Abril – Literatura – 2ª Série 01. Texto I Vinte anos! derramei-os gota a gota Num abismo de dor e esquecimento... De fogosas visões nutri meu peito... Vinte anos!... não vivi um só momento! Contudo, no passado uma esperança! Tanto amor e ventura prometia, E uma virgem tão doce, tão divina Nos sonhos junto a mim adormecia!... Alvarez de Azevedo Texto II Tenho 33 anos e uma gastrite Amo a vida Que é cheia de crianças, de flores e mulheres, a vida esse direito de estar no mundo, ter dois pés e mãos e uma cara e a fome de tudo, a esperança Ferreira Gullar Explique a diferença da visão de mundo presente no texto de Álvares de Azevedo e de Ferreira Gullar. ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 1 02. Canto IX - I Juca Pirama O guerreiro parou, caiu nos braços Do velho pai, que o cinge contra o peito, Com lágrimas de júbilo bradando: "Este, sim, que é meu filho muito amado! E pois que o acho enfim, qual sempre o tive, Corram livres as lágrimas que choro, Estas lágrimas, sim, que não desonram". (Gonçalves Dias. "Poesias Americanas") Explique como se efetiva a subjetividade no poema de Gonçalves Dias. ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 03. ADEUS, MEUS SONHOS! (Álvares de Azevedo) Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro! Não levo da existência uma saudade! E tanta vida que meu peito enchia Morreu na minha triste mocidade! Misérrimo! votei meus pobres dias 2 À sina doida de um amor sem fruto, E minh'alma na treva agora dorme Como um olhar que a morte envolve em luto. Que me resta, meu Deus? morra comigo A estrela de meus cândidos amores, Já que não levo no meu peito morto Um punhado sequer de murchas flores! Explique como a temática do poema de Álvares de Azevedo se relaciona à característica romântica da melancolia. ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 04. (UFRJ 2008) HAPPY END (Cacaso) O meu amor e eu nascemos um para o outro agora só falta quem nos apresente. O texto "Happy end" - cujo título ("final feliz") faz uso de um lugar-comum dos filmes de amor - constrói-se na relação entre desejo e realidade, e pode ser considerado uma paródia de certo imaginário romântico. Justifique a afirmativa, levando em conta elementos textuais. ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________ 3 05. (PUCRS 2007) Para responder à questão, leia os textos a seguir, de José de Alencar e Graciliano Ramos, respectivamente. Texto A Atravessaram o bosque e desceram o vale. Onde morria a falda da colina o arvoredo era basto: densa abóbada de folhagem verde-negra cobria o adito agreste, reservado aos mistérios do ritmo bárbaro. Era de jurema o bosque sagrado. Em torno corriam os troncos rugosos da árvore de Tupã: dos galhos pendiam ocultos pela rama escura os vasos do sacrifício; lastravam o chão as cinzas de extinto fogo, que servira à festa da última lua. Texto B Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da caatinga rala. Todas as afirmativas a seguir estão corretas, EXCETO: a) A descrição da natureza diverge, nos dois textos, pois os autores viveram em épocas distintas e têm visões de mundo diferentes. b) O texto de José de Alencar constrói uma visão idealizada da natureza, o que está de acordo com o período romântico do qual faz parte. c) Graciliano Ramos questiona as agruras do homem nordestino, através da descrição de uma natureza agreste e seca, dentro da proposta realista do Romance de 30. d) Através da literatura, José de Alencar e Graciliano Ramos fazem denúncia social, pois retratam o homem do Nordeste em luta com a natureza que não lhe oferece os recursos de sobrevivência. e) Graciliano Ramos, ao narrar a caminhada dos retirantes, apresenta a vida do nordestino em suas dificuldades. 06. (UFRS 2007) Leia o seguinte fragmento do poema "Murmúrios da Tarde", de "Espumas Flutuantes", de Castro Alves. Ontem à tarde, quando o sol morria, A natureza era um poema santo, De cada moita a escuridão saía, De cada gruta rebentava um canto, 4 Ontem à tarde, quando o sol morria. Do céu azul na profundeza escura Brilhava a estrela, como um fruto louro, E qual a foice, que no chão fulgura, Mostrava a lua o semicirc'lo d'ouro, Do céu azul na profundeza escura. Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as afirmações a seguir sobre este fragmento. ( ) O primeiro e o último verso de ambas as estrofes apresentam estrutura paralela. ( ) As duas estrofes seguem a orientação romântica de libertar-se dos preceitos formais clássicos. ( ) Os versos exaltam a nostalgia do cair da tarde através de imagens sombrias e soturnas. ( ) A lua, ao contrário das demais imagens do poema, adquire um brilho vivo e luminoso, que contrasta com as sombras e a melancolia dos demais versos. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é a) V - F - V - F. b) V - V - F - V. c) F - F - V - V. d) V - V - V - F. e) F - F - F - V. 07. (PUCSP 2007) Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado (...) Cedendo à meiga pressão, a virgem reclinou-se ao peito do guerreiro, e ficou ali trêmula e palpitante como a tímida perdiz (...) A fronte reclinara, e a flor do sorriso expandia-se como o nenúfar ao beijo do sol (...). Em torno carpe a natureza o dia que expira. Soluça a onda trépida e lacrimosa; geme a brisa na folhagem; o mesmo silêncio anela de opresso. (...) A tarde é a tristeza do sol. Os dias de Iracema vão ser longas tardes sem manhã, até que venha para ela a grande noite. Os fragmentos anteriores constroem-se estilisticamente com figuras de linguagem, caracterizadoras do estilo poético de Alencar. Apresentam eles, dominantemente, as seguintes figuras: 5 a) comparações e antíteses. b) antíteses e inversões. c) pleonasmos e hipérboles. d) metonímias e prosopopeias. e) comparações e metáforas. 08. “Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu'inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá.” ("Canção do exílio", de Gonçalves Dias.) “Quem passou pela vida em branca nuvem, E em plácido repouso adormeceu; Quem não sentiu o frio da desgraça, Quem passou pela vida e não sofreu; Foi espectro de homem, não foi homem, Só passou pela vida, não viveu.” ("Ilusões da vida", de Francisco Otaviano.) “Mas essa dor da vida que devora A ânsia de glória, o dolorido afã... A dor no peito emudecera ao menos Se eu morresse amanhã!” 6 ("Se eu morresse amanhã!", de Álvares de Azevedo.) “Nessas horas de silêncio, De tristezas e de amor, Eu gosto de ouvir ao longe, Cheio de mágoa e de dor, O sino do campanário Que fala tão solitário Com esse som mortuário Que nos enche de pavor.” ("Saudades", de Casimiro de Abreu.) “Morrer... quando este mundo é um paraíso, E a alma de um cisne de douradas plumas: Não! o seio da amante é um lago virgem... Quero boiar à tona das espumas. Vem! formosa mulher - camélia pálida, Que banharam de pranto as alvoradas. Minh'alma é a borboleta, que espaneja O pó das asas lúcidas, douradas...” ("Mocidade e morte", de Castro Alves.) A vida, um dos direitos fundamentais do homem, era, muitas vezes, considerada pelos românticos como sinônimo de dor e sofrimento. Por isso, eles viam a morte como solução para seus males. Sendo assim, assinale a alternativa que apresenta o poema cujos versos exprimem desejo de evasão na morte. a) "Canção do exílio", de Gonçalves Dias. b) "Saudades", de Casimiro de Abreu. c) "Ilusões da vida", de Francisco Otaviano. d) "Mocidade e morte", de Castro Alves. e) "Se eu morresse amanhã!", de Álvares de Azevedo. 7 Gabarito 01. Álvares de Azevedo apresenta uma visão de mundo idealista, sendo que suas esperanças residem apenas no universo dos sonhos. Diante dessa postura escapista, a realidade representa “dor e esquecimento”, diante da constação de que “não vivi um só momento”. Ferreira Gullar, por sua vez, traz uma postura mais realista e otimista do mundo, que, apesar de não ser perfeito, é amado pelo eu lírico. 02. Os sentimentos expressos no poema são o amor e a dor. A melancolia se faz presente na expressão das lágrimas de um pai e no amor declarado pelo filho amado. 03. A temática do poema é a despedida da vida. Dessa forma, dialoga com a melancolia romântica pois manifesta a profunda tristeza em função de a vida ser um lugar de sonhos desfeitos e sofrimento, conforme comprovam os versos “Adeus, meus sonhos”, “triste mocidade”, “pobres dias” e “amor sem fruto”. 04. A poesia de Cacaso traz um “final feliz” romântico, pois é identificado com o amor. Um amor ao estilo romântico, porque é platônico, conforme indica o verso “só falta quem nos apresente”. 05. d 06. a 07. e 08. e 8