Knowledge@Wharton: Estamos reunidos hoje para discutir a atividade bancária mundial e os
mercados de capitais com: o professor da Wharton Richard Herring, que também é co-diretor
do Centro de Instituições Financeiras da Wharton e também co-presidente do Comitê de
Regulamentação Financeira Shadow; Bill Schlich que é diretor de Global & Americas Banking
e Mercado de Capitais da Ernst & Young e, também da Ernst & Young, Donald Vangel que é
um conselheiro sênior da área bancária para questões de supervisão e regulamentação no
escritório de serviços financeiros da empresa. Don é também um ex-supervisor do Fed de Nova
York. Muito obrigado por se reunirem conosco aqui no Knowledge@Wharton.
Resposta à nova onda de re-regulação
Gostaríamos de falar sobre como os mercados de capitais estão sendo remodelados após a crise financeira global
e também a nova onda de re-regulação, que inclui grandes mudanças na legislação dos EUA sob Dodd Frank,
mudanças de Basiléia III, e também, mais recentemente, a ação do G-20 na Coréia -- que é muito para se engolir
em um período tão curto. O que deveria ser feito pelos bancos globais agora para se prepararem para digerir
todas essas regulações, que ainda estão de certa maneira mal-formadas? Dick, você pode falar por um minuto ou
menos sobre isso?
Richard Herring: Bem, eu acho que a coisa importante a lembrar é que, embora as linhas gerais tenham
sido definidas, todas estas iniciativas têm uma longa fase de implantação e, no caso de Dodd Frank existem
literalmente centenas de regulamentos de implementação a serem feitos, centenas de estudos. Nós realmente
não sabemos como irá ficar e então eu acho que a coisa mais importante que as instituições podem fazer agora
é acompanhar com muito cuidado o que está acontecendo em cada uma das empresas. Não só isso, mas, no
que diz respeito ao Frank Dodd, algumas das implementações serão obviamente adiadas, porque o Congresso
ainda tem que financiar o pessoal adicional necessário para o SEC e o CFTC começar a trabalhar sobre as
regulamentações e os estudos.
Além disso, temos que ter em mente que nós temos grupos de países diferentes fazendo isso ao mesmo tempo
– que a iniciativa de Basiléia está em andamento - e elas não estão, necessariamente, gerando as mesmas
conclusões. Um dos resultados iniciais mais preocupantes é que os europeus tiveram uma visão muito diferente
do que fazer com as agências de classificação que temos. Eu não tenho certeza qual delas elas é correta, mas a
tendência é de no curto prazo balcanizar os mercados de capitais de uma forma que eu acho que nenhum de nós
desejaria.
Knowledge@Wharton: Bill, qual é sua opinião sobre o efeito geral de toda esta legislação?
Bill Schlich: Bem, a partir de uma perspectiva comercial eu acho que agora o que as organizações estão fazendo
e devem continuar a fazer é realmente entender: quais são suas áreas centrais de negócios? Onde elas estão
ganhando dinheiro? Quem são seus clientes? E descobrir onde é mais adequado para ganhar dinheiro. Em
outras palavras, onde elas podem ser mais rentáveis? Sim, as regulamentações não estão concluídas, mas o que
estamos vendo é as organizações gastando muito tempo tentando descobrir qual é a sua área central de negócios
e certificando-se de que estão fazendo isso muito bem nos mercados que façam sentido para elas.
Knowledge@Wharton: É a área central de negócios que eles tinham ontem? Ou a área central de negócios de
amanhã? E como se diferenciam?
Bill Schlich: Bem, essa é uma boa pergunta e eu acho que em alguns aspectos, isso implica em analisar os
negócios que você fez antes. Como você fez isso? Onde você fez isso? E por que você fez isso? E então tentar
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imaginar o que os negócios vão ser no futuro. Nós realmente vemos um grande foco no cliente. Quem é o
cliente? E o que o cliente quer? Isso é o que eu acho tende a ocorrer no futuro, mas também é um pouco do
passado.
Desafios de governança
Knowledge@Wharton: Don, você trabalhou como regulador. Essa é a sua área. Vem por aí muita regulação de
uma vez só.
Donald Vangel: Existe muita incerteza, o que torna muito difícil planejar de uma forma concreta quais serão
as implicações exatas. Existem muitas indicações aqui e internacionalmente. Apesar disso, é imperativo que
as empresas façam o melhor que puderem a partir de um ponto de vista de governança para controlar todas
essas variáveis – pelo menos para identificar os principais problemas da fase de implementação de muitas
destas questões. [Os bancos vão querer] influenciar a forma das regras finais de forma que possam ser mais
construtivas – ou você faz isso como uma instituição individual ou como parte de um grupo do setor - e também
lidar com algumas das questões que estão começando a se cristalizar já nessa fase.
