Energia, momentum e momentum angular O que eu gosto em mecânica clássica é que tudinho sai das três leis de Newton. Isso é ótimo! A segunda lei de Newton, então, dá origem a uma quantidade imensa de relações úteis. É a equação dinâmica da mecânica clássica. Para uma partícula pontual de massa m, com vetor posição r e sendo atuada por uma força F, a segunda lei estabelece que dp , dt F = p = m onde dr dt é o momentum linear, ou simplesmente momentum, da partícula. Energia cinética e trabalho O trabalho exercido pela força F, ao longo de uma trajetória que sai do ponto A e chega no ponto B, é dado pela integral de linha da força sobre a curva C da trajetória: ˆ WA→B rB F · dr, = rA C onde rA e rB são os vetores posição dos pontos A e B, respectivamente. Essa integral pode ser parametrizada em termos do tempo t, uma vez que o vetor posição da partícula, ao longo da trajetória C, do ponto A ao ponto B, é uma função do tempo. Então, trocamos de variável escrevendo dr dr dt = vdt dt = e trocando os limites de integração para tA e tB , que são os instantes de tempo em que a partícula, respectivamente, sai do ponto A e chega ao ponto B. Logo, ˆ WA→B tB dr dt = dt F· = tA C ˆ F · vdt, tA C onde v dr dt = denota a velocidade instantânea da partícula. Agora dê uma olhadinha nisto: F·v = 1 dp dt tB · v, pela segunda lei de Newton e, portanto, F·v dp d (mv) =v· . dt dt v· = Como estamos falando de uma partícula, é natural pensarmos que sua massa que constante ao longo da passagem do tempo. Então, d (mv) dt = m dv dt e, assim, F·v dv . dt = mv · Mas, veja só: v· dv dt = 1 2 dv dt 2v · = 1 dv dv v· + ·v . 2 dt dt Pela regra da derivada do produto escalar, sabemos que d (v · v) dt = v· dv dt dv dt = 1 d (v · v) . 2 dt + dv dt ·v e, portanto, v· Consequentemente, podemos escrever que F·v = mv · dv m d (v · v) = . dt 2 dt Como a massa é constante no tempo, podemos colocar m/2 dentro dos parênteses e car com F·v = d m v·v . dt 2 Agora, o produto escalar de dois vetores é dado pelo produto de seus módulos, multiplicado pelo cosseno do ângulo compreendido entre eles. O ângulo entre o vetor v e ele mesmo é zero, cujo cosseno é a unidade. Logo, v·v 2 = |v| . Assim, F·v = d dt 2 1 2 m |v| 2 e, portanto, ˆ WA→B ˆ tB tB F · vdt = = tA C tA C d dt 1 2 m |v| dt. 2 A integral da derivada de uma função é igual ao valor da função e, portanto, ˆ WA→B tB F · vdt = = tA C tB 1 1 1 2 2 2 m |v| = m |v (tB )| − m |v (tA )| . 2 2 2 tA A energia cinética da partícula é denida como T 1 2 m |v| 2 = e, com essa denição, podemos escrever o trabalho para a partícula ir do ponto A até o ponto B como a variação de sua energia cinética ao longo da trajetória, isto é, WA→B TB − TA , = com TA = 1 2 m |v (tA )| 2 TB = 1 2 m |v (tB )| . 2 e Momentum linear Da segunda lei de Newton, podemos escrever: ˆ ˆ t2 t2 Fdt = t1 A quantidade t1 ˆ dp dt = p (t2 ) − p (t1 ) . dt t2 Fdt t1 é chamada de impulso da força F durante o intervalo de tempo entre t1 e t2 . Logo, o teorema que acabamos de vericar estabelece que a variação do momentum linear é igual ao impulso da força no intervalo de tempo durante o qual essa variação de momentum ocorre. 3 Momentum angular O torque da força F, relativamente à origem do sistema de coordenadas, é dado por = r × F, N onde r é o vetor posição desde a origem até o ponto de aplicação da força F, isto é, r é o vetor posição da partícula pontual de massa m, medido a partir da origem. Note que, usando a segunda lei de Newton, o torque também pode ser escrito assim: = r× N dp . dt Mas, o momentum é denido como p = m dr dt e, portanto, = r× N d dt m dr dt = mr × d dt dr dt , já que a massa m é constante. Assim, d2 r = m r× 2 . dt N Agora, note a seguinte propriedade: d dt dr r× dt dr d2 r dr × +r× 2, dt dt dt = onde usei a regra da derivada do produto. Como o vetor velocidade da partícula é paralelo a ele mesmo, segue que dr dr × dt dt = 0. Assim, concluímos que d2 r r× 2 dt d dt = dr r× dt e, dessa forma, N = m d dt r× dr dt = 4 d dr r× m , dt dt isto é, N d (r × p) . dt = Denimos o momentum angular como L = r×p e, portanto, o torque sobre a partícula, relativamente à origem do sistema de coordenadas, é igual à variação temporal do momentum angular relativo à origem: N = dL . dt A forma integral dessa equação ca ˆ L (t2 ) − L (t1 ) t2 Ndt. = t1 5