Protocolo para Transfusão no Período Neonatal e Lactente Jovem (até 4 meses de vida) André Albiero (Fundação Pró-Sangue/Hemocentro de São Paulo) Transfusão de pequenos volumes1 de Concentrado de Hemácias (CH) Indicações Anemia espoliativa (venóclise excessiva), anemia tardia do prematuro, sangramentos ocultos devido a acidentes obstétricos e malformações de placenta e/ou rotura de cordão, hemorragia oculta feto-placentária, corioangioma, transfusão gêmeoa-gêmeo, hemorragia intracraniana e retroperitonial. Anemias carenciais (herança materna): carências de substratos, tabagismo, etilismo, drogadição, patologias maternas e uso de medicamentos. Produção insuficiente de eritrócitos: síndrome de Blackfan-Diamond. A hemoglobina fetal protege os portadores de hemoglobinopatias congênitas de manifestações clínicas nos primeiros 30 dias de vida. Excepcionalmente, pela melhor capacidade de oferta de O2 da hemoglobina “A” aos tecidos, recém-nascidos (RN) com insuficiência respiratória, apnéia ou irregularidade do ritmo respiratório podem beneficiar-se da transfusão de pequenos volumes de CH, mesmo sem apresentar anemia. Sepse e ventilação mecânica são fatores de risco associados que fazem diminuir a tolerância à anemia. Sugerimos o cálculo do oxigênio disponível (O2D) como instrumento objetivo da estratégia restritiva para auxiliar a decisão dos neonatologistas: O2D = [0,54 + (0,005 x IG corrigida2)] x Hb (g/dl). Quadro 1 – Indicação de transfusão de CH baseada no O 2D O2D Condição > 7 ml/dl > 6 < 7 ml/dl Sugestão não transfundir Se recebeu transfusão de CH nos últimos 30 dias Se não recebeu transfusão de CH nos últimos 30 dias < 6 ml/dl 1 pequenos volumes de CH = 10 a 20 ml/Kg de peso 2 Idade gestacional ao nascimento + idade pós-natal transfundir 1 Amostras Para serviços que dispõem de gel-teste, se houver amostra da mãe, 1 ml de amostra do RN em EDTA é suficiente para tipagem direta e TAD. Se não houver amostra materna, 2 ml são necessários para tipagens direta e reversa (que pode revelar a passagem placentária de iso-hemaglutininas maternas da classe IgG e incompatibilidade materno-fetal ABO), PAI e TAD. Para os serviços que não dispõem do gel-teste, o volume inicial mínimo da amostra do RN é 3 ml, para todos os testes. Mais amostras podem ser necessárias para testes confirmatórios independente do método utilizado. Testes pré-transfusionais A determinação do fenótipo ABO humano completo e definitivo depende da presença de antígenos e anticorpos naturais complementares. Até quatro meses de idade, a expressão desses antígenos pode ser incompleta (expressão fraca) e os anticorpos detectados, geralmente são de origem materna. Portanto, nessa faixa etária e dentro de uma margem de segurança de até 12 meses, o laudo de tipagem ABO não deve ser considerado definitivo. Sugerimos que os laudos de tipagem sanguínea de RNs contenham essa observação. Recomendamos que os testes imuno-hematológicos em recém-nascidos sejam feitos em gel-teste devido à economia de volume de amostra que esse tipo de método proporciona. Deve ser realizada a tipagem direta ABO/Rh(D), porém a tipagem (ABO) reversa não precisa ser feita, desde que se disponha de amostra materna. A presença de anti-A ou anti-B, com métodos que incluam a fase de antiglobulina.deve ser verificada no plasma do RN (= tipagem reversa) toda vez que não houver amostra materna. Para quem estiver trabalhando com gel, basta utilizar os cartões LISSCombs como substrato. A tipagem da amostra materna (incompatível com a do RN) ou a presença de iso-hemaglutininas IgG no plasma do RN são suficientes para diagnosticar incompatibilidade materno-fetal por antígenos do sistema eritrocitário ABO, dispensando a realização de eluatos de rotina em RN com TAD negativo. Na amostra pré-transfusional inicial, deve ser realizada a pesquisa de anticorpos irregulares. Para tal fim, deve ser empregado preferencialmente o soro da mãe, mas podem ser utilizados: plasma ou eluato do RN (o que tiver maior volume), no caso da ausência da mãe. 2 Se a pesquisa de anticorpos irregulares for negativa, não será necessário compatibilizar CH para a primeira transfusão nem para as transfusões de CH subsequentes até 4 meses de vida. A supressão de amostras subsequentes até os 4 meses de vida nos casos previstos