Por exemplo, existe um tema que permeia o Dodd Frank sobre o aumento das exigências de relatórios. Cada
aspecto do estatuto – seja para informar as decisões em torno de instituições sistemicamente importantes,
fornecer informações ao Office of Financial Research, ou aumentar as exigências para relatórios regulamentares
de forma mais ampla, [exige que as empresas] analisem as questões de arquitetura de dados e sistemas de modo
que as empresas possam entender sobre a disponibilidade dos dados e o que precisa ser feito mais cedo ou mais
tarde para posicionar sua arquitetura de sistemas de modo a atender a essas questões.
Esses são os tipos de questões que nós estamos vendo as empresas colocarem inicialmente e a tratar de forma
bem multidisciplinar.
Richard Herring: Eu gostaria de acrescentar uma coisa. Eu concordo com tudo o que foi dito. Mas eu acho
também que outro potencial impulsionador de todo este esforço será o que é feito com relação à resolução
rápida. A essência é ter informações em tempo útil que permitam que se tome controle de uma instituição que
possa falir e conhecer os sistemas – saber quem opera os sistemas, saber quem possui os sistemas, e tudo isso
vai exigir gastos maciços em TI, a qual tem sido uma das forças motrizes para a consolidação do setor. Mas por
outro lado, temos regras que estão empurrando no outro sentido, que estão tentando desencorajar as empresas a
crescer.
Também com relação a quem são seus clientes e sua área de negócio central – é um enorme
desafio para muitas das maiores empresas do mundo, porque se você analisar 2006 e 2007,
elas estavam obtendo mais do que metade de sua receita com securitização. Isso acabou.
Então realmente esse é o momento de repensar qual é o nosso objetivo e o que devemos
fazer para ajudar nossos clientes a satisfazer suas necessidades financeiras básicas de: fazer
pagamentos, proteção contra incertezas no futuro, e fornecer os tipos de serviços financeiros
que eles querem, em vez de aqueles que são muito populares porque são muito opacos.
Exigências de Capital e Basiléia III
Knowledge@Wharton: Tem surgido uma série de novas regras, re-regulação, novos sistemas de regulação, e
existe muito trabalho de preparação em função do que você disse que precisa ser feito. Mas ainda há muita
incerteza.
Bill Schlich: Bem, eu acho que agora a maior área de incerteza é a exigência de capital. Quanto capital uma
organização tem que reter? Sabemos que essas exigências estão aumentando. Mas até onde elas vão, e em que
jurisdição? Será que vai ser diferente de país para país? Eu suspeito que sim. E qual o impacto disso no meu
modelo de negócio?
É muito difícil ser estratégico hoje, quando você não conhece as exigências de capital em cada jurisdição. Você
não conhece as exigências de liquidez. Tudo o que sabemos é que as jurisdições querem as coisas separadas e
querem ser capazes de compreender os negócios em sua jurisdição, e elas querem ter certeza de que há capital
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suficiente e há liquidez suficiente lá. Por isso, então você tem que descobrir – e esse é o ponto do Professor
Herring - quem são seus clientes? Como é que você vai ganhar dinheiro? E você pode fazer isso de uma forma
que seja rentável dado esse aumento do custo de capital? O ROA [retorno sobre os ativos] está caindo, não
há dúvida. E quanto ele vai cair eu não sei. Mas vai ser interessante ver quanto o ROA vai cair e então será
interessante ver como os investidores reagem.
Donald Vangel: O processo Basiléia III certamente percorreu um longo caminho para calibrar pelo menos a
primeira fase das exigências de aumento de capital. A estrutura do Basiléia III articula novas definições para o que
qualifica como capital bom e gera exigências sobre quanto desse capital deve ser retido.
Mas deixa ainda indeterminado sobre quanto e se qualquer capital adicional deva ser retido para atender a
questões pró-cíclicas, ou seja, para implementar uma reserva contra-cíclica sobre a reserva de conservação.
Quanto capital adicional, se houver, as instituições sistemicamente importantes devem reter além e em adição
a que? O G-20, mesmo tendo aprovado a estrutura do Basiléia III, também transferiu muito para cada jurisdição
a competência para lidar com instituições sistemicamente importantes dentro de seus limites em relação
às exigências adicionais de capital e de liquidez. Assim, ele corre o risco de além de exigências de capital
consolidado, ainda haver alternativas em termos de: quanto capital você precisa reter (e quanta liquidez) em
jurisdições específicas, se você for visto como sistemicamente importante dentro delas. Portanto, existe uma
questão de capital aprisionado, bem como o nível absoluto de capital que precisa ser retido.
