alterada realizaram RM. Em todos os indivíduos o exame de imagem foi normal, ou seja, não evidenciou alterações neurológicas ou tumorais em nenhum caso. 70 60 50 40 Número de pacientes 30 PB Controles 20 10 0 Normal SVP deficitária Outras VENG FIGURA 5: Resultado das VENG de 60 pacientes com paralisia de Bell e 60 pacientes do grupo controle. VENG = vectoeletronistagmografia PB = paralisia de Bell SVP = síndrome vestibular periférica 37 Esta diferença foi estatisticamente significante, como demonstrado pelo teste qui quadrado (p < 0,001). A tabela 2 mostra estes resultados. TABELA 2: Resultados da VENG de 60 pacientes com paralisia de Bell (casos) e de 60 indivíduos do grupo controle, pareados por sexo e idade. Casos Controles Total n % n % n % normal 45 75% 60 100% 105 87,50% VENG SVP deficitária 15 25% 0 0% 15 12,50% VENG = vectoeletronistagmografia SVP = síndrome vestibular periférica Total 60 100% 60 100% 120 100% p < 0,001 n = número de indivíduos 4.5 – Análise comparativa dos valores da prova calórica entre o lado afetado e o lado não afetado pela paralisia. Nos 60 pacientes com PFP, observou-se que a média dos valores da VACL das provas calóricas - quente e fria - do lado afetado pela paralisia foi de 17,83 (±1,49) º/s e, do lado não afetado, foi de 20,15 (±1,43) º/s. O gráfico de box plot apresenta esta distribuição (Fig. 6). A diferença foi estatisticamente significante, com p = 0,023 pelo teste t pareado, demonstrando que o lado afetado pela paralisia possui uma resposta menor à estimulação calórica se comparado com o lado não afetado no mesmo indivíduo. 38 VACL (º/s) FIGURA 6: Distribuição das médias de VACL das provas calóricas do lado afetado pela PFP e do lado não afetado de 60 pacientes com paralisia de Bell. VACL = velocidade angular da componente lenta PFP = paralisia facial periférica 4.6 – Análise Comparativa entre indivíduos com PFP com VENG normal e alterada. 4.6.1 – Idade Em relação à idade, a média no grupo de pacientes com PB e VENG normal foi de 38,6 (±16,7) anos e a média do grupo com VENG sugestivo de SVP deficitária foi de 41,4 (±17,7) anos. A análise comparativa pelo teste t de Student 39 mostrou que não houve relação estatisticamente significante entre idade e o resultado da VENG, com p = 0,593 (Tab. 3). 4.6.2 – Sexo O grupo de pacientes que apresentaram VENG normal era composto por 20 mulheres (44,4%) e 25 homens (55,6%). O grupo com VENG sugestivo de SVP deficitária era constituído de quatro mulheres (26,7%) e 11 (73,3%) homens. A distribuição por sexo não apresentou diferença estatisticamente significante (Teste qui-quadrado com p = 0,224), mostrando que o sexo dos indivíduos não teve influência no resultado da VENG. Os resultados estão apresentados na tabela 3. TABELA 3: Caracterização dos pacientes com paralisia de Bell que apresentaram VENG normal e SVP deficitária, de acordo com idade e sexo. VENG normal SVP deficitária idade média (anos) 38,6 (±16,7) 41,4 (±17,7) p = 0,593 VENG = vectoeletronistagmografia M = sexo masculino sexo M 55,6% 73,3% F 44,4% 26,7% p = 0,224 SVP = síndrome vestibular periférica F = sexo feminino 4.6.3 – Lado da paralisia O lado afetado também não apresentou diferença estatisticamente significante entre os grupos. No grupo que apresentou VENG normal, 53,3% dos casos apresentava acometimento do lado esquerdo e, no grupo com VENG sugestiva de SVP deficitária, 46,7%. Teste Qui-quadrado com p = 0,655. 40 Todos os pacientes com VENG alterada foram devido a PL, ou seja, predominância de um labirinto sobre o outro. Nenhum indivíduo apresentou PDN e/ou hiperreflexia em valor absoluto. Todos os exames alterados (100%) foram compatíveis com síndrome vestibular periférica deficitária e todos sugerindo hipofunção ipsilateral à PFP. 4.6.4 – Grau de paralisia no momento da admissão Em relação ao grau de paralisia encontrado na primeira semana, ou seja, no momento da admissão, os pacientes com VENG normais e alteradas – SVP deficitária - distribuíram-se conforme exposto na figura 7. Apesar da distribuição aparentar ser diferente nos dois grupos, no teste estatístico não houve diferença significante (Mann-Whitney, p = 0,638). 18 16 14 12 Número de 10 pacientes 8 Normal 6 SVP deficitária 4 2 0 II III IV V VI Grau de paralisia (HB) FIGURA 7: Comparação do grau de paralisia encontrado na primeira semana entre os pacientes com VENG normal e SVP deficitária, no grupo caso. HB = House-Brackmann SVP = síndrome vestibular deficitária 41 4.6.5 – Audiometria Cinco dos 45 pacientes do grupo com VENG normal (11,1%) e um dentre os 15 pacientes com VENG sugestivo de SVP deficitária (6,7%) apresentaram deficiência auditiva sensorioneural bilateral simétrica, com limiares piores nas frequências agudas, sugestiva de presbiacusia. Quatro dos 45 pacientes do grupo com VENG normal (8,9%) e dois dentre os 15 pacientes com VENG sugestiva de SVP deficitária (13,3%) apresentaram perda auditiva sensorioneural unilateral, ipsilateral à paralisia (Fig. 8). A avaliação estatística não apresentou diferença significante (Teste qui-quadrado com p = 0,584). 40 35 30 25 Número de 20 pacientes 15 Normal SVP deficitária 10 5 0 Normal DASN unilateral DASN bilateral Audiometria FIGURA 8: Comparação do resultado de exames audiométricos dos pacientes com VENG normal e SVP deficitária, no grupo caso. DASN = deficiência auditiva sensorioneural SVP = síndrome vestibular periférica 42 4.6.6 – Reflexo estapediano Trinta e cinco dos 45 pacientes do grupo com VENG normal (77,8%) e dez dentre os 15 pacientes com VENG sugestivo de SVP deficitária (66,7%) apresentaram reflexo estapediano ausente do lado da paralisia facial, como demonstrado na figura 9. O teste de qui-quadrado (p = 0,389) não evidenciou diferença estatisticamente significante. 