AEE-ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO
ESTUDO DE CASO - DEFICIÊNCIA MÚLTPLA
Marta Emidio Pereira
Introdução
O objetivo central deste trabalho é analisar o caso de uma pessoa com deficiência múltipla – o aluno
JP – e, a partir da análise, elaborar e propor um plano de atendimento educacional especializado - AEE
que atenda a suas necessidades, principalmente, no âmbito escolar, de modo que possa ultrapassar as
barreiras impostas por este contexto e participar com autonomia na turma onde está inserido.
Congregando com as diretrizes da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva é que vislumbramos a oportunidade de efetivar a permanência do aluno no contexto da sala
de aula comum com suporte do AEE. Sabemos que a Constituição Federal orienta que:
[...] os sistemas de ensino para promover respostas às necessidades educacionais
especiais, garantindo o AEE- Atendimento Educacional Especializado que tem
como função identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de
acessibilidade que eliminem as barreiras para plena participação dos alunos
considerando, suas necessidades específicas. (MEC/SEESP, 2010 -2010 pg10).
Esse serviço da educação especial é responsável pela complementação e ou suplementação da
escolarização do aluno na sala comum. O trabalho é realizado na Sala de Recursos
Multifuncionais- SRM em articulação com a sala comum, tendo como objetivo principal o
desenvolvimento do aluno e o acesso ao conhecimento
Nessa perspectiva, faremos a proposição do caso JP em que se descrevem todos os dados e as
informações coletadas, que implicaram e determinaram o problema ou os problemas, cuja
clarificação, análise e solução são, em seguida, apresentadas com foco nos estudos da
Deficiência Múltipla - DMU. Além disso, desenvolveu-se significativamente uma análise do
caso JP, articulando base conceitual e idéias fundamentadas em estudiosos e pesquisadores do
tema. Nessa perspectiva foram realizadas propostas para soluções do caso como ações do
AEE na SRM e articulação com a sala de aula comum.
A elaboração do Plano de Desenvolvimento Individual – PDI para o caso JP descreve
algumas propostas para solucionar numa perspectiva da práxis pedagógica, problemas do caso
relacionado e com a finalidade de mostrar como teoria e prática se conciliam na proposta
exequível com o foco do estudo de caso e problematização de forma sintética.
No estudo observou-se que as pessoas com DMU no contexto da escola regular é um dos
grandes desafios que a educação enfrenta nos dias atuais. Portanto nos deu embasamento para
refletirmos sobre as dificuldades e possibilidades para que esses alunos possam permanecer
no contexto escolar e ser atendidos nas suas necessidades e especificidades. Nesse contexto, o
estudo, possibilitou por meio do PDI destacar as potencialidades do aluno e assim vislumbrar
as possibilidades de desenvolvimento nos aspectos lingüístico, físico, psicológico, social,
intelectual e cultural com indicativos para ter permanência com qualidade e equidade no
contexto da sala de aula comum. A seguir, serão apresentados um conjunto de informações
que tem por objetivo contribuir para os aspectos que se referem aos conceitos de termos
técnicos e científicos que possam elucidar melhor sobre as deficiências a que JP fora
acometido, além de focar especialmente no trabalho pedagógico, pois é este o principal,
estudo desse caso.
Metodologia
A metodologia utilizada para compor o caso pode ser classificada de forma objetiva, em que a
coleta de dados foi feita por meio de observações diretas no contexto escolar onde está
matriculado o aluno. Utilizou-se de entrevistas, anamnese, avaliação escrita, análise de
documentos, pareceres pedagógicos, clínicos, relatórios dos professores de psicomotricidade e
de arteterapia, entre outros.
Participaram de entrevistas os familiares do aluno, os professores do AEE, a professora da
sala comum e os demais profissionais da escola. Foi levantada a proposição dos dados a partir
do histórico social, escolar e de saúde do mesmo, bem como observações in locus dos
atendimentos na SRM, no AEE, e com o professor da sala comum.
