AVALIAÇÃO DAS VELOCIDADES OPERACIONAIS NAS VIAS URBANAS Camila Nunes dos Santos Débora Carolina Dias da Silva Leonardo de Sousa Ramalho Rafaela Cristina Aparecida Ventura de Souza Farney Aurélio Alcântara Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais Departamento de Engenharia de Transportes RESUMO O presente artigo relata o estudo de caso do comportamento real dos usuários no trânsito, em especial nas vias urbanas, observado através da velocidade praticada por estes em cada tipo de via. Constatou-se que em vias locais, onde a fiscalização e sinalização são menores, os condutores dirigem em velocidade acima da máxima permitida e as menores ocorreram nas vias arteriais onde se espera as maiores velocidades. Estas conclusões foram obtidas por intermédio de medição de velocidades através de radar de mão em diversos pontos próximos ao Campus 1 do CEFETMG na região oeste de Belo Horizonte. ABSTRACT This article reports a case study of actual behavior of users in traffic, especially in urban roads, observed through speed practiced by them in each type of road. It was found that in local roads, where the control and signaling are smaller, the conductors run in excess of the maximum allowed speed and minor arterials which occurred at the highest expected speeds. These findings were obtained by measuring velocities through hand radar at various points near the Campus 1 CEFET-MG in the western region of Belo Horizonte. PALAVRAS CHAVE Velocidade, hierarquização viária, infração, segurança viária, radar 1. INTRODUÇÃO A hierarquização viária é fundamental para o desenvolvimento de atividades econômicas nas cidades e grandes centros urbanos. Isto porque, quando aplicada adequadamente, nota-se o bom funcionamento do trânsito, em especial, nos deslocamentos diários. Isso ocorre, em função ao tratamento diferenciado para as vias com demandas maiores, priorizando umas vias em detrimento de outras (DE OLIVEIRA, 2012). As vias estruturantes, conhecidas como arteriais e expressas, empenham prioritariamente a função de grandes deslocamentos oferecendo, portanto, um serviço de circulação voltado a acessibilidade. Nos níveis mais baixos estão as vias locais e coletoras, em que se empenham prioritariamente às funções de ingresso e de vivência local (mobilidade). Através da Hierarquização Viária é possível também distinguir a função e a capacidade de tráfego de cada via, o CTB (FEDERAL, 2002) regulamenta a velocidade máxima em conformidade com estas funções preestabelecidas. Segundo o art. 61 do referido documento fica estabelecido que a via que não possuir sinalização de regulamentadora, a velocidade máxima deverá ser: I – nas vias urbanas: oitenta quilômetros por hora, nas vias de trânsito rápido; sessenta quilômetros por hora, nas vias arteriais; quarenta quilômetros por hora, nas vias coletoras; trinta quilômetros por hora, nas vias locais; Em sequência o art. 62 determina a mínima não poderá ser menor que à metade da velocidade máxima estabelecida, respeitadas as condições operacionais de trânsito e da via. Com o adensamento urbano, novos desafios sugiram para os gestores municipais, destacando os congestionamentos de veículos e aumento dos acidentes. Os congestionamentos, são originados pelo excesso de demanda em um curto espaço de tempo. Ele ocasiona redução acentuada da velocidade, por horas, em uma curta distância, levando à perda de tempo eficiência energética (KIEFER; SANCHEZ, [S.d.]). Esses fatos são importantes para a determinação de medidas a serem tomadas nas vias urbanas, visto que, ainda que tenham sido bem planejadas, até mesmo hierarquizadas, as vias não estão imunes aos problemas. O planejamento urbano das grandes cidades brasileiras, se mostrou pouco eficiente na estimativa de frota de veículos. Um dos fatores que contribuiu para esta realidade foram os incentivos fiscais promovidos pelo governo federal com reduções de impostos. Somados a isto, o aumente do poder aquisitivo das classes B e C favoreceu a compra do automóvel. Em 2000 havia no país quase 30 milhões de veículos no trânsito, dez anos depois, houve um aumento de 119%, passando a circular aproximadamente 65 milhões. Este crescimento desgovernado da frota, e atrelado a isto, a falta de investimento na infraestrutura viária, a insuficiência da fiscalização e a falta de educação no trânsito contribuíram substancialmente para o aumento dos acidentes. O mapa de violência de 2013 (WAISELFISZ, 2013), demonstram o aumento progressivo