40 35 30 25 Número de 20 pacientes 15 Normal SVP deficitária 10 5 0 Presente Ausente Reflexo estapediano FIGURA 9: Comparação do reflexo estapediano em pacientes com VENG normal e SVP deficitária, no grupo caso. SVP = síndrome vestibular periférica 4.6.7 – Evolução Observou-se que, tanto no grupo com VENG normal como no grupo com VENG sugestiva de SVP deficitária, houve melhora do grau de paralisia facial, estimada pela classificação de HB, ao longo do tempo de seguimento, de forma semelhante. Doze pacientes com VENG normal e dois pacientes com VENG sugestiva de SVP deficitária não compareceram a todas as consultas de avaliação e o acompanhamento subsequente foi perdido. 43 Trinta e três dentre os 45 pacientes do grupo com VENG normal (73,3%) e 12 dos 15 pacientes com VENG sugestiva de SVP deficitária (86,7%) tiveram evolução para graus de paralisia I ou II segundo a classificação de HB, o que foi considerada uma evolução satisfatória. Um dos pacientes com VENG alterada apresentou remissão completa da paralisia e, após um ano e um mês, apresentou recidiva da paralisia do mesmo lado (Fig. 10). 35 30 25 Número de pacientes 20 Normal 15 SVP deficitária 10 5 0 Satisfatória Perdeu acompanhamento Recidiva Evolução FIGURA 10: Comparação da evolução dos pacientes com VENG normal e SVP deficitária, no grupo caso. SVP = síndrome vestibular periférica 4.6.8 – Tontura No grupo de pacientes com VENG normal, nove de 45 indivíduos (20%) apresentaram queixa de tontura e no grupo com VENG sugestiva de SVP deficitária, quatro dos 15 (26,7%) relataram a queixa. Não houve diferença 44 estatisticamente significante entre os grupos (Teste exato de Fisher com p = 0,719). A figura 11 mostra este resultado. 40 35 30 25 Número de 20 pacientes 15 Normal SVP deficitária 10 5 0 presente ausente Tontura FIGURA 11: Comparação da queixa de tontura dos pacientes com VENG normal e SVP deficitária, no grupo caso. SVP = síndrome vestibular periférica 45 5 - DISCUSSÃO Descrita em 1821 por Charles Bell, a PB, ainda nos dias de hoje, é uma doença em plena discussão. Embora tenha suas características clínicas bem definidas, incertezas perante a etiopatogenia da doença permitiram que diversas teorias fossem cunhadas, incluindo polineuropatias (Berthier et al, 1992; Watanabe et al, 1993; Adour et al 1994), doenças vasculares (Philipszoon, 1962; Lapresle et al, 1980) e reativações virais (Adour et al, 1975; Furuta et al, 1997; Pitkäranta et al, 2000; Lazarini et al, 2006b; Santos, 2010), entre outras. Ao longo do tempo, sempre que alguma teoria parece ser definitiva, o advento de técnicas científicas mais avançadas traça novos caminhos e possibilidades para explicar a doença. A ideia de que os vírus ficam alojados, inativos em gânglios sensitivos, parece não explicar muitos dos achados clínicos em pacientes com PB. Assim como o conceito de que o vírus reativado transitaria e acometeria exclusivamente o nervo facial e seus ramos não parece ser suficiente para explicá-los. Após a pesquisa bibliográfica sobre o tema aqui apresentado, acredita-se que este seja, provavelmente, o primeiro trabalho a estudar a relação entre alterações vestibulares e a PB, com o emprego da VENG e, consequentemente, aplicando-se técnicas e valores de normalidade estabelecidos na atualidade. 46 5.1 – Sobre os dados epidemiológicos da amostra 5.1.1 – Sexo O predomínio do sexo masculino encontrado nos pacientes acometidos pela PB no presente estudo discorda da observação de Gonçalves-Coelho et al (1997) e de Valença et al (2001), que encontram 66,7% e 70,7% de acometimento de mulheres, respectivamente. Os autores, entretanto, apresentam a prevalência de PFP como um todo, não excluindo os casos de paralisia por causas conhecidas. Uri, Schuchman (1986) e Cruz et al (2005) descrevem apenas pacientes com PB e, da mesma forma, encontram predomínio do sexo feminino (54,2% e 58,8%, respectivamente), discordando do presente trabalho, onde os valores foram de 40% de indivíduos do sexo feminino e 60% do sexo masculino. Em grande estudo prospectivo, Peitersen, em 2002, acompanha 1701 pacientes com PB e encontra predomínio de indivíduos do sexo feminino (51,9%), semelhante aos achados dos outros autores citados. Watanabe, Suzuki (2006), que estudam dois grupos, um com PB e um com SRH, observam predomínio do sexo masculino no grupo com PB (59%), em concordância com os dados aqui apresentados, e predomínio do sexo feminino (62,2%) no grupo com SRH. 5.1.2 – Idade A faixa etária entre 20 e 40 anos foi a mais acometida entre os pacientes incluídos neste estudo, assemelhando-se aos trabalhos de Gonçalves-Coelho et al 47 (1997), Valença et al (2001) e Watanabe, Suzuki (2006). Este fato também é observado por Cruz et al, em 2005, cujo trabalho enfatiza a menor incidência da doença nas faixas etárias extremas. Peitersen (2002), igualmente, descreve uma maior incidência entre 15 e 45 anos e incidência significantemente menor abaixo de 15 e acima de 60 anos. No presente estudo a população pediátrica foi excluída, assim, não se dispõe destes dados para comparação. A média etária dos pacientes do presente estudo, de 39,28 anos, assemelha-se às encontradas por Adour, Doty (1973) – 37 anos; por Lämmli, Fish (1974) - 33 anos e por Uri, Schuchman (1986) - 37,4 anos. 5.2 – Sobre os controles A escolha de um grupo controle adequado é imprescindível para que os dados de casos e controles possam ser comparados e a diferença entre eles nos traga informações relevantes e confiáveis. Nos primeiros estudos que avaliaram pacientes com PFP, a dificuldade dos autores em escolher um grupo de indivíduos normais para controle ocorreu pela ausência de definição dos parâmetros