Baycox® e Imunidade contra coccidiose Robrecht Froyman, Bayer HealthCare, Germany Fevereiro de 2002 Imunidade contra coccidiose: os princípios básicos Os esporozoítos móveis e os merozoítos possuem diversas e complexas estruturas antigênicas e procuram se ligar e em seguida invadir as células do hospedeiro (mucosa/epitélio). As interações dos esporozoítos e merozoítos com a célula do hospedeiro (ligação, invasão, desenvolvimento) representam os estágios imunogênicos críticos do ciclo da coccidiose. A imunidade contra a coccidiose está presente quando os esporozoítos ou merozoítos são incapazes de iniciar seu desenvolvimento intracelular. A resposta imune nas espécies aviárias contra qualquer agente infeccioso, consiste de uma interação complexa da imunidade mediada por células (IMC) derivada do timo (T) e da imunidade humoral derivada da bursa (B) (imunoglobulinas, resposta de anticorpos). A habilidade das galinhas e dos perus em resistir contra a re-infecção (= imunidade) é quase que exclusivamente governada pela IMC. Os anticorpos, como componentes de proteção, possuem papel minoritário (somente pouca imunoglobulina A local [IgA] no intestino!). Um tecido funcional importante que interfere na imunidade contra a coccidiose está localizado no intestino e é chamado de GALT (do inglês, tecido linfóide associado ao intestino). GALT são agregados dispersos de células imunocompetentes ao longo da mucosa e na lâmina própria. Os principais tipos celulares envolvidos na resposta imune e na IMC associada à coccidiose são (a) macrófagos, (b) células linfóides natural killer (NK) e (c) 2 tipos de população de linfócitos derivados do timo, isto é, CD4+ (= T4) células T, e CD8+ (= T8) células T. Macrófagos e linfócitos CD4+ dominam a reação IMC a partir de uma infecção/contato primário. A atividade das células NK também é maior durante os estágios iniciais da infecção da coccidiose. As células CD8+ multiplicam-se, particularmente, a partir de um segundo contato (re-infecção), isto é, no momento em que a imunidade se torna efetiva! As células CD4+ e CD8+ são citotóxicas e citolíticas (por exemplo, interleucinas, interferon γ), isto significa que elas podem matar e provocar a lise de estágios do parasita durante o ciclo da coccidiose. As células CD4+ e CD8+ são as principais populações de células T envolvidas na resposta imune IMC da coccidiose. Imunidade, danos e desempenho: o balanço Não existe proteção cruzada entre as diferentes espécies de Eimeria. As diferentes espécies de Eimeria também se diferem pelo número de oocistos necessários para induzir proteção rápida e sólida. A espécie mais imunogênica (poucos oocistos são necessários para obter uma boa resposta imune) é a E. maxima. As espécies E. tenella e E. necatrix são as mais deficientes. As demais espécies de Eimeria se posicionam entre estes dois extremos. Sob condições práticas, diversos ciclos de coccidiose são necessários para que a imunidade protetora para a coccidiose seja adquirida: um processo que requer tempo, isto é, para uma infecção natural a proteção parcial requer cerca de 4 semanas, e a proteção completa requer 7 semanas. Para frangos, isto representa praticamente seu ciclo de vida completo! Diversos fatores (por exemplo, tipo de coccidiostático que é misturado à ração [modo de ação], densidade de aves, condições da ninhada etc.) afetam a intensidade e o início da resposta imune à coccidiose. Todos estes fatores estão relacionados à “pressão da infecção da coccidiose”, isto é, a magnitude (ingestão de poucos ou muitos oocistos), tempo (infecção precoce ou tardia) e intensidade/frequência (novos ciclos ocorrem rapidamente ou não) de exposição ao parasita. A imunidade e os danos/doença provocados pela infecção pela coccidiose estão proporcionalmente relacionados: quanto mais severa a pressão de infecção = mais severa será a infecção = mais severos serão a doença e os danos = maior será a imunidade. Aqui há três situações típicas: • Sob condições de pouca higiene, como por exemplo, muitos estágios infecciosos da coccidiose sendo liberados simultaneamente por muitas aves: há desenvolvimento de