Richard Herring: Eu acho que você tocou num ponto importante sobre a forma como o Comitê de Basiléia opera.
Temos exigências de capital explícitas de no mínimo 4,5% que são basicamente ativos de capital ponderado
pelo risco. Nós temos ainda outros 2,5% que são considerados uma oferta capital distinta, mas ela é colocada de
modo que realmente torna-se capital exigido, porque embora os reguladores digam que querem que os bancos
se sintam livres para utilizá-los sempre que quiserem, eles na verdade, se usá-los, perdem o seu direito de pagar
dividendos e bonificações etc.
Por isso, ele realmente se torna capital que é explícito. E como você mencionou: outras coisas controvertidas eles ficaram sob o Pilar 2 [no Basiléia II], que isso realmente se trata de um assunto privado entre o regulador e
o regulado e [o público] não vai conseguir saber sobre isso. E isso vai tornar as condições muito desiguais. Há
alguma esperança de que eles estejam migrando para um nível de alavancagem após alguma calibração. Mas,
dada a resistência na Europa – e eles têm um longo caminho a percorrer para atender a um nível de alavancagem
algo parecido com o dos bancos dos EUA - existem dúvidas de que isso nunca ocorra no Pilar 1.
Os bancos globais em face à crescente complexidade
Knowledge@Wharton: Portanto, não existe somente muita matemática fuzzy em torno das exigências de capital
no Basiléia III, mas é claro que temos o novo regime regulatório em todos os EUA [sob Dodd Frank] e também o
que o G-20 está fazendo, e também as outras entidades na Europa que estão olhando para as novas regras para
a zona do euro. Que tipo de coerência ou incoerência é que vamos ver entre essas regras? Estamos falando de
bancos globais - eles têm de lidar com o Basiléia III, mas eles também têm que lidar com o Frank Dodd e eles têm
que lidar com o que o G-20 vai estabelecer.
Donald Vangel: Eu acho que o potencial para um mundo muito balcanizado em torno de algumas dessas regras
específicas é grande. Eu acho que mesmo dentro os EUA a reforma regulatória criou uma estrutura mais
complexa de regulamentação, em vez de uma estrutura menos complexa de regulamentação. Há cerca de 250
regras que precisam ser escritas – muitas delas em conjunto por diversas agências. O estatuto em questão dá a
quase todas as agências reguladoras autoridade de suporte sobre qualquer outra agência reguladora, e colocar
os reguladores em cooperação e trabalhando de forma coesa, na minha opinião pessoal, nunca foi o ponto forte
do ambiente regulador dos EUA. E então você vê a forma como as questões estão evoluindo à medida que elas
se relacionam com coisas como a remuneração com incentivo - em que a abordagem nos EUA até agora tem sido
uma abordagem um pouco baseada em princípios, observando a forma como as estruturas de incentivo estão
estruturadas - a governança em torno delas no que se refere à tomada de riscos está tentando mover o setor
para uma maior disciplina. A abordagem na Europa é muito mais normativa. As instituições que operam a nível
mundial deverão ter que cumprir os dois conjuntos de requisitos. Eu acho que a fragmentação em todo o mundo
tende a ser cada vez mais significativa.
Richard Herring: Eu tenho uma foto maravilhosa que ilustra o seu primeiro ponto. É de um dos maiores bancos
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dos EUA e mostra o tipo de informação transversal para vários reguladores para cada uma de suas linhas de
negócios. E então ele mostra o que o Dodd-Frank, acrescentou. E isso praticamente duplica a complexidade
do sistema. É surpreendente. E pensar que vamos lidar com tudo isso através de uma comissão de 10 pessoas
e agregados - a maioria dos quais não têm competência ou interesse no risco sistêmico - para mim isso está
destinado ao desastre.
Donald Vangel: Vai ser interessante.
Qual o grau de nivelamento das condições?
Knowledge@Wharton: Bill, essas não parecem condições muito equitativas. Isto dizer que a arbitragem
regulatória vai ser um problema grande?
Bill Schlich: Eu acho que a questão é: qual o grau de desigualdade que vai existir? Eu acho que é muito cedo para
dizer. Quero dizer, você tem a regra do Volker nos EUA, que, obviamente, alguns dizem que dá uma vantagem aos
europeus. Você tem o diferencial de competitividade que Don mencionou, que os europeus dizem que os coloca
em desvantagem. Há alguns por aí que acreditam que os centros de serviços bancários vão se mudar para a Ásia
por uma série de razões.
Knowledge@Wharton: Incluindo algumas ameaças de um banqueiro britânico de fazer exatamente isso.