de normalidade para o exame vestibular empregado. Jongkees, Philipszoon, em 1964, descrevem a presença de nistagmo espontâneo em 3% dos indivíduos normais, enquanto Bergstedt, em 1961, relata esses achados em 8%, o que denota as divergências em questão. Adour, Doty (1973) são os primeiros a propor um grupo controle com indivíduos normais, de forma a comparar os achados vestibulares neste grupo e 48 no grupo com PB. Os autores referem que 4% dos seus controles apresentam nistagmos espontâneos ou posicionais, mas não descrevem os achados na prova calórica. Como os trabalhos contemporâneos não definem bem os critérios de normalidade, como citado anteriormente, os autores consideram esta prevalência – de 4% dos indivíduos com nistagmos espontâneos - como um achado normal. Atualmente existem definições de normalidade. Entende-se que o nistagmo ocorre porque o tônus do labirinto intacto está em desacordo com o do labirinto alterado. Assim, a presença do nistagmo espontâneo pode indicar desequilíbrio entre os labirintos. Por outro lado, admite-se que o nistagmo espontâneo com olhos fechados pode ser fisiológico, devido a uma provável incapacidade do sistema vestibular em estabilizar por completo a posição dos olhos quando o apoio visual é removido. Nestes indivíduos, o nistagmo espontâneo pode estar presente com olhos fechados (Alvarenga et al, 1995), com direção horizontal e VACL igual ou inferior a 6°/s ou até 7°/s. (Ganança, 2000). Antes de serem definidos os critérios de normalidade, Philipszoon (1962) elege 47 indivíduos considerados normais e usa as médias das respostas vestibulares, somadas a dois desvios padrões, como medida para definir um exame como alterado. O autor valoriza a avaliação de um grupo controle semelhante ao grupo caso. Isso também foi realizado no presente estudo, onde os indivíduos definidos como grupo controle foram extraídos da mesma população que o grupo caso, ou seja, todos eram pacientes do Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo. Desta forma, procurou-se diminuir eventuais diferenças sociais, econômicas e culturais entre os grupos caso e controle. 49 Cuidou-se para que os indivíduos do grupo controle não tivessem história de doenças ou cirurgias otológicas prévias, diferente do que ocorre no trabalho de Watanabe, Suzuki (2006), que utilizam pacientes com OMC como controles - os pacientes apresentam idades compatíveis, porém não o sexo. Acredita-se, como sugere o trabalho de Nishino e Granato (2012), que a resposta à prova calórica esteja alterada nestes indivíduos com doença na orelha média, não sendo pacientes ideais para constituírem o grupo controle. Uri, Schuchman (1986) avaliam 20 indivíduos controles normais. Assim como ocorreu neste trabalho, os autores não encontram nistagmo ou resposta diminuída na prova calórica. Estes autores, no entanto, não se preocupam em parear os indivíduos dos grupos caso e controle por sexo e idade. No estudo de Flores, Franco (2003), a avaliação dos resultados de VENG em indivíduos sem queixas vestibulares, demonstra um predomínio de exames alterados no sexo feminino. Segundo Ruwer et al (2005), os achados na VENG, em indivíduos idosos sem queixas, são semelhantes aos achados em indivíduos com alteração do equilíbrio corporal. Assim, consideramos fundamental em um estudo sobre o tema, a escolha, como o aqui realizado, de um grupo controle de indivíduos normais, de características sociais, econômicas e culturais semelhantes e pareados por sexo e idade. 50 5.3 – Sobre o método 5.3.1 – Sobre a VENG A ENG surgiu como uma possibilidade de auxiliar a detecção, a mensuração e a análise do nistagmo. O exame baseia-se no princípio da variação de potencial elétrico entre a córnea e a retina, durante a movimentação dos olhos. Adour, Doty (1973) são alguns dos primeiros autores a fazerem uso da ENG em seus trabalhos com pacientes com PFP. Os mesmos afirmam que, embora superior às técnicas vigentes na época para avaliação do nistagmo, a execução e interpretação da ENG exigem grande experiência do examinador. Desta forma pode-se considerar seus achados questionáveis, principalmente em se tratando de alterações encontradas em pacientes sem queixas audiológicas e/ou vestibulares. A dificuldade dos autores ocorre também em relação à prova calórica, que ainda não possuía padronização da variação da normalidade. Fato esperado, visto que, apenas em 1964, Jongkees, Philipszoon afirmam que a componente lenta do nistagmo deveria ser escolhida para medida da velocidade do nistagmo. Estes autores sugerem que um valor maior que dois desvios padrões da média da diferença entre os dois lados seria considerado anormal. Uri, Schuchman, em 1986, acreditavam que, com o advento de técnicas eletrofisiológicas mais sensíveis que a ENG, seria possível a descoberta de alterações vestibulares latentes ou subclínicas. A VENG pode ser considerada uma evolução da ENG. Esta última apresentava apenas um canal de registro, permitindo a detecção somente de nistagmos horizontais. Na VENG, utiliza-se três canais de registro, o que 51 possibilita a observação de nistagmos verticais e oblíquos, além de melhorar a caracterização desta resposta ocular. A escolha da VENG, como método empregado no presente estudo, mostrou-se adequada, sendo pouco invasiva e bem tolerada pelos pacientes e controles. A equipe responsável pela sua realização também foi cuidadosamente selecionada e constituída por profissionais já bastante familiarizados com o método, tornando sua prática mais fácil, rápida e os resultados confiáveis e consistentes. Não há trabalhos na literatura que utilizem a VENG para avaliação dos achados vestibulares em pacientes com PFP. Os poucos trabalhos encontrados fizeram uso da ENG, que era a melhor opção na ocasião em que estas pesquisas foram realizadas (Philipszoon, 1962; Adour, Doty, 1973; Lämmli, Fish, 1974; Uri, Schuchman, 1986; Watanabe, Suzuki, 2006). 