CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES ASSOCIADAS DE ENSINO – FAE MÁRCIO HENRIQUE DA SILVA AVALIAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS PARA A AGRICULTURA FAMILIAR E ALIMENTAÇÃO ESCOLAR QUE REFERENCIAM O DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL SÃO JOÃO DA BOA VISTA – SP 2014 FICHA CATALOGRÁFICA Catalogação na publicação elaborada pela Bibliotecária Eloísa H. Graf Fernandes, CRB – 8/3779, Biblioteca do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE. S581a Silva, Marcio Henrique da Avaliação das políticas públicas voltadas para a agricultura familiar e alimentação escolar que referenciam o desenvolvimento local sustentável. Marcio Henrique da Silva. São João da Boa Vista, SP: [sn], 2014. 175p. il. Dissertação (mestrado) – Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE; Orientador: Prof. Dr. Luciel Henrique de Oliveira 1.Alimentação escolar 2.Agricultura familiar 3.Desenvolvimento sustentável 4.Políticas públicas I Oliveira, Luciel Henrique. II UNIFAE. III Título CDU-504:338.439.02 1 CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES ASSOCIADAS DE ENSINO – FAE MÁRCIO HENRIQUE DA SILVA AVALIAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS PARA A AGRICULTURA FAMILIAR E ALIMENTAÇÃO ESCOLAR QUE REFERENCIAM O DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Sustentável e Qualidade de Vida. Área de Concentração: Políticas Públicas. Orientador: Prof. Dr. Luciel Henrique de Oliveira. SÃO JOÃO DA BOA VISTA – SP 2014 2 MÁRCIO HENRIQUE DA SILVA AVALIAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS PARA A AGRICULTURA FAMILIAR E ALIMENTAÇÃO ESCOLAR QUE REFERENCIAM O DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Sustentável e Qualidade de Vida. E xaminadora Suplente 3 AUTOBIOGRAFIA Bacharelado em Sistemas de Informação pela Faculdade Cenecista de Varginha – FACECA (2006); Especialização em Engenharia de Sistemas pela Escola Superior Aberta do Brasil – ESAB (2008); Mestrado em Desenvolvimento Sustentável e Qualidade de Vida (2014) na área de políticas públicas voltadas para alimentação escolar e agricultura familiar em curso. Experiência de oito anos em gestão de Tecnologia da Informação no Instituto Estadual de Florestas, IFE-MG. Na atualidade, experiência de onze anos com gestão de tecnologia da Informação em uma rede de lojas de móveis e eletrodomésticos e eletrônicos do Sul de Minas. Professor nos cursos de Sistemas de Informação e Análise e Desenvolvimento de Sistemas da CNEC-FACECA desde 2009; leciona as disciplinas de Redes de Computadores e Banco de dados e ajuda a compor o Núcleo Docente Estruturante (NDE) do curso de Sistemas de Informação da mesma instituição. Pode ser contatado pelo e-mail: [email protected] ou pelo Twitter @marciohsilva. 4 Para meu filho Márcio Henrique da Silva Júnior e a todos que compartilham do pensamento sustentável. 5 Primeiramente, agradeço a Deus por manter o cenário propício à minha sobrevivência, com saúde, entusiasmo para viver e inserido no seu plano de proteção contínua. À minha mãe por ter sempre acreditado em mim, mesmo diante dos ‘temporais’e também pelo seu exemplo de atitude e persistência. À minha amada esposa, mãe, mulher, companheira que me incentivou, acreditou e me ajudou perseguir este sonho. Ao meu filho Márcio Júnior, que muitas vezes reclamou minha presença enquanto eu me concentrava neste trabalho. Seus sorrisos foram fonte de inspiração e motivação para persistir. Aos professores do mestrado pela oportunidade de ingressar-me neste curso, pela seriedade mantida em todas as fases desta formação e principalmente, pelo apoio até a fase conclusiva. Em especial, meu orientador, Dr. Luciel Henrique de Oliveira, por reconhecer minhas dificuldades e mesmo assim continuar a me apoiar. À Dra. Carmen Fabriane por me surpreender com sua sobriedade em todos os temas que trabalhamos juntos e Dra. Laura Resende Franco pelas valiosas dicas e respostas rápidas. Agradeço ainda aos diversos atores sociais que contribuíram desde a etapa inicial ou na fase de coleta de dados: Cláudio Salim da Emater de Elói Mendes, José do Socorro da Emater de Varginha, Donizete Couto da Emater de Monsenhor Paulo, Orlando Régis Teixeira da Emater de Pouso Alegre, Paula Campos Pereira Nutricionista de Elói Mendes, Gillciane Scotini Silva Nutricionista e representante do CAE de Monsenhor Paulo, Marcélia Maíra Prado Nutricionista de Varginha, Robélia Vargas Consoli Nutricionista de Pouso Alegre, Sandra Ferreira Maritan representante do CAE de Varginha, Rosângela das Graças Ferroni representante do CAE de Elói Mendes, Wellington Mota representante do CAE de Pouso Alegre, Lourdes Rocha Departamento de Educação Alimentar de Pouso Alegre, Ana Luiza Assessora de Comunicação da Prefeitura de Pouso Alegre, Sebastião Aécio Damasceno chefe do setor de licitação da Prefeitura de Varginha, Tatiele da Silva de Oliveira Presidente da Associação dos Produtores de Varginha, Diretores das escolas participantes, em especial, diretora Eliane do CAIC de Varginha, diretor Francisco Marcelo Ivo da Escola Municipal Isabel Coutinho Galvão de Pouso Alegre, Diretora Regina Lúcia Moreira da Escola Maria do Carmo Mendes de Elói Mendes e Tanismara Oliveira Secretária de Educação e Diretora da Escola Municipal Vieiras de Monsenhor Paulo. Agradeço de modo muito especial a todos os pais de alunos que responderam o questionário e aos produtores que se dispuseram a responder às perguntas a agricultura familiar, particularmente, agradeço José Silvério Botelho, Robson Rogério da Silveira e Ana Lúcia de Morais da Cooperativa dos Morangueiros Pantanense que me ajudaram a chegar aos produtores de Pouso Alegre. À Michelle Cristina Alves Andrade pela ajuda na coleta dos dados em Pouso Alegre, ao Wagner Santos Freitas pela ajuda na digitação dos formulários e Jacqueline Scotini Zanatelli por ajudar na digitação, coleta e transcrição das entrevistas. Aos colegas Acácio, Lucas, Fernanda, João e Adriano. 6 Todo homem morre, mas nem todo homem vive. (William Wallace) 7 RESUMO A partir de 2009, os programas de governo voltados para agricultura familiar e alimentação escolar buscaram desenvolver ações que relacionam a preocupação com a segurança alimentar dos alunos de escolas públicas e o incentivo à agricultura familiar. Programas como: Programa Nacional da Alimentação Escolar (PNAE), Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (PNATER). Conselhos de gestão como: Conselho de Alimentação Escolar (CAE) e Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS) são exemplos de políticas públicas brasileiras que se propõem a promover o desenvolvimento local sustentável e dar condições de participação para a sociedade civil na construção de estruturas que permitam compartilhar interesses comuns, de forma descentralizada e com instrumentos de política participativa. Por meio de estudo de caso múltiplo em quatro municípios do Estado de Minas Gerais, este trabalho teve como objetivo avaliar como os produtores da agricultura familiar e pais de alunos de escolas públicas percebem as políticas voltadas para a agricultura familiar e alimentação escolar que referenciam o desenvolvimento local sustentável, com o propósito de avaliar a percepção dos principais atores sobre as mudanças ocorridas entre os anos de 2010 e 2013, configurando um corte transversal, a partir de dez proposições teóricas. Os dados foram coletados por questionários aplicados a agricultores familiares (32), pais de alunos de escolas públicas (407), entrevistas semiestruturadas (12), análise de documentos públicos – Chamadas públicas – e sítios da Internet. A análise com abordagens quanti- qualitativas apontou resultados importantes em prol da agricultura familiar segundo os próprios produtores e notável melhoria na qualidade da merenda percebida pelos pais de alunos. Em 2010, os municípios pesquisados não haviam colocado em prática as aquisições da agricultura familiar por chamada pública e em 2013 todos já estavam realizando, porém, com algumas deficiências quanto ao volume adquirido, falta de pessoal qualificado, pouca participação da sociedade civil e necessidade de apoio integrado dos diversos atores envolvidos. A pesquisa revelou que muitos pais (65%) não conhecem o CAE e muitos produtores familiares (35%) encontram dificuldades para providenciar a documentação necessária para fornecer alimentos às unidades executoras do PNAE. De modo geral, as políticas públicas estudadas já apresentaram resultados concretos em favor do desenvolvimento local sustentável e proporcionaram melhoria de vida aos agricultores familiares participantes, bem como, melhoria na qualidade da alimentação escolar. Palavras-chave: Alimentação Escolar. Agricultura Familiar. Desenvolvimento Local Sustentável. Políticas Públicas. 8 ABSTRACT From the year 2009, governmental programs for small scale family agriculture and food in schools aimed at developing actions related to food security for pupils of public schools and at promoting small scale family agriculture programs. Example of these programs are: National Program for Food in School (PNAE), Food Purchasing Scheme (PAA) and National Policy for Technical Assistance and Rural Extension (PNATER). Some Committees are: Committee for Food in Schools (CAE) and Local Committee for Rural Sustainable Development (CMDES) are examples of Brazilian public policies aimed at promoting local sustainability and open up to civil society to develop structures to share common interests in a decentralized way and with participative policies. Through study of four multiple cases in towns in the State of Minas Gerais, this work sets out to evaluate the perception that producers in small scale family agriculture programs and the parents of pupils in public schools have in relation to the policies for small scale family agriculture programs and food in schools that have the local sustainable development as reference. The purpose is to evaluate the perception of the main players in the changes that happened between the years of 2010 and 2013. For this there are ten theoretical propositions. The data was collected through questionnaires to participants of small scale family agriculture programs (32), parents of public school pupils (407), semi-structured interviews (12), analysis or public documents – public calls – and internet sites. The analysis of this data with both quantitative and qualitative approaches showed important results in support of small scale agricultural family programs, according to producers. And parents of pupils also noticed improvements in school food. In 2010, the towns researched had not put in practice the public calls for the programs of small scale agriculture but by 2013 all of them had it in place. However, they had deficiencies to turn around volumes of scale; they lacked qualified personnel and they had low involvement of civil society. Finally, they also needed the integral support of many players involved in the process. The researched reviewed that many parents (65%) do not know the CAE e many small scale producers in the family agricultural programs (35%) had problems to provide all documents necessary to supply food to the executing bodies of the PNAE. In general terms, the public policies studied had shown concrete results in favor of local sustainable developments and they improved the quality of lives of those small scale family agriculture producers and the quality of food in school who were part of these programs. Keywords: School Meals. Family Farming. Sustainable Local Development. Public Policy. 9 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 19 1.1 Tema do estudo .................................................................................................................. 19 1.2 Relevância do estudo ......................................................................................................... 21 1.3 Justificativa do estudo ....................................................................................................... 22 1.4 Problema de pesquisa do estudo ........................................................................................ 24 1.5 Objetivos do estudo ........................................................................................................... 24 2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................................. 26 2.1 Desenvolvimento Sustentável............................................................................................ 27 2.2 Desenvolvimento Local Sustentável ................................................................................. 30 2.3 Agricultura Familiar .......................................................................................................... 32 2.3.1 Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) ........... 35 2.3.2 O papel da assistência técnica ao produtor rural ...................................................... 36 2.4 Alimentação Escolar .......................................................................................................... 39 2.4.1 Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)........................................................... 40 2.4.2 Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) .............................................. 41 2.4.3 O papel do Conselho de Alimentação Escolar (CAE).............................................. 44 2.5 Qualidade de Vida relacionada à alimentação, situação econômica e justiça social ......... 47 2.6 Revisão bibliográfica acerca de estudos realizados na temática deste trabalho ................ 50 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ......................................................................... 53 3.1 Método de pesquisa ........................................................................................................... 53 3.1.1 Estudo de caso .......................................................................................................... 54 3.1.2 Casos múltiplos ........................................................................................................ 54 3.2 Planejamento de pesquisa .................................................................................................. 56 3.2.1 Especificação de construtos/teorias .......................................................................... 56 3.2.2 Unidade de análise .................................................................................................... 58 3.2.3 Critério para seleção dos casos ................................................................................. 59 3.3 Estudo de caso piloto ......................................................................................................... 62 3.3.1 Período no tempo e coleta em diferentes momentos ................................................ 63 3.3.2 Adequado acesso ...................................................................................................... 64 10 3.3.3 Questionários ............................................................................................................ 66 3.4 Coleta de dados da pesquisa .............................................................................................. 67 3.4.1 Coleta de dados com pais de alunos de escolas públicas ......................................... 68 3.4.2 Coleta de dados com órgão extensionista (EMATER)............................................. 69 3.4.3 Coleta de dados com produtores da agricultura familiar .......................................... 69 3.4.4 Coleta de dados a partir da análise de documentos das chamadas públicas ............. 70 3.4.5 Coleta de dados com nutricionistas .......................................................................... 73 3.4.6 Coleta de dados com representante do Conselho de Alimentação Escolar (CAE) .. 74 3.5 Análise dos dados de pesquisa........................................................................................... 75 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................................... 80 4.1 Análise dos dados do estudo de caso de Elói Mendes/MG ............................................... 80 4.2 Análise dos dados do estudo de caso de Monsenhor Paulo/MG ....................................... 98 4.3 Análise dos dados do estudo de caso de Varginha/MG................................................... 109 4.4 Análise dos dados do estudo de caso de Pouso Alegre/MG ............................................ 123 4.5 Discussão ......................................................................................................................... 134 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 143 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 148 APÊNDICE 1 – FORMULÁRIO DE PESQUISA PARA PAIS DE ALUNOS DE ESCOLAS PÚBLICAS ............................................................................................................................ 157 APÊNDICE 2 – FORMULÁRIO DE PESQUISA PARA PRODUTOR DA AGRICULTURA FAMILIAR ............................................................................................................................ 158 APÊNDICE 3 – FOLDER DE DIVULGAÇÃO DA PESQUISA ........................................ 159 APÊNDICE 4 – OBSERVAÇÕES AO ENTREVISTADO NO VERSO DO FOLDER DA PESQUISA ............................................................................................................................ 160 APÊNDICE 5 – FICHA DO REGISTRO DA ENTREVISTA............................................. 161 APÊNDICE 6 – GLOSSÁRIO DOS TERMOS DOS QUESTIONÁRIOS .......................... 162 11 LISTA DE FIGURAS Figura 1 Sistema ‘circular’ de alimentação ............................................................................. 32 Figura 2 Agricultura camponesa x agronegócio ...................................................................... 34 Figura 3 Fluxograma das atividades da pesquisa .................................................................... 53 Figura 4 Envolvidos com os programas estudados ................................................................. 59 Figura 5 Modelo de autorização fornecimento ........................................................................ 72 Figura 6 Foto de uma reunião de produtores/ Elói Mendes .................................................... 95 12 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 Número de produtores que fornecem para o PNAE/ Elói Mendes ......................... 81 Gráfico 2 Destinação da receita com vendas para o PNAE/ Elói Mendes .............................. 83 Gráfico 3 Reclamação quanto à alimentação/ Elói Mendes .................................................... 85 Gráfico 4 Itens oferecidos na merenda nas escolas/ Elói Mendes ........................................... 86 Gráfico 5 Atuação do CAE de acordo com pais de alunos/ Elói Mendes ............................... 89 Gráfico 6 Dificuldades para começar a fornecer para a Prefeitura/ Elói Mendes ................... 94 Gráfico 7 Reclamação quanto à alimentação/ Monsenhor Paulo .......................................... 102 Gráfico 8 Itens oferecidos na merenda nas escolas/ Monsenhor Paulo ................................. 102 Gráfico 9 Atuação do CAE de acordo com pais de alunos/ Monsenhor Paulo ..................... 105 Gráfico 10 Destinação da receita com vendas para o PNAE/ Varginha ............................... 113 Gráfico 11 Reclamação quanto à alimentação/ Varginha ..................................................... 115 Gráfico 12 Itens oferecidos na merenda nas escolas de Varginha ........................................ 115 Gráfico 13 Atuação do CAE de acordo com pais de alunos/ Varginha ................................ 117 Gráfico 14 Crescimento da agricultura familiar/ Pouso Alegre ............................................ 124 Gráfico 15 Reclamação quanto à alimentação/ Pouso Alegre ............................................... 127 Gráfico 16 Itens oferecidos na merenda nas escolas/ Pouso Alegre ..................................... 128 Gráfico 17 Atuação do CAE de acordo com pais de alunos/ Pouso Alegre .......................... 130 Gráfico 18 Alunos que consomem a merenda oferecida nas escolas .................................... 138 Gráfico 19 Elogio da merenda pelos alunos .......................................................................... 139 Gráfico 20 Reclamação dos alunos quanto à merenda oferecida na escola .......................... 140 Gráfico 21 Consolidação das questões Sim ou Não .............................................................. 140 13 LISTA DE QUADROS Quadro 1 Principais referencias consideradas neste trabalho .................................................. 26 Quadro 2 Valores por aluno distribuídos pelo FNDE ............................................................. 44 Quadro 3 Montantes distribuídos pelo FNDE ......................................................................... 44 Quadro 4 Proposições e variáveis analisadas .......................................................................... 57 Quadro 5 Módulos fiscais dos municípios pesquisados .......................................................... 60 Quadro 6 Dados sobre os municípios pesquisados.................................................................. 60 Quadro 7 Lista de verificação da entrevista ............................................................................ 65 Quadro 8 Relação de escolas pesquisadas ............................................................................... 68 Quadro 9 Questões das entrevistas com técnico extensionista da EMATER.......................... 69 Quadro 10 Dados coletados na documentação das chamadas públicas................................... 71 Quadro 11 Roteiro da entrevista com nutricionista ................................................................. 73 Quadro 12 Roteiro da entrevista com membro do CAE.......................................................... 74 Quadro 13 Codificação das coletadas de dados....................................................................... 75 Quadro 14 Relação entre proposição e coleta utilizadas ......................................................... 78 Quadro 15 Asserção da proposição 01/ Elói Mendes .............................................................. 80 Quadro 16 Asserção da proposição 02/ Elói Mendes .............................................................. 82 Quadro 17 Asserção da proposição 03/ Elói Mendes .............................................................. 84 Quadro 18 Asserção da proposição 04/ Elói Mendes .............................................................. 87 Quadro 19 Realização de chamadas públicas por região ........................................................ 87 Quadro 20 Asserção da proposição 05/ Elói Mendes .............................................................. 88 Quadro 21 Asserção da proposição 06/ Elói Mendes .............................................................. 89 Quadro 22 Asserção da proposição 07/ Elói Mendes .............................................................. 91 Quadro 23 Asserção da proposição 08/Elói Mendes ............................................................... 92 Quadro 24 Asserção da proposição 09/ Elói Mendes .............................................................. 93 Quadro 25 Asserção da proposição 10/Elói Mendes ............................................................... 96 Quadro 26 Asserção da proposição 01/ Monsenhor Paulo ...................................................... 98 Quadro 27 Asserção da proposição 02/ Monsenhor Paulo .................................................... 100 Quadro 28 Asserção da proposição 03/ Monsenhor Paulo .................................................... 101 Quadro 29 Asserção da proposição 04/ Monsenhor Paulo .................................................... 103 Quadro 30 Asserção da proposição 05/ Monsenhor Paulo .................................................... 103 14 Quadro 31 Asserção da proposição 06/ Monsenhor Paulo .................................................... 104 Quadro 32 Asserção da proposição 07/ Monsenhor Paulo .................................................... 106 Quadro 33 Asserção da proposição 08/ Monsenhor Paulo .................................................... 106 Quadro 34 Asserção da proposição 09/ Monsenhor Paulo .................................................... 107 Quadro 35 Asserção da proposição 10/ Monsenhor Paulo .................................................... 108 Quadro 36 Asserção da proposição 01/ Varginha ................................................................. 110 Quadro 37 Asserção da proposição 02/ Varginha ................................................................. 112 Quadro 38 Asserção da proposição 03/ Varginha ................................................................. 114 Quadro 39 Asserção da proposição 04/ Varginha ................................................................. 116 Quadro 40 Asserção da proposição 05/ Varginha ................................................................. 116 Quadro 41 Asserção da proposição 06/ Varginha ................................................................. 117 Quadro 42 Asserção da proposição 07/ Varginha ................................................................. 118 Quadro 43 Asserção da proposição 08/ Varginha ................................................................. 119 Quadro 44 Asserção da proposição 09/ Varginha ................................................................. 120 Quadro 45 Asserção da proposição 10/ Varginha ................................................................. 121 Quadro 46 Asserção da proposição 01/ Pouso Alegre .......................................................... 123 Quadro 47 Asserção da proposição 02/ Pouso Alegre .......................................................... 125 Quadro 48 Asserção da proposição 03/ Pouso Alegre .......................................................... 126 Quadro 49 Asserção da proposição 04/ Pouso Alegre .......................................................... 128 Quadro 50 Asserção da proposição 05/ Pouso Alegre .......................................................... 129 Quadro 51 Asserção da proposição 06/ Pouso Alegre .......................................................... 129 Quadro 52 Asserção da proposição 07/ Pouso Alegre .......................................................... 131 Quadro 53 Asserção da proposição 08/ Pouso Alegre .......................................................... 132 Quadro 54 Asserção da proposição 09/ Pouso Alegre .......................................................... 133 Quadro 55 Asserção da proposição 10/ Pouso Alegre .......................................................... 133 Quadro 56 Resumo das asserções de todos os municípios pesquisados................................ 135 Quadro 57 Legenda das variáveis e instrumento de coleta ................................................... 136 15 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Número de produtores pesquisados .......................................................................... 70 Tabela 2 Chamadas públicas realizadas de 2010 a 2013 ......................................................... 71 Tabela 3 Recursos para alimentação escolar/Elói Mendes ...................................................... 80 Tabela 4 Número de reuniões do CAE de Elói Mendes .......................................................... 90 Tabela 5 Alimentos ofertados - Questionário dos pais de alunos/ Elói Mendes ..................... 96 Tabela 6 Classe de produtos adquiridos da agricultura familiar/ Elói Mendes ....................... 97 Tabela 7 Recursos para alimentação escolar/ Monsenhor Paulo ............................................. 99 Tabela 8 Número de reuniões do CAE/ Monsenhor Paulo ................................................... 105 Tabela 9 Classe de produtos adquiridos da agricultura familiar/Monsenhor Paulo .............. 108 Tabela 10 Alimentos ofertados - Questionário dos pais de alunos/ Monsenhor Paulo ......... 109 Tabela 11 Recursos para alimentação escolar/ Varginha ...................................................... 111 Tabela 12 Alimentos ofertados - Questionário dos pais de alunos/Varginha........................ 122 Tabela 13 Recursos para alimentação escolar/Pouso Alegre ................................................ 124 Tabela 14 Alimentos ofertados - Questionário dos pais de alunos/ Pouso Alegre ................ 134 Tabela 15 Estatística descritiva - Formulário de pais de alunos............................................ 137 Tabela 16 Tabela do coeficiente de Correlação de Pearson ................................................. 138 Tabela 17 Consolidação dos recursos do FNDE e contrapartida da prefeitura ..................... 142 16 LISTA DE SIGLAS ADOC Análise de Documentos das Chamadas Públicas AF Agricultura Familiar ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária ATER Assistência Técnica e Extensão Rural CADUNICO Cadastro Único CAE Conselho de Alimentação Escolar CFN Conselho Federal de Nutrição CHRQOL Children Health-Related Quality of Life CMDRS Conselho Municipal do Desenvolvimento Rural Sustentável CNA Comissão Nacional da Alimentação CONAB Companhia Nacional de Abastecimento ECAE Entrevista com representante do Conselho de Alimentação Escolar EEXT Entrevista com Extensionista da Emater/MG EMATER Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural ENUT Entrevista com Nutricionista do Município FAO Food and Agriculture Organization of the United Nations (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) FNDE Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário MEC Ministério da Educação e Cultura MIT Massachusetts Institute of Technology (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) MF Módulo Fiscal MST Movimento dos Trabalhadores sem Terra ONU Organização das Nações Unidas OSCIP Organização da Sociedade Vivil de Interesse Público 17 PAA Programa de Aquisição de Alimentos PNAE Programa Nacional de Alimentação Escolar PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar QALU Questionário de Pais de Alunos de Escolas Públicas QPRO Questionário de Produtores da Agricultura Familiar QV Qualidade de Vida SGDB Sistema de Gerenciamento de Banco de Dados SIG Sistema de Informação Geográfica 18 1 INTRODUÇÃO 1.1 Tema do estudo A busca pelo desenvolvimento sustentável tornou-se uma preocupação de âmbito global (FERRARINI, 2012; FREY, 2001; ROMEIRO, 2012). Países desenvolvidos e de desenvolvimento tardio precisam assumir seus compromissos com a proteção ao meio ambiente, uso racional dos recursos naturais, direitos humanos, políticas públicas e qualidade de vida de sua população. “O Brasil, assim como muitos outros países colonizados, foi vítima de um modelo exploratório não sustentável e hoje, não muito diferente do período colonial, encontra-se diante de muitos desafios para buscar o desenvolvimento sustentável” (MELO et al., 2012, p. 704). Neste contexto, o poder público necessita de um planejamento estratégico, esforço político e inteligência para reduzir as diferenças sociais e econômicas entre os brasileiros. A integração entre poder público, sociedade civil e comunidades locais a fim de produzir o suficiente para alimentar a nação e conquistar espaço entre os países desenvolvidos, historicamente, articuladores de acordos que beneficiam prioritariamente os países economicamente desenvolvidos (FERRARINI, 2012). “Um país em desenvolvimento precisa reforçar seu papel na educação para construir a partir do conhecimento os caminhos que levam a uma vida digna, equilíbrio econômico e espaço internacional oferecendo prática de liberdade, autonomia e pensamento crítico” (LIMA, 2003, p. 112). No Brasil, a questão da produção agrícola merece tratamento especial porque está relacionada a um potencial reconhecido e disputado por brasileiros e estrangeiros. Com uma extensão territorial de destaque, clima favorável e abundância de recursos naturais o país precisa estruturar suas frentes produtivas para desenvolver de forma sustentável e elevar o padrão de vida de seu povo, principalmente, dos menos favorecidos (SACHS, 2001). “As políticas públicas desenvolvidas nos últimos anos no Brasil já apresentam algum esforço no sentido de contribuir com o Desenvolvimento Local Sustentável e melhoria de vida da população” (FERRARINI, 2012, p. 240). 19 No campo da educação, o Estado tem sua responsabilidade definida pela Constituição de 1988, através do art. 208, inciso VII, que define como dever do Estado efetivar a educação a partir de diversos programas suplementares, inclusive de alimentação (CD/FNDE, 2009). A implantação de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento local em consonância com os conceitos de desenvolvimento sustentável fica evidente no art. 3º, inciso IV da Resolução/CD/FNDE nº 038/2009 substituído pelo inciso V do art. 2º da Resolução/CD/FNDE nº 026/2013. Uma das diretrizes do Programa Nacional da Alimentação Escolar (PNAE) é o apoio ao desenvolvimento sustentável, com incentivos para a aquisição de gêneros alimentícios diversificados, produzidos em âmbito local, preferencialmente pela agricultura familiar e pelos empreendedores familiares, priorizando as comunidades tradicionais indígenas e de remanescentes de quilombos (CD/FNDE, 2009). Conforme citado por Biderman et al. (2008) uma das etapas para execução de compras públicas sustentáveis é encontrar um produto sustentável do ponto de vista social, além do ambiental. Quando estes dois critérios são associados nomeia-se sustentabilidade socioambiental. Como referência os mesmos citam o consumo de produtos agrícolas orgânicos produzidos por pequenos agricultores familiares, por exemplo, para alimentação escolar nos municípios. Esta afirmação confere equidade através de um sistema decisório participativo. Neste contexto, percebe-se que o caminho para a justiça social precisa ser trilhado pelo poder público, fornecedores e comunidade escolar por meio da participação nas decisões e efetiva construção de uma sociedade integrada. A preocupação com a agricultura familiar tem estimulado o desenvolvimento de políticas voltadas para a manutenção do modelo familiar em conjunto com o modelo comercial e não apenas o aumento da produção agrícola pautado em grande escala. Há como garantir a prosperidade de milhões de agricultores familiares, contanto que se complete a reforma agrária que vem se arrastando, que se criem também inúmeros empregos rurais não agrícolas e que não se favoreça, ali onde as opções são possíveis, a grande agricultura fortemente mecanizada em detrimento da agricultura familiar (SACKS, 2010, p. 34). “O PNAE é uma das mais importantes estratégias adotadas pelo Governo Federal com vistas à melhoria das condições de segurança alimentar e nutricional da população escolar” (GALLINA et al, 2012, p. 89). Esta afirmação legitima a importância de se avaliar os resultados dos programas de governos a partir do ponto de vista dos pais de alunos que recebem alimentos da agricultura familiar bem como dos agricultores familiares que fornecem alimentos conforme as diretrizes dos programas. 20 Diversos programas voltados para questões de educação e alimentação estão em funcionamento há muitos anos, embora tenham sofrido alterações por necessidade técnica, política ou estratégica. Este trabalho tem como foco a busca pelas respostas quanto aos objetivos alcançados considerando a problemática do desenvolvimento local sustentável constituído inclusive por aspectos econômicos, sociais e políticos sob o crivo das famílias de alunos de escolas públicas e agricultores da agricultura familiar. 