Bill Schlich: Exatamente. Então eu acho que a verdadeira questão é quanto tempo elas serão desiguais para, em
seguida, como elas vão se tornar mais niveladas? Da minha perspectiva, quando você analisa a regra do Volker
é bastante normativo o que você pode e não pode fazer. E vai ficar mais claro ao longo do tempo o que isso
significa. Mas, ao mesmo tempo, eu não ficaria surpreso se os europeus começassem a chegar ao mesmo ponto
exigindo capital adicional contra carteiras de negociação. Então a questão é, sim, elas serão desiguais, mas por
quanto tempo elas serão desiguais e as pessoas serão capazes de tirar proveito disso?
Donald Vangel: Eu acho que é difícil a menos que algo como um regime de resolução global, ou alguma
autoridade monolítica que seja capaz de definir um conjunto único de regras e aplicá-las consistentemente
através das jurisdições.
Eu acho que estamos nos encaminhando para um ambiente onde vai haver muito mais delimitação das
operações em jurisdições individuais com relação às regras que precisam ser aplicadas - o capital e a liquidez que
precisam ser gerenciados - e isso vai tornar o gerenciamento de um conglomerado financeiro global cada vez
mais difícil.
Bill Schlich: Certo. E a questão será: qual o nível de globalização? E na verdade, alguns de nós acreditamos que a
instituição global é muito importante. Mas o mais importante é perguntar: o que vai acontecer com a inovação?
Quem a faz? Quando ela é feita? Como crédito será movimentado? E se não arranjarmos um meio de obter
crédito para movimentar novamente? As securitizações estão mortas em sua maior parte. Como estamos fazendo
para movimentar o crédito? Como é que vamos incentivar as pessoas a gerar crédito e, em seguida, movê-lo?
Isso se torna muito mais difícil se você está falando de organizações que podem ser muito distintas em diferentes
jurisdições.
Impacto regulatório sobre os dividendos ROE
Knowledge@Wharton: Como todos estes novos regulamentos provavelmente afetarão as margens de lucro, o
ROE [Retorno sobre Patrimônio] e dividendos no próximo ano ou dois, ou três? Bill, vamos começar com você.
Bill Schlich: Bem, eu acho que está claro que os ROEs estão caindo. O custo de capital está subindo. As margens
estão encolhendo. Tivemos juntos em Setembro [de 2010] os diretores gerais de 18 das maiores instituições do
mundo – as instituições financeiras - e houve o consenso era de que os ROEs vão cair para a metade do que eram
há alguns anos atrás. Então, se você estava em 20, você vai para 10. E eles colocam a faixa de retorno para uma
instituição global entre 8% e 12%.
Eu acho que está claro com as exigências de capital subindo, as margens estão encolhendo, e os ROEs caindo. O
interessante de tudo isso: Onde está o investidor nisso? Nós realmente não temos notícias do investidor ainda.
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Qual é a sua reação a um ROE de 8% versus 12%? Como eles vão reagir? Os investimentos bancários continuam
a ser atraentes ou não atraentes? Que tipo de pressão os acionistas vão colocar sobre a gestão? Precisamos
aumentar os lucros. Nós precisamos assumir mais risco. Assim, o círculo eleitoral que não foi ouvido ainda são
os acionistas e qual será o seu pensamento sobre o ROE?
Donald Vangel: Quando você fala com banqueiros, há um grande interesse sobre migração para negócios que
sejam menos exigentes em capital e liquidez, e [que sejam] mais baseadas em comissões. O que isso significa
para os bancos em termos de criação de crédito e tipo de intermediação é uma questão real em minha mente. Se
você tentar maximizar o retorno sobre o patrimônio neste mercado e otimizar o seu efeito na utilização de capital,
eu acho que você vai passar para negócios que sejam menos dependentes do balanço patrimonial e exigirem
menos liquidez e capital.
Richard Herring: Eu acho que tudo isso é verdade. A teoria nos ensina que através do aumento de capital você
pode ser capaz de obter um melhor retorno sobre o débito que você levanta. Mas como estas instituições de
trilhões de dólares já estão se beneficiando das garantias implícitas da rede de segurança, elas não vão perceber
isso. É apenas um custo enorme. E isso é, de certa forma, tirar a rede de segurança – talvez de forma não muito
convincente, mas isso faz parte do que está acontecendo no presente e não vai fazer uma empresa mais feliz.
Por outro lado, devemos notar que havia instituições financeiras rentáveis que, de fato, estavam indo muito bem
com capital próprio de 20%. Você faz diferentes tipos de coisas.
Donald Vangel: Certo.