A verificação e análise dos documentos foram realizadas juntamente com os profissionais e
familiares que convivem com JP. Nesse momento, pode-se perceber sentimentos e atitudes
explícitas que não estavam totalmente descritos nas respostas dos documentos. Foi possível
vivenciar a participação interativa quando JP estava realizando alguma atividade. Percebemos
que dessa maneira as informações ficaram reais, facilitando o entendimento de situações do
cotidiano e relacionando com o referencial teórico e as possibilidades de práticas no PDI.
Depois de feita a coleta, os dados foram intensamente analisados, foi possível elaborar um
PDI que atendesse a JP de forma individual e coletiva. E ainda conhecendo as suas
especificidades possibilitou aos profissionais que o acompanham, selecionar os recursos
pedagógicos e as atividades apropriadas, utilizadas e produzidas pelo aluno e o professor do
AEE. Definiu-se a necessidade de articulação da sala comum com atendimentos coletivos
(trabalhos em grupo). Para melhor atender às necessidades de JP, foi necessário ainda
estabelecer parcerias com os profissionais da saúde e com a família, visando o pleno seu
desenvolvimento.
Para melhor compreensão da realidade e do aluno JP, em todas as circunstâncias que o
envolvem, descreveremos informações referentes à idade, série, escolaridade e os tipos de
deficiências que são relevantes para clarificação do problema em questão e melhor
planejamento de atividades a serem desenvolvidas no atendimento ao aluno.
A análise do caso nos apresentou que JP tem 12 anos e 6 meses, está no 1° ano da educação
básica e possui DMU. Ele nasceu prematuro com sete meses de gestação de uma gravidez não
planejada. O parto foi normal, com algumas complicações, pois o bebê não ficou na posição
normal de nascimento, iniciou pelos pés. Nasceu com 1,410kg, sofreu anóxia 1, necessitando
utilizar oxigênio. Segundo a mãe o diagnóstico do médico a criança não iria sobreviver. De
acordo com o laudo médico JP possui a Síndrome de Silver Russel, com várias
especificidades: limitações na fala e audição, sem maiores esclarecimentos. JP apresenta
distúrbio no crescimento, comprometimentos na habilidade comunicativa, com dificuldade na
linguagem oral. O Outro diagnóstico é a perda auditiva classificada em Surdez Moderada, a
audiometria apresenta perda auditiva de 65 decibés dos dois ouvidos, esses limites se
encontram no nível da percepção da palavra, sendo necessária uma voz intensa para que seja
claramente percebida. Por isso tem indicação médica para usar aparelho auricular para
amplificação sonora individual (Aasi) que é encaixado atrás da orelha. Assim, percebe-se que
consegue ouvir chamados sonoros da voz humana com dificuldade, pois é difícil perceber se
entendeu o comando e é necessário mostrar a atividade a ser realizada.
No diagnóstico psicopedagógico e psicomotor feito pelos profissionais do AEE foi observado
comprometimento no desenvolvimento global no que se refere à sua capacidade em responder
adequadamente às demandas da sociedade nos seguintes aspectos: comunicação, cuidados
1
[...] a anoxia neonatal é definida como a ausência de oxigênio nas células do recém-nascido A anoxia neonatal
é uma das maiores causas de deficiência mental no Brasil. As principais causas de anoxia são os partos
complicados, que interrompem o fluxo sangüíneo placentário para o feto (anoxia intra-uterina), podem levar a
lesões neurológicas graves irreversíveis, comprometendo todo o futuro da criança. (Olivier, 1998, p. 204)
pessoais, habilidades sociais, desempenho na família e comunidade, independência na
locomoção, desempenho escolar, saúde e segurança.
Segundo a mãe, em 2010, JP fez exames com oftalmologista necessitando usar óculos para
correção. Ele não possui baixa visão, pois de acordo com os profissionais do AEE a avaliação
funcional da visão realizada com atividades específicas não demonstraram dificuldades na
percepção visual.