5.3.2 – Sobre a prova calórica com água A prova calórica é um procedimento de grande importância na avaliação vestibular, pois permite avaliar, separadamente, cada orelha, identificando comprometimentos e lesões. A estimulação térmica produz uma corrente endolinfática dentro do ducto semicircular lateral, que leva ao aparecimento de nistagmo, cujas características podem ser mensuradas e avaliadas. A prova fria produz uma corrente ampulífuga, que inibe as estruturas sensoriais e gera nistagmo na direção oposta ao labirinto avaliado; a prova quente gera uma corrente ampulípeta, que excita as estruturas sensoriais e provoca nistagmo na mesma direção do labirinto investigado. 52 Além da corrente de convecção, outros fatores como a transdução mecânica da cúpula, o efeito térmico sobre as estruturas neurossensoriais, a adaptação neural ou central e a combinação não linear destes mecanismos podem estar envolvidas na produção do nistagmo pós- calórico (Ganança et al, 2009). A estimulação térmica pode ser feita com água ou com ar. As propriedades térmicas do ar e da água são significativamente diferentes. A capacidade de manter a temperatura do ar é menor do que a da água (Coats et al, 1976). A exigência técnica da prova com o ar é maior. O modelo e o diâmetro da ponta do irrigador, o quanto é inserido no meato acústico externo, o direcionamento e o fluxo do ar, a temperatura no ambiente de teste e a localização do equipamento na sala de exame podem afetar as características do ar e, assim, a amplitude das respostas pós-calóricas (Barros, Caovilla, 2012). Por todas estas características, a estimulação com água é considerada mais confiável, apresentando menor variabilidade intra e interindividual nos resultados obtidos. A estimulação com ar é considerada mais confortável para o paciente, o que leva alguns pesquisadores a buscar definir qual o melhor procedimento para obter respostas igualmente confiáveis com este tipo de estimulação. As temperaturas do ar utilizadas por estes autores variam muito - de 42ºC a 51ºC na prova quente e de 20ºC a 30ºC na prova fria - com fluxos de ar entre cinco e 13 litros por minuto e tempo de estimulação de 60 a 100 segundos (Coats et al, 1976; Greven et al, 1979; Zapala et al, 2008, Barros, Caovilla, 2012). 53 A definição de normalidade para este tipo de estimulação é muito recente. Em 2012, o Departamento de Otoneurologia da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial publicou diretrizes para os valores de referência da prova calórica a ar (Albertino et al, 2012). Na estimulação com água, estes mesmos parâmetros já são bem definidos na atualidade. Antes da consagração do método de realização da prova com água e dos valores de normalidade, alguns autores utilizaram-se de diversas outras técnicas, com o objetivo de se obter um método mais acurado. No quadro 1, observa-se os diferentes métodos e padrões de normalidade adotados pelos autores que avaliaram pacientes com PFP em relação aos achados vestibulares (Philipszoon, 1962; Adour, Doty, 1973; Lämmli, Fish, 1974; Uri, Schuchman, 1986; Watanabe, Suzuki, 2006). Eles utilizaram-se da prova calórica com água para sua investigação, porém as técnicas de realização e avaliação dos achados foram diversas. Este fato reforça a importância do presente estudo, que utilizou parâmetros bem estabelecidos para realizar a avaliação vestibular com a VENG. Pelo que foi discutido, a prova calórica com utilização da água pode ser considerada a melhor opção de exame para avaliação dos pacientes neste estudo e, portanto, foi escolhida como meio de investigação para esta avaliação. 54 Quadro 1: Trabalhos que avaliaram alterações vestibulares em pacientes com paralisia facial periférica Autores Philipszoon Adour e Doty Lämmli e Fish Uri e Schuchman Watanabe e Suzuki Ano 1962 1973 1974 1986 2006 ºC = graus Celsius Método 30 segundos 30 segundos 20 mL 20 ou 5mL Temperaturas (˚C) 44 e 30 44 e 30 47 e 27 44 e 30 44 ou 30 ou 20 mL = mililitro > = maior Normalidade 2 desvios padrões de 47 controles diferença > 15% diferença > 25% diferença > 20% diferença > 20% ou resposta < 10˚/s < = menor 5.4 – Sobre os resultados da VENG 5.4.1 – Testes oculomotores Nesta pesquisa nenhum paciente apresentou alterações nos testes oculomotores. Este fato reforça que não seriam exames com resultados sugestivos de acometimento central. Philipszoon (1962) relata que, dos dez indivíduos que apresentaram nistagmo espontâneo em seu estudo, seis foram para o lado da paralisia, três para o lado contrário e um, bidirecional. Este nistagmo bidirecional seria, atualmente, considerado sugestivo de um acometimento central e, muito provavelmente, o caso não seria nem considerado uma PB. Muitos autores, utilizando a ENG, encontraram nistagmos espontâneos nos indivíduos avaliados. Uri, Schuchman (1986) descrevem que 16,7% dos pacientes com PB apresentaram nistagmo espontâneo e Yagi et al (1988), 26,1%. Estes achados permitem questionar a acurácia dos exames realizados na ocasião. Nenhum dos autores descreveu a intensidade deste nistagmo espontâneo, inclusive porque a normalidade não era bem definida. Watanabe, Suzuki (2006), encontram nistagmo espontâneo em 37,3% dos pacientes com PB e em 20,7% dos controles. Adour, Doty (1973) descrevem sua presença em oito dentre os 28 55 pacientes com PB e em um dos 25 controles. Os achados de alteração nos indivíduos considerados normais reforçam a ideia de que os resultados dos exames realizados nestes trabalhos não seriam tão fidedignos. A normalidade na época era tão pouco conhecida que Lämmli, Fish (1974) relatam que a incidência de nistagmo espontâneo nos indivíduos com PB diminuiu de 75% para 16% e, segundo os autores, “atingindo valores de normalidade”. Pois os autores acreditavam que um valor de 16% de nistagmo espontâneo poderia ser esperado em indivíduos normais. 