1.2 Relevância do estudo A relevância do presente estudo se deu perante a tentativa de pesquisar compras públicas sustentáveis em pequenos municípios mineiros. Alguns municípios declararam que não conheciam os aspectos sustentáveis das compras públicas. O que mais chamou a atenção do pesquisador foi a preocupação de algumas prefeituras com as compras de alimentos para escolas públicas com recursos do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação (FNDE) – já que o recurso liberado está condicionado a realização de compras da agricultura familiar. Sendo assim, por meio de pesquisa bibliográfica acerca dos programas e políticas públicas voltadas para agricultura familiar e alimentação escolar, identificou-se que os resultados destas ações proporcionaram mudanças significativas para os atores envolvidos. Delgado et al. (2005) afirmam que os objetivos do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) abrangem a constituição de um polo institucional de demanda de alimentos da agricultura familiar, provisão de subvenções ao consumo de alimentos a populações em risco alimentar-nutricional e política agrária. Para Belik e Chaim (2009) o PNAE garante a segurança alimentar. Já Teo e Monteiro (2012) destacam que o programa busca desenvolver hábitos alimentares saudáveis e oferecer alimentos mais adequados ao público alvo além de contribuir com os hábitos locais. Acrescenta-se a não ocorrência de trabalhos abordando a percepção dos agricultores da agricultura familiar e alunos de escolas públicas – através dos pais – quanto aos programas de governo aplicados nos últimos anos. Em resposta, este trabalho volta-se à apuração por meio de técnicas de pesquisa que empregam análises quantitativas e qualitativas com propósito de compilar um relatório avaliativo capaz de apontar a percepção de aspectos positivos e negativos destes programas sob o ponto de vista do seu público alvo. 21 Acredita-se que os resultados possam ajudar a melhorar processos dos programas implantados quanto ao alcance de seus objetivos a partir do mapeamento dos principais efeitos sentidos pelos alunos de escolas que recebem os alimentos da agricultura familiar bem como dos agricultores familiares. Além destes atores citados, existem ainda outros atores que também participam diretamente das políticas envolvidas, tais como: órgão de extensão rural, nutricionista das escolas públicas, representantes do Conselho de Alimentação Escolar e servidores das prefeituras municipais responsáveis pelo processo de aquisição. 1.3 Justificativa do estudo Segundo Belik e Chaim (2009) a Comissão Nacional da Alimentação (CNA) deu início, no ano de 1954, a uma série de programas voltados para a alimentação escolar e em 1988 ganhou abrangência nacional a partir da Constituição Federal. No ano de 1994, com a descentralização do PNAE, os municípios passaram a distribuir os recursos financeiros, aumentando a eficiência do programa. Para Badue e Chmielewska (2011) embora o PNAE seja controlado pelo governo federal, são estados e municípios que colocam as ações em prática, na condição de unidades executoras utilizando recursos do FNDE para comprar alimentos para as escolas. De acordo com o art. 2º, inciso IV da Resolução/CD/FNDE nº 038/2009, que vigorou até julho de 2013, a sustentabilidade e a continuidade, que visam o acesso regular e permanente à alimentação saudável e adequada são princípios do PNAE (CD/FNDE, 2009). Desta forma, entende-se que este programa tem por objetivo buscar soluções sustentáveis para garantir a alimentação saudável para as crianças das escolas públicas. Esta resolução foi revogada pela resolução/CD/FNDE nº 026/2013 que trouxe em seu artigo 14º que a alimentação escolar deve pautar-se na sustentabilidade, sazonalidade e diversificação agrícola da região e na alimentação saudável e adequada (CD/FNDE, 2013). No artigo 18º da Resolução/CD/FNDE nº 038/2009 fica definido que no mínimo 30% dos recursos repassados pelo FNDE devem ser utilizados na aquisição de gêneros alimentícios diretamente da Agricultura Familiar e do Empreendedor Familiar Rural ou suas organizações, priorizando os assentamentos da reforma agrária, as comunidades tradicionais indígenas e comunidades quilombolas. Percebe-se, portanto, que o programa estabelece critérios sólidos para vincular os objetivos voltados para a melhoria da alimentação escolar e apoiar a 22 agricultura familiar. Outro aspecto importante diz respeito ao processo operacional do programa que possibilita a dispensa licitação, sem abrir mão dos princípios legais, para facilitar o processo de aquisição de alimentos com os recursos do FNDE (CD/FNDE, 2009). Ainda o artigo 18º desta mesma resolução, cita que a qualidade dos alimentos deverá ser considerada conforme as normas previstas em lei. Este parâmetro é reforçado pela resolução/CD/FNDE nº 026/2013 que traz uma seção inteira para tratar do controle da qualidade dos alimentos com referências à legislação de alimentos definida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA do Ministério da Saúde – MS e pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA (CD/FNDE, 2013). A Resolução CD/FNDE nº. 038/2009 em consonância com a Resolução Conselho Federal de Nutrição (CNF) nº 358/2005 exigia que o cardápio fosse elaborado por nutricionista habilitado. Observar o cumprimento desta medida, mantida pela nova resolução em seu art. 12º, constitui também justificativa deste trabalho, bem como, a identificação se este direito é conhecido por pais de alunos de escolas públicas (CD/FNDE, 2009). Segundo Triches e Schneider (2010) o país vive ao mesmo tempo o problema da exclusão dos pequenos agricultores dos mercados, resultando em altos níveis de pobreza no meio rural e um perfil nutricional complexificado pela dupla carga de morbidade associada às deficiências e a má qualidade do consumo alimentar. Estes mesmos autores afirmam que são escassos os estudos que abordam o papel das políticas que visam cruzar a produção e o consumo de alimentos. Analisando as diretrizes do PNAE, é possível perceber que o programa une a preocupação com a alimentação escolar e cria um canal de fortalecimento da agricultura familiar. “O controle social na alimentação escolar é uma prática do consumo sustentável” (BADUE; CHMIELEWSKA, 2011, p. 4). As mesmas autoras citam que o PNAE representa uma boa prática de consumo porque promove a aliança entre os produtores, os comerciantes e os consumidores, de forma responsável e justa, facilitando o acesso dos consumidores aos produtos e serviços da agricultura familiar, agroecológica, e da economia solidária a um preço justo, sem contar a remuneração mais justa e sob melhores condições de trabalho. Considerando a importância das políticas pública que promovem melhorias na alimentação escolar e apoiam a agricultura familiar, este trabalho justifica-se na tentativa de investigação dos resultados alcançados sob o ponto de vista de seus atores finais: agricultores da agricultura familiar e alunos de escolas públicas desde a publicação da resolução CD/FNDE nº 038/2009 (CD/FNDE, 2009). 23 1.4 Problema de pesquisa do estudo As políticas e programas voltados para alimentação escolar e agricultura familiar têm sido amplamente divulgados pelo governo através de sítios na Internet, mídias sociais, sem contar a publicação padrão da legislação pertinente. As publicações de estudos acadêmicos já estão se tornando comuns nos últimos anos abordando temas como: alimentação escolar, segurança alimentar, agricultura familiar e políticas sociais. Não são comuns, porém, estudos avaliativos quanto aos resultados atingidos pelos últimos programas, em especial depois da publicação da resolução CD/FNDE nº 038/2009 (CD/FNDE, 2009). Dentro do contexto emerge a seguinte situação problema de pesquisa: Como os agricultores da agricultura familiar e pais de alunos de escolas públicas percebem os efeitos das políticas públicas voltadas para a alimentação escolar, fortalecimento da agricultura familiar, desenvolvimento local sustentável e participação social, propostas pelo PNAE a partir da publicação da resolução CD/FNDE nº 038/2009? 1.5 Objetivos do estudo Avaliar as políticas públicas voltadas para a agricultura familiar e alimentação escolar que referenciam o desenvolvimento local sustentável considerando o crivo dos produtores da agricultura familiar, pais de alunos de escolas públicas e outros atores diretamente envolvidos. Quanto aos objetivos específicos: a) Identificar os principais programas das políticas públicas que envolvem a agricultura familiar e a alimentação de alunos de escolas públicas; b) Descrever o papel dos principais atores responsáveis pela execução das políticas públicas voltadas para a agricultura familiar e a alimentação escolar; c) Apontar os resultados das políticas públicas que objetivam proporcionar o desenvolvimento local sustentável através de programas em favor da agricultura familiar sob o crivo dos produtores da agricultura familiar; d) Avaliar a percepção dos familiares de alunos de escolas públicas quanto à qualidade da alimentação escolar; 24 e) Avaliar a percepção dos produtores rurais que fornecem alimentos para as escolas públicas pagos com recurso do FNDE, quanto aos supostos benefícios do PNAE para a agricultura familiar; f) Identificar os resultados alcançados pelo PNAE quanto à participação dos atores envolvidos. 25 2 REFERENCIAL TEÓRICO Com o objetivo de facilitar a rápida visualização sobre a abordagem teórica deste trabalho desenvolveu-se, mediante Quadro 1, o mapa das principais referências utilizadas. Quadro 1 Principais referencias consideradas neste trabalho Tema Assuntos Principais referências Desenvolvimento sustentável -Conceituação -Aspectos mais importantes -Desenvolvimento local sustentável Birkner (2008); Costa; Teodósio (2011); Frey (2001); Guimarães e Fontoura (2012); INPE (2012); Romeiro (2012); Sachs (2012); UNITED NATIONS (1987); Vizeu et al. (2012). Alimentação escolar -Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) -Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN) -Conselho de Alimentação Escolar (CAE) Belik ;Chaim (2009); Cardoso et al. (2002); Gabriel et al. (2013); Lei 11.947/2009; Molina et al. (2010); Pipitone et al. (2003); Resolução CD/FNDE 038/2009; Resolução CFN 358/2005); Santos et al. (2007); TEO e Monteiro (2012). Agricultura familiar -Caracterização PRONAF -O papel da assistência técnica rural -Programa de aquisição de alimentos ATER Carmo (2010); Damasceno et al. (2011); Delgado et al. (2005); Guilhoto et al. (2006); Kamimura et al. (2010); Lei 10.696/2003; Lei 11.326/2006; Sachs (2001); Souza et al. (2011); Metodologia -Estudo de caso -Entrevista -Questionário -Análise de documento Dubé;Paré (2003); Eisenhardt (1989); Gil (2008, 2009, 2010); Guerra (2010); Lenz (2011); Martins (2008, 2008); Mayring (2000); Neto et al. (2006); Oliveira et al. (2006); Pozzebon e Freitas (1998); Yin (2001); Berndt e Oliveira (2005); Bardin (1977); Manzine (2004); Campos; Turato (2009). Qualidade de vida -QV relacionada à alimentação, situação econômica e justiça social Maciel e Oetterer (2010); Minayo et al. (2000); Seidl; Zannon (2004); Rocha et al. (2000); Ranzenhofer et al. (2012); Casey et al. (2005); Nogueira (2002). Fonte: Elaborado pelo autor 26 2.1 Desenvolvimento Sustentável O modelo econômico predominante no mundo é o capitalismo, que em sua essência, visa à obtenção de lucros a partir do acúmulo de capital que instrumentaliza as relações e impõe a racionalidade do ‘cálculo utilitário de consequências’ como engrenagem do sistema de produção da existência dos indivíduos (VIZEU et al., 2012). Tal modelo preconiza a produção de bens de consumo para suprir as necessidades dos indivíduos conforme seus desejos e possibilidades. Como limite natural para o crescimento desenfreado aponta-se a renovação dos recursos naturais que com o avanço da produção e consumo tornou-se um desafio para a humanidade. Segundo Romeiro (2012) o relatório intitulado Clube de Roma, elaborado em 1972, por pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) deu origem a um grande impasse entre interromper o desenvolvimento para não saturar os recursos naturais, sob o risco de esgotamento em longo prazo e por outro, a necessidade de continuar o desenvolvimento sustentado para dar condições aos países de desenvolvimento tardio a superarem suas necessidades básicas. De acordo com INPE (2012) foi a consciência de que a degradação ambiental poderia causar impactos profundos na vida do planeta que levou a Organização das Nações Unidas (ONU) a realizar em Estocolmo, em 1972, a Primeira Conferência mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente. Desta conferência resultou o Manifesto Ambiental com 19 princípios de comportamento e responsabilidade, que deveriam conduzir as decisões em relação às questões ambientais. Para Romeiro (2012) a ONU com o apoio dos ecodesenvolvimentistas defendeu a necessidade de crescimento econômico para os países pobres e considerou a pobreza como uma das causas fundamentais dos problemas ambientais desses países. Desta forma, o desenvolvimento zero, proposto por economistas com base no relatório do MIT foi desconsiderado como única saída para as questões de degradação e poluição do meio ambiente. Foi no ano de 1987, de acordo com INPE (2012), com Romeiro (2012) e com Vizeu et al. (2012) que surgiu pela primeira vez o conceito de Desenvolvimento Sustentável. O termo foi apresentado pela primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland no relatório denominado Nosso Futuro Comum – Our Common Future – cujo conceito se resume em 27 desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas necessidades. Para Sachs (2004), com base nos Estudos Avançados, um dos grandes desafios para a cultura dos países industrializados é o autocontrole dos seres humanos para limitar as suas necessidades. Ele atribui a Mahatma Gandhi a autoria desta teoria. O mesmo autor, que estava presente na conferência de Estocolmo, concorda que os atuais padrões de consumo no mundo estão acima da capacidade da biosfera. Ainda para o mesmo, o ecodesenvolvimento possui cinco dimensões: (a) Sustentabilidade social que busca reduzir a distância entre os padrões de vida abastados e os não abastados e considera que o desenvolvimento abrange as necessidades materiais e não materiais; (b) sustentabilidade econômica que enfatiza a eficiência econômica avaliada em termos macrossociais do que apenas lucratividade microempresarial; (c) sustentabilidade ecológica que defende a minimização dos danos aos sistemas de sustentação da vida para propósitos socialmente válidos, preferência por recursos renováveis e/ou abundantes e ambientalmente inofensivos, diminuição dos resíduos e de poluição, limitação do consumo, intensificação de pesquisas de tecnologias limpas, criação de regras adequadas para a proteção ao meio ambiente; (d) sustentabilidade espacial aborda questões de distribuição territorial tanto para áreas urbanas quanto rurais; (e) sustentabilidade cultural que se resume no respeito às especificidades de cada ecossistema, de cada cultura e de cada local (SACHS, 2004). Percebe-se que na década de 1980 o mundo já havia despertado para a necessidade de rever o modelo de desenvolvimento econômico sem colocar em risco o futuro do planeta. Os acordos entre nações continuaram sendo propostos pela ONU, mas nem todos os países membros fizeram o mesmo esforço. De acordo com Vizeu et al. (2012) alguns países não assinaram os acordos de Mudança do Clima, a Convenção sobre Diversidade Biológica, Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação quando a Cúpula da Terra se reuniu no Rio de Janeiro (Eco-92) e lançou a Agenda 21. Também em 2009, em Copenhague, quando se firmou o tratado de Quioto, Estados Unidos da América recusaram-se a assinar, alegando não existirem provas sobre os efeitos da emissão de gases e também porque os países em desenvolvimento não tinham metas para cumprir. De acordo com Vizeu et al. (2012), em meados de 1990, o consultor Britânico John Elkinton traduziu o conceito de desenvolvimento sustentável para a ação e prática empresarial com pretensão para a sustentabilidade, resultando no tripé do desenvolvimento sustentável. Este conceito reuniu os ideais da prosperidade econômica, qualidade ambiental e justiça social, conhecido como Triple Botton Line (3BL). 28 Para Elkington (2011) o futuro sustentável depende de sete dimensões que nortearão as organizações e seus líderes. Estas dimensões compreendem mercados de concorrência, valores flexíveis, transparência, tecnologia do ciclo de vida para função, parcerias de simbiose, tempo mais longo e governança inclusiva. Segundo Lago (2006), no ano de 2002, a partir de uma resolução da Assembléia Geral das Nações Unidas foi convocada a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável em Joanesburgo, na África do Sul. Também conhecida como Rio + 10. Esperava-se a partir desta discussão colocar em prática as recomendações da Agenda 21, elaborada no Rio de Janeiro em 1992. Pode-se dizer que até a década de 1990 os acordos conquistados em prol da sustentabilidade apontavam para um futuro promissor. Mas segundo Guimarães e Fontoura (2012) a Cúpula de Johanesburgo que poderia ter sido uma oportunidade ímpar neste avanço, resultou em ameaças para aspectos já consagrados na agenda internacional, como o de Estocolmo. Como exemplo, os mesmos citam o ‘Princípio da Precaução’, que responsabiliza o agente da ação que possa provocar dano irreversível público ou ambiental sem que exista consenso científico irrefutável do possível dano, princípio este, considerado pilar da Rio-92, teve como proposta substituta de ‘Uso de um enfoque ecossistêmico, com precaução sempre que possível’. Notadamente, uma tentativa de afrouxar acordos que colocam em risco o crescimento econômico insustentável e resulta em ameaças à lucratividade de grandes corporações. A expressão ‘desenvolvimento sustentável’ que desde a década de 1980 passou a ser incluída nos relatórios, projetos, políticas públicas e slogans de organizações dos mais variados tipos já pode ser encontrada na legislação brasileira, como acontece no artigo 2º da resolução/CD/FNDE nº 026/2013 (CD/FNDE, 2013). Este fato estabelece uma ligação importante entre as políticas públicas adotadas recentemente no Brasil e o discurso global acerca do desenvolvimento sustentável. Como a resolução do FNDE aborda essencialmente a alimentação escolar, mas com apelo de contribuir com o desenvolvimento local das comunidades rurais de agricultura familiar, pode-se dizer que no âmbito do PNAE, os agricultores da agricultura familiar passaram a configurar como importantes fornecedores de alimento para alunos de escolas públicas e consequentemente não apenas o aspecto econômico foi abordado, mas outros aspectos como o social e até mesmo o ambiental, já que a agricultura familiar convive melhor com os ecossistemas do que a agricultura dos latifúndios e contribui no combate ao êxodo rural. Segundo Ferrarini (2012), as pesquisas e estudos apontam que a superação da pobreza de forma emancipatória e sustentável pressupõe 29 o estímulo à produção material e imaterial aos envolvidos com condições de se manterem após o término dos programas ou recursos alocados. 2.2 Desenvolvimento Local Sustentável Segundo Ferrarini (2012), pode-se afirmar que o combate sustentável e emancipatório à pobreza precisa estimular a proatividade com o objetivo de preparar a população para “andar com as próprias pernas”. O mesmo autor afirma ainda que o fundamento e a metodologia do desenvolvimento local, integrado e sustentável são férteis para atingir este objetivo. De acordo com Sachs (2004, p. 2) “o Brasil entrou no século XXI com um aparelho industrial moderno e diversificado e um setor de agronegócios que lhe confere liderança mundial em vários setores, mas com um considerável atraso social”. Ele ainda destaca que a riqueza está concentrada em um arquipélago enquanto há uma população nadando em oceano de informalidades. Diante da baixa qualidade do emprego para uma grande massa trabalhadora como consequência da terceirização e modernização da indústria, questionam-se as possíveis vantagens caso fossem priorizadas as políticas voltadas para a agricultura, indústria e comércio exterior. No que se refere à gestão local, o Desenvolvimento Local Sustentável passa por diferentes abordagens: (a) a abordagem econômico-liberal – seria a melhor garantia de redução da pobreza e desenvolvimento compatível com as exigências ambientais; (b) a abordagem ecológico-tecnocrata – norteia qualquer forma de agir no primado da sustentabilidade ecológica, o que exige instituições com amplas forças de imposição e de intervenção; (c) abordagem política de participação democrática – almeja antes de tudo a defesa da humanidade ou a vida digna para todos, consequentemente, uma harmonia maior com a natureza (FREY, 2001). “É característico da ecologia do sujeito que o indivíduo se sinta pessoalmente atingido pela destruição ambiental. Este motivo, por sinal, desempenhou papel fundamental e foi força motriz no surgimento do movimento ambientalista” (FREY, 2001, p. 22). A proposta geral do PNAE, a partir da publicação da Lei 11.947/2009, regulamentada pela resolução CD/FNDE nº 038/2009, constitui um marco de fomento ao desenvolvimento da agricultura familiar ao instituir que 30% dos recursos do FNDE devem ser destinados a 30 compra de produtos da agricultura familiar com dispensa a licitação. Estas medidas criaram instrumentos políticos e sociais com enfoque na integração do governo em todas as esferas, comunidade escolar, agricultores familiares e sociedade civil. Uma das ferramentas de fortalecimento das comunidades locais é o CAE (SILVA et al, 2013). Outra conquista marcante foi a instituição, a partir de 2000, em cada município brasileiro, do Conselho de Alimentação Escolar (CAE) como órgão deliberativo, fiscalizador e de assessoramento para a execução do programa, formado por membros da comunidade, professores, pais de alunos e representantes do poder executivo (BADUE; CHMIELEWSKA, 2011, p. 9). As regras para constituição do CAE permitem não apenas a integração local, mas também representa oportunidade de participação. O conselho é formado por representantes do executivo municipal, profissionais da educação, pais de alunos e representante de entidades civis, sem qualquer tipo de remuneração. A inexistência ou inatividade do CAE leva as unidades executoras ao risco de perderem os recursos do FNDE (SILVA et al, 2013). De acordo com Ação Fome Zero (2011) o PNAE é considerado hoje uma política intersetorial já que abrange área de educação e saúde e funciona como estratégia de segurança alimentar e nutricional. O programa tem ajudado a alavancar o desenvolvimento das localidades ao adquirir produtos da produção familiar local. Esta conexão com o desenvolvimento local teve início com o PAA, introduzido em 2003, onde o agricultor familiar ajudava a reduzir os custos da merenda. Este programa federal ainda tem um papel muito importante na diversidade de produtos que atendem os cardápios escolares e que possibilitam a organização dos produtores familiares que têm na comercialização de seus produtos os maiores entraves para o desenvolvimento. Sonnino (2012) estuda a relação entre a teoria e a prática do desenvolvimento sustentável com foco nos alimentos, pesquisando sempre sobre os sistemas alimentares locais, o desenvolvimento rural, os contratos públicos e o planejamento alimentar urbano. Seu trabalho repercutiu na mídia da Itália, o Reino Unido, EUA, Finlândia e Dinamarca. A autora alerta quanto às armadilhas locais e cita o modelo circular de sistema de alimentação, conforme mostra a Figura 1, aplicado em uma das 32 unidades administrativas da Escócia. 31 Figura 1 Sistema ‘circular’ de alimentação Fonte: Adaptado pelo autor a partir de Sonnino (2012) O modelo ‘circular’ de alimentação reduz o custo dos alimentos, diminuiu o uso de embalagens, amplia o conhecimento das crianças sobre os alimentos e aumenta a satisfação dos usuários dos serviços e reaproveitamento. Em contraste com o sistema linear que demanda mais recursos financeiros, extenso agronegócio, grandes indústrias processadoras, grandes varejistas e fornecedores e consequentemente muito desperdício. “Sustainable food system emphasizes locally-grown food, regional trading associations, locally-owned processing, local currency, and local control over politics and regulation” (KLOPPENBURG et al., 2000 apud SONNINO, 2012). 2.3 Agricultura Familiar De acordo com a Lei nº 11.326 de 24 de julho de 2006, consideram-se agricultor familiar e empreendedor familiar rural aquele que pratica, sob sua direção ou da própria família, atividades no meio rural limitando-se a quatro módulos fiscais, cuja mão-de-obra é essencialmente realizada pela própria família e que tenha percentual mínimo da renda familiar originada de atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento, na forma definida pelo Poder Executivo. O módulo fiscal – tamanho da propriedade – pode variar entre cinco e cem hectares conforme o município, de acordo com o Decreto nº 84.685, de 06 de maio de 1980, publicado através de Instrução Especial INCRA nº 20 de 28 de maio de 1980 (CARMO, 2010). 32 A agricultura familiar, que segundo Sachs (2001, p. 77) “constitui uma problemática desde os primórdios da independência”, tornou-se recentemente a ordem do dia a partir de movimentos como o Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST). Finalmente, os poderes públicos passaram a se preocupar com a agricultura familiar rompendo o apoio exclusivo a agricultura patronal e ao agribusiness com foco em monocultura. Muitos estudos apontam que o modelo de urbanização predominante no Brasil ocasionado pelo abandono do campo, resultou no inchaço das cidades, formação de favelas, falta de emprego e outros problemas sociais que contribuem para a redução da qualidade de vida (GUILHOTO et al..2006; KAMIMURA et al.,2010). Portanto, torna-se necessário desenvolver políticas públicas que possibilitem aos pequenos produtores rurais ganhos econômicos e vantagens para sobrevivência no meio rural do que nos grandes centros urbanos. Não há dúvidas de que é preciso produzir em grande escala para reforçar a balança comercial com as exportações e melhorar a economia da nação, mas isto não significa que os pequenos produtores rurais possam ser esquecidos. Estas famílias precisam produzir para o seu próprio sustento e ao mesmo tempo ajudar na produção de alimentos para atender à demanda interna. “Cabe, então, ao governo e às comunidades a promoção de medidas capazes de alterar os rumos da produção familiar, devido a sua importância estratégica no que diz respeito ao bem estar geral da sociedade” (GUILHOTO et al., 2006, p. 357). De acordo com Portal Brasil (2011) a agricultura familiar é responsável por setenta por cento da produção de alimentos do País. Indo ao encontro do estudo realizado por Guilhoto et al. (2006) entre 1995 a 2003, que revelou um aumento na participação do setor de distribuição da produção agrícola nacional onde a agricultura patronal teve queda e a agricultura familiar registrou aumento. Os autores concluem, neste mesmo estudo, que os agricultores familiares respondem por parcela expressiva da riqueza nacional, mesmo considerando a insuficiência de terras, as dificuldades creditícias, o menor aporte tecnológico, a fragilidade da assistência técnica e a subutilização da mão-de-obra. A agricultura familiar tem destaque especial nas políticas voltadas para alimentação escolar dos últimos anos, resultando em oportunidades para desenvolvimento de um arranjo social mais sustentável do que o modelo capitalista tradicional da agricultura latifundiária. A agricultura familiar se apresenta como mais viável dos pontos de vista ambientais, sociais e econômicos. 33 Figura 2 Agricultura camponesa x agronegócio Fonte: Dados do IBGE (2010) Ao observar a figura 2 percebe-se com maior clareza a importância da agricultura familiar, também conhecida como agricultura camponesa, em relação ao agronegócio. De modo geral, o gráfico dispensa comentários, mas ao mesmo tempo é importante salientar que este modelo de produção agrícola contrastante com a produção em larga escala para fins de equilíbrio da balança comercial e de outro lado a agricultura familiar com o propósito de produzir alimentos e empregar trabalhadores rurais se fortaleceu a partir da década de oitenta e não produziu os resultados esperados que seria a melhoria de vida geral da população nacional (GUILHOTO et al, 2006). 34 2.3.1 Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) De acordo com Guilhoto et al. (2006) cerca de 1/3 do agronegócio brasileiro é atribuído à produção agropecuária realizada pela agricultura familiar, que nos últimos anos vem crescendo mais do o agronegócio no país. Dada a importância do setor, percebe-se que o governo vem buscando, nas últimas décadas, oferecer melhores condições para as famílias rurais e apoio para o crescimento das atividades agrícola, pecuária e outras atividades das famílias rurais. O Decreto Federal nº. 1.946, de 28 de junho de 1996 criou o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) com o propósito de promover o desenvolvimento local sustentável a partir da agricultura familiar. O PRONAF foi o primeiro programa em prol da agricultura familiar com amplitude nacional. Este programa de acordo com Guanziroli (2007) se estendeu de forma considerável no país e ampliou o volume de financiamento, desenvolveu diversos programas – como PNAE e PAA –, assumiu a assistência técnica e reforçou a infraestrutura tanto dos agricultores como dos municípios. Uma pesquisa realizada por Souza et al. (2011) conclui que a distribuição de crédito do PRONAF entre estados não espelha a importância da agricultura familiar nesses mesmos estados, considerando-se os critérios: área, número de estabelecimentos e pessoal ocupado. Os resultados indicam que a distribuição dos financiamentos, sobretudo os de custeio, vem privilegiando os estados com maior participação no valor da produção familiar que se concentram no Sul e Sudeste do País. Segundo Guanziroli (2007) o PRONAF não trouxe grandes resultados para as famílias que receberam recursos do programa. Os fatores que influenciaram negativamente o processo de geração de renda dos agricultores foram: (a) falta de assistência técnica ou baixa qualidade; (b) dificuldades no gerenciamento dos recursos do crédito; (c) falta de visão sistêmica dos técnicos; (d) falta de integração nos mercados, de estrutura de comercialização e de agregação de valor. Neste último fator percebe-se a importância do PNAE para melhorar a estrutura de comercialização e fomentar a transformação do produto agrícola para diversificar a oferta tanto para as escolas públicas quanto para o mercado local. Estudos de Damasceno et al. (2011), de Guanziroli (2007) e de Souza et al. (2011) revelam que não basta integrar capital ou criar facilidades creditícias para fortalecer a agricultura familiar. É preciso dar poder ao pequeno agricultor conforme pressupostos da pedagogia de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) apresentada por MDA (2010). A 35 agricultura familiar constitui elemento social importante e não muito diferente do que ocorre em Portugal, e de acordo com Carmo (2010) é preciso reequacionar os conceitos de agricultura familiar e pluriatividade para desenvolver uma visão pluridimensional da vida rural agrícola e realizar ligações entre diversos contextos e territórios. Neste sentido, os programas PNAE e PAA significam uma nova forma de dar maior credibilidade à agricultura familiar do país. 2.3.2 O papel da assistência técnica ao produtor rural De acordo com Estevão et al. (2010) a ATER surgiu nos Estados Unidos no início do século XX como única forma de promover o desenvolvimento e o processo de modernização da agricultura. Já no Brasil, os primeiros trabalhos datam de meados de 1948, no município de Santa Rita do Passa Quatro, estado de São Paulo. A história da extensão rural tem como importante personagem mundial a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). De acordo com FAO (2011), o início das atividades desta organização no Brasil se deu em 1951, época em que a população nacional era de cerca de 80 milhões de habitantes. Desde então, muita coisa mudou no trabalho de extensão, bem como, no cenário do país, hoje com população aproximada de 200 milhões de habitantes. Segundo Estevão et al. (2010), embora a ciência tivesse como fundamento a autonomia, no que se refere à extensão rural, houve uma época em que o percurso foi alterado rumo à dominação e não à liberdade. A pesquisa agrícola com objetivo de desenvolver o melhoramento genético de espécies não focava em prover e auxiliar a vida, mas sim dominar a natureza, sobrepujar povos e acumular capitais. Para Abramovay (1998) a extensão rural até a década de 1970 focava em possibilitar o acesso a financiamento bancário, constituindo apenas como organismo auxiliar do sistema bancário e privilegiava o atendimento individualizado sem se preocupar com as questões sociais e culturais dos indivíduos assistidos. Todavia, Estevão et al. (2010) afirmam que desde a vinda da família real para o Brasil, iniciou-se um processo de criação de organizações de pesquisas voltadas para o desenvolvimento da agricultura. Nota-se, porém, segundo este mesmo autor, que faltavam investimentos, educação e havia outros problemas associados à dependência nacional em relação a grandes centros mundiais. 36 De acordo com FAO (2011) diversos projetos de curta duração foram realizados entre a FAO e o Governo Brasileiro desde 1951 até 1978, resultando em um acordo que estabeleceu o escritório da FAO em Brasília no ano de 1979. Nos últimos anos, o número de programas em prol da agricultura familiar cresceu significativamente e a FAO tem sua participação acentuada na grande maioria. Na concepção de Abramovay (1998) a extensão rural tem forte ligação com a agricultura familiar e destaca quatro aspectos importantes quanto aos valores universais de ATER: (a) a agricultura familiar é muito mais do que um seguimento econômico e social claramente delimitado, é um valor; (b) a agricultura familiar incorpora a primazia do desenvolvimento e do poder locais; (c) não se deve nortear-se pela assistência do clientelismo e assistencialismo focado apenas na viabilidade econômica; (d) o órgão de ATER não é o detentor do saber técnico, mas sim, parte do processo de construção da cidadania no campo. Segundo MDA (2010) a Política Nacional de ATER (PNATER) tem buscado a construção de uma pedagogia de ATER, baseada em metodologias participativas e sob as perspectivas da educação emancipadora e de empoderamento. A proposta é de um modelo de desenvolvimento sustentável para o meio rural, qualificando a ação extensionista e o serviço de assistência técnica e extensão rural prestado aos agricultores familiares e suas formas de organização. A extensão rural passa, na conjuntura, por mudanças importantes e em muitas vezes consideradas um marco ético-filosófico e conceitual. De acordo com Abramovay (1998, p. 140) “se a extensão rural pretende ligar-se fundamentalmente à agricultura familiar é por estar convencida não só dos valores que seu fortalecimento incorpora, mas também da viabilidade econômica dos projetos que ela será capaz de levar adiante”. Quanto ao novo conceito, vale a pena destacar que a agricultura familiar não é apenas um projeto social, mas sim uma atividade economicamente viável, contrariando o pensamento da elite da sociedade de que não percebe o potencial que a agricultura familiar representa para o País. No contexto, são citados três aspectos importantes para a renovação da extensão rural: (a) a primeira vocação da agricultura familiar é de produzir alimentos, em contraste com a ‘agricultura de subsistência’ ou ‘pequena produção’; (b) a gestão é geralmente familiar constituída essencialmente por três atributos básicos – gestão, propriedade e trabalhos familiares; (c) a agricultura familiar não é um bloco compacto e homogêneo, é um setor social em torno do qual pode ser construído um ambicioso projeto de desenvolvimento (ABRAMOVAY, 1998). 