Quanto ao seu desenvolvimento sensório-motor, JP sustentou a cabeça depois de um ano,
engatinhou com dois anos e andou com três anos. Aos seis anos começou a murmurar, mas
não fala até hoje. O controle de esfíncter vesical foi com oito anos e, até hoje, não controla o
esfíncter anal. Ele não consegue controlar a salivação, mas não possui cialorréia, segura a
saliva e depois joga fora com ajuda e orientação de um adulto, tem dificuldade de mastigar,
nunca come na escola. O histórico de saúde dele é bem complexo, apresenta baixa resistência
imunológica, pois com oito anos passou por uma intervenção cirúrgica para retirar um cisto
sebáceo na cabeça e colocação de carretéis nos ouvidos. Sempre se apresenta resfriado, toma
digoxina e medicamentos fortes para tratamento de sopro (comunicação interventricular –
CIV).
Já
teve
atendimentos
especializados
com
fonoaudiólogo,
neurologista,
gastroenterologista, endocrinologista e cardiologista.
De acordo com o relatório circunstanciado, JP iniciou sua vida acadêmica em fevereiro de
2010. A família relata que o filho participou por pouco tempo de uma Escola Especial, mas se
percebeu retrocesso em seu desenvolvimento e preferiu retirá-lo e deixá-lo em casa. Assim,
no ano de 2010, a família ficou sabendo do trabalho realizado em uma escola municipal
próxima de sua casa e resolveu matriculá-lo. A escola possui uma Sala de Recurso
Multifuncional - SRM para o AEE e conta com professores especialistas que realizam o
trabalho pedagógico complementar e ainda com professores de arteterapia, psicomotricidade,
instrutor de Libras e um pedagogo que acompanha todo processo educacional do AEE. Além
desses profissionais, a escola conta com um profissional que tem a função de cuidador, ou
seja, é responsável pela alimentação e higienização do aluno. Nesse espaço JP é atendido no
contra turno de sua escolarização, de forma individualizada, totalizando 200 minutos
semanais distribuídos entre os profissionais que o atendem no AEE.
Segundo o relatório da psicomotricista, JP não apresenta o domínio do esquema corporal
estruturado, bem como sua imagem corporal; ainda não definiu se será destro, canhoto ou
ambidestro. Não apresenta equilíbrio dinâmico estruturado e em deslocamento para frente e
para trás. Não reconhece direita nem esquerda em seu corpo e no corpo do outro. Os conceitos
de orientação espacial não estão internalizados. Apresenta dificuldades na coordenação
motora global. Não consegue realizar atividades de recortar, abotoar roupas, pois exigem a
coordenação motora fina. Apresenta dificuldades na coordenação motora óculo-manual,
óculo-pedal. Tem dificuldade na comunicação com os iguais.
O relato da professora de Arteterapia descreve que JP não estabelece e não reage a nenhum
vínculo afetivo. Não gosta de pegar e utilizar lápis nos registros gráficos, verbaliza sons de
forma repetitiva, tem dificuldade no controle da salivação. Quando não se interessa em
realizar alguma atividade, expressa jogando os materiais que encontra à sua frente, depois
ignora o feito. Fica encantado com o som da bola quicando no chão. Não se envolve em
atividades com obstáculos de altura (subir e descer). Não consegue realizar jogos
imaginativos com reálias ou maquetes de cidade ou campo e outros. O mesmo apresenta
desvios qualitativos na comunicação, na interação social e no uso do campo imaginário.
A professora do AEE que faz o trabalho complementar descreve que JP tem intolerância para
segurar no lápis e, quando o pega, faz rabiscos sem compreender o que está fazendo. Ainda
não tem conceito de família. Não reconhece as letras do nome nem as letras do alfabeto. A
professora considera que o aluno esteja no nível de garatujas e no período pré-operatório. As
habilidades acadêmicas e cognitivas observadas foram: tirar e guardar objetos de caixas,
agrupar figuras e objetos iguais. Portanto as atividades que consegue realizar sozinho são
basicamente de separar por cores, atividades de encaixar e encontrar os pares.
