PORTUGUÊS - 1o ANO
MÓDULO 54
ROMANTISMO: POESIA
— PARTE 1
Como pode cair no enem
(ENEM)
Soneto
Já da morte o palor me cobre o rosto,
Nos lábios meus o alento desfalece,
Surda agonia o coração fenece,
E devora meu ser mortal desgosto!
Do leito embalde no macio encosto
Tento o sono reter!... já esmorece
O corpo exausto que o repouso
esquece...
Eis o estado em que a mágoa me tem
posto!
O adeus, o teu adeus, minha saudade,
Fazem que insano do viver me prive
E tenha os olhos meus na escuridade.
Dá-me a esperança com que o ser
mantive!
Volve ao amante os olhos por piedade,
Olhos por quem viveu quem já não vive!
AZEVEDO, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,
2000.
O núcleo temático do soneto citado é
típico da segunda geração romântica, porém
configura um lirismo que o projeta para além
desse momento específico. O fundamento
desse lirismo é:
a) a angústia alimentada pela constatação da irreversibilidade da morte.
b) a melancolia que frustra a possibilidade de
reação diante da perda.
c) o descontrole das emoções provocado pela
autopiedade.
d) o desejo de morrer como alívio para a
desilusão amorosa.
e) o gosto pela escuridão como solução para o
sofrimento.
Fixação
o1) (UFRRJ) O sofrimento amoroso é frequente nas obras dos poetas românticos, como se
pode observar a seguir:
Se Se Morre de Amor!
..............................................................................
Sentir, sem que se veja, a quem se adora,
Compr’ender, sem lhe ouvir seus pensamentos,
Segui-la, sem poder fitar seus olhos,
Amá-la, sem ousar dizer que amamos,
E, temendo roçar os seus vestidos,
Arder por afogá-la em mil abraços:
Isso é amor, e desse amor se morre!
..............................................................................
(DIAS, Gonçalves. Poema de Gonçalves Dias.
São Paulo, Cultrix, [s/d].)
A característica que situa o fragmento dentro da poética romântica é:
a) evasão no espaço, transportando o eu lírico para um lugar ideal, junto à natureza;
b) forte subjetivismo, revelando uma visão pessimista da vida;
c) idealização do amor, transcedendo os limites da vida física;
d) realização de poemas lírico-amorosos, valorizando o idioma nacional;
e) idealização da mulher, conduzindo o eu lírico à depressão.
Fixação
F
2)
Quero me casar
Quero me casar
Na noite na rua
No mar ou no céu
Quero me casar.
Procuro uma noiva
Loura morena
Preta ou azul
Uma noiva verde
Uma noiva no ar
Como um passarinho.
G
1
2
3
4
Depressa, que o amor
Não pode esperar!
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia.)
a) Caracterize brevemente a concepção de amor presente neste poema.
b) Compare essa concepção de amor com a que predominava na literatura do Romantismo.
3
m
Fixação
No fogo vivo eu me abrasava inteiro!
Ébrio e sedento na fugaz vertigem
Vil, machucava com meu dedo impuro
As pobres flores da grinalda virgem!
Vampiro infame, eu sorveria em beijos
Toda a inocência que teu lábio encerra,
E tu serias no lascivo abraço
Anjo enlodado nos pauis da terra.
Se de ti fujo é que te adoro e muito.
És bela – eu moço; tens amor, eu – medo!...
(Casimiro de Abreu)
Glossário:
1) ébrio: bêbado.
2) lascivo: sensual.
3) enlodado: sujo.
4) paul: pântano.
3) O eu lírico desse texto expressa qual reação perante o amor? Transcreva os versos que
melhor justificam sua resposta.
Fixação
4) Que consequência poderia advir da relação amorosa? Transcreva os versos que melhor
justificam sua resposta.
F
Fixação
Vinte anos! derramei-os gota a gota
Num abismo de dor e esquecimento...
De fogosas visões nutri meu peito...
Vinte anos!... sem viver um só momento!
Eu sonhei tanto amor, tantas venturas,
Tantas noites de febre e d’esperança...
