Português – EL
Ficha de exercícios 1
1os anos João Cunha fev/12
Nº:
Nome:
Turma:
A variação linguística
Você é capaz de responder às questões abaixo?
 O que são variantes linguísticas?
 Quais são as variantes linguísticas?
 O que é preconceito linguístico?
Todas as línguas apresentam variações, isto é, uma mesma língua não é falada da mesma
forma por todos os seus usuários. Isso ocorre porque as sociedades são constituídas por grupos que
pertencem a diferentes faixas etárias, classes sociais, regiões etc. E, por meio de variações
linguísticas, os membros de um grupo se identificam.
As variantes linguísticas manifestam-se em todos os níveis da língua: fonológico,
morfológico, sintático e lexical.
Observe o texto escrito pelo maestro Júlio Medaglia à prefeita de São Paulo e aos jovens
roqueiros.
Massa
―Pô, Erundina, massa! Agora que o maneiro Cazuza virou nome num pedaço aqui no
Sampa, quem sabe tu te anima e acha por aí um point pra botá o nome de Madalena Tagliaferro,
Cláudio Santoro, Jacques Klein, Edoardo de Guarnieri, Guiomar Novaes, João de Sousa Lima,
Armando Belardi e Radamés Gnattali. Esses caras não foi cruner de banda a la ―Trogloditas do
Sucesso‖, mas se a tua moçada não manjar quem eles foi, dá um look aí na Enciclopédia Britânica
ou no Groves Internacional e tu vai sacá que o astral do século 20 musical deve muito a eles.‖
(Maria Bernadete M. Abaurre & Sírio Possenti. Vestibular Unicamp – Língua portuguesa. São Paulo)
Esse texto registra o falar de um grupo específico – jovens roqueiros. Certamente essa não é
a linguagem do maestro, que intencionalmente a usou para criticar a ignorância daqueles que não
conhecem e, portanto, não valorizam grandes nomes da música.
A referência aos músicos, aos livros que certificam sua importância e toda crítica implícita
na reclamação são marcas de um discurso de alguém que domina o assunto. Se ele tivesse escrito
essa mesma carta na variante padrão da língua provavelmente não atingiria tão bem seus objetivos.
Empregando outra variante, além de criticar a prefeita, estende seu recado aos mais jovens.
A carta do maestro é um exemplo da variante típica de um grupo social que abusa de gírias
e gosta dos estrangeirismos (léxico); não se importa com as concordâncias da norma padrão
(sintático); altera a terminação do infinitivo (fonológico).
As línguas apresentam variações entre regiões, entre grupos sociais e em diferentes
contextos de situação de comunicação. Todas essas variedades podem ainda se mesclar; assim, o
falar paulista é diferente do cearense e em cada um desses falares ainda há variante formal e
informal. Por sua vez, cada uma dessas variedades pode ser apresentada em sua forma oral ou
escrita.
É preciso sempre lembrar que a linguagem oral e a escrita não são correspondentes, isto é,
elas são maneiras distintas de comunicação. Enquanto a fala, por exemplo, ocorre em uma situação
de interlocução, a escrita acontece fora dela.
Assim, como não há na escrita a colaboração do interlocutor na criação do texto (os
elementos envolvidos no processo de comunicação esclarecem o que dizem, manifestam
concordância ou não, enfim um falante baliza a fala do outro), o produtor de um texto escrito
precisa criar para o leitor a situação enunciativa.
Em resumo, não existe uma língua única, próxima à linguagem escrita, mas sim diferentes
modos de falar que não devem ser discriminados; ao contrário, devem ser reconhecidos como
expressão de diferentes grupos sociais. À escola cabe a tarefa política do ensino da norma padrão e
do uso da variante adequada à situação de comunicação.