No que se refere à comunicação, desde o ano passado, ele e a mãe estão aprendendo Libras e
segundo a mãe em casa JP usa alguns dos sinais para quando quer mostrar algo estabelecendo
comunicação interativa com ela, mas com os profissionais do AEE ainda se nega a responder
ou se comunicar por meio de Libras, haja visto que estão ainda em processo de estabelecer
uma comunicação efetiva com o aluno, na tentativa de entendê-lo e se fazer entendido.
Nas habilidades do cotidiano, observa-se que o aluno é totalmente dependente, por isso é
importante intensificar o planejamento com atividades da vida diária na rotina da escola e da
família. Nas habilidades psicoafetivas e sociais, JP não compreende as normas sociais.
No contexto da sala comum JP ainda não participa de todas as atividades propostas pelo
planejamento da professora. É um aluno quieto que não causa problemas de indisciplina,
porém apresenta dificuldades de interação comunicativa. Consegue verbalizar poucos sons
sem significados. Tem dificuldade em socializar-se, é indiferente e não interage com o outro.
Segundo a professora da sala comum, JP participa das atividades coletivas e demonstra prazer
nas brincadeiras de roda ou atividades musicais. Quanto ao desenvolvimento socioemocional,
JP demonstra atitudes de egocentrismo, pois não deixa ninguém pegar os recursos
pedagógicos que está manuseando. Apesar disso, todos os alunos de sua sala e os demais
profissionais da escola tratam-no com muito carinho e atenção. Alguns profissionais da escola
questionaram de forma duvidosa sobre a aprendizagem acadêmica de JP, alegando que até o
momento o mesmo ainda está apenas socializando e estabelecendo domínio da rotina na
escola. Observa-se que não conseguem perceber nenhum potencial no aluno, pois comentam
que a escola não está preparada para ensiná-lo, alegam que sua chegada é apenas para a
socialização e não acreditam que JP um dia poderá ter aprendizagem significativa.
Conforme relatos de seus pais, no contexto familiar JP é acomodado e age normalmente no
seu ambiente. Tem um comportamento tranqüilo com eles, mas com os outros familiares, é
relativo, pois poucos têm paciência com a criança. Ele em casa convive apenas com os pais e
uma avó materna que é surdocega. Segundo a mãe, não possui colegas que frequentam sua
casa e a família não tem costume de levar coleguinhas para brincar com ele. Em festas
costuma ficar sentado perto do som e fica quieto. Segundo relatos da mãe, JP gosta de assistir
TV, olhar revistas. E em algumas situações consegue expressar seu desejo, apontando ou
fazendo birras, por exemplo, quando quer andar de bicicleta com o pai, ou quando está
cansado e quer ser carregado.
A família demonstra satisfação com o apoio que a escola dispõe no momento. Porém, mesmo
JP apresentando grande desenvolvimento global, não se percebe que a família identifica no
filho habilidades e para eles, o que a escola está fazendo já é um progresso. Portanto não
mencionaram expectativas com relação ao desenvolvimento de sua escolarização e a única
instituição que freqüenta é a escola.
Resultados e Discussões
Como já foi mencionado, JP nasceu prematuro, sofreu anóxia durante o parto e possui DMU
(Sídrome de Silver Russel-SSR/ Surdez Moderada).O quadro da síndrome é variável e não há
um diagnóstico precoce, porém, estudos têm mostrado que muitas são as complicações
trazidas pela SSR: distúrbio no crescimento, comprometimentos na habilidade comunicativa,
e na linguagem oral com falhas funcionais no aparelho fonoarticulatório, haja visto que essas
são características marcantes descritas no histórico dessa síndrome. No estudo do caso JP,
percebe-se muitas dessas características.