de acidentes de trânsito. Todo ano milhares vão a óbito, gerando estatísticas assombrosas, outros milhares ficam inválidos/incapacitados. O crescimento de acidentes entre jovens de 18 e 25 anos também é um dado preocupante tendo e vista que o aumento entre essa faixa etária é maior que no quadro geral. Não existem benefícios ligados ao caos em que o trânsito brasileiro se encontra. Tendo isso em vista, é necessária ampliar a discussão sobre este assunto e tomar providências que resolvam o problema de mobilidade urbana, incluindo a conscientização da importância do deslocamento intermodal. O intuito desta pesquisa foi estudar e averiguar a real velocidade com que os usuários estão utilizando as vias. É perceptível que em vias locais, onde a fiscalização e sinalização é reduzida, os condutores tem uma tendência a andar em velocidade acima da máxima permitida. As vias locais não possuem preparo para o tráfego que tem recebido, o que também contribui para a ocorrência de acidentes. A investigação das velocidades auxiliará na regulamentação adequada para cada tipo de via, a especificação, levando em consideração o dado coletado somados aos fatores físico daquela superfície tenderão a melhorar e assegurar maior segurança no trânsito. 2. HIERAQUIZAÇÃO VIÁRIA As Vias Públicas, assim denominadas as ruas, avenidas, vielas, etc. são classificadas e colocadas em Hierarquia Viária. As vias desempenham diversas funções na vida, normalmente relacionadas com interesses distintos nas diversas funções viárias. Em Belo Horizonte (HORIZONTE, 2008), a hierarquização viária subdivide as vias em: Via Local: caracteriza-se pelo baixo volume de tráfego, com função de possibilitar o acesso direto às edificações; Via Coletora: possui a função de permitir a circulação de veículos entre as vias coletoras ou arteriais; Via Arterial: caracteriza-se pelo significativo volume de tráfego e é utilizada nos deslocamentos urbanos de maior distância, com acesso às vias lindeiras (que com ela fazem limite) devidamente sinalizado; Via de Ligação Regional: possui a função de fazer a ligação com municípios vizinhos, com acesso às vias lindeiras devidamente sinalizadas; 3. METODOLOGIA A metodologia para este estudo consistiu-se em identificar as velocidades usuais praticadas pelos condutores dentro do contexto de uma área urbana. Para realizar a coleta de dados foram escolhidos pontos na região oeste de Belo Horizonte, no bairro Nova Suíça, num raio de 600m em vias próximo ao campus 1 do CEFET-MG, os quais se alternaram entre vias locais, coletoras e vias arteriais, tendo como via arterial da pesquisa a Avenida Amazonas, a qual possui grande fluxo de veículos durante todo o dia em decorrência de sua importância na ligação da região oeste da região metropolitana de BH ao Hipercentro da cidade (ver Figura 4). Com o objetivo de conhecer a velocidade instantânea de cada veículo, foi empregado o método de base curta, que consiste em usar um dispositivo de alta precisão em um trecho da via, ou seja, o radar. O radar utilizado foi o de mão modelo Speedster fabricado pela Bushnell, o qual era apontado por um dos pesquisadores para o veículo em movimento e este dava a velocidade com uma aproximação satisfatória para este estudo. Tal aparelho possui uma pequena margem de erro, aproximadamente 2km/h, trazendo consistência as medições realizadas. As etapas da metodologia estão apresentadas na Figura 2 e descritas nos itens seguintes. Figura 2: Etapas da metodologia da pesquisa 3.1 Definição do local Uma das preocupações deste trabalho foi evitar ou minimizar variáveis que possa influenciar a velocidade do veículo. Logo, em termos de aceleração em virtude de subidas ou descidas de ladeiras foram evitadas. Considerando este fator a adoção deste local foi satisfatória, uma vez que, grande parte da área é plana e com baixa declividade. Podemos verifica que a pesquisa foi feita em vias artérias como Av. Amazonas e Silva Lobo (ver Figura 3) e ruas paralelas que podemos definir como vias coletora (ver Figura 2) e local (ver Figura 1). Figura 1 - Exemplo de rua Local (R. Oswaldo Cruz) Figura 2 - Exemplo de Coletora (R. Campos Sales) Figura 3 - Exemplo de Arterial (Av. Amazonas) 3.2 Coleta de dados As coletas das velocidades ocorreram nos meses de abril e maio de 2015, em um dia típico – quarta-feira, no período entre picos. As medições foram realizadas em pontos que permitisse que os motoristas trafegassem livremente, ou seja, reproduzindo em seu veículo