Mas hoje o coração parado e frio,
Do meu peito no túmulo descansa.
(Álvares de Azevedo)
Boa-noite, Maria! Eu vou-me embora.
A lua nas janelas bate em cheio.
Boa-noite, Maria! É tarde... é tarde...
Não me apertes assim contra teu seio.
Boa-noite!... E tu dizes — Boa-noite.
Mas não digas assim por entre beijos...
Mas não mo digas descobrindo o peito,
— Mar de amor onde vagam meus desejos.
(Castro Alves)
5) (UNIRIO) Embora os textos sejam de autores que pertencem ao mesmo estilo literário,
a concepção da mulher amada e a abordagem
do sentimento de amor divergem.
a) Explique a afirmativa apresentada.
b) Identifique o estilo literário.
Fixação
Definição do amor
O amor é finalmente
um embaraço de pernas,
uma união de barrigas,
um breve tremor de artérias
Uma confusão de bocas,
uma batalha de veias,
um reboliço de ancas,
quem diz outra coisa é besta.
(MATOS, Gregório de. Obras Completas. Vol.5. Salvador:
Janaína, p. 1229, 1696)
Amor
Amemos! Quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu’alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!
Quero em teus lábios beber
Os teus amores do céu,
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!
Quero viver d’esperança,
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!
Vem, anjo, minha donzela,
Minha’alma, meu coração!
Que noite, que noite bela!
Como é doce a viração!
E entre os suspiros do vento
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!
F
7
d
(AZEVEDO, Álvares de. Poesias Completas.
São Paulo: Saraiva, p. 243-4, 1962)
a
Divagações sobre o amor
(...) Que é o amor? Sorrireis. Sois prático. Usais e sentis o b
amor como o homem que tem em casa luz, telefone, ventilador,
geladeira e jamais se pergunta o que é a eletricidade. E quando se c
pergunta isso, logo lhe ocorre que é alguma coisa que vem pelo fio
e pela qual se tem de pagar mensalmente a um polvo canadense d
qualquer. E que pode dar choque, e até matar, mas usualmente
acende lâmpadas e esquenta ferro.
Sois práticos; e tendo pago a conta da Light, vos julgais quites com
a eletricidade em geral, e seus mistérios mais fundos. Assim pagamos
todos a conta do amor e dele usamos a luz e a força: e considerando
que a vida é curta, acho que fazemos bem não indagando muita coisa.
Amor é, como a eletricidade, um fluido. E ficamos satisfeitos ao dizer
isso, o que é um meio de não dizer nada. Seria infame se fôssemos
parecer engenhosos usando palavras elétricas para os sentimentos,
falando de voltagem, frequência, acumuladores...
O que há de horrível no amor é que muitas vezes, depois que ele
acaba, dá a impressão de que não devia ter começado e, pior ainda, de
que não houve. “Não era amor” – declara o ex-apaixonado, com toda a
sinceridade. Tempos atrás se alguém lhe dissesse isso ele se lançaria
ao chão e invocaria as estrelas, premindo as mãos contra o peito, e
dizendo que se aquilo não era amor não havia amor neste mundo.
(BRAGA, Rubem. Um pé de milho. Rio de Janeiro: Record, p. 142-3, 1982)
6) (UERJ) No texto, a descrição de Gregório de Matos nos apresenta
como único componente genérico do amor:
a) o corpo;
b) a poesia;
c) a emoção;
d) o espírito.
Fixação
7) (UERJ) Uma das finalidades estilísticas da repetição do verbo querer no texto de Álvares
de Azevedo é:
a) evitar os excessos de emoções;
b) enumerar os desejos do eu lírico;
c) ressaltar as características da amada;
d) reiterar a vontade de beijar os lábios da amada.