[...] alteração na fase oral da deglutição caracterizada pela diminuição da força de
preensão e nos movimentos de rotação e lateralização do bolo alimentar durante a
mastigação. Tais alterações morfológicas são condizentes com as características
faciais da síndrome, ocasionando prejuízo nas funções mio-orais, incluindo a fala e
a deglutição. (Rossi et al. 2006, p.550)
De acordo com a literatura da SSR é possível perceber que os comprometimentos
cognitivos que JP possui podem ser uma variante de suas seqüelas.
Referências quanto às habilidades cognitivas desta síndrome sugerem que a
deficiência mental é pouco freqüente, ainda que na maioria dos casos estes
pacientes necessitem de programas terapêuticos voltados para as dificuldades da
fala e do processo de aprendizagem, evidente principalmente na fase de
alfabetização. (Rossi et al., 2006 p.549)
Estudiosos da SSR têm dito que a síndrome não compromete, necessariamente, as habilidades
cognitivas, indicando que a pessoa possa ter deficiência intelectual. Mas apontam para a
necessidade de trabalhos terapêuticos para as dificuldades de fala e do processo de
aprendizagem, principalmente na fase de alfabetização inicial.
As dificuldades de aprendizagem identificadas em alguns indivíduos com esta
síndrome envolvem alterações nas habilidades da linguagem oral, correlacionadas a
prejuízos no processamento cognitivo requerido para o aprendizado da linguagem
escrita e cálculo-matemático. (Rossi et.al. 2006 p.549).
O quadro de JP apresenta grandes comprometimentos, principalmente, pelo fato de sua
família tê-lo matriculado numa instituição escolar, após doze anos de vida da criança. Mesmo
em escola especial, como já foi mencionado anteriormente, a criança permaneceu por pouco
tempo. Esse pode ser um dos aspectos que levou JP a ter menos estimulação e
desenvolvimento inicial, principalmente nos primeiros anos de vida.
Assim analisando o Caso JP e a atitude dos seus familiares diante das deficiências, percebe-se
que eles possuem uma concepção de superproteção ou mesmo dificuldades de aceitação da
condição do filho. Isso se comprova pelo fato de não acreditar no seu potencial , fizeram a
escolha de não matriculá-lo em uma escola comum, portanto, foi negado o direito de conviver
socialmente e ser exposto aos estímulos essenciais no período da sua infância, já que iniciou
sua vida escolar tardiamente. Sabemos que as trocas simbólicas oferecidas pelo meio
social/cultural em que a criança convive é de fundamental importância para seu pleno
desenvolvimento e a escola é um ambiente rico de todas essas informações, e que a criança
não as encontra em nenhum outro lugar.
Analisamos que as complicações causadas pela Síndrome no indivíduo são muito
contundentes e substanciais. JP traz um quadro muito semelhante ao que se expôs
anteriormente. Seu comprometimento cognitivo tem grau importante, prejudicando sua
aprendizagem, além de a SSR levar o aluno a ter problemas motores, na comunicação, de
linguagem oral e nas habilidades sociais. E isso nos leva a suspeitar que o aluno, mesmo não
se definindo categoricamente a intensidade, possui deficiência intelectual.
Como foi dito, JP demonstra graves comprometimentos no desenvolvimento da habilidade
comunicativa. Assim a dificuldade de linguagem associada ao comprometimento de funções
orais demonstradas por ele, tem por conseqüência prejuízos nos aspectos de socialização.
Sabemos pois, que linguagem e comunicação estão no mesmo circuito.
[...] avaliação das habilidades da linguagem oral revelou significativo
comprometimento sintático, semântico, fonológico e pragmático. Conforme descrito
no item da habilidade comunicativa, o uso da linguagem oral como recurso
comunicativo mostrou estar muito prejudicado com grave comprometimento na
habilidade de recepção e expressão da linguagem oral. (Rossi et.al. 2006 p.550).
