Relato de Caso Fratura da cânula de traqueostomia metálica com impactação na árvore traqueobrônquica: relato de caso Fractured metallic tracheostomy tube with impaction on the tracheobronchial tree: case report. Resumo Introdução: Poucos casos de fratura da cânula de traqueostomia, com migração do segmento distal para árvore traqueobrônquica, foram relatados na literatura. Objetivo: Relatar um caso de fratura de cânula de traqueostomia. Relato de caso: Paciente, do sexo masculino, com 64 anos, usuário de cânula de traqueostomia há 8 anos, e com história de permanecer com o mesmo tubo, sem troca, há 02 anos. O paciente foi atendido no setor de emergência e relatava a ruptura da cânula de traqueostomia há duas horas. Não apresentava quadro de obstrução respiratória. Foi realizada radiografia torácica evidenciando-se corpo estranho na árvore brônquica. Submetido a broncoscopia com aparelho flexível, com achado de corpo estranho que correspondia a segmento da cânula metálica no brônquio fonte direito, o qual foi retirado com alça sem intercorrências. Comentários finais: A orientação adequada do paciente sobre os cuidados com a cânula, um seguimento médico regular e a troca periódica da cânula tendem a reduzir a ocorrência da complicação descrita. Palavras-chave: Traqueostomia; Corpos Estranhos; Traquéia. Lilian Costa de Almeida 1 Joaquim Alves de Carvalho Junior 2 Seiji Nakakubo 3 Summary Introduction: There are few reports describing fractured tracheostomy tube, which causes lodging on distal segments of tracheobronchial tree. Objective: To present a case report of a patient with fractured tracheostomy tube. Case report: We present a case of a 64-year-old male, who had been using tracheostomy tube for the last eight years. He reported that he had not changed the tracheostomy tube for the last two years. He was admitted to the emergency room, and reported that his tracheostomy tube had been fractured two hours ago. There were no symptoms of respiratory obstruction. An X-ray demonstrated a foreign body on bronchial tree. Flexible bronchoscopy was performed and a fractured tracheostomy tube was removed from right main bronchus, without intercurence. Final comments: Orientation about tracheostomy tube care, periodic surveillance and periodic changing of tracheostomy tube can reduce this type of complication. Keywords: Tracheostomy; Foreign Bodies; Trachea. INTRODUÇÃO RELATO DO CASO O número de pacientes com lesões laringo traqueais que necessita da utilização de cânula de traqueostomia por tempo prolongado ou até mesmo definitivo é grande. Comumente, o uso prolongado leva a complicações, incluindo fístula traqueo-inominada, traqueo-esofágica, estenoses, granulomas, infecções e mais raramente a fratura da cânula de traqueostomia1. O primeiro relato de fratura ocorreu em 1960, e desde então essa complicação vem sendo pouco relatada2. Em uma revisão da literatura, Gana e col. em 2000, referem que apenas 22 casos de fratura de cânula haviam sido descritos na literatura, e acrescentam mais um caso a esses ao relatar a complicação em uma criança3. Tem-se como objetivo relatar caso inusitado de fratura de cânula de traqueostomia metálica , atentando para os aspectos relevantes à condução do caso e hipóteses etiológicas. Paciente do sexo masculino, 64 anos, natural e procedente de São Paulo, foi atendido no Pronto Socorro da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP) com queixa de rotura da cânula de traqueostomia, observada após acesso de tosse, quando o segmento externo da cânula metálica saiu do traqueostoma. Foi submetido, em 2001, à laringectomia supra glótica, com esvaziamento cervical seletivo bilateral de níveis II, III e IV, com traqueostomia, devido a carcinoma espinocelular de orofaringe com infiltração de supra-glote. No pós-operatório apresentou deiscência da sutura e formação de fístula cutânea, corrigida com retalho de músculo esternocleidomastóideo bilateral. Utilizava a mesma cânula de traqueostomia (número 03), há mais de dois anos. Com relatos no prontuário, dos maus cuidados de higiene que o paciente tinha com a cânula. 1) Especialização. Médico Residente do Serviço de Endoscopia da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. 