Knowledge@Wharton: Pelo menos inicialmente, uma vez que ainda estamos com uma economia bem lenta, os
bancos vão ser medidos em relação aos outros setores, certo? E outras opções que os investidores têm? Portanto,
se esses outros setores não estão dando o retorno que eles tinham antes da crise, os bancos podem não parecer
fora do quadro, se o seu ROE está caindo em 50%. Isso está correto?
Bill Schlich: Pode ser. O investidor pensa não apenas na totalidade do retorno, mas o risco do retorno. Por isso,
vai depender de como o investidor olha para o setor bancário em sua totalidade.
Richard Herring: Nós não devemos deixar de fora o ponto de que o Fed, ao manter as taxas de juros em
praticamente zero, está tentando fornecer um enorme subsídio para o setor bancário que não devemos deixar
passar despercebido. Porque eles são capazes de reunir fundos praticamente a custo zero, e eles podem
emprestá-los a margens atraentes, o que é metade da razão do grande atraso da implementação das regras de
capital, eles percebem que é caro sair e levantar capital novo nos mercados.
Os custos de transação são muito altos e as pessoas não estão entusiasmadas. Eu acho que é seguro dizer isso
sobre os bancos hoje em dia. Mas se eles podem reter isso como ganhos desses spreads muito altos, isso é na
verdade uma transferência por parte dos que estão tentando salvar os bancos que precisam reconstruir suas
posições de capital.
Knowledge@Wharton: Quanto mais tempo você acha que será necessário?
Richard Herring: Bem, eles estão falando de cerca de cinco, seis ou sete anos, eu acho.
Modelos para o crescimento futuro
Knowledge@Wharton: Havia alguma menção feita sobre toda essa mudança de modelos que os bancos
estarão buscando para ter crescimento no futuro. Bill, você pode falar sobre como alguns desses modelos de
crescimento futuro poderão ser? Como eles vão ser diferentes? Como vai ser feita uma transição? Eu imagino que
a consolidação pode ser parte da conversa.
Bill Schlich: Vai ser difícil saber o que vai acontecer, sem saber quais serão as regras- quanto capital e em que
jurisdições você precisa desse capital. Mas algumas coisas estão claras. Um delas: há um foco tremendo - eu
disse isso antes - sobre o cliente. Quem é o seu cliente? O que você está lhe fornecendo? Qual é a melhor maneira
de atender a esse cliente?
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Em segundo lugar: os mercados emergentes serão extremamente importantes. Cada instituição financeira com
que eu falo diz que eles estão investindo uma quantia significativa de dinheiro nos mercados emergentes - China,
Índia, Brasil. Então eu acho que vai levar tempo para descobrir, a não ser ao longo do tempo com o foco nos
clientes, o que faz você se concentrar em sua área central de negócios - e, em seguida, o foco em mercados
emergentes - vamos começar a ver como é realmente o novo modelo de negócios.
Donald Vangel: Eu acho que o foco nos clientes é um elemento importante e, francamente, uma grande mudança.
Knowledge@Wharton: Os bancos não estavam sempre focados nos clientes?
Donald Vangel: Bem, teoricamente sim, mas eu acho que [era] mais introspectivo que extrovertido, se você me
entende. E eu acho que agora, como o ambiente ficou mais incerto, já que coisas como as exigências de capital
e liquidez se tornaram mais restritivas, deve-se olhar para o cliente e entender qual é a demanda por serviços
financeiros - para deixar que isso oriente a estratégia mais do que o ambiente para serviços financeiros. Eu acho
que é uma evolução construtiva.
Knowledge@Wharton: Por exemplo, eu li recentemente sobre alguns bancos que anunciaram: “Bem, nós
estamos nos movendo mais fortemente para gestão de fortunas”. Porque provavelmente, sempre vai ser dinheiro
a ser ganho em gestão de fortunas. Então essa é uma mudança. Do que eles estão se afastando exatamente eu
não tenho certeza.
Richard Herring: E isso está sendo impulsionado, em grande parte pelas exigências regulatórias, eu acho. Mas eu
acho que é fácil ficar pessimista demais sobre o futuro do setor de serviços financeiros, porque uma coisa que
nós sabemos da economia é que ela é um bem de luxo. É algo que as pessoas querem à medida que elas ficam
mais ricas.
Agora se a economia permanece no marasmo, isso é um grande problema não somente para os bancos. Mas à
medida que se tornam mais ricas, as pessoas ainda vão precisar de serviços de transações. Elas querem produtos
de poupança que irão protegê-las dos riscos de deterioração. E é aí que virão uma série de inovações. Elas vão
querer serviços cambiais. Elas vão querer todos os tipos de oportunidades para empréstimos e para cobertura
de risco e assim, em certo sentido, acho que a demanda existe. Vai ser um desafio descobrir uma maneira mais
eficiente de oferecer esses serviços.