Outra deficiência de JP, cujo laudo foi dado pelo médico é a surdez moderada. Assim as
dificuldades de linguagem associadas ao comprometimento de funções orais demonstradas
por ele, comprometeram os aspectos de sua socialização e comunicação e ainda apresenta
sérios comprometimentos no aparelho fonoarticulatório, pois não consegue engolir a saliva
possuindo muita dificuldade para mastigar e engolir alimentos e de acordo com o histórico
são causas da SSR.
Pessoa com surdez moderada – indivíduo que apresenta perda auditiva entre
quarenta e setenta decibéis. Esses limites se encontram no nível da percepção da
palavra, sendo necessária uma voz de certa intensidade para que seja
convenientemente percebida. É frequente o atraso de linguagem e as alterações
articulatórias, havendo, em alguns casos, maiores problemas lingüísticos. Esse
indivíduo tem maior dificuldade de discriminação auditiva em ambientes ruidosos.
Em geral, ele identifica as palavras mais significativas, tendo dificuldade em
compreender certos termos de relação e/ou formas gramaticais complexas. Sua
compreensão verbal está intimamente ligada a sua aptidão para a percepção visual.
(Lima, 2006 p.19)
Dessa maneira, avaliando os comprometimentos que a Surdez Moderada e a dificuldade em
oralizar, é importante diversificar as estratégias pedagógicas e atender o potencial de JP.
Como já foi dito ele e a mãe iniciaram timidamente a aprendizagem de Libras com o objetivo
de obter a comunicação interativa. Esse trabalho deverá ser potencializado, pois a
comunicação proporciona o pleno desenvolvimento cognitivo provoca seu potencial de
imaginação e desenvolve o pensamento.
As práticas de sala de aula comum e do AEE devem ser articuladas por
metodologias de ensino que estimulem vivências e que levem o aluno a aprender a
aprender, propiciando condições essenciais da aprendizagem dos alunos com surdez
na abordagem bilíngue. (ALVES; DAMÁZIO e FERREIRA, 2010 p.09).
Então, sabendo que JP não consegue responder a orientações auditivas é necessário que se
planeje ações permitindo que ele participe de todas as informações, do contexto escolar e
familiar. O ensino da linguagem por meio da Libras – Língua Brasileira de Sinais é mais um
recurso ou outro modo de se comunicar no âmbito escolar. Essas práticas são de suma
importância, pois estabelecem interação, facilita a comunicação e ameniza as dificuldades
provenientes da síndrome e da deficiência, assim potencializar o ensino de Libras, faz-se
necessário.
As línguas de sinais são línguas naturais e complexas que utilizam o canal
visual-espacial, articulação das mãos, expressões faciais e do corpo, para estabelecer
sua estrutura. Todas as línguas são independentes umas das outras e as línguas de
sinais possuem estruturas gramaticais próprias, compostas de aspectos lingüísticos:
fonológico, morfológico, sintático e semântico – pragmático no contexto escolar e no
contexto familiar. (ALVES, DAMÁZIO e FERREIRA, 2010 p.09)
Nesse estudo de caso, deparamos com desafios extraordinários e complexos, tanto para os
pais como para os profissionais que atuam diretamente com o aluno, pois é necessário
elaborar um planejamento de ensino de forma a atender a especificidade de JP. Por isso, o
AEE deverá orientar a família a articular parcerias com instituições externas à escola, como
profissionais da saúde (Fonoaudiologia, odontologia) os profissionais dessa área tem
competência para avaliar todo aparelho fonoarticulatório e contribuir para o desenvolvimento
de JP nos aspectos de mastigação, controle da cialorréia e conseqüentemente, melhorando
suas habilidades comunicativas na linguagem oral.
Além desses, é recomendado também a natação para realização de atividades físicas com
cunho terapêutico, pois de acordo com o diagnóstico psicomotor, JP apresenta sérios
comprometimentos na área motora, assim essa atividade o ajudará a ter maior autonomia e
agilidade, quanto aos aspectos de lateralidade, controle da respiração, etc.