abaixo, poupa o RN de espoliação. Recomendamos que esse cuidado com o RN seja respaldado por, pelo menos, uma segunda amostra para confirmar os testes realizados na primeira (amostra confirmatória). Se a pesquisa de anticorpos irregulares demonstrar a presença de anticorpos clinicamente significativos, a transfusão deve ser feita com unidades que não contenham os antígenos correspondentes. Estas unidades devem ser compatibilizadas com soro (ou plasma) do RN ou com soro/plasma da sua mãe. Características dos CH para transfusão neonatal Os RN não podem ser transfundidos com hemocomponentes que contenham anticorpos irregulares clinicamente significativos. O CH indicado para transfusão de pequenos volumes não precisa ter menos de 7 dias. Essa regra vale apenas para exsanguineotransfusão (EXT). As unidades de CH não devem conter hemoglobina S. Sugerimos que sejam CMV negativas e/ou leuco-reduzidas para todos os RN. A irradiação gama está indicada para RN com menos de 1.200 g, para evitar reação enxerto versus hospedeiro. Não é necessário irradiar hemocomponentes,para transfusão em recém nascido a termo, exceto quando proveniente de doações específicas de familiares,ou quando houver suspeita de síndromede imunoficiência congênita. Escolha do grupo sanguíneo da unidade de CH Quando a criança expressa antígenos “A” e/ou “B” e não há incompatibilidade materno-fetal, a transfusão de CH do mesmo tipo que da sua tipagem direta (transfusão isogrupo) é recomendada. A opção pela transfusão isogrupo recai sobre o fato de que cerca de 40% dos doadores de sangue de tipo “O” têm títulos de iso-hemaglutininas (principalmente antiA) superiores a 512. Esses títulos oferecem o risco de causar hemólise por incompatibilidade menor em RN. Se o serviço de hemoterapia não determinar o título de anticorpos dos doadores “O”, a transfusão indiscriminada de CH “O” em RN pode ser perigosa. 3 Quadro 2 - Grupo sanguíneo de hemocomponentes para transfusão em RN (de acordo com o grupo sanguíneo materno) Mãe RN Tipagem direta Transfusão Tipagem reversa/Coombs CH (anticorpos) O A B AB PFC - CP CRIO A anti-A, anti-B O A B anti-A, anti-B O B O anti-A, anti-B O O A anti-B A A B anti-B O B AB anti-B A AB O anti-B O O B anti-A B B A anti-A O A AB anti-A B AB O anti-A O O A - A A B - B B AB - AB AB Volumes e cuidados na transfusão de CH O volume de CH a ser transfundido varia de 10 a 20 ml/Kg e depende da diferença entre o nível sérico de Hb desejado e o encontrado, da tolerância da criança a infusão de volume e das características dos produtos disponíveis. O rendimento dos produtos com menor concentração de Hb/ml (em soluções aditivas) é proporcionalmente menor. O uso de soluções aditivas é perfeitamente possível para pequenos volumes. Esses volumes representam 10 a 20% da volemia das crianças e podem ser infundidos a 2,5 ml/min. Os riscos de sobrecarga de volume são grandes em RN com insuficiência cardíaca e renal. RN com insuficiência respiratória podem ter queda de saturação de O2 durante a transfusão de CH. Nesses casos, a velocidade da transfusão deve ser diminuída ou interrompida. Diante da iminência de sobrecarga de volume, induzir balanço hídrico negativo, transfundir mais lentamente (até o limite de 4 horas por unidade) e/ou em alíquotas 4 menores. O equipo correto para transfusão em RN tem bureta graduada e filtro de macro-agregados (140 a 170 ). Se o fluxo do CH estiver muito limitado pela viscosidade na via de acesso do RN, pode-se acrescentar 20% do volume original em solução fisiológica para diluição na bureta, à beira do leito, com os cuidados padrão de assepsia. Em RN, a capacidade de manutenção da temperatura corpórea está comprometida. Hemocomponentes em baixa temperatura quando infundidos podem provocar alterações metabólicas com morbidade significativa (apnéia, hipotensão, hipoglicemia). A temperatura do CH, no momento da transfusão deve estar entre 20 e 30oC. O CH conservado a 4oC atinge o equilíbrio com essa temperatura ambiente em 20 minutos. Na velocidade de infusão mencionada acima, o CH entre 20 e 30oC atinge rapidamente a temperatura corpórea. O aquecimento de unidades de CH ou ST a ser transfundido é justificado somente para EXT ou transfusões maciças, pois a infusão rápida em baixas temperaturas pode levar a arritmias cardíacas: