UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTOS PRODUÇÃO DO JOURNAL OF BIOMECHANICS ENTRE OS ANOS DE 2000 E 2001 RELACIONADA AO TEMA EQUILÍBRIO CORPORAL Flávia Porto Melo Ferreira Rio de Janeiro 2003 PRODUÇÃO DO JOURNAL OF BIOMECHANICS ENTRE OS ANOS DE 2000 E 2001 RELACIONADA AO TEMA EQUILÍBRIO CORPORAL Flávia Porto Melo Ferreira Memória de Licenciatura apresentada ao Instituto de Educação Física e Desportos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciado em Educação Física. ORIENTADOR: Prof. Dr.Luiz Alberto Batista Rio de Janeiro 2003 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES INSTITUTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTOS A Memória de Licenciatura intitulada Produção do Journal of Biomechanics entre os anos de 2000 e 2001 relacionada ao tema equilíbrio corporal. elaborada por Flávia Porto Melo Ferreira foi aprovada por todos os membros da Banca Examinadora e aceita pelo Instituto de Educação Física e Desportos como requisito parcial à obtenção do título de LICENCIADO PLENO EM EDUCAÇÃO FÍSICA. Rio de Janeiro, de 22 de julho de 2003. BANCA EXAMINADORA: Prof. Dr. Luiz Alberto Batista (orientador) Prof. Esp. Nilson Silva Filho Prof. Jonas Lírio Gurgel Ferreira, Flávia Porto Melo Produção do Journal of Biomechanics entre os anos de 2000 e 2001 relacionada ao tema equilíbrio corporal / Flávia Porto Melo Ferreira.- Rio de Janeiro, 2003. Ix, 108 p. Orientador: Prof. Dr. Luiz Alberto Batista Memória de Licenciatura – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Educação Física e Desportos. 1. Revisão 2. Biomecânica I. Título 3. Equilíbrio corporal DEDICATÓRIA Dedico esta obra a meus pais: Jocelen Porto Ferreira e Rogerio Melo Ferreira. i AGRADECIMENTOS A cada tarefa que cumprimos devemos ter a certeza de que sua realização somente foi possível através da cooperação de outras pessoas. Embora haja a possibilidade de omitir algum nome, estou certa de que esta chance é bastante oportuna para tornar público meus agradecimentos. Primeiramente, quero agradecer à minha família, em especial aos meus pais, Rogerio e Celen; meus irmãos, Joyce e Heleno; e ao meu querido sobrinho e afilhado, Lucas. Os momentos difíceis foram, sem dúvida, amenizados com o apoio e carinho de minha família. Ao meu companheiro de todas as horas e também colega de profissão, Jonas Lírio Gurgel, pelos momentos de apoio e carinho, em todos os âmbitos de minha vida e pela contribuição significativa e co-orientação na elaboração desta Memória de Licenciatura. Ao meu orientador, professor Dr. Luiz Alberto Batista, pelas contribuições na elaboração desta Memória de Licenciatura e pela amizade que me dispôs ao longo destes anos na UERJ. Aos amigos de curso, pelos vários momentos de descontração e participação nas lutas acadêmicas, estudantis e políticas da Universidade (e arredores), que contribuíram sobremaneira à minha evolução como cidadã. Agradecimentos especiais aos amigos do Centro Acadêmico de Educação Física Alberto Latorre de Faria, gestões 1999-2000 e 20002001; aos amigos de turma, em especial, Dominique Christine Miranda, Maria Fernanda de Sousa, Raquel Shumann e Juliana Fiuza; aos amigos Daniel Chagas, Juliana Diuana, Marcelle Monteiro e Luciana Lucas por terem servido de modelos nas fotos apresentadas nesta pesquisa. Aos membros do Laboratório de Biomecânica (LABIOM), Christiane Corrêa, Daniel Chagas, Glauber Pereira, Janilson Pereira Torres Junior, Jonas Gurgel, Letícia Brito e Rachel Belmont, pelo carinho e amizade, além das diversas discussões acadêmicas que me fizeram crescer pessoal e profissionalmente. Aos professores Guilherme Locks Guimarães, Ms. Marcos Santos Ferreira, Dr. Paulo de Tarso Veras Farinatti e Dr. Roberto Ferreira dos Santos pela amizade e apoio durante os anos do curso. ii À professora Dr. Maria Cristina Lírio Gurgel pela amizade e revisão lingüística desta obra. À banca examinadora que possibilitou meu crescimento pessoal e profissional e acrescentou a meu trabalho valiosas intervenções. A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a evolução de meu saber nesta etapa de minha formação acadêmica, muito obrigada! iii “Há homens que lutam um dia e são bons. Há outros que lutam um ano e são melhores. Há aqueles que lutam muitos anos e são muitos bons. Mas há os que lutam toda a vida. Esses são imprescindíveis”. Bertolt Brecht (1898-1956) iv SUMÁRIO DEDICATÓRIA ......................................................................................................................i AGRADECIMENTOS .......................................................................................................... ii SUMÁRIO ..............................................................................................................................v LISTA DE TABELAS......................................................................................................... vii LISTA DE QUADROS ...................................................................................................... viii LISTA DE FIGURAS............................................................................................................ix ANEXOS ...............................................................................................................................xi LISTA DE SIGLAS, ABREVIATURAS E SÍMBOLOS ................................................... xii RESUMO............................................................................................................................ xiii ABSTRACT.........................................................................................................................xiv INTRODUÇÃO ......................................................................................................................1 Capítulo 1 EQUILÍBRIO........................................................................................................3 1.1 ALAVANCAS..............................................................................................................8 1.1.1 CLASSIFICAÇÃO DAS ALAVANCAS .............................................................9 1.1.1.1 Primeira classe (ou Interfixa)........................................................................10 1.1.1.2 Segunda classe (ou Interresistente)...............................................................10 1.1.1.3 Terceira classe (ou Interpotente)...................................................................10 1.2 EQUILÍBRIO ESTÁTICO ...................................................................................12 1.3 EQUILÍBRIO DINÂMICO ........................................................................................14 1.4 EQUILÍBRIO ESTÁVEL.....................................................................................17 1.4.1 FATORES QUE INTERFEREM NA ESTABILIDADE DO CORPO...............18 1.4.1.1 Projeção do Centro de Gravidade (CG)........................................................18 1.4.1.2 Tamanho da base de sustentação ..................................................................20 1.4.1.3 Inércia ...........................................................................................................23 1.4.1.5 Coeficiente de atrito......................................................................................25 1.4.1.6 Altura da localização do Centro de Gravidade ............................................26 1.4.1.7 Fatores neuromusculares, fisiológicos, psicológicos....................................26 1.4 EQUILÍBRIO INSTÁVEL ...................................................................................27 1.5 EQUILÍBRIO NEUTRO OU INDIFERENTE.....................................................28 Capítulo 2 - MÉTODOS PARA LOCALIZAÇÃO DO CENTRO DE GRAVIDADE .......30 2.1 MÉTODO DA PLATAFORMA OU PRANCHA DE REAÇÃO..............................32 2.2 MÉTODO DO MANEQUIM .....................................................................................38 2.3 MÉTODO SEGMENTAR (OU DA SEGMENTAÇÃO): .........................................42 Capítulo 3 - INSTRUMENTOS PARA ANÁLISE DE POSTURA E EQUILÍBRIO CORPORAL HUMANO ......................................................................................................46 3.1. DINAMOMETRIA....................................................................................................47 3.1.1. Dinamômetros manuais ......................................................................................47 3.1.2. Dinamômetros escapulares .................................................................................48 3.1.3. Dinamômetros dorsais ........................................................................................48 3.1.4. Plataformas de força ...........................................................................................48 Capítulo 4 SISTEMAS SENSORIAIS .................................................................................56 4.1 SISTEMA VESTIBULAR .........................................................................................56 4.2 SISTEMA VISUAL....................................................................................................58 4.3 SISTEMA SOMATOSSENSORIAL .........................................................................63 v Capítulo 5 Metodologia ........................................................................................................65 SITUAÇÃO - PROBLEMA .............................................................................................65 HIPÓTESES .....................................................................................................................65 OBJETIVO .......................................................................................................................65 JUSTIFICATIVA .............................................................................................................65 MÉTODO .........................................................................................................................65 CORPUS DE ANÁLISE ..................................................................................................67 RESULTADOS ................................................................................................................70 CONSIDERAÇÕES FINAIS e CONCLUSÕES .................................................................77 LIMITAÇÕES ......................................................................................................................80 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................81 ANEXO I-.............................................................................................................................85 ANEXO II.............................................................................................................................86 ANEXO III- ..........................................................................................................................89 vi LISTA DE TABELAS Tabela Título p. 1 Localização do CG segmentar nos corpos humanos................... 60 2 Transferência das coordenadas dos CG’s.................................... 61 3 Planilha para estimar posição do CG corporal............................ 61 vii LISTA DE QUADROS Quadro 1 Título p. Classificação e funções das alavancas......................................... 27 viii LISTA DE FIGURAS Figura Título p. 1 Organograma Mecânica.............................................................. 22 2 Tipos de alavancas....................................................................... 28 3 Tipos de equilíbrio....................................................................... 34 4 Localização do CG fora do corpo................................................ 36 5 Diferentes bases de sustentação em apoio bipodal...................... 37 6 Inércia.......................................................................................... 42 7 Método da Plataforma de Reação................................................ 49 8 Montagem prancha de reação...................................................... 8 9 Montagem do método/ LABIOM................................................ 51 10 Prancha de Reação- momento de coleta de dados....................... 52 11 Coleta de dados/ LABIOM.......................................................... 53 12 Prancha de Reação- duas balanças.............................................. 55 13 Montando o manequim................................................................ 57 14 Modelo de dinamômetro manual................................................. 64 15 Modelo de dinamômetro escapular e aplicabilidade................... 65 16 Modelo de dinamômetro dorsal e aplicabilidade........................ 65 17 Plataforma de força..................................................................... 66 18 Modelo de plataforma de força Kistler + amplificador de carga 67 (Kistler- modelo 9865E1Y28 com 8 canais para conversão de saída)............................................................................................ 19 Plataforma de força Kistler.......................................................... 68 20 Teste em plataforma de força...................................................... 69 21 Gráfico Área de Interesse ........................................................... 88 22 Gráfico Estratégia de Observação............................................... 88 23 Organograma Mecânica da Marcha............................................ 89 24 Organograma Controle Postural.................................................. 90 25 Gráfico Natureza das Amostras................................................... 90 ix 26 Gráfico Perfil das Amostras........................................................ 91 27 Gráfico Faixa etária das amostras............................................... 92 28 Gráfico Instrumentos mais utilizados.......................................... 92 x ANEXOS Anexos Título p. I Conceitos de equilíbrio................................................................ 102 II Isaac Newton............................................................................... 103 III D’Alembert……………………………………………………. 106 xi LISTA DE SIGLAS, ABREVIATURAS E SÍMBOLOS APA Ajustes Posturais Antecipatórios CG= Centro de Gravidade CM= Centro de Massa CP= Centro de Pressão EMG= Eletromiografia F= Força I= Momento de Inércia LG= Linha de Gravidade M ou T= Momento de Força ou Torque P= Força Peso xii RESUMO PRODUÇÃO DO JOURNAL OF BIOMECHANICS ENTRE OS ANOS DE 2000 E 2001 RELACIONADA AO TEMA EQUILÍBRIO CORPORAL Autor: FLÁVIA PORTO MELO FERREIRA Orientador: Prof. Dr. LUIZ ALBERTO BATISTA O fator de impacto (número de citações por artigo por ano) do Journal of Biomechanics é considerado de médio a alto na comunidade científica da área Biomédica. Embora a Biomecânica seja ferramenta fundamental no exercício profissional de Educação Física, não sabemos com que tendência se dá a produção da área de Equilíbrio corporal. Assim, o objetivo deste estudo foi averiguar com que tendência se dá a produção na área de equilíbrio corporal baseada nas publicações do Journal of Biomechanics entre os anos de 2000 e 2001. O critério de escolha dos artigos foi baseado nas palavras-chave, título e realização da técnica de Scanning (GOODMAN, 1976 apud KLEIMAN, 1989). Foram 200 artigos publicados durante estes anos e somente 17 % (34) dos artigos foram, efetivamente, aproveitados. Os resultados demonstraram que mais da metade da amostra, 20 publicações, teve seu enfoque voltado para estudo da Mecânica da Marcha, enquanto que 12 se preocuparam abordar a questão do controle postural. Outros tiveram áreas de interesse eram muito específicas, de modo que se tornou difícil sua colocação em algum grupo de temática específica. Quanto ao perfil das amostras, compostas por pessoas, utilizadas pelos autores nos estudos submetidos à análise, verificamos que 52% (223) do total de n amostral foram compostos por sujeitos saudáveis (223); 32,7% (139) apresentavam osteoartrite de joelho; 3,52% (15) eram portadores de Diabetes; 1,17% (5) eram hemiplégicos; e, 2,11% (9) eram atletas, praticantes da modalidade corrida de longa distância. Os resultados preliminares necessitam de investigação posterior mais aprofundada de modo a delinear melhor esta área de conhecimento. Palavras chave: Análise de conteúdo; Journal of Biomechanics; equilíbrio. xiii ABSTRACT JOURNAL OF BIOMECHANICS PRODUCTION BETWEEN 2000 AND 2001 CONCERNING TO ISSUE “BODY BALANCE” Author: FLÁVIA PORTO MELO FERREIRA Orienter: Prof. Dr. LUIZ ALBERTO BATISTA Factor of impact (number of quotations per article per year) of Journal of Biomechanics has a medium to high consideration in scientific community of Biomedical area. Although Biomechanics is a fundamental instrument of professional acting of Physical Education, we do not know what is tendency of production in body balance area. So, target of this study was to verify how tendency occurs in Body Balance area and it was based in Journal of Biomechanics publications between 2000 and 2001. Criterion for choosing articles was based in key-words, title and realization of Scanning (GOODMAN, 1976 apud KLEIMAN, 1989). In these years, 200 articles were published but only 17% (34) were really used. Results demonstrated that more than half, 20 publications, were directed to Mechanics of March study, while 12 boarded posture control issue. As others had very specific interests, it was difficult to put them in specific groups. About type of persons that were used by authors in their analysis studies, we verified that 52% (223) of total were healthy guys; 32,7% (139) had osteoarthritis on knees; 3,52% (15) were diabetics; 1,17% (5) were hemiplegics; and 2,11% (9) were athletes, long distance run performers. Preliminary results need more investigations in order to delineate better this knowledge area. Key-words: Content analysis; Journal of Biomechanics; Balance. xiv INTRODUÇÃO A evolução da Biomecânica é evidente em nível mundial, nos mais diversos ramos, comprovadamente no desenvolvimento dos métodos e procedimentos utilizados nas atuais pesquisas científicas, relacionados ao aparelho locomotor, e exigência tecnológica nos estudos da locomoção humana. A Biomecânica trata de analisar, quantificar e compreender relações básicas entre forças atuantes e movimentos ou deformações resultantes do tecido. Esta ciência torna-se base de medidas para cirurgias, tratamentos de reabilitação, área de instrumentação, sendo, ainda, extremamente aplicada ao esporte e à ciência do esporte e não menos importante à industria de produtos esportivos, próteses, etc. (RIEHLE, 2003) Por outro lado, apesar da Biomecânica se apresentar como ferramenta fundamental no exercício profissional de Educação Física, já sendo, inclusive, oferecida como disciplina obrigatória nos diversos cursos de graduação pelo país, não sabemos com que tendência se dá a produção da área de equilíbrio corporal. Baseado nisso, o objetivo desta Memória de Licenciatura é identificar a tendência de produção nesta área. Algumas hipóteses foram levantadas sobre o assunto, como a questão de carecerem de pesquisas as áreas que dizem respeito à atuação profissional junto a indivíduos em fase de desenvolvimento motor bem como prescrição de exercícios para melhora de performance de desportistas, com relação ao equilíbrio mecânico. Outras hipóteses são que a ênfase de pesquisa nesta área proposta está sendo dada em postura em bipedestação e questões de reabilitação; não há um método eficaz para mensuração de equilíbrio nos esportes e outras áreas carentes de instrumentos; e, caso haja um método eficaz para mensuração de equilíbrio nos esportes e outras áreas carentes de instrumentos, este não vem sendo aplicado ou até divulgado. O estudo constituiu-se de uma revisão dos artigos publicados no Journal of Biomechanics entre os anos de 2000 e 2001, relacionados ao tema equilíbrio corporal. Acredita-se que este estudo se justifica por acrescentar e contribuir para a literatura nacional de Biomecânica, além de ser um incentivo para a criação de um método eficaz de mensuração de equilíbrio em desportos e outras áreas carentes de instrumentos. A escolha deste periódico se deu pelo alto valor de aceitação (fator de impacto) entre a comunidade 1 científica de área Biomédica e pela facilidade de, gratuitamente, em se obter artigos de suas publicações. Esta obra organiza-se da seguinte forma: primeiramente, são apresentados 4 (quatro) capítulos que se destinam a maior esclarecimento sobre os assuntos que norteiam a área. O Capítulo 1 propõe uma revisão acerca do equilíbrio humano sob a perspectiva da Biomecânica. O Capítulo 2 aborda alguns dos métodos de localização do CG do corpo humano. O Capítulo 3 trata de alguns dos diversos instrumentos, mais comumente utilizados, por pesquisadores na área de Equilibriometria pertencente à Biomecânica. O Capítulo 4 propõe uma breve revisão dos sistemas sensoriais que auxiliam na tarefa do equilíbrio mecânico e postural humanos. O Capítulo 5 apresenta os dados obtidos com revisão de literatura no Journal of Biomechanics e, finalmente, são apresentadas as conclusões deste estudo com as devidas propostas para estudos futuros. 