37 De acordo com MDA (2010, p. 15) “autonomia e autogestão se constituem em horizontes de relações humanas e sociais justas e são fundadas na ética”. Estes não são considerados conceitos neutros, haja vista que exige do educador o foco na construção da emancipação dos sujeitos baseados em procedimentos democráticos. As discussões técnicas sobre extensão rural abordam uma diversidade de temas, tais como: a cidadania, o desenvolvimento sustentável, a participação, a ampliação do acesso ao conhecimento, o mercado e a livre organização. Como definição para escritório de extensão rural tem-se “uma agência de desenvolvimento voltada a despertar o conjunto das energias locais capazes de valorizar o campo como espaço propício na luta contra a exclusão social” (ABRAMOVAY, 1998, p. 147). Estevão et al. (2010) citam que a PNATER orienta a busca por um projeto emancipador, apoiado por conceitos como o desenvolvimento sustentável, agroecologia, equidade social, participação, educação popular, empoderamento, gênero, geração de renda e etnia. Percebe-se, portanto, que a ATER tem evoluído para contribuir de forma mais efetiva com o crescimento da atividade rural não apenas com foco na produção, mas com olhos abertos para o desenvolvimento sustentável. Neste sentido, o trabalho de assistência e extensão rural para agricultores vinculados aos programas de alimentação escolar encontra solo fértil para atuar conforme a nova metodologia da ATER, oferecendo condições para o crescimento do cidadão rural como parte integrante de uma nova economia, fundamental para o desenvolvimento responsável, justo e equilibrado. No contexto do PNAE, a ATER tem participação direta conforme previsto no §2º do art. 26º da resolução/CD/FNDE nº 026/2013 que poderá respaldar a troca de produtos em caso de necessidade juntamente com representante do CAE. Não obstante, a documentação exigida para que o produtor da agricultura familiar possa fornecer alimentos à unidade executora do PNAE constitui desafio para a grande parte dos produtores que necessitam do apoio do órgão extensionista. Há ainda que se considerar o auxílio na organização e planejamento do plantio para atender às demandas do cardápio definido por nutricionista do programa (CD/FNDE, 2013). 38 2.4 Alimentação Escolar Segundo Ashe e Sonnino (2013) a nutrição em saúde pública está intimamente ligada à crise global de alimentação. Historicamente, a maior preocupação recai em solucionar problemas relacionados à insegurança alimentar quanto ao aspecto da subnutrição. Nos últimos anos, porém, uma nova abordagem conceitual tem sido considerada como desafio para a saúde pública independentemente da situação econômica, o mau consumo que leva a população a riscos de saúde como a obesidade. As questões estruturais fundamentais de acesso espacial, econômico e cultural se tornaram extremamente relevantes no novo contexto da segurança alimentar multimodal. De acordo com Triches e Schneider (2010) o modelo produtivo de alimentos que se estabeleceu nos últimos anos dissemina práticas que estão diretamente ligadas a alimentos que causam doenças crônicas, déficit nutricional e degradação ao meio ambiente. No Brasil, o Estado por sua vez, vem tentando estruturar o processo de produção de alimentos sustentável com base na segurança alimentar e nutricional. O objetivo é aproximar a produção de pequenos agricultores familiares e o consumo de alimentos, para buscar uma relação mais estreita entre o campo e a cidade. Esta aproximação pode resultar em ganhos tanto para a agricultura familiar que aumentará sua margem de lucro e ampliará o mercado como também para os consumidores urbanos que poderão comprar alimentos com melhores preços e de origem conhecida. Para Badue e Chmielewska (2011) um dos caminhos para práticas que buscam contribuir na construção de uma cadeia de produção, comercialização e consumo mais responsável, justa, solidária e sustentável é o controle social na alimentação escolar. O consumo responsável aborda questões sobre a escolha dos produtos considerando sua origem, processos de produção, fornecedor, preço, modo de consumo, geração de lixo e outros aspectos sociais. Em síntese, consumir abrange muito mais do que características do produto, intrinsecamente envolve consequências de saúde, meio ambiente, sociedade, cultura e economia. O estudo de caso de Triches e Schneider (2010) em municípios do Rio Grande do Sul revelou que as aquisições de alimento do PNAE atestaram maior frequência no recebimento de produtos frescos, maior variabilidade, melhor qualidade, determinando maior aceitação e consumo por parte dos alunos. Tavares e Mota (2013) citam que em Santarém-PA não foi fácil implantar o PNAE porque no início, as associações de produtores não funcionavam bem, 39 mas à medida que foram se organizando, com a participação da comunidade no controle social para garantir a oferta de alimentos saudáveis e adequados, possibilitou, graças ao amparo legal, respeitar a cultura e os hábitos alimentareis da região. Este fator possibilitou um cardápio típico do Pará que agrada mais ao paladar das crianças e fomenta as culturas locais apropriadas ao clima da região. Para Ashe e Sonnino (2013) a solução para os principais problemas de alimentação, saúde e nutrição está na alimentação escolar ligada ao desenvolvimento agrícola como forma de melhorar o acesso ao alimento saudável, ampliar a capacidade produtiva de alimentos, proporcionar cidadania participativa, melhorar a gestão dos recursos naturais, aumentar a rentabilidade das famílias locais e promover a educação alimentar. Os programas voltados para a alimentação escolar estão diretamente ligados a um conjunto de políticas que visa fortalecer a produção de alimentos, com vistas à melhoria de qualidade e estruturação da cadeia de produção e consumo, sendo considerados o PAA e o PNAE como principais (BELIK; CHAIM, 2009). 2.4.1 Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) foi criado através da Lei Federal nº 10.696, de 2 de julho de 2003. A finalidade original do PAA foi de incentivar a agricultura familiar, no que compreende as ações vinculadas à distribuição de produtos agropecuários para pessoas em situação de insegurança alimentar e também para contribuir com a formação de estoques estratégicos. A origem dos alimentos sempre foi da agricultura familiar que se enquadra no PRONAF. Uma das facilidades trazidas pela lei nº 10.696/2003 é a dispensa de licitação desde que os preços praticados não sejam superiores ao mercado regional. A Lei Federal nº 12.512, de 14 de outubro de 2011, ampliou a finalidade do PAA e citou quantidade, qualidade e regularidade na promoção de acesso à alimentação para famílias em insegurança alimentar. Esta mesma lei a partir do Art. 17º autoriza a aquisição de produtos agroecológicos ou orgânicos com acréscimo, limitando-se a 30% em relação aos produtos convencionais. Pode-se dizer que neste ponto efetivamente o programa abre espaço para a preocupação com a sustentabilidade em termos práticos (DELGADO et al., 2005). O Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar – PAA apresenta algumas falhas operacionais que acabaram prejudicando o êxito em atingir as metas originais. 40 Como exemplo cita-se a redução de investimentos entre nos anos de 2003 e 2005. Esta redução significou que o plano teve uma perda de prioridade e não permitiu a inclusão de novos produtores conforme poderia ocorrer (DELGADO et al., 2005). Durante os primeiros anos no PAA, pode-se dizer que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) teve papel decisivo na execução do plano. Os instrumentos Compra antecipada, Contrato de garantia de compra, Contrato de compra direta e Contrato de compra antecipada especial foram operados exclusivamente pela Conab. Este modelo de operação e gestão, mais centralizado, reúne informações mais detalhadas sobre os resultados do PAA, diferentemente do modelo descentralizado a partir de estados (e municípios) que não dispõem de sistema de informação padronizado com detalhes dos resultados (DELGADO et al., 2005, p. 12). O PAA embora não esteja associado diretamente à aquisição de alimentos com recursos do FNDE contribui efetivamente com o PNAE na medida em que fomenta a atividade de produção para fornecimento ao Estado. Muitos produtores da agricultura familiar que ainda não forneceram para o PNAE já forneceram para o PAA (MSD, 2013). Por meio de Decreto Presidencial nº 8.026, de junho/2013, foi alterado o Decreto nº 7.775, de 04/07/2012, que regulamenta o Programa de Aquisição de Alimentos, subindo de R$ 4.500,00 (quatro mil e quinhentos reais) para R$ 5.500,00 (cinco mil e quinhentos reais) o valor máximo que os agricultores familiares podem vender para o PAA, nesta modalidade, por unidade familiar/ano. Os agricultores entregam os alimentos em uma Central de Distribuição, onde são pesados e separados para serem doados. Este valor pode ser alterado para 8.000,00 em caso de organizações com mais de 50% de beneficiários fornecedores cadastrados no Cadastro Único (CADÚNICO) ou em caso de organizações fornecedoras que trabalhem com produtos exclusivamente orgânicos e/ou agroecológicos ou da sociobiodiversidade (MDS, 2013). 2.4.2 Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) O PNAE é o programa social mais antigo na área de segurança alimentar, criado pelo decreto no. 37.106, de 31 de março de 1955, com o nome Campanha de Merenda Escolar. Por mais de cinquenta anos este programa focou na suplementação alimentar aos escolares de escolar públicas e conveniadas. No ano de 1979 este programa chegou a alcançar 14 milhões de escolares (SANTOS et al., 2007). 41 A partir do ano de 1997, o PNAE passou a ser coordenado pela Secretaria Executiva do Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação (FNDE). Somente no ano de 2005 que o programa atingiu a descentralização plena em cerca de cinco mil munícipios e alcançou 37 milhões de escolares. O FNDE é responsável pela normatização, assistência financeira, coordenação, acompanhamento, monitoramento, cooperação técnica e fiscalização da execução do programa (SANTOS et al., 2007). O PNAE tem apresentado avanços significativos, desde a sua criação, no que diz respeito aos objetivos, gestão, execução, abrangência e articulação com outros setores além da educação. A Lei nº 11.947, de 15 de setembro de 2003, tem como destaque o apoio explícito ao desenvolvimento sustentável, pela articulação com a agricultura familiar, a proibição e a restrição da aquisição de alimentos menos saudáveis (TEO; MONTEIRO, 2012). Segundo Silva et al. (2013) o artigo 14º Lei Federal nº 11.947/2009 de 16 de Julho de 2009 pode ser considerado uma evolução do PAA porque propiciou a criação de um mercado institucional para os produtos alimentícios da agricultura familiar com objetivo de formar estoques estratégicos ou doar à população em situação de insegurança alimentar. Esta mesma lei criou o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN) com o objetivo de assegurar o direito humano à alimentação adequada. De acordo com Teo e Monteiro (2012), o marco legal atual do PNAE é a Lei nº 11.947/2003 e a Resolução/CD/FNDE nº 38/2009 que estabelecem três diretrizes importantes: (a) o emprego de alimentação saudável e adequada, compreendendo o uso de alimentos variados, seguros, que respeitem a cultura, as tradições e os hábitos alimentares saudáveis; (b) amplia a abrangência da educação alimentar e nutricional no processo de ensino e aprendizagem, que perpassa pelo currículo escolar, abordando o tema alimentação e nutrição e o desenvolvimento de práticas saudáveis de vida; (c) explicita o apoio ao desenvolvimento sustentável, e que exige que sejam aplicados incentivos para a aquisição de gêneros alimentícios diversificados, produzidos em âmbito local e preferencialmente pela agricultura familiar. Teo e Monteiro (2012) destacam ainda que um dos desdobramentos mais relevantes deste marco legal do PNAE é a exigência de 30% dos recursos recebidos do FNDE para o PNAE sejam utilizados na compra direta da agricultura familiar de gêneros que promovam alimentação saudável e adequada aos beneficiários do programa. Também são determinados, como parâmetros para a elaboração dos cardápios, a oferta mínima de três porções semanais de frutas e hortaliças e os limites de 10% da energia total proveniente de açúcar simples adicionado, 15% a 30% de gorduras totais, 10% de gordura saturada, 1% de gordura trans e 42 1g de sal. Duas outras inovações que a atual legislação inseriu foram a proibição da aquisição de bebidas de baixo teor nutricional e a restrição a 30% dos recursos para a compra de alimentos com elevados teores de sódio ou de gorduras saturadas. Além da explicita preocupação com a qualidade do alimento fornecido aos beneficiados pelo programa, a legislação respalda a importância de uma alimentação exemplar na escola como forma de educar para o hábito da alimentação saudável. Teo e Monteiro (2012, p. 659) destacam um recorde na legislação vigente sobre PNAE acerca da alimentação saudável praticada nas escolas, constituindo-se esta então como “uma estratégia de educação alimentar e nutricional, ou seja, as práticas alimentares na escola são vistas como educativas e devem, portanto, estar em sintonia com os conteúdos curriculares”. A definição clássica do conceito de Segurança Alimentar deriva das resoluções tomadas na Cúpula Mundial da Alimentação, realizada pela Food and Agriculture Organization (FAO), em Roma, no ano de 1996, afirmando que a segurança alimentar só existe quando toda pessoa possa tem acesso físico e econômico a alimentos suficientes para satisfazer suas necessidades alimentares e preferências quanto aos alimentos a fim de levar uma vida saudável e ativa (BELIK; CHAIM, 2009). Em 2004, a OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) Ação Fome Zero criou o prêmio ‘Gestor Eficiente da Merenda Escolar’, e a partir de então são premiadas as escolas que conquistam melhores resultados na gestão da merenda conforme critérios do prêmio. Na visão de Belik e Chaim (2009) o perfil das administrações vencedoras indica que o fator determinante e diferenciador é a participação social – Conselho de Alimentação Escolar, pais de alunos, professores e merendeiros. Ashe e Sonnino (2013) consideram que as políticas públicas são fundamentais para o desenvolvimento de um novo modelo de alimentação escolar com vistas à saúde e bem-estar e não apenas como comércio. Como exemplo citam os programas implantados em Bogotá – uma cidade com grande desnível econômico que através de políticas nacionais foi uma das primeiras a oferecer segurança alimentar fundamentada no direito, justiça e equidade. Os mesmos autores citam outros exemplos como Roma e Belo Horizonte, além de outros. Ainda destacam o modelo revolucionário da alimentação escolar no Brasil que por meio do PNAE que condiciona os municípios a adquirirem alimentos locais diretamente da agricultura familiar como garantia de acesso aos recursos federais. Em relação aos valores, os Quadros 2 e 3 apresentam dados fornecidos pelo FNDE (2013). Enquanto o Quadro 2 apresenta os valores distribuídos por aluno, o Quadro 3 traz os 43 montantes distribuídos nos últimos anos. Ressalta-se que os valores do ano de 2013 correspondem ao orçamento do ano e não aos valores efetivamente apurados. Quadro 2 Valores por aluno distribuídos pelo FNDE Modalidade de ensino Creches Pré-escola Escolas indígenas e quilombolas Ensino fundamental, médio e educação de jovens e adultos Ensino integral Alunos do Programa Mais Educação Alunos do Atendimento Educacional Especializado no contraturno Valor pago (R$) 1,00 0,50 0,60 0,30 1,00 0,90 0,50 Fonte: FNDE (2013) Quadro 3 Montantes distribuídos pelo FNDE Ano Milhões de R$ 2010 2011 2012 2013 3.034 3.051 3.306 3.500 Milhões de alunos atendidos 45,6 44,4 43,1 44,0 Fonte: Adaptado pelo autor a partir de FNDE (2013) De acordo com os valores apresentados, constata-se que o volume de recursos tem aumentado ano-a-ano, no entanto, o número de crianças beneficiadas reduziu 1,6 milhão entre os anos de 2010 e 2013. Estes valores não contemplam os recursos de contrapartida dos municípios. 2.4.3 O papel do Conselho de Alimentação Escolar (CAE) A democracia participativa através de conselhos municipais indica um salto na instituição democrática, mas na prática há um longo caminho a percorrer antes que se consolidem efetivamente (GABRIEL et al. , 2013). O Conselho de Alimentação Escolar (CAE) constitui importante ferramenta para fiscalizar a merenda escolar. Foi a partir do Art. 4º da Medida Provisória nº 1.784, de 14 de 44 dezembro de 1998, que o Governo Federal delegou aos Estados, Distrito Federal e os Municípios a instituição do CAE. Os Conselhos começaram a funcionar efetivamente no ano 2000 com o propósito de fiscalizar os recursos federais destinados à merenda escolar e garantir as boas práticas sanitárias e de higiene dos alimentos nas instituições de ensino (GABRIEL et al. , 2013). Foi efetivamente a partir do ano de 2009 que o CAE passou a cumprir o papel de instrumento forte na fiscalização do Programa Nacional da Alimentação Escolar (PNAE), através da Lei nº 11.947/2009. Esta lei – a partir de seu Art. 8º, parágrafo 2º – atribuiu também ao CAE o papel fiscalizador da documentação necessária para prestar contas dos gastos com alimentação e com recursos do FNDE, e ainda, como receptor de denúncias de pessoas físicas e jurídicas quanto a qualquer irregularidade encontrada no repasse de recursos do PNAE. Também foi a partir da mesma lei que o CAE ganhou força para fiscalizar ações do PNAE e ter acesso a quaisquer informações pertinentes dos órgãos de controle interno e externos do Poder Executivo local – conforme §V do Art. 17º – bem como, garantia de funcionamento a partir do § VI, deste mesmo artigo, que passou a exigir dos municípios o fornecimento de instalações físicas e recursos humanos que possibilitem o pleno funcionamento do CAE, facilitando o acesso da população. Ainda foi atribuída ao CAE – conforme §X do Art. 17º – a responsabilidade sobre o relatório anual de gestão do PNAE que deve ser elaborado pelo Conselho Deliberativo do FNDE (GABRIEL et al. , 2013). De acordo com o Art. 18º da lei nº 11.947/2009, o CAE deve ser composto por catorze membros, incluindo os suplentes, sendo: dois representantes do poder executivo, quatro representantes de entidades de docentes, discentes e trabalhadores na área de educação, quatro representantes de pais de alunos e quatro representantes indicados por entidades civis organizadas. O mínimo de membros do CAE está limitado a sete sem contar os suplentes (BRASIL, 2009). Ressalta-se que as competências do CAE, conforme previsto o Art. 19º da lei nº 11.947/2009, são: I - acompanhar e fiscalizar o cumprimento das diretrizes estabelecidas na forma do art. 2º da mesma Lei; II - acompanhar e fiscalizar a aplicação dos recursos destinados à alimentação escolar; III - zelar pela qualidade dos alimentos, em especial quanto às condições higiênicas, bem como a aceitabilidade dos cardápios oferecidos; IV - receber o relatório anual de gestão do PNAE e emitir parecer conclusivo a respeito, aprovando ou reprovando a execução do Programa (BRASIL, 2009, p.1). 45 Através do Art. 20º da lei nº 11.947/2009 (BRASIL, 2009), que pode ser considerado um grande avanço no processo de democratização e oportunidade de participação da sociedade civil nos programas de governo, ficou definido que o repasse de recursos do FNDE poderá ser suspenso caso o município não tenha constituído o CAE ou mesmo, tenha deixado de efetuar os ajustes necessários para seu pleno funcionamento. “O CAE é um órgão colegiado de caráter fiscalizador, permanente, deliberativo e de assessoramento, a ser instituído nos estados, no Distrito Federal e nos municípios, visando a efetivação do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE)” (GABRIEL et al., 2013, p. 972). Observa-se do ponto de vista legal que o CAE está muito bem amparado e tem competências importantes no processo de descentralização de recursos e gestão da alimentação escolar. Porém, é necessário atentar-se para o efetivo resultado desta política quanto ao seu cumprimento, uma vez que, não basta uma estrutura legal se nem todos cumprirem seus papeis no processo. O fortalecimento do CAE pode ser uma garantia de que os recursos destinados à alimentação escolar não sejam apenas municipalizados. As funções do CAE devem ser exercidas sob pena de comprometer os princípios da descentralização e fragilizar o PNAE. No ano de 1997, foi verificado no estado de São Paulo que alguns Conselhos eram totalmente inoperantes e em outros oito estados os Conselhos tinham participação insuficiente (PIPITONE et al, 2003). Não são comuns estudos de avaliação das ações do CAE no País, entretanto um estudo realizado em 2008 no Estado de Santa Cataria revelou números interessantes acerca do perfil dos conselheiros do CAE. O mesmo publicou que os conselheiros do CAE, composto na maioria, por mulheres (80,9%) e que grande parte delas possui curso superior completo (74,3%). Este mesmo estudo revelou ainda que em relação às atribuições dos Conselhos pesquisados, 95,4% deles realizam a análise da prestação de contas e que 91,4% fiscalizam os recursos federais (GABRIEL et al. , 2013). Pipitone et al. (2003) consideram em seus estudos que a estadualização do CAE é significativamente menor que a municipalização, haja vista que a grande maioria dos municípios é responsável pelo gerenciamento do programa. Mas mesmo assim a diferença entre regiões apresentou-se como muito divergente entre o Sudeste e Norte, por exemplo. Embora nem todos os CAEs cumpram efetivamente seus papéis e a maioria realiza apenas a análise da prestação de contas e a fiscalização no uso dos recursos federais, é possível perceber que a descentralização apoiada pela participação da sociedade civil constitui 46 um modelo fundamental para garantir a democracia quanto à distribuição dos recursos financeiros e aplicação das políticas públicas (GABRIEL et al. , 2013). 2.5 Qualidade de Vida (QV) relacionada à alimentação, situação econômica e justiça social De acordo com Minayo et al. (2000) o tema qualidade de vida é tratado sob olhares da ciência, através de várias disciplinas, do senso comum, do ponto de vista objetivo ou subjetivo e em abordagens individuais ou coletivas. No campo da saúde, a qualidade de vida está associada a necessidades fundamentais, materiais e espirituais e foca principalmente a promoção da saúde. Embora a questão da saúde seja um componente fundamental para a qualidade de vida, o sistema de saúde não intervém sobre ele e atua de forma retórica sobre os aspetos extra-setoriais. Não obstante, é insuficiente atribuir apenas à questão médica ou sanitária como fator decisivo para a saúde do indivíduo, há aspectos como o padrão da sociedade em busca do desenvolvimento humano, condições e estilos de vida que implicam sobre as responsabilidades do setor da saúde. Por outro lado, torna-se necessário investir muito ainda no aprofundamento do conceito e da mediação de promoção da saúde para que signifique mais do que uma ideia de senso comum, programa ideológico, imagem objetivo e possa nortear o sentido verdadeiramente positivo de qualidade de vida (MINAYO et al., 2000, p. 15). Para Seidl e Zannon (2004) há um consenso quanto ao conceito de qualidade de vida no que se refere ao reconhecimento de que o construto é composto por diferentes dimensões – resultado de pesquisas tanto como metodologia quantitativa como também qualitativa. As autoras afirmam que há duas tendências quanto ao conceito de QV, sendo que um deles envolve de forma mais genérica e outro relacionado à saúde; destacam que nos últimos anos têm surgido cada vez mais instrumentos com o objetivo de aumentar a eficiência na mensuração da qualidade de vida, dentre estes citam WHOCOL 100, SF-36 Health Survey e EORTC-QLQ 30. Ainda alertam ao mencionar que determinados instrumentos que avaliam a percepção do estado de saúde não devem ser usados para a avaliação da QV. O instrumento WHOCOL 100, com base em um estudo realizado em 14 países por encomenda da OMS, ganhou destaque por ter sido estatisticamente aceito, considerando as dimensões física, 47 psicológica, do relacionamento social e do ambiente como capaz de comparar resultados em diferentes culturas. Em termos literários, o termo QV está intrinsecamente ligado ao desenvolvimento humano. Em essência, busca-se através de estudos científicos e empíricos o mapeamento dos aspectos que envolvem a satisfação e a garantia de uma vida mais saudável e condições ambientais que contribuam para o aumento da longevidade e resiliência. Portanto, sabe-se que esta busca por qualidade de vida implica em políticas públicas mais abrangentes e sintonizadas com a realidade local. Neste sentido, Rocha et al. (2000) apresentam um projeto realizado na cidade de Curitiba/PR que mostrou resultados interessantes para melhoria da qualidade de vida no âmbito urbano. Os autores destacam que até mesmo o conceito da QV ainda está em evolução; logo, medir a QV é um desafio complexo que depende de muito esforço e flexibilidade, porque envolve tanto a esfera do ter como do ser. Qualidade é de estilo cultural, mais que tecnológico; artístico, mais que produtivo; lúdico, mais que eficiente; sábio, mais que científico. Diz respeito ao mundo tão tênue quanto vital da felicidade. Não se é feliz sem a esfera do ter, mas é principalmente uma questão de ser. Não é uma conquista de uma mina de ouro que nos tornaria ricos, mas sobretudo a conquista de nossas potencialidades próprias, de nossa capacidade de autodeterminação, do espaço da criação. É o exercício da competência política (ROCHA et al., 2000, p. 64). Ainda os mesmos autores questionam se a avaliação da qualidade de vida deve ser realizada pelo próprio indivíduo ou por pessoas que observam. Neste sentido, o cenário urbano possui características importantes para demandar tanto a percepção do indivíduo como do observador, já que envolvem questões políticas, formas de gestão e cultura administrativa. Portanto, é importante um diálogo estreito para que a administração pública perceba as necessidades de sua população e ao mesmo tempo esta população perceba a equidade social, já que a qualidade de vida é composta por diferente facetas, assim como, o ser humano e as metodologias de medição de seus componentes. Uma ferramenta importante que foi utilizada em Curitiba é Sistema de Informação Geográfica (SIG). Inicialmente, realizou-se uma associação de saúde como o estado socioambiental da cidade. Depois, outras áreas como segurança, educação e habitação foram analisadas espacialmente com relação aos instrumentos de avaliação da qualidade de vida. O resultado gerou grandes bases temáticas dividas em: (a) informação dos diferenciais intraurbanos para o município; (b) informação georreferenciada dos casos de agravos para o município como um todo; (c) informação georreferenciada dos casos de agravos para os distritos sanitários; (d) informação georreferenciada dos casos de agravos para os bairros da 48 cidade, associando-os com a rede hídrica, maciços verdes, equipamentos sociais, sistema viário e estrutura urbana. De posse destes conjuntos de informações bastou a aplicação de análises em clusters para potencializar a expressão analítica dos diferenciais intra-urbanos. O projeto de Curitiba apresenta-se como referência de que a qualidade de vida no âmbito urbano, quando tratada com atenção pela administração pública, com o uso de métodos, técnicas e ferramentas modernas pode atingir resultados importantes e contribuir para a efetiva melhoria da qualidade de vida de uma população (ROCHA et al., 2000). A preocupação com a qualidade de vida vem crescendo muito nos últimos anos. É o que afirma Maciel e Oetterer (2010, p. 20) quando citam que “a combinação atividade física e alimentação ainda é foco principal na mudança de hábitos.” Os autores apontam a alimentação como principal constructo para a qualidade de vida. Para os mesmos, do ponto de vista nutricional, muitas pesquisas têm sido realizadas em busca de responder aos anseios do consumidor e da mídia, sendo que a forma como ocorre a disseminação dos resultados ofusca o entendimento tanto para os consumidores quanto para os especialistas. Sabe-se que a modificação de alguns alimentos da dieta poderia reduzir substancialmente as taxas de mortalidade. De modo geral, as preocupações com doenças não transmissíveis relacionadas à qualidade da alimentação tem crescido em conjunto com as mudanças no padrão dietético e das inovações na área de alimentação (MACIEL; OETTERER, 2010). Um estudo realizado nos EUA por Ranzenhofer et al. (2012) sobre a compulsão alimentar e peso relacionados à QV em adolescentes obesos, revelou que os jovens com compulsão alimentar apresentaram menor QV nos domínios da saúde, mobilidade e autoestima que os jovens com obesidade sem compulsão. Mas em outros domínios como saúdefísica, relacionamento social/interpessoal, trabalho/escola e conforto com alimentos, os jovens obesos perdem em QV nos mesmos patamares com ou sem compulsão. Os autores da pesquisa alertam para os impactos da obesidade em jovens e reforçam a importância de se trabalhar a mobilidade. A síntese deste estudo evidencia a importância de se preocupar com a educação alimentar como forma de combate à obesidade objetivando melhoria da qualidade de vida dos adolescentes e jovens em idade escolar. De acordo com Casey et al. (2005) a insegurança alimentar é definida por especialistas como disponibilidade limitada ou incerta de alimentos nutricionalmente adequados e seguros, e capacidade limitada ou incerta para adquirir alimentos adequados por meios socialmente aceitos. Os mesmo autores pesquisam 399 crianças de 36 municípios dos estados americanos de Arkansas, Louisiana e Mississippi a partir do instrumento Children Health-Related Quality 49 of Life (CHRQOL). Embora os pesquisadores alertem para os cuidados ao generalizar o estudo, os resultamos revelaram que as crianças que vivem com famílias em situação de pobreza apresentam indicadores de menor qualidade de vida e merecem atenção especial da administração pública. Segundo Nogueira (2002) os conceitos de Bem-estar, Bem-estar Social e Qualidade de Vida passaram por importantes evoluções nas últimas décadas. Bem-estar é um conceito recente nas ciências humanas que não se confunde com prazer, alegria e felicidade. Abrange construções sociais que pertencem ao domínio da sociologia, antropologia, ecologia e economia; o Bem-estar Social enfoca o bem-estar individual e comunitário, na autonomia e nos componentes de auto-realização. Abrange ainda a preocupação com os grupos étnicos e a preservação dos valores culturais; visa satisfazer as necessidades diversificadas, mas interrelacionadas das populações. Em síntese, a QV abrange necessidades de segurança, de bemestar, necessidade de liberdade e necessidade de identidade. A preocupação com as questões sociais se torna pública, reconhecendo-se o direito de satisfação individual das necessidades de sobrevivência. Isso exige intervenção do poder estatal para cumprir tal objetivo, uma vez que implica a transposição de recursos financeiros públicos para criação de serviços sociais coletivos (NOGUEIRA, 2002, p. 119). O estudo deste mesmo autor conclui que a elucidação dos conceitos que permeiam o Bem-estar Social é fundamental aos decisores para concretizarem ações baseadas em indicares de condições sociais, além de contribuir com a ampliação de alianças que possam desenvolver projetos ético/político/profissionais e que possam colocar em cena os valores essenciais de liberdade e democracia que constituem princípios da Constituição Brasileira em prol da justiça social. 2.6 Revisão bibliográfica acerca de estudos realizados na temática deste trabalho Encontram-se na literatura alguns estudos importantes envolvendo Agricultura familiar, PRONAF, Assistência Técnica e Extensão Rural, Programa de Aquisição de Alimentos e Programa Nacional de Alimentação Escolar. Alguns destes merecem destaque neste trabalho em função da contribuição para o delineamento deste estudo de caso múltiplo. 50 Souza et al. (2011) estudaram a evolução da distribuição dos financiamentos do PRONAF entre as unidades de federação de 1999 a 2009. Este estudo resultou em uma avaliação positiva do programa, mas revelou que ainda há uma grande defasagem no volume de recursos entre os estados do sul e estados do norte e nordeste. Entre os anos de 2007 e 2008 a distribuição piorou provavelmente, em função dos limites de renda estabelecidos para enquadramento no programa. De acordo com os autores da pesquisa, ainda há falhas na distribuição dos recursos por não considerar a importância da agricultura familiar em cada estado. Kamimura et al. (2010) que realizam um estudo sobre a agricultura familiar no Brasil, com base no senso do IBGE de 95/96 e 2006, apontam um importante desequilíbrio regional do ponto de vista econômico entre as diversas regiões brasileiras. Como destaque, a pesquisa releva que na região nordeste, com uma das menores produtividades médias, houve um crescimento significativo (85,6%) da agricultura familiar no período de 1996 a 2006 – muito acima do crescimento das demais regiões que foi de apenas 24,8%. Os resultados dos programas voltados para a agricultura familiar trouxeram resultados positivos não apenas econômico, mas também induziram uma grande transformação na estrutura de distribuição, consumo, destino final e qualidade dos produtos, tais como a merenda escolar, redes municipais de abastecimento, o Programa Nacional de Biodiesel, o Agroturismo e outros, que aumentaram o espaço de comercialização e o valor agregado desses produtos (KAMIMURA et al., 2010, p. 222). O trabalho de Guilhoto et al. (2006) aponta importantes resultados sobre a atividade do agronegócio da agricultura familiar no Brasil de 1995 a 2003. Os resultados indicam que cerca de 1/3 do agronegócio são originários da produção agropecuária de agricultores familiares. O desempenho recente da agropecuária familiar e de todo o complexo a ela articulado tem sido positivo, superando as taxas de crescimento relativas ao segmento patronal. Os autores sugerem que cabe ao governo e às comunidades promover medidas capazes de alterar os rumos da produção familiar, uma vez que esta configura como importante estratégia para o bem estar geral da sociedade. Assim como Kamimura et al. (2010) e Souza et al. (2011), Guilhoto et al. (2006, p. 360) destacam que “cerca de 50% da produção oriunda da agricultura familiar vem de cerca de 81 microrregiões que detém maior valor bruto da produção”. Portanto, é inegável que o desnível da agricultura familiar brasileira dificulta do desenho de programas capazes de resolver os problemas diversos registrados ao longo das últimas décadas. 