Fixação
F
8) (UERJ) O tratamento dado ao tema amor é:
9
a) satírico no texto de Gregório de Matos, tal qual no poema ultrarromântico de Álvares der
i
Azevedo;
q
b) derivado do Modernismo no texto de Rubem Braga, integrando-se o tema amor à vida coc
tidiana;
a
c) ultrarromântico no texto de Álvares de Azevedo, evitando-se a idealização da relação amorosa
e da amada;
d) semelhante nos três textos pertencentes respectivamente ao Romantismo, Barroco e Modernismo.
b
c
d
Fixação
Arroz, feijão-roxinho, molho de batatinhas.
Mas cantava.
9) (UFF) Na literatura, a visão romântica representativa da mulher é a de uma figura idealizada, frágil e inatingível. Assinale a opção em
que a visão da mulher não se enquadra nesta
característica:
a) Ah! Vem, pálida virgem, se tens pena
De quem morre por ti, e morre amando.
- Dá vida em teu alento à minha vida,
Une nos lábios meus minha alma à tua!
(Álvares de Azevedo)
b) Anjos longiformes
De faces rosadas
E pernas enormes
Quem vos acompanha?
c) Anjo no nome, Angélica na cara!
Isso é ser flor, e anjo juntamente:
Ser Angélica flor, e anjo florente,
Em quem, senão em vós se uniformara.
(Gregório de Matos)
d) Minha mãe cozinhava exatamente:
(Adélia Prado)
e) Baixas do céu num voo harmonioso!...
Quem és tu, bela e branca desposada?
Da laranjeira em flor a flor nevada
Cerca-te a fronte, ó misterioso!...
(Castro Alves)
Proposto
Soneto
Pálida, à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!
Era virgem do mar! Na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d’alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!
Era mais bela! o seio palpitando...
Negros olhos as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...
Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti – as noites eu velei chorando,
Por ti – nos sonhos morrerei sorrindo!
(In: Álvares de Azevedo. São Paulo: Abril Educação, 1982, p.
22.
Literatura Comentada.)
Glossário:
1) escuma: espuma.
2) alvorada: nascer do sol.
1) No poema, há uma mudança progressiva
na visão da mulher. Explique tal afirmativa.
Proposto
2) Que figura de linguagem se encerra nos últimos 2 versos? De que forma ela corrobora a
visão da mulher expressa no poema?
Proposto
Cântico do calvário
À memória de meu filho morto a 11 de dezembro de 1863
Eras na vida a pomba predileta
Que sobre o mar de angústia conduzia
O ramo da esperança. Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegureiro
Eras a messe de um dourado estio
Eras o idílio de um amor sublime.
Eras a glória, a inspiração, a pátria,
O porvir de teu pai! – Ah! no entanto,
Pomba, – varou-te o temporal do norte!
Teto, – caíste! – Crença, já não vives!
..............................................................
................
Mas não! tu dormes no infinito seio
Do Criador dos seres! Tu me falas
Na voz dos ventos, no chorar das aves,
Talvez das ondas no respiro flébil!
Tu me contemplas lá do céu, quem sabe?
No vulto solitário de uma estrela
E são teus raios que meu estro aquecem!
Pois bem! Mostra-me as voltas do
caminho!
Brilha e fulgura no azulado manto,
Mas não te arrojes, lágrimas da noite,
Nas ondas nebulosas do ocidente!
Brilha e fulgura! Quando a morte fria
Sobre mim sacudir o pó das asas,
Escada de Jacó serão teus raios
Por onde asinha subirá minh’alma.
(Fagundes Varela)
Glossário:
1) asinha: depressa.
2) estio: verão.
3) estro: inspiração, criatividade.
4) flébil: lastimoso, choroso.
5) fulgura: relampeja, brilha.
6) messe: colheita.
7) pegureiro: guardador de gado, pastor.
8) porvir: futuro.
3) Transcreva do texto versos em que haja
referências metafóricas ao filho morto.
Proposto
4) A morte rompeu o vínculo entre pai e filho? Justifique com elementos do texto.
Proposto
5) (PUC)
Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto o poente caminheiro
— Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro.
Nesses versos da Lira dos vinte anos, Álvares de Azevedo:
I) identifica sua forma de viver com a dos heróis épicos; I
II) avalia a vida como uma experiência estéril e tormentosa;
III) entende a morte como uma suspensão melancólica das vibrantes paixões.