5.4.2 – Testes vestibulares O presente estudo encontrou VENG com resultados alterados em 25% dos casos com PB e em nenhum dos controles. Todos os exames alterados foram compatíveis com síndrome vestibular periférica deficitária do lado acometido pela paralisia. A análise estatística mostrou que não se trata de casualidade, podendose afirmar que há relação entre a PB e a presença de alterações vestibulares. Outros autores que estudam a presença de acometimento vestibular na PB e utilizam a ENG possuem resultados bastante díspares. Philipszoon, em 1962, descreveu nove indivíduos submetidos à prova calórica, sendo quatro com resposta diminuída do lado afetado, três com respostas normais e dois sem respostas bilateralmente. Estes exames que não apresentaram resposta nas duas orelhas poderiam ser fruto de uma falha na técnica do exame e não de um acometimento da função vestibular. May, Hardin (1977) descrevem 22% de alterações nas ENG de 500 pacientes, mas incluem na casuística pacientes com afecções neurológicas e 56 tumorais. Estes autores não especificam as alterações no exame, assim como Watanabe, Suzuki (2006), que relatam 7,2% dos pacientes com PB com alterações características de síndromes vestibulares deficitárias ou predominância direcional. Lämmli, Fish (1974) observam hiperreflexia em 50% e hiporreflexia nos outros 50% dos indivíduos com PFP submetidos à ENG. Como já foi discutido, cada autor utiliza um critério próprio para definir um exame como assimétrico e, portanto, caracterizar uma hipofunção. Considerando isso, sabemos que Uri, Schuchman (1986) observam 20,8% dos casos de PB com diminuição da resposta do lado afetado e Yagi et al (1988), 13% dos pacientes com PB com hipofunção na prova calórica. São poucos os estudos que avaliam um grupo controle. Adour, Doty (1973) não descrevem os achados no grupo controle e Uri, Schuchman (1986) não encontram alterações na ENG neste grupo. Apesar das técnicas empregadas para a avaliação dos pacientes não serem sempre adequadas, observa-se que a ideia de que a PB vem acompanhada de alterações vestibulares é defendida por muitos autores e corroborada pelo presente estudo. Cumpre ressaltar que este resultado - de 25% de pacientes com alterações vestibulares dentre os indivíduos com PB - embora já bastante expressivo, pode estar subdimensionado, uma vez que a prova calórica é baseada na estimulação do canal semicircular lateral e, portanto, apenas do ramo superior do nervo vestibular. 57 Lu e Yong (2003), avaliando pacientes com SRH por meio da ENG e do VEMP, observam que o VVZ acometeria tanto o nervo vestibular superior, como o inferior. Assim, se os pacientes do presente estudo tivessem sido avaliados também com a VEMP, possivelmente seria observado um número ainda maior de indivíduos com alterações vestibulares. 5.5 – Sobre os pacientes com VENG alterada 5.5.1 – Sobre a idade Não existiu diferença entre as médias das idades dos pacientes do grupo estudo com VENG normal e alterada, sugerindo que estas alterações não teriam relação com o envelhecimento do sistema vestibular e sim com o fator externo, que seria a PB. Adour, Doty (1973) descrevem sua amostra de pacientes com hiporreflexia na prova calórica. Dos oito pacientes com PB: dois entre 20-29 anos, um entre 3039, dois entre 40-49, três entre 50-59. Um paciente com SRH entre 40-49. Neste estudo, a variação de idade foi semelhante, mas deve-se considerar que não foram incluídos pacientes com menos de 12 anos. Esta exclusão não foi citada no estudo de Adour, Doty (1973). 5.5.2 – Sobre o sexo A avaliação dos pacientes com PB com VENG alterada mostrou um predomínio de indivíduos do sexo masculino - quatro mulheres (26,7%) e 11 (73,3%) homens – no presente trabalho. 58 Os achados estão em concordância com os de Adour, Doty (1973) que encontram, dentre os oito indivíduos com PB e hiporreflexia na prova calórica, três mulheres e cinco homens. Embora tenha existido um predomínio do sexo masculino, este não foi significante pelos testes estatísticos. Logo, assim como a idade, o sexo também não interferiu na resposta vestibular observada na VENG. 5.5.3 – Sobre o lado da paralisia O lado acometido pela PB não influenciou o resultado da VENG, porém, todos os exames alterados apresentaram resultado compatível com síndrome vestibular periférica deficitária ipsilateral à PB. Estes resultados estão em dissonância com os de Adour, Doty (1973) que observam diminuição da resposta calórica em oito pacientes, sendo que, destes, cinco apresentam acometimento contralateral ao lado da lesão. O fato dos achados de hipofunção vestibular serem ipsilaterais à PB - que nada mais é que uma hipofunção do nervo facial – corrobora com a ideia de que existe relação entre as duas manifestações clínicas, podendo existir um fator causal único para os dois acometimentos. 