O potencial da China e outros mercados emergentes
Knowledge@Wharton: Você mencionou os mercados emergentes e, especificamente, na China. Alguns bancos já
viram que é um mercado difícil de decifrar. Você poderia falar um pouco sobre sua experiência com isso?
Bill Schlich: Eu acho que quando você olha para o mercado chinês - obviamente, os bancos de lá são muito
grandes. Eles são muito fortes. Mas eles são muito baseados em depósitos. Eles recebem depósitos e
movimentam o dinheiro. Decifrar esse mercado, que é controlado pelo governo - que define taxa de hipoteca e
taxas de depósito - vai ser muito difícil para os bancos. Então você poderá ver uma série de joint ventures.
Você pode ver muitas atividades bancárias sendo feitas nessa parte do mundo através de um país diferente.
Vemos Cingapura como um país que, a partir de uma perspectiva de mercado de capitais, vai continuar a crescer.
Você pode ver parte dela sendo feita através de investimentos em outras instituições. Mas esse é um mercado
difícil de decifrar, principalmente no espaço de captação de depósitos. Eles dominam o mercado e existem quatro
ou cinco muito grandes, muito controlados pelo governo.
Donald Vangel: É interessante. Eu falo muito com os banqueiros chineses que estão muito interessados em
expansão, por exemplo, nos Estados Unidos com um perfil de varejo muito maior do que agora - eles estão muito
limitados a negócios por atacado através de sucursais. No entanto, os reguladores dos EUA têm sido relutantes
em permitir esse tipo de expansão até hoje. Eu me pergunto se o desejo de expandir nos EUA poderia acabar
levando a uma liberalização das políticas no país de origem ao longo do tempo.
Knowledge@Wharton: E quanto aos outros grandes mercados emergentes - Índia e Brasil - são os mais óbvios?
Bill Schlich: Acho que você está vendo uma quantidade enorme de dinheiro sendo investido ali. Então, vemos
o Brasil e a Índia como dois lugares em que vai continuar a ocorrer crescimento significativo tanto em setores
bancários centrais e como na área de mercado de capitais.
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Richard Herring: Acho que o Brasil está na liderança entre os países BRIC na sofisticação do seu sistema bancário
e na sofisticação dos seus mercados. Em parte devido à herança de viver com a hiperinflação. Mas também
porque eles se integraram à economia mundial muito mais rapidamente. Eles não tentaram manter uma
economia fechada do mesmo jeito que a China e a Índia – e a Rússia, é claro.
Qual o nível de investimento em TI será necessário?
Knowledge@Wharton: Parece que investimentos substanciais e tecnologia da informação serão necessários
para atender a toda essa re-regulamentação. Que nível de investimento é necessário? Como você definiria
isso? E como você concilia investimento na TI adequada - para obter os dados corretos - com os investimentos
necessários para impulsionar os negócios no futuro?
Bill Schlich: Don disse que muitos dos investimentos no passado eram mais para a área de atendimento ao
público do que para os serviços de apoio. E eu acho que é verdade. A crise tornou isso evidente – especialmente
para as autoridades reguladoras - como foi difícil para algumas organizações para reunir informações. Então isso
não é realmente um pedido. É quase obrigatório que isso seja feito para atender às novas regras e à quantidade
de informação que eles vão ter que fornecer aos reguladores.
Então você está vendo os investimentos em todos os ramos do fluxo de informação, sejam eles relatórios
financeiros, relatórios de regulamentação, relatórios de risco, ou relatórios de gestão. E, francamente, eles estão
tentando chegar até onde eles possam puxar uma única fonte de dados no nível transacional, o que nunca eles
nunca realmente foram capazes de fazer antes. E se eles forem capazes de fazer isso, então eles serão capazes
de cortar a informação quatro ou cinco vezes e fornecer aos reguladores o que eles precisam. Vai ser um
empreendimento significativo. Os dólares de investimento que estão sendo gastos pelas organizações chegam a
centenas de milhões de dólares em curto e longo prazo.
Knowledge@Wharton: Você poderia caracterizar isso como uma porcentagem da renda ou a receita de um banco
global - o que eles vão precisar investir em um dado ano ou durante os próximos cinco anos?
Bill Schlich: Eu não tenho certeza se seria capaz de fazer isso. Você tem alguma idéia?
Donald Vangel: Não. Da forma que eu vejo, é provavelmente o maior investimento que os bancos tiveram que
fazer - isso tem sido impulsionado pelos reguladores - tem sido o investimento em Basiléia II. Eu vejo esse
investimento e ele tem sido da ordem de centenas de milhões de dólares ao longo de vários anos. Eu vejo essa
necessidade de aperfeiçoar os sistemas e dados como sendo equivalente em termos de escala e duração.