bradicardia sinusal e outras arritmias complexas ventriculares. Há aquecedores “em linha”, desenvolvidos especificamente para esse fim. Qualquer outra forma de aquecimento é desnecessária e desaconselhada, pois expõe ao risco de hemólise. Reações pós-transfusionais hemolíticas, febris não-hemolíticas e urticariformes em RN são extremamente raras. Os RN podem apresentar hiperinsulinemia e hipoglicemia de rebote. A vigilância da glicemia, através de fita reagente, é recomendada até 3 horas após o início da transfusão de CH. A reposição de solução de glicose pode ser necessária. Hipotensão persistente a despeito de reposição adequada de volume sugere hipocalcemia secundária ao citrato (das soluções conservantes). O risco é maior nos RN com insuficiência hepática e renal. A dosagem de Ca++ sérico e sua reposição são práticas recomendadas, sobretudo após transfusões maciças e EXT. O citrato é metabolizado em bicarbonato, que resulta em alcalose e hipocalemia. Por isso, alguns serviços pregam que a heparina seja a solução anticoagulante ideal para RN, porém sem o benefício dos conservantes associados ao CPDA-1. 5 Exsanguineotransfusão (EXT) Indicação Doença Hemolítica do RN (DHRN). A EXT pode ser realizada precocemente, baseada apenas em antecedentes de kernicterus em RN em gestações anteriores e/ou hidropsia atual, diagnosticado durante os exames pré-natais. Durante as primeiras 24 horas de vida, a EXT está indicada quando o TAD for positivo, a bilirrubina indireta (BI) 4,0 mg/dl, o nível sérico de Hb 13,0 g/dl e/ou a elevação de BI 0,5 mg/dl/hora. Após 24 horas de vida, com níveis de BI de acordo com o quadro abaixo: Quadro 3 - Níveis de bilirrubina indireta sugeridos para indicação de EXT Níveis de BI (mg/dl) RN de Termo saudável >22 RN de Termo 18-22 com hemólise franca ou com fatores de risco para encefalopatia RN pré-termo e/ou baixo peso com hemólise franca estável 2.000-2.499 18 20 1.500-1.999 16 18 < 1.500 13 16 Peso ao nascimento (g) Além de sua indicação na DHRN, a EXT também pode ser realizada para tratar hiperbilirrubinemia neonatal por outras causas: eritro-enzimopatias (deficiência de G6PD e piruvatoquinase) e defeitos estruturais congênitos da membrana eritrocitária (esferocitose e eliptocitose). Também é recurso adjuvante no tratamento de sepse neonatal grave e raramente, no da trombocitopenia alo-imune neonatal, para o clareamento dos anticorpos contra antígenos plaquetários. 6 Escolha de hemocomponentes para EXT O produto de escolha para EXT é o sangue total (ST) ou o sangue total reconstituído (STR), composto de CH fresco (rico em 2,3-DPG) + plasma fresco congelado (PFC), no volume de 160 ml/Kg de peso, que corresponde ao dobro da volemia do RN de termo. A presença de albumina livre no ST/STR constitui uma vantagem devido à sua habilidade para ligar-se à bilirrubina livre. Soluções de albumina humana a 20 % podem ser utilizadas como terapia complementar, na dose de 5 ml/Kg. O CH que compõe o STR deve, ter menos de sete dias, ser negativo para Hb “S” e sofrer irradiação gama (2.500 rads) menos de 24 horas antes do procedimento. O aumento significativo dos níveis de K+ nos concentrados de hemácias irradiados sugere que a irradiação leve a alterações no mecanismo regulador das concentrações de Na+ e K+ da membrana das hemácias. A elevação nos níveis de K+ é progressiva após 24 horas de estocagem dos concentrados de hemácias irradiados. Dois princípios básicos norteiam a escolha individualizada dos produtos de acordo com a presença de antígenos e anticorpos dos sistemas eritrocitários: o CH deve ser compatível com o soro da mãe e o PFC deve ser compatível com as hemácias do RN. Recomenda-se a escolha unidades de CH mais recente possível, até o limite de 7 dias de estocagem, desde que seja feito controle de qualidade na unidade de ST reconstituída e os resultados desse controle estejam dentro parâmetros recomendados abaixo: Quadro 4 - Controle de qualidade na unidade de STR para EXT Sódio ≤ 170 mEq/l Potássio ≤ 7 a 9 mEq/l Hb 13,0 g/dl pH 6,8 O volume total de STR preparado para EXT corresponde ao de duas volemias do RN, cujo cálculo costuma ser entre 80 e 100 ml/Kg de peso de acordo com o grau de prematuridade do RN: quanto mais prematuro, maior a relação volemia/peso. sem solução aditiva três