2 Capítulo 1 EQUILÍBRIO O termo “equilíbrio” é oriundo do latim “aequilibriu” e, em seu sentido literário, significa “Estado de um corpo solicitado por duas ou mais forças que se anulam entre si; harmonia; justa medida.” (FERNANDES, 1993, p.324) Sendo referido em diversas situações e áreas de conhecimento, o equilíbrio quase sempre está relacionado a uma condição de estabilização, meio-termo, balanceamento, moderação, comedimento. Em Fisiologia, por exemplo, o termo equilíbrio pode ser abordado em diversos assuntos, como no caso da produção de energia muscular. O desempenho da musculatura esquelética depende do equilíbrio entre a síntese muscular de ATP1 e a demanda de energia dos processos metabólicos. (FRONTERA, DAWSON, SLOVICK, 2001) Em Biomecânica, foco desta Memória de Licenciatura, várias conceituações são atribuídas ao estado de equilíbrio de um corpo. Carr (1998) coloca o equilíbrio (ou balanço) como sendo a capacidade de neutralizar forças que poderiam perturbar seu estado, o que requer coordenação e controle. Esclarece que, embora muitas vezes o equilíbrio seja dado como equivalente à estabilidade de um corpo, esta significa a quantidade de resistência que os indivíduos colocam contra o distúrbio de seu equilíbrio. Hay (1993) atribui o estado de equilíbrio a todo corpo que permanece em repouso ou movimentando-se a uma velocidade constante. Segundo Enoka (2000), o equilíbrio mecânico existe quando o somatório de forças que agem sobre determinado sistema é zero. Watkins (2001) afirma que um objeto está em equilíbrio quando a força resultante e o momento resultante que agem sobre ele são iguais a zero. Hay e Heid (1985), e Hall (2000) concordam que a estabilidade corporal tem a ver com o estado de equilíbrio do corpo. A resistência à aceleração angular ou linear e a capacidade do indivíduo em assumir e manter uma determinada posição refere-se ao equilíbrio corporal do sujeito. O que temos é uma série de afirmações complementares e, até, redundantes. De fato, a condição de equilíbrio mecânico de um corpo depende da interação entre a ação de forças que nele atuam e sua capacidade de resistir a qualquer movimento que elas possam vir a provocar. O somatório de forças atuantes em um corpo sendo zero, não existirá torque 1 ATP: molécula composta por um grupo de adenosina (tipo de açúcar) e três grupos de fosfato (=adenosina trifosfato). Consiste de fonte de energia imediata para ações musculares. 3 resultante e, conseqüentemente, não haverá movimentos de rotação. Entretanto, na verdade, o que torna estável um determinado corpo é o fato de o somatório dos momentos de força2 atuantes nele ser nulo. Contudo, há um certo hábito dos autores, de modo geral, de colocar o somatório de forças que agem em um corpo como responsável pelo equilíbrio mecânico do mesmo. É uma questão, apenas, de uso correto de termos. Tratando-se do equilíbrio mecânico no corpo humano, a interação entre fatores mecânicos e demais condições de ordem fisiológica e emocional devem estar em perfeita harmonia para que este estado possa existir. Por isso, é crucial que se conheça o funcionamento do corpo humano aliado aos conhecimentos da Física de Newton3, por exemplo, para a atuação junto às populações com desordens de equilíbrio, indivíduos em fase de desenvolvimento motor, bem como para a fabricação e design de equipamentos que visem a melhoria de vida da sociedade no que diz respeito à locomoção, a vias de acesso (rampas, escadas, outros), à postura ereta estática, entre outras áreas4. Historicamente, temos que a Mecânica é o mais antigo ramo da Física que estuda os corpos em repouso ou em movimento que podem estar sob ação de forças. Um dos principais cientistas desta área foi Isaac Newton (1642-1727), criador das leis básicas que regem o movimento, as chamadas Leis de Newton.5 2 Torque ou momento de força é a ação de uma força aplicada a um corpo em relação a um ponto distante da linha de ação desta força, gerando movimentos de rotação. É obtido pelo produto da força aplicada pela distância desta aplicação em relação ao eixo de movimento. Unidade SI: Nm. 3 Segue, em anexo, uma resumida biografia sobre um dos principais cientistas de todos os tempos: Isaac Newton (1642-1727), criador das leis básicas que regem um movimento. 4 Esta é uma preocupação da chamada Biomecânica Ocupacional, otimamente descrita por Choffin et al, 1999. 5 http://www.usp.br/eef/lob/aulas/mecanica_arquivos/outline.htm 4 MECÂNICA Mecânica dos Corpos Rígidos Estática Mecânica dos Fluidos Mecânica dos Corpos Deformáveis Dinâmica Cinemática Cinética Linear Angular Linear Angular Posição Velocidade Aceleração Posição Velocidade Aceleração Força Torque Figura 1: Organograma - Mecânica. Adaptação de http://www.usp.br/eef/lob/aulas/mecanica_arquivos/outline.htm Na figura 1, podemos perceber que a Mecânica é dividida em três ramos: Mecânica dos Corpos Rígidos, Mecânica dos Fluidos e Mecânica dos Corpos Deformáveis. A Mecânica dos Corpos Rígidos comporta a Estática e a Dinâmica, sendo que esta última, ainda, subdivide-se em Cinemática e Cinética.6 A Mecânica pode ser considerada a “Ciência que trata das leis do equilíbrio e do movimento, e da aplicação delas à construção e emprego das máquinas...” (FERNANDES, 1993, p.472) A Dinâmica é o ramo da Mecânica que estuda os corpos em movimento e as forças que agem sobre eles. A Cinemática e a Cinética são ferramentas da Dinâmica que se baseiam em análises de movimentos angulares e lineares do objeto. A primeira baseia-se em parâmetros como posição, velocidade e aceleração, para percursos lineares e para angulares dos corpos. Já a Cinética baseia-se em parâmetros como força 6 http://www.usp.br/eef/lob/aulas/mecanica_arquivos/outline.htm 5 para a cinética linear, e em torques ou momentos de força, similares à ação da força, em movimentos angulares. Em outras palavras, a diferença básica entre Cinemática e Cinética é que a primeira utiliza a descrição de movimentos, sem considerar a força produzindo o movimento, enquanto que, na segunda, a importância dada à força é fundamental. O estudo do equilíbrio é pertinente, mais precisamente, à área da Estática já que estuda “... as condições sob as quais o objeto se mantém em equilíbrio ou em repouso como resultado de forças agindo sobre ele.” (NORKIN, LEVANGIE, 2001, p.17) Aliás, esta obra pretende focalizar a pesquisa em torno deste termo: equilíbrio, incluindo as ações mecânicas e sensoriais que o norteiam, além de instrumentos utilizados para avaliações do mesmo. A questão do equilíbrio, bem como toda a complexidade envolvida na obtenção e manutenção deste, é notada quando assumimos a posição ereta. A tarefa de manter o equilíbrio nota-se como extremamente difícil quando a capacidade de manter a postura ereta se deteriora. Tal fato pode ocorrer quando o corpo é acometido por patologias no sistema neuromotor, distúrbios de algum sistema sensorial que auxilia na tarefa do equilíbrio, como o sistema vestibular, além de acidente vascular cerebral, e Mal de Parkinson. (DUARTE, 2000, a) Diversos autores têm se preocupado em pesquisar sobre o assunto, o que contribui sobremaneira para a evolução da área. Instrumentos são elaborados para quantificar e qualificar o estado de equilíbrio, ou seja, com o intuito de estabelecer melhor entendimento sobre o fenômeno. Entretanto, parecem carecer de pesquisas as áreas que dizem respeito ao trabalho realizado com indivíduos em fase de desenvolvimento motor, bem como exercícios para melhora de performance de desportistas. A Mecânica, puramente, não resolve os problemas humanos acerca de distúrbios no equilíbrio postural. A Biomecânica, ciência que, dentre outras funções, encarrega-se de estudar os processos mecânicos dos corpos vivos, está em evolução nos mais diversos âmbitos, inclusive na área de equilíbrio e postura. Assim, esta passa a ser ferramenta fundamental para o entendimento e, conseqüentemente, construção de equipamentos e instrumentos que visem ao tratamento de pessoas que possuam patologias que comprometem o sistema locomotor. A elaboração de máquinas é perfeitamente possível com o auxílio da Mecânica. Assim, profissionais da área de exatas são aptos a realizar qualquer tipo de projeto de 6 construção. Vemos, contudo, que o conhecimento sobre a complexidade do corpo humano é ferramenta de total importância quando estas máquinas são em prol da sociedade, respeitando o direito de locomoção, ou em se tratando de questões de reabilitação, por exemplo. Temos exemplos de construção de rampas de acesso destinadas aos usuários de cadeira de rodas que devem obedecer a uma determinada angulação que possibilite ao deficiente físico se locomover sem ajuda de outrem e sem entrar em estado de fadiga, desnecessariamente; além de ser necessário, ao piso das rampas, ter um coeficiente de atrito7 compatível com a maioria do material com o qual são feitas rodas e solados de sapatos, entre outros fatores. Tratando mais especificamente da postura do corpo, seja aquela ideal em posição de bipedestação ou aquela mantida em situações de trabalho braçal e esportes, temos que o controle postural é algo bastante complexo e que depende da interação de diversos sistemas orgânicos. Segundo Enoka (2000), o objetivo da atividade postural é manter a estabilidade do sistema musculoesquelético. Duarte (2000, a) complementa com a afirmação de que a manutenção do equilíbrio corporal e postural humano é uma tarefa bastante complexa, principalmente pelo fato de termos assumido uma nova postura ao longo da evolução da espécie. A mudança de apoio e, conseqüentemente, de postura solicitou do organismo humano um esforço maior para manutenção desta postura, em virtude da ação das diversas forças que o corpo humano sofre, constantemente. Diante de todas as questões levantadas sobre a aplicação da Biomecânica nos assuntos relacionados à postura e ao equilíbrio mecânico humanos, é relevante que se conheça como se encontra a produção de conhecimento nesta área, visto que muitas melhorias em equipamentos de mensuração de estabilidade postural, bem como no utilitário para pessoas com desordens posturais podem ser realizadas. Outrossim, é recomendável que testes que verifiquem a qualidade do equilíbrio humano sejam conhecidos, divulgados e/ou criados para áreas esportivas – categorias de base e rendimento- com intuito de melhorar a performance e o ensino nas mesmas. Ainda assim, pode-se evoluir na questão de prescrição de atividades físicas para populações específicas conhecendo-se melhor os 7 O coeficiente de atrito (µ) refere-se à facilidade ou dificuldade relativa de deslizamento de duas superfícies em contato, garantindo o grau de estabilidade entre estes dois corpos. 7 problemas relativos a desordens de equilíbrio, aparelhagem de mensuração, e condições ambientais e mecânicas para a manutenção do equilíbrio corporal. Com relação aos fatores mecânicos que atuam na estabilidade do corpo humano, há necessidade de que se conheça a natureza das alavancas.8 As alavancas presentes no corpo humano permitem o equilíbrio para o movimento desejado, bem como a manutenção de uma posição qualquer. Elas podem aumentar o efeito gerado por uma força de magnitude muito pequena aplicada sobre um corpo e aumentar a velocidade de um objeto a ser movido. No corpo humano, as alavancas existem e devem ser aproveitadas para otimizar um estado de movimento. O equilíbrio mecânico do corpo é desejável em diversas situações no âmbito da atividade e educação físicas. Algumas situações pedem que o indivíduo esteja menos estável que normalmente, como acontece na saída de bloco das corridas de Atletismo, na saída de bloco da Natação ou no arremesso de lance livre do Basquetebol. Em outras, uma estabilidade maior é necessária, como nas órteses fabricadas para indivíduos em reabilitação ou em algumas posições de defesa e ataque em lutas como o Judô. O grau de estabilidade presente nos corpos é influenciado por alguns fatores. No caso dos corpos humanos, esses fatores são ainda mais complexos visto que não somente a mecânica interfere em sua estabilidade. Outros aspectos de ordem emocional, neural e fisiológica podem intervir. Deste modo, este capítulo destina-se a descrever os fundamentos gerais do equilíbrio, sob a perspectiva da Biomecânica, e suas aplicações na nossa vida diária e esportiva. 1.1 ALAVANCAS Segundo Loss (2001), foi a partir do Renascimento que cientistas como Galileu e Borelli começaram a estudar animais e humanos também como sistemas mecânicos. Assim, de maneira similar a uma máquina, o corpo humano passou a ser visto como um sistema de alavancas, formadas pelos ossos e articulações, e roldanas, inclusive. 8 As alavancas são máquinas simples, compostas, basicamente, por uma haste rígida e um fulcro. As distâncias entre os pontos de aplicação da força motora, força resistente e do fulcro determinam a qualidade das alavancas. 8 A liberdade de movimentos articulares no corpo humano é limitada por alguns fatores de ordem mecânica. Assim, nossos movimentos se fazem, dentre outros princípios, a partir do funcionamento da alavanca. Uma alavanca é, basicamente, uma haste rígida fixada a um ponto de apoio (fulcro, eixo de movimento ou pivô). A distância deste ao ponto de aplicação da força de tração é chamada braço da potência9, enquanto a distância entre o fulcro e o ponto de aplicação da força resistente (a resistência) denomina-se braço de resistência10. As alavancas são consideradas máquinas simples, tal como as roldanas e os planos inclinados, por serem constituídas de uma única peça11. A vantagem em sua utilização está na capacidade de realizar trabalho12, gastando um mínimo de energia. Segundo Hay (1993), as alavancas possuem duas funções básicas: a) podem aumentar o efeito gerado por uma força aplicada sobre um corpo, força esta, consideravelmente, menor que o peso do corpo; b) podem aumentar a velocidade com a qual um corpo pode ser movido. As alavancas não, necessariamente, são longas, finas ou tal como barras. São materiais rígidos, retos ou curvos, móveis em torno de um eixo. O importante a ressaltar é que as duas funções combinadas dependem apenas das distâncias entre as linhas de ação da força e a chamada força e braço de resistência. Fazendo um paralelo à estrutura do corpo humano, considera-se as articulações o eixo das alavancas. Já as forças atuantes, o funcionamento dos músculos ou, ainda, a atuação de uma carga ou força externa aplicadas sobre os segmentos do corpo, são considerados aqui como os braços das alavancas. 1.1.1 CLASSIFICAÇÃO DAS ALAVANCAS A classificação é feita de acordo com a localização relativa do eixo de movimento e os pontos de ação da força e ação da resistência. 9 Erroneamente, alguns autores colocam força como sendo equivalente à potência. http://geocities.yahoo.com.br/saladefisica5/leituras/alavancas.htm 11 http://fisicanet.terra.com.br/estatica/alavancas.pdf 12 Trabalho (W) = F x t; unidade no SI: Joules. O trabalho mecânico existe quando um objeto é movido a uma determinada distância. 10 9 1.1.1.1 Primeira classe (ou Interfixa) O eixo está posicionado entre os pontos de aplicação da força e da resistência. 1.1.1.2 Segunda classe (ou Interresistente) O eixo está posicionado no fim do braço de movimento (ou na ponta), e a resistência é aplicada mais próxima a ele que a força. 1.1.1.3 Terceira classe (ou Interpotente) O eixo está posicionado no fim do braço do movimento (ou na ponta), mas as posições dos pontos de aplicação da força e da resistência são inversas. Classificação e funções das alavancas Aumenta a Velocidade Aumenta a força Primeira Classe Segunda Classe Terceira Classe BP< BR BP = BR BP > BR BP= braço de “potência”; BR= braço de resistência. Quadro 1 – Classificação e função das alavancas. Adaptação de HAY, J.G. The biomechanics of sports techniques. 4 ed. New Jersey: Prentice Hall, 1993. (p.126) 10 O quadro 1 ilustra a classificação e funções das alavancas, segundo Hay (1993). De acordo com este autor, quando a magnitude da força aplicada for maior que a magnitude da resistência contra esta força, a função da alavanca será aumentar a força. Quando a força for menor que a resistência, a função da alavanca será aumentar a velocidade. Se ambas forem de igual magnitude, não há vantagem com o uso de alavancas porque com esse uso não poderá aumentar a força tampouco a velocidade do movimento. Mais uma vez, temos uma afirmação equivocada pelo uso incorreto dos termos. A eficiência no uso das alavancas se dá pela ocorrência de torques e não, especificamente, pela magnitude da força aplicada. Logo, a ação eficaz na utilização do princípio da alavanca se dá pela distância do ponto de aplicação da força ao eixo de movimento e pela magnitude da força. Assim, a afirmativa do autor supracitado estaria correta se ele relacionasse também a distância do ponto de aplicação da força ao eixo do movimento, com os respectivos resultados obtidos, e, não, apenas a intensidade do vetor com os mesmos resultados. A figura 2 ilustra os tipos de alavancas utilizadas em objetos de uso cotidiano. TIPOS DE ALAVANCAS Figura 2: Tipos de alavancas. Fonte: HAMILL, J. KNUTZEN, K.M. Bases biomecânicas do movimento humano. São Paulo: Manole, 1999. (p. 438) 11 No caso da alavanca de terceira classe, também conhecida como alavanca do tipo interpotente, é importante estar atento, mais uma vez, para o uso correto de termos. Potência pode ser obtida através da razão entre o trabalho realizado pelo tempo gasto13, bem como pelo produto entre Força e Velocidade14. Enquanto a força é a medida da ação mecânica de um corpo sobre outro, analiticamente, obtida pelo produto da massa do corpo e aceleração. 1.2 EQUILÍBRIO ESTÁTICO O equilíbrio estático é garantido quando o somatório de todas as forças atuantes no corpo - verticais e horizontais - é igual a zero, e quando a soma de todos os torques é igual a zero. (HAY, HEID, 1985; HALL, 2000; FRONTERA, DAWSON, SLOVICK, 2001) Quando uma dessas condições é violada, o equilíbrio estático deixa de existir interferindo na resistência linear e angular que o objeto possuía. (HAMILL, KNUTZEN, 1999) O equilíbrio estático tem sido pesquisado pela comunidade científica dada a relevância do assunto. Bienfait (1995) coloca que a importância de se estudar a função estática no corpo humano não se deve à idéia de se tentar procurar uma posição estrita, mas considerar os desequilíbrios possíveis, suas razões e as forças que os controlam. Ferronato, Candotti e Silveira (1998) verificaram a incidência de alterações do equilíbrio estático da cintura escapular em meninos cuja faixa etária variava de 7 a 14 anos de idade (n=106) por meio de análise subjetiva, utilizando o fio de prumo15. Também relacionaram a obliqüidade sagital da escápula e as distâncias das bordas escapulares através da goniometria16. Os dados do estudo mostram que mais de 90% da amostra foram compostas por meninos da raça branca, sendo os demais da raça negra. Os resultados da avaliação subjetiva da postura demonstraram que a abdução escapular e a protrusão de ombros estavam associados entre si, pois nesse estudo foi constatado que 100% da amostra apresentaram abdução escapular e que, desses meninos, 84,95% apresentaram protrusão de ombros. Os resultados sugerem significativa incidência de desequilíbrios estáticos da 13 Potência (P) = W/ ∆t; unidade no SI= Watts. Velocidade é dada pelo razão do espaço percorrido pelo objeto e o tempo gasto para realizar tal deslocamento. 15 O teste do fio de prumo verifica a postura humana na posição em pé, utilizando um fio com um prumo preso. 16 A goniometria é um método cinemático de mensuração dos ângulos articulares do corpo humano. 