51 O trabalho de Triches e Schneider (2010) assemelhou-se ao objetivo definido para o presente estudo. A partir do Programa de Alimentação Escolar buscou-se entender, através de um estudo de caso, como ocorre a consolidação de sistemas diferenciados de produção e consumo de alimentos. Constatou-se que o estado tem desenvolvido políticas para apoiar os consumidores e produtores locais, mas mostrou também que as regulamentações são contraditórias e ainda necessitam de melhorias quanto ao processo de aquisição e exigências de qualidade. Embora as políticas públicas ainda não estejam maduras o suficiente, já é possível perceber que os resultados alcançados servem como referência para continuar estimulando a produção voltada para o consumo local. As medidas impostas quanto ao controle sanitário e da qualidade dos alimentos proporcionam maior aceitabilidade dos produtos não apenas para os programas de alimentação, mas também no mercado local. Destacou-se ainda a importância da organização dos produtores rurais, como as cooperativas que solidificam os empreendimentos para suportar as variações de mercado e reduzir os custos com insumos e distribuição da produção. A alimentação escolar desafia a administração pública quanto ao modelo ideal de gestão que possa garantir alimentação suficiente, saudável e compatível com o orçamento público. A iniciativa da OSCIP denominada ‘Ação Fome Zero’ tem apresentado númers significativos quanto ao PNAE. De acordo com Ação Fome Zero (2012), o Prêmio Gestor Eficiente da Merenda Escolar 2012 teve 16,7% dos municípios brasileiros inscritos. As regiões com maior número de prefeituras foram Sudeste e Sul com 225 e 185 prefeituras inscritas, respectivamente. A avaliação é composta por seis etapas que vão desde a coleta e organização dos dados até a definição das prefeituras premiadas através da análise dos relatórios das visitas técnicas. A região sudeste apresentou a média mais alta quanto aos cardápios analisados com média de 3,57. Já a região sul apresentou a nota mais baixa 0,4. Os alimentos mais ofertados nos cardápios analisados foram arroz, feijão, banana, chuchu, repolho, pepino, achocolatado, doces, alimentos funcionais, ovo cozido e carne moída. O PNAE oferece as seguintes formas de gestão de seus recursos financeiros: centralizada, escolarizada, terceirizada e mista. A análise do prêmio de 2012 revelou que o modelo centralizado é adotado em 90% das prefeituras. Embora não seja o foco do prêmio levantar dados estatísticos sobre a merenda escolar no país, seu processo de avaliação contribui com números importantes para ajudar no aperfeiçoamento das políticas públicas voltadas para a alimentação escolar (AÇÃO FOME ZERO, 2012). 52 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 3.1 Método de pesquisa Este trabalho consiste em uma pesquisa de natureza aplicada, cuja estratégia segue as diretrizes de um estudo de caso múltiplo com propósito exploratório e abordagem quantiqualitativa. De acordo com Oliveira et al. (2006, p. 4) o desenho da pesquisa apresenta a lógica da investigação. O mesmo foi estruturado mediante o fluxograma definido pela Figura 3. Figura 3 Fluxograma das atividades da pesquisa Fonte: Elaborada pelo autor Observa-se na figura 3 que com base no referencial estudado foram definidos os objetivos da pesquisa em função das reflexões sobre os temas envolvidos. Para buscar as respostas desejadas planejou-se a pesquisa com base na estratégia do estudo de caso, resultando em um projeto de pesquisa com emprego de diversas técnicas de coleta e análise. Cada estudo de caso foi desenvolvido a partir da preparação, coleta, análise e 53 compartilhamento dos dados. Após a execução dos estudos de caso comparou-se os casos por meio de cruzamento de dados e finalmente, consolidou-se o relatório final. 3.1.1 Estudo de caso A justificativa pela escolha da estratégia desta pesquisa é sustentada por Yin (2001) que define estudo de caso como uma pesquisa empírica que investiga fenômenos contemporâneos em seu ambiente real, quando os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente definidos; quando há mais variáveis de interesse do que pontos de dados; quando se baseia em várias fontes de evidências; e quando há proposições teóricas para conduzir a coleta e a análise dos dados. De acordo com Oliveira et al. (2006) através do estudo de caso é possível ter uma visão de detalhes de um fenômeno, incluindo seu contexto. Na concepção de Gil (2009) os estudos de casos se caracterizam pelo elevado consumo de tempo e de energia intelectual e mesmo física dos pesquisadores. Os propósitos do estudo de caso segundo Yin (2001) são: descritivo, exploratório e explanatório. O propósito descritivo aborda o fenômeno dentro de seu contexto. O propósito exploratório – que é caso desta pesquisa – é aplicado a problemas pouco conhecidos, objetivando definir hipóteses ou proposições para futuras pesquisas. Já o propósito explanatório busca explicar relações de causa e efeito a partir de uma teoria. A presente pesquisa constitui, portanto, um estudo de caso acerca da percepção dos produtores da agricultura familiar e pais de alunos de escolas públicas, além de outros envolvidos como servidores municipais, extensionistas da EMATER-MG, nutricionistas e membros do CAE. 3.1.2 Casos múltiplos “Os casos múltiplos precisam ter como propósito tornar o investigador intimamente familiarizado com cada caso como sendo uma entidade autônoma” (EISENHARDT, 1989, p. 54 540). Torna-se necessário analisar os padrões únicos de cada caso antes de direcionar para generalização de padrões entre os casos. Ainda outro aspecto importante nos estudos de caso múltiplo é o fato do pesquisador ter uma familiaridade rica em cada caso, que por sua vez, acelera o processo do cruzamento entre os casos. Outro aspecto que contribuiu para que não apenas um município fosse tomado como cenário da pesquisa foi o fato de existirem significativas diferenças no modelo de gestão do Programa Nacional da Alimentação Escolar (PNAE) previstas na resolução/CD/FNDE número 038/2009 e resolução/CD/FNDE número 026/2013, em especial, sobre o nível de descentralização dos recursos (BANDEIRA et al, 2013). Tomando-se como base as palavras de Yin (2001, p. 46) que alerta para “a necessidade de se definir o tempo de início e de fim para os casos como definição da unidade de análise”, o presente trabalho trata como marco inicial para estudo das questões as mudanças do PNAE definidas pela Resolução CD/FNDE 038/2009, que efetivamente começou a funcionar em 2010 e como marco final será considerado o ano de 2013. Assim sendo, o estudo abrange as mudanças realizadas entre 2010 e 2013, já que efetivamente, as prefeituras iniciaram as atividades de aquisição de alimentos da agricultura familiar com recursos do FNDE em 2010 devido a tempo necessário para preparação desde a publicação da resolução de número 038/2009 do FNDE. Embora Yin (2001) recomende que o estudo de caso ou sua unidade de análise seja baseado na literatura existente, este trabalho não possui uma referência substancial, devido a pouca maturidade do tema no país, estratégia aplicada e objetivo da pesquisa. Para referenciar a avaliação da execução dos programas de alimentação baseou-se nas publicações do boletim anual do Prêmio Gestor da Merenda escolar dos anos de 2009 a 2012. No que concerne à agricultura familiar utilizou-se como referências alguns trabalhos de Delgado et al. (2005), Guilhoto et al. (2006) e Souza et al. (2011). De acordo com Yin (2001), a validade externa visa saber se as descobertas de um estudo são generalizáveis além do estudo de caso imediato. Em outras palavras, Neto et al. (2006) destacam que a validade externa consiste em verificar se a lógica da replicação, neste caso replicação teórica, é aplicável a um outro caso. Uma vez que este trabalho abrange múltiplos casos com o propósito de replicação teórica, a sua validade externa apresenta-se favorecida. Ressalta-se que, conforme citado por Yin (2001), a generalização não é automática e necessita de uma análise da teoria para verificar se é possível obter os mesmos resultados. 55 Especialmente nesta pesquisa, como as políticas estudadas são de âmbito nacional, o cruzamento dos resultados se torna importante para fins de comparação e ao mesmo tempo para fortalecer a comprovação resultante da análise dos dados coletados. 3.2 Planejamento de pesquisa O planejamento sobre o projeto da pesquisa que toma como estratégia o estudo de caso, de acordo com Yin (2001), concentra-se a lógica que une os dados a serem coletados com as questões iniciais do estudo. As questões iniciais foram sintetizadas nas proposições elaboradas para o presente estudo com o objetivo de avaliar as políticas públicas relacionadas à agricultura familiar e alimentação escolar. O projeto de pesquisa deste estudo baseou-se nos critérios de Lenz (2011) acerca do planejamento do estudo de caso mediante um conjunto essencial de elementos que compõem a base para as etapas seguintes da pesquisa, ainda baseou-se nas em Oliveira et al. (2006) mediante análises de trabalhos acadêmicos e científicos no Brasil. Em simples linhas, o planejamento desta pesquisa foi elaborado conforme evolução da descoberta do problema de pesquisa e mediante visitas de campo do pesquisador realizadas no município de Elói Mendes – na condição de município piloto. 3.2.1 Especificação de construtos/teorias “É essencial que se desenvolva uma teoria antes que se faça a coleta de dados para qualquer estudo de caso” (YIN, 2001, p. 50). Acrescenta-se que tal teoria pode demandar muito tempo para ser elaborada e sendo assim, o aproveitamento de trabalhos sobre o assunto pode ajudar na pesquisa, reduzindo o tempo de teorização. Nas palavras de Gil (2008, p. 34) “nem todas as questões que carecem respostas podem ser consideradas científicas. Um problema é testável cientificamente quando envolve variáveis que podem ser observadas ou manipuladas”. 56 Conforme citado por Yin (2001, p. 50), “mesmo quando se trata de estudo de caso exploratório é preciso apresentar afirmações para o que está sendo explorado, o propósito da exploração e os critérios através dos quais se julgará a exploração como bem sucedida”. Com base na literatura pesquisada foram formuladas no Quadro 4, que segue, as proposições que correspondem às hipóteses deste estudo. Quadro 4 Proposições e variáveis analisadas Número Proposição Variável 01 Os programas voltados para agricultura familiar que Funcionamento dos possibilitam o fornecimento direto de alimento para programas as escolas públicas estão em pleno funcionamento. 02 A renda dos produtores rurais da agricultura familiar Desenvolvimento da que fornecem alimentos com base nas resoluções do agricultura familiar FNDE aumentou após aplicação do PNAE. 03 A qualidade da alimentação escolar melhorou depois que as resoluções do FNDE passaram a exigir que o cardápio escolar seja elaborado por nutricionista qualificado. As prefeituras conseguem aproveitar 100% dos recursos oferecidos pelo FNDE, considerando as exigências do desenvolvimento local sustentável (30% destinados a Agricultura Familiar). Os pais de alunos sabem se a alimentação de seus filhos nas escolas públicas é preparada por nutricionista. O conselho de Alimentação Escolar (CAE) tem sido utilizado com eficiência pela comunidade para auxiliar na fiscalização dos agentes envolvidos. Os programas vigentes de alimentação escolar contribuem para a formação de hábitos alimentares saudáveis. Os pais de alunos conhecem o CAE e participam de suas atividades. A burocracia constitui barreira para o fornecimento de alimentos por agricultores familiares às prefeituras e escolas públicas. A dieta alimentar fornecida sob orientação de nutricionista em escolas públicas inclui alimentos considerados inapropriados para crianças ou fora dos padrões recomendados pelo CFN. 04 05 06 07 08 09 10 Qualidade da alimentação Aquisição da agricultura familiar Divulgação dos programas Funcionamento do CAE Educação nutricional Participação da comunidade Facilidades para a agricultura familiar Qualidade da alimentação Fonte: Elaborado pelo autor 57 As proposições apresentadas no Quadro 4 foram relacionadas ao diversos dados coletados durante a pesquisa com o propósito de desmistificar a verdade com base na análise detalhada, bem como, cruzamento das informações coletadas a partir de diversos envolvidos. 3.2.2 Unidade de análise “A unidade de análise visa definir o que é o caso da pesquisa” (LENZ, 2011, p.2). “A unidade de análise, nos estudos de caso, pode ser composta por indivíduos, grupos ou organizações, ou ainda por projetos, sistemas ou processos decisórios específicos”. (POZZEBON; FREITAS, 1998, p. 147). Para Yin (2001) a unidade de análise de um estudo de caso pode ser um indivíduo, um paciente clínico, um estudante, um tipo de líder, um evento, uma entidade, um programa, um processo ou mesmo uma mudança organizacional. Os critérios que pesam para a escolha da unidade estão associados às proposições estabelecidas. Assim, a unidade de análise será aquela que tem envolvimento com o maior número de proposições e portando, a correta escolha das questões primárias traz como resultado a seleção da unidade de análise. Considerou-se neste trabalho, algumas possibilidades de unidades de análise diferentes de município. Uma delas foi uma entidade prefeitura municipal – na qualidade de unidade pública participante dos programas que compreendem o foco desta pesquisa. Notou-se, porém, que as proposições não são na maioria condicionadas essencialmente pela prefeitura – o que levou ao descarte desta unidade. Outra unidade candidata ficaria acerca do estabelecimento de programas voltados para o tema. Neste caso, alguns programas estariam associados a partir de seus objetivos. Dentre os mais relevantes destacaram-se: o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), o Programa Nacional da Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF). De acordo com Yin (2001, p. 44) “as proposições iniciais não podem extrapolar a unidade de análise e não podem ser vagas a ponto de não selecionar a unidade ideal”. Assim, ao analisar as proposições iniciais percebeu-se que para responder algumas delas não seria possível considerar o programa como sendo a unidade de análise – já que cada programa citado foi desenhado para a agricultura familiar ou para a alimentação escolar e, consequentemente, nenhum deles poderá abranger todas as proposições. 58 Ao observar cada uma das proposições estabelecidas foi possível perceber que cada uma delas abrange um determinado público, mas ao mesmo tempo este público se faz presente ou representado no município. A Figura 4 esboça, no município, os envolvidos com os programas estudados. Figura 4 Envolvidos com os programas estudados Fonte: Elaborado pelo autor Como justificativa para tratar o município como unidade de análise considerou-se as fontes de dados para responder cada proposição. Conforme Figura 4 nota-se que todas estão presentes no município – logo, a unidade de análise que melhor se adequa às proposições é o município. 3.2.3 Critério para seleção dos casos No estudo de caso múltiplo “cada caso deve servir a um propósito específico dentro do escopo global da investigação” (YIN, 2011, P. 68). Por esta razão, a escolha dos casos foi realizada com o propósito essencial de apurar características relevantes entre os municípios selecionados para compor cada caso. O Quadro 5 apresenta o tamanho do módulo fiscal de cada município pesquisado conforme instrução especial do INCRA nº 20, de 28 de maio de 1980. O módulo fiscal (MF) é medido em hectares e definido por Município. Os municípios que foram criados após 1980 tiveram o valor de seu módulo fiscal fixado por outros atos normativos do INCRA (INCRA, 1980). Nos municípios de Elói Mendes e Varginha o agricultor familiar pode ter um imóvel 59 rural de até 104 ha (hectares) enquanto que em Monsenhor Paulo e Pouso Alegre este número vai até 120 ha. Quadro 5 Módulos fiscais dos municípios pesquisados Município/MG Tamanho do módulo fiscal (ha) Elói Mendes Monsenhor Paulo Varginha Pouso Alegre 26 30 26 30 Fonte: Adaptado pelo autor a partir de INCRA (1980) De acordo com Yin (2001) a lógica subjacente para escolha de casos múltiplos, é para produzir resultados contrastantes apenas por razões previsíveis, considerada uma replicação teórica. O Quadro 6 apresenta algumas características básicas dos municípios selecionados a fim de orientar qualquer tentativa de inferência a outros municípios ou regiões. Quadro 6 Dados sobre os municípios pesquisados Município/MG População Características importantes Elói Mendes 25.220 Principais atividades econômicas: agricultura, pecuária, indústria e comércio. IDHM 2010: 0,685. PAA e PNAE implantados em 2010. Área territorial: 499,537 km2. Monsenhor Paulo 8.161 Varginha 123.081 Pouso Alegre 130.615 Pequeno município com pequeno número de alunos, muitas propriedades rurais e IDHM 0,721. Área territorial: 216,540 km2. Possui o oitavo IDHM do estado (0,778), possui nutricionista há mais de vinte anos e adquire alimentos através do PAA de municípios vizinhos. Área territorial: 395,396 km2. Com PIB da ordem de oito bilhões de Reais em 2013, é um dos municípios que tem se destacado no Sul de Minas. Possui nutricionista há onze anos e foi recomendado como estudo de caso pela Prefeitura de Poços de Caldas. Área territorial de Pouso Alegre: 543,068 km2. O IDHM do município é de 0,774. Fonte: IBGE (2010); PNUD-BR (2010) O primeiro município selecionado foi Elói Mendes/MG. Com uma população aproximada de 25 mil habitantes. Embora, seja considerado um município pequeno, ocupa a 60 135ª posição do estado em ordem de população. Há 718 municípios com população ainda menor no estado (IBGE, 2010). Elói Mendes representa bem os municípios pequenos do estado em termos de atividades econômicas – agricultura, indústria e comércio –, possui um IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) mediano (0,685) em relação dos demais municípios da mesma faixa populacional do estado. Outro aspecto que contribuiu bastante para a escolha do município de Elói Mendes foi a presença marcante do técnico extensionista da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER) que se mostrou muito atuante quanto aos programas PAA e PNAE e solidário a esta pesquisa. Considerou-se também o número significativo de produtores cadastrados nos programas PAA com efetiva participação no fornecimento de alimentos para o município de Varginha - MG, situada a 15 quilômetros. Elói Mendes se destaca produção agrícola liderada pela produção de café. A pecuária tem papel importante em função da produção de leite cru. O segundo município escolhido foi Varginha/MG, essencialmente porque durante os primeiros levantamentos no município de Elói Mendes o técnico extensionista da EMATER informou que muitos produtores da agricultura familiar deste município fornecem alimentos para a Prefeitura de Varginha. O município possui cerca de setecentos agricultores da agricultura familiar conforme relatou o Técnico Extensionista da EMATER por entrevista e de acordo com o IBGE se destaca como um dos principais centros de comércio e produção de café do Brasil, onde se encontra o porto seco, estação aduaneira responsável por grandes volumes de importação e exportações em diversos seguimentos (IBGE, 2010). O IDHM do município é o oitavo com estado (0,778) (PNUD, 2010). O terceiro município selecionado foi Monsenhor Paulo/MG. É o menor município estudado nesta pesquisa. Com IDHM de 0,721 o município conta com pouco mais de oito mil habitantes e caracteriza bem o funcionamento da administração pública com estruturas administrativas mínimas e um desafio para a descentralização de poder e recursos públicos (PNUD, 2010). Em Minas Gerais há pelo menos 420 municípios com menos de oito mil habitantes, o que confere ao município uma boa representatividade (IBGE, 2010). Monsenhor Paulo, de acordo com o técnico da EMATER local, apresenta números importantes na produção agrícola com mais de 700 produtores da agricultura familiar com destaque para a produção de café e milho. Há ainda números importantes na industrialização do município. O quarto município escolhido foi Pouso Alegre/MG, por sugestão de servidores da Prefeitura de Poços de Caldas/MG que tinha sido escolhido anteriormente por ser um dos maiores municípios da região, atividades econômicas e implantação parcial das políticas abordadas por este trabalho. O município de Pouso Alegre foi sugerido por apresentar 61 resultados importantes quanto à alimentação escolar com alimentos da agricultura familiar. Segundo Luiza (2014), Pouso Alegre é a décima maior cidade de Minas Gerais e a segunda do Sul de Minas, com um crescimento superior a 30% na última década, de acordo com o censo do IBGE de 2010 (IBGE, 2010). Com cerca 130 mil habitantes, o município tem uma população jovem – 71% na faixa de 10 a 49 anos. A cidade possui empresas brasileiras e multinacionais de grande porte, além de outras pequenas e médias indústrias de diversos segmentos. São aproximadamente 700 unidades industriais, 1.500 unidades agropecuárias e mais de 4.500 unidades comerciais e de serviços, que garantem a maior arrecadação de ICMS do Sul de Minas Gerais (IBGE, 2010). Segundo o Técnico da EMATER local o município conta com mais de três mil agricultores cadastradas na agricultura familiar. 3.3 Estudo de caso piloto A escolha do caso piloto não está relacionada diretamente com os critérios de escolha dos casos finais do projeto. A motivação pode ser em função da compatibilidade e acesso, bem como, conveniência geográfica ou até mesmo pela quantidade de dados e documentos. Também o caso piloto pode ser escolhido quando for o caso mais complexo do conjunto para permitir uma coleta mais ampla de dados (YIN, 2001). Neste trabalho o município selecionado como piloto foi o de Elói Mendes/MG. Os primeiros procedimentos visando levantar informações acerca do tema pesquisado foram realizados na Prefeitura Municipal, Escritório da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (EMATER), Nutricionista do município, Escola Municipal Professora Júlia Camões Vieito e alguns produtores rurais do município. “O estudo de caso piloto pode ser tão importante que se pode destinar mais recursos a essa fase da pesquisa do que à coleta de dados de qualquer caso verdadeiro” (YIN, 2001, p. 101). Estas palavras se confirmaram na totalidade com o caso-piloto deste trabalho. Os entrevistados do município de Elói Mendes foram cruciais para nortear o foco da pesquisa, tanto pelas informações detalhadas que forneceram como também pelas opiniões que expressaram sobre o objetivo da pesquisa. Durante entrevista livre com o técnico da EMATER foi possível perceber que as políticas públicas têm ganhado espaço importante da agenda dos produtores da agricultura familiar e em alguns setores da prefeitura como compras 62 e secretaria de educação. A feira livre realizada aos sábados é um exemplo do trabalho de fortalecimento da agricultura familiar. Através de uma entrevista com a nutricionista do município identificou-se que a administração pública local reagiu imediatamente à Resolução/CD/FNDE nº 038/2009 (CD/FNDE, 2009) e deu início ao processo de compra de alimentos com dispensa licitação – Chamada pública – e a contratou para atuar na merenda escolar do município. As informações levantadas no município de Elói Mendes foram consideradas suficientes para estruturar e planejar a coleta de dados de todos os casos. Prefeituras de outros municípios – Monsenhor Paulo/ MG, Machado/ MG, Paraguaçu/ MG e Varginha/ MG – foram consultadas por telefone para ajudar na elaboração das proposições, mas por não terem sido aplicadas todas as técnicas e ferramentas aplicadas a Elói Mendes estes municípios não configuraram como caso-piloto. 3.3.1 Período no tempo e coleta em diferentes momentos A iniciativa concreta do Governo Brasileiro voltada para agricultura familiar, de acordo com Damasceno et al. (2011, p. 130), “ocorreu no ano de 1996 com a instituição do PRONAF. Este programa teve uma significativa ampliação no ano de 2004 com o objetivo de melhorar as condições de vida dos agricultores familiares”. No caso da alimentação escolar, as iniciativas do governo são datadas da década de 1950 e ao todo são mais de cinquenta anos de programas (SANTOS et al, 2007). Embora sejam diversas iniciativas com vistas a melhorar a alimentação escolar e dar melhores condições para a agricultura familiar prosperar, foi somente nos últimos anos que estas duas preocupações tiveram ligação direta nas políticas públicas com um propósito voltado para o desenvolvimento local sustentável e, de certa forma, também relacionado à qualidade de vida, já que se trata de uma condição fundamental tanto para a aprendizagem quando para a melhoria de vida no campo (SANTOS et al, 2007, p. 2681). Foi a partir da Resolução/CD/FNDE nº 038/2009, através de seu artigo 3º que define as diretrizes do PNAE e explicitamente apresenta o termo “desenvolvimento sustentável” com incentivo à compra de produtos da agricultura familiar para compor a alimentação das crianças de escolas públicas. Este artigo da citada resolução do FNDE, constitui o marco da ligação entre a alimentação escolar e a agricultura familiar que condiciona ações efetivas para 63 o desenvolvimento local sustentável (CD/FNDE, 2009). Portanto, este trabalho avalia as mudanças proporcionadas essencialmente por esta resolução, na visão dos agricultores familiares e pais de alunos de escolas públicas. Considerando que a resolução foi publicada no mês de julho e a administração pública teve condições de iniciar as atividades previstas somente no próximo ano, já que a maior parte das ações demanda mudanças no orçamento e estruturação da administração pública municipal; considera-se que o período de avaliação corresponde de janeiro de 2010 até dezembro de 2013. Sabe-se que a coleta de dados precisa de cuidados quanto à escolha de participantes não representativos e também pela possível presença descontínua do pesquisador no local, contribuindo para uma generalização inadequada e poderá se tornar um ponto crítico da pesquisa. De acordo com Gil (2009, p. 113) “estes problemas podem ser minimizados se o pesquisador puder retornar a campo para coletar informações novas ou mesmo para revisar e até mesmo excluir registros de coleta”. Nesta pesquisa o registro de cada coleta permitiu a retífica da coleta logo no momento de registro ou mesmo na fase de análise. Como exemplo cita-se o estudo de caso de Elói Mendes/MG em que o pesquisador retornou várias vezes à prefeitura para completar as informações coletadas até fechar o conjunto de dados necessários para responder às proposições. 3.3.2 Adequado acesso Conforme recomendado por Gil (2009) para evitar que haja falha na coleta dos dados em função de dificuldade para acessar os participantes ou mesmo de utilizar equipamentos como gravadores de áudio e vídeo, os participantes foram comunicados no momento do convite a respeito das necessidades técnicas das entrevistas. Todas as entrevistas foram realizadas em condições suficientes para cumprir os objetivos do trabalho. Quanto aos documentos coletados para análise, foram obtidos em formato digital ou cópias xerográficas e fotográficas, possibilitando ao pesquisador maior tempo e disponibilidade completa para análise e comprovação. Os questionários destinados a pais de alunos de escolas públicas foram distribuídos em grande número e selecionados apenas os que foram corretamente preenchidos. No caso do formulário de produtores da agricultura familiar o preenchimento foi realizado pelo próprio pesquisador. 64 Um dos grandes desafios da coleta de dados foi exatamente quanto à documentação das chamadas públicas. O município de Pouso Alegre/MG, embora não tenha recusado fornecer os dados, demandou muito esforço do pesquisador que enviou vários e-mails a diversos colaboradores dos setores envolvidos, bem como muitas ligações telefônicas. Os dados foram enviados de forma resumida, dificultando a análise detalhada conforme os demais municípios. No caso do município de Monsenhor Paulo/MG, apenas três produtores concordaram em responder à pesquisa. A realização do levantamento de dados foi executada exclusivamente pelo autor do presente estudo – que não pode contar com apoio adicional para as visitas de campo. Desta forma, não foi preciso elaborar um roteiro detalhado com orientações para a execução. Com o objetivo de definir uma ordem para a realização das entrevistas e contribuir para que nenhum procedimento ou coleta importante fosse esquecido, elaborou-se uma lista de verificação para facilitar o trabalho de campo. Esta lista de verificação foi impressa no verso da ficha de registro da entrevista e pode ser conferida no Quadro 7. Quadro 7 Lista de verificação da entrevista Ordem Descrição 1 2 3 4 Marcar a entrevista e registrar no catálogo de entrevistas. Reservar o tempo necessário para deslocamento e realização da entrevista. Imprimir o formulário de registro de entrevista (APÊNDICE 5). Confirmar a entrevista 24 horas antes de sua realização através do telefone ou email. Verificar os acessórios e recursos necessários para a entrevista antes de se deslocar para o local da realização. Deslocar-se para o local da entrevista. Apresentar-se para o entrevistado e entregar-lhe o folder da pesquisa. Revisar a ficha de cadastro do entrevistado. Realizar a entrevista. Agradecer o entrevistado e coletar a assinatura no formulário de registro da entrevista. Arquivar os documentos utilizados e gerados na entrevista. Registrar as informações da entrevista e arquivar os documentos. 5 6 7 8 9 10 11 12 Fonte: Elaborado pelo autor De acordo com Guerra (2010) o objetivo das observações gerais sobre a entrevista devem ser divulgados antes da realização da entrevista ou aplicação de questionários para que o entrevistado conheça claramente as regras. Como nesta pesquisa utilizou-se entrevista e 65 questionários, optou-se por elaborar um conjunto de instruções para impressão no verso do folder dos dados da pesquisa (APENDICE 4). 3.3.3 Questionários Seguindo as recomendações de Guerra (2010) foi elaborado um glossário (APÊNDICE 6) contendo os termos utilizados nos questionários para evitar que o entrevistado seja surpreendido por termos desconhecidos e tenha que interromper a entrevista ou aplicação do questionário para indagar ao pesquisador, ou mesmo, responder erroneamente a questão por desconhecimento, levando a um possível viés. Este procedimento reforça a preocupação do autor da pesquisa com a confiabilidade: “para minimizar as influências do pesquisador sobre o pesquisado é preciso um rigoroso planejamento da coleta de dados” (GIL, 2010, p. 124). “A confiabilidade serve para minimizar os erros e as visões tendenciosas de um estudo” (YIN, 2001, p. 60). O autor ainda cita a importância de documentar todos os procedimentos adotados para dar condição de repetir o estudo, a elaboração do protocolo e a construção de um banco de dados para o estudo de caso. Neste trabalho a preocupação com a confiabilidade esteve presente deste os primeiros contatos com a literatura, através do arquivamento e catálogo de todas as referências utilizadas, bem como, a tabulação das principais referências para a qualquer momento permitir a verificação. Os levantamentos de dados – desde a definição dos objetivos – foram registrados de alguma forma, na maioria das vezes, no formato de um relatório resumido com informações sobre a data, local, envolvidos, assunto e dados obtidos. Ressalta-se que, para facilitar a divulgação do trabalho de pesquisa foi elaborado um folder com informações detalhadas sobre a pesquisa (APÊNDICE 3). Há uma série de cuidados que precisam ser tomados quanto aos questionários, também conhecidos como entrevista estruturada, para evitar interferências nas respostas e não constituir viés para a pesquisa (GUERRA, 2010). O estudo de caso permite o uso de diversos métodos e técnicas de coleta de dados, e como exemplo cita a observação, a entrevista e a análise de documentos (GIL, 2009). Embora, o questionário não tenha sido explicitamente citado, ele se encaixa como instrumento para as entrevistas estruturadas. 66 A entrevista estruturada deve ser elaborada com base em um questionário totalmente estruturado, onde as perguntas devem ser previamente elaboradas e seguidas. Estas medidas visam possibilitar a comparação dos dados coletados (BONI; QUARESMA, 2005). Para coleta de dados deste de trabalho foram elaborados dois questionários (APÊNDICE 1; APÊNDICE 2) que foram pré-testados para verificar a eficiência quanto aos dados coletados em relação às proposições estudadas, clareza das questões para evitar dupla interpretação ou entendimento equivocado e evitar a falta de questões para fechar os objetivos da pesquisa. 3.4 Coleta de dados da pesquisa A coleta de dados para estudo de caso compreende a utilização de diversas técnicas que necessitam de uma análise cuidadosa para identificar as vantagens e desvantagens de cada uma (GIL, 2009). Em se tratando de um estudo de caso múltiplo o uso da replicação é óbvio, o que pressupõe a utilização do mesmo conjunto de métodos de coleta de dados e consequentemente os mesmos instrumentos (BERNDT; OLIVEIRA, 2005). Portanto, este trabalho utiliza-se da mesma metodologia em todos os casos e também dos mesmos instrumentos, bem como, com o mesmo enfoque para não dar oportunidade a qualquer viés de coleta que possa interferir nos resultados. Ao todo foram utilizados dois formulários de pesquisa, entrevista com nutricionista, técnico extensionista, membro do CAE e análise de documentos das aquisições de alimentos com recursos do FNDE. Os procedimentos para coleta de dados compreendem o roteiro para alimentar os catálogos de dados previstos no protocolo do estudo de caso. Para as entrevistas foram selecionados os atores sociais ligados a cada proposição elaborada. No caso dos pais de alunos e produtores da agricultura familiar foram aplicados os questionários, resultando em uma pesquisa estruturada. Quanto aos profissionais de nutrição, membros do CAE e técnicos de extensão rural foram aplicadas entrevistas semiestruturadas, com base nas recomendações de Manzine (2004). E para completar a coleta, foram consultadas as chamadas públicas referentes às aquisições de alimentos para as escolas a partir da análise de documentos. As 67 chamadas públicas são processos especiais para aquisição formalizada com dispensa a licitação, nos casos previstos em lei. 3.4.1 Coleta de dados com pais de alunos de escolas públicas A coleta de dados foi realizada através de questionário (APÊNDICE 1). Necessitou-se, para tanto, solicitar autorização para as secretarias de educação dos respectivos municípios. No caso dos municípios de Elói Mendes/MG, Monsenhor Paulo/MG e Pouco Alegre/MG a autorização foi concedida por e-mail. A secretaria de educação do município de Varginha/MG exigiu solicitação por escrito e com assinatura do orientador – autorização concedida através do ofício OF.GAB.SEDUC. n. 114/13. Para cada escola foi enviado um envelope contendo um conjunto de formulários que variou de 40 a 300 unidades. Junto com os formulários foi enviada uma folha de instruções para a diretoria da escola. Nestas instruções continham os critérios de inclusão – alunos de escolas públicas que recebem recursos do FNDE e estão na escola pública há pelo menos dois anos – e exclusão da pesquisa – foram excluídos os formulários com informações incompletas, sem condições de leitura e com informações de alunos que não atendiam aos critérios de inclusão –, bem como, instruções para distribuição e recolhimento. O Quadro 8 apresenta a lista de escolas pesquisadas. Quadro 8 Relação de escolas pesquisadas Município/MG Nome da Escola Local Elói Mendes Elói Mendes Monsenhor Paulo Monsenhor Paulo Varginha Varginha Varginha Pouso Alegre E.M. Professora Júlia Camões Vieito E. M. Maria do Carmo Mendes E. M. Paulo Sinésio Belato E. M. Vieiras E.M. Matheus Tavares E.M. Dr. Jacy de Figueiredo – CAIC I E.M. Cláudio Figueiredo E. M. Isabel Coutinho Galvão Urbana Rural Urbana Rural Urbana Urbana Rural Urbana Total: Nº de alunos1 867 199 462 17 449 1284 149 929 4356 Nº de respostas 35 31 30 12 35 104 19 141 407 Fonte: Elaborado pelo autor 1 O número de alunos de cada escola foi obtido no sítio do FNDE (2013) a partir do endereço <https://www.fnde.gov.br/pnaeweb/publico/relatorioDelegacaoEstadual.do>. Acesso: 10 Jan. 2013. A escolha das escolas foi realizada pela secretaria de educação de cada município conforme pedido de autorização. 