2) Endoscopista. Médico assistente do Serviço de Endoscopia da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. 3) Endoscopista. Chefe do Serviço de Endoscopia da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Instituição: Irmandade Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. São Paulo / SP - Brasil. Correspondência: Lilian Costa de Almeida - Rua Dr. Cesário Mota Junior, 112 - Prédio Conde de Lara - 4ºandar - Vila Buarque - São Paulo / SP – Brasil - CEP: 01221-900 - E-mail: [email protected]. Recebido em 03/11/2010; aceito para publicação em 10/08/2011; publicado online 30/09/2011. Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 3, p. 153-154, julho / agosto / setembro 2011––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 153 Fratura da cânula de traqueostomia metálica com impactação na árvore traqueobrônquica: relato de caso. Figura1. Radiografia demonstrando corpo estranho em árvore brônquica. Almeida et al. Figura 2. Cânula metálica em brônquio fonte direito. Ao exame físico, encontrava-se em bom estado geral, eupneico, sem a presença de estridor, hemodinamicamente estável. Realizou radiografia torácica, que evidenciou corpo estranho na topografia de árvore brônquica direita, sem sinais de atelectasia (Figura 1). Encaminhado ao Serviço de endoscopia Peroral da ISCMSP, foi submetido à vídeobroncoscopia com aparelho flexível, sob sedação e com anestésico local. Evidenciou-se segmento de cânula metálica no brônquio fonte direito (Figura 2), que foi retirado com alça (Figura 3), sem intercorrências. Realizada revisão, sem evidência de lacerações no local. Demais segmentos compatíveis com a normalidade. DISCUSSÃO O desgaste da cânula de traqueostomia pode estar relacionado à presença de secreções brônquicas alcalinas ou a alta pressão interna contínua sobre a superfície da cânula, associada à ação corrosiva em seu interior. Depósitos esverdeados são retirados dos fragmentos metálicos e são atribuídos a carbonatos básicos formados pelo contato prolongado do cobre com uma mistura de secreção brônquica e ar4. Dentre outras causas de fratura, pode-se citar a pressão mecânica da manipulação (movimentos para remoção, limpeza e reinserção) e a imersão prolongada dos tubos em soluções desinfectantes como hipoclorito de sódio ou bicarbonato de sódio4. Coincidindo com dados da literatura, não houve insuficiência respiratória, pois se trata de um corpo estranho com pertuito interno e o desconforto respiratório só aparece nos casos em que a cânula está obstruída. Outro ponto em comum, é a resolução do caso com broncoscopia, sem intercorrências. A localização do corpo estranho pode variar. Além de localizar-se no brônquio fonte direito, como aqui relatado, pode ser encontrado na traquéia, carina e brônquio fonte esquerdo, a depender do tamanho do segmento fraturado4,5. 154 R�������������������������������������������������������� Figura 3. Cânula metálica retirada da árvore brônquica. A freqüência para troca de cânula varia muito entre os serviços. As justificativas principais para a troca freqüente são evitar a formação de granulomas, reduzir as infecções e evitar a oclusão da cânula por secreções espessas1. Independente da rotina do serviço, a orientação adequada do paciente sobre os cuidados com a cânula, um seguimento médico regular e a troca periódica da cânula tendem a reduzir a ocorrência da complicação descrita. REFERÊNCIAS 1. Dhand R, Johnson JC. Care of the Chronic Tracheostomy. Respir Care. 2006;51(9):984-1001. 2. Bassoe HH, Boe J. Broken Tracheostomy Tube as a Foreign Body. Lancet. 1960;1(7132):1006-1007. 3. Gana PN, Takwoingi YM. Fractured Tracheostomy Tubes in the Tracheobronchial Tree of a Child. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2000;53(1):45-48. 4. Gupta SC. Fractured Tracheostomy Tubes in the Trachea-bronchial Tree: a report of nine cases. J Laryngol Otol. 1987;101(8):861-867. 5. Majid AA. Fractured Silver Tracheostomy tube: a case report and literature review. Sing Med J. 1989;30(6):602-604. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 3, p. 153-154, julho / agosto / setembro 2011