imunidade rápida e forte, mas também significa doença e danos substanciais ao desempenho das aves. • Sob condições regulares de sistemas múltiplos de produção de frangos (ionóforos na ração), infecções sucessivas que veem e vão, estimulam continuamente o sistema imune. Diversos veterinários e produtores acreditam que a imunidade se desenvolve lentamente sem prejudicar muito o hospedeiro e seu desempenho!!!!?? Acredita-se, corretamente ou não, que em muitas granjas padrão de produção de frango em todo o mundo, a coccidia possua um grau de reduzida sensibilidade ao ionóforo (tolerância aumentada), o que permite o desenvolvimento de imunidade suficiente. Tais infecções não provocariam danos ao desempenho (somente pequeno dano que pode ser facilmente compensado até o final do ciclo de vida do frango). Realidade ou percepção?? • A administração de vacinas vivas precocemente recai no desenvolvimento de imunidade parcial por esta vacina viva nas 2 primeiras semanas de vida, a qual é, por sua vez, fortalecida pela infecção endêmica de campo. Novamente, acredita-se que este processo de imunização precoce, subsequentemente “fortalecido” pela exposição natural e gradual a campo, seja inofensivo à ave. Realidade ou percepção? O tratamento com Baycox® é prejudicial à imunidade da coccidiose? A maneira correta de avaliar o efeito da medicação anticoccidiana na imunidade à coccidiose é um teste tipo bateria ou tipo piso, que compreendam 2 desafios (infecções) sucessivos, seguidos por uma infecção secundária. Os parâmetros avaliados (ganho de peso, lesões, contagem de oocistos) durante 1 ou 2 semanas após a infecção secundária são importantes para avaliar a resposta imune pela infecção primária. O delineamento ideal de um teste inclui os seguintes grupos experimentais: • Grupo controle negativo: sem infecção e sem tratamento • Grupo controle da infecção primária: este grupo recebe a primeira infecção que induzirá a imunidade, porém, não recebe o tratamento. Neste grupo, o desempenho e os danos causados pelo parasita da primeira infecção podem ser avaliados em comparação ao grupo controle negativo • Grupo controle da infecção secundária: este grupo não recebe a primeira infecção, nem o tratamento, porém, recebe a secunda infecção. Neste grupo, os danos causados pelo parasita na secunda infecção podem ser avaliados em comparação ao grupo controle negativo • • • Grupo controle imunizado: este grupo recebe a infecção primária, por exemplo, entre 2 e 3 semanas de idade (período onde a coccidiose normalmente ocorre nos frangos), seguida pela infecção secundária, por exemplo, algumas semanas após: infecção seguida por re-infecção. Neste grupo, a amplitude da imunidade induzida pela infecção primária é avaliada... o ... comparando-se o desempenho deste grupo controle imunizado, após a infecção secundária, com o desempenho do grupo controle negativo durante o mesmo período. Imunidade alta se desenvolverá se o desempenho destes grupos não se diferirem significativamente. o ... comparando-se os critérios clínicos/parasitológicos (por exemplo, score de lesão, contagem de oocistos) deste grupo controle imunizado, após o segundo desafio, com o grupo controle da infecção secundária, durante o mesmo período. Imunidade alta se desenvolverá se o parasitismo for reduzido tanto quanto no grupo controle da infecção secundária. Grupo infectado/tratado: este grupo recebe a primeira infecção, seguida pela medicação, porém não recebe a infecção secundária. Não se avalia necessariamente a imunidade deste grupo, no entanto, é válido julgar a eficácia do tratamento em resposta à primeira infecção Grupo imunizado/tratado: este grupo recebe a infecção primária, subseqüente tratamento anticoccidiano, e em seguida, a infecção secundária (= re-infecção). Neste grupo a possível interferência entre o desenvolvimento normal da imunidade contra a cocccidiose (como obtida pelo grupo controle imunizado) e o tratamento anticoccidiano é medida pela comparação deste grupo com: o o grupo controle imunizado: para o critério desempenho, e o o grupo controle imunizado e o grupo controle da infecção secundária, para