Leia abaixo o que escreve Marcos Bagno, em seu livro Português ou Brasileiro? Um
convite à pesquisa, Parábola Editorial, 2001:
―[...] como responder à pergunta (invariavelmente presente na fala dos professores de
língua): qual o objeto de ensino nas aulas de português? O que devemos ensinar a nossos
alunos em sala de aula?
Uma resposta concisa e rápida seria: devemos ensinar a norma padrão. Já que só se pode
ensinar algo que o aprendiz ainda não conhece, cabe à escola ensinar a norma padrão, que
não é língua materna de ninguém, que nem sequer é língua, nem dialeto, nem variedade,
como enfatizei acima. Ensinar o padrão se justificaria pelo fato de ele ter valores que não
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podem ser negados — em sua estreita associação com a escrita, ele é o repositório dos
conhecimentos acumulados ao longo da história. Esses conhecimentos, assim armazenados,
constituiriam a cultura mais valorizada e prestigiada, de que todos os falantes devem se
apoderar para se integrar de pleno direito na produção/condução/transformação da
sociedade de que fazem parte.‖
Atividades
1. (Unicamp- SP) O trecho seguinte foi extraído do debate que se seguiu à palestra do poeta Paulo
Leminski (“Poesia: a paixão da linguagem”), proferida durante o curso Os sentidos da paixão
(Funarte, 1986).
Observe que neste trecho é possível identificar palavras e construções características da
linguagem coloquial oral. Reescreva-o de forma a adequá-lo à modalidade escrita culta.
―Estudei durante seis anos muito a vida de um paulista e fiz um filme sobre ele, que é o Mário
de Andrade, um puta poeta muito pouco falado pelas ditas vanguardas modernistas. [...] Hoje em
dia, felizmente, já existem vários trabalhos, há muita gente reavaliando a poética do Mário, que ela
é muito mais importante e profunda do que aparentemente pareceu nestes últimos anos. Estudando
o Mário, eu descobri que o Mário foi um exemplo do cara que morreu de amor, mas de amor pelo
seu povo, pelo seu país, pela sua cultura [...] Um outro cara que também fiz um filme é o Câmara
Cascudo. Um cara como o Câmara Cascudo morre, os jornais dão uma notinha desse tamanhinho,
escondidinho, um cara que deveria ter estátua em praça pública, deveria ser lido, recitado.‖
Os sentidos da paixão, pág. 301.
2. Há certas transgressões gramaticais que, embora não prejudiquem a clareza do enunciado, afetam
a imagem do enunciador e sua credibilidade. Trata-se de “erros” que prejudicam consideravelmente
o poder argumentativo do texto.
Não são raros os casos em que se faz uso das transgressões linguísticas para desqualificar o
discurso alheio. No trecho que se segue, um articulista da Folha de S. Paulo, no interior do seu
artigo, ridiculariza o então presidente da República (Fernando Collor) pelo fato de enviar
bilhetinhos ao seu porta-voz. Ressalta que se tratava de um hábito do ex-presidente Jânio Quadros,
sem, entretanto, demonstrar a mesma competência.
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Eis uma passagem do artigo:
“Se [Collor], ao menos, fosse original, ainda vá lá. Pelo menos, não seria uma caricatura de
Jânio Quadros, que, aliás, terminou.
Nem cometeria o erro de concordância praticado no novo bilhetinho ao porta-voz, agora
definitivamente transformado em porta-recados.”
Clóvis Rossi. Folha de S.Paulo. 9 nov. 1991. p.1-2.
O referido bilhetinho, alvo da crítica do articulista, foi publicado na íntegra pelo mesmo jornal,
no mesmo dia, à p. 1-6:
“Chama-me a atenção os desdobramentos do resultado da votação, pelo Senado, da antecipação
do plebiscito”.
a. Transcreva a passagem onde ocorre o erro denunciado pelo jornalista.
b. Efetue a correção.
c. Tente explicar o motivo por que o ex-presidente cometeu o deslize.
(Fonte: SCORSAFAVA, Mara)
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