5.5.4 – Sobre o grau de paralisia na admissão Não se encontrou relação entre o grau de paralisa na admissão e a presença de alterações vestibulares. Os achados corroboram o que é descrito por Adour, Doty (1973) e por Uri, Schuchman (1986), que também não encontram relação entre o grau da paralisia e os achados na ENG. 59 Lämmli, Fish (1974) fizeram um estudo com o objetivo principal de avaliar se as alterações vestibulares teriam relação com o grau da paralisia. Os autores concluem que não, porém, observam que o nistagmo espontâneo, quando presente, desaparece mais rapidamente nos pacientes com menor lesão do nervo facial. Watanabe, Suzuki (2006) acrescentam que não observam associação entre grau de paralisia e alterações vestibulares, nem nos pacientes com PB, nem mesmo naqueles com SRH. Embora acredita-se que o VVZ é causador de uma lesão mais intensa no nervo facial, o que leva a uma paralisia facial mais acentuada e também ao aparecimento de sintomas auditivos e vestibulares (Peitersen, 2002; Martinez Oviedo, 2007). Koizuka et al (1988), discordando dos demais autores, referem que os pacientes com hipofunção labiríntica apresentam paralisia significantemente maior. 5.5.5 – Sobre os achados audiométricos As alterações no exame audiométrico foram raras nos 60 pacientes com PB avaliados nesta pesquisa. Seis pacientes apresentaram perda auditiva sensorioneural bilateral, simétrica, com perda mais acentuada nas frequências agudas, sugestiva de presbiacusia, fato esperado, visto que os pacientes idosos não foram excluídos do trabalho. Poderia-se inferir que as perdas auditivas sensorioneurais unilaterais, seriam mais presentes nos pacientes com VENG sugestiva de deficitária, por um acometimento do nervo facial associado ao VIII nervo craniano, tanto na sua 60 porção coclear, como na vestibular. Porém, os dados encontrados na pesquisa quatro dos 45 pacientes do grupo com VENG normal (8,9%) e dois dentre os 15 pacientes com VENG sugestiva de SVP deficitária (13,3%) apresentaram perda auditiva sensorioneural unilateral, ipsilateral à paralisia – não mostraram diferença estatisticamente significante. Eventualmente, se a casuística fosse maior, proporcionando mais pacientes com a associação entre PFP e perda auditiva, esta diferença fosse mais evidente. Os trabalhos de Adour, Doty (1973) e de Uri, Schuchman (1986) não encontram nenhum paciente com alteração auditiva, concordando com autores que referem que o nervo vestibular é afetado três ou quatro vezes mais do que o nervo coclear (Cicala et al, 1977). May, Hardin (1977) encontram 10% de alterações em testes auditivos de 500 pacientes, utilizando diapazão de 512Hz e considerando a prova alterada quando havia queixa de não escutar ou de incômodo a exposição a sons altos. Além da subjetividade da avaliação, os autores incluem todas as PFP, não apenas PB. Nas PFP causadas pelo VVZ, o acometimento auditivo e vestibular é mais frequente, como descrito por Yagi et al (1988), que encontraram audiometrias com assimetria – mais de 10dB de diferença entre os lados – em 21,7% dos pacientes com PB e em 54,2% dos pacientes com SRH. No presente estudo poder-se-ia aventar que os pacientes com alterações audiométricas seriam portadores de PFP causada pelo VVZ sem manifestação cutânea – zoster sine herpete. Se fosse observada relação da perda auditiva com 61 a presença de alterações vestibulares, isso também reforçaria a teoria de reativação viral levando a uma polineuropatia. 5.5.6 – Sobre o reflexo estapediano Neste trabalho, 35 dos 45 pacientes do grupo estudo com VENG normal e dez dentre os 15 pacientes com VENG sugestiva de SVP deficitária apresentaram ausência de reflexo estapediano. No total, 75% dos pacientes com PB apresentaram esse reflexo ausente. A diferença não foi significativa provavelmente porque a incidência de ausência de reflexo em pacientes com PFP é muito grande, como observado por May, Hardin (1977), que encontraram 90% dos 500 pacientes com PFP com diminuição ou ausência do reflexo estapediano. Estes autores mostram uma frequência maior, pois incluem todos os pacientes com PFP, não apenas os portadores de PB. 5.5.7 – Sobre a evolução Nesta pesquisa demonstrou-se que a evolução dos pacientes com VENG normal e alterada acompanhou um mesmo padrão, com melhora progressiva e simétrica entre os dois grupos. O achado corrobora resultados de Adour, Doty (1973) e de Uri, Schuchman (1986) que não encontraram correlação entre o grau de melhora e os achados na ENG. Da mesma forma, Watanabe, Suzuki (2006) não observam associação do grau de melhora com a presença de alterações vestibulares nos pacientes com PB, nem nos pacientes com SRH. 62 O presente estudo avaliou apenas pacientes com PB e não houve nenhum caso de má evolução, com necessidade de descompressão do nervo facial. Cruz et al, em 2005, também descrevem uma boa evolução: 69% dos 1521 pacientes com PB avaliados evoluem para grau I de paralisia pela classificação HB. May, Hardin (1977) referem melhora completa em 70% dos pacientes com PB, observando que, na presença de olho seco ou disacusia, este prognóstico cai para 10% e 25%, respectivamente. Os autores acreditam que a boa evolução é algo tão relacionado à PB que, ao avaliarem 500 pacientes, definindo padrões que diferenciassem quadros de PB de outras causas de PFP, consideram a presença de PFP bilateral, PFP recorrente e não melhora da paralisia após seis meses de acompanhamento, como parâmetros que afastam a hipótese de PB. 5.5.8 – Sobre a tontura Neste trabalho, treze indivíduos com PB apresentaram tontura (21,7%), sendo que a frequência da queixa não foi diferente no grupo de pacientes com VENG normal e alterada. Os achados foram semelhantes aos de Uri, Schuchman (1986), que encontram 20,8% de pacientes com tontura subsequente ao aparecimento da PB. Destes, dois apresentam resposta diminuída na prova calórica e três não apresentam alteração na ENG. Dentre os 23 pacientes com PB estudados por Yagi et al (1988), nenhum apresentou tontura. A presença da ENG alterada diante de pacientes assintomáticos poderia suscitar dúvidas quanto à legitimidade destes achados, sobretudo em uma época 63 em que o exame não era tão desenvolvido. Porém, o presente estudo reproduziu estes mesmos achados utilizando