68 3.4.2 Coleta de dados com órgão extensionista (EMATER) Para obter informações sobre os produtores da agricultura familiar foram entrevistados os representantes do órgão extensionista, EMATER/MG. As coletas foram realizadas por entrevista semiestrutura gravada em áudio, com exceção de Pouso Alegre que ocorreu por email por exigência do entrevistado. O Quadro 9 apresenta o roteiro da entrevista com o extensionista da EMATER. Quadro 9 Questões das entrevistas com técnico extensionista da EMATER Num. Questão 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 Quantos produtores rurais há no município? Quantos produtores estão cadastrados como produtores da agricultura familiar? Qual o papel do técnico extensionista quanto ao PNAE? Qual o papel do técnico extensionista quanto ao PAA? Quais alimentos são produzidos pela agricultura familiar do município? Qual o número de produtores familiares cadastrados em 2010? Qual o número de produtores familiares cadastrados em 2011? Qual o número de produtores familiares cadastrados em 2012? Qual o número de produtores familiares cadastrados em 2013? Qual o perfil do produtor familiar do município quanto ao tamanho da propriedade e renda principal? Antes de 2010 os produtores familiares já forneciam alimentos para a prefeitura ou escolas do município? Existe Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável no município, se sim, desde quando? Quais os benefícios que o conselho tem oferecido à agricultura familiar local? Nos últimos quatro anos houve melhoria de vida perceptível para os agricultores da agricultura familiar do município? Os produtores do município costumam participar de reuniões ou eventos voltados para o desenvolvimento da agricultura no município? Quais os melhores exemplos? Fonte: Elaborado pelo autor 3.4.3 Coleta de dados com produtores da agricultura familiar A coleta de dados junto aos produtores rurais deu-se por meio do questionário (APÊNDICE 2). O formulário foi distribuído aos técnicos de extensão de cada unidade da 69 EMATER, coletados através de visitas a propriedades rurais, feiras de agricultura familiar e reuniões de Conselho Municipal do Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS) ou associações e também por telefone. O resultado do número de entrevistas realizadas com produtores da agricultura familiar está organizado na Tabela 1. Tabela 1 Número de produtores pesquisados Município/MG Elói Mendes Monsenhor Paulo Varginha Pouso Alegre Total Número de produtores 820 700 700 4035 6255 Número de produtores (AF) 653 630 500 3098 4881 Produtores pesquisados 10 3 13 6 32 Fonte: Elaborada pelo autor 3.4.4 Coleta de dados a partir da análise de documentos das chamadas públicas Para levantar os dados sobre as aquisições de alimentos, tipo de alimento e quantidade, foram examinados os documentos das chamadas públicas realizadas pelo setor de compras das prefeituras envolvidas. No caso da prefeitura de Elói Mendes/MG, foram encontrados no site apenas os editais de convocação de 2013. Os documentos de 2010 a 2012 foram solicitados via ofício no setor de protocolo da prefeitura, mas somente foi possível coletar os dados com acesso ao arquivo físico. A prefeitura não tinha cópia digital dos documentos. No município de Monsenhor Paulo/MG também havia no site apenas alguns documentos de 2013. A solicitação dos demais arquivos foi realizada por e-mail e a coleta foi realizada pelo pesquisador que teve acesso às pastas físicas de chamadas públicas. A prefeitura de Varginha/MG não mantém todas as informações sobre chamadas públicas no sítio da Internet, exigindo que o pesquisador tivesse acesso aos arquivos físicos com o apoio do responsável pelo setor de licitação. Quanto aos dados das chamadas públicas de Pouso Alegre/MG foram obtidos por email em formato de planilhas com as informações consolidadas. 70 O Quadro 10 apresenta a lista dos dados que foram coletados nos documentos de chamadas públicas para fins de análise. Quadro 10 Dados coletados na documentação das chamadas públicas Numero 1 2 3 4 5 6 Descrição do dado Número da chamada pública Ano da chamada Nome do produtor que forneceu Descrição do produto Quantidade de produto Preço unitário do produto Fonte: Elaborado pelo autor A Tabela 2 apresenta a quantidade de chamadas públicas realizadas nos últimos quatro anos nos municípios pesquisados. O FNDE (2013) não estabelece um número mínimo ou máximo de chamadas. Cabe à prefeitura decidir o intervalo entre as chamadas em parceria com os envolvidos e de acordo com a estrutura administrativa disponível. Tabela 2 Chamadas públicas realizadas de 2010 a 2013 Município/MG Elói Mendes Monsenhor Paulo Pouso Alegre Varginha Total Número de chamadas públicas 2010 0 0 0 0 0 2011 2 0 2 2 6 2012 2 1 3 1 7 2013 2 0 3 2 7 Total 6 1 8 5 19 Fonte: Elaborado pelo autor A pasta de arquivos de chamada pública contém diversos documentos, como o termo de abertura, planilha de custo médio, lista de produtores participantes, contratos autorizações para fornecimentos e outros. A coleta focou nas autorizações de fornecimento que reúnem as principais informações descritas no Quadro 10. A Figura 5 é um exemplo de autorização de fornecimento referente à chamada pública de número 012/2011 do município de Elói Mendes/MG. 71 Figura 5 Modelo de autorização fornecimento Fonte: Prefeitura de Elói Mendes (2011) 72 3.4.5 Coleta de dados com nutricionistas A coleta de informações com nutricionistas foi a partir de entrevista semiestruturada realizada pelo pesquisador exceto no caso de Pouso Alegre via e-mail. O Quadro 11 apresenta o roteiro da entrevista com a nutricionista. Quadro 11 Roteiro da entrevista com nutricionista Numero Questão 01 Há quanto tempo há nutricionista elaborando os cardápios de escolas públicas do município? Quais são os ingredientes mais comuns no cardápio atual? Há algum tipo de alimento no cardápio que não é recomendado para a alimentação de crianças da idade escolar? A qualidade dos alimentos fornecidos pela agricultura familiar é satisfatória? Existe algum planejamento objetivando direcionar o plantio para que os alimentos fornecidos por agricultores familiares possam atender a demanda do cardápio? Qual o intervalo de entrega de alimentos da agricultura familiar? Quais alimentos são mais ofertados pelos produtores? Há recursos suficientes para receber, armazenar e distribuir os alimentos da agricultura familiar para as escolas públicas do município? A Lei no. 11.947/2003 e a Resolução/CD/FNDE nº 38/2009 estabelecem três diretrizes importantes: a) o emprego de alimentação saudável e adequada, compreendendo o uso de alimentos variados, seguros, que respeitem a cultura, as tradições e os hábitos alimentares saudáveis. b) amplia a abrangência da educação alimentar e nutricional no processo de ensino e aprendizagem, que perpassa pelo currículo escolar, abordando o tema alimentação e nutrição e o desenvolvimento de práticas saudáveis de vida. c) explicita o apoio ao desenvolvimento sustentável, e que exige que sejam aplicados incentivos para a aquisição de gêneros alimentícios diversificados, produzidos em âmbito local e preferencialmente pela agricultura familiar. Em sua opinião estes três objetivos têm sido atingidos? Do ponto de vista nutricional, a alimentação destinada às crianças das escolas públicas melhorou ou piorou nos últimos quatros anos? Em sua opinião, o que precisa melhorar para que a alimentação das crianças atinja os patamares propostos pelas políticas públicas vigentes? 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 Fonte: Elaborado pelo autor 73 3.4.6 Coleta de dados com representante do Conselho de Alimentação Escolar (CAE) Considerando que o CAE é formado por representantes do poder executivo, profissionais da educação, pais de alunos e representantes de entidades civis, as coletas ocorreram conforme aceite do convite feito pelo pesquisador. Em Elói Mendes/MG e Varginha/MG o representante entrevistado representa os profissionais da educação; em Monsenhor Paulo/MG a Nutricionista que representa o poder executivo também respondeu como membro do CAE; e em Pouso Alegre/MG o representante é colaborador da prefeitura e representa o poder executivo. O Quadro 12 apresenta o roteiro da entrevista com representantes do CAE. Quadro 12 Roteiro da entrevista com membro do CAE Numero Questão 01 02 Quando foi instituído o CAE no município? O CAE tem fiscalizado a documentação necessária para prestar contas dos gastos de alimentação com recursos do FNDE? A Prefeitura disponibilizou estrutura para o bom funcionamento do CAE (Espaço para as reuniões, veículo para a fiscalização, material de escritório, telefone e outros)? De acordo com o Art. 19º da lei 11.947/2009, as competências do CAE são: I - acompanhar e fiscalizar o cumprimento das diretrizes estabelecidas na forma do art. 2º da mesma Lei; II - acompanhar e fiscalizar a aplicação dos recursos destinados à alimentação escolar; III - zelar pela qualidade dos alimentos, em especial quanto às condições higiênicas, bem como a aceitabilidade dos cardápios oferecidos; IV - receber o relatório anual de gestão do PNAE e emitir parecer conclusivo a respeito, aprovando ou reprovando a execução do Programa. Estas competências estão sendo exercidas com eficiência no município? As competências, composição e funcionamento do CAE são divulgados nas escolas e aos pais de alunos de todo o município? Algo precisa ser melhorado para que o CAE possa efetivamente atuar conforme os pressupostos das políticas de alimentação escolar? O que seria? A comunidade participa efetivamente do CAE? Quantas reuniões do CAE ocorreram nos anos de 2010 a 2013? Quais foram as principais ações realizadas pelo CAE do município nos últimos quatro anos? Qual a ordem de esforço dedicado ao bom funcionamento do CAE conforme os grupos de representação: ( )Poder executivo ( ) Entidades de docentes/discentes e trabalhadores da educação ( ) Pais de alunos ( ) Entidades civis 03 04 05 06 07 08 09 10 Fonte: Elaborado pelo autor 74 Com o propósito de simplificar a referência a cada coleta de informação, foi desenvolvido o Quadro 13 contendo na coluna ‘código’ uma referência simplificada cuja primeira letra representa o tipo de coleta, sendo: (Q) Questionário; (E) Entrevista semiestruturada; (A) análise de documento. Esta notação visa apenas facilitar a apresentação dos instrumentos nos Quadros e tabelas da análise. Quadro 13 Codificação das coletadas de dados Código Descrição da fonte de coleta QALU QPRO ENUT ECAE EEXT ADOC Questionário de pais de alunos de escolas públicas Questionário de produtores da agricultura familiar Entrevista com nutricionista do município Entrevista com representante do CAE Entrevista com extensionista da EMATER – MG Análise de documentos das chamadas públicas Fonte: Elaborado pelo autor 3.5 Análise dos dados de pesquisa Como o objetivo de consolidar as informações coletadas de forma rápida e flexível um catálogo de dados foi desenvolvido para constituir um modelo físico seguindo os conceitos de um Sistema de Gerenciamento de Banco de Dados (SGDB). Para isto foi elaborado um banco de dados utilizando uma ferramenta de código aberto e sem custos, denominada Firebird. Foram cadastrados todos os dados conforme descrição dos Quadros da secção do protocolo. Esta metodologia garante: a organização dos dados, as consultas estruturadas, a maior facilidade para realizar cruzamentos de dados para gerar informações verificáveis. Há três táticas para aumentar o construto da validade: (a) uso de fontes múltiplas de provas; (b) estabelecimento de uma cadeia de provas; (c) revisão do relatório por informantes chaves (YIN, 2001). Esta pesquisa apresenta as três táticas conforme descrito nos procedimentos de coleta. A asserção de cada proposição foi realizada a partir de diversas fontes de coleta e os ‘informantes-chave’ foram consultados por telefone sempre que surgiu dúvida quanto ao resultado da análise. Como forma de garantir validação da pesquisa a análise inclui triangulação dos dados. 75 A análise e interpretação de dados nos estudos de caso é uma atividade complexa, pois não há consenso acerca dos procedimentos a serem adotados. Para resultar em uma boa análise, o pesquisador precisa deixar claro como conseguiu chegar a uma conclusão e elaborar o conjunto de procedimentos de forma intuitiva (GIL, 2009). Como se trata de uma pesquisa essencialmente qualitativa, a análise e interpretação ocorrem quase que simultaneamente junto com a coleta de dados. Este estudo de caso teve como conjunto de análise os seguintes modelos: análise por comparações constantes e análise de conteúdo. Sobre a análise fundamentada nos dados, esta é também conhecida como grounded thoery ou teoria fundamentada nos dados (GIL, 2009). Existem algumas características importantes como o reconhecimento de diversos autores, de que se trata de um dos modelos mais adequados para a análise qualitativa de dados. Aplica-se à necessidade de entender uma determinada situação. É uma teoria substantiva que não pode ser generalizada e consequentemente não pode ser considerada uma verdade absoluta, mas suficiente para explicar uma realidade real dos sujeitos pesquisados (GIL, 2009). Embora o ensaio teórico de Mozzato e Grzybovski (2011) tenha focado em administração, suas conclusões apontam que a aplicação da análise de conteúdo constitui grande potencial para pesquisas qualitativas. A análise de conteúdo pode ajudar aqueles pesquisadores que pretendem desenvolver estudos no campo da administração segundo uma abordagem analítica crítica e reflexiva, aventurando-se na aplicação da análise de conteúdo como técnica de análise de dados qualitativos, ou mesmo mistos, no sentido de complementação (MOZZATO e GRZYBOVSKI, 2011, p. 745). A análise de conteúdo é um procedimento analítico aplicado a qualquer comunicação escrita, inclusive na análise de entrevistas e depoimentos devidamente transcritos. Embora a análise de conteúdo seja aplicada a pesquisas de caráter subjetivo, por questão de credibilidade, esta técnica tem sido reconhecida apenas como uma técnica quantitativa de análise de dados. Por isto, os dados coletados que atenderem aos critérios da análise estatística são analisados quantitativamente (GIL, 2009). É o caso dos formulários de pesquisa aplicados a pais de alunos de escolas públicas. As entrevistas, documentos e formulário de produtores serão analisados qualitativamente. No caso dos formulários de produtores familiares o motivo de aplicar a análise qualitativa e não a quantitativa se deve ao pequeno conjunto de dados 76 coletados, não suficientes para uma análise quantitativa com grau de confiança suficiente para inferência. A análise do conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações e manipula as mensagens para evidenciar os indicadores que permitam inferir sobre outra realidade que não a da mensagem (BARDIN, 1977). Assim, a proposta de procedimentos de análise deste trabalho se concentra em métodos e técnicas quanti-qualitativas de acordo com os dados coletados. As entrevistas depois de transcritas foram analisadas quanto ao conteúdo. As etapas necessárias à realização de uma pesquisa social de cunho qualitativo são redução, exibição e conclusão/verificação (GIL, 2008). No caso da redução, primeiramente é realizada a seleção dos dados e depois a simplificação. De modo geral, a redução acontece desde o início da análise até a sintetização da conclusão. Faz-se necessário codificar, agrupar e organizar as categorias para construir conclusões verificáveis (GIL, 2008). Neste trabalho todos os dados foram armazenados em uma estrutura de banco de dados relacional, com codificação para facilitar a identificação única e inequívoca das informações sem perder as possibilidades de combinação e arranjos de dados. A exibição ou apresentação se resume na construção de textos, diagramas, mapas ou matrizes que permitam visualizar melhorar as informações e possibilitar o entendimento das conclusões. Costuma-se categorizar com maior nível de detalhes ou mesmo com visões diferentes da etapa de redução (GIL, 2008). Em função da variedade de coletas – questionários, entrevistas e análise de documentos – e ao extenso conjunto de proposições para se fazer a asserção, os dados foram organizados a partir de quadros e tabelas para relacionamento com cada uma das proposições estudadas. Na etapa de conclusão/verificação é necessário revisar os dados para certificar-se de que existe coerência entre sua constituição e o significado encontrado. Esta atividade compreende a validação como requisito fundamental para dar credibilidade à pesquisa (GIL, 2008). O Quadro 14 apresenta a relação entre as proposições e fontes de dados utilizadas para asserção considerando o sujeito de estudo. 77 Quadro 14 Relação entre proposição e coleta utilizadas Nº 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 Proposição Fontes de dados utilizadas Os programas voltados para agricultura familiar que Formulário dos pais de possibilitam o fornecimento direto de alimento para alunos, formulário de as escolas públicas estão em pleno funcionamento. produtores, análise de documentos e entrevistas. A renda dos produtores rurais da agricultura familiar Formulário de produtores. que fornecem alimentos com base nas resoluções do FNDE aumentou após a aplicação do PNAE. A qualidade da alimentação escolar melhorou depois Entrevista com nutricionista e que as resoluções do FNDE passaram a exigir que o formulário de pais de alunos. cardápio escolar fosse elaborado por nutricionista qualificado. As prefeituras conseguem aproveitar 100% dos Análise de documentos. recursos disponibilizados pelo FNDE, considerando as exigências do desenvolvimento local sustentável (30% destinados a Agricultura Familiar). Os pais de alunos sabem se a alimentação de seus Formulário de pais de alunos filhos nas escolas públicas é preparada por nutricionista. O CAE tem sido utilizado com eficiência pela Entrevista com representante comunidade para auxiliar na fiscalização dos agentes do CAE e formulário de pais envolvidos. de alunos Os programas vigentes de alimentação escolar contribuem para a formação de hábitos alimentares saudáveis. Os pais de alunos conhecem o CAE e participam de suas atividades. A burocracia constitui barreira para o fornecimento de alimentos por agricultores familiares às prefeituras e escolas públicas. A dieta alimentar fornecida sob orientação de nutricionista em escolas públicas inclui alimentos considerados inapropriados para crianças em idade escolar ou fora dos padrões recomendados pelo CFN. Formulário de pais de alunos e entrevista com nutricionista Formulário de pais de alunos e entrevista com representante do CAE. Formulário de produtores e entrevista com técnico da EMATER Formulário de pais de alunos, entrevista com nutricionais e análise de documentos. Fonte: Elaborado pelo autor O questionário aplicado aos pais de alunos foi analisado quantitativamente por meio de estatística descritiva e análise de correlação de Pearson. Utilizou-se a planilha eletrônica Microsoft Excel 2010 tanto para processamento da estatística descritiva como cálculo do coeficiente de Correlação de Pearson. 78 O Coeficiente de Correlação de Pearson é uma medida de associação linear entre variáveis a partir do compartilhamento de variância. O valor do coeficiente de Pearson varia de -1 a 1. Quanto mais perto de 1 ou de -1 maior correlação há, sendo inversamente proporcional ou diretamente proporcional, respectivamente (FIGUEIREDO FILHO;SILVA JÚNIOR, 2009). Considerando a abordagem desta pesquisa quanto aos atores participantes, métodos e técnicas utilizadas, proposições estudadas, organização das informações coletadas, processo de análise e apresentação dos resultados, espera-se alicercear uma fonte importante para que administradores públicos envolvidos com o tema possam encontrar referências para os diversos problemas que a alimentação escolar e agricultura familiar enfrentam em modus operandi. 79 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Análise dos dados do estudo de caso de Elói Mendes/MG O Quadro 15, a Tabela 3 e o Gráfico 1 analisam a Proposição 01 – Os programas voltados para agricultura familiar que possibilitam o fornecimento direto de alimento para as escolas públicas estão em funcionamento. Quadro 15 Asserção da proposição 01/ Elói Mendes Coleta Questão Asserção EEXT De 06 a 09 - Números de produtores de 2010 a 2013 11 - Antes de 2010 os produtores familiares já forneciam alimentos para a prefeitura ou escolas? Positiva EEXT ECAE 01 - Quando foi instituído o CAE no município? ECAE 02 - O CAE tem fiscalizado a documentação necessária para prestar contas dos gastos com alimentação com recursos do FNDE? 01 - Há quanto tempo há nutricionista elaborando os cardápios de escolas públicas do município? 08 - Há recursos suficientes para receber, armazenar e distribuir os alimentos da agricultura familiar para as escolas públicas do município? As chamadas públicas estão sendo realizadas no município? O volume comprado da agricultura familiar é coerente com o número de alunos do município? ENUT ENUT ADOC ADOC Positiva “Não havia fornecimento” Positiva “Em 2005.” Positiva “Tem fiscalizado.” Positiva “Desde 2010.” Positiva “Mas deixa a desejar quanto ao transporte.” Positiva Negativa Fonte: Elaborado pelo autor Tabela 3 Recursos para alimentação escolar/Elói Mendes Ano Valor PNAE Contrapartida Agricultura Part./AF Est./Mun. familiar 2010 163.054,40 292.772,46 0,00 0,00% 2011 162.060,00 387.973,78 33.492,84 20,67% 2012 189.468,00 468.447,99 46.798,69 24,70% 2013 206.960,00 538.318,32 48.504,78 24,43% 721.542,40 1687512,55 128.796,31 17,85% Fonte: Elaborada pelo autor, a partir de <http://portal.inep.gov.br/basica-censo> Nº de crianças 2.423 2.533 2.580 2.597 10.133 80 Gráfico 1 Número de produtores que fornecem para o PNAE/ Elói Mendes Fonte: Elaborado pelo autor Coforme a Tabela 3 percebe-se que no ano de 2010 não foram realizadas aquisições da agricultura familiar conforme previsto na Resolução/CD/FNDE nº 38/2009 (CD/FNDE, 2009). Nos anos seguintes, o município passou a realizar chamadas públicas e aumentou a cada ano os valores das compras da agricultura familiar. Nota-se, porém, que os valores levantados nas autorizações para fornecimento das chamadas públicas revelam que o município ainda não atingiu 30% do uso dos recursos do FNDE para compras de agricultores da Agricultura Familiar (AF). Já o técnico extensionista afirmou na entrevista que o número de produtores do município é considerável e a demanda de alimentos do PNAE não é capaz de absorver toda a capacidade de produção do município. Mas mesmo assim, o volume adquirido da agricultura familiar pode ser elevado à capacidade máxima de consumo, uma vez que, a produção do município é suficiente. Ressalta-se a importância de observar que as 038/2009 e 026/2013 do FNDE determinam um limite mínimo para aquisição de alimentos da agricultura familiar e não um limite máximo. Portanto, o município pode ampliar as aquisições de alimentos da agricultura familiar e aproveitar melhor o potencial da agricultura familiar local. A partir da análise dos dados pode-se concluir que a proposição 01 é assertiva. É preciso considerar que há possibilidade de ampliação das compras da agricultura familiar, já que os valores adquiridos não atingiram o mínimo previsto de 30% previstos pelo FNDE e o município tem potencial de ampliação. Em conformidade com Tavares e Mota (2013, p. 27) “nas regiões Sul e Sudeste há uma organização muito bem estruturada, eles têm produtos necessários para a alimentação escolar”. De acordo com as mesmas, em Santarém/ PA não há produção suficiente para atender às demandas do cardápio. 81 O Quadro 16 e o Gráfico 2 analisam a Proposição 02 – A renda dos produtores rurais da agricultura familiar que fornecem alimentos com base nas resoluções do FNDE aumentou após a aplicação do PNAE. Quadro 16 Asserção da proposição 02/ Elói Mendes Coleta Questão Asserção QPRO 14 - Sua propriedade passou a vender para outros clientes em função de fornecer para Prefeitura/escolas? QPRO 15 - Quanto ao fornecimento de alimentos para a prefeitura (Alimentação escolar): ( ) Há planos para aumentar ( ) Não pretende aumentar ( ) Pretende reduzir 18 - O dinheiro que sobra da produção agrícola fornecida para a prefeitura/escolas é utilizado para: ( ) Comprar mais terra ( ) Reformar as instalações de moradia ( ) Comprar equipamentos ( ) Comprar insumos e sementes ( ) Outras demandas ( ) Nunca sobrou dinheiro desta atividade 21 - A possibilidade de fornecer alimentos para prefeitura causou algum impacto financeiro para sua família: ( ) Melhorou ( ) Manteve-se da mesma forma ( ) Piorou Nos últimos quatro anos houve melhoria de vida perceptível para os agricultores da agricultura familiar do município? Negativa Não (63,63%) Sim (36,36%) Positiva 82,35% planejam aumentar e nenhum produtor pretende reduzir. Positiva QPRO QPRO EEXT Gráfico 2 Positiva Melhorou (80%) Manteve-se (20%) Piorou (0%) Positiva Fonte: Elaborado pelo autor A questão 14 embora apresente 63,63% de respostas negativas, aponta um reconhecimento por parte dos produtores que forneceram alimentos para a prefeitura quanto ao desenvolvimento do mercado local. Este pode ser o resultado do trabalho da equipe que recebe os alimentos da agricultura familiar e do técnico extensionista. Eles afirmaram que os produtores são orientados a melhorar a qualidade dos alimentos produzidos para não perderem a oportunidade de venda para as escolas. Estes procedimentos, em consonância com o trabalho da vigilância sanitária do município, estimulam a melhoria da qualidade resultando na aceitação dos produtos nas lojas e mercados da cidade. 82 A questão 21 apresentou resultado de destaque no formulário de pesquisa dos produtores e confere os dizeres do técnico extensionista. Ele afirmou que já é possível perceber melhorias nas condições de vida dos produtores da agricultura familiar que fornecem para o PNAE e para o PAA. Um dos aspectos que mais chama a atenção, segundo o extensionista, são as moradias com bom acabamento. O Gráfico 2 aponta que a maioria dos produtores prefere utilizar os recursos para comprar equipamentos, insumos e sementes. Esta preferência aponta que os produtores estão investindo nas atividades de produção com vistas a aumentar o fornecimento para a prefeitura conforme resultado da questão 15 que aponta intenção de 82,35% de ampliar o fornecimento. De acordo com Ciro e Freitas (2013) a partir de uma pesquisa realizada em Viçosa/MG, o PNAE gerou uma garantia de comercialização para os produtores e estimulou o aumento da produção. Além do fornecimento para a prefeitura, os produtores tiveram um aumento no comércio local em função do crescimento da demanda uma vez que as exigências do PNAE quanto à qualidade dos produtos estimulou a profissionalização dos agricultores. Analisando os dados levantados no município de Elói Mendes/MG, pode-se concluir que a renda dos produtores familiares que fornecem alimentos para as escolas públicas aumentou nos últimos quatro anos. Gráfico 2 Destinação da receita com vendas para o PNAE/ Elói Mendes Fonte: Elaborado pelo autor Sendo assim, a Proposição 02 é assertiva considerando que muitos produtores já investem os recursos obtidos com as vendas através das chamadas públicas. 83 O Quadro 17 e os Gráfico 3 e 4 analisam a Proposição 032 – A qualidade da alimentação escolar melhorou depois que as resoluções do FNDE passaram a exigir que o cardápio escolar fosse elaborado por nutricionista qualificado. Quadro 17 Asserção da proposição 03/ Elói Mendes Coleta ENUT ENUT QALU QALU Questão 09 - A Lei no. 11.947/2003 e a Resolução/CD/FNDE nº 38/2009 estabelecem três diretrizes importantes: a) o emprego de alimentação saudável e adequada, compreendendo o uso de alimentos variados, seguros, que respeitem a cultura, as tradições e os hábitos alimentares saudáveis. b) amplia a abrangência da educação alimentar e nutricional no processo de ensino e aprendizagem, que perpassa pelo currículo escolar, abordando o tema alimentação e nutrição e o desenvolvimento de práticas saudáveis de vida. c) explicita o apoio ao desenvolvimento sustentável, e que exige que sejam aplicados incentivos para a aquisição de gêneros alimentícios diversificados, produzidos em âmbito local e preferencialmente pela agricultura familiar. Em sua opinião estes três objetivos têm sido atingidos? 10 - Do ponto de vista nutricional, a alimentação destinada às crianças das escolas públicas melhorou nos últimos quatros anos? Quais foram os principais fatores responsáveis por esta melhoria? 18 - Seu(a) filho(a) já reclamou da alimentação oferecida na escola a partir de 2010? 23 - Marque com um “x” o alimento oferecido na merenda escolar de seu(a) filho(a) a partir de 2010. Asserção Positiva “Eu acredito que sim, acredito que vem melhorando muito e eu acho que tem conformidade sim” Positiva “...eu acho que melhorou muito, em todos os aspectos , que a gente esta oferecendo principalmente pela agricultura familiar.” Negativa Positiva Gráfico 4 Fonte: Elaborado pelo autor A entrevista com a nutricionista do município, que foi contratada em 2012, revelou que desde 2010 há nutricionista elaborando os cardápios das escolas. Ela citou que os 2 Esta proposição teve por objetivo verificar se as exigências do FNDE através da resolução 038/2009 (CD/FNDE, 2009) estão sendo cumpridas tanto quanto na disponibilidade do profissional qualificado (RT) como nas atividades de coordenação do diagnóstico e o monitoramento do estado nutricional dos estudantes, planejamento do cardápio da alimentação escolar de acordo com a cultura alimentar, perfil epidemiológico da população atendida e a vocação agrícola da região, acompanhando desde a aquisição dos gêneros alimentícios até a produção e distribuição da alimentação, bem como, proposta e execução de ações de educação alimentar e nutricionais nas escolas. Em síntese, visa identificar se a atuação deste profissional resultou na melhoria da qualidade da alimentação fornecida pelas escolas. 84 alimentos mais comuns são: arroz, feijão, fubá, macarrão e farinha. No caso das frutas há oferta apenas uma vez por semana, com exceção da creche que recebe frutas duas vezes por semana. Ressalta-se que o art. 14º da Resolução/CD/FNDE nº 038/2009 (CD/FNDE, 2009) recomenda três porções frutas e hortaliças por semana. A nutricionista afirma que a qualidade da alimentação melhorou, principalmente, a partir da aquisição de alimentos da agricultura familiar. Destacou também que a oferta de frutas da AF não é suficiente, carecendo de compras por licitação para complementar a dieta. O Gráfico 3 mostra que ainda há um nível de reclamação considerável por parte das crianças, revelado pelo formulário aplicado aos pais – amostra de 68 respondentes. Gráfico 3 Reclamação quanto à alimentação/ Elói Mendes Fonte: Elaborado pelo autor Conforme mostra o Gráfico 4, na sequência, os alimentos que mais aparecem no questionário de pais de alunos são: feijão, arroz, verduras e legumes, carnes e frutas. A lista confere diversidade e ao mesmo tempo preocupação com alimentos que causam danos à saúde e são proibidos ou restritos pelo art. 16º da Resolução/CD/FNDE nº 038/2009 (CD/FNDE, 2009), como bolachas de doce, bolachas de sal, refrigerantes e chocolates. Tais alimentos, embora com baixa frequência, aparecem nas respostas do questionário aplicado aos pais de alunos. 85 Gráfico 4 Itens oferecidos na merenda nas escolas/ Elói Mendes Fonte: Elaborado pelo autor Conclui-se que a proposição 03 é assertiva, principalmente, pelas declarações da nutricionista e lista dos alimentos oferecidos na escola. Embora, a questão 18 tenha apresentado 50% de ocorrências de reclamações por parte dos alunos, há indicadores de melhoria na qualidade da alimentação. Recomenda-se a aplicação do teste de aceitabilidade previsto no art. 25º da Resolução/CD/FNDE nº 038/2009 (CD/FNDE, 2009). Segundo CECANE/ UNIFESP (2010) há diversas resoluções do FNDE que citam o teste de aceitabilidade e as novas resoluções trazem novas situações para aplicação dos testes, citando que estes devem ser aplicados sempre que ocorrer no cardápio: a introdução de alimento atípico ao hábito alimentar local; quaisquer outras alterações inovadoras, no que diz respeito ao preparo, e para avaliar a aceitação dos cardápios praticados frequentemente. Portanto, o teste de aceitabilidade poderá ajudar a esclarecer se os alimentos estão sendo bem aceitos ou se as respostas obtidas no questionário de pais de alunos não correspondem com a realidade, constituindo um viés desta pesquisa. Segundo a nutricionista do município ainda não foi realizado teste de aceitabilidade. 86 Os Quadros 18 e 19 analisam a Proposição 04 – As prefeituras conseguem aproveitar 100% dos recursos oferecidos pelo FNDE, considerando as exigências do desenvolvimento local sustentável (30% destinados a Agricultura Familiar). Quadro 18 Asserção da proposição 04/ Elói Mendes Coleta Questão Asserção ADOC Realização de chamadas públicas entre 2010 e 2013. Positiva ADOC Volumes anuais adquiridos da agricultura familiar através de chamadas públicas. Negativa Fonte: Elaborado pelo autor O primeiro ponto observado quanto à proposição 04 é a realização de chamadas públicas, pois, no ano de 2011 muitos municípios, inclusive do Sudeste do Brasil, não realizaram ou realizam e não conseguiram comprar através das chamadas públicas (AÇÃO FOME ZERO, 2011). O município de Elói Mendes/MG conseguiu comprar através de chamada pública pela primeira vez em 2011. Quadro 19 Realização de chamadas públicas por região Fonte: Adaptado pelo autor a partir de Ação Fome Zero (2011, p. 9) Quanto ao volume adquirido, Elói Mendes/MG ainda não conseguiu atingir 30% dos recursos do FNDE. Os melhores resultados foram obtidos em 2012 e 2013 cuja proporção ficou próxima de 25%. De acordo com o setor de compras da prefeitura, nunca houve redução do repasse do FNDE, mesmo o município não tenho cumprido o requisito. Portanto, a proposição 04 é assertiva. 87 O Quadro 20 analisa a Proposição 05 – Os pais de alunos sabem se a alimentação de seus filhos nas escolas públicas é preparada por nutricionista. A mesma se propôs à identificação do nível da participação dos pais de alunos das escolas públicas que recebem recursos do FNDE, bem como na avaliação e divulgação das ações pertinentes aos programas nas comunidades. Através desta percebeu-se claramente que a maioria dos pais desconhece que na escola há um profissional exclusivamente para cuidar da merenda escolar. Tal resultado remete à reflexão sobre o empoderamento e participação da comunidade em políticas sociais. “A esfera pública deve ser, também, um espaço para os cidadãos organizados exercerem fiscalização e vigilância sobre os poderes públicos constituídos via eleições, concursos ou critérios consuetudinários” (GOHN, 2004, p. 29). Neste contexto conclui que a participação da sociedade civil não visa substituir o Estado, mas sim exigir que o Estado cumpra o seu dever. Horochovski e Meirelles (2007) ajudam a conceituar o empoderamento e afirmam que ele se refere à capacidade de os indivíduos e grupos poderem decidir sobre as questões que lhes dizem respeito nas esferas – política, econômica, cultural, psicológica, entre outras. Em contraste com esta definição, o desconhecimento das políticas públicas sociais pela sociedade remete à verificação do processo de implantação dos programas que precisam ser divulgados à sociedade para fins de se estabelecer e se fortalecer no meio social constituindo um empoderamento proativo. Assim, o Quadro 20 apresenta a única coleta relativa à proposição 05, não assertiva, e serve como estímulo a realização de outros trabalhos para analisar com maior rigor o motivo do desconhecimento dos pais sobre os programas voltados para a alimentação escolar. Quadro 20 Asserção da proposição 05/ Elói Mendes Coleta Questão Asserção QALU 21 - Você sabe dizer se na escola de seu(a) filho(a) a merenda/alimentação é preparada por nutricionista? Negativa Não (60,3%) Sim (39,7%) Fonte: Elaborado pelo autor 88 O Quadro 21, o Gráfico 5 e a Tabela 4 analisam a Proposição 06 – O conselho de Alimentação Escolar (CAE) tem sido utilizado com eficiência pela comunidade para auxiliar na fiscalização dos agentes envolvidos. Quadro 21 Asserção da proposição 06/ Elói Mendes Coleta Questão Asserção QALU 24 - O CAE (Conselho de Alimentação Escolar) fiscaliza o fornecimento de alimentos na escola de seu(a) filho(a)? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sei o que é CAE 05 - As competências, composição e funcionamento do CAE são divulgados nas escolas e aos pais de alunos de todo o município? 