o critério parasitismo Esta comparação permite concluir se o tratamento anticoccidiano impede/prejudica (interação negativa) ou estimula/eleva (interação positiva) a imunidade contra a coccidiose enquanto esta se desenvolve (ou se desenvolveria) sob as condições de infecção natural. Não se espera interferência negativa sobre a coccidiose quando: a. O desempenho do grupo tratado/imunizado, após o desafio secundário, se aproxime do desempenho observado no grupo controle imunizado b. O grau de controle do parasita no grupo controle imunizado e no grupo imunizado/tratado, em comparação ao grupo controle da infecção secundária, seja semelhante. O Baycox® não atinge os estágios extracelulares do agente da coccidiose e, assim, não interfere na resposta imune que poderá ser provocada/induzida por tais respostas extracelulares. Desta forma, nos testes de imunidade pelo Baycox® é importante que se enfoque os dois dias subsequentes ao tratamento pelo Baycox®, nos dias do ciclo da coccidiose, durante os quais simultaneamente: • Os estágios imunogênicos do parasita estão ativos, e • Espera-se a eficiência do Baycox® Por esta razão, durante os estudos de imunidade pelo Baycox®, os dias 2 a 4 são predominantemente relevantes. A seguir, alguns testes realizados de acordo com as recomendações acima. Estudo 1: Piso O Baycox® foi administrado nos dia 2+3 após a infecção primária, procurando-se atingir os estágios imunogênicos do primeiro ciclo da coccidiose, e nos mesmos dias do suposto segundo ciclo da coccidiose, 1 semana após, isto é, nos dias 9+10 após a primeira infecção. Os dados de ganho de peso demonstram que o desenvolvimento da imunidade foi sólido (o ganho de peso do grupo controle negativo e do grupo controle imunizado foi praticamente idêntico). O Baycox® não afetou duramente o desenvolvimento da imunidade, isto é, diferença de aproximadamente 5% no ganho de peso em relação ao controle imunizado. Estes 5% podem parecer um dado não tão baixo, porém, sob condições experimentais, condições individuais do desafio e com pronunciada variabilidade em testes com pequenos grupos, isto não é verdade: pelo contrário, é um resultado excelente para um desafio misto tão severo! Também fica óbvio quando o desenvolvimento do ganho de peso é visualizado e as curvas de crescimento são observadas: entre os dia 35 e 42 (período após o segundo desafio), as curvas de ganho de peso do grupo controle negativo, do grupo controle imunizado, do grupo imunizado/Baycox® e do grupo infecção primária/Baycox® estão concordantes e paralelos!! Infelizmente neste grupo não foi incluído o grupo controle da infecção secundária como referência para o critério parasitismo dos grupos imunizado e imunizado/Baycox®. No entanto, os achados parasitológicos corroboram com os dados de ganho de peso. Não foram observadas lesões no controle imunizado (após a segunda infecção) e praticamente nenhuma lesão (2/10 aves com E. acervulina [EA] score 1, nenhuma com E. tenella [ET]) no grupo imunizado/ Baycox®! Enquanto se registrou 20% de mortalidade após o primeiro desafio, não houve mortalidade após o segundo desafio no grupo controle imunizado, assim como no grupo imunizado/ Baycox®. Este teste fornece uma forte evidência de que o Baycox® não interfere no desenvolvimento da imunidade para a coccidiose. Estudo 2: Bateria Três diferentes subgrupos imunizado/Baycox® foram incluídos, tendo sido o Baycox® administrado durante os estágios imunogênicos críticos. A queda no ganho de peso foi severa no grupo controle da infecção secundária, isto é, redução de aproximadamente 60% em comparação ao controle negativo. Novamente, uma imunidade sólida foi registrada no grupo controle imunizado, com uma diferença de aproximadamente 4% em comparação ao grupo controle negativo. A perda de peso após o desafio secundário deu evidências de ausência de danos ao desenvolvimento da imunidade, isto é, mínima diferença para os 3 subgrupos com o controle imunizado em torno de 5%. Embora aparentes diferenças entre os subgrupos Baycox® possam existir, novamente estes achados são excelentes frente à variabilidade da ave em testes