a velocidade que julgar necessária de acordo com as condições da via e do tráfego. Os locais de coletas podem ser observados na Figura 4. Para esta pesquisa foi estimado 27 pontos dispersos entre vias locais, coletoras e arteriais. Entretanto, o ponto 26 não foi realizado pesquisa em virtude de condições climáticas desfavoráveis (chuva). Figura 4 - Pontos de coleta de dados Em cada ponto, mediu-se a velocidade instantânea em média de dez veículos, cujos valores foram usados para fazer uma média aritmética global de cada ponto. Como já esperado, em pontos próximos de interseções semaforizadas, constatou-se que as velocidades dos motoristas eram menores. Observou-se também que o volume de veículos na via arterial em estudo causou impacto nas velocidades instantâneas, fazendo com que as velocidades fossem mais reduzidas garantindo que as mesmas ficassem abaixo de velocidade permitida. Entretanto, já as vias locais, as quais neste período se encontravam com um fluxo consideravelmente reduzido, em alguns casos os motoristas trafegam à altas velocidades, chegando a dobrar a velocidade permitida. Outro fator que gerou impacto nas velocidades dos veículos foi a rápida percepção dos motoristas aos pesquisadores, que usavam coletes indicadores, o que fez com que os motoristas reduzissem rapidamente a velocidade. Para sanar este problema, todos os pesquisadores tiveram que trabalhar no interior do veículo de apoio da pesquisa, evitando assim a sua percepção por parte dos condutores que estavam sendo monitorados. Tal postura nas vias locais pode ser justificada pela quantidade reduzida de sinalizações horizontais e verticais nas vias, o que faz com que os motoristas fiquem mais relaxados e trafeguem com um maior grau de liberdade. 4. DISCUSSÃO E RESULTADOS Nas vias arteriais foram estudados seis pontos, estes foram distribuídos de forma homogenia ao longo da Av. Amazonas. Os dados obtidos nestes locais indicam uma velocidade média de 33 km/h e tendo como velocidade mínima e máxima, inferior 17 e 61, respectivamente. Entretanto, a moda da velocidade, isto é o valor que se repetiu mais vezes na amostra indica uma velocidade inferior a 17 km/h. Tal valor expresso na moda indica o que é obvio para aqueles usuários desta via, indica que em determinados horários (ainda que esteja fora dos horários de pico) a velocidade é extremamente baixa em virtude dos congestionamentos provocados pelo movimento pendular das pessoas no deslocamento para o trabalho. Em todos os pontos de coleta de dados nas arteriais observou-se apenas um veículo trafegando acima da velocidade máxima permitida. Tal sujeição às recomendações expressas nas placas, não é observado nas outras vias conforme será apresentado a seguir, todavia, podem ser justificadas em virtude de um número elevado de interseções semaforizadas, radares e ao tráfego intenso de veículos e pessoas. Nas vias coletoras, assim como as arteriais, optou-se por coletar dados em seis pontos distintos. Eles foram distribuídos de forma mais heterogenia nas Ruas Campos Sales, Desembargador Barcelos e Olinda. Com velocidade média próxima de 35 km/h o tráfego nestas vias apresentava dificuldades de fluidez, principalmente próximo aos semáforos de transposição das vias arteriais, nestes locais devido ao tempo de verde relativamente baixo, se registraram os menores valores de velocidade (21 km/h). A medida que se afastou das interferências da via arterial, observou-se uma melhora considerável da fluidez da via chegando a registrar velocidades de 53 km/h (velocidade máxima). Evidentemente, que as velocidades praticadas são somatórias de outras variáveis, como geometria, tipo de pavimento, etc. Através da observação em campo e dos dados acima, apensar da melhora fluidez em relação a via arterial, isto pode ser tão perceptível para o condutor, uma vez que, a moda da velocidade registrada foi de 29 km/h. Uma das principais variáveis na decisão de escolha de rota para os condutores é o tempo. Esta variável determina a escolha das maiorias os usuários de automóveis nos grandes centros urbanos, isto porque, a distância passa a ser uma variável secundaria em virtude influencias pontuais como escolas, shoppings, etc. Até o presente momento apresentou-se somente velocidades médias abaixo das expectativas dos condutores, tanto nas vias arteriais quanto as coletoras. Logo os usuários tendem a recuperar este tempo perdido em algum lugar, mais especificamente, nas vias locais. Nas vias locais