07 - A comunidade participa efetivamente do CAE? 08 - Quantas reuniões do CAE ocorreram nos anos de 2010 a 2013? Negativa Gráfico 5 ECAE ECAE ECAE Negativa Negativa Negativa Fonte: Elaborado pelo autor Gráfico 5 Atuação do CAE de acordo com pais de alunos/ Elói Mendes Fonte: Elaborado pelo autor O CAE tem papel fundamental na execução do PNAE a fim de promover a prática social que supõe a participação de diversos setores da sociedade, de forma institucionalizada (BANDEIRA et al, 2013). As competências do CAE estão definidas de forma muito clara nas resoluções do FNDE (038/2009 e 026/2013). Além da legislação específica e detalhada sobre a atuação do CAE, há cartilhas e instruções de fácil acesso que possibilitam qualquer município implantar 89 e manter o CAE ativo. Gabriel et al. (2013) que avaliaram o CAE do Estado de Santa Cataria apontam que o conselho adequado é aquele que realizava as atividades previstas na legislação em vigor. Portanto, a atuação do CAE não depende de diretrizes específicas ou planejamento exclusivo, mas sim a execução de ações legítimas e sustentadas por uma política institucionalizada. A representante do CAE de Elói Mendes/MG que respondeu à entrevista, quando indagada a respeito da divulgação do CAE aos pais de alunos informou que as próprias escolas já divulgam. Disse que os diretores de escola sabem tudo. Quanto à participação da comunidade a resposta a mesma declarou que a participação não acontece como deveria. Os resultados organizados na observar a Tabela 4 apontam que nos anos de 2010 e 2011, embora as reuniões não tenham acontecido pelo menos uma vez por mês – conforme é comum em muitos municípios – pelo menos houve um número bom de reuniões. Entretanto, nos anos de 2012 e 2013 o número de reuniões foi baixo. De acordo com Gabriel et al. (2013) seis ou sete reuniões anuais são números razoáveis. Tabela 4 Número de reuniões do CAE de Elói Mendes Ano Número de reuniões 2010 2011 2012 2013 4 5 1 2 Fonte: Elaborado pelo autor A verificação de Gabriel et al. (2013) acerca da necessidade de formações dos conselheiros para uma devida apropriação das atribuições do CAE e da relevância da realização dessas para o desenvolvimento satisfatório do PNAE é coerente com o contexto do CAE do município de Elói Mendes/MG Portanto, a proposição 06 não é assertiva. O CAE de Elói Mendes/MG não está sendo utilizado com eficiência pela comunidade. A pouca participação de pais e representantes da sociedade não aproveita a oportunidade oferecida pelo conselho. O Quadro 22 analisa a Proposição 7 – Os programas vigentes de alimentação escolar contribuem para a formação de hábitos alimentares saudáveis. As respostas para a questão 20, no mesmo, apontam que apenas 26,2% dos pais perceberam alguma mudança no costume alimentar de seus filhos em função da merenda 90 escolar. Embora seja um número baixo, o número indica que já existe pais percebendo algum impacto no costume alimentar de seus filhos. É preciso lembrar que uma das diretrizes do PNAE é a inclusão da educação alimentar e nutricional no processo de ensino e aprendizagem, bem como, o emprego da alimentação saudável e adequada. Quadro 22 Asserção da proposição 07/ Elói Mendes Coleta Questão Asserção QALU 20 - Você percebeu que seu(a) filho(a) passou a comer ingredientes que rejeitava antes de receber a alimentação que passou a ser fornecida na escola a partir de 2010? 03 - Há algum tipo de alimento no cardápio que não é recomendado para a alimentação de crianças da idade escolar? Negativa Não = 73,8% Sim = 26,2% Positiva “Não, o cardápio é totalmente elaborado de acordo com a resolução.” Positivo ENUT ENUT 11 - Em sua opinião, o que precisa melhorar para que a alimentação das crianças atinja os patamares propostos pelas políticas públicas vigentes? Fonte: Elaborado pelo autor Para atingir os resultados desejados e estabelecidos na legislação do PNAE é fundamental que não falte alimento para as crianças das escolas públicas. A entrevista com a nutricionista da prefeitura de Elói Mendes/MG revelou que os valores repassados pelo FNDE não são suficientes para suprir a demanda de alimentos para todas as crianças da rede de ensino público municipal. De acordo com a nutricionista o valor de repasse, por aluno, do FNDE é muito pequeno, havendo necessidade da prefeitura complementar, entretanto, a complementação para tanto nem sempre está disponível. Para a mesma, o valor deveria ser maior objetivando a oferta de uma alimentação mais completa – como carnes, que são produtos caros. O valor vigente não atinge; somente um real por criança de creche não é suficiente considerando que as crianças tomam café, almoçam e tomam sopa. O apontamento da nutricionista se encaixa no resultado do estudo de Bandeira et al. (2013) a partir dos pareceres conclusivos dos Conselhos de Alimentação Escolar de 2009 em todo o Brasil que aponta que há contrapartida para aquisição de alimento escolar em 75,5% das unidades executoras. 91 Considerando que no município há complementação da alimentação com recursos extras e que o cardápio não contém alimentos fora da recomendação do PNAE; mesmo não havendo percepção dos pais (73,8%) quanto à mudança de hábitos alimentares de seus filhos é possível registrar que há esforços do sentido de formar hábitos de alimentação saudável. A proposição 7 é assertiva, principalmente pelo apontamento da nutricionista. O Quadro 23 analisa a Proposição 8 – Os pais de alunos conhecem o CAE e participam de suas atividades. Embora esta proposição aparentemente se confunda com a Proposição 6, seu objetivo é mais específico, uma vez que, limita a análise quanto ao conhecimento dos pais de alunos sobre a existência do CAE. Quadro 23 Asserção da proposição 08/Elói Mendes Coleta Questão Asserção QALU 24 - O CAE (Conselho de Alimentação Escolar) fiscaliza o fornecimento de alimentos na escola de seu(a) filho(a)? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sei o que é CAE 10) Qual a ordem de esforço dedicado ao bom funcionamento do CAE conforme os grupos de representação: ( ) Poder executivo ( ) Entidades de docentes/discentes e trabalhadores da educação ( ) Pais de alunos ( ) Entidades civis Negativa ECAE 1º) prof. da educação 2º) poder executivo 3º) pais de alunos 4º) sociedade civil. Fonte: Elaborado pelo autor Torna-se necessário citar que durante a fase de planejamento da pesquisa foi realizada uma entrevista com uma mãe – conselheira do CAE – e esta respondeu que nunca havia participado de reuniões. Neste sentido, esta análise não visa avaliar a participação, mas a divulgação do CAE pelos agentes envolvidos. O Gráfico 5, exibido anteriormente, indica que 36 dos 61 pais de alunos não sabem o que é CAE. A resposta confere com o depoimento da representante do CAE, uma profissional da educação, que classificou os esforços na seguinte ordem: primeiro – profissionais da educação; segundo – poder executivo; terceiro – pais de alunos; quarto – sociedade civil. Atribuir este resultado à falta empoderamento social pode não ser a melhor opção, embora, segundo Horochovski e Meirelles (2007) cabe ao Estado, na condição de 92 protagonista na promoção dos direitos da cidadania, o dever de mobilizar os grupos chave numa relação de parceria com a sociedade. Por outro lado, os programas e políticas sociais carecem de estratégias e projetos que contemplem a efetiva implantação, incluindo a divulgação clara de seus objetivos e ao alcance de todos os atores envolvidos. Portanto, a proposição 08 não é assertiva. O CAE é desconhecido pela maioria dos pais de alunos das escolas de Elói Mendes/MG. O Quadro 24, o Gráfico 6 e a Figura 5 analisam a Proposição 9 – A burocracia constitui barreira para o fornecimento de alimentos por agricultores familiares às prefeituras e escolas públicas. Quadro 24 Asserção da proposição 09/ Elói Mendes Coleta Questão Asserção QPRO 17 - Qual sua maior dificuldade para começar a fornecer para Prefeitura? ( ) Margem de lucro - Preço ( ) Providenciar a documentação exigida ( ) Garantir a qualidade exigida ( ) Entregar os produtos na data solicitada ( ) Saber qual a necessidade da prefeitura antes de plantar ( ) Demora/atraso no pagamento 03 - Qual o papel do técnico extensionista quanto ao PNAE? 04 - Qual o papel do técnico extensionista quanto ao PAA? Negativa EEXT EEXT Positiva Positiva Fonte: Elaborado pelo autor O objetivo da questão 16 do Quadro 25 foi de identificar se os produtores da agricultura familiar enxergam algum processo previsto no PNAE que dificulta o fornecimento para a prefeitura. A questão permitia múltiplas respostas incluindo a possibilidade de nenhuma. As opções apresentadas na questão foram formuladas a partir de um pré-teste do questionário onde os produtores puderam citar livremente os problemas percebidos. “Para fornecer alimentos para o PNAE os agricultores familiares costumam esbarrar em questões como logística, regularidade de produção, qualidade e quantidade da produção, planejamento, burocracia e questões sanitárias” (SILVA et al., 2013, p. 5). O estudo realizado por Silva et al. (2013) apontou muitas dificuldades enfrentadas pelos produtores familiares no interior do Estado de São Paulo. Dentre elas podem-se destacar as dificuldades no transporte, a carência de assistência técnica e as dificuldades em produzir o que as prefeituras pedem. 93 De modo geral, o conjunto de exigências aos produtores familiares para o fornecimento de produtos ao PNAE constitui burocracias que funcionam como gargalos de fornecimento. Os principais são: a) Documentação, como o Documento de Aptidão ao PRONAF (DAP) tanto para pessoa jurídica – Associações e Cooperativas – como para pessoas físicas; b) O preço dos produtos que precisa corresponder à média do mercado local, dificultando acordos em função de variações de mercado; c) Necessidade de comprovar a qualidade dos produtos gerando demanda acesso aos órgãos de inspeção sanitária, exigidos para produtos de origem animal; d) Entregas na data programada e quantidade exata; e) Acesso antecipado ao planejamento e cardápio das escolas para oferecer os produtos necessários; f) Aguardar os prazos de pagamento propostos pela prefeitura. O Gráfico 6 apresenta ocorrências de todos os problemas listados com destaque para a margem de lucro. Gráfico 6 Dificuldades para começar a fornecer para a Prefeitura/ Elói Mendes Fonte: Elaborado pelo autor A entrevista com o extensionista da EMATER de Elói Mendes/MG revelou que os produtores recebem as principais orientações referentes ao PAA e ao PNAE, entretanto também revelou que a burocracia constitui fator dificultador para eles, que na sua maioria, não possui formação escolar suficiente e precisa de ajuda para produzir e fornecer. 94 De acordo com o apontamento do extensionista da EMATER de Elói Mendes/MG, em entrevista, o papel dos mesmos é: (a) orientar os produtores a produzir; (b) ensinar os produtores a como produzir – evitando defensivos agrícolas; ( c) conscientizar os produtores quanto à necessidade de respeitem o período de carência; (d) orientar quanto ao tipo de produto indicado para aquela atividade ou para aquela cultura que ele está desenvolvendo; (e) orientar quanto à a qualidade dos alimentos, qualidade da água e da embalagem. A Figura 5 é uma foto de uma reunião com 97 produtores para discutir as estratégias para atender à primeira chamada pública de 2014. Figura 6 Foto de uma reunião de produtores/ Elói Mendes Fonte: Arquivo da EMATER de Elói Mendes/MG Em síntese, a proposição 09 é assertiva, ou seja, o conjunto de problemas considerados burocráticos na linguagem dos produtores familiares dificulta a execução dos programas de aquisição de produtos da agricultura familiar. 95 O Quadro 25 e as Tabelas 5 e 6 analisam a Proposição 10 – A dieta alimentar fornecida sob orientação de nutricionista em escolas públicas inclui alimentos considerados inapropriados para crianças ou fora dos padrões recomendados pelo CFN. Quadro 25 Asserção da proposição 10/Elói Mendes Coleta Questão Asserção ENUT 03 - Há algum tipo de alimento no cardápio que não é recomendado para a alimentação de crianças da idade escolar? 23 - Marque com um “x” o alimento oferecido na merenda escolar de seu(a) filho(a) a partir de 2010: ( ) Verduras/Legumes ( ) Carne ( ) Bolachas de sal ( ) Suco natural ( ) Iogurtes ( ) Ovos ( ) Bolachas doces ( ) Suco artificial ( ) Balas/Pirulitos ( ) Arroz ( ) Café ( ) Frutas ( ) Refrigerante ( ) Chocolates ( ) Feijão ( ) Salsicha ( ) Pão ( ) Bolos/Confeitaria ( ) Maionese ( ) Leite Negativa QALU Positiva Tabela 5 Fonte: Elaborado pelo autor A Tabela 5 apresenta os itens assinalados no questionário aplicado aos pais de alunos quanto ao alimento ofertado na escola. Tabela 5 Alimentos ofertados - Questionário dos pais de alunos/ Elói Mendes Alimento Arroz Feijão Verduras/Legumes Carne Frutas Iogurtes Ovos Salsicha Leite Suco natural Pão Refresco artificial Café Balas/Pirulitos Bolos/Confeitaria Maionese Chocolates Refrigerante Bolachas de sal Bolachas doces Ocorrências 65 65 64 63 62 55 42 35 32 27 15 13 12 6 6 5 3 2 1 0 Porcentagem (%) 98,48 98,48 96,67 95,45 93,94 83,33 63,64 53,03 48,48 40,91 22,73 19,70 18,18 9,09 9,09 7,58 4,55 3,03 1,52 0 Fonte: Elaborada pelo autor 96 Indagada sobre a existência de algum alimento no cardápio que não é recomendado para a alimentação de crianças da idade escolar, a nutricionista do PNAE de Elói Mendes/MG ponderou que o cardápio é totalmente elaborado de acordo com a Resolução/CD/FNDE nº 038/2009 (CD/FNDE, 2009). O artigo 17º da Resolução/CD/FNDE nº 038/2009 traz no inciso I que a aquisição dos gêneros alimentícios com os recursos do FNDE: “É proibida para as bebidas com baixo teor nutricional tais como refrigerantes, refrescos artificiais e outras bebidas similares” (CD/FNDE, 2009, p.1). Nota-se, porém, que na Tabela 5, tanto o refrigerante quanto o refresco artificial aparecem várias vezes. Não é possível deduzir que o município está contrariando o PNAE, já que há contrapartida de recursos para a compra de alimentos, mas considerando que o alimento é proibido pelas resoluções do FNDE, pode-se dizer que a prática não confere com as diretrizes do programa. A educação alimentar e nutricional está em todos os lugares e, ao mesmo tempo, não está em lugar nenhum. Não basta a tecnologia e informações sobre hábitos alimentares, mas sim ações educativas e para o processo de mudanças das práticas alimentares das populações (SANTOS, 2005). A Tabela 6 apresenta os produtos comprados da agricultura familiar de 2011 a 2013. As verduras, raízes e frutas são destaque no volume adquirido. Estes dados conferem com o apontamento da nutricionista através da entrevista. Tabela 6 Classe de produtos adquiridos da agricultura familiar/ Elói Mendes Classe de produtos Café Derivado de leite Derivado de leite Doce Farinha Fruta Grão Ovo Quitanda Raiz Verdura Unidade KG KG L KG KG KG KG DZ KG KG KG Total 805 1.620 5.680 252 1.820 11.428,5 1.800 200 573 16.162 21.253,4 Fonte: Elaborada pelo autor 97 Dadas as análises, é preciso reconhecer que a proposição 10 é assertiva, embora nos últimos anos tenha havido progresso no sentido de promover a educação alimentar e mudança de hábitos alimentares das crianças em idade escolar. 4.2 Análise dos dados do estudo de caso de Monsenhor Paulo/MG O Quadro 26 e a Tabela 7 analisam a Proposição 01 – Os programas voltados para agricultura familiar que possibilitam o fornecimento direto de alimento para as escolas públicas estão em pleno funcionamento. Quadro 26 Asserção da proposição 01/ Monsenhor Paulo Coleta Questão Asserção EEXT De 06 a 09 - Número de produtores de 2010 a 2013 11 - Antes de 2010 os produtores familiares já forneciam alimentos para a prefeitura ou escolas? 01 - Quando foi instituído o CAE no município? Positiva EEXT ECAE ECAE ENUT ENUT ADOC ADOC 02 - O CAE tem fiscalizado a documentação necessária para prestar contas dos gastos com alimentação com recursos do FNDE? 01 - Há quanto tempo há nutricionista elaborando os cardápios de escolas públicas do município? 08 - Há recursos suficientes para receber, armazenar e distribuir os alimentos da agricultura familiar para as escolas públicas do município? As chamadas públicas estão sendo realizadas no município? O volume comprado da agricultura familiar é coerente com o número de alunos do município? Negativa Positiva Em 2009 Positiva Tem fiscalizado. Positiva Desde 2010 Positiva “Mas deixa a desejar quanto ao transporte.” Positiva Negativa Fonte: Elaborado pelo autor O município de Monsenhor Paulo/MG realizou apenas uma chamada pública entre 2010 e 2013. De acordo com o representante da EMATER local, o volume consumido pelas escolas públicas é pequeno e não há demanda para muitos produtores. O número de produtores que participaram da chamada pública iniciada em 2011 é de apenas seis. Na ata de reunião para elaboração da chamada pública apareceram apenas quatro produtores rurais. 98 A Tabela 7 revela que o município tem resultados baixos nas aquisições de alimentos da agricultura familiar, embora tenha uma participação importante no volume de recursos de contrapartida. O valor médio empregado na alimentação diária de cada aluno é de R$ 1,12. Na mesma um dado relevante é a crescente redução do número de alunos nas escolas públicas do município de 2011 para 2013. Tabela 7 Recursos para alimentação escolar/ Monsenhor Paulo Ano Valor PNAE Contrapartida Est./Mun. Agricultura familiar Part./AF Nº de crianças 2010 2011 2012 2013 57.721,60 55.620,00 59.928,00 63.500,00 236.769,60 101.420,06 123.831,25 140.354,76 157.527,17 523.133,24 0,00 0,00 5.916,92 0,00 5.916,92 0,00% 00,0% 9,87% 0,00% 9,87% 770 897 869 844 3.380 Fonte: Elaborada pelo autor a partir de <http://portal.inep.gov.br/basica-censo> Quanto ao apoio da prefeitura para armazenamento dos produtos e distribuição, segundo a nutricionista, atende bem a demanda. Apenas na zona rural, onde há cerca de 100 crianças, a alimentação é levada semanalmente porque não há geladeira nas escolas rurais. Do ponto de vista da implantação, é possível afirmar que o município de fato está participando dos programas. A contratação da nutricionista, por exemplo, já é um resultado positivo do PNAE e quanto à realização de chamada pública, o município conseguiu realizar uma. A análise da documentação de aquisição apurou que a primeira chamada foi publicada no dia 12/05/2011, mas a compra dos produtos ocorreu no ano de 2012. A coleta de dados ocorreu em janeiro de 2014 e revelou que as últimas autorizações para aquisição foram no mês de agosto de 2012. De acordo com representantes do setor de compras da prefeitura, há uma equipe muito pequena para providenciar o processo de aquisição por chamada pública, o que impossibilitou a realização de outras chamadas. Considera-se, portanto que a proposição 01 é assertiva. O Quadro 27 analisa a Proposição 02 – A renda dos produtores rurais da agricultura familiar que fornecem alimentos com base nas resoluções do FNDE aumentou após a aplicação do PNAE. 99 Quadro 27 Asserção da proposição 02/ Monsenhor Paulo Coleta Questão Asserção QPRO 14 - Sua propriedade passou a vender para outros clientes em função de fornecer para Prefeitura/escolas? 15 - Quanto ao fornecimento de alimentos para a prefeitura (Alimentação escolar): ( ) Há planos para aumentar ( ) Não pretende aumentar ( ) Pretende reduzir 18 - O dinheiro que sobra da produção agrícola fornecida para a prefeitura/escolas é utilizado para: ( ) Comprar mais terra ( ) Reformar as instalações de moradia ( ) Comprar equipamentos ( ) Comprar insumos e sementes ( ) Outras demandas ( ) Nunca sobrou dinheiro desta atividade 21 - A possibilidade de fornecer alimentos para prefeitura causou algum impacto financeiro para sua família: ( ) Melhorou ( ) Manteve-se da mesma forma ( ) Piorou Nos últimos quatro anos houve melhoria de vida perceptível para os agricultores da agricultura familiar do município? Negativa QPRO QPRO QPRO EEXT Positiva Há planos de aumentar: 100% Positiva Compra de insumos, sementes e equipamentos. Positiva Melhorou Positiva Fonte: Elaborado pelo autor Segundo o representante da EMATER, uma das propriedades que começou a fazer parte do programa passou a produzir hortaliças para fornecer à prefeitura, e hoje, estes produtos representam cerca de 30% da renda da propriedade. Ele afirmou que a melhoria da renda foi significativa e que já está sendo realizada uma feira livre para venda de produtos da agricultura familiar que sobram da produção fornecida para a prefeitura. Todos os produtores pesquisados afirmaram que a renda melhorou a partir do fornecimento para a prefeitura. Portanto, a proposição 02 é assertiva. O Quadro 28 e os Gráficos 7 e 8 analisam a Proposição 03 – A qualidade da alimentação escolar melhorou depois que as resoluções do FNDE passaram a exigir que o cardápio escolar fosse elaborado por nutricionista qualificado. A entrevista com a nutricionista confirmou que a alimentação fornecida nas escolas do município é saudável e o cardápio variado. Não há comércio de alimentos nas escolas e a merenda é fornecida a todas as crianças. Quanto à educação alimentar ela considerou ainda 100 em estágio inicial, mas já existe um trabalho realizado pela própria nutricionista no sentido de conscientizar os alunos. Quanto ao apoio a desenvolvimento local sustentável, já existe a iniciativa de adquirir alimentos da agricultura familiar, porém ainda não atingiu o mínimo de 30% previsto no PNAE. A nutricionista ponderou a educação alimentar deveria fazer parte do currículo escolar para atingir os níveis desejáveis já que as atividades físicas têm diminuído com a disseminação de tecnologias como a Internet e os jogos virtuais. Quadro 28 Asserção da proposição 03/ Monsenhor Paulo Coleta Questão Asserção ENUT 09 - A Lei no. 11.947/2003 e a Resolução/CD/FNDE nº 38/2009 estabelecem três diretrizes importantes: a) o emprego de alimentação saudável e adequada, compreendendo o uso de alimentos variados, seguros, que respeitem a cultura, as tradições e os hábitos alimentares saudáveis; b) amplia a abrangência da educação alimentar e nutricional no processo de ensino e aprendizagem, que perpassa pelo currículo escolar, abordando o tema alimentação e nutrição e o desenvolvimento de práticas saudáveis de vida; c) explicita o apoio ao desenvolvimento sustentável, e que exige que sejam aplicados incentivos para a aquisição de gêneros alimentícios diversificados, produzidos em âmbito local e preferencialmente pela agricultura familiar. Em sua opinião estes três objetivos têm sido atingidos? 10 - Do ponto de vista nutricional, a alimentação destinada às crianças das escolas públicas melhorou nos últimos quatros anos? Quais foram os principais fatores responsáveis por esta melhoria? 18 - Seu(a) filho(a) já reclamou da alimentação oferecida na escola a partir de 2010? 23 - Marque com um “x” o alimento oferecido na merenda escolar de seu(a) filho(a) a partir de 2010. Positiva ENUT QALU QALU Positiva Negativa Positiva Fonte: Elaborado pelo autor O Gráfico 7 expressa a opinião de que a maioria das crianças não reclama da alimentação que recebe, mas há um número expressivo de crianças que às vezes reclamam. 101 Gráfico 7 Reclamação quanto à alimentação/ Monsenhor Paulo Fonte: Elaborado pelo autor De acordo com o Gráfico 8 os alimentos que mais aparecem no questionário de pais de alunos são: feijão, frutas, arroz, carnes e legumes/verduras. Quanto ao refrigerante é possível perceber que apareceu em cerca de 5% das respostas. Gráfico 8 Itens oferecidos na merenda nas escolas/ Monsenhor Paulo Fonte: Elaborado pelo autor 102 Conclui-se que a proposição 03 é assertiva, com base na entrevista com a nutricionista e nas respostas do questionário aplicado aos pais dos alunos. Ressalta-se que o município não realizou teste de aceitabilidade dos alimentos e poderá fazê-lo com o objetivo de melhorar a aceitação da merenda. O Quadro 29 analisa a Proposição 04 – As prefeituras conseguem aproveitar 100% dos recursos oferecidos pelo FNDE, considerando as exigências do desenvolvimento local sustentável (30% destinados a Agricultura Familiar). O mesmo revela que o município realizou apenas uma chamada pública entre 2010 e 2013. Quanto ao volume adquirido, a Tabela 7 apresentou um valor muito abaixo dos trinta por cento exigidos pelo PNAE. O município comprou apenas R$ 5.916,92 no ano de 2012. Somando-se os valores repassados pelo FNDE, o valor mínimo para os quatro anos deveria ser de R$ 70.910,88 nos últimos quatro anos. Quadro 29 Asserção da proposição 04/ Monsenhor Paulo Coleta Questão ADOC Realização de chamadas públicas entre 2010 e 2013. ADOC Volumes anuais adquiridos da agricultura familiar através de chamadas públicas. Asserção Positiva Apenas uma Negativa Fonte: Elaborado pelo autor Portanto, o município não cumpre as exigências do FNDE, mas mesmo assim, segundo o setor de compras da prefeitura, não houve qualquer redução de repasse em função desta desobediência. A proposição 04 é assertiva porque o FNDE não está aplicando penalidades ao município por não comprar 30% da agricultura familiar. O Quadro 30 analisa a Proposição 05 – Os pais de alunos sabem se a alimentação de seus filhos nas escolas públicas é preparada por nutricionista. Quadro 30 Asserção da proposição 05/ Monsenhor Paulo Coleta Questão Asserção QALU 21 - Você sabe dizer se na escola de seu(a) filho(a) a merenda/alimentação é preparada por nutricionista? Negativa Não (7,5%) Sim (92,5%) Fonte: Elaborado pelo autor 103 O mesmo mostra que a grande maioria dos pais de alunos sabe que há uma nutricionista responsável pela elaboração da merenda escolar. Este dado é um importante indicador de participação dos pais e ao mesmo tempo de divulgação dos programas desenvolvidos. Portanto, a proposição 05 é assertiva. O Quadro 31, o Gráfico 9 e a Tabela 8 analisa a Proposição 06 – O conselho de Alimentação Escolar (CAE) tem sido utilizado com eficiência pela comunidade para auxiliar na fiscalização dos agentes envolvidos. Quadro 31 Asserção da proposição 06/ Monsenhor Paulo Coleta Questão Asserção QALU 24 - O CAE (Conselho de Alimentação Escolar) fiscaliza o fornecimento de alimentos na escola de seu(a) filho(a)? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sei o que é CAE Negativa ECAE 05 - As competências, composição e funcionamento do CAE são divulgados nas escolas e aos pais de alunos de todo o município? 07 - A comunidade participa efetivamente do CAE? 08 - Quantas reuniões do CAE ocorreram nos anos de 2010 a 2013? Negativa ECAE ECAE Negativa Negativa Fonte: Elaborado pelo autor O Gráfico 9, na sequencia, mostra que os pais de alunos estão relativamente bem informados sobre a existência do CAE no município. Mais de 80% dos pais responderam entre Sim e Não e apenas 18% responderam que não conhecem o CAE. A entrevista com a representante do CAE, nutricionista do município, relevou que a divulgação do CAE não é muito boa. O número de reuniões do CAE, conforme mostra a Tabela 8 pode ser considerado razoável. O CAE existe no município desde 2009. No ano de 2013, a representante do CAE afirmou que o número reduzido de reuniões (duas) foi em função de sua licença, mostrando que em município pequenos o número de pessoas envolvidas com o CAE é muito pequeno e nem sempre haverá condições de organizar reuniões em intervalos curtos. Outra revelação importante foi quanto à questão 07, onde segundo a representante do CAE, a comunidade não participa do CAE e apenas os membros nomeados vão às reuniões. 104 Gráfico 9 Atuação do CAE de acordo com pais de alunos/ Monsenhor Paulo Fonte: Elaborado pelo autor Tabela 8 Número de reuniões do CAE/ Monsenhor Paulo Ano 2010 2011 2012 2013 Número de reuniões 4 5 5 2 Fonte: Elaborado pelo autor Portanto, a proposição não é assertiva. O CAE de Monsenhor Paulo/MG não está sendo utilizado com eficiência pela comunidade. Sua constituição resultou da obrigação do PNAE. Mesmo assim, o CAE tem sua importância para fins de auxiliar na defesa dos interesses do Departamento de Alimentação junto ao Executivo da Prefeitura, segundo sua representante a partir da entrevista. O Quadro 32 analisa a Proposição 07 – Os programas vigentes de alimentação escolar contribuem para a formação de hábitos alimentares saudáveis. O questionário aplicado aos pais de alunos revelou que a maioria dos pais, 60,0%, percebeu que seus filhos passaram a comer alimentos que antes não comiam em função das mudanças no cardápio da escola. 105 Quadro 32 Asserção da proposição 07/ Monsenhor Paulo Coleta Questão Asserção QALU 20 - Você percebeu que seu(a) filho(a) passou a comer ingredientes que rejeitava antes de receber a alimentação que passou a ser fornecida na escola a partir de 2010? 03 - Há algum tipo de alimento no cardápio que não é recomendado para a alimentação de crianças da idade escolar? 11 - Em sua opinião, o que precisa melhorar para que a alimentação das crianças atinja os patamares propostos pelas políticas públicas vigentes? Negativa Não = 40,0% Sim = 60,0% ENUT ENUT Negativa Positivo Fonte: Elaborado pelo autor A nutricionista do município revelou que, às vezes, são oferecidos alimentos que não são bem recomendados. De acordo com a mesma, são oferecidos tais tipos de alimentos somente em casos especiais, como por exemplo, o refrigerante é oferecido na ocorrência de uma festa de data comemorativa; exceto em ocasiões assim o suco natural é sempre servido. A nutricionista quando indagada sobre o que precisa melhorar na alimentação escolar do município, revelou que poderiam existir mais incentivos para a agricultura familiar, melhoria de estruturas, aumento de mão de obra e cozinhas melhores. Sendo assim, a proposição 07 é assertiva, principalmente pelo resultado do questionário aplicado aos pais de alunos. O Quadro 33 analisa a Proposição 08 – Os pais de alunos conhecem o CAE e participam de suas atividades. Quadro 33 Asserção da proposição 08/ Monsenhor Paulo Coleta Questão Asserção QALU 24 - O CAE (Conselho de Alimentação Escolar) fiscaliza o fornecimento de alimentos na escola de seu(a) filho(a)? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sei o que é CAE 10) Qual a ordem de esforço dedicado ao bom funcionamento do CAE conforme os grupos de representação: ( ) Poder executivo ( ) Entidades de docentes/discentes e trabalhadores da educação ( ) Pais de alunos ( ) Entidades civis Negativa ECAE 1º) poder executivo 2º) pais de alunos 3º) prof. da educação 4º) sociedade civil. Fonte: Elaborado pelo autor 106 O Gráfico 9 indica que 76% dos pais de alunos reconhecem que o CAE cumpre seu papel de fiscalizador. Percebe-se ainda que o número de pais que revelaram não conhecer o CAE é de 21%, o que representa uma boa divulgação do conselho, embora, a representante do CAE tenha revelado na entrevista que o CAE é pouco divulgado. A entrevista com a representante do CAE revela, porém, que o poder executivo é o grupo que mais se preocupa com o funcionamento do CAE, seguindo pelos pais de alunos. Em última posição aparece a sociedade civil. Portanto, a proposição 08 é assertiva. O CAE é conhecido pela maioria dos pais de alunos das escolas de Monsenhor Paulo. O Quadro 34 analisa a Proposição 09 – A burocracia constitui barreira para o fornecimento de alimentos por agricultores familiares às prefeituras e escolas públicas. Quadro 34 Asserção da proposição 09/ Monsenhor Paulo Coleta Questão Asserção QPRO 17 - Qual sua maior dificuldade para começar a fornecer para Prefeitura? ( ) Margem de lucro - Preço ( ) Providenciar a documentação exigida ( ) Garantir a qualidade exigida ( ) Entregar os produtos na data solicitada ( ) Saber qual a necessidade da prefeitura antes de plantar ( ) Demora/atraso no pagamento Positiva EEXT 03 - Qual o papel do técnico extensionista quanto ao PNAE? 04 - Qual o papel do técnico extensionista quanto ao PAA? Positiva EEXT Positiva Fonte: Elaborado pelo autor O formulário de pesquisa aplicado aos produtores apontou que o maior desafio para os produtores é a demora no pagamento. Um dos produtores, porém, reconheceu que todas as opções apresentadas no questionário constituem dificuldades para o produtor que precisa se dedicar a mão de obra rural e não dispõe de tempo para cuidar dos assuntos ‘burocráticos’. O representante da EMATER, em entrevista, disse que o papel da mesma quanto ao PNAE é de capitalizar os produtores e auxiliar na integração com os processos da prefeitura e escolas. Quanto ao PAA revelou-se que ainda não existem aquisições no município. Há alguns produtores que fornecem para o PAA do município vizinho – Varginha/MG. 107 A proposição 09 é assertiva porque os produtores precisam de apoio na participação das chamadas públicas e nem sempre conseguem este apoio do órgão extensionista. O Quadro 35 e as Tabelas 9 e 10 analisam a Proposição 10 – A dieta alimentar fornecida sob orientação de nutricionista em escolas públicas inclui alimentos considerados inapropriados para crianças ou fora dos padrões recomendados pelo CFN. Quadro 35 Asserção da proposição 10/ Monsenhor Paulo Coleta Questão Asserção ENUT 03 - Há algum tipo de alimento no cardápio que não é recomendado para a alimentação de crianças da idade escolar? 23 - Marque com um “x” o alimento oferecido na merenda escolar de seu(a) filho(a) a partir de 2010: ( ) Verduras/Legumes ( ) Carne ( ) Bolachas de sal ( ) Suco natural ( ) Iogurtes ( ) Ovos ( ) Bolachas doces ( ) Suco artificial ( ) Balas/Pirulitos ( ) Arroz ( ) Café ( ) Frutas ( ) Refrigerante ( ) Chocolates ( ) Feijão ( ) Salsicha ( ) Pão ( ) Bolos/Confeitaria ( ) Maionese ( ) Leite Negativa QALU Positiva Fonte: Elaborado pelo autor A Tabela 9 apresenta os produtos comprados da agricultura familiar através da única chamada pública do município. Apenas frutas, grãos e verduras totalizando 2,1 toneladas. Tabela 9 Classe de produtos adquiridos da agricultura familiar/Monsenhor Paulo Classe de produtos Frutas Grãos Verduras Unidade KG KG KG Total 869,1 804,0 433,2 Fonte: Elaborada pelo autor Na entrevista, a nutricionista afirmou que em ocasiões especiais alguns alimentos não recomendados como refrigerantes e sucos artificiais são oferecidos aos alunos, mas disse também que a qualidade da merenda melhorou depois que o FNDE estimulou a compra da agricultura familiar. 108 Tabela 10 Alimentos ofertados - Questionário dos pais de alunos/ Monsenhor Paulo Alimento Balas/Pirulitos Refrigerante Bolachas de sal Suco artificial Chocolates Maionese Bolos/Confeitaria Bolachas doces Iogurtes Suco natural Ovos Pão Leite Salsicha Café Verduras/Legumes Carne Arroz Frutas Feijão Ocorrências 1 2 4 5 7 7 8 22 30 37 39 39 40 40 41 42 42 42 42 42 Porcentagem 2.38 4.76 9.52 11.90 16.67 16.67 19.04 52.38 71.42 88.09 92.85 92.85 95.23 95.23 97.61 100 100 100 100 100 Fonte: Elaborada pelo autor Dadas as análises, reconhece-se que a proposição 10 é assertiva, embora nos últimos anos tenha havido progresso no sentido de promover a educação alimentar e mudança de hábitos alimentares das crianças em idade escolar. 4.3 Análise dos dados do estudo de caso de Varginha/MG O Quadro 36 e a Tabela 11 analisam a Proposição 01 – Os programas voltados para agricultura familiar que possibilitam o fornecimento direto de alimento para as escolas públicas estão em pleno funcionamento. Segundo o representante da EMATER, o município de Varginha/MG tem cerca de 500 produtores familiares. Ele não soube precisar o número a cada ano, mas destacou que a EMATER do município atende cerca de 700 produtores rurais anualmente, incluindo todos os portes. Destacou ainda que este trabalho de extensão rural inclui orientações para aproximar o 109 produtor dos programas em andamento; as mesmas servem para: (a) ajudar o agricultor; (b) ajudara a associação; (c) ajudar na aproximação com o programa – inclusive, orientando ele em todos os aspectos: de produção, de comercialização e nas reuniões da prefeitura. Quadro 36 Asserção da proposição 01/ Varginha Coleta Questão Asserção EEXT De 06 a 09 - Número de produtores de 2010 a 2013 Positiva EEXT 11 - Antes de 2010 os produtores familiares já forneciam alimentos para a prefeitura ou escolas? 01 - Quando foi instituído o CAE no município? Negativa ECAE ECAE ENUT ENUT ADOC ADOC 02 - O CAE tem fiscalizado a documentação necessária para prestar contas dos gastos com alimentação com recursos do FNDE? 01 - Há quanto tempo há nutricionista elaborando os cardápios de escolas públicas do município? 