a VENG, que, como já foi discutido, possui técnica e parâmetros bem definidos e consagrados. Nesta pesquisa, embora se acredite nos parâmetros de normalidade do exame, optou-se por avaliar um grupo controle pareado pela mesma técnica. A ausência de alterações vestibulares no grupo controle reforça que os achados à VENG, quando presentes, são valorizáveis. Pode-se aventar que o acometimento vestibular ocorra de forma lenta e progressiva, não levando, em todos os casos, ao sintoma de tontura. A presença do vírus latente, descrita por McCormick (1972), pode corroborar esta teoria, considerando múltiplas pequenas reativações virais que levem à lesão nervosa sem outras manifestações clínicas ou mesmo levantar a hipótese de que este vírus latente não é tão inócuo como descrito e, possivelmente, nem tem um local de latência tão bem definido. Lazarini et al, em 2009, mostram, através de avaliação seriada dos pacientes com PB, a existência de uma dinâmica viral, possibilitando que o VHS possa ser detectado na saliva não apenas na primeira semana de evolução da doença, mas também nas demais semanas testadas. Os achados desta pesquisa - entre os 60 pacientes com PB, 15 apresentaram VENG alterada com hipofunção vestibular – foram sugestivos de que o mesmo fator etiológico da PB esteja acometendo outros nervos cranianos. Considerando isto verdadeiro, a teoria da polineuropatia e da reativação viral poderia explicar os casos de paralisias idiopáticas. Os achados do presente 64 estudo são, portanto, importantíssimos neste entendimento do trânsito viral que norteia a fisiopatologia da PFP. Cumpre ressaltar que a queixa de tontura, assim como o acometimento do VII nervo craniano, são mais prevalentes em PFP causada por VVZ. Watanabe, Suzuki (2006) não encontram tontura em nenhum dos pacientes com PB, mas sim em 36% dos pacientes com SRH. Adour, Doty (1973) também não encontraram tontura em nenhum dos 28 pacientes com PB, mas sim em um dos 19 com SRH. Seria de grande valor conhecer o agente causador da PB. Sabe-se que há casos de PFP causados pelo VVZ que, por não manifestarem lesões cutâneas, são erroneamente diagnosticados com PB, como apurado por Santos et al (2010). Estes casos, que recebem o nome de zoster sine herpete, poderiam apresentar maior acometimento do VIII nervo, assim como sintomas de tontura. Estudos futuros poderão associar a avaliação vestibular à pesquisa viral na saliva, pela técnica de PCR, como descrita por Lazarini et al (2006b), possibilitando verificar se os indivíduos com alterações vestibulares seriam os cuja PFP é causada pelo VVZ. 5.6 – Considerações finais A presença de alterações vestibulares relacionadas à PB contribui para o entendimento da fisiopatologia da doença, reforça a ideia do vírus como fator etiológico e levanta a possibilidade de doença viral nem sempre restrita ao nervo facial, podendo ser difusa, envolvendo outros nervos cranianos. 65 6 - CONCLUSÕES a) Foi verificada frequência de 25% de alterações vestibulares em exames de VENG em pacientes portadores de paralisia de Bell na fase aguda. b) As alterações vestibulares foram mais frequentes, com significância estatística, em pacientes portadores de paralisia de Bell, quando comparados a indivíduos controles normais. 66 7 – ANEXOS ANEXO 1 67 68 8 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Adour KK, Doty HE. 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A etiologia viral é atualmente a mais aceita para a PB. Após contágio inicial o vírus ficaria latente e em um momento de reativação transitaria pelo nervo facial, levando à neurite. Alguns autores relatam evidências de que a PFP seria apenas uma das manifestações de uma polineuropatia. Os vírus não acometeriam apenas o nervo facial e seus ramos, mas outras estruturas com alguma relação de proximidade, como o nervo vestibular e as estruturas de orelha interna. OBJETIVO: Verificar a frequência de alterações vestibulares em indivíduos com paralisia de Bell e comparar estas alterações com uma população normal. CASUÍSTICA E MÉTODO: Estudo prospectivo com 120 indivíduos que foram submetidos a vectoeletronistagmografia computadorizada. 60 indivíduos com PB aguda e 60 controles pareados por sexo e idade. RESULTADOS: Quinze dos 60 pacientes com PB apresentaram resultado compatível com síndrome vestibular periférica deficitária (25%). No grupo controle, todos os exames mostraram resultados dentro dos padrões da normalidade (p < 0,001). DISCUSSÃO: Este é o primeiro trabalho a avaliar pacientes com PB com a VENG. A presença de alterações vestibulares relacionadas à PB contribui para o entendimento da fisiopatologia da doença, reforça a ideia da etiologia viral e levanta a possibilidade de doença nem sempre restrita ao nervo facial, podendo ser difusa, envolvendo outras nervos cranianos. CONCLUSÃO: Foi verificada frequência de 25% de alterações vestibulares em exames de VENG em pacientes com PB aguda. As alterações vestibulares foram mais frequentes, com significância estatística, em pacientes com paralisia de Bell, quando comparado a indivíduos controles normais. Palavras Chave: Paralisia facial, Paralisia de Bell, Doenças Vestibulares, Eletronistagmografia, Estudos prospectivos. 75 ABSTRACT INTRODUCTION: Although Bell's palsy (BP) is the most common type of facial palsy, its pathophysiology remains unclear. Viral reactivation is the most accepted cause for BP. Some authors report evidence that facial palsy is only one manifestation of a polyneuropathy. Virus would infect not only the facial nerve and its branches, but also close structures, as the vestibular nerve and inner ear structures. OBJECTIVES: Establish frequency of vestibular disorders in subjects with acute BP and compare with normal population. CASUISTRY AND METHOD: Prospective study with 120 subjects of a tertiary hospital that underwent vectorelectronystagmography (VENG). 