colhemos dados em 14 pontos espaçados de forma homogenia, ao longo da área de estudo. Estudos preliminares indicaram uma variação mais acentuada da velocidade nestas vias, por este motivo optou-se com coletar este número maior pontos. Os números pertinentes as vias locais mostram que a velocidade mínima observada foi de 24 km/h, a maior registrada quando comparada com os demais tipos de via. A velocidade máxima registrada foi de 49 km/h, velocidade inferior as apresentadas anteriormente. Entretanto, é 23% maior do que a velocidade máxima permitida na via, o que acarretaria uma punição com infração grave ao infrator. Ainda sobre estas vias, a velocidade média ficou entorno de 34 km/h considerando todos os valores coletados. Realizando uma outra análise de forma mais generalista, foram calculadas as velocidades médias em cada ponto de medição e confrontado com a velocidade máxima regulamentada no local. A tabela a apresenta os resultados desta analise considerando se no ponto a média está abaixo ou a cima da velocidade de referência. Usuários que respeitam a velocidade regulamentada Local Sim Não Total Geral Arterial Coletora Local 58% 100% 83% 29% 42% 0% 17% 71% 100% 100% 100% 100% De forma geral nos locais de analise, a maioria respeita a velocidade regulamentada. Todavia, quando estratificamos por tipo de via, fica evidente a discrepância entre a via arterial e via local. Enquanto a primeira 100% dos pontos apresentam velocidades médias abaixo da velocidade regulamentada nas vias locais este número se reduz para apenas 29%. As velocidades acimas das recomendadas normalmente estão acontecendo em locais onde existe uma maior fragilidade dos pedestres, como ausência de faixas de pedestres, visibilidade comprometida em função de arvores e estacionamento. Ao longo do tempo observa-se que para tentar reduzir tais efeitos, a duas alternativas que imperam em Belo Horizonte, a primeira é quando órgão fiscalizador implanta redutores de velocidade e a segunda quando parte do governo federal aumentando os valores das penalidades para os infratores. Ambas não têm se mostrado eficaz no propósito de controle e segurança no transito. 5. CONCLUSÕES O trabalho teve por objetivo realizar uma introspecção acerca das velocidades praticadas nas áreas urbanas. Apensar da hierarquização viária bem definida na lei de uso e ocupação do solo do município, da instalação das placas regulamentárias instaladas nas vias, e o treinamento dos condutores para obtenção da permissão e habilitação para conduzir, os dados originados desta pesquisa ainda que sejam reduzidos indicam que há necessidade urgente de melhoria do sistema de monitoramento para garantir a segurança dos transeuntes. Os dados coletados nas Av. Arteriais, coletoras e ruas locais do local em estudo indicam que 71% de condutores que trafegavam em vias locais estavam com velocidade superiores a regulamentas, colocando em risco a vida de pedestres e outros condutores. Com o surgimento de novas tecnologias, como aplicativas de GPS e chips veiculares, os órgãos competentes ganha um folego e novas oportunidades para melhorar este controle. Diferentemente do que é utilizado atualmente com fiscalizações pontuais, como radares e agentes de trânsito, esta pesquisa fomenta a necessidade de um monitoramento constante com coleta de dados ao longo de toda a trajetória do deslocamento do condutor. Sugere-se a coleta de dados em outros locais de forma a ter uma percepção fidedigna do comportamento dos condutores dentro do perímetro urbano. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DE OLIVEIRA, Eduardo Leal. Indicadores para hierarquização de ligações em rede viária urbana com base em desempenho. 2012. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2012. FEDERAL, Senado. código de Trânsito Brasileiro. Brasília: Secretaria Especial de Editoração e Publicações, 2002. HORIZONTE, Belo. Plano de Mobilidade Urbana de Belo Horizonte. 2008. Disponível em: <http://www.bhtrans.pbh.gov.br/portal/page/portal/portalpublicodl/Temas/Observatorio/observatori o-da-mobilidade-publicacoes-2013/PlanMob-BH-DiagProgPrelimOut2008.pdf>. Acesso em: 29 jun. 2015. KIEFER, Josefina Giacomini; SANCHEZ, Petra Sanchez. A educação para o trânsito como instrumento para a construção de uma sociedade sustentável. [S.d.]. WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da violência 2013: acidentes de trânsito e motocicletas. Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos, Tech. Rep, 2013.