14 12 cintura escapular na amostra. Também sugerem correlação significativa entre a obliqüidade escapular e as distâncias das bordas superiores e inferiores das escápulas nos meninos a partir de 11 anos de idade. O exame de obliqüidade escapular possibilita investigar a hipercifose em crianças e adultos. Para amenizar e tentar corrigir os desvios posturais dessas crianças, os autores sugerem que os meninos participem de sessões de ginástica postural, diariamente, para melhoria de qualidade de vida. Assim, podemos constatar pontos importantes nesse estudo. A princípio pela importância do equilíbrio estático na manutenção da postura e de que qualquer desvio, precocemente diagnosticado, está apto a ser amenizado. Outra questão é relacionada aos instrumentos utilizados na pesquisa. O goniômetro, geralmente, associado à mensuração da amplitude articular, aqui pôde auxiliar na identificação de desvios posturais em crianças em idade escolar. Por outro lado, uma questão neste estudo deve ser, atenciosamente, observada. O fato de a amostra ser composta, em sua grande maioria, por indivíduos da ‘raça’17 branca pode ser um indicativo de que os achados não devam ser generalizados, mas antes devam ser utilizados como uma forma de chamar a atenção de pesquisadores para tais achados. Bienfait (1995) atenta para o fato de que a ‘raça’ negra possui curvaturas vertebrais mais pronunciadas, principalmente as lombares, do que a ‘raça’ branca. Deste modo, é necessário refletir ao se comentar sobre deformação estática. É muito difícil encontrar exemplos nos esportes ou em tarefas motoras diárias em que o equilíbrio estático esteja presente. Ao contrário do que possa parecer, ao assumir a posição ereta bípede, o corpo humano ainda permanece em equilíbrio dinâmico vistas as oscilações presentes no organismo, facilmente percebidas e testadas com instrumentos, tal como a plataforma de força que analisa, principalmente, oscilações dos centros de pressão e de gravidade. (DUARTE, 2000, a) 17 As diferentes etnias encontradas não mudam a classificação da raça humana. 13 1.3 EQUILÍBRIO DINÂMICO Identificado originalmente pelo matemático francês Jean Le Rond D’Alembert18, este conceito (princípio de D’Alembert) é aplicado a corpos em movimento a uma velocidade constante seja-a angular ou linear. O equilíbrio está entre as forças que estão sendo aplicadas no corpo. (HAY, HEID, 1985; HALL, 2000) Este princípio baseia-se na chamada Segunda Lei de Newton, onde “a aceleração de um corpo é proporcional à força resultante que atua sobre ele.” 19 Para tentar entender a aplicação do Princípio de D’Alembert, temos as equações básicas do movimento de um corpo rígido: ∑ F= maCoM ∑ M= H Onde, m= massa do corpo; a= aceleração do centro de massa do corpo; H= período de tempo do momentum20 angular do corpo; M= momento de força; F= força. Segundo Zatisiorski (2002), o ∑ F e ∑ M são oriundos de todas as forças e momentos de força externos atuantes no corpo. Esses momentos de força ocorrem em torno do centro de massa (CM). Partindo da equação acima, verificamos que ela pode ser assim descrita: F - ma = 0 (O vetor - ma é conhecido como força inercial ou força efetiva reversa). 18 Segue, em anexo, uma resumida bibliografia sobre um dos principais cientistas de todos os tempos: Jean Le Rond D'Alembert (1717 - 1783), um homem autodidata, com conhecimentos voltados para Matemática, Filosofia, Literatura, entre outras áreas. 19 http://www.usp.br/eef/lob/aulas/mecanica_arquivos/slide0005.htm 20 O momentum (I) angular pode ser considerado a quantidade de movimento que o objeto processa durante a rotação. Matematicamente, é dado pelo produto do momento de inércia pela velocidade angular do objeto. Unidade do SI: (kg ⋅ m2/s) 14 Posteriormente, essa equação especificou uma condição de equilíbrio. As equações de movimento que contêm as forças reais e inerciais de um corpo são similares às equações do equilíbrio estático, o que se conhece por Princípio de D’Alembert. Como foi dito, este princípio baseia-se na Segunda Lei de Newton e auxilia-nos a resolver problemas de dinâmica com métodos de estática. (para mais detalhes, veja ZATISIORSKI, 2002). A existência do equilíbrio dinâmico humano depende inteiramente do controle motor, o que é auxiliado pelos sistemas sensoriais presentes no organismo humano. O equilíbrio dinâmico é percebido em diversas situações, como, por exemplo, na execução de uma pirueta de Ballet, sob a ponta dos pés. Vários fatores interferem neste estado em que o bailarino se encontra e, sendo assim, inúmeros outros exemplos poderiam ser dados em que o equilíbrio dinâmico estaria presente. O que vale a pena ressaltar, neste momento, é que indivíduos expostos a ambientes de microgravidade, aparentemente, distantes do meio de atuação do profissional de Educação Física, pertencem a uma população específica que, freqüentemente, apresenta distúrbios relativos à manutenção de equilíbrio, principalmente pelo fato de que a exposição a ambientes como esse, afetam a percepção sensória e, conseqüentemente, o controle do equilíbrio dinâmico. Ao contrário do que possa parecer, segundo Baroni et al. (2001), estudos realizados com este tipo de indivíduos são necessários para o tratamento destinado a pessoas em reabilitação que não, necessariamente, estão incluídas neste perfil de sujeitos. Isto porque a recuperação funcional desses indivíduos em reabilitação depende da capacidade deles aprenderem novas estratégias motoras que os possibilite conviver com suas lesões permanentes. O estudo realizado por tais autores objetivou investigar a adaptação, em longo prazo, do controle postural dinâmico em microgravidade. O estudo contou com a participação de dois sujeitos, um com 40 e outro com 38 anos. O sujeito mais velho apresentava experiência de vôo espacial de uma única vez, e o segundo ingressava em sua primeira missão. O teste constou de fixar os sujeitos no chão do módulo espacial, com velcro e “straps” nos sapatos. Foi solicitado que os indivíduos ficassem em pé com as mãos dadas em suas costas. Ao som do comando “-Vai!”, eles flexionavam seu tronco, a cerca de 30°, na direção ântero-posterior e, depois, retornavam à sua posição inicial. A 15 velocidade para a realização de tal movimento era a mais rápida possível, sendo realizados testes com os olhos abertos e fechados; foram 10 testes para cada condição experimental. O vôo espacial teve duração de 179 dias. Os testes para o indivíduo de 40 anos foram realizados durante os dias 11°, 19°, 69° e 113° dias; já para o indivíduo mais novo, os testes foram realizados no 150° dia. Foram realizados, inclusive, pré e pós-testes. Para análise do estudo foi quantificado o deslocamento do centro de massa durante a flexão do tronco. Os resultados demonstraram que os sujeitos permaneceram com as estratégias, tipicamente, “terrestres” de coordenação de movimento postural. A principal estratégia analisada foi a cinemática do ângulo articular para avaliação das sinergias angulares. A descontinuidade temporária das sinergias dos ângulos articulares durante a primeira sessão de vôo foi recuperada quando as sessões repetidas em vôo foram analisadas. O controle dinâmico do CM também foi mantido. Segundo os autores, o deslocamento ânteroposterior do CM sugeriu que os sujeitos poderiam controlar dinamicamente a posição do CM durante todo o vôo. Os autores concluíram que o controle estático da posição ânteroposterior do CM durante a postura ereta e o controle dinâmico da posição do CM durante o curvamento do tronco dependem de dois mecanismos distintos de controle. Com este estudo podemos reafirmar a importância de tal tipo de pesquisa em nosso âmbito de intervenção. A idéia de que mecanismos distintos interferem na qualidade do equilíbrio postural humano, seja estático ou dinâmico, sugere que distúrbios diferentes devem ter tratamentos de reabilitação diferentes. Algo que parece óbvio, mas que contribui sobremaneira à evolução da área, no que diz respeito à intervenção profissional. Outro fato importante a ser observado em tal estudo é o fato dos autores terem se preocupado em realizarem pré e pós- testes. Sobre isso, um estudo publicado na Space Life Sciences Research Highlights (2001) comentou sobre as doenças causadas pela ausência da força gravitacional em astronautas. Embora, ao retornar ao ambiente terrestre estes indivíduos apresentem alguns danos no seu sistema orgânico, em poucos dias, geralmente, os sujeitos retornam à sua condição normal de antes. Isto porque, da mesma forma que o cérebro se adapta, gradualmente, àquelas condições ambientais, de microgravidade, o mesmo acontece para retornar às funções normais do corpo no retorno à Terra. Mais detalhes sobre o assunto serão discutidos no Capítulo 4- Sistemas Sensoriais, desta Memória de Licenciatura. 16 1.4 EQUILÍBRIO ESTÁVEL O equilíbrio estável é dito como sendo a volta à posição original do objeto que sofre a ação de uma força quando este se encontra em equilíbrio estático. (HAY, 1993; HAMILL, KNUTZEN, 1999; ZATISIORSKI, 2002) O objeto possui estabilidade quando, após uma perturbação, o objeto volta à sua posição de equilíbrio. (ENOKA, 2000; WATKINS, 2001) Zatisiorski (2002) acrescenta que um objeto que permanece em equilíbrio estável possui energia potencial21 mínima. Considera uma condição naturalmente estável, no caso de movimentos humanos, o puxar, enquanto que empurrar é uma condição naturalmente instável. O importante a ressaltar é que, ao empurrar um objeto, pode-se estabilizar a ação através de esforço muscular adicional pela co-contração de músculos agonistas e antagonistas. Posteriormente, será comentado acerca do equilíbrio naturalmente instável. A figura 3 toma como exemplo uma bola para ilustrar os diferentes tipos de equilíbrio, partindo de uma posição inicial para uma posição final. TIPOS DE EQUILÍBRIO Figura 3: Tipos de equilíbrio. Fonte: HAMILL, J. KNUTZEN, K.M. Bases biomecânicas do movimento humano. São Paulo: Manole, 1999. (p. 469) 21 Energia é a capacidade de realizar trabalho. Ela não pode ser destruída, mas transformada de uma forma para outra. No caso da energia potencial (V ou PE), é necessário que haja um ponto de referência, escolhido arbitrariamente, para a realização de seu cálculo. V= massa x aceleração da gravidade x altura de queda (p.ex). unidade no SI: Joule (J) 17 1.4.1 FATORES QUE INTERFEREM NA ESTABILIDADE DO CORPO 1.4.1.1 Projeção do Centro de Gravidade (CG) De acordo com a Primeira Lei de Newton, todo corpo tende a permanecer no seu estado de movimento até que uma força aja sobre ele22. 23 Assim, na superfície terrestre, os corpos são submetidos à força gravitacional (g), gerando a força Peso. Cada partícula do corpo possui seu peso e, na verdade, o chamado Peso do corpo, é o resultado de todas as forças atrativas do corpo para o centro da Terra que possui mesma direção e vetor resultante paralelo às linhas de ação das forças Peso individuais. A Linha da Gravidade (LG) corresponde à linha de ação da força Peso do corpo. O centro de gravidade (CG) é o ponto central entre duas linhas de gravidade (LG). (HAY, 1993) O centro de gravidade (CG) é o ponto por onde passa o suporte do vetor resultante do somatório das forças Peso do corpo. É um ponto virtual, equivalente ao centro de equilíbrio de um corpo, pois é onde a massa24 deste corpo se distribui, uniformemente. Equivale ao centro de massa (CM) de um objeto, entretanto sofre a ação da força gravitacional. (HAY, REID, 1985; HALL, 2000; ENOKA, 2000) A estabilidade do corpo está relacionada, mais especificamente, à projeção do CG na base de sustentação25. Esta base significa a área que suporta o restante do corpo em qualquer posição. Geralmente, é a área do solo englobada pelos pontos de contato com o objeto. Pode acontecer, entretanto, da base de sustentação do corpo não estar abaixo deste. (CARR, 1998) Sendo assim, a estabilidade do objeto é mais garantida se a projeção do centro de gravidade se faz no centro geométrico de sua base de sustentação, dentro do perímetro desta base. (CARR, 1998) Isto quer dizer que, quando a projeção do CG do indivíduo se afasta do centro geométrico de seu polígono de suporte, a soma das forças e dos torques 22 Tal lei é conhecida como Inércia. http://www.usp.br/eef/lob/aulas/mecanica_arquivos/outline.htm 24 Massa é a quantidade de matéria que constitui um corpo, sendo uma propriedade intrínseca a ele, não mudando independentemente do local onde o mesmo esteja (meio líquido ou ambiente de microgravidade). 25 Base de sustentação, base de suporte, polígono de sustentação e polígono de suporte são aqui utilizados como sinônimos. O termo “polígono” refere-se ao tracejado imaginário que se faz ligando os pontos de contato do objeto com o solo ou outra área de contato. Uma cadeira forma um polígono quadrilátero, já uma parada de três apoios forma um triângulo. 23 18 aplicados no seu corpo estará diferente de zero e, portanto, seu corpo tenderá a movimentos de rotação26. Alguns fatores interferem na localização do centro de gravidade no corpo, logo, na projeção do CG em sua base de sustentação, tais como a mudança de posição corporal e aumento de massa, bem como sua distribuição no corpo. O aumento de massa corporal não significa, necessariamente, que todos os segmentos de um corpo aumentaram, proporcionalmente. Além disso, partes do corpo como mãos e pés têm pouco ganho de massa adiposa comparadas à região abdominal, por exemplo. A localização do CG no mesmo sujeito, em movimento, é diferente daquela em posição estática, pelo fato do torque ser diferente em diversas situações. A figura 4 demonstra algumas diferentes posições que o corpo humano pode assumir fazendo com que a localização do CG não se encontre nos limites do corpo. LOCALIZAÇÃO DO CG FORA DO CORPO Figura 4: Localização do CG fora do corpo. Fonte: SMITH, T. Biomecánica y gimnasia. Barcelona: Paidotribo, s/d. 26 Movimentos de rotação ou angulares são aqueles realizados em torno de um eixo. O ângulo é medido num plano perpendicular a esse eixo. 19 1.4.1.2 Tamanho da base de sustentação O tamanho da base de sustentação também interfere na estabilidade do corpo. Quanto maior for seu polígono de sustentação, maior será a capacidade deste indivíduo de resistir à ação de forças. Isto porque, se a estabilidade é maior quando a projeção do centro de gravidade do indivíduo se faz no centro de sua base de suporte, com a área aumentada, fica mais difícil que esta projeção saia dos limites da base. Mesmo que o indivíduo não esteja completamente estabilizado, seu grau de instabilidade será menor comparado ao momento em que a projeção do seu CG estava fora das linhas do polígono formado por sua base. (CARR, 1998; HAMILL, KNUTZEN, 1999) A figura 5 demonstra alguns diferentes modos de posicionamento dos nossos pés em posição de bipedestação. Repare que a posição dos pés interfere no grau de estabilidade do indivíduo, bem como este posicionamento gera polígonos de suporte distintos. DIFERENTES BASES DE SUSTENTAÇÃO EM APOIO BIPODAL Figura 5: Diferentes bases de sustentação em apoio bipodal. Fonte: WATKINS, J. Estrutura e Função do Sistema Musculoesquelético. Porto Alegre: ArtMed, 2001. É importante notar que o aumento da base de suporte pode garantir maior estabilidade em alguns planos27 e, em outros, não. Quando o indivíduo, em pé, aumenta sua base afastando seus pés lateralmente, ele provoca maior resistência às forças externas 27 Planos de movimentos são uma referência corporal que permite a verificação do fenômeno (movimento) e do ponto de ocorrência (articulação do corpo). Há infinitos planos de observação de movimentos, mas há três básicos: frontal (eixo sagital), sagital (eixo frontal) e transverso (eixo longitudinal). 20 aplicadas lateralmente, mas não estabilizará seu plano frontal. Da mesma forma, se o mesmo indivíduo afastar seus pés no sentido ântero-posterior, sua estabilidade estará ampliada nesse sentido, mas, não, lateralmente. (WATKINS, 2001) Tal afirmação não deve ser considerada como verdade absoluta para qualquer situação. A interação entre os demais fatores de ordem mecânica, ambiental e individual, bem como o objetivo de cada ação motora realizada, deve ser considerada. O afastamento dos pés, independentemente do sentido e direção que venham a tomar, deve ser adequado às características do sujeito e ao que se pretende fazer, pois, pode não atender a estas necessidades e a sentença acima citada não se tornar verdadeira. Com relação aos fatores e características acima comentados, tem-se que o corpo humano ajusta-se a alterações que o ambiente ou o próprio organismo possa produzir. Foti, Bagley e Davis (1997) estudaram as alterações biomecânicas da marcha durante a gravidez. Impulsionados pelo fato de que, embora muitos estudos focalizassem as mudanças anatômicas e hormonais que as mulheres grávidas sofrem, poucos enfocavam como estas mudanças afetavam a marcha da gestante. Neste estudo, participaram dez gestantes que realizaram dois testes de caminhada. Um, durante a 2ª metade do último trimestre de gravidez, e, o outro, após 1 ano de parto. O objetivo era mensurar as alterações biomecânicas da marcha durante a gravidez e comparálas à marcha após o período de gestação. Embora haja um certo mito de que mulheres gestantes aumentam sua base de suporte, comparadas aos momentos anteriores à gravidez, os autores constataram que estes aumentos não foram significativos. Os aumentos significativos registrados foram nos ângulos de inclinação da pélvis e adução do quadril na posição ereta bípede, entre outros fatores. Os autores atribuem às mudanças suaves constatadas na pesquisa (dinâmica da base de suporte, limite de movimento da obliqüidade pélvica e ângulo de progressão do pé) ao aumento da massa do corpo e largura, e mudança na distribuição da massa sobre o tronco. A partir desse estudo, não se pode afirmar que, de fato, o aumento da base de sustentação da gestante não seja significativo. Muitas variáveis não foram apresentadas na pesquisa tais como o aumento de massa corporal total durante a gravidez, o número de bebês, a idade e modo de vida das gestantes, etc. Desta forma, se tomarmos como base este artigo, continuam a existir tais lacunas científicas. 21 O artifício de se ampliar a base de sustentação para garantir maior estabilidade é visto nas áreas de esporte e reabilitação, inclusive em tarefas domésticas ou cotidianas. Nas ações defensivas das lutas, em geral, o lutador aumenta sua base para dificultar sua queda pelo oponente. Já em posições de ataque, o mesmo pode acontecer justamente para que o lutador em vantagem mantenha sua estabilidade numa determinada posição. De maneira empírica, a progressão de ensino na Ginástica Artística é de que se ensinem elementos em quatro apoios, para depois em três, até que o indivíduo consiga manter-se, invertido, em dois apoios (parada de 2 apoios ou parada de mão). Já o uso de muletas por pessoas lesionadas em membros inferiores aumenta sua base de suporte, fazendo com que sua massa corporal seja melhor distribuída naquela área e seu centro de pressão28 mude de lugar, aliviando o membro atingido. Da mesma forma, quando utilizamos uma escada doméstica para alcançar um objeto no alto de um armário e abrimos mais sua base, queremos, com isso, maior estabilidade para que possamos subir com mais segurança. Apesar de estarem sendo citados exemplos biomecânicos acompanhados de um mecânico, o fato é que esta linha de raciocínio pode ser empregada para explicar os mais diversos fenômenos sob a ação de forças. Como já foi dito, nem sempre uma grande estabilidade é desejada, principalmente quando se trata dos esportes. De maneira similar à utilização de artifícios para se ampliar a base de sustentação dos corpos, com o intuito de garantir maior estabilidade, o contrário também é possível. MacPhee et al. (2001) fizeram um estudo cujo objetivo era verificar se o ângulo de flexão dos joelhos afetava a manobra na cadeira de rodas e, em caso positivo, qual a extensão do efeito e a razão de sua ocorrência. A amostra foi composta por 10 homens e 10 mulheres usuários de cadeiras de rodas, com faixa etária variando de 18 a 50 anos, estaturas de 152 a 188cm, e massa menor que 90kg (com cadeira). Os resultados demonstraram que a facilidade de realizar uma curva na cadeira de rodas aumentava quando aumentava o ângulo de flexão do joelho. Este efeito contribuiu para a diminuição total do comprimento do sistema usuário/ cadeira de rodas (portanto, implicando no tamanho da base de sustentação), deslocamento do CG para trás, diminuição 28 Centro de pressão é a média dos pontos de pressão do corpo. Ponto de aplicação da força resultante de reação do solo. Medida utilizada em análises sobre plataformas de força, além de ser bastante útil em análises de marcha e fabricação de calçados, por exemplo. 22 das resistências de curva e rolante, aumento da tração e diminuição do momento de inércia. Os autores sugerem que a importância destes achados para o design e prescrição da cadeira de rodas precisará ser avaliada na atual cadeira de rodas, para o dia-a-dia, e menor aumento no limite da flexão de joelho. Isto poderia ser perfeitamente aplicado no design de cadeiras de rodas destinadas à prática de Basquete para deficientes físicos (usuários destes equipamentos). Sabe-se que o Basquetebol é um desporto altamente dinâmico e veloz, seja ele praticado por deficientes físicos ou atletas aparentemente saudáveis. Se a angulação do joelho interfere na velocidade de corrida e curva na cadeira de rodas é, portanto, desejável que estes resultados sejam levados em consideração. 