60 individuals with acute BP and 60 controls matched for sex and age. RESULTS: Fifteen of 60 patients with BP presented peripheral vestibular hypofunction syndrome (25%). In control group, all tests were normal (p <0.001). DISCUSSION: This is the first study to evaluate patients with BP using VENG. Presence of vestibular disorders related to BP contributes to the understanding of the pathophysiology of the disease, reinforcing viral etiology idea and raises the possibility of viral disease, not always restricted to the facial nerve, but diffuse, involving other cranial nerves. CONCLUSION: There were 25% of vestibular disorders in VENG, in patients with acute BP. Vestibular disorders were significantly more frequent in patients with BP than in normal control subjects. Key words: Facial paralysis, Bell Electronystagmography, Prospective studies. palsy, Vestibular disease, 76 APÊNDICES APÊNDICE 1 77 APÊNDICE 2 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Projeto de Pesquisa : “Alterações otoneurológicas em pacientes com paralisia facial periférica idiopática” A Paralisia Facial Periférica, chamada de PFP, é uma doença do nervo facial, que leva a uma paralisia de metade do rosto, podendo também levar a alterações das lágrimas e do gosto de alimentos. A doença não é causada por derrame. Da mesma forma que o nervo facial é atingido, acredita-se que o nervo vestíbulococlear, que é responsável pela audição e equilíbrio, também pode ser afetado. Um exame realizado nos pacientes com PFP ajudaria a descobrir se existe alguma alteração neste outro nervo. Este exame é realizado pedindo para o paciente ficar sentado em uma cadeira e seguir com os olhos um ponto de luz vermelho. Depois, é colocada água dentro das orelhas para medir o funcionamento do labirinto. Este exame não causa dor, podendo, às vezes, dar enjôo e vômitos. Este termo tem a finalidade de obter o seu consentimento para a realização do exame, assim como para o acompanharmos em retornos ao hospital, quando recomendados, para nos certificarmos de seu constante bom estado. Solicitamos, ainda, sua autorização para que possamos publicar cientificamente os resultados alcançados, sempre garantindo total sigilo e privacidade. A qualquer momento este consentimento poderá ser recusado ou retirado, sem nenhuma penalização para o paciente, inclusive interrompendo-se o acompanhamento, se esta for sua vontade ou de seu responsável legal. As pessoas e a entidade envolvida no atendimento e na pesquisa, conforme dita a lei, serão responsáveis por qualquer efeito danoso provocado pelo procedimento, respondendo por eventuais ressarcimentos ou indenizações que tenham sido legalmente julgados e decididos. Nome do Paciente: ____________________________________________________ Compreendi e estou de acordo com todas as informações contidas neste termo, Ciente e de acordo: _________________________________________ (paciente ou responsável legal) Ciente e de acordo: _________________________________________ (pesquisador responsável) Dra. Mônica Alcantara de Oliveira Santos CRM 105338 Professora Segundo Assistente da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo – Departamento de Otorrinolaringologia R. Dr. Cesário Motta Jr, 112 – Pavilhão Conde de Lara – 4º andar Telefone: 21767235 / 82450902 78 APÊNDICE 3 – Tradução do sistema de graduação da paralisia facial proposto por House e Brackmann GRAU I. Normal II. Disfunção leve DEFINIÇÃO Função facial normal em todas as áreas. Fraqueza leve notável somente na inspecção de perto. No repouso: tônus e simetria normais. Motricidade: movimento leve a normal da testa; habilidade de fechar os olhos com esforço mínimo e leve assimetria; habilidade de mover a comissura dos lábios com esforço máximo e leve assimetria. Nenhuma sincinesia, espasmo ou contratura hemifacial. III. Disfunção moderada Diferença óbvia mas não desfigurante entre os dois lados. Nenhum comprometimento funcional; sincinesia notável mas não severa, contratura e/ou espasmo hemifacial. No repouso: tônus e simetria normais. Motricidade: movimento da testa leve ou ausente; habilidade de fechar os olhos com esforço máximo e assimetria evidente, habilidade de mexer a comissura dos lábios com esforço máximo e assimetria evidente. Pacientes com sincinesia evidente mas não desfigurante, contratura e/ou espasmo estão no grau III, independente da atividade motora. IV. Disfunção moderadamente grave Fraqueza evidente e/ou assimetria desfigurante. No repouso: tônus e simetria normais. Motricidade: nenhum movimento da testa; inabilidade de fechar os olhos completamente com esforço máximo; movimento assimétrico das comissuras labiais ao esforço máximo. Os pacientes com sincinesia, contratura e/ou espasmo suficientemente severos para interferir na função, estão no grau IV, independente da atividade motora. V. Disfunção grave Somente movimentos suavemente perceptíveis. No repouso: possível assimetria com queda da comissura labial e apagamento ou ausência do sulco naso-labial. Motricidade: nenhum movimento da testa; fechamento incompleto dos olhos e somente movimento leve da pálpebra com esforço máximo; movimento discreto da comissura labial. Sincinesia, contratura e espasmo hemifacial geralmente ausentes. VI. Paralisia total Perda de tônus; assimetria, nenhum movimento. Ausência de sincinesia, contratura e espasmo hemifacial. 79 APÊNDICE 4 Lazarini P, Mitre E, Takatu E, Tidei R. Graphic-visual adaptation of House-Brackmann facial nerve grading for peripheral facial palsy. Clin Otolaryngol. 2006; 31:192-7.