Acreditamos que as parcerias escola, família e profissionais da saúde ou todas as pessoas que
estejam envolvidas no processo e convivem com o aluno, deverão sempre analisar o seu
desenvolvimento em cada contexto e potencializá-lo de forma significativa.
O acompanhamento prevê a articulação do professor do AEE com outros
profissionais que possam dar suporte às necessidades específicas desses alunos.
Prevê, também, a articulação com a família no sentido de construir as condições
propícias ao desenvolvimento e aprendizagem. O acompanhamento implica na
necessidade de avaliação permanente da evolução do aluno nos diferentes espaços
educacionais e no redimensionamento do plano do AEE. (GOMES, POULINE e
FIGUEIREDO, 2010, p.25)
Nesse sentido é que o AEE tem como objetivo atender às especificidades e necessidades de
JP, nos viários contextos em que ele convive e assim tentar superar as dificuldades
apresentadas, lhe proporcionando melhor qualidade de vida.
Identificadas o processo ensino aprendizagem de JP e sua condição de DMU faz-se
necessário planejar ações mediatas e imediatas visando atender as especificidades e
complicações do caso de forma que seja possível otimizar suas potencialidades no AEE.
Após a identificação das idéias centrais da situação problema levantadas no caso JP, foram
planejadas algumas propostas para possíveis soluções focando no AEE, na sala comum e na
família. Assim diante do exposto, o Plano de AEE deverá ser organizado de acordo com as
avaliações do seu potencial reconhecendo todas as seqüelas acometidas pela SSR. Nesse
ambiente as informações e os detalhes apresentados em situações vivenciadas por JP no AEE,
na sala de aula comum e no contexto familiar são pontos essenciais para elaboração da
proposta. Os profissionais do AEE deverão reconhecer as habilidades e necessidades de JP e
em seu plano de atendimento, produzir materiais didático-pedagógicos adequados, que auxilie
as dificuldades de comunicação e socialização apresentadas por ele.
O foco do planejamento visa atender a utilização de sistemas de calendários, materiais
didático-pedagógicos com possibilidade de retratar momentos importantes de sua vida diária e
atividades do contexto escolar quanto ao aspecto cognitivo e de linguagem, aprendizagem,
saúde, desenvolvimento físico, afetividade e socialização.
Com o uso de calendários serão definidos os objetos de referência produzidos pelos
profissionais do AEE na organização da rotina e ações futuras no cotidiano escolar de JP.
Assim, aos poucos, ele irá construindo as antecipações de atividades e ações vivenciadas na
rotina diária, estas pistas poderão ajudá-lo a superar a sua dificuldade de socilalizar.
Por apresentar importantes comprometimentos na habilidade comunicativa com distúrbio na
linguagem oral, o aluno ainda não conseguindo expressar suas vontades, é necessário que o
AEE amplie suas formas de comunicação utilizando recursos da Tecnologia Assistiva - TA
como apoio visual, e o ensino de Libras, essas estratégias poderão auxiliá-lo na comunicação
interativa estabelecendo trocas de informações com o meio. Esses recursos farão parte da
confecção de álbuns de fotos e calendários para trabalhar o potencial visual de forma
significativa visando ampliar outras formas de comunicação e desenvolvendo sua capacidade
crítica (fazer escolhas). A Comunicação Aumentativa e Alternativa – CAA é uma área da TA,
responsável na ampliação da habilidade de comunicação.
A CAA possibilita a construção de novos canais de comunicação, através da
valorização de todas as formas expressivas já existentes na pessoa com dificuldade
de comunicação. Gestos, sons, expressões faciais e corporais devem ser
identificadas e utilizadas para manifestar desejos, necessidades, opiniões,
posicionamentos, tais como: Sim, Não, Olá, Tchau, Dinheiro, Banheiro, Estou bem,
Tenho dor... (SARTORETTO e BERSCH, 2010, p.21)
Os profissionais do AEE deverão estabelecer articulação com os professores da sala de aula
comum, visando a disponibilização dos serviços, dos recursos pedagógicos, de acessibilidade
e das estratégias que promovem a participação de JP nas atividades escolares bem como para
todos os profissionais que atuam no contexto da escola. Os colegas da sala de JP precisam
estar envolvidos também neste processo, pois o apoio de JP à rotina escolar e a construção de
vínculos terão um melhor resultado se forem construídos junto com os alunos. Assim o
professor do AEE deverá orientar a professora a também mediar todos estes processos, tendo
momentos que o aluno ficará em dupla com algum colega, em grupo, etc, pois JP precisa ser
exposto constantemente ao meio social.