1.4.1.3 Inércia Segundo Barham (1978, p.290), a inércia pode ser conceituada como: “A primeira lei de movimento de Newton atribui a todo corpo material a propriedade de tender a resistir a mudanças em seus estados de repouso ou movimento uniforme a propriedade conhecida como inércia.” Não é possível mensurá-la, mas ela pode ser prevista pela quantidade de massa presente em um corpo: “A massa de um corpo é a medida da inércia do corpo em movimento de translação. Mede-se pela relação entre a magnitude da força aplicada e a aceleração provocada por ela.” (DONSKOI, ZATSIORSKI, 1988, p.39) Como já foi dito, a estabilidade do corpo se dá pela sua resistência à aceleração linear e angular, logo um corpo muito maciço, que apresente maior inércia, possui maior estabilidade em manter seu estado de movimento comparado a um outro menos maciço. 29 Com relação aos movimentos de rotação, o conceito aplicado é o momento de inércia (ou inércia rotacional)30 que garante a resistência a movimentos angulares.31 Neste caso, não somente a massa é importante, mas sua distribuição no corpo com relação ao eixo de movimento é crucial para determinar a resistência do estado de movimento de um objeto. O momento de inércia é mensurável e é uma quantidade modificável porque há muitos outros eixos pelos quais o objeto pode girar. 29 A inércia de um corpo também pode ser entendida como estabilidade linear. (CARR, 1998) http://www.usp.br/eef/lob/aulas/mecanica_arquivos/outline.htm 31 A resistência a movimentos angulares (tombamentos, inclinações, girar em círculos,...) pode ser entendida como estabilidade rotatória. (CARR, 1998) 30 23 Onde, I= Momento de Inércia, m= massa do corpo, I= m. r² r= raio de rotação. Este cálculo é utilizado para prever o momento de inércia de cada partícula do corpo. O momento de inércia total do corpo é calculado através da soma de todos os momentos de inércia de suas diferentes partículas de massa (HALL, 2000): I= ∑ m. r² Sendo r elevado ao quadrado, torna-se evidente que a distribuição da massa com relação ao eixo do movimento é muito mais importante que a quantidade total de massa do corpo. Este conceito formal para momento de inércia pode ser aceito teoricamente, mas é difícil perceber sua utilização na prática. Objetos sólidos com formas geométricas definidas são fáceis de calcular por meio de métodos matemáticos. Entretanto, para o cálculo de momentos de inércia de objetos com formas irregulares, como o corpo humano, métodos experimentais foram criados para este fim. (HAY, REID, 1985) Com relação aos momentos de inércia presentes no corpo humano, torna-se ainda mais complicado já que, qualquer movimento que o indivíduo venha a fazer, o eixo de movimento muda, alterando a quantidade de momento daquele instante. O princípio da inércia é utilizado na divisão de categorias de lutas, quando, além de dividir os atletas por idade, a instituição que organiza as lutas leva em consideração a massa do sujeito, já que sujeitos mais pesados oferecem maior resistência linear a manter seus estados de movimento comparados aos mais leves. Poderíamos, inclusive, imaginar que, com relação à inércia, os lutadores de Sumô teriam muito mais vantagem em campeonatos de “Vale Tudo” sobre os demais participantes. A título de curiosidade, os campeonatos de “Vale Tudo” são competições de modalidades diferentes de lutas onde os participantes têm a oportunidade de lutar com oponentes que diferem de sua modalidade de luta. Atualmente, 24 estes também estão divididos em categorias, estipuladas a partir da massa corporal dos sujeitos. A figura 6 traz uma visão bem humorada de como um lutador de Sumô possui vantagens inerciais sobre seus oponentes! APLICAÇÕES DA INÉRCIA Figura 6: Inércia. Fonte: www.riamais.com.br 1.4.1.5 Coeficiente de atrito A força de atrito pode ser entendida como uma grandeza vetorial32 de contato que indica a facilidade ou dificuldade de movimento entre dois corpos em contato. Sua ação é paralela à interface de duas superfícies que estejam em contato durante o movimento ou na eminência do movimento de uma superfície enquanto ela se move sobre outra. Sendo assim, um fator importante na garantia de estabilidade do corpo é o atrito presente entre os corpos em contato. (HAMILL, KNUTZEN, 1999) O coeficiente de atrito (µ) indica a facilidade ou dificuldade relativa de deslizamento de duas superfícies em contato. Também é definido como a interação mecânica ou molecular entre duas superfícies em contato. 32 Grandeza vetorial é uma quantidade caracterizada por sua magnitude, sentido e direção. 25 Onde, Fat= Força de atrito, Fat= µ N µ= coeficiente de atrito (sem n° ou dimensão), N= força Normal ou força perpendicular à superfície. O µ sempre diz respeito a duas superfícies em contato e não a cada uma, separadamente. A sola de um tênis apresentará coeficientes de atrito diferentes em interação com solos lisos e ásperos. (HAMILL, KNUTZEN, 1999) A força vertical, perpendicular à superfície de contato, pode ser alterada, intencionalmente, a fim de modificar a quantidade de atrito presente em determinada situação. A força Normal (N) é sempre igual à soma vetorial de todas as forças que atuam sobre a superfície de contato. (HAMILL, KNUTZEN, 1999) O tamanho da base de sustentação, aliado ao coeficiente de atrito presente na interação entre os corpos, garante ainda mais estabilidade ao corpo em questão. Aliás, os fatores que interferem na estabilidade do corpo podem e são ligados constantemente a fim de garantir maior estabilidade e equilíbrio aos corpos. É importante, entretanto, que se atente para o fato de poder acontecer do µ ser diferente em pontos distintos da mesma base que se apóia no chão. 1.4.1.6 Altura da localização do Centro de Gravidade A altura da localização do CG em relação aos limites de sua base de sustentação interfere na estabilidade de um corpo. Quanto mais baixa sua posição, mais estável estará o corpo. (CARR, 1998; HAY, 1993) 1.4.1.7 Fatores neuromusculares, fisiológicos, psicológicos Embora não seja foco desta Memória de Licenciatura discutir detalhadamente os demais fatores de ordem neuromuscular, fisiológica e psicológica, é fato que eles contribuem significativamente no controle do equilíbrio e postura humanos. 26 Aparentemente, muitas desordens de equilíbrio estão associadas aos problemas neurodegenerativos. Alguns fenômenos e doenças trazem danos aos sistemas orgânicos, responsáveis pelo controle postural e de equilíbrio do ser humano. Pessoas que sofreram acidente vascular cerebral (AVC) e/ou que sofrem de esclerose múltipla ou, ainda, aquelas que estão em idades avançadas podem apresentar um ou mais quadros de problemas de equilíbrio, coordenação, fraqueza muscular, desordens vestibulares, tonturas33. Estes fatores que interferem na qualidade do equilíbrio humano estão relacionados ao funcionamento regular do organismo como um todo. Os diversos sistemas orgânicos atuam de forma complementar e, por vezes, de forma redundante de modo que o equilíbrio exista. O bom funcionamento dos diversos órgãos reflete-se na capacidade de obter e manter um estado de equilíbrio. Poderíamos exemplificar como fatores neuromusculares amputações, traumatismos diversos, problemas articulares, ósseos e musculares diversos, entre outros. Esses fatores são significativos para as mudanças nos processos neuromusculares de contração e controle muscular, sensibilidade à dor, entre outros. Os fatores fisiológicos estão inseridos no próprio funcionamento dos sistemas sensoriais que afetam o equilíbrio humano (vestibular, somatossensorial e auditivo), além de transformações bioquímicas no organismo, interferência de uso de remédios, entre outros. A fadiga é um estado que pode afetar consideravelmente o estado de equilíbrio do corpo, afetando, também, outros aspectos do indivíduo, como a capacidade de concentração para a execução de determinada tarefa motora. Como fatores psicológicos, temos o estresse que desencadeia uma série de outros distúrbios no corpo, portanto, englobando muitos outros tópicos. (Esta questão será melhor abordada no Capítulo 4 – Sistemas Sensoriais, nesta Memória de Licenciatura). 1.4 EQUILÍBRIO INSTÁVEL Um corpo que tende a se mover, partindo de uma posição de equilíbrio, sem que consiga voltar a sua posição de origem, é dito estando em equilíbrio instável. (HAY, 1993) 33 http://www.usp.br/eef/lob/pe/ 27 Segundo Zatisiorski (2002), um objeto está em equilíbrio instável quando, após pequena perturbação, o mesmo não volta à sua posição de equilíbrio, apresentando energia potencial alta. Pode haver equilíbrio em situações extremamente instáveis. Imaginando que uma força de magnitude muito baixa poderia ser aplicada sobre um bailarino, que se equilibra na ponta dos seus pés, e causar sua queda, ao contrário, o mesmo efeito não causaria num lutador de Sumô agachado com as duas mãos no chão. (CARR, 1998) Tratando do equilíbrio naturalmente instável (ou não-pretendido), Zatisiorski (2002) comenta que ele é obtido por recuperação de torques articulares. Um ótimo exemplo de equilíbrio naturalmente instável é a postura que assumimos em bipedestação. Neste tipo de equilíbrio, o corpo, ou partes dele, oscila sobre uma referência de equilíbrio; esta pequena oscilação é chamada de tremor. O autor acrescenta que a oscilação do corpo provoca uma migração do Centro de Pressão (CP) (das forças verticais exercidas na superfície de suporte). A posição do CP num instante em que a componente horizontal da força de reação do solo é igual a zero é chamado de instante do ponto de equilíbrio (IEP). Isto quer dizer que, neste instante, o CP coincide, momentaneamente, com o ponto de equilíbrio do corpo, além da força de reação não ser gerada. Em estudos experimentais observou-se que o IEP não permanece no mesmo lugar, comprovando sua migração. 1.5 EQUILÍBRIO NEUTRO OU INDIFERENTE Um corpo que recebe aplicação de forças e muda seu posicionamento sobre uma superfície, entretanto permanece em equilíbrio nesta nova posição, encontra-se em equilíbrio neutro. (HAY, 1993). Zatisiorski (2002) acrescenta que o equilíbrio neutro é caracterizado por uma energia potencial constante. Uma situação em que o equilíbrio neutro ou indiferente esteja presente pode ser citada quando nos encontramos em decúbito dorsal e, após uma perturbação/ aplicação de força, passamos ao decúbito ventral (ou o contrário). Nas duas posições, nosso corpo permanece em equilíbrio. Em situações de estudo, raramente esta condição é citada, já que a grande preocupação em estudos que visem ao equilíbrio corporal humano, normalmente, é gerada 28 em torno de situações instáveis e/ ou estáveis, principalmente, tratando-se de populações em reabilitação e com desordem de equilíbrio. Este capítulo pretendeu abordar a questão do equilíbrio, sob uma perspectiva Biomecânica, de modo a fomentar discussões que levem a um maior esclarecimento sobre o assunto e suas aplicações nas mais diversas áreas que lidam com o assunto: Educação Física, Fisioterapia, Fisiatria, Medicina, Robótica, entre outras. 29 Capítulo 2 - MÉTODOS PARA LOCALIZAÇÃO DO CENTRO DE GRAVIDADE Este capítulo destina-se a ilustrar alguns dos métodos para a localização do centro de gravidade do corpo humano. São métodos didáticos, fáceis de serem realizados e úteis, embora tenham suas limitações. Recomenda-se a utilização concomitante de outros métodos de análise de movimento que permitam o melhor entendimento do funcionamento da tarefa motora a ser analisada. Neste caso, a cinemetria (ou cinematografia) é o mais indicado por admitir a visão do comportamento (deslocamento) do CG durante a execução de determinada ação motora em diferentes planos de observação, dependendo do número de câmeras de vídeo utilizadas. A localização do centro de gravidade (CG) é importante para o conhecimento do local de sua projeção na base de sustentação e, conseqüentemente, o estado de equilíbrio do corpo, além de facilitar o entendimento da mecânica desse corpo nas atividades motoras diárias e esportivas. Em objetos geometricamente definidos, a localização do CG é facilmente percebida pelo ponto de encontro de suas diagonais. Porém, em corpos cuja geometria não é regular, como o corpo humano, o critério utilizado para essa localização é um pouco mais trabalhoso. Neste caso, sua localização tende a ser mais próxima de onde há mais massa distribuída. (HAY, REID, 1985) A posição do CG é fixa em objetos constituídos de um só bloco. Em objetos articulados, entretanto, o CG é resultante de todas as posições dos centros de gravidade específicos de cada segmento que os compõem. (BIENFAIT, 1995) O CG movimenta-se de acordo com a movimentação dos segmentos corporais, uns em relação aos outros. (ENOKA, 2000) Isso explica o fato de a localização do CG no corpo humano variar, no mesmo indivíduo, dependendo da posição que o mesmo assuma e oscilar durante algum movimento. Loss (2001) faz uma revisão da literatura na qual mostra que os modelos, que se baseiam em parâmetros inerciais dos corpos, são obtidos através de estudos realizados com cadáveres. O autor prossegue, baseado em outras leituras, que os parâmetros inerciais estimados desta maneira podem conter erros de até 80%, em função de diferenças morfológicas entre os indivíduos. 30 Motivado pelo fato de que o perfil dos sujeitos e, conseqüentemente, as diferenças individuais, além do n amostral utilizados nos vários estudos realizados com cadáveres, conforme supracitado nesse estudo, o autor objetiva avaliar os efeitos dos parâmetros inerciais (massa, localização do CM e momento de inércia). Parâmetros esses obtidos através de diferentes procedimentos, no valor calculado para as forças e torques articulares resultantes, determinados através da dinâmica inversa34, com o intuito de uma melhor e mais fidedigna avaliação da força na articulação do joelho. Para tanto, o autor utilizou outras técnicas para verificação dos parâmetros inerciais, tal como pesagem hidrostática, para desenvolver protocolo com a finalidade de individualizar os dados antropométricos. (Mais detalhes, vide LOSS, 2001). O fato é que, embora os procedimentos relatados nesta Memória de Licenciatura apresentem várias limitações, a ausência ou dificuldade de se encontrarem métodos viáveis (inclusive financeiramente) de localização do CG em humanos faz com que, pelo menos, os valores adotados para os cálculos sejam ainda aproveitados, dada a tradição do uso de tais valores. De qualquer forma, em um objeto, o CG pode estar fora dos limites do corpo como acontece com objetos circulares, tal como uma aliança ou em determinadas posições que assumimos, pertinentes aos esportes ou não. A localização do CG no corpo humano, em repouso ou em movimento, é importante para muitas análises de técnicas desportivas. (HAY, 1993) Assim, alguns métodos, aplicados a situações estáticas ou dinâmicas, foram criados com a finalidade de localizar a posição do CG nos corpos e são úteis para a compreensão da mecânica dos mesmos, embora sejam questionados quanto à fidedignidade de sua criação. Como já fora dito, a escolha do método pode precisar do auxílio da Cinemetria, um conjunto de métodos destinados à análise de movimento, que mede os parâmetros cinemáticos de movimento (posição, orientação, velocidade e aceleração). (DUARTE, s/d, c)35 Sendo assim, seguem alguns desses métodos: 34 35 Dinâmica inversa é um método que estuda as forças que causam e originam um determinado movimento. http://www.usp.br/eef/lob/aulas/mecanica_arquivos/outline.htm 31 2.1 MÉTODO DA PLATAFORMA OU PRANCHA DE REAÇÃO Este método é uma derivação da técnica proposta por Du Bois-Reymond (1900), que segundo Loss (2001, p. 50) foi descrita como “desnecessariamente complicado”. Muitos autores utilizaram esse método para verificar a localização do CM do corpo humano em variadas posições, baseados no equilíbrio dos momentos. Consiste de um método utilizado e destinado a situações estáticas, como posições ou instantes, tendo o objetivo de identificar o plano de localização da projeção do centro de gravidade do indivíduo. Pode ser útil para prever a localização do CG em determinadas técnicas desportivas, como a posição ideal do rebatedor de beisebol enquanto espera a bola ou a técnica ideal para elementos de equilíbrio da ginástica artística, como a parada de 3 apoios, entre outras situações.(HAY & REID, 1985) Em ocasiões em que é necessário que se use um implemento, como no beisebol e na musculação, o método torna-se um pouco mais trabalhoso e com maior probabilidade de conter erros. Tratando-se da musculação, mais especificamente, torna-se desconfortável e, até mesmo, perigoso para o executante, já que, como o método é voltado para situações estáticas, o executante estaria realizando contrações isométricas, por períodos talvez longos, com uma carga talvez alta demais. De qualquer forma, nestes casos, é essencial que a massa do implemento seja conhecida. MÉTODO DA PLATAFORMA DE REAÇÃO Figura 7- Método da Plataforma de Reação. Fonte: HAY. J.G.; REID, J.G. As bases anatômicas e mecânicas do movimento humano. Rio de Janeiro: Prentice/Hall do Brasil, 1985. (p. 123) 32 A figura 7 descreve como é realizado o método da plataforma ou prancha de reação para a localização do CG do indivíduo. Primeiramente, tem-se a prancha, com as devidas medidas utilizadas pelo autor supracitado, logo após, a montagem do método com a devida balança, bloco de madeira e conhecimento das medidas necessárias para tal procedimento e, por fim, a posição adotada pelo indivíduo para a realização do teste. A seguir, temos uma especificação do método a fim de melhor compreendê-lo. 2.1.1. Procedimentos: U Material: • prancha de madeira (geralmente, a 2,5m x 1,0m); • 2 bordas pontiagudas fixadas na parte inferior da prancha; • 1 balança; • 1 bloco de madeira da mesma altura da balança. MONTAGEM DA PRANCHA DE REAÇÃO Figura 8- Montagem da Prancha de Reação Fonte: HAY. J.G.; REID, J.G. As bases anatômicas e mecânicas do movimento humano. Rio de Janeiro: Prentice/Hall do Brasil, 1985. (fig.122-b; p.122) Nota: A turma de Aprofundamento I em Biomecânica, do curso de Educação Física da UERJ (2002-2), experimentou um método adaptado deste que comentamos neste momento. Assim, prosseguirei descrevendo o material que foi, por essa turma, utilizado, bem como os passos seguidos, com o intuito de esclarecer melhor o funcionamento desse método. 33 U Material (adaptação): • Tábua de madeira (Dimensões: 3 cm x 27 cm x 200 cm); • 2 pinos; • 2 balanças (Filizola ®); • 1 step (Dimensões: 10 cm x 30 cm x 38 cm x 75 cm x 80 cm). A figura 9 ilustra a montagem do método adaptado à aula de Aprofundamento I em Biomecânica, para experimento realizado pela turma supracitada, no Laboratório de Biomecânica (LABIOM/ IEFD/UERJ). MONTAGEM DO MÉTODO/ LABIOM Figura 9- Montagem do Método/ LABIOM U Passos: • Anote a massa do sujeito indicada na balança. Calcule seu peso (P)*; • Anote a distância entre os pinos ou entre as bordas (d); • Anote a massa indicada na balança da prancha de madeira. Calcule seu peso (Pi/ Ni). (Este não é o peso da plataforma de reação, mas da parte que está sobre a balança. O restante é sustentado, obviamente, pelo bloco de madeira). 34 • O indivíduo a ser testado assume a posição pré-determinada sobre a plataforma de reação; • A massa, agora, indicada na balança, deve ser anotada. Calcule o peso (Pf ou Nf); • A distância da projeção do CG da pessoa até a borda pontiaguda é calculada. Conclui-se a localização do CG. * O valor atribuído à força gravitacional deve ser o mesmo para todos os cálculos realizados. Na superfície terrestre adota-se, como cálculo do peso de um corpo, o produto da massa deste pelo valor da gravidade (em Newton). PRANCHA DE REAÇÃO - MOMENTO DE COLETA DE DADOS Figura 10- Prancha de Reação - momento de coleta de dados. Fonte: HAY. J.G.; REID, J.G. As bases anatômicas e mecânicas do movimento humano. Rio de Janeiro: Prentice/Hall do Brasil, 1985. (fig.122-b; p.122) A figura 10 ilustra, didaticamente, o momento de coleta dos dados no método da prancha de reação. Já a figura 11, ilustra o mesmo momento realizado no Laboratório de Biomecânica, do Instituto de Educação Física e Desportos, desta Universidade. 