a cinco dias 7 O uso de concentrado de plaquetas (CP) na reconstituição não é recomendado,, tampouco sua transfusão de forma empírica após a EXT. A trombocitopenia decorrente de patologia do RN, ou da própria EXT, preconiza a transfusão de concentrado de plaquetas (CP) após a realização da mesma, se a plaquetometria pós-EXT for inferior a 50.000/mm3. Portanto, a decisão deriva dos controles realizados 2 horas após-EXT: hemograma, coagulograma, glicemia e eletrólitos (Na+, K+ e Ca++). Atenção redobrada deve ser dada à reposição de Ca ++. Em casos de EXT para tratar DHRN causada por incompatibilidade ABO, deve ser usado CH “O” (não necessariamente Rh negativo) reconstituído com plasma fresco congelado (PFC) ABO-compatível com as hemácias do paciente; Nos casos de incompatibilidade contra antígenos do sistema Rh ou contra antígenos de outros sistemas, o concentrado de hemácias deve ser compatível com o soro da mãe, ou seja: ser desprovido do(s) antígeno(s) alvo dos anticorpos responsáveis pela doença hemolítica do recém-nascido. As principais complicações da EXT são: embolias, tromboses, arritmias por sobrecarga de volume, inclusive parada cardíaca; distúrbios ácido-básicos (acidose metabólica, logo após o procedimento e alcalose metabólica três horas após) e hidroeletrolíticos: hipernatremia, hipercalemia, hipocalcemia e hipomagnesemia. Transfusão Intra-uterina de CH (TIU) O hemocomponente indicado para TIU é o CH O Rh(D)- de menos de 5 dias, compatíveis com o soro materno, irradiado. O CH também deve ser negativo para Hb S com sorologia negativa para CMV e/ou leuco-reduzidos. Para evitar incompatibilidade ABO menor recomenda-se lavar as hemácias em solução fisiológica para a obtenção de hematócrito final entre 75 e 80%. A TIU não, deve ser indicada antes da vigésima semana de gestação, mas após essa idade gestacional pode ser repetida até a cada duas semanas . O volume transfundido na TIU por cordocentese é de 50 ml/Kg (peso estimado para feto não hidrópico da idade gestacional correspondente). Soluções aditivas Vários autores levantam preocupações teóricas que o uso de hemcomponentes preparados com soluções aditivas possam causar efeitos tóxicos em transfusões maciças em recém-nascidos. A adenina poderia provocar toxicidade renal e o manitol (renal e neurotoxicidade). Alguns estudos demonstraram que este efeito não ocorre durante o uso em cirurgia cardíaca, porém este resultado não pode ser extrapolado 8 para o uso em exsanguineotransfusão. Para evitar este risco é recomendado lavar os concentrados de hemácias coletados com soluções aditivas antes da reconstituição do sangue total. Transfusão de concentrado de plaquetas (CP) Indicação O uso de CP destina-se ao tratamento e/ou profilaxia de hemorragias causadas por prejuízo quantitativo e/ou qualitativo das plaquetas. As causas da trombocitopenia do RN podem ser congênitas ou adquiridas: trombocitopenia induzida por fototerapia, alo-imunização contra antígenos eritrocitários do sistema Rh, infecções, EXT, aspiração de mecônio, policitemia, hipertensão pulmonar persistente e outras desordens metabólicas. A trombocitopenia no período neonatal pode atingir 25 a 40% dos RN internados em unidades de cuidados intensivos neonatais. Há púrpuras com produção medular normal ou aumentada de plaquetas, causadas por aumento do consumo periférico (são as mais frequentes). Além da trombocitopenia alo-imune neonatal, há púrpura trombocitopênica imunológica, idiopática ou secundária a doença linfoproliferativa, a doença auto-imune e a púrpura trombocitopênica trombótica. Há púrpura de etiologia não-imunológica: síndrome hemolítico-urêmica, coagulação intravascular disseminada, hemangioma gigante, trombocitopenia induzida por cateteres, próteses, circulação extra-corpórea, oxigenador de membrana, uremia e hepatopatia. Trombocitopenias podem ser induzidas por heparina, quinidina, digoxina, penicilinas e ácido valpróico. As drogas inibidoras da ciclo-oxigenase (aspirina e similares) podem não induzir plaquetopenia, mas provocam diminuição na função de agregação plaquetária, o que pode prolongar o tempo de sangramento e justificar a necessidade de transfusão de CP em caso de hemorragia e antes de procedimentos cirúrgicos. As trombocitopenias causadas por diminuição de produção de