No AEE, deve-se iniciar atendimentos coletivos, pois na sala comum essa estratégia já é
utilizada e ele demonstra participação considerável em atividades lúdicas que envolvem toda
turma. O Professor do AEE ainda tem como atribuições ensinar e usar a TA de forma a
ampliar as habilidades funcionais de JP, promovendo autonomia e participação no AEE, na
sala de aula comum e no contexto familiar.
Os profissionais do AEE deverão organizar serviços no que se refere à articulação com a
família, pois o trabalho com JP necessita ter uma interlocução bem precisa, pelo fato de o
mesmo não falar e não expressar as suas necessidades. Esse contato o ajudará com orientações
nos dois ambientes, principalmente para estabelecer comunicação, esta articulação tem como
objetivo a aprendizagem nos aspectos referentes à sua autonomia com atividades de vida
diária.
Atualmente percebe-se que a família está em um período de aceitação e conscientes da
deficiência do filho, se mostram participativos, demonstram interesse pela sua condição,
fortalecendo cada vez mais o vínculo afetivo e consequentemente o desenvolvimento da sua
autoestima. Nesse processo, estão receptivos a orientações e sugestões, dispostos a buscar
cada vez mais parcerias entre família/escola/saúde, percebemos que eles querem compensar o
“tempo perdido”.
As avaliações dos resultados serão feitas em portfólios. Com seu uso é possível conhecer a
produção individual de JP de maneira processual, analisando a eficiência das práticas
pedagógicas utilizadas pelos professores, observando sistemática e diariamente aquilo de que
JP é capaz de produzir.
[...] instrumento que permite posteriormente, ao aluno e a seus pais, perceberem
como se iniciou o trabalho programado e como ele se desenvolveu. Ele revela
para o aluno e para o professor; quais foram às questões iniciais e as finais
levantadas pelo aluno e,
consequentemente, as suas aquisições, predefinindo
futuros trabalhos, conforme os focos de interesse que surgirem, no decorrer das
atividades e da avaliação. (Gomes, et al.,2010.p.31)
Ainda com relação à escolha dos recursos, estes deverão ser oferecidos, permitindo avaliar
processualmente o grau de sucesso alcançado. E ainda permite ao professor ter noção não só
das dificuldades, mas também das habilidades de JP, dessa maneira, através dos recursos
adequados e acessíveis, essas habilidades serão potencializadas.
A avaliação do desempenho de JP deverá ser um instrumento dialético, ou seja, enfatizará os
aspectos imediatos e outros mediatos. Instrumentos de identificação de novas orientações
podem e devem decidir outra direção quando necessário, respeitando, assim, a sua
individualidade, especificidade e os recursos que foram disponibilizados no processo
educacional. ”Esta avaliação deve ser realizada preferencialmente através de situações
lúdicas, as quais devem permitir a livre expressão do aluno” como coloca Gomes, Poulin e
Figueiredo (2010, p. 10).
Dentre as indicações que se propõem para elaboração do PDI para o caso JP, salienta-se que
não há pretensão de “solucionar” todos os aspectos que se indicam como problematização do
caso, mas norteadoras para atender as dificuldades do contexto escolar, do aluno e dos
profissionais que acompanha o aluno em atividades diárias.
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oct./dec,
pp.
548-556,
2006.
Disponível
em
http://dx.doi.org/10.1590/S1516-18462006000400017. Acesso em 20/09/2011
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