Dezembro 2001 Página 1 Coccidiose em Bovinos* † Prof. Dr. Iveraldo Dutra Embora a enfermidade seja mais significativa em animais de um mês a dois anos de idade, todas as categorias animais podem estar envolvidas. A ocorrência deste parasito intestinal, associada a condições de estresse dos animais, interfere no desempenho do gado. Assim, condições estressantes como a desmama, transporte, início de confinamento, mudanças climáticas e debilidade induzida por outras doenças podem induzir surtos da doença, que está associada normalmente à ocorrência de diarréia, desidratação e perda de peso. Uma característica da diarréia provocada pela Eimeria é a presença de sangue nas fezes dos animais. Embora esta forma clínica da doença ocorra em grupos pequenos de animais num lote, a preocupação deve ser com o restante. A forma subclínica da eimeriose é a mais importante sob o ponto de vista econômico, levando freqüentemente a problemas de baixo desempenho do gado, mesmo sob condições de manejo ideais. Portanto, na dependência da intensidade do parasitismo dos animais, porções do intestino estarão comprometidas, provocando uma diminuição ou impedimento da absorção de nutriente pela mucosa intestinal parasitada. Condições em que os animais ingerem alimentos ou água contaminados com fezes favorecem a disseminação da doença. Os bovinos se infectam através de estruturas denominadas oocistos esporulados, ingeridos com a água e alimentos contaminados. A presença de águas estagnadas nas pastagens favorece a disseminação do parasito. Os oócitos permanecem viáveis por longos períodos em águas estagnadas e são ingeridos pelos animais, completando o ciclo do parasito. A contaminação fecal constantemente das aguadas e a infestação permanente do parasito são os fatores freqüentemente observados nos surtos da doença em nosso meio. No intestino dos animais estes oocistos liberam formas infectantes que penetram na sua parede interna. Nas células intestinais os parasitos evoluem e se multiplicam, causando lesões que interferem nos processos digestivos. Em infecções maciças, um grande número de células é parasitado, invadidas e destruídas provocando perda de superfície epitelial, espessamento da mucosa, hemorragia difusa e enterite catarral. Essas lesões reduzem a absorção de alimentos pelo intestino e favorecem a perda de líquidos orgânicos, sangue, proteínas e eletrólitos, Reportagem publicada na revista Gestão Pecuária, ano 1, N0 01, de Setembro de 2001. Professor da Unesp Araçatuba/SP. D-07 A coccidiose ou eimeriose é um problema sanitário de importância econômica crescente na pecuária brasileira. Isto ocorre em função da concentração de animais e mudanças significativas nos sistemas de produção extensivos e intensivos. Dezembro 2001 Nos confinamentos a doença assume importância econômica bastante significativa, principalmente a sua forma subclínica. Ocorre, em geral, maior período de permanência dos animais no confinamento. As condições de concentração de animais e estresse são extremamente favoráveis à ocorrência da coccidiose. Em bezerros lactentes, a ingestão de fezes através dos tetos contaminados das mães é particularmente problemática. Diversas gramas de fezes são ingeridas diariamente, principalmente no período das chuvas. Isto, associado ao estresse, leva a problemas de baixo desempenho dos animais e eventualmente diarréia. Freqüentemente os animais desenvolvem diarréias mistas, com a presença de mais de um agente etiológico, incluindo a participação da Eimeria. Sinais da Doença e Prejuízos Econômicos Clinicamente a doença é caracterizada por enfraquecimento e diarréia de sangue ou marrom (escura). A confirmação da existência da doença no rebanho pode ser realizada através de exames laboratoriais. Quando ocorre a infecção do intestino grosso, estrias de sangue podem ser observadas nas fezes. Desidratação, perda de apetite e apatia também são observadas. A mortalidade pode ocorrer em índices bastante variáveis. A principal forma, a subclínica, que atinge grande número de animais, é diagnosticada através de exames laboratoriais nas fezes, no entanto, este exame tem valor relativo. Animais na fase inicial de infecção parasitária são negativos no exame laboratorial. Na prática, quando existem todas as condições propícias ao desencadeamento do problema, a melhor solução é adotar programas preventivos, onde se associa o controle da doença com a melhoria do desempenho do gado. Isto é possível através do uso de coccidiostático. Os coeficientes de mortalidade pela coccidiose registrados são baixos e inferiores a 0,5%. Animais parasitados e não tratados estrategicamente permanecem em média seis meses a mais no pasto para alcançar o peso de abate. Em diversas situações temos acompanhado rebanhos em que o manejo zootécnico e sanitário é realizado dentro das especificações técnicas (excelente pastagem, bom sal mineral, vermifugação correta), mas mesmo assim os animais apresentam baixo desempenho. Em média nos rebanhos onde as medidas profiláticas com uso de decoquinato são utilizadas, o ganho de peso chega a 15% a mais quando comparado com lotes não tratados. Controle O controle da coccidiose é baseado na adoção de medidas sanitárias e de manejo, tratamento dos animais doentes e uso preventivo de coccidiostático. As práticas sanitárias visam diminuir a ingestão de oocistos esporulados. Na prática, esta medida torna-se impossível de ser realizada, uma vez que águas estagnadas e pastagem contaminada ocorrem em todas as situações. Da mesma forma, ocorre em confinamento, onde é impossível evitar a ingestão de fezes e água contaminada pelos animais. O tratamento individual dos animais afetados, quando adotado, deve ser com medicamentos contendo sulfa, D-07 levando a quadros de má nutrição ou baixo desempenho. Página 2 preferencialmente.A incorporação de coccidiostático no sal mineral, protéico ou na ração dos animais tem se revelado bastante vantajosa, tanto sob o ponto de vista sanitário quanto econômico. O decoquinato ingerido na concentração de 0,5 mg/kg de peso vivo, por 28 dias consecutivos, elimina por completo a infecção dos animais, fornecendo-lhes outra condição sanitária e de desempenho. Deve-se observar o consumo diário dos veículos utilizados para garantir ingestão correta dos níveis de decoquinato recomendados. O produto deve ser usado estrategicamente de forma preventiva e em situações Página 3 de grande desafio para os animais. O seu uso diminui acentuadamente, de maneira indireta, problemas de pneumonia e diarréias por outros agentes, uma vez que a Eimeria tem ação imunossupressora no gado. Reconhecer o problema na propriedade e adotar as medidas de controle devem fazer parte de um programa sanitário, independentemente do sistema de produção. Numa época em que é imperativo a diminuição de risco e a maximização do ganho na atividade pecuária, incorporar tecnologias de controle da coccidiose é benefício certo. D-07 Dezembro 2001