08 - Há recursos suficientes para receber, armazenar e distribuir os alimentos da agricultura familiar para as escolas públicas do município? As chamadas públicas estão sendo realizadas no município? O volume comprado da agricultura familiar é coerente com o número de alunos do município? Positiva Em 1996 Positiva Tem fiscalizado. Positiva Desde 1993 Positiva “A estrutura é bacana... ...a logística funciona” Positiva Fonte: Elaborado pelo autor Segundo a nutricionista de Varginha/MG, o município conta com serviço de nutricionista desde 1993. Há um setor responsável pela compra, distribuição e cardápio das escolas públicas municipais com infraestrutura e apoio dos demais órgãos envolvidos. 110 Tabela 11 Recursos para alimentação escolar/Varginha Ano Valor PNAE Contrapartida Est./Mun. Agricultura familiar Part./AF Nº de crianças 2010 2011 2012 2013 622.804,00 755.280,00 831.828,00 913.040,80 3.122.952,80 1.457.650,69 1.741.963,20 2.029.291,18 2.215.988,05 7.444.893,12 0,00 492.423,99 564.395.98 420.452,00 1.477.271,97 0,00% 65,19% 67,85% 46,04% - 9.963 11.398 11.063 11.001 43.425 Fonte: Elaborada pelo autor a partir de <http://portal.inep.gov.br/basica-censo> As chamadas públicas estão sendo realizadas desde 2011. No ano de 2010 houve iniciativa de abrir a primeira chamada, mas não houve participação dos produtores, portanto, a chamada foi classificada como deserta. Quanto ao volume comprado da agricultura familiar, verificou-se que o município tem conseguido comprar mais de 30% do valor repassado pelo FNDE. No ano de 2013, o valor atingiu 67,85%. Portanto, a proposição 01 é assertiva. O Quadro 37 e o Gráfico 10 analisam a Proposição 02 - A renda dos produtores rurais da agricultura familiar que fornecem alimentos com base nas resoluções do FNDE aumentou após a aplicação do PNAE. No mesmo, a questão 14 revela que para a maioria dos produtores o fornecimento para a prefeitura não significa expansão do mercado para o produtor da agricultura familiar. Mas é importante observar que mais de 40% dos produtores reconhecem que fornecer para a prefeitura abra oportunidades no mercado local. A maioria dos produtores pesquisados revelou que pretende aumentar o fornecimento para a prefeitura. 111 Quadro 37 Asserção da proposição 02/ Varginha Coleta Questão Asserção QPRO 14 - Sua propriedade passou a vender para outros clientes em função de fornecer para Prefeitura/escolas? 15 - Quanto ao fornecimento de alimentos para a prefeitura (Alimentação escolar): ( ) Há planos para aumentar ( ) Não pretende aumentar ( ) Pretende reduzir 18 - O dinheiro que sobra da produção agrícola fornecida para a prefeitura/escolas é utilizado para: ( ) Comprar mais terra ( ) Reformar as instalações de moradia ( ) Comprar equipamentos ( ) Comprar insumos e sementes ( ) Outras demandas ( ) Nunca sobrou dinheiro desta atividade 21 - A possibilidade de fornecer alimentos para prefeitura causou algum impacto financeiro para sua família: ( ) Melhorou ( ) Manteve-se da mesma forma ( ) Piorou Nos últimos quatro anos houve melhoria de vida perceptível para os agricultores da agricultura familiar do município? Negativa Não: 53,84% Positiva Há planos para aumentar: 69,23% QPRO QPRO QPRO EEXT Positiva Positiva Melhorou: 76,92% Positiva Fonte: Elaborado pelo autor O Gráfico 10 mostra que os recursos que sobram desta atividade são utilizados, essencialmente, para compra de insumos e sementes e compra de equipamentos. A questão 21 indica o reconhecimento por parte dos produtores familiares de que o fornecimento para o PNAE melhora a condição econômica do produtor familiar, 23,01% acreditam que a condições não sofreram alterações. Mas nenhum dos produtores pesquisados respondeu que a as condições pioraram. 112 Gráfico 10 Destinação da receita com vendas para o PNAE/ Varginha Fonte: Elaborado pelo autor Conclui-se que a proposição 02 é assertiva, ou seja, houve melhoria de renda para os produtores da agricultura familiar que forneceram alimentos através do PNAE no município de Varginha/MG. O Quadro 38 e os Gráficos 11 e 12 analisam a Proposição 03 – A qualidade da alimentação escolar melhorou depois que as resoluções do FNDE passaram a exigir que o cardápio escolar fosse elaborado por nutricionista qualificado. A entrevista com a nutricionista revelou que em Varginha/MG a prefeitura terceirizou a merenda escolar com o objetivo de melhorar a qualidade tanto da merenda quanto dos serviços prestados. Após dar início às aquisições de produtos da agricultura familiar a diversidade aumentou e possibilitou a elaboração de um cardápio mais rico. De acordo com a mesma, a merenda escolar é satisfatória, haja vista a diversidade e o boa apresentação dos alimentos, além de até mesmo alguns classificados como orgânicos. Além disso, o município já conta com o leite há muitos anos na merenda e recentemente passou a servir iogurte e queijo. O único enlatado que consta no cardápio é o atum – que foi a melhor opção de peixe considerando as dificuldades de logística e aceitação das crianças. 113 Quadro 38 Asserção da proposição 03/ Varginha Coleta Questão Asserção ENUT 09 - A Lei no. 11.947/2003 e a Resolução/CD/FNDE nº 38/2009 estabelecem três diretrizes importantes: a) o emprego de alimentação saudável e adequada, compreendendo o uso de alimentos variados, seguros, que respeitem a cultura, as tradições e os hábitos alimentares saudáveis. b) amplia a abrangência da educação alimentar e nutricional no processo de ensino e aprendizagem, que perpassa pelo currículo escolar, abordando o tema alimentação e nutrição e o desenvolvimento de práticas saudáveis de vida. c) explicita o apoio ao desenvolvimento sustentável, e que exige que sejam aplicados incentivos para a aquisição de gêneros alimentícios diversificados, produzidos em âmbito local e preferencialmente pela agricultura familiar. Em sua opinião estes três objetivos têm sido atingidos? Positiva “Está em conformidade.” “Este trabalho de educação nutricional acontece pelo menos três vezes, por ano, em cada escola.” “Os produtores se preocupam em sempre fornecer alimentos porque sabem que é uma renda garantida.” ENUT 10 - Do ponto de vista nutricional, a alimentação destinada às crianças das escolas públicas melhorou nos últimos quatros anos? Quais foram os principais fatores responsáveis por esta melhoria? 18 - Seu(a) filho(a) já reclamou da alimentação oferecida na escola a partir de 2010? 23 - Marque com um “x” o alimento oferecido na merenda escolar de seu(a) filho(a) a partir de 2010. Positiva QALU QALU “Com certeza!” Negativa Positiva Fonte: Elaborado pelo autor O Gráfico 11 indica que a maioria das crianças não reclama da alimentação que recebe, mas há um número expressivo de crianças que, às vezes, reclamam. De acordo com a nutricionista ainda não foi realizado teste de aceitabilidade no município. De acordo com o Gráfico 12 os alimentos que mais aparecem no questionário de pais de alunos são: arroz, feijão, fruta, carne, verdura e legume, pão, suco natural e leite. Refrigerantes, balas e pirulitos aparecem em menos de 10% das respostas. 114 Gráfico 11 Reclamação quanto à alimentação/ Varginha Fonte: Elaborado pelo autor Gráfico 12 Itens oferecidos na merenda nas escolas de Varginha Fonte: Elaborado pelo autor Conclui-se que a proposição 03 é assertiva, com base na entrevista com a nutricionista e nas respostas do questionário aplicado aos pais dos alunos. O Quadro 39 analisa a Proposição 04 - As prefeituras conseguem aproveitar 100% dos recursos oferecidos pelo FNDE, considerando as exigências do desenvolvimento local sustentável (30% destinados a Agricultura Familiar). 115 Quadro 39 Asserção da proposição 04/ Varginha Coleta Questão ADOC Realização de chamadas públicas entre 2010 e 2013. ADOC Volumes anuais adquiridos da agricultura familiar através de chamadas públicas. Asserção Positiva Iniciou a partir de 2011. Positivo Fonte: Elaborado pelo autor A primeira chamada pública de Varginha/MG, aberta em 2010, foi classificada como deserta porque não houve propostas de agricultores. Em 2011 e 2012 houve apenas uma chamada por ano. Em 2013 o município realizou duas chamadas públicas. Os volumes adquiridos da agricultura familiar estão acima do limite mínimo determinado pelas resoluções do FNDE. Portanto, o município cumpre as exigências do FNDE, o que garante a assertividade da proposição 04. O Quadro 40 analisa a Proposição 05 – Os pais de alunos sabem se a alimentação de seus filhos nas escolas públicas é preparada por nutricionista. O mesmo mostra que a grande maioria dos pais de alunos sabe que há uma nutricionista responsável pela elaboração da merenda escolar. Quadro 40 Asserção da proposição 05/ Varginha Coleta QALU Questão Asserção 21 - Você sabe dizer se na escola de seu(a) filho(a) a merenda/alimentação é preparada por nutricionista? Negativa Não (25,0%) Sim (75,0%) Fonte: Elaborado pelo autor Considera-se este dado como um importante indicador de participação dos pais e ao mesmo tempo de divulgação dos programas desenvolvidos. Portanto, a proposição 05 é assertiva. O Quadro 41 e o Gráfico 13 analisam a Proposição 06 – O conselho de Alimentação Escolar (CAE) tem sido utilizado com eficiência pela comunidade para auxiliar na fiscalização dos agentes envolvidos. 116 Quadro 41 Asserção da proposição 06/ Varginha Coleta Questão Asserção QALU 24 - O CAE (Conselho de Alimentação Escolar) fiscaliza o fornecimento de alimentos na escola de seu(a) filho(a)? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sei o que é CAE 05 - As competências, composição e funcionamento do CAE são divulgados nas escolas e aos pais de alunos de todo o município? 07 - A comunidade participa efetivamente do CAE? 08 - Quantas reuniões do CAE ocorreram nos anos de 2010 a 2013? Negativa ECAE ECAE ECAE Negativa Negativa Negativa Fonte: Elaborado pelo autor O Gráfico 13 mostra que a maioria dos pais de alunos não conhece o CAE. De acordo com a representante do conselho, desde 1996 o CAE vem fiscalizando o uso dos recursos destinados à alimentação escolar. A participação da comunidade deixa a desejar. A representante revelou ainda que o trabalho de divulgação do CAE nas comunidades fica a cargo dos diretores de escola e depende do entendimento de cada um para realizar a divulgação. Gráfico 13 Atuação do CAE de acordo com pais de alunos/ Varginha Fonte: Elaborado pelo autor O número de reuniões do CAE, conforme revelou sua representante é de uma reunião a cada dois meses em média. No ano de 2013 foram seis reuniões. 117 O grupo de representantes que tem maior atuação no CAE é dos profissionais da educação seguindo dos representantes do executivo. Os pais só se preocupam quando há falta de merenda na escola. A comunidade não tem participação ativa. Com base nas informações da representante do CAE e questionário aplicado aos pais de alunos pode-se concluir que o CAE de Varginha não em sido utilizado com eficiência pela comunidade, portanto, a proposição 06 não é assertiva. O Quadro 42 analisa a Proposição 07 – Os programas vigentes de alimentação escolar contribuem para a formação de hábitos alimentares saudáveis. Quadro 42 Asserção da proposição 07/ Varginha Coleta Questão Asserção QALU 20 - Você percebeu que seu(a) filho(a) passou a comer ingredientes que rejeitava antes de receber a alimentação que passou a ser fornecida na escola a partir de 2010? Negativa Não = 63,7% Sim = 36,3% ENUT 03 - Há algum tipo de alimento no cardápio que não é recomendado para a alimentação de crianças da idade escolar? 11 - Em sua opinião, o que precisa melhorar para que a alimentação das crianças atinja os patamares propostos pelas políticas públicas vigentes? Negativa ENUT Positivo Fonte: Elaborado pelo autor O questionário aplicado aos pais de alunos revelou que 36,3%, perceberam que seus filhos passaram a comer alimentos que antes não comiam em função das mudanças no cardápio da escola. De acordo com a nutricionista o cardápio das escolas municipais é rico e variado. Os alunos do turno matutino recebem um café da manhã quando chegam, no intervalo recebem frutas e ao saírem recebem uma refeição equivalente ao almoço. Os alunos do vespertino ao chegarem recebem uma refeição, e mais tarde frutas e café. A nutricionista revelou que a alimentação é composta essencialmente por frutas, folhosos, legumes, laticínios, carne e ovos. Os produtos da agricultura familiar apresentam boa qualidade e são frequentemente fiscalizados pela vigilância sanitária e pelos representantes do CAE. Ela destacou que nos últimos anos houve um aumento no valor do repasse do FNDE para cada aluno e, consequentemente, este aumento resultou na melhoria da qualidade dos alimentos, mas ponderou também que este valor ainda é insuficiente e precisa ser complementado pelo município – conforme foi constatado no sítio do FNDE a partir dos 118 dados disponibilizados ao público. O valor médio diário de contrapartida por criança é de R$ 0,85. A proposição 07 é assertiva, mesmo considerando que o formulário aplicado aos pais de alunos sobre a mudança de hábitos das crianças em função da diversidade do cardápio e trabalho de educação alimentar realizado nas escolas do município. O Quadro 43 analisa a Proposição 08 – Os pais de alunos conhecem o CAE e participam de suas atividades. Quadro 43 Asserção da proposição 08/ Varginha Coleta Questão Asserção QALU 24 - O CAE (Conselho de Alimentação Escolar) fiscaliza o fornecimento de alimentos na escola de seu(a) filho(a)? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sei o que é CAE 10) Qual a ordem de esforço dedicado ao bom funcionamento do CAE conforme os grupos de representação: ( ) Poder executivo ( ) Entidades de docentes/discentes e trabalhadores da educação ( ) Pais de alunos ( ) Entidades civis Negativa Não sei o que é CAE: 71% ECAE 1º) prof. da educação 2º) poder executivo 3º) pais de alunos 4º) sociedade civil. Fonte: Elaborado pelo autor O formulário aplicado aos pais de alunos revelou que a grande maioria desconhece o CAE. Embora, a própria representante do CAE admitiu falha no processo de divulgação que fica a cargo dos diretores de escola, percebe-se que os pais não procuram uma forma de participação nas políticas voltadas para a alimentação escolar. A entrevista com a representante do CAE revelou, porém, que o grupo que mais se preocupa com o funcionamento do CAE é formado pelos profissionais da educação, seguindo pelos representantes do executivo. Os pais de alunos só se manifestam em caso de falta de merenda. A sociedade civil não participa ativamente. Portanto, a proposição 08 não é assertiva. O CAE não é conhecido pela maioria dos pais de alunos das escolas de Varginha/MG. O Quadro 44 analisa a Proposição 09 – A burocracia constitui barreira para o fornecimento de alimentos por agricultores familiares às prefeituras e escolas públicas. 119 Quadro 44 Asserção da proposição 09/ Varginha Coleta Questão Asserção QPRO 17 - Qual sua maior dificuldade para começar a fornecer para Prefeitura? ( ) Margem de lucro - Preço ( ) Providenciar a documentação exigida ( ) Garantir a qualidade exigida ( ) Entregar os produtos na data solicitada ( ) Saber qual a necessidade da prefeitura antes de plantar ( ) Demora/atraso no pagamento Positiva EEXT 03 - Qual o papel do técnico extensionista quanto ao PNAE? 04 - Qual o papel do técnico extensionista quanto ao PAA? Positiva EEXT Positiva Fonte: Elaborado pelo autor O formulário de pesquisa aplicado aos produtores apontou que o maior desafio para os do gênero familiar está relacionado à demora ou atraso no pagamento por parte da prefeitura, seguido por providenciar a documentação necessária e saber a necessidade antes de plantar. Quanto à demora ou atraso no pagamento, segundo informações do setor de compras, a prefeitura tem mantido o prazo regular. Mas ao mesmo tempo este prazo requer adequação do produtor acostumado a receber imediatamente pelas vendas de produtos agrícolas. Quanto ao planejamento do plantio, segundo informações fornecidas pelo representante da EMATER, já existem iniciativas para organizar e planejar o plantio com informações obtidas junto aos setores de alimentação e aquisição da prefeitura. No que diz respeito à documentação, a EMATER tem orientado os produtores e incentivado a criação de associações com pessoas encarregas de auxiliar os produtores e organizar o fornecimento. A entrevista com o representante da EMATER mostrou que o papel do extensionista vai além do apoio técnico especializado. Há um trabalho de conscientização dos produtores buscando desenvolver a emancipação. Uma das linhas de desenvolvimento é o incentivo à formação de associações. O extensionista revelou que reunir e organizar os produtores ainda são o maior desafio. Nos últimos anos, principalmente após a resolução 038/2009 do FNDE (CD/FNDE, 2009) os resultados foram melhores. Considera-se que a proposição 09 não é assertiva. Os produtores podem contar com o apoio da EMATER e quando dispostos conseguem fornecer produtores para a prefeitura. 120 Mesmo com a formação de uma associação o município ainda precisa adquirir produtores da agricultura familiar vizinha, demonstrando que ainda há campo para aumento do fornecimento. O Quadro 45 e a Tabela 12 analisam a Proposição 10 – A dieta alimentar fornecida sob orientação de nutricionista em escolas públicas inclui alimentos considerados inapropriados para crianças ou fora dos padrões recomendados pelo CFN. Quadro 45 Asserção da proposição 10/ Varginha Coleta Questão Asserção ENUT 03 - Há algum tipo de alimento no cardápio que não é recomendado para a alimentação de crianças da idade escolar? 23 - Marque com um “x” o alimento oferecido na merenda escolar de seu(a) filho(a) a partir de 2010: ( ) Verduras/Legumes ( ) Carne ( ) Bolachas de sal ( ) Suco natural ( ) Iogurtes ( ) Ovos ( ) Leite ( ) Bolachas doces ( ) Suco artificial ( ) Balas/Pirulitos ( ) Arroz ( ) Café ( ) Frutas ( ) Refrigerante ( ) Chocolates ( ) Feijão ( ) Salsicha ( ) Pão ( ) Bolos/Confeitaria ( ) Maionese Negativa QALU Positiva Fonte: Elaborado pelo autor Segundo a nutricionista, o município tem conseguido bons resultados na merenda escolar após iniciar as compras da agricultura familiar. Os produtos possuem boa qualidade e a aceitação é satisfatória. Um dos diferenciais conquistados nos últimos anos foi a compra de derivados do leite como iogurtes e também café. 121 Tabela 12 Alimentos ofertados - Questionário dos pais de alunos/Varginha Alimento Verduras/Legumes Carne Bolachas de sal Suco natural Iogurtes Ovos Leite Bolachas doces Suco artificial Balas/Pirulitos Arroz Café Frutas Refrigerante Chocolates Feijão Salsicha Pão Bolos/Confeitaria Maionese Ocorrências 146 147 110 141 117 98 132 101 34 13 153 80 147 9 19 152 83 141 67 24 Porcentagem 92.99% 93.63% 70.06% 89.81% 74.52% 62.42% 84.08% 64.33% 21.66% 8.28% 97.45% 50.96% 93.63% 5.73% 12.10% 96.82% 52.87% 89.81% 42.68% 0.15% Fonte: Elaborada pelo autor O questionário aplicado aos pais de alunos revelou que há oferta de alimentos como refrigerantes e refrescos artificiais, prática não recomendada pelas resoluções do FNDE, portanto, a proposição 10 é assertiva. 122 4.4 Análise dos dados do estudo de caso de Pouso Alegre/MG O Quadro 46 e o Gráfico 14 e a Tabela 13 analisam a Proposição 01 – Os programas voltados para agricultura familiar que possibilitam o fornecimento direto de alimento para as escolas públicas estão em pleno funcionamento. Quadro 46 Asserção da proposição 01/ Pouso Alegre Coleta Questão Asserção EEXT De 06 a 09 - Número de produtores de 2010 a 2013 Positiva EEXT 11 - Antes de 2010 os produtores familiares já forneciam alimentos para a prefeitura ou escolas? 01 - Quando foi instituído o CAE no município? Negativa “Sim, muito pouco.” Positiva “Em 2000” Positiva ECAE ECAE ENUT ENUT ADOC ADOC 02 - O CAE tem fiscalizado a documentação necessária para prestar contas dos gastos com alimentação com recursos do FNDE? 01 - Há quanto tempo há nutricionista elaborando os cardápios de escolas públicas do município? 08 - Há recursos suficientes para receber, armazenar e distribuir os alimentos da agricultura familiar para as escolas públicas do município? As chamadas públicas estão sendo realizadas no município? O volume comprado da agricultura familiar é coerente com o número de alunos do município? Positiva Desde 2010 Positiva Positiva Positiva Fonte: Elaborado pelo autor A entrevista com o extensionista da EMATER revelou que o número de produtores do município vem crescendo muito desde 2010, conforme mostra o Gráfico 14. Ao todo, 598 novos produtores foram cadastrados em quatro anos. 123 Gráfico 14 Crescimento da agricultura familiar/ Pouso Alegre Fonte: Elaborado pelo autor Segundo o representante do CAE, o conselho participa dos processos de compra juntamente com a nutricionista analisando a qualidade dos produtos e se atendem às necessidades nutricionais definidas nos editais. A nutricionista do município revelou que há onze anos o cardápio tem sido elaborado por profissional qualificado e há recursos suficientes para receber, armazenar e distribuir os alimentos da agricultura familiar para as escolas públicas do município. Tabela 13 Recursos para alimentação escolar/Pouso Alegre Ano 2010 2011 2012 2013 Total Valor PNAE 1.165.330,00 1.151.880,00 1.310.976,00 1.472.832,00 5.101.018,00 Contrapartida Est./Mun. Agricultura familiar Part./AF Nº de crianças 1.942.631,70 2.360.293,19 2.726.247,28 3.161.672,62 10.190.844,79 0,00 334.850,80 523.930,90 720.686,53 1.579.468,23 0,00% 29,04% 39,96% 48,93% - 14.575 17.018 16.765 17.126 65.666 Fonte: Adaptado pelo autor a partir de <http://portal.inep.gov.br/basica-censo> A Tabela 13 apresenta o volume de recursos repassados pelo FNDE, que correspondem a uma média de R$ 0,38 por aluno para cada dia letivo. A complementação da prefeitura representa quase o dobro do valor repassado pelo FNDE e eleva o valor por aluno para cada dia letivo a R$ 1,16. Nota-se que o município nos anos de 2012 e 2013 comprou mais de 30% da agricultura familiar, sendo neste último ano, quase a metade dos recursos repassados pelo FNDE. 124 Considera-se que a proposição 01 é assertiva. Em Pouso Alegre os programas voltados para a alimentação escolar e agricultura familiar estão em pleno funcionamento. O Quadro 47 analisa a Proposição 02 – A renda dos produtores rurais da agricultura familiar que fornecem alimentos com base nas resoluções do FNDE aumentou após a aplicação do PNAE. A questão 14 do mesmo buscou identificar se o fornecimento para a prefeitura abriu mercado para o produtor. No caso de Pouso Alegre/MG, 100% dos produtores responderam que não houve abertura de mercado em função de fornecer para a prefeitura. A justificativa pode ser o fato de que a maioria dos produtores que responderam o questionário faz parte de uma cooperativa de produtores de morango, que já estão acostumados a vender seus produtores em feiras, mercados e à margem da rodovia. Todos os produtores que responderam ao questionário demonstraram interesse em aumentar o fornecimento para a prefeitura. Esta questão tem forte ligação com o preço pago pela prefeitura, que na visão de todos participantes da pesquisa é melhor do que o preço pago pelo mercado, em geral. Quadro 47 Asserção da proposição 02/ Pouso Alegre Coleta QPRO QPRO QPRO QPRO EEXT Questão Asserção 14 - Sua propriedade passou a vender para outros clientes Negativa em função de fornecer para Prefeitura/escolas? 15 - Quanto ao fornecimento de alimentos para a Positiva prefeitura (Alimentação escolar): Há planos para ( ) Há planos para aumentar aumentar: 100% ( ) Não pretende aumentar ( ) Pretende reduzir 18 - O dinheiro que sobra da produção agrícola fornecida Positiva para a prefeitura/escolas é utilizado para: ( ) Comprar mais terra A grande maioria utiliza os recursos ( ) Reformar as instalações de moradia ( ) Comprar equipamentos para compra de ( ) Comprar insumos e sementes sementes e ( ) Outras demandas insumos. ( ) Nunca sobrou dinheiro desta atividade 21 - A possibilidade de fornecer alimentos para prefeitura Positiva causou algum impacto financeiro para sua família: ( ) Melhorou Melhorou: 100% ( ) Manteve-se da mesma forma ( ) Piorou Nos últimos quatro anos houve melhoria de vida Positiva perceptível para os agricultores da agricultura familiar do município? Fonte: Elaborado pelo autor 125 A grande maioria dos produtores (66,7%) revelou que aplica os recursos obtidos com a venda de produtos para a prefeitura em insumos e sementes. De acordo com o extensionista da EMATER, nos últimos anos, houve uma melhoria de vida significativa para os produtores da agricultura familiar que fornecem alimentos para a alimentação escolar. Portanto, a proposição 02 é assertiva. O Quadro 48 e os Gráficos 15 e 16 analisam a Proposição 03 – A qualidade da alimentação escolar melhorou depois que as resoluções do FNDE passaram a exigir que o cardápio escolar fosse elaborado por nutricionista qualificado. Quanto à questão 09 do referido quadro, a nutricionista do município afirmou que as três diretrizes do FNDE estão sendo cumpridas. Nos últimos quatro anos, a alimentação escolar seguiu o padrão que já estava implantado anteriormente, principalmente no caso dos hortifrútis. A melhoria foi quanto ao padrão de qualidade dos produtos no processo de aquisição e rapidez da entrega. Quadro 48 Asserção da proposição 03/ Pouso Alegre Coleta Questão Asserção ENUT 09 - A Lei no. 11.947/2003 e a Resolução/CD/FNDE nº 38/2009 estabelecem três diretrizes importantes: a) o emprego de alimentação saudável e adequada, compreendendo o uso de alimentos variados, seguros, que respeitem a cultura, as tradições e os hábitos alimentares Saudáveis; b) amplia a abrangência da educação alimentar e nutricional no processo de ensino e aprendizagem, que perpassa pelo currículo escolar, abordando o tema alimentação e nutrição e o desenvolvimento de práticas saudáveis de vida; c) explicita o apoio ao desenvolvimento sustentável, e que exige que sejam aplicados incentivos para a aquisição de gêneros alimentícios diversificados, produzidos em âmbito local e preferencialmente pela agricultura familiar. Em sua opinião estes três objetivos têm sido atingidos? 10 - Do ponto de vista nutricional, a alimentação destinada às crianças das escolas públicas melhorou nos últimos quatros anos? Quais foram os principais fatores responsáveis por esta melhoria? Positiva ENUT QALU QALU 18 - Seu(a) filho(a) já reclamou da alimentação oferecida na escola a partir de 2010? 23 - Marque com um “x” o alimento oferecido na merenda escolar de seu(a) filho(a) a partir de 2010. Positiva Positiva Positiva Fonte: Elaborado pelo autor 126 Observando o Gráfico 15, na sequencia, é possível perceber que o índice de aceitação da merenda é muito bom. Cerca de 70% das crianças nunca reclamaram da alimentação oferecida nas escolas públicas do município. Quando indagada sobre o que precisa melhorar na alimentação escolar para atingir os patamares exigidos pelas políticas vigentes a nutricionista destacou a educação nutricional e revelou que o número de profissionais disponível é insuficiente. A mesma acredita que a Educação Nutricional deva ser melhor e mais intensamente trabalhada nas escolas – talvez como disciplina curricular mesmo. O trabalho da nutrição nesse sentido pode ser mais eficaz com a colaboração da própria escola, tendo em vista que o número de profissionais disponíveis para esse serviço, ao contrário do que prevê a resolução CNF nº 358/2005, é insuficiente. Gráfico 15 Reclamação quanto à alimentação/ Pouso Alegre Fonte: Elaborado pelo autor O Gráfico 16 indica que os alimentos com maior frequência na merenda escolar são: o feijão, o arroz, a carne, as verduras e legumes, o leite, o pão, as frutas, a salsicha e os ovos. O refrigerante, explicitamente citado como não recomendado pelo FNDE, aparece em 30% das respostas. Este dado chama a atenção quando se analisa os resultados gerais da alimentação escolar do município. 127 Gráfico 16 Itens oferecidos na merenda nas escolas/ Pouso Alegre Fonte: Elaborado pelo autor Conclui-se que a alimentação escolar no município melhorou após a exigência de profissional de nutrição para elaboração dos cardápios. Portanto, a proposição 03 é assertiva. O Quadro 49 analisa a Proposição 04 – As prefeituras conseguem aproveitar 100% dos recursos oferecidos pelo FNDE, considerando as exigências do desenvolvimento local sustentável (30% destinados a Agricultura Familiar). Quadro 49 Asserção da proposição 04/ Pouso Alegre Coleta Questão Asserção ADOC Realização de chamadas públicas entre 2010 e 2013. ADOC Volumes anuais adquiridos da agricultura familiar através de chamadas públicas. Positiva 8 chamadas públicas Positiva Fonte: Elaborado pelo autor O município de Pouso Alegre/MG não realizou chamada pública em 2010. No ano de 2011 foram duas chamadas públicas com aquisição de aproximadamente 29% dos valores repassados pelo FNDE. Em 2012 e 2013 o município realizou três chamadas públicas por ano com um volume de aquisições de R$ 523.930,90 (39,9%) e R$ 720.686,53 (48,9%), respectivamente. 128 Embora o município não tenha conseguido realizar chamadas públicas no ano de 2010, os volumes adquiridos da agricultura familiar foram expressivos nos últimos dois anos, ultrapassando significativamente o mínimo estipulado pelo FNDE de 30%. Portanto, a proposição 04 é assertiva. O Quadro 50 analisa a Proposição 05 – Os pais de alunos sabem se a alimentação de seus filhos nas escolas públicas é preparada por nutricionista. O mesmo mostra que a maioria dos pais de alunos não sabe que há uma nutricionista responsável pela elaboração do cardápio da merenda escolar de seus filhos. Ressalta-se este dado como uma forte indicação de pouca participação da comunidade nas políticas públicas. Portanto, a proposição 05 não é assertiva. Quadro 50 Asserção da proposição 05/ Pouso Alegre Coleta QALU Questão 21 - Você sabe dizer se na escola de seu(a) filho(a) a merenda/alimentação é preparada por nutricionista? Asserção Negativa Não (58,51%) Sim (41,49%) Fonte: Elaborado pelo autor O Quadro 51 e o Gráfico 17 analisam a Proposição 06 – O conselho de Alimentação Escolar (CAE) tem sido utilizado com eficiência pela comunidade para auxiliar na fiscalização dos agentes envolvidos. Quadro 51 Asserção da proposição 06/ Pouso Alegre Coleta Questão Asserção QALU 24 - O CAE (Conselho de Alimentação Escolar) fiscaliza o fornecimento de alimentos na escola de seu(a) filho(a)? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sei o que é CAE Negativa ECAE 05 - As competências, composição e funcionamento do CAE são divulgados nas escolas e aos pais de alunos de todo o município? 07 - A comunidade participa efetivamente do CAE? 08 - Quantas reuniões do CAE ocorreram nos anos de 2010 a 2013? Negativa ECAE ECAE Negativa Negativa Fonte: Elaborado pelo autor De acordo com o Gráfico 17 percebe-se que o CAE precisa de incentivo para funcionar como instrumento de participação da comunidade. Com 76% dos pais 129 desinformados quanto ao papel do CAE, em um município com cerca de 130 mil habitantes, a participação ainda constitui grande desafio para o empoderamento das comunidades. Gráfico 17 Atuação do CAE de acordo com pais de alunos/ Pouso Alegre Fonte: Elaborado pelo autor Ainda, a entrevista com a representante do CAE revelou que apenas os diretores de escolas e coordenadores são informados sobre a competência e objetivos do conselho, para que estes divulguem a comunidade escolar. Quanto às reuniões, o representante do CAE afirmou que elas ocorrem a cada dois meses. Nos últimos quatro anos o CAE de Pouso Alegre/MG tem fiscalizado e acompanhado a distribuição de merenda nas escolas, mas nenhuma ação especial mereceu destaque. De acordo com o mesmo, o CAE desenvolve ações de fiscalização nas unidades escolares, acompanhamento da distribuição da merenda, qualidade dos produtos, condições estruturais das escolas e creches. Além disso, também se estão sendo adquiridos produtos da agricultura familiar – 80% dos hortifrútis são da agricultura familiar, com produtos de excelente qualidade. Considerando que o CAE foi formado no ano de 2000 e que os conselheiros se reúnem bimestralmente para fiscalizar e acompanhar a distribuição da merenda nas escolas, a proposição 06 é assertiva. Ressalta-se também que, de acordo com os resultados, deixa-se a participação dos pais e divulgação para as comunidades. O Quadro 52 analisa a Proposição 07 – Os programas vigentes de alimentação escolar contribuem para a formação de hábitos alimentares saudáveis. 130 Quadro 52 Asserção da proposição 07/ Pouso Alegre Coleta Questão Asserção QALU 20 - Você percebeu que seu(a) filho(a) passou a comer ingredientes que rejeitava antes de receber a alimentação que passou a ser fornecida na escola a partir de 2010? Positiva Não = 46,6% Sim = 53,4% ENUT 03 - Há algum tipo de alimento no cardápio que não é recomendado para a alimentação de crianças da idade escolar? 11 - Em sua opinião, o que precisa melhorar para que a alimentação das crianças atinja os patamares propostos pelas políticas públicas vigentes? Positiva “Não” ENUT Positivo Fonte: Elaborado pelo autor O questionário aplicado aos pais de alunos revelou que 53,4% dos pais perceberam que seus filhos passaram a comer alimentos que antes não comiam em função das mudanças no cardápio da escola. É importante destacar que ainda há alguns alimentos no cardápio que não são recomendados pelo FNDE. Um destes alimentos é o refrigerante que apareceu em 30% das respostas dos alunos. A proposição 07 é assertiva principalmente pelo resultado do questionário aplicado aos pais de alunos. O Quadro 53 analisa a Proposição 08 - Os pais de alunos conhecem o CAE e participam de suas atividades. 131 Quadro 53 Asserção da proposição 08/ Pouso Alegre Coleta Questão Asserção QALU 24 - O CAE (Conselho de Alimentação Escolar) fiscaliza o fornecimento de alimentos na escola de seu(a) filho(a)? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sei o que é CAE 10) Qual a ordem de esforço dedicado ao bom funcionamento do CAE conforme os grupos de representação: ( ) Poder executivo ( ) Entidades de docentes/discentes e trabalhadores da educação ( ) Pais de alunos ( ) Entidades civis Negativa ECAE (1) Poder executivo (2) Profissionais da educação (3) Pais de alunos (4) Entidades civis Fonte: Elaborado pelo autor O Gráfico 17 indica que 76% dos pais de alunos não sabem o que é CAE e a entrevista com a representante do CAE revelou que o poder executivo é o grupo que mais se preocupa com o funcionamento do CAE, seguindo pelos profissionais da educação. Em última posição aparece a sociedade civil. Portanto, a proposição 08 não é assertiva. O CAE não é conhecido pela maioria dos pais de alunos das escolas de Pouso Alegre/MG. O Quadro 54 analisa a Proposição 09 – A burocracia constitui barreira para o fornecimento de alimentos por agricultores familiares às prefeituras e escolas públicas. O formulário de pesquisa aplicado aos produtores apontou que o maior desafio é providenciar a documentação exigida. Na entrevista, o representante da EMATER disse que seu papel quanto ao PNAE é acompanhar e emitir o atestado de produção, após a visita realizada na propriedade do agricultor familiar, auxiliar na elaboração do projeto e acompanhar os produtores nas chamadas públicas. Quanto ao PAA, o trabalho começa com a identificação dos produtores e entidades articuladoras interessadas nas vendas pelo PAA. 132 Quadro 54 Asserção da proposição 09/ Pouso Alegre Coleta Questão Asserção QPRO 17 - Qual sua maior dificuldade para começar a fornecer para Prefeitura? ( ) Margem de lucro - Preço ( ) Providenciar a documentação exigida ( ) Garantir a qualidade exigida ( ) Entregar os produtos na data solicitada ( ) Saber qual a necessidade da prefeitura antes de plantar ( ) Demora/atraso no pagamento Negativa EEXT EEXT 03 - Qual o papel do técnico extensionista quanto ao PNAE? 04 - Qual o papel do técnico extensionista quanto ao PAA? Providenciar a documentação exigida = 100% Positiva Positiva Fonte: Elaborado pelo autor De acordo com os resultados a proposição 09 é assertiva. O produtor necessita de apoio para providenciar a documentação exigida no fornecimento para a prefeitura. O Quadro 55 e a Tabela 14 analisam a Proposição 10 – A dieta alimentar fornecida sob orientação de nutricionista em escolas públicas inclui alimentos considerados inapropriados para crianças ou fora dos padrões recomendados pelo CFN. Quadro 55 Asserção da proposição 10/ Pouso Alegre Coleta Questão Asserção ENUT 03 - Há algum tipo de alimento no cardápio que não é recomendado para a alimentação de crianças da idade escolar? 