P026 ventriculoperitoneal. Deu entrada no bloco operatório com bradicardia e hipertensão arterial. Procedeu-se à indução anestésica com tiopental (6mg/Kg), fentanil (2.5µg/Kg) e rocurónio (0.6mg/Kg) e à manutenção com sevoflurano (MAC 1%) numa mistura de O2 e ar. Um minuto antes da incisão cirúrgica, administrou-se lidocaína a 1% (1mg/Kg). O procedimento decorreu sem intercorrências. No pósoperatório imediato foi admitida na UCPA extubada e hemodinamicamente estável. Discussão A abordagem anestésica das crianças com HIC passa pela escolha adequada dos fármacos e pelo uso de medidas que impeçam o aumento da PIC e mantenham PPC adequada. A pré-medicação deve ser evitada pois pode agravar o estado de consciência, produzir hipoventilação e consequente aumento da PIC. A indução anestésica e a intubação endotraqueal são momentos particularmente críticos nestes doentes, tal como os períodos de maior estimulação cirúrgica (incisão, abertura da dura, manipulações do periósseo e encerramento). A administração de lidocaína revela-se útil nestas situações. Outras medidas como a elevação da cabeceira a 15-30º, a hiperventilação ligeira com PaCO2 entre 35-40mmHg e o uso de diuréticos são também benéficos no controlo da HIC.Tal como a indução, a extubação e o recobro devem ser calmos e controlados. Conclusão O principal objectivo da abordagem anestésica da criança com HIC, independentemente da causa, consiste em prevenir ou minimizar o risco de lesão secundária associada à HIC. Referências • ASA Refresher Courses in Anesthesiology 2006; 34(1):181193. •Contin Educ Anaesth Crit Care 2002; 2: 53-57. Anesth Clin N Am 2002; 20: 389-404. Neuroanestesia Pediátrica no Hospital Pediátrico de Coimbra Milene Ferreira*, Iria Figueira**, Angel Madrigal***, Pedro Ribeiro**** * Interna Complementar de Anestesiologia do CHVN Gaia / Espinho EPE ** Interna Complementar de Anestesiologia do Centro Hospitalar de Coimbra *** Assistente Hospitalar de Anestesiologia do Hospital Pediátrico de Coimbra **** Chefe de Serviço de Anestesiologia do Hospital Pediátrico de Coimbra 35 Resumo Introdução e Objectivos: As alterações anatomofisiológicas da criança, assim como a natureza e localização da lesão, condicionam a abordagem anestésica no perioperatório do doente neurocirúrgico pediátrico. Este trabalho tem como objectivo, a caracterização das patologias neurocirúrgicas, tipo de cirurgia, a técnica anestésica e suas complicações realizadas em pediatria no Hospital Pediátrico de Coimbra. Metodologia: Neste estudo retrospectivo, os autores efectuaram a revisão, dos doentes submetidos a procedimentos neurocirúrgicos, de Janeiro 2000 a Junho 2006 no Hospital Pediátrico de Coimbra. Foram avaliados: a idade, o sexo, estado físico (ASA), o tipo de cirurgia, tipo de admissão, duração da intervenção, técnica anestésica e complicações. Resultados: No período estudado, foram realizadas 21634 cirurgias no Hospital Pediátrico de Coimbra das quais 708 (3,3%) foram procedimentos neurocirúrgicos. As patologias mais frequentes foram as hidrocefalias, que representavam 46,53% das indicações cirúrgicas, seguidas de exérese de tumores (13,05%), TCE (11,49%), craniossinostoses (8,37%) e malformações congénitas da medula representavam (4,82%). Das 708 cirurgias 34% foram cirurgias programadas e 65% cirurgias de urgência.A maioria dos doentes eram ASA I (59,48%). Sendo a técnica anestésica mais utilizada a anestesia geral balanceada (97%).Verificaramse complicações em 2.96% de crianças no período intra.operatório, predominando alterações hemodinamicas e complicações do foro respiratório. Não se verificou nenhum caso de mortalidade intra-operatória. Revista SPA ‘ vol. 16 ‘ nº 1 ‘ Fevereiro 2007 P027 36 Discussão e comentário: Manter o fluxo sanguíneo cerebral, a pressão de perfusão, assegurar a estabilidade hemodinâmica e ventilação adequada, corrigir as alterações hidroelectrolíticas e promover uma recuperação pós operatória rápida são pontos importantes na neuroanestesia pediátrica. Nesta revisão verificamos que o