plaquetas no RN são infrequentes, mas podem ocorrer na aplasia congênita de medula óssea, por processos infiltrativos (leucemias e outras neoplasias não hematológicas) e como resultado de quimioterapia. A transfusão de CP deve ser indicada toda vez que houver um sangramento ativo devido a um defeito qualitativo e/ou quantitativo de plaquetas, independentemente de sua etiologia, desde que o banco de sangue tenha condições 9 de atender a essa demanda com produtos adequados para cada caso. No que concerne à transfusão profilática de plaquetas, a discussão é fecunda. Há fatores associados à plaquetopenia que põem em risco a hemostasia dos RN: sistema de coagulação imaturo, deficiência fisiológica dos fatores dependentes de vitamina K, capacidade significativamente diminuída de produzir trombina, dificuldade natural de mobilizar o Ca ++ intraplaquetário, maior fragilidade vascular e presença de anticoagulante natural materno que atravessa a barreira placentária. A presença de distúrbio de hemostasia secundária (coagulopatia) associado à plaquetopenia, eleva o “gatilho” de transfusão profilática de plaquetas para níveis mais elevados. Na previsão de cirurgia ou outros procedimentos invasivos, manter a contagem de plaquetas acima de 50.000/mm 3. Se a cirurgia for cardíaca ou neurológica: 100.000/mm3. Em casos de plaquetopenia dilucional pós-EXT, a transfusão de CP é indicada se a contagem pós-procedimento for inferior a 50.000/mm3. Grupo sanguíneo das unidades de CP A compatibilidade ABO na transfusão de CP para RN deve ser respeitada sempre que possível. Os antígenos ABO estão presentes nas plaquetas, e a transfusão de plaquetas incompatíveis (incompatibilidade maior) implica em prejuízo de seu rendimento. Na incompatibilidade ABO menor, os títulos de iso-hemaglutininas presentes no sobrenadante das CP podem provocar hemólise nos RN. A compatibilidade do sistema Rh pode ser ignorada para a transfusão de CP no período neonatal. Apesar da intenção de transfundir plaquetas ABO idênticas em detrimento do sistema Rh, pode não haver disponibilidade em estoque. Nesses casos, recomendamos a seleção do CP plasma-incompatível, com o título de isohemaglutininas mais baixo (< 100). Volumes e cuidados na transfusão de CP O cálculo do volume indicado para transfusão de CP depende da diferença entre a plaquetometria vigente e a desejada, da volemia da criança, da concentração de plaquetas no produto utilizado e do rendimento plaquetário “padrão” após 1 hora (0,80). O cálculo da volemia dos RN leva em conta: o peso e a idade gestacional ao nascimento. A relação entre a volemia e o peso dos prematuros pode chegar a 110 ml/Kg. 10 3 plaquetometria(/mm ) x volemia (ml) x 1000 = V (ml) K A constante K depende do hemocomponente utilizado: Tipo de produto Valor de K Conc. plaq. standard 9,1 x 108 plaqs/ml Aférese ou “buffy coat” 1,5 x 109 plaqs/ml O tempo de infusão dos CP depende da capacidade hemodinâmica do RN. Em geral, de 20 a 30 minutos, sem nunca ultrapassar 4 horas após a abertura do sistema. O risco de contaminação bacteriana em CP é bem maior que em CH, pois o estoque entre 22 e 24oC favorece a proliferação espontânea de bactérias em concentrados de plaquetas. A transfusão de CP contaminadas por bactérias pode induzir choque e distúrbio de coagulação. Amostras da(s) unidade(s) suspeitas devem ser encaminhadas para bacterioscopia e cultura. Hemocultura da criança também deve ser colhida. A escolha do grupo sanguíneo das unidades de CP está sugerida no Quadro 2. Evitar a instituição de “plaquetas de horário” por mais de 24 horas sem verificar o rendimento. É importante não reduzir o volume do CP. Há perdas quantitativas, qualitativas e risco de contaminação bacteriana durante o processo. Em casos de transfusão para preparo cirúrgico esta deve ser realizada próximo do horário da cirurgia, para aproveitar o momento de melhor rendimento da transfusão. Transfusão de PFC e crioprecipitado Indicação Apenas para coagulopatias bem documentadas e presença de sangramento. Na ausência de sangramento ativo, evitar. Jamais usar o PFC como fonte de albumina. Preferir albumina (hemoderivado). Não esquecer da reposição de vitamina K. Usar FPC isogrupo ou AB, ver Quadro 2. O volume de 10 ml/Kg depende da capacidade do RN em manipular volume. 11