23 - Marque com um “x” o alimento oferecido na merenda escolar de seu(a) filho(a) a partir de 2010: ( ) Verduras/Legumes ( ) Carne ( ) Bolachas de sal ( ) Suco natural ( ) Iogurtes ( ) Ovos ( ) Leite ( ) Bolachas doces ( ) Suco artificial ( ) Balas/Pirulitos ( ) Arroz ( ) Café ( ) Frutas ( ) Refrigerante ( ) Chocolates ( ) Feijão ( ) Salsicha ( ) Pão ( ) Bolos/Confeitaria ( ) Maionese Negativa “Não” QALU Positiva Fonte; Elaborado pelo autor Observa-se na Tabela 14 que há grande diversidade nos alimentos e destaque para alimentos tradicionais da culinária mineira, como o arroz e o feijão. O alimento que mais 133 chama a atenção é o refrigerante porque de acordo com as resoluções do FNDE deve ser evitado. Tabela 14 Alimentos ofertados - Questionário dos pais de alunos/ Pouso Alegre Alimento Chocolates Balas/Pirulitos Maionese Refrigerante Iogurtes Bolos/Confeitaria Suco natural Suco artificial Bolachas doces Café Bolachas de sal Ovos Salsicha Frutas Pão Leite Verduras/Legumes Carne Arroz Feijão Ocorrências 28 38 38 44 57 66 70 70 80 85 89 102 126 127 128 131 138 138 142 142 Porcentagem 19.44% 26.39% 26,39% 30.56% 39.58% 45.83% 48.61% 48.61% 55.56% 59.03% 61.81% 70.83% 87.50% 88.19% 88.89% 90.97% 95.83% 95.83% 98.61% 98.61% Fonte: Elaborada pelo autor A proposição 10 é assertiva, essencialmente por causa do refrigerante servido na merenda escolar do município. 4.5 Discussão O Quadro 56, na sequência, apresenta um resumo das asserções de todos os municípios pesquisados, objetivando melhor visualização para entendimento do cruzamento de dados e entendimento da discussão. 134 Quadro 56 Resumo das asserções de todos os municípios pesquisados Nº Proposição Elói Mendes Monsenhor Varginha Paulo Pouso Alegre 01 Os programas voltados para agricultura familiar que possibilitam o fornecimento direto de alimento para as escolas públicas estão em pleno funcionamento. 02 A renda dos produtores rurais da agricultura familiar que fornecem alimentos com base nas resoluções do FNDE aumentou após aplicação do PNAE. 03 A qualidade da alimentação escolar melhorou depois que as resoluções do FNDE passaram a exigir que o cardápio escolar seja elaborado por nutricionista qualificado. 04 As prefeituras conseguem aproveitar 100% dos recursos oferecidos pelo FNDE, considerando as exigências do desenvolvimento local sustentável (30% destinados a Agricultura Familiar). 05 Os pais de alunos sabem se a alimentação de seus filhos nas escolas públicas é preparada por nutricionista. 06 O conselho de Alimentação Escolar (CAE) tem sido utilizado com eficiência pela comunidade para auxiliar na fiscalização dos agentes envolvidos. 07 Os programas vigentes de alimentação escolar contribuem para a formação de hábitos alimentares saudáveis. 08 Os pais de alunos conhecem o CAE e participam de suas atividades. 09 A burocracia constitui barreira para o fornecimento de alimentos por agricultores familiares às prefeituras e escolas públicas. 10 A dieta alimentar fornecida sob orientação de nutricionista em escolas públicas inclui alimentos considerados inapropriados para crianças ou fora dos padrões recomendados pelo CFN. Fonte: Elaborado pelo autor 135 Conforme mostra o Quadro 56, apenas três proposições teóricas não se confirmaram em todos os municípios. O município de Elói Mendes/MG teve o maior número de asserções negativas associadas à divulgação dos programas, do funcionamento do CAE e participação da comunidade. Como solução, algumas iniciativas podem ser adotadas para melhorar a atuação dos conselhos, de acordo com Belik e Chaim (2009) a realizaçãode de curso de capacitação e criação de uma rede de apoio local podem fomentar a participação da população. Quadro 57 Legenda das variáveis e instrumento de coleta Legenda Variável Questão do instrumento aplicado Estudo de Caso Instituição Aluno Questão 16 1 2 3 4 Questão 17 5 Questão 18 6 Questão 19 7 Questão 20 8 Questão 21 9 Questão 22 10 Questão 24 11 Questão 25 12 Identificador do Município Identificador da escola Identificador do aluno Seu(a) filho(a) se-alimenta da merenda oferecida na escola a partir de 2010? 0: Todos os dias 1: Depende do cardápio 2: Não - Sempre leva merenda de casa Seu(a) filho(a) costuma elogiar a alimentação que recebe na escola a partir de 2010? 0: Às vezes 1: Sempre 2: Nunca elogiou Seu(a) filho(a) já reclamou da alimentação oferecida na escola a partir de 2010? 0: Às vezes 1: Sempre 2: Nunca reclamou Seu(a) filho(a) considera o cardápio da escola muito diferente do cardápio de casa? 0: Sim 1:Não Você percebeu que seu(a) filho(a) passou a comer ingredientes que rejeitava antes de receber a alimentação que passou a ser fornecida na escola a partir de 2010? 0: Sim 1:Não Você sabe dizer se na escola de seu(a) filho(a) a merenda/alimentação é preparada por nutricionista? 0: Sim 1:Não Sempre há oferta de merenda na escolha de seu(a) filho(a)? 0: Sim 1:Não O CAE (Conselho de Alimentação Escolar) fiscaliza o fornecimento de alimentos na escola de seu(a) filho(a)? 0: Sim 1:Não 2: Não sei o que é CAE Você sabe quais alimentos oferecidos na escola são fornecidos por produtores locais (Agricultura familiar)? 0: Sim 1: Não Fonte: Elaborado pelo autor 136 Os dados coletados pelo formulário de pais de alunos foram analisados estatisticamente, conforme descrito nos procedimentos metodológicos. O Quadro 57 apresenta as variáveis analisadas por estatística descritiva e correlacionadas a partir do Coeficiente de Correlação de Pearson. A Tabela 15 apresenta os dados da estatística descritiva das variáveis com intervalo de confiança de 95%. Tabela 15 Estatística descritiva - Formulário de pais de alunos Questão -> Média Erro padrão Mediana Modo Desvio padrão Variância da amostra Curtose Assimetria Intervalo Mínimo Máximo Soma Contagem Nível de conf. (95%) Q16 Q17 Q18 Q19 Q20 Q21 Q22 Q24 Q25 0.4987 0.0292 0 0 0.5908 0.5724 0.0336 0 0 0.6797 1.2825 0.0470 2 2 0.9501 1.4398 0.0287 1 1 0.5793 1.5257 0.0294 2 2 0.5944 1.2923 0.0346 1 1 0.6987 1.1302 0.0349 1 1 0.7055 1.1719 0.0538 2 2 1.0872 1.6707 0.0356 2 2 0.7189 0.3491 0.4620 0.9027 0.3356 0.3533 0.4881 0.4977 1.1821 0.5169 -0.4438 -0.4303 -1.4618 2.2865 3.1740 2.9114 2.9859 -1.0356 6.6706 0.7246 0.4918 -0.6431 -0.9091 -1.3371 -1.2991 -1.2887 -0.7620 -2.61165 2 3 3 3 3 3 3 3 3 0 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 203 233 522 586 621 526 460 477 680 407 407 407 407 407 407 407 407 407 0.0575 0.0662 0.0925 0.0564 0.0579 0.0680 0.0687 0.1059 0.0700 Fonte: Elaborada pelo autor Observando a Tabela 16 percebe-se que não há correlações significativas entre as variáveis analisadas. De acordo com Filho e Júnior (2009) coeficientes com valor até 0,29 indicam pouca correlação. Acima deste valor já podem ser considerados de média correlação. As correlações entre as variáveis 1, 2 e 3 não trazem significados para análise porque se referem ao município, escola e aluno, respectivamente, que naturalmente, estão correlacionados e não agregam valor à interpretação. A única correlação significativa (0,33) se refere às questões 243 e 254 que tratam do conhecimento por parte dos pais de alunos quanto ao CAE e conhecimento sobre as 3 Questão 24: O CAE (Conselho de Alimentação Escolar) fiscaliza o fornecimento de alimentos na escola de seu(a) filho(a)? 4 Questão 25: Você sabe quais alimentos oferecidos na escola são fornecidos por produtores locais (Agricultura familiar)? 137 aquisições de merenda da agricultura familiar. Nota-se que os que mais conhecem o CAE e sabem de suas competências tem mais chances de saber que a merenda está sendo adquirida da agricultura familiar. Tabela 16 Tabela do coeficiente de Correlação de Pearson Variáveis de 1 a 12 conforme Quadro 57 Var. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1.00 0.94 0.85 -0.28 0.00 0.16 0.01 -0.08 0.02 1 0.94 1.00 0.88 -0.29 0.00 0.15 0.04 -0.08 0.08 2 0.85 0.88 1.00 -0.33 0.06 0.18 0.04 -0.12 0.03 3 -0.28 -0.29 -0.33 1.00 -0.04 -0.19 -0.13 0.21 0.03 4 0.00 0.00 0.06 -0.04 1.00 0.28 -0.08 0.02 -0.03 5 0.16 0.15 0.18 -0.19 0.28 1.00 0.03 -0.05 0.01 6 0.01 0.04 0.04 -0.13 -0.08 0.03 1.00 0.07 0.01 7 -0.08 -0.08 -0.12 0.21 0.02 -0.05 0.07 1.00 0.14 8 0.02 0.08 0.03 0.03 -0.03 0.01 0.01 0.14 1.00 9 10 -0.05 -0.01 -0.03 0.10 0.02 -0.09 0.02 0.21 0.15 0.12 0.14 0.18 0.05 -0.05 0.00 0.00 0.03 0.18 11 0.08 0.05 -0.01 0.05 -0.04 0.04 -0.01 0.09 0.23 12 10 11 12 -0.05 0.12 0.08 -0.01 0.14 0.05 -0.03 0.18 -0.01 0.10 0.05 0.05 0.02 -0.05 -0.04 -0.09 0.00 0.04 0.02 0.00 -0.01 0.21 0.03 0.09 0.15 0.18 0.23 1.00 0.13 0.02 0.13 1.00 0.33 0.02 0.33 1.00 Fonte: Elaborada pelo autor O Gráfico 18 mostra que 55% dos alunos se alimentam da merenda oferecida na escola. Este número representa uma forte indicação de que a merenda agrada a maioria. Em contrapartida, 40% dos alunos só aceitam a merenda dependendo do cardápio. Portanto, há uma parte considerável dos alunos que precisam levar alimento para as escolas, considerando além destes, 5% que já levam todos os dias, de acordo os dados coletados. Gráfico 18 Alunos que consomem a merenda oferecida nas escolas Fonte: Elaborado pelo autor 138 O Gráfico 19 mostra que 50% das crianças elogiam a merenda que recebem. Considerando a diversidade do cardápio e o fato deste ser elaborado por nutricionista qualificado – pode se dizer que há muito que melhorar. O teste de aceitabilidade, aplicado geralmente quando há alterações no cardápio poderia ser utilizado para identificar os itens que menos agradam o alunado em busca de aumentar o índice de elogio. De acordo com a nutricionista do município, a equipe já realizou testes de aceitabilidade para melhorar a aceitação da merenda. Há ainda que se considerar o aspecto da educação alimentar. Os alunos precisam ser instruídos sobre a importância de uma dieta equilibrada e adequada à sua fase de desenvolvimento. Cabe à escola o papel de educar quanto alimentação adequada. Gráfico 19 Elogio da merenda pelos alunos Fonte: Elaborado pelo autor O Gráfico 20 mostra que 63% dos alunos nunca reclamaram da alimentação fornecida na escola. Por outro lado, 33% reclamam às vezes e 4% sempre reclamam. O número de alunos que disseram levar merenda todos os dias foi de 20 – aproximadamente 5% da amostra. Destes, 13 alunos nunca elogiaram, portanto, desconhecem a alimentação fornecida, e por isto não poderiam mesmo elogiar – mas 16 deles nunca reclamaram, o que é mais coerente para quem não conhece. 139 Gráfico 20 Reclamação dos alunos quanto à merenda oferecida na escola Fonte: Elaborado pelo autor Observando o Gráfico 21 é possível perceber que o número maior de respostas é quanto ao conhecimento dos alimentos oferecidos na escola fornecidos pela Agricultura Familiar. Ao todo foram 319 respostas de um total de 407. Este número aponta que o PNAE é pouco conhecimento pelos pais de alunos e desperta para a necessidade de maior divulgação nas comunidades para orientar os pais de alunos sobre o tipo de alimentação que seus filhos estão recebendo na escola. Gráfico 21 Consolidação das questões Sim ou Não Fonte: Elaborado pelo autor 140 Quanto ao segundo maior valor do Gráfico 21, questão 22 – que mostra as respostas sobre oferta de merenda na escola – tem o número também é preocupante, já que 106 alunos disseram que não é sempre que há oferta de merenda. Esta resposta pode ser um fator motivador para que outros levantamentos sejam realizados a fim de identificar se realmente as escolas deixam de oferecer a merenda conforme previsto no PNAE. De acordo com a resolução 038/209 do FNDE, em seu art. 43º, cita que a escola deve oferecer três refeições diárias. A resolução 026/2013, por sua vez, é mais exigente e estabelece a partir do seu art. 14º o mínimo de necessidades nutricionais por faixa etária. Portanto, caso a escola não esteja oferecendo merenda todos os dias deverá ser denunciada ao FNDE (CD/FNDE, 2009). Ao analisar os dados consolidados dos quatro estudos de caso, percebeu-se uma realidade aproximada. No município de Monsenhor Paulo/MG, o maior problema reside no baixo volume adquirido da agricultura familiar. Elói Mendes/MG já está muito próximo de atingir 30% e até mesmo superar esta marca. De modo geral, estes municípios ainda estão buscando formas de atender à legislação e necessitam de apoio para implementarem os programas de modo efetivo. Embora os municípios menores tenham maiores dificuldades em cumprir todas as exigências, os municípios maiores também estão encontrando dificuldades semelhantes, principalmente porque demandam mais recursos para atender todas as escolas. Em Elói Mendes/MG o que chama a atenção é o desconhecimento dos pais quanto ao CAE e pequeno número de reuniões. Ambos os municípios ainda não conseguiram comprar 30% da agricultura familiar. Nota-se que esta baixa atuação dos conselheiros pode ser o motivo de não ter atingido os 30% previstos. Os municípios de Varginha/MG e Pouso Alegre/MG já estão mais avançados quanto à aquisição da agricultura familiar. Nos últimos anos, o volume ultrapassou com folga os 30%. Quanto à participação de pais de alunos e sociedade civil, notou-se que em todos os casos estudados ainda há uma participação tímida. Este aspecto necessidade de maior atenção dos programas para estimular o desenvolvimento social e enraizar a busca pelo empoderamento das comunidades a partir de órgãos como o CAE e CMDRS. A Tabela 17 apresenta os valores consolidados de 2010 a 2013 com a proporção global da agricultura familiar. É possível perceber que os municípios de Elói Mendes/MG e Monsenhor Paulo/MG ficaram longe de atingir os 30% previstos, mas, Varginha/MG e Pouso Alegre/MG atingiram mesmo considerando que no ano de 2010 não conseguiram comprar a partir de chamadas públicas. 141 Tabela 17 Consolidação dos recursos do FNDE e contrapartida da prefeitura Município - MG Elói Mendes Monsenhor Paulo Varginha Pouso Alegre Nº de Recursos do Contrapartida Agricultura Adquirida Valor por alunos FNDE Familiar da AF (%) aluno R$ 10.133 721.542,40 1.687.512,55 128.796,31 17,85% 1,19 3.380 236.769,60 523.133,24 5.916,92 2,5% 1,12 43.425 3.122.952,80 7.444.893,12 1.477.271,97 47,3% 1,22 65.666 5.101.018,00 10.190.844,79 1.579.468,23 30,96% 1,16 Fonte: Elaborada pelo autor Quanto ao valor por aluno não há muita diferença, com um custo mais elevado para Varginha/MG que terceirizou o serviço de merenda escolar. 142 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os agricultores familiares, que nos últimos anos forneceram alimentos para a prefeitura a partir do PNAE, perceberam que o programa contribui com o seguimento e estimula a produção diversificada, com preocupação quanto à qualidade. A grande maioria quer aumentar a produção e fornecer mais produtos para a prefeitura, embora estejam limitados a R$ 20.000,00 por ano/família. Por outro lado, a alimentação escolar com cardápio elaborado por nutricionista habilitado, alimentos locais frescos e diversificados já apresenta resultados importantes de melhoria e à medida que se estabelece um sistema circular de alimentação escolar, fundamentado no desenvolvimento local sustentável. A alimentação do alunado de escolas públicas condicionada à agricultura familiar surge como um arranjo evoluído que valoriza a agricultura e estimula a participação das comunidades locais nas políticas públicas. A revisão bibliográfica apontou que a preocupação com a alimentação escolar, principalmente quanto ao aspecto da qualidade dos alimentos, tem sido pauta de debates em muitos países e provocado uma revisão das políticas que preconizam o desenvolvimento local. Este novo modelo chamado de sistema ‘circular’ opõe-se em muitos aspectos ao modelo tradicional de produção especializada de larga escala e se apoia na agricultura familiar. No Brasil as políticas públicas implantadas nos últimos anos já começaram a apresentar bons resultados tais como: (a) econômico – mediante o estímulo à produção familiar; (b) social – relacionado à participação e cidadania tanto dos pais de alunos como dos produtores rurais; (c) ambiental – referente a menores impactos do que a agricultura latifundiária. Este trabalho adotou como estratégia de pesquisa o estudo de caso múltiplo cuja unidade de análise foi o município. Para coleta de dados dos alunos e produtores rurais foi necessário desenvolver um questionário, devido à falta de instrumentos validados. Para coleta de dados junto aos representantes do CAE, EMATER e Nutricionista do PNAE foram realizadas entrevistas semiestruturadas com roteiros específicos. A pesquisa ainda contou com análise de documentos das chamadas públicas, modalidade de compra com dispensa licitação, para obter dados sobre o tipo de produto comprado, preços praticados e quantitativos por item. O maior desafio foi conseguir acesso aos documentos das chamadas públicas para obter fotocópias – já que estes estão arquivados nos setores de compras das prefeituras – seguido pela dificuldade de acesso aos produtores que forneceram para o PNAE entre os anos de 2010 e 2013 – período este de referência para a coleta. 143 Quanto à análise, utilizou-se abordagem essencialmente qualitativa por meio da análise de conteúdo das entrevistas que foram gravadas e transcritas. Os documentos de chamadas públicas foram digitalizados, tabulados e analisados qualitativamente. O formulário aplicado aos produtores foi analisado qualitativamente porque o número de resposta não foi suficiente para o mínimo de intervalo de confiança aceitável e o formulário aplicado aos alunos foi analisado quantitativamente por meio da estatística descritiva e coeficiente de correlação de Pearson. Dentre as dez proposições estudadas, apenas três não se confirmaram em todos os municípios. O município com maior número de proposições não assertivas foi Elói Mendes/MG – tratado como caso piloto. Dentre as diversas descobertas, torna-se necessário destacar que: a) Os programas voltados para aquisição de alimentos da agricultura com dispensa licitação – PAA e PNAE – estão em funcionamento em três dos municípios pesquisados; b) A renda dos produtores rurais da agricultura familiar que fornecem alimentos com base nas resoluções do FNDE aumentou após aplicação do PNAE; c) A qualidade da alimentação escolar melhorou depois que as resoluções do FNDE passaram a exigir que o cardápio escolar fosse elaborado por nutricionista qualificado; d) As prefeituras conseguem aproveitar 100% dos recursos oferecidos pelo FNDE e ainda complementam o valor para atender à demanda nutricional do alunado. Porém, algumas prefeituras não conseguem comprar o mínimo de 30% da agricultura familiar estipulados pelas resoluções do FNDE, mas, por outro lado, o fundo não aplicou penalidades nos municípios pesquisados que não atingiram a marca de 30%; e) Muitos pais de alunos (59,6%) não sabem que a alimentação de seus filhos é preparada por nutricionista; f) Embora exista Conselho de Alimentação Escolar (CAE) em todos os municípios pesquisados a comunidade não participa efetivamente ou desconhece a sua existência. A divulgação do CAE, geralmente, fica a cargo dos diretores de escolas, que nem sempre focam em divulgar continuamente; g) Os programas vigentes de alimentação escolar contribuem para a formação de hábitos alimentares saudáveis, porém ainda há escolas que fornecem alimentos não recomendados pelas resoluções do FNDE; h) A maioria dos pais de alunos de escolas públicas desconhece o CAE (65,7%) e, portanto, poucos participam de suas atividades; 144 i) Mesmo com dispensa licitação, a burocracia constitui barreira para o fornecimento de alimentos por agricultores familiares às prefeituras e escolas públicas. Os produtores não se organizaram o suficiente e carecem de apoio dos envolvidos – órgão de extensão e prefeituras. A maioria considera que providenciar a documentação exigida é o maior desafio; j) A dieta alimentar fornecida sob a orientação de nutricionista em escolas públicas inclui alimentos considerados inapropriados para crianças ou fora dos padrões recomendados pelo CFN. Esta prática se justifica pela pouca maturidade das políticas vigentes, aquisição tímida da agricultura familiar e falta de recursos humanos e infraestrutura de apoio, principalmente, nos municípios menores. O objetivo da pesquisa – de testar a proposições teóricas – foi atingido. Todos os envolvidos, de modo geral, reconhecem que os programas em funcionamento contribuem com a merenda escolar e com a agricultura familiar. O PAA e o PNAE são os principais programas que aproximam a agricultura familiar da alimentação escolar, embora, apenas o PNAE condiciona a liberação de recursos do FNDE à aquisição da agricultura familiar. O PAA limita o fornecimento por unidade familiar a R$ 5.500,00 por ano e tem como foco a promoção da segurança alimentar de famílias em situação de risco alimentar-nutricional, além de fortalecer a política agrária que busca expandir o mercado para a produção da agricultura familiar, em especial, financiadas pelo PRONAF. Com a publicação da resolução CD/FNDE nº. 038/2009 o governo regulamentou a Lei 11.947/2009 (CD/FNDE, 2009) que simplificou a liberação de recursos para a alimentação nas escolas estaduais e municipais com base no censo escolar e descentralizou os recursos para as unidades executoras das escolas de educação básica pertencentes à rede de ensino. A mesma resolução fortaleceu os órgãos fiscalizadores – como o CAE – para garantir o uso correto dos recursos liberados e instituiu um papel obrigatório para as unidades articuladoras quanto ao projeto de venda de produtos da agricultura familiar para a alimentação escolar. Os principais papéis relativos à execução do PNAE são: (a) Unidades Executoras – representadas por prefeituras, secretarias estaduais e secretaria distrital que devem manter nutricionista habilitado que assuma responsabilidade técnica do programa, possuir cozinhas e refeitórios suficientes para três refeições diárias e inserir no plano político pedagógico o tema Alimentação Saudável e Adequada; (b) CAE – formado por representantes do executivo, profissionais da educação, pais de alunos e sociedade civil, tem papel de fiscalizar o uso dos recursos destinados à alimentação escolar, qualidade da alimentação, prestar contas dos recursos repassados pelo FNDE e denunciar abusos ou irregularidades dos envolvidos; (c) 145 Órgão de extensão rural – deve cadastrar as unidades articuladoras e apoiar os produtores familiares; (d) Unidades articuladoras – representadas por associações de produtores ou sindicatos de produtores rurais deve elaborar os projetos de venda para as unidades executoras e assessorar a articulação de grupo informal com o ente público contratante na relação de compra e venda, como também, comunicar ao controle social local a existência do grupo, sendo esse representado prioritariamente pelo CAE, CMDRS e COMSEA. Nos quatro municípios pesquisados foi possível perceber que o trabalho do extensionista da EMATER é fundamental para o funcionamento dos programas PAA e PNAE. Este profissional precisa compreender bem o seu papel como veículo da pedagogia de ATER que visa dar condições para que o produtor possa andar com as próprias pernas. Os melhores exemplos de funcionamento do PNAE ocorrem em municípios onde os produtores compõem organizações formais como associações, sindicatos e conselhos, como o Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS). O técnico extensionista precisa articular organizações como a prefeitura municipal, sindicatos, instituições bancárias e produtores para estabelecer objetivos de crescimento. A pesquisa relevou que os municípios não estão aplicando o teste de aceitabilidade da merenda, previsto nas resoluções do FNDE, exceto Pouso Alegre/MG. Revelou, também que, cerca de 80% dos produtores pesquisados informaram que o fornecimento de alimentos para a prefeitura melhorou a condição econômica e revelaram que desejam aumentar a produção para atender melhor as unidades executoras. Atualmente, o limite anual do PNAE por família é de R$ 20.000,00. Por se tratar de um estudo de caso e também em função das características econômicas dos municípios pesquisados, recomenda-se muito cuidado na generalização e inferência dos resultados deste estudo. Recomenda-se ainda tomar cuidado com o aspecto temporal, haja vista que, estes programas e políticas estão em pleno processo de implantação e sujeitos a mudanças. As principais limitações deste estudo se concentram no pequeno número de produtores pesquisados, informações não padronizadas das chamadas públicas, que dificultaram uma coleta mais ampla e poucos representantes do CAE entrevistados. Também quanto a analise quantitativa o trabalho não explorou ao máximo os dados coletados carecendo de outras análises para blindagem do relatório final. Mediante o todo abordado, conclui-se que o modelo de políticas públicas adotados nos últimos anos para sanar problemas crônicos do êxodo rural, alimentação e nutrição escolar, impacto ambiental e responsabilidade social rendeu bons frutos a partir da sedimentação da 146 nova mentalidade democrática, do empoderamento e da ação coletiva para o bem geral da população e criação de mecanismos formais para execução descentralizada e favorável ao desenvolvimento local. Resta evoluir e disseminar a cultura do desenvolvimento local como forma de desenvolver de modo menos insustentável. Sugere-se que outros programas sejam implantados visando assegurar o funcionamento destas políticas que envolvem públicos carentes de informações como os agricultores familiares e que sejam coletadas informações detalhadas sobre as chamadas públicas de modo a permitir que a administração pública municipal seja cobrada pela falta de esforço e ao mesmo tempo tenha indicadores para nortear suas ações visando atingir melhores resultados nos programas. Sugere-se ainda que a divulgação destas políticas seja trabalhada pela mídia de massa com o propósito de esclarecer sobre os direitos e deveres dos envolvidos e condicionar o empoderamento das comunidades escolares e de agricultura familiar. O tema deste trabalho compreende muito mais do que agricultura familiar e alimentação escolar. Do ponto de vista social, a integração entre poder público, comunidades rurais e urbanas e sociedade civil, a partir de suas estruturas clássicas, constitui elemento essencial de democracia, com substrato fértil para desenvolver o empoderamento das classes menos favorecidas no histórico nacional. Faz-se necessário buscar respostas quanto às reais demandas de ações políticas para estimular a participação dos atores sociais a partir de estruturas já estabelecidas como o CAE e CMDRS. Neste sentido, se faz necessário o mapeamento das demandas regionais através de novas pesquisas, e traçar planos de ação que levem as comunidades, cidades e estados a constituírem alianças de combate à marginalização social por meio de representações, com ênfase na prática do direito democrático de decidir o rumo do desenvolvimento sustentável e praticável. 147 REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, R. Agricultura familiar e serviço público: novos desafios para a extensão rural. 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Porto Alegre: Bookman, 2001. 156 APÊNDICE 1 – FORMULÁRIO DE PESQUISA PARA PAIS DE ALUNOS DE ESCOLAS PÚBLICAS 157 APÊNDICE 2 – FORMULÁRIO DE PESQUISA PARA PRODUTOR DA AGRICULTURA FAMILIAR 158 APÊNDICE 3 – FOLDER DE DIVULGAÇÃO DA PESQUISA ESTUDO DE CASO Aluno autor: Área básica: Linha: Título: Objetivos: Metodologia: Pesquisadores autorizados: Instituição: Dados do orientador: Autorização para pesquisa: Márcio Henrique da Silva Orientador: Dr. Luciel Henrique de Oliveira Engenharia/Tecnologia/Gestão Políticas Públicas Avaliação das políticas públicas voltadas para a agricultura familiar e alimentação escolar que referenciam o desenvolvimento local sustentável Avaliar as políticas públicas voltadas para a agricultura familiar e alimentação escolar que referenciam o desenvolvimento local sustentável considerando o crivo dos produtores da agricultura familiar, pais de alunos de escolas públicas e outros atores diretamente envolvidos. Quanto aos objetivos específicos: • Identificar os principais programas das políticas públicas que envolvem a agricultura familiar e a alimentação de alunos de escolas públicas; • Descrever o papel dos principais atores responsáveis pela execução das políticas públicas voltadas para a agricultura familiar e a alimentação escolar; • Apontar os resultados das políticas públicas que objetivam proporcionar o desenvolvimento local sustentável através de programas em favor da agricultura familiar sob o crivo dos produtores da agricultura familiar; • Avaliar a percepção dos familiares de alunos de escolas públicas quanto à qualidade da alimentação escolar; • Avaliar a percepção dos produtores rurais que fornecem alimentos para as escolas públicas pagos com recurso do FNDE, quanto aos supostos benefícios do PNAE para a agricultura familiar; • Identificar os resultados alcançados pelo PNAE quanto à participação dos atores envolvidos. Este trabalho consiste em uma pesquisa de natureza aplicada, cuja estratégia segue as diretrizes de um estudo de caso múltiplo holístico com propósito exploratório e abordagem quanti-qualitativa. Unidade de análise: Municípios Munícipios selecionados: Elói Mendes - MG, Monsenhor Paulo - MG, Varginha - MG e Pouso Alegre - MG. Técnicas para levantamento de dados: Aplicação de questionários, entrevistas e análise de documentos. Fontes de informação: Servidores da prefeitura ligados à compra de alimentos para as escolas públicas, nutricionista responsável pelo cardápio das escolas públicas, técnico responsável pela assistência técnica aos produtores rurais, produtores rurais da agricultura familiar, membros do CAE e pais ou responsáveis por alunos de escolas públicas. Período de coleta de dados: Outubro de 2013 a janeiro de 2014. Márcio Henrique da Silva – CPF: E-mail: [email protected] - http://www.fae.br/2009/mestrado/discente.html#t3 CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES ASSOCIADAS DE ENSINO - FAE Largo Engenheiro Paulo de Almeida Sandeville, 15 CEP: 13.870-377 São João da Boa Vista - SP Fone/Fax (0xx19) 3623-3022 ou 0800-173022 E-mail: [email protected] – Site: http://www.fae.br/2009/mestrado Luciel Henrique da Oliveira [email protected] Qualificação da Banca realizada no dia 23/08/2013. 159 APÊNDICE 4 – OBSERVAÇÕES AO ENTREVISTADO NO VERSO DO FOLDER DA PESQUISA • • • • • • Observações ao entrevistado Esta entrevista tem por objetivo coletar informações sobre os programas envolvidos com a agricultura familiar e a alimentação escolar. As questões elaboradas conforme metodologia da pesquisa visam obter informações de caráter impessoal e estritamente científico. Suas respostas serão mantidas em arquivo para fins de comprovação do trabalho de campo e sua identidade será preservada. Pede-se que todas as questões sejam respondidas para não resultar no descarte da coleta. O resultado da pesquisa poderá ser obtido no site da UNIFAE (www.fae.br). Não se trata de pesquisa eleitoral ou de interesse de organização pública. 160 APÊNDICE 5 – FICHA DO REGISTRO DA ENTREVISTA FOLHA DE REGISTRO DE COLETA DE DADOS Aluno autor: Área básica: Linha: Título: Data: Caso: Contato: Entrevistado: Gravação: Anotações: Nº: Márcio Henrique da Silva Orientador: Dr. Luciel Henrique de Oliveira Engenharia/Tecnologia/Gestão Políticas Públicas Avaliação das políticas públicas voltadas para a agricultura familiar e alimentação escolar que referenciam o desenvolvimento local sustentável Local: Hora : Técnica: ( ) Questionário ( ) Entrevista não estruturada Telefones: Órgão: ( ) Áudio ( ) Vídeo Relação de documentos: Pesquisador: Lançado por: Observações: 161 APÊNDICE 6 – GLOSSÁRIO DOS TERMOS DOS QUESTIONÁRIOS Questionário – Produtor da agricultura familiar Campo Instrução 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Data da coleta - Campo obrigatório Local da coleta - Ex: Sindicato rural, na propriedade em um evento - Campo obrigatório Hora da coleta Nome completo do produtor. Ficar atente à escrita correta - Campo obrigatório Número do CPF (Cadastro de pessoa física), se não estiver disponível utilizar outro documento e informar o tipo na frente. Exemplo: M7.154.211 RG - Campo obrigatório. Localidade onde fica a propriedade. Bairro rural - Campo obrigatório. Área total da propriedade incluindo todas as glebas. Áreas com escritura. Número do telefone fixo ou celular se houver Quantidade de pessoas na família, mesma casa, onde mora o entrevistado. Considerar as pessoas que sobrevivem da renda da propriedade. Lista das atividades desenvolvidas na propriedade. As atividades devem ser lançadas na ordem de importância (renda), do maior para o menor. Ex: Agricultura cafeeira, plantio próprio, 1980. Marcar ‘sim’ apenas se houve fornecimento entre os anos de 2010 e 2013 para os programas PNAE ou PAA. Caso a resposta seja não, a pesquisa não precisa ser concluída - Campo obrigatório. Considerar apenas os produtos destinados à alimentação escolar pelo PNAE e fornecimento do PAA. Responder “sim” apenas no caso de tentativa de vender no mercado local mal sucedida antes de vender para prefeitura e bem sucedida após vender para a prefeitura. - Campo obrigatório. Considerar os programas PAA e PNAE - Campo obrigatório. Considerar o preço pago nas últimas aquisições - Campo obrigatório. Deverá ser considerada a maior dificuldade conforme lista disponível. Deverá ser considerado apenas o dinheiro que sobra da produção de alimentos ou outra atividade destinado à prefeitura (PNAE ou PAA) - Campo obrigatório. Considerar os últimos 10 anos. Para famílias que se formaram ou começaram a atividade agrícola a partir de 2010, responder sempre com “Não” - Campo obrigatório. Considerar o cenário após início do fornecimento para a prefeitura - Campo obrigatório. Considerar apenas a motivação acerca das possibilidades econômicas proporcionadas pelos programas de aquisição de alimentos da agricultura familiar. 162 Questionário – Pais de alunos de escolas públicas Campo Instrução 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 Data da coleta – Campo obrigatório Hora da coleta Nome do professor ou professora que distribuiu o formulário Nome da Escola onde a pesquisa foi realizada – Campo obrigatório Responder R para escola rural ou U para escola urbana – Campo obrigatório Nome completo do(a) aluno(a) – Campo obrigatório Série do(a) aluno(a) - Campo obrigatório Idade do(a) aluno(a) - Campo obrigatório Nome do pai ou mãe ou responsável legal Localidade no caso de escola rural Renda familiar por mês Telefone de contato do pai ou mãe ou responsável ou do próprio estudante Total de pessoas que residem na mesma casa e dependem da renda do campo 11 Considerar todos os dias mesmo caso eventualmente não se alimente da merenda da escola - Campo obrigatório Considerar sempre, caso o estudante tenha se manifestado positivamente mais de 3 vezes nos últimos anos - Campo obrigatório Considerar sempre, caso o estudante tenha se manifestado positivamente mais de 3 vezes nos últimos anos - Campo obrigatório A diferença deve ser em relação ao tipo de alimento e qualidade - Campo obrigatório Somente em caso de respostas precisa que indique qual ou quais alimentos - Campo obrigatório Para confirmar é importante perguntar desde quando sabe da existência - Campo obrigatório Em caso de dúvida ou demora em responder, considerar como NÃO - Campo obrigatório Conferir todos os alimentos da lista - Campo obrigatório Em caso de dúvidas quanto ao nome do conselho, ajudar na identificação. Certificar-se de que a resposta anterior é SIM - Campo obrigatório 163