número de casos de neurocirurgia pediátrica é considerável, as cirurgias de urgência predominaram neste grupo etário e a natureza dos procedimentos neurocirúrgicos é concordante com a bibliografia. O número de complicações peri-operatórias foi baixo. Este trabalho serviu de reflexão sobre as nossas práticas clínicas. Referências: • Soriano . G, “Pediatric Neuroanesthesia”; Anesthesiology Clin. N. Am. ; 20 (2002) 389-404. • Meyer “Emergency management of deeply comatose children with acute rupture of cerebral arteriovenous malformation” Can. J.Anesth.2000/47:8 p758-766. • Harrison “Sitting position for neurosurgery in children: a review of 16 years experience” British Journal of Anaesthesia 88(1):12-17 ( 2002). • Ramona “Craniosynostosis: an assessment of blood loss and transfusion practices”Can.J.Anesth 1989/36:4p473-7. A importância da história clínica I Figueira, G. Paiva Centro Hospitalar de Coimbra - Hospital Pediátrico de Coimbra Resumo Introdução: A aspiração de corpos estranhos (CE) é comum em crianças e está associada a uma alta morbilidade e mortalidade, requerendo rapidez de diagnóstico e tratamento1. Apresenta-se um caso clínico de uma criança com diagnóstico de aspiração de CE radiopaco, face à clínica e ao exame radiológico, apesar de não ter sido presenciado episódio de engasgamento. Caso Clínico: Menina de 3 anos, 16 kg, recorreu ao Serviço de Urgência por febre elevada há cinco dias e tosse persistente, por vezes estridulosa. No exame objectivo observou-se discreta polipneia, prostração.Sem SDR. Na auscultação pulmonar verifica-se um aumento do tempo expiratório e ralas no hemitórax Revista SPA ‘ vol. 16 ‘ nº 1 ‘ Fevereiro 2007 esquerdo. Saturação de O2 96%. Antecedentes pessoais: ex-prematura 33 S, canal arterial patente, tendo feito cateterismo cardíaco para encerramento. Fez radiografia tórax que mostrou imagem radiopaca no brônquio esquerdo, que foi entendida como êmbolo ou mola de esferográfica, com indicação de ser retirado. Ficou em SO, com pausa alimentar e contactou-se o Pneumologista. Foi ao BO tendo sido submetida a broncoscopia rígida sob anestesia geral endovenosa. O Pneumologista encontrou “sinais inflamatórios marcados de toda a árvore brônquica com secreções muco-purulentas, mas sem corpo estranho presente ou sinais da sua presença anterior”. Após revisão da história clínica e da radiografia do tórax, concluiu-se que a imagem correspondia a um “coil” colocado aos 23 meses de idade, para oclusão de canal arterial patente. Diagnóstico final: Traqueobronquite aguda, tendo tido alta no dia seguinte e medicada com AB. Discussão e Conclusões:. A aspiração de corpos estranhos (CE) é frequente em crianças2, sendo potencialmente fatal. Nem sempre é presenciado o episódio de esgasgamento3. Os sinais e sintomas respiratórios variam de acordo com o local de obstrução e o tempo decorrido desde o episódio agudo3. A broncoscopia rígida tem sido o procedimento de eleição4 para extracção de CE sólidos. Não deve ser adiada em crianças com dificuldade respiratória, devendo ser feita logo após o diagnóstico3. Face a uma criança com dificuldade ventilatória por aspiração de CE, cabe ao anestesista agir com rapidez não existindo, por vezes, oportunidade para um estudo clínico detalhado. A falta de uma história clínica correctamente colhida e valorizada, fez com que esta criança fosse submetida a uma anestesia geral e a um procedimento invasivo desnecessário, encontrando-se doente, com uma infecção respiratória, o que dificultou a sua recuperação imediata. Referências: 1. Swanson KL. Airway foreign bodies: what’s new? Semin Respir Crit Care Med 2004; 25: 405- 411. 2. Sumner E, Hatch D.: Pediatric Anesthesia, 2ª ed Arnold 1999; 17: 468-470. 3. Hay W. et al.: Pediatria Diagnóstico e Tratamento, 17º ed. Mc Graw-Hill 2004; 18: 416-417. 4. Ayala-Rodríguez J, Molina-Andón E, Fujarte-Victorio AS. Experiencia de una unidad de endoscopia con estudios de videobroncoscopia para el diagnóstico de patología traqueobronquial. Neumol Cir Torax 2003; 62:71-74.