35 COLETA DE DADOS- ADAPTAÇÃO Figura 11- Coleta de dados/ LABIOM U Cálculo: Para que o sistema esteja em equilíbrio é necessário que a soma de seus torques sobre qualquer ponto dê zero. (Ni . d) – ( Pi . xI)= 0 Ni . d = Pi . xi Onde: Ni= Normal inicial da balança. d= distância entre os pinos. Pi= Peso inicial da balança SEM o sujeito. xi= distância entre o peso (projeção) inicial da balança até o bloco de madeira. O sinal de negativo deve-se à convenção estabelecida, na qual momentos antihorários são positivos e momentos horários são negativos. Quando a pessoa assume sua posição na plataforma de reação, o sistema SUJEITO + PLATAFORMA estará em equilíbrio pela ação das forças: peso da pessoa (P), peso da plataforma e as normais (Ni e Nf) dos pontos fixos - a soma dos torques deverá ser igual a zero. Então: (Nf . d)- (P . X) – (Pi . xi)= 0 36 Como Ni . d = Pi . xi, substituindo, temos: (Nf . d)- (P . X) – (Ni . d)=0 (Nf . d)- (Ni . d)= P. X d(Nf – Ni)= P. X Como a distância procurada é X, X = d (Nf – Ni) / P O CG do indivíduo é localizado a partir da distância achada, iniciando-se a medição pela sola dos pés. No caso do experimento realizado pela turma, os procedimentos de cálculos até a fórmula final foram apresentados à turma, entretanto, para maior conforto e agilidade do processo, o programa Microsoft Excel foi configurado em um microcomputador para esta aula. Um outro método similar a este utiliza duas balanças e é descrito por Hay (1993): U Material: • Compensado de madeira; • Duas balanças; • Um bloco rígido de madeira. U Passos: • O indivíduo é filmado realizando a técnica determinada; • A partir do filme, os quadros (das imagens) são selecionados para serem analisados; • A prancha de reação é usada como uma tela; uma imagem de tamanho natural do executante é projetada sobre a prancha; 37 • Uma linha de giz é desenhada na prancha por volta da imagem projetada do sujeito; • Depois da leitura inicial da balança ter sido feita, o sujeito assume a posição representada pelo contorno do giz; • A posição do CG do executante é, então, obtida. A figura 12 ilustra o método para localização do CG em indivíduos, utilizando o método da prancha de reação, com o auxílio de duas balanças. PRANCHA DE REAÇÃO/ DUAS BALANÇAS Figura 12 Prancha de Reação/ duas balanças Fonte: HAY, J.G. The biomechanics of sports techniques. 4 ed. New Jersey: Prentice Hall, 1993. (p.136) A principal limitação deste método é o longo tempo que se gasta para localizar o CG de cada posição. (HAY, 1993) 2.2 MÉTODO DO MANEQUIM O método do manequim supera algumas limitações do método da prancha de reação. Esse método utiliza manequins que podem se posicionar de várias maneiras, de forma que a localização do CG é, rapidamente, determinada, utilizando-se os métodos de suspensão ou balanço. (HAY, 1993) 38 Algumas limitações consistem de: o peso do manequim não se equivaler ao que o corpo humano representa; o peso não ser distribuído tal como acontece no ser humano; haver um número limitado de posições que o manequim pode assumir, pelo fato de o boneco não permitir todos os movimentos articulares possíveis do corpo humano. Sendo, assim, é necessário que outros métodos sejam utilizados para determinar a localização do CG naquelas posições que o manequim não se permite fazer. (HAY, 1993) Hay & Reid (1985) sugerem a confecção do seguinte manequim (adaptado): U Material: • Projetor opaco, pantógrafo ou outro meio para aumentar as dimensões do manequim a ser construído; • 1 ou mais folhas de cartolina dura e grossa (ou papel cartão ou papelão); • Tesoura; • Material perfurante para buracos de cerca de 3mm de diâmetro no papelão; • Percevejos de 1,9 cm ou material similar. U Passos: • Prenda o papelão na parede de modo que sirva como tela para o projetor; • Projete a figura 13 e ajuste a posição do projetor a fim de obter um bom tamanho para a imagem; • Trace os contornos de cada segmento do manequim. Marque e anote cada ponto indicado na figura 13; • Recorte cada um dos 12 segmentos do manequim e perfure buracos em cada ponto indicado. 39 U Montando o manequim: • Coloque o segmento da coxa (o segmento onde estão marcados os pontos B, D e J) numa superfície plana e sobreponha o segmento do tronco (MKJ) de modo que os buracos com as marcas J de cada segmento estejam sobrepostos, fixando-os; • O segmento LM deve ser sobreposto ao segmento do tronco de modo que as letras M sejam sobrepostas. Fixe-as; • O membro inferior AB deve ser sobreposto à coxa BDJ, sendo fixados pela letra B; • O segmento IL deve ser fixado ao braço LM pela letra L. O segmento KI, ao tronco MKJ, pela letra K. O segmento CD, à coxa BDJ, pela letra D. O segmento AC, à perna BA, pela letra A; • Coloque o segmento CEF numa superfície plana de modo que C fique do lado direito e F do lado esquerdo. Fixe esses segmentos pela letra F. O segmento GE se fixa ao CEF pela letra E. O segmento GH se fixa ao FHI pela letra H. Fixe os buracos G dos segmentos GH e GE com GH na parte superior; • Fixe a peça montada no item anterior de modo que os buracos C dos segmentos CEF, AC e CD se superponham. Verifique se a ordem de cima para baixo é CEF, AC e CD e fixe-os. Também alinhe os segmentos FHI, LI e KI fixando-os pelos buracos I; • O manequim está pronto para ser usado. A letra G indica a localização do CG. A pequena linha desenhada no tronco da figura possui o comprimento de 1/25 da altura do manequim. Isso poderá ser usado para conversões das distâncias do manequim para distâncias reais. A figura 13 ilustra a etapa de montagem do manequim. 40 MONTANDO O MANEQUIM Figura 13: Montando o Manequim. Fonte: HAY. J.G.; REID, J.G. As bases anatômicas e mecânicas do movimento humano. Rio de Janeiro: Prentice/Hall do Brasil, 1985. (figura 202; p.122) 41 2.3 MÉTODO SEGMENTAR (OU DA SEGMENTAÇÃO): É um método destinado à localização do CG em situações estáticas. Ou, ainda, baseando-se em quadros de filmes, permite calcular a localização do CG em uma determinada posição, durante a execução de uma situação dinâmica. O método segmentar propõe a localização do CG e, não, necessariamente, o local de projeção do CG. Embora seja um método bastante versátil, possui algumas limitações, primeiramente pelo fato de ser um método exclusivo para posições, logo a análise é feita em cima de instantes. É um método trabalhoso que necessita, antes de tudo, de que haja um processo de captação de imagens - por fotografias ou filmes -, e que estas sejam colocadas em ordem de movimento, para que cada fase (quadro) possa ser cuidadosamente analisada. 2.1.2. Procedimentos: • Marcação dos eixos de movimento no sujeito a ser testado; • Execução da tarefa motora a ser executada; • Registro de imagens. U Transferência de imagens: • Montagem dos slides; • Projeção no papel milimetrado; • Marcação dos eixos de movimento no papel milimetrado36; • Montagem do esqueleto segmentar. U Cálculos: 36 • Medir os segmentos (em cm); • Localizar os CG’s; • Transferir coordenadas dos CG’s para a tabela; • Calcular os CG’s. Vide: BATISTA, L.A. Biomecânica para o estudo do movimento corporal: aspectos básicos. (no prelo) 42 LOCALIZAÇÃO DO CG SEGMENTAR NOS CORPOS HUMANOS: Segmento Localização do CG a partir da porcentagem da distância total entre os pontos de referência 1) Cabeça 46,4%* 2) Tronco 43,8%* * A medição é feita a partir do sentido crânio – caudal. 3) Antebraço 49,1%* 4) Braço 41,8%* 5) Mão 82,0%* 6) Coxa 40%* 7) Perna 41,8%* 8) Pé 44,9%* TABELA 1- Localização Do CG Segmentar Nos Corpos Humanos. Adaptação de: HAY, J.G. The biomechanics of sports techniques. 4 ed. New Jersey: Prentice Hall, 1993. (table 6-2; p. 142) A tabela 1 demonstra os valores aproximados para a localização do CG nos segmentos corporais, a partir da porcentagem da distância total entre os pontos de referência. Importante complementar é que autores podem utilizar outros valores para tais medidas, entretanto, os valores são muito próximos, o que pode significar que erros e diferenças não serão significativos. Localização do CG: • Somar os momentos do CG’s; • Plotar coordenadas do CG. TRANSFERÊNCIA DAS COORDENADAS DOS CG’s EIXOS X EIXOS DE MOVIMENTO Y EIXOS CABEÇA MÃO E. OMBRO D. QUADRIL D. OMBRO E. QUADRIL E. COTOVELO D. JOELHO D. X Y 43 COTOVELO E. JOELHO E. PUNHO D. TORNOZELO D. PUNHO E. MÃO D. TORNOZELO E. PÉ D. PÉ E. TABELA 2: Transferência das coordenadas dos CG’s. A tabela 2 informa a organização dos dados obtidos com a transferência dos eixos de movimento para as coordenadas do papel milimetrado. A cabeça, por exemplo, terá seu eixo (articulação têmporo-mandibular) marcando um valor no eixo das abscissas e um outro, no eixo das ordenadas. PLANILHA PARA ESTIMAR POSIÇÃO DO CG CORPORAL: SEGMENTOS CABEÇA TRONCO BRAÇO D. BRAÇO E. ANTEBRAÇO D. ANTEBRAÇO E. MÃO D. MÃO E. ANTEBRAÇO + MÃO D. ANTEBRAÇO + MÃO E. COXA D. COXA E. PERNA D. PERNA E. PÉ D. PÉ E. PERNA + PÉ D. PERNA + PÉ E. COMPRIMENTO EM cm LOCALIZAÇÃO DO CG SEGMENTAR Tab. II X Y 43.3% 50.5% 43.6% 43.6% 43% 43% 50.6% 50.6% MOMENTOS DOS CG’s SEGMENTARES Tab. III X Y 0.079 0.486 0.027 0.027 0.014 0.014 0.006 0.006 43.3% 43.3% 43.3% 43.3% 42.9% 42.9% 0.097 0.097 0.045 0.045 0.014 0.014 TABELA 3- Planilha para estimar posição do CG corporal. A tabela 3 sugere uma planilha para estimar a localização do CG corporal através do método da segmentação. Após o desenho do esqueleto segmentar no papel milimetrado, os segmentos corporais são mensurados e seus valores são transcritos, em cm, na tabela. A localização do CG de cada segmento é estimada a partir de cálculos com os valores da 44 porcentagem. Note que esses valores diferem daqueles apresentados por Hay (1993), entretanto são valores apresentados por Batista (s/d). O importante é que tais procedimentos obedeçam a algum critério a fim de que haja coerência entre os valores. A localização de tais CG’s segmentares projetará sobre outros valores dos eixos X e Y. Estes números são transcritos para a tabela. Na coluna que se refere ao cálculo dos momentos de força dos CG’s segmentares, são anotados os valores obtidos pelo produto do valor do eixos X e Y pelo valor decimal apresentado na tabela. Após os cálculos é realizada a soma de todos os torques do CG’s segmentares para a localização, no papel milimetrado, do CG corporal do sujeito em determinada posição. Atualmente, a produção e utilização de softwares destinados à análise de movimentos permitem uma agilização neste processo de localização de CG corporal e segmentar. O indivíduo tem a marcação de seus eixos articulares através de marcadores foto-refletores (ou outros) e realiza movimentos quaisquer. As imagens são registradas e processadas no computador e, então, os CG’s segmentar e total são localizados e seus comportamentos, avaliados. Além da questão de rapidez no processo de coleta e análise de dados relacionados ao comportamento motor e do CG do indivíduo, o avanço tecnológico nesta área é necessário, inclusive, para o aperfeiçoamento da precisão dos dados e valores, a fim de que, futuramente, tais valores extraídos de cadáveres sejam aposentados e para que haja medições mais precisas e coerentes com as características de cada sujeito. 45 Capítulo 3 - INSTRUMENTOS PARA ANÁLISE DE POSTURA E EQUILÍBRIO CORPORAL HUMANO Este capítulo destina-se a mostrar alguns dos principais instrumentos utilizados pela comunidade científica no estudo de postura e equilíbrio mecânico humanos. Aqui, não se pretende fazer uma extensa revisão, contudo dar um enfoque maior nas plataformas de força, os principais instrumentos utilizados no estudo do balanço do corpo humano. Esta iniciativa destina-se a um maior esclarecimento acerca dos estudos desenvolvidos na área de Equilibriometria. Frontera, Dawson e Slovick (2001) comentam que os instrumentos utilizados para analisar componentes do movimento humano desenvolveram-se muito durante a última década. Os motivos para tal progresso são devidos ao avanço na instrumentação e tecnologia por meio da melhoria da sensibilidade e precisão das medidas, além da diminuição no tempo de coleta de dados, tornando o uso destes equipamentos mais viável. Esta evolução técnica aumenta a possibilidade de quantificar o movimento humano, de modo a obter uma boa avaliação da tarefa motora, já que esta requer bons processos de medição. (ÁVILA et al., 2002) Estes autores complementam com a afirmação de que a utilização de métodos de mensuração em Biomecânica permite a descrição do movimento e sua modelagem matemática. Posturologia, Equilibriometria, Posturografia (computadorizada), Estabilometria, Estabilografia, Estatocinesiografia. Muitas são as nomenclaturas adotadas para o estudo da postura humana. Terekhov (1976) apud Duarte (2000, a) cita os últimos três nomes e os conceitua como a medida e o registro da contínua oscilação do corpo humano. Duarte (2000, a) acrescenta que o avanço na quantificação mais precisa e adequada do balanço corporal, nas últimas três décadas, deve-se ao desenvolvimento tecnológico das plataformas de força, bem como ao avanço em processamento de sinais. Oliveira (1993) apud Oliveira et al (2000) descreve a Estabilometria como um método de análise postural, através da mensuração das oscilações do corpo, auxiliada por uma plataforma de força, cujos deslocamentos ântero-posterior e médio-lateral são analisados quanto ao centro de pressão. Adiante, segue a ilustração e respectiva explicação dos instrumentos. 46 3.1. DINAMOMETRIA A dinamometria é um método que engloba todos os tipos de medidas de força e pressão. As forças mensuráveis são as de reação, ou seja, as forças externas transmitidas entre o corpo e o ambiente37. Os dinamômetros, instrumentos utilizados para este tipo de coleta de dados, possuem formas e tamanhos diferentes, dependendo de sua especificidade. Eles têm o objetivo de mensurar a força isotérica do indivíduo, seja através de testes dinamométricos manuais, de tórax, lombar e de membros inferiores. Apresentam naturezas diferentes, podendo ser apresentados sob a forma mecânica, eletrônica, digital e computadorizada. (SANTOS, 2002) Segundo Fenoll (2002) apud Santos (2002), estes aparelhos mensuram o comportamento de uma carga alargada ou tensão por deformação, de uma mola, deslocamento de ar, ou extensão de ligas metálicas, que englobará o coeficiente de fricção entre os materiais. Ávila et. al (2002) afirmam que os principais objetivos dos testes e medições dinamométricos são relacionados à análise de técnica de movimento; à análise da condição física; ao controle de sobrecargas; à influência de fatores externos (forças de reação do solo, pressões, torques, impulsos, CP, etc.) e internos (torques das forças musculares); monitoramento de atletas; a indicadores para detecção de talentos esportivos. 3.1.1. Dinamômetros manuais Os dinamômetros manuais mensuram o esforço de compressão da mão. Figura 14: Modelo de dinamômetro manual. Fonte: www.kratos.com.br 37 http://www.usp.br/eef/lob/aulas/mecanica_arquivos/ 47 3.1.2. Dinamômetros escapulares Os dinamômetros escapulares medem esforços dos músculos peitorais. Figura 15: Modelo de dinamômetro escapular e aplicabilidade. Fonte: www.kratos.com.br 3.1.3. Dinamômetros dorsais Os dinamômetros dorsais mensuram esforços de tração. Figura 16: Modelo de dinamômetro e aplicabilidade. Fonte: www.kratos.com.br 3.1.4. Plataformas de força As plataformas de força constituem um sistema de análise de parâmetros cinéticos de um movimento. (FRONTERA, DAWSON, SLOVICK, 2001) São vastamente utilizadas em avaliações de equilíbrio humano, conforme pudemos comprovar com os resultados desta Memória de Licenciatura. 48 Segundo Santos (2002), as plataformas de força38 constituem o meio mais comum de mensuração da força e, principalmente, medição das pressões plantares. Entretanto, o autor se equivoca, pois, no caso de medições de pressões plantares, o ideal é o uso de instrumentos específicos para tais medidas, como os tapetes de pressões plantares. Pode ocorrer, contudo, de eventuais fabricantes de plataformas de força apresentarem produtos que permitam fotografar a superfície plantar, o que permite a verificação de deformidades na superfície plantar, como aparecimento de calosidades. As plataformas de força são muito comuns em estudos de equilíbrio. Na posturografia convencional, as análises baseiam-se na projeção do centro de pressão sobre a plataforma e na movimentação do ponto de aplicação da força de reação do solo com alta nitidez e sensibilidade. Isto permite identificar o nível de funcionalidade global e de cada ponto envolvido na manutenção do equilíbrio e manutenção da posição ortostática39. A projeção do CP na plataforma de força é estimada a partir de cálculos. Segundo Ávila et al. (2002), este instrumento fornece a força de reação do solo na superfície de contato. A força de reação do solo é representada por vetor em função do tempo, considerando sua ação tridimensional (vertical, ântero-posterior e médio-lateral). Logo, a plataforma de força quantifica a variação dinâmica da força de reação do solo durante a fase de contato entre corpos, fase esta em que ocorre transferência dessas forças externas para o corpo, inferindo mudanças nas condições de movimento. Duarte (2000, a) explica que o CP é o ponto de aplicação da resultante das forças verticais que agem sobre a superfície de suporte. Figura 17: Plataforma de força. Fonte: www.rgm-md.com 38 39 As plataformas de força também são conhecidas como plataformas dinamométricas. www.rgm-md.com 49 A figura 17 ilustra uma plataforma de força da marca Argo40. De forma geral, as plataformas de força são confeccionadas com um material plano e compacto, com pequena área. No caso dessa marca, os fabricantes a descrevem como contendo quatro sensores, localizados nos vértices da placa, capazes de mensurar o peso do sistema indivíduo + plataforma. A partir deste valor, é possível calcular o ponto de projeção do peso total do sistema. Então, a aquisição elétrica dos dados converte os sinais coletados (analógicos) em sinais digitais a uma freqüência de 600Hz e com uma resolução de 12 Bits e compara-os com o peso da plataforma. A partir deste resultado, calcula-se o centro de pressão (CP) do indivíduo. O CP é uma medida de deslocamento e é dependente do CG do corpo. A oscilação do CG representa, realmente, uma oscilação do corpo (balanço). Já a oscilação do CP indica uma resposta neuromuscular ao balanço do CG. As diferenças entre o CG e CP são devidas a efeitos dinâmicos e, quanto menor for a freqüência de oscilação do corpo, menores serão as características dinâmicas na posição de equilíbrio. (DUARTE, 2000, a) Uma outra marca de plataforma de força bastante conhecida é a Kistler. (figura 18) Figura 18: Modelo de plataforma de força da marca Kistler + amplificador de carga (Kistler – modelo 9865E1Y28- com 8 canais para conversão de saída) Fonte: http://www.igce.unesp.br/ib/efisica/lem/plataforma_de_forca.htm Este equipamento constitui-se de um material plano, compacto, em alumínio, com dimensões de 60cm x 40cm, que comporta quatro transdutores41 de força com três componentes. A conversão de sinais analógicos para digitais42, para a leitura dos dados, 40 Argo - Plataforma de força para posturografia estática. Desenvolvida pela RGM em parceria com o Bioengineering Center of the Genoa University e o Hospital La Colletta of Arenzano (Itália). 41 Para fins biomecânicos, os transdutores de força transformam energia mecânica em energia elétrica. 42 Sinal: Quantidade física que transfere informação. S. Analógico: De natureza continuamente variável em voltagem. S. digital: Apresenta número limitado de valores (0 e 1) funcionando como interruptor. A 50 permite a determinação dos três componentes ortogonais da força (vertical e horizontais), momento de força e centro de pressão. Para melhor entendimento do funcionamento de uma plataforma de força, tomemos como exemplo a marca Kistler, acima mencionada. Figura 19: Plataforma de força Kistler Fonte: www.kistler.com Acoplado a uma plataforma de força há um circuito elétrico, quer dizer, um ciclo de material que não oferece resistência à passagem de corrente elétrica (material condutivo), permitindo que os elétrons fluam continuamente. As placas formam capacitores, pois são duas placas feitas de material condutor comportando um material isolante no meio (material dielétrico). Sendo capacitores, um dos cuidados ao se construir uma plataforma de força é o tamanho da placa (área), pois afeta o fluxo de campo e o espaçamento entre as placas, pois altera a força de campo43. É formada por multicomponentes de quartzo (material isolante; bloqueia a passagem da corrente elétrica) que mensuram os três componentes ortogonais de forças (Fx, Fy, Fz) aplicadas em qualquer direção. Pode acontecer, entretanto, de, durante a descrição metodológica de algum estudo científico, surgir a menção de “cristais de quartzo piezoelétricos”. Segundo Frontera, Dawson e Slovick (2001), as plataformas de força podem ser compostas por transdutores de força piezoelétricos ou de “strain gauge”. O material piezoelétrico é, geralmente, um material não condutor tal como o quartzo. Possui a função de gerar carga elétrica quando submetido a uma força, sendo essa carga proporcional à magnitude da força aplicada. Seu funcionamento é semelhante ao de conversão se faz necessária para a leitura do fenômeno no computador. Mais detalhes, estudar processamento de sinais. 