com pequenos grupos e severas condições individuais de desafio. A análise das curvas de crescimento para o período entre 48 e 57 dias confirmam novamente que o ganho de peso do grupo controle negativo, do grupo controle imunizado, do grupo imunizado/ Baycox® e do grupo infecção primária/Baycox® demonstram cursos concordantes, enquanto a infecção primária no dia 21 no grupo infecção/Baycox® (após medicação com Baycox®) e a segunda infecção no dia 49 (controle da infecção secundária) provocam severa e semelhante queda no crescimento. Os resultados do critério parasitismo estão alinhados com os resultados de desempenho. As lesões e a eliminação de oocistos foram bem altas no controle da infecção secundária, isto é, score mínimo de lesão entre 3 e 4 para EA e ET e contagem fecal de oocistos entre 6-7 log10 (ou 1 a 10 milhões de oocistos por grama de fezes!). Uma imunidade sólida (score mínimo de lesão <1 para espécies de Eimeria, contagem entre 100-1000 oocistos/grama) foi vista no grupo controle imunizado e o grupo imunizado/Baycox® sem qualquer diferença entre ambos!! A mortalidade no grupo controle da infecção secundária foi 7,1%, e zero nos outros grupos do teste. Este estudo também fornece fortes evidências de que o Baycox® não interfere no desenvolvimento da imunidade contra a coccidiose. Estudo 3: Piso Neste pequeno experimento, os frangos foram tratados antes da infecção primária (dias -3 e -2) e em 2 ocasiões após a primeira infecção (dias 4+5 e 11+12: direcionado para dois ciclos sucessivos da coccidiose). A eliminação de oocistos não revela qualquer influência do tratamento com Baycox® na imunidade. A diferença no ganho de peso (11%) entre o controle imunizado e o grupo imunizado/Baycox® recai sobre a variabilidade de peso (em torno de 10% entre os grupos experimentais) e indica uma forte e equivalente imunidade contra a coccidiose para os dois grupos experimentais. Estudo 4: Bateria O Baycox® foi administrado tanto nos dias 2+3 ou dia 3+4 após a infecção primária, compreendendo os dias durante os quais os estágios imunogênicos da infecção estavam ativos. Baseado no desenvolvimento do ganho de peso, a imunidade nas aves tratadas com Baycox® foi tão forte quanto no controle imunizado, isto é, não houve diferença no peso quando o desafio secundário ocorreu 2 semanas após a primeira exposição, e aproximadamente 10% menor quando o desafio secundário 3 semanas após. Diferentemente da severa redução no ganho de peso (acima de 60%!!) no controle da infecção secundária, as diferenças ≤ 10% não são significativas, considerando desvios padrões para o crescimento neste experimento, variando entre 4,2 e 17,9% entre os diferentes grupos do estudo. Mesmo as diferenças entre o controle negativo e o controle imunizado apresentam desvios similares a este intervalo. Baseado no critério parasitismo, o desenvolvimento da imunidade foi significativamente maior no grupo imunizado/Baycox® que no grupo controle imunizado. A contagem de oocistos sugere uma interação positiva entre Baycox® e imunidade!! Este estudo fornece fortes evidências de que o Baycox® não impede o desenvolvimento da imunidade contra a coccidiose, podendo até elevar a resposta imune da ave!! Conclusões: • O ganho de peso após o desafio secundário é o parâmetro mais sensível para verificar a influência sobre a imunidade. Não há diferença entre os controles negativos, controles imunizados e aves imunizadas com Baycox®. Baycox® não prejudica o desenvolvimento da imunidade contra a coccidiose! • A contagem de oocistos foi aproximadamente 1,5 log10 menor (significante!> 90%) nos controles imunizados em relação aos controles da infecção secundária. As contagens dos grupos imunizados com Baycox® são em média 2 log10 menor (significativo novamente, 99%) do que os controles imunizados: aumento da imunidade nos grupos tratados com Baycox®. • Escores de lesão são significativamente mais baixos nos controles imunizados do que nos controles da infecção secundária: imunidade boa, sólida. Uma redução adicional do escore lesão é visto até mesmo nas aves imunizadas com Baycox®: imunidade elevada pelo Baycox®.