Eu acho que na medida em que melhoram substancialmente o tempo de resposta, a exatidão e coerência entre
as diferentes dimensões de dados com relação a informações de risco, em particular, isso tem o potencial para
tornar as empresas materialmente mais ágeis e para criar realmente um retorno. Eu não acho que isso deva
ser visto como uma resposta a um mandato de regulamentação. Acho que isso é puramente mais encargo e
simplesmente um custo para a indústria. Ele deve ser visto muito mais como o investimento em informação de
gestão que contribua para a flexibilidade.
Richard Herring: Eu concordo. Muitos dos custos que os reguladores impuseram no passado foram custos de
peso morto que não ajudaram na gestão dos negócios. Mas isso se for bem feito, deverá ajudar os gestores a
gerir os seus negócios muito mais eficazmente e ajudar a os reguladores a regular muito mais eficazmente. Mas
exige muita concordância sobre quais as informações que você precisa e de que forma você precisa cortar e, de
fato as normas de contabilidade que você usará para implementar isso. E é aí que muito trabalho duro terá que
ser feito.
Que papel pode desempenhar os CoCos?
Knowledge@Wharton: Que papel pode desempenhar os CoCos (Empréstimos em Obrigações Convertíveis) nos
esforços de regulamentação? Parece que eles poderiam servir como um amortecedor eficaz. A maneira como os
investidores e os reguladores podem vê-los é diferente. Professor Herring, você poderia dar sua opinião?
Richard Herring: Na minha opinião, existem pelo menos 14 ou 15 propostas diferentes de CoCos e quase todas
elas sofrem de defeitos fundamentais de um tipo ou de outro. Há, antes de tudo a quantidade que você deseja
emitir. O que os dispara? Quantos deles serão convertidos em capital, no ponto de disparo e em que termos vão
ser disparados?
7 | Knowledge@Wharton knowledge.wharton.upenn.edu
Knowledge@Wharton: Poderia ser interessante começar com uma definição rápida de um CoCo.
Richard Herring: Um CoCo é um essencialmente um título, que, sob certas circunstâncias, tem um evento de
gatilho que irá convertê-lo em capital. Isso beneficia o banco no sentido de que aumenta seu patrimônio e
suas necessidades de liquidez tendem a diminuir porque ele já não tem de pagar juros e amortizações sobre o
título (que foi convertido). Agora, o truque é torná-lo atraente o suficiente para que os detentores de obrigações
queiram comprá-lo, e torná-lo útil dando aos bancos uma maior reserva de capital.
E a minha opinião sobre isso foi que os CoCos existentes -- Eu acho que dois no mercado no momento - não
estão realmente da maneira desejável. Eles estão intervindo em um ponto muito baixo onde não há chance de
correção. Eu preferiria vê-los usados como incentivo, o que significa que você realmente quer para maximizar
o grau de diluição de forma que tanto a gestão e como os acionistas tenham um forte incentivo para evitar a
conversão - e espero que eles não sejam convertidos com muita freqüência -- pela reestruturação ou aumento de
capital novo, enquanto eles podem.
Isso significa ter um nível bastante elevado para o gatilho. E na minha opinião o gatilho deve ser bastante
vantajoso para os portadores de títulos para que sejam atraentes para serem retidos. Se o gatilho realmente
acontecer, você terá uma massa de acionistas insatisfeitos aos quais você pode adicionar novos acionistas – os
acionistas involuntários que retiveram os CoCos antes. E você tem uma chance muito boa de mudança de gestão
e de mudança estrutural real, e tempo suficiente para realizá-la. Finalmente, a principal vantagem é de não haver
nenhuma desculpa para ter noites insones no fim de semana em que você salvar um banco ou colocá-lo em
falência, pois será muito evidente que um banco está em declínio durante um longo período de tempo.
Knowledge@Wharton: Então, esses CoCos seriam um instrumento que ajudaria nos casos em que uma crise
financeira possa parecer estar se aproximando tanto para uma instituição individual como sistemicamente?
Richard Herring: Bem, eu gostaria de ver isso acontecer antes [que chegue esse ponto].
Knowledge@Wharton: Eles pretendem ser um amortecedor que ajude a evitar essa situação.
Richard Herring: Sim. É visto como um incentivo extra para a gestão de empreender mudanças, enquanto eles
ainda têm a flexibilidade – a flexibilidade financeira - para fazê-lo. E o problema é que vimos inúmeras vezes
gerentes mantendo a mesma velha estratégia que não estava funcionando.