43 GURGEL, J. Eletrônica e informática aplicadas à Biomecânica. Apresentação realizada à turma de Aprofundamento I em Biomecânica, no segundo semestre de 2002. IEFD/UERJ. 51 um capacitor, porém com limitação quanto à carga. Já o “strain gauge”, se baseia no princípio de transformar energia mecânica (mudanças no comprimento) em energia elétrica.44. Figura 20: Teste em plataforma de força. Fonte: www.rgm-md.com A figura 20 ilustra um teste realizado em plataforma de força. Durante testes utilizando a plataforma de força, o indivíduo permanece sobre a plataforma que está ligada a um computador monitorado pelo avaliador. A avaliação eletrônica, realizada a partir da obtenção dos sinais da amostra, fornece o ponto de aplicação do momento de força e o momento livre sobre o eixo Normal da plataforma. A tampa de vidro permite o registro fotográfico feito da superfície de contato, pelo lado inferior, simultaneamente à medição da força. Em exames de posturografia computadorizada (ou estabilometria), as oscilações do CP são monitoradas, enquanto o indivíduo permanece em pé sobre uma plataforma de força. (SANTANA & GONÇALVES, 2002) O comportamento do equilíbrio é baseado em parâmetros espaciais, temporais, espectrais e híbridos. Os parâmetros espaciais são baseados na cinemática do sinal (amplitude e velocidade de deslocamento); os parâmetros temporais baseiam-se na quantificação da área produzida pelas oscilações do CP, no plano da plataforma de força; os parâmetros espectrais baseiam-se na identificação dos componentes do sinal; os parâmetros híbridos, na combinação de medidas de domínio temporal e medidas de distância. (SANTANA & GONÇALVES, 2002) 44 GURGEL, J. Eletrônica e informática aplicadas à Biomecânica. Apresentação realizada à turma de Aprofundamento I em Biomecânica, no segundo semestre de 2002. IEFD/UERJ. 52 Pesquisas referentes à Equilibriometria tiveram crescimento durante os últimos trinta anos. Entretanto, a variedade de métodos utilizados e aplicados na Estabilometria tem feito com que uma padronização na freqüência de sinais, bem como no índice estabilométrico, seja procurada e testada constantemente. (mais detalhes, vide Barros et al, s/d) Com relação à finalidade do uso das plataformas de força em análises clínicas e/ ou biomecânicas, podemos dizer que estes instrumentos mensuram a troca de forças entre o sujeito e a superfície da plataforma de força, durante a execução de uma determinada tarefa motora. Os sinais posturográficos representam um indicador, mesmo que indireto, de como o sistema de controle motor é capaz de organizar os segmentos corporais para resolver problemas do equilíbrio. Através de teste de postura ereta quieta45, as plataformas de força podem ser úteis para o estudo do controle de retroalimentação do indivíduo, bem como para a capacidade ou ajustes antecipatórios46. Os ajustes posturais antecipatórios (APA) são estratégias de manutenção do equilíbrio em resposta às perturbações ou durante deslocamentos voluntários do CG. Têm funções de: minimizar as perturbações posturais, em termos de equilíbrio ou orientação postural; preparar a postura para o movimento; ajudar a realização do movimento com relação à velocidade ou força; desenvolver momentos de inércia que se opõem aos momentos intersegmentares, que podem criar instabilidades ao movimento. (DUARTE, 2000, a) Outros métodos de mensuração comumente utilizados pela comunidade científica para o estudo do equilíbrio e postura humanos são a Goniometria, Eletrogoniometria Acelerometria, Cinemetria e, até, a Eletromiografia. A Goniometria auxilia na descoberta de desvios posturais através de medidas dos ângulos articulares, tendo como alternativa de contramedida a prática de ginástica postural pelo indivíduo. Segundo Frontera, Dawson e Slovick (2001), a Goniometria permite a informação de uma variável cinemática e a Eletrogoniometria é um método mais moderno, pois se utiliza de potenciômetros, que fornecem impulsos elétricos ao computador, traçando a 45 No teste de postura ereta quieta, os indivíduos são orientados a permanecerem o mais imóveis quanto possíveis, num mesmo lugar, em curto período de tempo. (DUARTE, 2000, a) 46 www.rgm-md.com 53 informação do ângulo articular com o tempo. Isto permite que os ângulos articulares de cada instante do movimento sejam registrados para, posteriormente, serem analisados. A Acelerometria permite o registro de acelerações e, por conseguinte, de vibrações atuantes no corpo, produzidas por ele ou não. Os acelerômetros, instrumentos utilizados neste tipo de medição, são acoplados ao corpo do indivíduo, em geral sobre as articulações, de modo a registrar os tremores nesta área, na realização de determinada tarefa motora. O excesso de vibrações no corpo pode ser prejudicial ao organismo, como o caso de indivíduos expostos devido ao exercício profissional (ex.: pilotos de helicóptero), mas a vibração também pode ser útil no tratamento de indivíduos que apresentam dificuldades no controle postural (ex.: portadores de Mal de Parkinson). A Cinemetria, muito comentada nesta obra, permite o registro ou reconstrução do gesto esportivo, através do uso de uma ou mais câmeras de vídeo de alta freqüência, o que possibilita uma visão bi ou tridimensional do gesto. (ÁVILA et al, 2002) O uso de câmeras de vídeo para o registro de imagens, voltado à assistência, em experimentos laboratoriais ou de campo, é de extrema importância para a verificação e debate entre as informações obtidas em teste e o que se vê na execução do gesto motor. Atualmente, o avanço tecnológico nesta área, por meio de criação de “softwares”, possibilita que, automaticamente, as imagens registradas sejam digitalizadas para, posteriormente, serem analisadas e avaliadas. O conhecimento de patologias que afetam o sistema neuromotor e as complicações que delas provêm permitem que a análise destes dados seja ainda mais eficaz. Já a Eletromiografia permite verificar a atividade elétrica do músculo durante a execução de determinada ação motora. Pode ser de superfície, com o uso de eletrodos de superfície, e de invasão (ou invasiva). Os eletrodos de superfície são acoplados à pele do indivíduo e permitem registrar a atividade eletromiográfica de músculos superficiais de extensas áreas e de mais unidades motoras, se comparados aos eletrodos de fio fino, utilizados no método invasivo. A grande vantagem do uso de eletrodos de fio fino é que não há muita possibilidade de que haja interferência de músculos vizinhos durante a coleta de dados, além de permitir o registro de atividades EMG de músculos mais profundos e menores. (FRONTERA, DAWSON e SLOVICK, 2001) Por outro lado, o aparecimento de dor e o desconforto causado ao sujeito testado durante a realização deste método, torna-o desvantajoso. 54 Assim, podemos perceber que o uso da EMG para estudos do equilíbrio e postura dos seres humanos pode garantir uma avaliação mais completa do que se pretende verificar. Em casos nos quais se notam um esforço maior da pessoa em manter uma determinada posição, como na postura ereta em bipedestação, este “esforço” poderia ser comprovado pelo registro de aumento de atividade elétrica dos músculos responsáveis pela estabilização do corpo nesta posição. Aliás, os métodos de mensuração do comportamento motor humano possibilitam a quantificação dos movimentos motores, auxiliando tanto em testes biomecânicos, como nos testes clínicos. 55 Capítulo 4 SISTEMAS SENSORIAIS Este capítulo destina-se a comentar os diferentes sistemas sensoriais presentes no organismo humano e suas funções na manutenção do controle postural. Entretanto, não se pretende aprofundar na questão do funcionamento de tais organismos. O intuito é focalizar a tendência de pesquisas e a importância de tais achados para o trabalho de reabilitação e prescrição de atividades físicas, junto a indivíduos com história de desordens de equilíbrio. Os sistemas sensoriais são caracterizados por três classes de sensores utilizados pelo corpo para o cumprimento da regulação do equilíbrio. Esse sistema de controle postural fornece informações acerca de posições relativas dos segmentos do corpo, bem como da magnitude das forças aplicadas sobre o mesmo. Os sistemas atuam de forma complexa, integrada, redundante e diferenciada, para cada perturbação sobre o corpo humano. (ROTHWELL, 1994 apud DUARTE, 2000, a) Tratando-se dos procedimentos biomecânicos de mensuração do movimento, relacionados à quantificação de estratégias que envolvem o mecanismo de equilíbrio, temos a Posturografia.47 Assim, este capítulo destina-se a ilustrar e comentar alguns dos diversos estudos desenvolvidos nesta área, de modo a aferir a importância de tais iniciativas. 4.1 SISTEMA VESTIBULAR O sistema vestibular fornece informações sobre a posição e movimento da cabeça em respeito às forças gravitacional e inerciais. Compõe-se de dois tipos de receptores – os otólitos e os canais semicirculares -, que fornecem informações sobre a posição e movimento da cabeça.48 (DUARTE, 2000, a) Muitas patologias podem comprometer o sistema vestibular e, conseqüentemente, acarretar problemas de ordem postural e de controle de equilíbrio. A labirintopatia, por exemplo, popularmente conhecida como “labirintite”, provoca uma série de sintomas como tontura, instabilidade postural, surdez ou zumbido. O comprometimento de alguma ou das estruturas que formam o labirinto faz com que o cérebro capte informações equivocadas sobre nossa posição no ambiente e, assim, 47 A Posturografia é uma das técnicas de procedimentos biomecânicos que estuda o sistema de controle neuromuscular. 48 http://www.usp.br/eef/lob/pe/ 56 provoque em nosso corpo “alucinações de movimento”. Isso pode sugerir vertigem, instabilidade (“desequilíbrios”), desvio de marcha ou zumbidos.49 Vários fatores comprometem a função do vestíbulo, podendo ocasionar problemas labirínticos. Esses problemas podem ser: doenças pré-existentes, como hipertensão, diabetes, reumatismo, etc; utilização de remédios que alteram as funções do ouvido, como alguns antibióticos e antiinflamatórios; alterações bruscas da pressão barométrica; infecções por vírus ou bactérias; alterações do metabolismo orgânico; aterosclerose; traumas sonoros; problemas da coluna cervical e da mandíbula; doenças específicas do ouvido; hábitos negativos como consumo excessivo de cafeína, tabagismo, álcool ou drogas; estresse e problemas psicológicos50. A partir desta afirmativa, concluímos que populações específicas podem ser incluídas num grupo chamado “de risco” com relação ao desenvolvimento de distúrbios de equilíbrio. Os idosos, infelizmente, apresentam muitos fatores que sugerem um comprometimento de seu equilíbrio corporal. Com o passar da idade, o desgaste do corpo físico, faz com que, naturalmente, o idoso apresente doenças “características da idade”, além da mudança de hábitos, como diminuição da prática de atividade física, entre outros. Outros grupos que poderiam ser considerados “de risco” são aqueles cuja atuação profissional depende que os indivíduos fiquem expostos a ambientes não propícios para uma boa qualidade de equilíbrio, como os astronautas e os mergulhadores em apnéia. Tratando dos astronautas, um estudo publicado na Space Life Sciences Research Highlights (2001) comenta que a desorientação espacial e doenças provocadas em muitos astronautas que participam de missões espaciais são causadas pela ausência da gravidade, já que esta auxilia fundamentalmente na função dos otólitos. Obviamente, como já foi dito, em pouco tempo, o cérebro se adapta a estas condições e aprende a estimar a orientação espacial sem a referência do sinal gravitacional. O estudo objetivou provar que a disfunção do otólito causa instabilidade postural no pós-vôo espacial. Este envolveu 45 astronautas com 24 missões espaciais realizadas entre 1989 e 1995. Cada tripulante foi testado na plataforma de Posturografia Dinâmica Computadorizada antes do vôo, e 5 vezes após o vôo (entre 2h e 4h depois da aterrissagem 49 50 http://www.hcnet.usp.br/otorrino/labirint.htm http://www.hcnet.usp.br/otorrino/labirint.htm 57 e, novamente, às 24h, 48h, 96h e 192h após a aterrissagem). Imediatamente após o vôo, todos os tripulantes demonstraram desordens no controle do equilíbrio, quando comparados ao momento antes do vôo espacial. Após 4 dias do pouso da aeronave (96h), os astronautas recuperaram o controle postural normal. Os astronautas veteranos foram melhores nos testes, quando comparados aos iniciantes nos testes sensoriais pós-vôo, sugerindo que a transição da microgravidade para a gravidade normal da Terra é decorrente da experiência. Segundo o mesmo estudo, essa instabilidade postural apresentada pelos astronautas no seu retorno à Terra é idêntica àquela apresentada pelos pacientes com desordem de equilíbrio daqui da Terra. A diferença está no tempo de recuperação entre estes dois grupos. Enquanto os astronautas podem levar de 2 a 4 dias após sua chegada na Terra, em média, para se recuperarem, o típico paciente pode levar de 1 semana a 1 mês para se recuperar, enquanto alguns nunca se recuperam. 4.2 SISTEMA VISUAL O sistema visual fornece informações ao cérebro quanto à posição e movimentação de um objeto no espaço, e à posição e movimento dos membros relativos ao ambiente e ao resto do corpo, através dos olhos. (DUARTE, 2000, a) O sistema capta informações através da luz refletida por superfícies ou outros corpos. A luz entra pela córnea, projeta-se na retina, para, então, ser transformada em sinais elétricos pelos fotorreceptores. Estes sinais são enviados ao cérebro através do nervo óptico para demais processos, entretanto a combinação, a transformação e o processamento destes sinais que garantem a percepção tridimensional do mundo a partir de imagens bidimensionais, captadas pelos olhos, parecem não serem conhecidas.51 A visão é o sistema sensorial que o corpo mais confia nas tarefas de manutenção da postura e de movimento. (LATASH, 1997 apud DUARTE, 2000, a) Talvez por isso, a influência da visão em tarefas de manutenção do equilíbrio e controle postural seja, aparentemente, a questão mais estudada nesta área, quando trata da interferência dos sistemas sensoriais na manutenção do equilíbrio postural. Santana & Gonçalves (2001) investigaram a influência da visão no equilíbrio postural em crianças obesas pré-púberes, impulsionados pelo fato de que, embora se saiba 51 http://www.usp.br/eef/lob/pe/ 58 que a visão tem extrema importância na manutenção do equilíbrio estático, como já estudado em crianças e adultos, poucos estudos se referem às crianças obesas. A amostra foi composta por 4 indivíduos obesos com 10 anos de idade (2 meninos e 2 meninas), com IMC>= 85, e medida de prega cutânea triceptal e subescapular com percentil >= 90. Os resultados sugeriram que há maior atividade dos sistemas de controle de equilíbrio quando o sujeito está de olhos fechados, sem que esse aumento seja acompanhado por alterações na eficiência do controle. Essas alterações são mais evidentes no eixo medial-lateral. Os autores concluíram que a estabilidade no sentido medial-lateral é mais dependente da visão que a do sentido ântero-posterior, no caso de crianças obesas prépúberes, quando testadas com os pés juntos. Essa dependência não interfere na eficiência, mas na quantidade dos sistemas regulatórios. Um outro estudo apresentado por Gandra, Oliveira e Nadal (2003) objetivava identificar o comportamento de variáveis cinemáticas do estabilograma devido à privação da informação visual e testar modificações ao longo do período do exame. Segundo estes autores, a duração do teste estabilométrico tem sido pouco investigada. O exame constou de 10 mulheres e 12 homens com média de idades de 26,3 anos (± 5,4). Os sujeitos foram orientados a adotarem a postura ereta normal sobre o centro da plataforma de força, com os pés confortavelmente unidos e os membros estendidos ao longo do corpo. Os indivíduos testados deveriam olhar para um ponto fixo, a cerca de 2m de distância da altura dos olhos. Cada teste teve duração de 30min, sendo realizados testes de olhos abertos e fechados, alternando esta condição a cada 60s, após um sinal sonoro. Os sujeitos não realizaram treinamento para a execução dos testes. As variáveis investigadas foram a velocidade média e o deslocamento do CP. Os resultados demonstraram que a condição de olhos fechados influenciou as variáveis, principalmente a velocidade média do CP. Houve aumento da magnitude das variáveis ao longo do tempo dos testes, sendo que estas diferenças passaram a ocorrer a partir dos 10min. Os autores concluíram que a velocidade média é a variável mais sensível para detectar precocemente os distúrbios de equilíbrio relativos à supressão da visão. Obviamente, qualquer estudo científico a ser realizado é digno de atenção, embora apresente erros metodológicos, conclusivos e/ou de outra natureza. No estudo supracitado, podemos notar alguns aspectos importantes. A informação de que os executantes 59 permaneceram com os pés “confortavelmente unidos”, leva a duas interpretações: os indivíduos estavam mesmo com os pés se encostando, sendo que esta união não estava causando desconforto aos mesmos, ou eles estavam com os pés naturalmente ou pouco afastados. Com base nisso, e apoiada na informação de que uma base de sustentação menor (pés juntos) que o ideal (pés naturalmente separados ou pouco afastados) provoca um esforço maior do organismo para controlar o estado de equilíbrio e, ainda, que o tempo do teste (30min) pede que o indivíduo realize ajustes posturais, de maneira natural, a fim de evitar o estado de fadiga, concluo que tal estudo deixou de apresentar certos dados. De qualquer forma, estas críticas somadas à informação de que o teste durou 30min, que, em cada 60s, os sujeitos abriam e fechavam os olhos, olhando para um ponto fixo, e, ainda, que tal atitude era determinada a partir do alarme de um sinal sonoro, talvez sejam indicativas de que a conclusão ou, até mesmo, os achados de tal estudo estejam equivocados. Isto porque se o objetivo de tal estudo era verificar a influência da visão no comportamento de variáveis cinemáticas e testar modificações decorrentes durante o exame, logo, o sinal sonoro comprometia outro sistema sensorial. Aliado ao fato de que, ao abrir os olhos, o sujeito deveria estar olhando para o tal ponto fixo e de não haver pré-teste para o experimento, talvez provocasse um estresse ou uma preocupação do executante em “fazer certo”. Com relação ao tipo de exame que analisa a postura ereta irrestrita de longa duração, Duarte (2000, a) investigou esta situação em diferentes condições (visuais, suportando uma carga, diferentes superfícies de suporte e solado de calçado), medindo os padrões do CP. Segundo o autor, muitos estudos voltam-se para estudar a postura ereta quieta, que significa os sujeitos ficarem em pé tão imóvel quanto possível, num mesmo lugar (geralmente, plataforma de força) por curtos períodos. Entretanto, é fácil perceber que em situações do cotidiano, como a espera em um fila de banco, as pessoas costumam alterar sua postura, como o deslocamento de seu peso de um membro inferior para outro. O método constou de 31min de teste, sendo 1 min para pré-teste (minuto excluído). Os sujeitos puderam mudar a postura livremente a qualquer momento, não houve restrição a como ficarem em pé e tinham permissão para se comunicar com o pesquisador. Todos os sujeitos eram saudáveis e os testes foram realizados em ambiente sem barulho. As 60 condições testadas para visão foram: 1) sem carga e olhos abertos (chamada de “normal”), 2) com carga e olhos abertos, 3) sem carga e com olhos fechados, e 4) com carga e com olhos fechados. A carga tratou-se de um cinto de chumbo preso à cintura. Participaram deste teste 5 sujeitos saudáveis. Os resultados demonstraram que não houve diferenças no padrão do CP nas condições testadas (uso de carga, obstrução da visão, rigidez da superfície de apoio e do solado do calçado). Segundo o autor, os achados confirmam a hipótese de que mudanças posturais permitem a momentânea circulação sangüínea na sola dos pés. Além do fato de que se mantivermos um ambiente visualmente constante, o número de mudanças posturais não será afetado pela obstrução da visão durante a postura ereta irrestrita. Esta questão (manutenção de ambiente visualmente constante) foi favoravelmente utilizada pelo estudo citado anteriormente. Ao se comentar sobre populações ditas “de risco”, propensas a distúrbios de equilíbrio, um estudo realizado por Ferreira et al. (2003) investigou: 1- se indivíduos idosos com ou sem alguma patologia, quando comparados aos adultos, usariam estratégias diferentes de controle postural (visto pelo número e amplitude das mudanças posturais) durante a postura natural por longo