Em relação aos versos dados, está correto o que se afirma SOMENTE em:
a) I
b) II
c) III
d) I e II
e) II e III
Proposto
Meus oito anos
Oh! souvenirs! printemps! aurores!
(V.Hugo)
Oh! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d’amor!
Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! Dias da minha infância!
Oh! Meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre meu filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberto o peito,
— pés descalços, braços nus —
Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
(Casimiro de Abreu)
Glossário:
1) fagueiro: suave.
2) folgar: ser alegre.
6) Pode-se identificar nesse poema a característica romântica da evasão, embora de forma distinta da encontrada nos
poemas de Álvares de Azevedo. Justifique essa afirmativa.
Proposto
7) De que metáforas se utiliza o autor para referir-se à sua infância?
Proposto
Glória moribunda
É uma visão medonha uma caveira?
Não tremas de pavor; ergue-a do lodo.
Foi a cabeça ardente de um poeta,
Outrora a sombra dos cabelos louros,
Quando o reflexo do viver fogoso
Ali dentro animava o pensamento,
Formosa palidez cobria o rosto;
Nessas órbitas, — ocas, denegridas! —
Como era puro o seu olhar sombrio!
Agora tudo é cinza. Resta apenas
A caveira que a alma em si guardava,
Como a concha no mar encerra a pérola,
Como a caçoila a mirra incandescente.
Tu outrora talvez desses-lhe um beijo;
Olha-o comigo! Que espaçosa fronte!
Como a selva no ramo dos arvoredos!
E a sede em fogo das ideias vivas
Onde está? Onde foi? Essa alma errante
Que um dia no viver passou cantando,
Como canta na treva um vagabundo,
Perdeu-se acaso no sombrio vento,
Como noturna lâmpada apagou-se?
E a centelha da vida, o eletrismo
Que as fibras tremulantes agitava
Morreu para animar futuras vidas?
Sorris? Eu sou um louco. As utopias,
Os sonhos da ciência nada valem
A vida é um escárnio sem sentido,
Comédia infame ensanguenta o lodo.
[...]
levanta-me do chão essa caveira!
Vou cantar-te uma página de vida
De uma alma que penou e já descansa.
Glossário:
1) caçoila: vaso.
2) mirra: resina perfumada.
8) Justifique o título do poema.
Proposto
9) Qual é a reação do eu lírico ante a visão da caveira?
Proposto
10) (PUC)
Adeus, meus sonhos!
Adeus, meus sonhos, eu pranteio e
morro!
Não levo da existência uma saudade!
E tanta vida que meu peito enchia
Morreu na minha triste mocidade!
Misérrimo! Votei meus pobres dias
À sina doida de um amor sem fruto,
E minh’alma na treva agora dorme
Como um olhar que a morte envolve
em luto.
Que me resta, meu Deus? Morra comigo
A estrela de meus cândidos amores,
Já não vejo no meu peito morto
Um punhado sequer de murchas flores!
Glossário:
1) prantear: chorar.
2) cândido: puro.
O poeta:
I) Relativiza sua amargura estando na iminência da morte.
II) Lamenta ter-se dedicado a um amor não
correspondido.
III) Leva da vida apenas doces lembranças.
IV) Suplica a Deus por um consolo antes de
morrer.
Pela análise das afirmativas, conclui-se que
estão corretas:
a) I e II, apenas;
b) I e III, apenas;
c) II e IV, apenas;
d) III e IV, apenas;
e) Todas estão corretas.
Proposto
11) (PUC) O poema em questão associa-se à vertente _____ , pelo _____ e _____ exacerbados.
a) romântica; subjetivismo; sentimentalismo;
b) realista; individualismo; irracionalismo;
c) simbolista; espiritualismo; sentimentalismo;
d) romântica; misticismo; subjetivismo;
e) simbolista; subjetivismo; espiritualismo.
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ROMANTISMO: POESIA — PARTE 1