Knowledge@Wharton: Bill, digamos que os CoCos tivessem sido usados em larga escala em 2006. Será que isso
teria um efeito amortecedor significativo sobre o que aconteceu em 2007 e 2008?
Bill Schlich: Bem, poderia ter. Você sabe, capital adicional é sempre bom. A preocupação que eu tenho com os
gatilhos é onde você os coloca? Como você os define? Mas o mais importante, se você for a instituição que é
acionada, ok, agora vamos converter para capital e isso é positivo.
Richard Herring: E isso depende do nível em que você faz isso e da quantidade na qual você faz. Se você dobrar–
literalmente dobrar - o seu capital, então você tem tempo para realmente mudar a sua estratégia de muitas
maneiras. E você tem liquidez reduzida. Você tem tempo para vender uma grande parte de sua empresa se
você precisar. Mas eu concordo perfeitamente que, se você esperar até 4% ou 5% para fazer isso, então não vai
funcionar.
Knowledge@Wharton: Como [ex-] regulador: O que você diria?
Donald Vangel: Eu acho que a idéia - um dos objetivos da política - é aumentar a capacidade do sistema de
absorver choques e de internalizar os custos disso tanto quanto possível, no seu próprio setor. Eu concordo
com o professor Herring. Eu penso como você estrutura isso [é fundamental] – é difícil argumentar que a maior
capacidade de absorção das perdas não seja uma boa idéia. A questão é: quais são as calibrações e quais
são as estruturas? E eu acho que estruturar os instrumentos de uma forma que incentivem a mudança de
comportamento antecipando-se à necessidade de usá–los para absorver choques - mantidas inalteradas as outras
coisas- ele próprio um absorvedor de choque. A absorção de choque não é apenas a título de liquidação está em
uma base de gestão também.
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Lições aprendidas com a crise financeira
Knowledge@Wharton: Você acha que as principais lições da crise financeira foram aprendidas? E uma nova
rodada de comportamento cada vez mais arriscado por parte dos bancos agora é mais provável ou menos
provável? Professor Herring?
Richard Herring: Com toda a franqueza, acho que isso ainda está em aberto. O Fed está com a sua política de
tentar forçar não somente os bancos, mas também os investidores em assumir maiores riscos para a regeneração
da economia. Mas os spreads que você costumava ver entre os títulos de alto risco e os títulos do tesouro têm
baixado muito para os níveis de antes da crise. Você está começando a ver bônus que se parecem com os dos
níveis pré-crise. Você está começando a ver dividendos no próximo ano. Não está claro para mim que tenham
ocorrido mudanças fundamentais na forma de como essas instituições são geridas. Isso pode acontecer à medida
que as regulações sejam implementadas Mas até agora eu não estou convencido de que nós aprendemos muita
coisa.
Donald Vangel: Eu concordo com isso apenas porque, se você olhar para a forma como as instituições financeiras
estão se comportando, os lucros estão realmente sendo dirigidos para instituições de concessão de crédito, pela
melhoria da qualidade de crédito ao invés de crescimento de primeira linha. Para onde os negócios estão indo
quando o crescimento começar novamente e assumir riscos em oposição à aversão ao risco se tornar a força
motriz? Eu acho que o tempo vai dizer. Eu acho que existe potencial para alcançarmos uma rentabilidade que seja
consistente com as circunstâncias que deram origem ao problema, em primeiro lugar.
Bill Schlich: Eu acho que os bancos são menos complexos de hoje atualmente. Eles não estão fazendo as mesmas
operações que faziam no passado. Você não vê securitizações sendo feitas. E você não vê operações altamente
complexas sendo feitas. Dito isto, como dissemos antes, a única coisa que realmente não ocorreu ainda é o
investidor exigir uma rentabilidade maior.
Pelo que o Don diz, quando essas exigências de maior rentabilidade chegarem, as organizações vão criar
produtos complexos, mas [isso vai] também forçar as novas organizações a correr mais risco. Assumir riscos não
é uma coisa ruim. Assumir riscos é como se faz para ganhar mais dinheiro. A questão é ter ou não aprendido as
lições sobre a gestão de risco e como fazê-la. Eu fico mais preocupado com qual vai ser o próximo risco com o
qual precisamos nos preocupar. Nós gastamos muito tempo com os riscos em torno de securitização e hipotecas
subprime e tudo mais.
Knowledge@Wharton: Combater a última guerra, por assim dizer.
Bill Schlich: Sim. Qual é o próximo risco? E como podemos nos preparar para isso? E as organizações estão se
preparando de forma que elas tenham tempo e capacidade para agir de forma tranqüila.
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