tempo; e 2- se a permanência durante 31min na postura natural por longo tempo influenciaria a postura ereta quieta durante 1min. Participaram do estudo 21 sujeitos: 7 adultos, com média de idades de 24 ± 3 anos; 7 idosos, com média de idades de 65 ± 4 anos; 7 idosos patológicos, com média de idades de 69 ± 4 anos. Todos os idosos participavam do Programa de Atividade Física para a Terceira Idade da Universidade de São Paulo. No grupo de idosos patológicos, havia 3 sujeitos com artrose no joelho, 2 com problemas auditivos e 2 com labirintite. Os resultados demonstraram que todos os sujeitos foram capazes de permanecer em pé durante 30min (já que o primeiro minuto foi excluído para pré-teste), entretanto os indivíduos usaram diferentes estratégias para permanecer sobre a plataforma de força durante este tempo. De modo geral, os adultos mudaram a localização do CP várias vezes e mostraram diferentes regiões de atração do CP, mas a maioria dos sujeitos permaneceu numa única região de atração do CP. Os idosos e idosos patológicos apresentaram número e amplitude de mudanças muito similares, indicando que, pelo menos durante 30min de postura natural, a presença de patologias não influenciou a tarefa. Os autores concluíram que esta pode ser 61 uma alternativa encontrada pelos idosos, com ou sem presença de patologias, para evitar perturbações do equilíbrio, o que poderia levar a quedas. Também concluíram que mudanças posturais, durante a permanência em pé por longo tempo, são necessárias para evitar fadiga. As variações de amplitude e número nas mudanças não foram significativamente diferentes. Os autores complementam que estudos posteriores serão necessários, para verificar se idosos apresentam número e amplitude de mudanças posturais maiores que os adultos em situação mais fatigante, como numa condição em que a duração seja superior a 30min. Comparando as mudanças de equilíbrio entre as faixas etárias do ser humano, Freitas Junior & Barela (2003) verificaram as oscilações posturais de jovens, adultos e idosos durante manutenção da postura ereta estática com e sem utilização da informação visual, para determinar em que ciclo vital começariam a ocorrer mudanças no controle postural. A amostra foi composta por 12 homens e 16 mulheres: 10 jovens com idades de 20 a 25 anos, 6 adultos com idades de 40 a 45 anos, 7 adultos com idades de 50 a 55 anos, e 5 idosos com idades de 60 a 65 anos. Para o exame, os indivíduos permaneceram descalços em apoio bipodal, com uma distância de 5cm entre os pés, sobre uma plataforma de força, e braços estendidos ao longo do corpo. Foi solicitado que os sujeitos ficassem os mais estáveis possíveis. Os testes foram realizados com olhos abertos e fechados, com um alvo a ser observado, situado a uma distância de 1,2m dos olhos do sujeito a ser testado. Foram 6 tentativas de 60s, realizadas 3 com olhos abertos e 3 com olhos fechados. Os resultados indicaram que as mudanças significativas começam após 60 anos e apenas para a direção ântero-posterior. A ausência de informação visual provocou um aumento das oscilações de forma similar. Houve, inclusive, aumento da amplitude média de deslocamento do CP com o avanço de idade. Os autores sugerem que as mudanças na direção ântero-posterior podem ser explicadas porque o equilíbrio assim mantido depende do controle de número grande de articulações. Já na direção medial-lateral, o controle depende, basicamente, da articulação do quadril. Os autores também observaram que a partir dos 40 anos houve uma tendência linear ao aumento das oscilações posturais com o passar da idade. 62 Nota-se que há uma preocupação em se estudar a atuação dos sistemas sensoriais na regulação do equilíbrio humano. O fato de a visão ser o complexo mais utilizado nesta função, no organismo humano, aumenta o interesse em pesquisas nesta área. Muito se pesquisa, mas muito há que se pesquisar. Parece não ser conhecido o mecanismo real de funcionamento da visão e, conseqüentemente, a diminuição e perda desta função. As mudanças ocorridas em idosos talvez sejam foco da maioria das pesquisas envolvendo controle postural humano, devido, dentre outros fatores, ao fato de que muitas quedas envolvendo estes indivíduos podem ser evitadas, e muitas delas, infelizmente, levam à morte do indivíduo. Descobertas desta natureza e suas aplicações na melhoria da qualidade de vida de populações levam ao desenvolvimento de um país, já que muitos gastos relacionados ao tratamento de doenças poderiam ser minimizados com a prevenção das mesmas doenças. 4.3 SISTEMA SOMATOSSENSORIAL O sistema somatossensorial tem a função de: a) Fornecer informações sobre a posição do corpo no espaço relativo à superfície de suporte; b) Fornecer informações da posição e velocidade relativa entre os segmentos do corpo; c) Fornecer informações sobre as pressões agindo na interface segmentobase de suporte. (WOOLACOTT & SHUMWAY-COOK, 1990 apud DUARTE, 2000, a) Esse sistema, acoplado aos demais aqui citados, forma um circuito de feedback no sistema de controle postural. Com o envelhecimento do organismo humano, esse sistema torna-se o mais importante na escolha de estratégias posturais. Os sensores somatossensoriais compreendem os proprioceptores musculares (Órgão Tendinoso de Golgi e os fusos musculares) e articulares e mecanorreceptores cutâneos. (DUARTE, 2000, a) A partir disso, podemos concluir que a perda sensorial que acomete indivíduos diabéticos, e que, por vezes, ocasiona formação de escaras nos pés, e num estágio mais avançado, mutilação de parte do membro inferior, é devido ao comprometimento da via 63 somatossensorial do sistema de controle postural. Lesões no sistema musculoesquelético, formação de feridas, entre outras ocorrências, em indivíduos com perda de sensibilidade e que levam a uma instabilidade do equilíbrio corporal, podem ser atribuídas ao mau funcionamento do sistema somatossensorial do organismo. O avanço nas pesquisas nas áreas de equilíbrio e postura, em Biomecânica, sem dúvida, torna o tratamento de indivíduos com desordens de equilíbrio mais eficaz. Essa eficácia pode ser vista, não apenas em ambientes clínicos, na atuação de fisioterapeutas, médicos, de forma geral, entre outros, mas na reabilitação complementar com profissionais de Educação Física e, ainda, na construção dos equipamentos de diagnóstico e recuperação (utensílios) dos pacientes. Contudo, vemos que há uma necessidade de se encontrar um perfil de pesquisas, pois muito se pesquisa, mas os métodos e metodologias são diversos, o que pode representar necessidade de padronização neste campo. Além do fato de que tais resultados podem estar sendo gerados de maneira equivocada. 64 Capítulo 5 Metodologia SITUAÇÃO - PROBLEMA Embora a Biomecânica seja ferramenta fundamental no exercício profissional de Educação Física, não sabemos com que tendência se dá a produção da área de Equilíbrio corporal. 1. HIPÓTESES Carecem de pesquisas as áreas que dizem respeito à atuação profissional junto a indivíduos em fase de desenvolvimento motor, bem como prescrição de exercícios para melhora de performance de desportistas, com relação ao equilíbrio mecânico. 2. A ênfase de pesquisa nesta área proposta está sendo dada em postura em bipedestação e questões de reabilitação. 3. Não há um método eficaz para mensuração de equilíbrio nos esportes e outras áreas carentes de instrumentos. 4. Caso haja um método eficaz para mensuração de equilíbrio nos esportes e outras áreas carentes de instrumentos, este não vem sendo aplicado ou até divulgado. OBJETIVO Diante disso, o objetivo deste estudo é identificar a tendência de produção na área de equilíbrio corporal sob a perspectiva da Biomecânica. JUSTIFICATIVA Acredita-se que este estudo se justifica por acrescentar e contribuir para a literatura nacional de Biomecânica, além de ser um incentivo para a criação de um método eficaz de mensuração de equilíbrio em desportos e outras áreas carentes de instrumentos. MÉTODO Para constituir o corpus de análise desta Memória de Licenciatura, tomamos como fonte o periódico Journal of Biomechanics, a partir do qual foram levantados os artigos 65 que, entre os anos de 2000 e 2001, trataram do tema Equilíbrio humano. O conteúdo desses artigos foi submetido a uma análise, na qual se utilizou a técnica proposta por Laurence Bardin (2000) adotada por Batista (2001). O critério de seleção adotado, para os artigos a serem analisados, foi incluir aqueles que apresentaram os seguintes termos em se título: fase “stance” (da marcha); estabilidade; caminhada (“Walking”); marcha; centro de gravidade; postura; locomoção humana; postura quieta; equilíbrio; controle postural. E/ou os termos: caminhada (“Walking”); estratégias de quadril e tornozelo; controle postural; marcha; locomoção; estabilidade; postura em pé (“Standing”); estabilidade primária; análise de marcha; locomoção humana; postura; equilíbrio; ciclo da marcha; instabilidade, marcha humana, estratégia postural, em seu resumo de palavras-chave. Num segundo momento, foi realizada a técnica de “Scanning” (GOODMAN, 1976 apud KLEIMAN, 1989) naqueles artigos que não apresentaram palavras-chave em seu resumo ou, ainda, que parecessem, através da leitura de seus títulos, que seus conteúdos não contribuiriam para este estudo, já que, em alguns casos, a transcrição de palavras-chave não ajudava na decisão de incluir tais artigos no corpus de análise. Adotamos como características de análise, portanto, os objetivos pretendidos para as investigações, os principais instrumentos utilizados em tais pesquisas e, ainda, o perfil amostral dos estudos. Não foram considerados os instrumentos empregados para análise estatística dos resultados destes estudos. O corpo desta Memória de Licenciatura compõe-se, inclusive, de capítulos que visam facilitar o entendimento da obra. O Capítulo 1 propõe uma revisão acerca do equilíbrio humano sob a perspectiva da Biomecânica. O Capítulo 2 aborda alguns dos métodos de localização do centro de gravidade do corpo humano. O Capítulo 3 trata de alguns dos diversos instrumentos, mais comumente utilizados, por pesquisadores na área de Equilibriometria pertencente à Biomecânica. O Capítulo 4 propõe uma breve revisão dos sistemas sensoriais que auxiliam na tarefa do equilíbrio mecânico e postural humanos. Concluindo a obra, apresentam-se os resultados obtidos na revisão de literatura do Journal of Biomechanics, as conclusões tiradas e, por conseguinte, as propostas para estudos futuros. 66 CORPUS DE ANÁLISE 1. ANDRIACCHI, T.P.; ALEXANDER, E.J. Studies of human locomotion: past, present and future. In: Journal of Biomechanics, vol. 33, n°10, p. 1217-1224, 2000. 2. ARNOLD, A. S.; DELP, S. L. Rotational moment arms of the medial hamstrings and adductors vary with femoral geometry and limb position: implications for the treatment of internally rotated gait. In: Journal of Biomechanics, vol. 34, n°4, p. 437-447, 2001. 3. BASELLI, G.; LEGNANI, G.; FRANCO,P.; BROGNOLI,F.; MARRAS,A.; QUARANTA, F.; ZAPPA, B. Assessment of inertial and gravitational inputs to the vestibular system. In: Journal of Biomechanics, vol. 34, n°6, p. 821-826, 2001. 4. BAUBY, C. E.; KUO, A. D. Active control of lateral balance in human walking. In: Journal of Biomechanics, vol. 33, n°11, p. 1433 – 1440, 2000. 5. BELLCHAMBER, T.L.; VAN DEN BOGERT, A.J. Contributions of proximal and distal moments to axial tibial rotation during walking and running. In: Journal of Biomechanics, vol. 33, n°11, p. 1397 – 1403, 2000. 6. BLASZCZYK, J.W.; PRINCE, P.; RAICHE,M.; HÉRBERT, J. Effect of ageing and vision on limb load asymmetry during quiet stance. In: Journal of Biomechanics, vol. 33, n° 10, p.1243- 1248, 2000. 7. BRADY, R.A.; PAVOL, M.J.; OWINGS, T. M.; GRABINER, M.D. Foot displacement but not velocity predicts the outcome of a slip induced in young subjects while walking. In: Journal of Biomechanics, vol. 33, n° 7, p. 803 - 808, 2000. 8. CHOLEWICKI, J.; SIMONS, A. P. D.; RADEBOLD, A. Effects of external trunk loads on lumbar spine stability. In: Journal of Biomechanics, vol. 33, n° 11, p. 1377 – 1385, 2000. 9. CHOLEWICKI, J.; POLZHOFER, G.K.; RADEBOLD, A. Postural control of trunk during unstable sitting. In: Journal of Biomechanics, vol. 33, n° 12, p. 1733 1737, 2000. 10. DESJARDINS, J.D.; WALKER, P.S.; HAIDER, H.; PERRY, J. The use of a forcecontrolled dynamic knee simulator to quantify the mechanical performance of total knee replacement designs during functional activity. In: Journal of Biomechanics, vol. 33, n° 10, p. 1231-1242, 2000. 11. DE WIT, B.; DE CLERCQ, D.; AERTS, P. Biomechanical analysis of the stance phase during barefoot and shod running. In: Journal of Biomechanics, vol. 33, n° 3, p. 269 - 278, 2000. 67 12. DINGWELL, J.B.; CUSUMANO, J.P.; STERNAD, D.; CAVANAGH, P.R. Slower speeds in patients with diabetic neuropathy lead to improved local dynamic stability of continuous overground walking. In: Journal of Biomechanics, vol. 33, n° 10, p. 1269-1277, 2000. 13. GEFEN, A.; MEGIDO-RAVID, M.; ITZCHAK, Y. In vivo biomechanical behavior of the human heel padd uring the stance phase of gait. . In: Journal of Biomechanics, vol. 34, n° 12, p. 1661-1665, 2001. 14. GRANATA, K.P.; ORISHIMO, K.F. Response of trunk muscle coactivation to changes in spinal stability. In: Journal of Biomechanics, vol. 34, n° 9, p. 11171123, 2001. 15. HOWARD, C.S.; BLAKENEY, D.C.; MEDIGE, J.; MOY, O.J.; PEIMER, C.A. Functional assessment in the rat by ground reaction forces. In: Journal of Biomechanics, vol. 33, n° 6, p. 751 - 757, 2000. 16. HODGES, P.W.; CRESSWEL, A.G.; DAGGFELD, K.; THORSTENSSON, A. In vivo measurement of the effect of intra-abdominal pressure on the human spine. In: Journal of Biomechanics, vol. 34, n° 3, p. 347- 353, 2001. 17. HRELJAC, A. & MARSHALL, R.N. Algorithms to determine event timing during normal walking using kinematic data. In: Journal of Biomechanics, vol. 33, n° 6, p. 783 - 786, 2000. S 18. IQBAL, K. & PAI, Y. Predicted region of stability for balance recovery: motion at the knee joint can improve termination of forward movement. In: Journal of Biomechanics, vol. 33, n° 12, p. 1619 – 1627, 2000. 19. KAUFMAN, K.R.; HUGHES, C.; MORREY, B.F.; MORREY, M.; AN, K. Gait characteristics of patients with knee osteoarthritis. In: Journal of Biomechanics, vol. 34, n° 7, p. 907–915, 2001. 20. KENYON, G.P. & THAUT, M.H. A measure of kinematic limb instability modulation by rhythmic auditory stimulation. In: Journal of Biomechanics, vol. 33, n° 10, p. 1319 - 1323, 2000. 21. LIU, W. & MAITLAND, M.E. The effect of hamstring muscle compensation for anterior laxity in the ACL-deffcient knee during gait. . In: Journal of Biomechanics, vol. 33, n° 7, p. 871 - 879, 2000. 22. NOVOTNY, J.E.; BEYNNON, B.D.; NICHOLS, C.E. Modeling the stability of the human glenohumeral joint during external rotation. In: Journal of Biomechanics, vol. 33, n° 3, p 345 - 354, 2000. 23. PATAKY, Z.; FARAVEL, L.; DA SILVA, J., ASSAL, J.P. A new ambulatory foot pressure device for patients with sensory impairment. A system for continuous 68 measurement of plantar pressure and a feed-back alarm. In: Journal of Biomechanics, vol. 33, n° 9, p. 1135-1138, 2000. 24. POPOVIC, M. R.; PAPPAS, I. P.I.; NAKAZAWA, K.; KELLER,T.; MORARI, M.; DIETZ, D. Stability criterion for controlling standing in able-bodied subjects. In: Journal of Biomechanics, vol. 33, n° 11, p. 1359 – 1368, 2000. 25. RABUFFETTI, M.; FRIGO, C. Ground reaction: intrinsic and extrinsic variability assessment and related method for artefact treatment. In: Journal of Biomechanics, vol. 34, n°3, p. 363- 370-, 2001. 26. ROBINOVITCH, S.N.; CHIU, J.; SANDLER, R.; LIU, O. Impact severity in selfinitiated sits and falls associates with center-of-gravity excursion during descent. In: Journal of Biomechanics, vol. 33, n°7, p. 863-870, 2000. 27. SELLES, r.w.; BUSSMANN, J.B.J.; WAGENAAR, R.C.; STAM, H.J. Comparing predictive validity of four ballistic swing phase models of human walking. In: Journal of Biomechanics, vol. 34, n° 9, p. 1171–1177, 2001. 28. SOETANTO, D.; KUO, C.; BABIC, D. Stabilization of human standing posture using functional neuromuscular stimulation. In: Journal of Biomechanics, vol. 34, n° 12, p. 1589-1597, 2001. 29. SPEARS, I.R.; PFLEIDERER, M.; SCHNEIDER, E.; HILLE, E.; BERGMANN, G.; MORLOCK,M. M. Interfacial conditions between a press-"t acetabular cup and bone during daily activities: implications for achieving bone in-growth. In: Journal of Biomechanics, vol. 33, n° 11, p. 1471 - 1477, 2000. 30. STAGNI, R.; LEARDINI,A.; CAPPOZZO,A.; BENEDETTI, M.G.; CAPPELLO,A. Effects of hip joint centre mislocation on gait analysis results. In: Journal of Biomechanics, vol. 33, n° 11, p. 1479 - 1487, 2000. 31. TERRIER, P.; LADETTO, Q.; MERMINOD, B.; SCHUTZ, Y. High-precision satellite positioning system as a new tool to study the biomechanics of human locomotion. . In: Journal of Biomechanics, vol. 33, n° 12, p. 1717 - 1722, 2000. 32. VILENSKY, J.A.; COOK, J.A. Do quadrupeds require a change in trunk posture to walk backward? In: Journal of Biomechanics, vol. 33, n°8, P.911-916, 2000. 33. WAGENAAR, R.C. & VAN EMMERIK, R.E.A. Resonant frequencies of arms and legs identify different walking patterns. In: Journal of Biomechanics, vol. 33, n° 7, p. 853 - 861, 2000. 34. ZHANG, X.; NUSSBAUM, M.A.; CHAFFIN, D. B. Back lift versus leg lift: an index and visualization of dynamic lifting strategies. In: Journal of Biomechanics, vol. 33, n° 6, p. 777 - 782, 2000. 69 RESULTADOS O Journal of Biomechanics é filiado à American Society of Biomechanics, à European Society of Biomechanics, à International Society of Biomechanics, à Japanese Society for Clinical Biomechanics, à Related Research e à Australian e New Zealand Society of Biomechanics. O periódico publica artigos de natureza experimental, artigos originais, surveys, entre outros. É direcionado ao público de profissionais das áreas de Medicina, Odontologia, Engenharia Biomédica, Fisioterapia, Física Aplicada, Cirurgia Ortopédica e Plástica, Ciência de Materiais52 e a profissionais de Educação Física. O fator ou grau de impacto de um jornal (periódico) é previsto pelo número de vezes, no ano, em que um artigo seu é citado nas recentes publicações. Isto demonstra a importância e aceitação dos diferentes jornais científicos para os pesquisadores. O fator de impacto de um jornal, em um determinado ano, é verificado pelo número de vezes que os artigos publicados neste jornal foram citados por outros artigos recentes (neste ano) dividido pelo número total de artigos publicados entre os dois últimos anos. O fator de impacto (número de citações por artigo por ano) do Journal of Biomechanics entre os anos de 1999 e 2000, foi de 1,5, repetindo o fator nos dois anos. Este fator foi estudado a partir de citações relativas a exercícios e ciências do esporte53. Já a Elsevier Science atribui a esse periódico um fator de impacto de 1,856 verificado nas áreas de Engenharia, Biomédica e Biofísica54. De qualquer forma, o Journal of Biomechanics possui um fator de impacto de médio a alto dentro dos periódicos da área Biomédica. Com relação ao estudo direcionado a esta Memória de Licenciatura, durante os anos de 2000 e 2001, o periódico Journal of Biomechanics publicou 200 artigos científicos. (Não foram incluídas publicações como “Nota do Editor”, “Comentários” sobre quaisquer artigos, tampouco “Resposta do Autor”). Através do critério de escolha de artigos proposto para esta pesquisa, foram selecionados cerca de 20% (39), entretanto, somente 17% (34) dos artigos foram, 52 http://www.elsevier.nl/inca/publications/store/3/2/1/index.htt http://www.sportsci.org/jour/0103/wghimp.pdf 54 http://www.cip-elsevier.com/pdf/bm_.pdf 53 70 efetivamente, aproveitados. Os gráficos abaixo ilustram os resultados obtidos com a análise dos artigos. a) QUANTO À ÁREA DE INTERESSE: 20 20 15 Controle Postural 12 Mecânica da Marcha 10 Outros 5 2 0 Figura 21: Gráfico Área de Interesse. Quanto à área de interesse apresentada nos artigos analisados, podemos perceber, observando a figura 21, que mais da metade (20 publicações) teve seu enfoque voltado para o estudo da Mecânica da Marcha, enquanto que 12 se preocuparam em abordar a questão do controle postural. A legenda “Outros” significa que tais artigos não puderam ser encaixados nestas duas categorias, e que suas áreas de interesse eram muito especificas, de modo que se tornou difícil sua colocação em algum grupo. b) ESTRATÉGIA DE INVESTIGAÇÃO 100% 85% 80% Realizaram experimento 60% 40% 20% 15% Não realizaram experimento 0% Figura 22: Gráfico Estratégia de Investigação. 71 A figura 22 ilustra a estratégia de investigação adotada pelos diferentes autores em cumprimento de seus estudos. No gráfico, percebemos que 85% (29) da amostra realizaram algum experimento, enquanto que 15% (5) se ativeram a outras abordagens. c) PERFIL DOS OBJETIVOS MECÂNICA DA MARCHA Marcha Patológica Modelagem Controle Postural Estudo de Método Biomecânica de Calçados Estabilidade Articular Figura 23: Organograma Mecânica da Marcha A figura 23 ilustra os enfoques dados nos estudos que se direcionaram à temática da Mecânica da Marcha. Dentre os seis tópicos, o “Estudo de Método” esteve presente em 45% (9) dos estudos analisados. Os tópicos “Controle Postural” e “Modelagem” também apareceram em bom número, representando 20% (4), cada um, dos artigos submetidos à análise. Em “Estudo de Método” foram incluídos todos aqueles artigos que verificaram a validade de aplicação de algum método científico já existente para desenvolver seu estudo, ou, ainda, aqueles que se destinaram a desenvolver algum método para tal propósito. No tópico “Modelagem” foram incluídos aqueles artigos que se propuseram a apresentar o desenvolvimento de modelos mecânicos e⁄ ou matemáticos como objetivo de suas pesquisas. O tópico “Controle Postural”, embora, anteriormente, tenha sido colocado como área de interesse, neste caso foi incluído na temática “Mecânica da Marcha”, em virtude de 72 alguns artigos abordarem, especificamente, mudanças ou estratégias posturais durante a locomoção. CONTROLE POSTURAL Reabilitação Estudo de Método Contribuição neural e estratégias posturais Técnica Desportiva Modelagem Figura 24: Organograma Controle Postural. A figura 24 ilustra os enfoques dados nos estudos que se direcionaram à temática Controle Postural. Dentre os cinco tópicos apresentados, o “Estudo de Método” também teve bastante representatividade, já que esteve presente em 50% (6) dessa amostra. d) NATUREZA DAS AMOSTRAS 15% 6% Animais Pessoas Outros 79% Figura 25: Gráfico Natureza das Amostras A figura 25 representa o gráfico que ilustra a natureza das amostras utilizadas nos artigos analisados nesse estudo. Podemos observar que grande parte foi composta por 73 pessoas, representando cerca de 79% (26) da amostra. A legenda “Outros” significa que as amostras eram diversas, não sendo compostas por pessoas, tampouco animais. e) PERFIL DAS AMOSTRAS 60% Saudáveis 52% 50% Osteoartrite de joelho 40% 32,70% 30% hemiplégicos Diabéticos 20% 10% 3,52%2,11% 1,17% 0% Corredores de Longa Distância Figura 26: Perfil das Amostras. A figura 26 ilustra o perfil das amostras, compostas por pessoas, utilizadas pelos autores nos estudos submetidos à análise. Percebemos que 52% (223) do total de n amostral foram compostos por sujeitos saudáveis; 32,7% (139) apresentavam osteoartrite de joelho; 3,52% (15) eram portadores de Diabetes; 1,17% (5) eram hemiplégicos; e 2,11% (9) eram atletas, praticantes da modalidade corrida de longa distância. Nota-se que a grande maioria das amostras adotadas pelos autores, ao utilizarem pessoas, era composta por sujeitos saudáveis, não sendo especificado se eram ou não praticantes de atividades físicas regulares. A classificação dada pelos autores como “saudáveis” relacionava-se basicamente ao fato de os indivíduos não possuírem patologias neuromusculares, cardíacas e de outras naturezas, permanentes. Os demais indivíduos apresentavam alguma patologia ou lesão, além dos atletas, graficamente, ilustrados na figura 26. 74 Especificando ainda mais as amostras selecionadas em tais estudos, com relação à faixa etária dos sujeitos das amostras, temos que: Faixa etária das amostras 49% 50% 41% 40% Adultos 30% Não especificada 20% 9% 10% Idosos 0% Figura 27: Faixa etária das amostras. • Cerca de 49% (211) compostas por indivíduos adultos (classificação de acordo com o sugerido pelos autores); • Cerca de 41% (177) não especificadas quanto à faixa etária. Neste caso, ocorreu de ser informado o total de indivíduos e a citação de sujeitos “adultos e idosos” ou “crianças e adultos” participando do estudo, entretanto também ocorreu de, realmente, a amostra não ser especificada quanto a isso ou de forma alguma. • Cerca de 9% (37) compostas por sujeitos idosos. f) INSTRUMENTOS MAIS UTILIZADOS 45,00% 40,00% 35,00% 30,00% 25,00% 20,00% 15,00% 10,00% 5,00% 0,00% 44,44% Métodos Matemáticos 36,11% 27% 27,00% Plataforma de Força Cinemetria 11% Modelagem EMG Figura 28: Gráfico instrumentos mais utilizados. 75 A figura 27 ilustra, graficamente, os instrumentos mais utilizados pelos autores no desenvolvimento de suas pesquisas nos artigos aqui analisados. O desenvolvimento de métodos matemáticos foi constante na maioria dos trabalhos submetidos à análise; estes representam 44,44% (16). A plataforma de força que, supostamente, seria a mais utilizada em estudos sobre equilíbrio humano, neste trabalho, vemos que foi tão utilizada quanto a Modelagem, por exemplo, representando 27% cada (10). Já a Cinemetria foi utilizada em 36,11% dos estudos (13) e a Eletromiografia de Superfície, em 11% (4). Aliás, é importante ressaltar que, muitas vezes, os métodos de mensuração foram utilizados concomitantemente, significando que não houve exclusividade em nenhum método. Com relação à utilização de “softwares”, no desenvolvimento de pesquisas em praticamente todos houve a contribuição desta tecnologia, independentemente do tema central e do instrumento principal de uso. 76 CONSIDERAÇÕES FINAIS e CONCLUSÕES O estudo pretendeu delinear a tendência da produção em Biomecânica relacionada à publicação de artigos científicos, sob a temática de equilíbrio corporal, com base nas publicações do Journal of Biomechanics, entre os anos de 2000 e 2001, periódico este considerado com fator de impacto de médio a alto, na comunidade cientifica da área Biomédica. Estruturar e organizar uma área de conhecimento facilita a produção de estudos futuros, evitando a redundância e má orientação de pesquisa, o que pode provocar lacunas nessas áreas de conhecimento. Com relação aos critérios de análise adotados, os objetivos foram selecionados por representarem os problemas encontrados pelos autores; esses objetivos motivaram suas pesquisas. Os instrumentos empregados pelos autores foram analisados com o intuito de averiguar quais são mais utilizados nesta temática de pesquisa, além de verificar a relação custo - benefício, (isto é, o que se pretende investigar condiz com o material usado?) e apurar o método padrão-ouro (ou seja, aquele ideal para determinado objetivo). Já o perfil das amostras, apesar de não ter sido, inicialmente, foco da pesquisa, foi incluído durante a realização do trabalho, por se perceber a participação de sujeitos diversos, representando diferentes populações. Definimos, como duas grandes áreas de interesse dos estudos aqui analisados, a mecânica da marcha e o controle postural. Segundo Frontera, Dawson e Slovick (2001), compreender os princípios básicos biomecânicos da marcha ajuda a avaliar as complexidades desta atividade, aparentemente simples e automática. Os fenômenos que envolvem o ciclo da marcha auxiliam no entendimento, inclusive do estado de equilíbrio dinâmico em que o corpo se encontra. Embora as áreas de interesse sejam distintas e os enfoques dados, diversos, houve a prevalência de estudos de métodos, o que caracteriza uma área de conhecimento. Nitidamente, há uma preocupação dos autores em desenvolver algum método como objetivo de seus estudos ou, ainda, validar a aplicação de algum método científico já existente, para desenvolver tais propósitos. Com relação à estratégia de investigação dos autores, houve a prevalência de estudos que realizaram experimento, entretanto, não formaram a totalidade desta amostra. Conclui-se que estudos biomecânicos não, necessariamente, são realizados através de metodologias tradicionais. Simulação em computador, desenvolvimento de algoritmos e, 77 até mesmo, revisão de literatura são essenciais ao desenvolvimento de uma área de pesquisa. Aliás, o desenvolvimento de algoritmos e demais medidas tomadas que comportam, fundamentalmente, a Matemática, foram, novamente, comprovadas quando se analisaram os instrumentos mais utilizados pelos autores para a estruturação de seus estudos. Os métodos matemáticos são utilizados com o intuito de diminuir a margem de erro dos processos de medição em Biomecânica e, muitas vezes, padronizar ou simplificar um fenômeno complexo por meio de construção de modelos. Podendo, inclusive, reduzir os custos da realização de experimentos e desenvolvimento de produtos. Os estudos biomecânicos realizados com animais e modelos simuladores podem perfeitamente ser aplicados às necessidades do homem, o que nesse estudo pôde-se comprovar através dos resultados obtidos pela natureza das amostras. Isto se torna muito interessante a partir do princípio de que novas estratégias devem ser utilizadas com o intuito de facilitar o processo de coleta de dados e aplicação dos resultados. O trabalho realizado com cada tipo de amostra contém seus inconvenientes, algo que sugere que deva ser levado em consideração na realização de estudos. De qualquer forma, os resultados devem ser analisados conforme seus processos metodológicos e base cientifica, independentemente da natureza das amostras utilizadas. As amostras compostas por pessoas apresentaram uma diversidade muito grande (levando-se em consideração o pequeno n amostral), percebida na condição de saúde dos sujeitos e na faixa etária apresentada. Este fato caracteriza uma produção de conhecimento divergente, voltada para diversas populações, acrescida à condição de que os enfoques dados, dentro das duas grandes áreas de pesquisa, aqui classificadas, são também bastante diversos, o que pode sugerir que o conhecimento produzido não seja adequado ao atendimento das necessidades desta área. Concluímos que uma revisão da temática “Equilíbrio Corporal” baseada nas publicações do Journal of Biomechanics é perfeitamente aceitável, tendo em vista o seu fator de impacto na área Biomédica (nos anos em que foram selecionados os artigos), na qual, em algumas instituições de Ensino Superior, inclui-se a Educação Física. Talvez a temática sugira que a verificação da tendência de produção nesta área seja baseada em outro jornal, que centralize mais artigos sobre equilíbrio e postura. Entretanto, além do Journal of Biomechanics ter ótimo fator de impacto na comunidade científica da área 78 Biomédica, é um periódico de fácil acesso, inclusive com a possibilidade de se obter tais volumes, gratuitamente, através dos periódicos CAPES. Nossas hipóteses foram quase todas comprovadas através dos resultados preliminares que demonstraram que, de fato, não há, ou pelo menos não estão sendo divulgados, estudos relacionados à área de equilíbrio, voltados aos indivíduos em fase de desenvolvimento motor. Quanto à questão dos métodos de mensuração de equilíbrio aplicados ao esporte, não foi possível verificá-los, mas há uma sugestão de que a população de atletas não seja tão visada em estudos deste tipo em virtude do n e natureza amostrais apresentados nos artigos analisados. Além disso, observou-se a carência de pesquisas relacionadas à área de esportes e desenvolvimento motor, o que pode trazer como conseqüência mau direcionamento de aulas e programas de treinamento voltados a tais perfis. Sugere-se que esses resultados preliminares sejam encaminhados para estudos mais aprofundados, de maneira que se possa melhor orientar e delinear esta área de conhecimento. 79 LIMITAÇÕES O critério adotado para escolha dos artigos levou a algumas dificuldades no processo de elaboração desta Memória de Licenciatura. Quanto à escolha de palavraschave, a dificuldade esteve, primeiramente, no fato de que nem todos os artigos apresentavam quadro de palavras-chave em seu resumo. Segundo, a transcrição de palavras-chave por parte dos autores, em alguns momentos, não condizia com o real conhecimento produzido naquele determinado artigo. Já a escolha a partir de palavras presentes no título dos artigos, que tivessem a ver com o que se pretendia pesquisar nesta obra, também esbarrou em dificuldades pelo fato de o estudo em si não se relacionar ao pretendido nesta Memória de Licenciatura. De todo modo, os erros foram minimizados pela técnica de Scanning (GOODMAN, 1976 apud KLEIMAN, 1989) aplicada em todos o corpus. Outra dificuldade encontrada foi relacionada à especificação incompleta ou inexistente das amostras adotadas pelos autores. Obviamente, tal fato traz conseqüências desagradáveis já que não se podem aplicar tais achados a todos os indivíduos, bem como há limitação de informações necessárias para a prática profissional. O fato de a revisão ter sido feita a partir de um único jornal, num curto período de tempo, acarreta algumas limitações. Primeiro, porque tal estudo não pode ser considerado como instrumento delineador do estado da arte (tema equilíbrio corporal), segundo, pois há periódicos mais voltados à área de Educação Física, com estudos diretamente aplicados ao ramo desportivo, por exemplo. 80 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ÁVILA, O.V.; AMADIO, A.C.; GUIMARÃES, A.C.S.; DAVID, A.C.; MOTA, C.B.; BORGES, D.M.; GUIMARÃES, F.J.S.; MENZEL, H.; CARMO, J.; LOSS, J.F.; SERRÃO, J.C.; SÁ, M.R.; BARROS, R.M.L. Métodos de medição em biomecânica do esporte: descrição de protocolos para aplicação nos centros de excelência esportiva (Rede CENESP-MET). In: Revista Brasileira de Biomecânica, ano 3, n° 4, 2002. __.Astronaut Study Sheds Light on Role of Balance Organs in Posture Control. In: Space Life Sciences Research Highlights, December, 2001. BARHAN, J.N. Mechanical kinesiology. USA: Mosby Company, 1978. BARROS, A.L.P.; SILVA, A. M.; OLIVEIRA, L.F.; IMBIRIBA, L.A.; GARCIA, M.A.C. Índice estabilométrico em suporte uni/bipodal. 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IEFD/UERJ. 84 ANEXO ICONCEITOS DE EQUILÍBRIO Autor (es)/ ano Conceito A estabilidade corporal tem a ver com o estado de equilíbrio HAY, HEID (1985) do corpo. A resistência à aceleração angular ou linear e a HALL (2000) capacidade do indivíduo em assumir e manter uma determinada posição refere-se ao equilíbrio corporal do sujeito. FERNANDES (1993, p.324) “Estado de um corpo solicitado por duas ou mais forças que se anulam entre si; harmonia; justa medida.” Atribui o estado de equilíbrio a todo corpo que HAY (1993) permanece em repouso ou movimentando-se a uma velocidade constante. (ou balanço) É a capacidade de neutralizar forças que CARR (1998) poderiam perturbar seu estado, o que requer coordenação e controle. Difere de estabilidade. ENOKA (2000) O equilíbrio mecânico existe quando o somatório de forças que agem sobre determinado sistema é zero. Um objeto está em equilíbrio quando a força WATKINS (2001) resultante e o momento resultante que agem sobre ele são iguais a zero. 85 ANEXO II ISAAC NEWTON Um dos principais cientistas do ramo da Mecânica da Física foi Isaac teoria da gravitação universal e as três leis da mecânica (leis de Newton). Newton (1642-1727), criador das leis básicas que regem o movimento, as chamadas Leis de Newton. (DUARTE, s/d, c) Isaac Newton nasceu em Woolsthorpe, no Lincolnshire, Inglaterra, no Natal do ano em que morria Galileu Galilei, em 1642. Seu pai, um pequeno proprietário rural, havia morrido um pouco antes; três anos mais tarde, casouse outra vez e, mudando de cidade, deixou o pequeno Isaac aos cuidados da avó. Até os doze anos de idade, o menino freqüentou a escola de Grantham, aldeia próxima a Woolsthorpe. Após conseguir o grau de Bacharel, por volta de 1665, pela Universidade de Cambridge, Newton dedicou-se totalmente ao estudo, período em que a Universidade se viu obrigada a fechar as portas vista a grande epidemia de peste negra que se alastrava na Inglaterra. Este período em que Newton voltou para casa foi o início da criação das grandes descobertas que o tornariam célebre: a teoria corpuscular da luz, a 86 O chamado “Disco de Newton” foi criado pelo cientista após a descoberta de que a cor branca é formada pela junção de 7 cores: vermelha, laranja, amarela, verde, azul, anil e violeta. Isso foi constatado através da observação da luz que atravessava um prisma e se decompunha em raias de cores diferentes da branca. Descobriu que após testar com as outras raias, o mesmo efeito não ocorria; apenas com a luz branca. O Disco de Newton trata-se de um objeto circular, similar a um disco, dividido em sete setores, cada um pintado com uma cor diferente do espectro. Fazendo-o girar rapidamente, as cores se superpõem sobre a retina do olho do observador, fazendo-o receber a sensação do branco. A Teoria Corpuscular da Luz surgiu anos mais tarde através de exaustivo estudo de Newton acerca da luz. O que se descobriu foi que a luz é a emissão, por parte de um corpo luminoso, de diversas pequenas partículas que chegam ao olho do observador e produzem a sensação de luminosidade. A partir daí, Newton criou o telescópio refletor que utiliza um espelho côncavo para refletir apenas a luz branca. 87 Tempos depois, Isaac Newton cria as chamadas Leis de Newton que tentam explicar a movimentação dos corpos, pelos princípios da Mecânica. como precursor o também Teve grande cientista Galileu Galilei. Isaac Newton teve parte de suas obras documentadas. chamado O compêndio, Philosophiae Naturalis Principia Mathemat Princípios, compõese de três livros. O primeiro trata dos princípios da Mecânica; é nele que aparecem as leis do movimento, de Newton. O segundo cuida da mecânica dos fluidos e dos corpos deformáveis. Finalmente, o terceiro ISAAC NEWTON (1642-1727) situa filosoficamente a obra do autor e traz alguns resultados do que foi estabelecido pelos anteriores. Sem dúvida alguma, Isaac Newton foi um dos grandes cientistas do mundo. Seus princípios são perfeitamente aplicados e utilizados até hoje. Sua mente brilhante o possibilitou ser reconhecido e nomeado a cargos políticos, inclusive teve participação nos assuntos religiosos e de conflito de sua época. 88 1741- D’ Alembert apresentou ANEXO III- D’ ALEMBERT Nascido em Paris, em 17 de novembro de 1717, era filho adotivo de Madame de Tencin, uma escritora eloqüente, e de Chevalier Destouches, pela primeira vez, sua publicação "Mémoire sur la des corps solides" (Memória sobre a refração dos corpos sólidos). general da artilharia. D’Alembert foi abandonado na igreja St. Jean Baptiste le Rond e, logo depois, encaminhado a um abrigo destinado a crianças abandonadas. Sua mãe adotiva foi Madame Rousseau. Os estudos de D’Alembert foram custeados pelo dinheiro que o pai lhe deixou após sua morte. D'Alembert teve uma ampla educação estudando Direito, Medicina, Ciência e Matemática. Era autodidata, voltava-se para a Filosofia, ciências e línguas mortas. Porém, a Matemática foi Jean Le Rond D'Alembert (1717 - 1783) sua grande paixão. Em julho de 1739, começou sua carreira em Matemática e, dois anos depois, aos vinte e quatro anos, 1743- D’Alembert publica o Traité foi admitido na Academia de Ciências de de Dynamique, que era uma interpretação Paris. poderosa da terceira lei de Newton. 1739"Mémoire D’Alembert sur le calcul publica intégral" (Memória de Cálculo Integral). 1740- Teorema Fundamental da 1744- D’ Alembert publica “Traité de l'équilibre et du mouvement des fluides" (Tratado do equilíbrio e do movimento dos fluidos) aplicando o seu Álgebra ou Teorema de D’Alembert: princípio "Toda e qualquer equação algébrica que relacionados com o movimento e com o representa uma função inteira, admite equilíbrio dos fluidos. à solução de problemas sempre uma raiz". 89 1747- D’Alembert publica um trabalho de cinco volumes, editado entre artigo enviado à Academia de Ciências da 1753 e 1767, “Mélanges de littérature et Prússia sob o título de “Réflexions sur la de philosophie”, concentra boa parte de cause générale des vents” (Reflexão seus estudos nessas áreas. Entre as idéias sobre a causa geral dos ventos); isso lhe contidas rendeu o prêmio da Academia. O artigo aceitava um argumento a favor da tratava das equações diferenciais parciais existência de Deus, baseado na crença de e também da utilização dessas equações que a inteligência não pode ser um na Física. produto da matéria somente. 1748- Inicia os nesse trabalho D'Alembert trabalhos relacionados à teoria de sistemas lineares. 1749- D’Alembert elabora trabalho sobre mecânica intitulado de "Recherch précession des équinoxes et sur la mulation de l'arxe de la terre dans l newtonien" (“Pesquisas sobre a precessão dos equinócios e sobre anulação terra no sistema newtoriano”) e as "Recherches sur différents points important système du monde" (“Pesquisas sobre diferentes pontos do sistema do mundo”). 1751-1772- D’Alembert trabalhou na publicação dos oito volumes da “Encyclopédie ou Dictionnaire raisonnné des sciences, dês arts, et dês métiers”. (“Enciclopédia ou Dicionário racional das ciências, das artes e dos ofícios”). D'Alembert escreveu a maioria dos textos matemáticos e científicos. D’Alembert dedicou-se inclusive a estudar Literatura e Filosofia. Um 90