Staphylococcus coagulase negativa resistente a oxacilina no
Hospital Regional Público do Araguaia – Pará
Staphylococcus negative coagulase resistant to oxacilin on
the Hospital Regional Público do Araguaia – Pará
Alessandra Barros Bezerra¹; Emanuele Corrêa de Araújo¹, Willy Cristiano Luz Alves² &
Rodrigo Alves de Oliveira³
RESUMO
Os estafilococos são bactérias comumente encontradas na microbiota da pele, mas nos
últimos anos sua colonização em dispositivos e procedimentos invasivos vem aumentando,
tornando-se um problema mundial. O objetivo deste estudo foi detectar o perfil de
sensibilidade antimicrobiana, de 24 cepas de Staphylococcus coagulase negativa isoladas de
pacientes do Hospital Regional Público do Araguaia/PA. As amostras biológicas foram
coletadas em três áreas distintas do hospital: ambulatório de acolhimento (04), clínica
médica (01) e UTI adulto (19), sendo os maiores índices de amostras encontrados nos swabs
axilares 8 (33%) e nasal 6 (25%), seguidos de hemocultura 4 (17%), urocultura 4 (17%) e
swab inguinal 2 (8%). A resistência a oxacilina em todas as amostras atingiu a taxa de 67%,
o que limita o seu emprego como terapia medicamentosa. A falta de provas específicas para a
determinação da espécie bacteriana através de metodologia rápida e segura dificulta o
diagnóstico e limita o tratamento com antimicrobianos específicos. Uma vez que estes sejam
isolados e diagnosticados de forma correta o uso do antimicrobiano poderá ser empregado
de forma adequada, reduzindo assim a taxa de resistência ao mesmo.
Palavras-chave: Nosocomiais, Staphylococcus coagulase negativa, oxacilina.
ABSTRACT
Staphylococci are bacteria commonly found in the skin flora, but in recent years its
colonization in invasive devices has increased, becoming a global problem. The aim of this
study was to detect the profile of antimicrobial sensitivity, from 24 strains of Staphylococcus
negative coagulase isolated from the patients Public Regional Hospital of Araguaia/PA.
Biological samples were collected in three distinct areas of the hospital: clinic (04), Medical
Clinic (01) and the Adult ICU (19), with higher rates on axillary swab samples in 8 (33%)
and nasal 6 (25%), followed by blood culture 4 (17%), urine culture 4 (17%) and inguinal
swab 2 (8%). The Resistance to oxacillin in all samples reached the rate of 67%, which limits
their use as drug therapy. The lack of specific evidence to determine the bacterial species
through a fast and safe method turns difficult the diagnosis and limits the treatment with
specific antimicrobials. Once these are isolated and diagnosed correctly, could be done the
proper use of antimicrobial, thus reducing the rate of resistance to it.
Keywords: Nosocomial, Staphylococcus negative coagulase, oxacilin.
1. Graduandas em Biomedicina da Faculdade de Ensino Superior da Amazônia Reunida – FESAR
2. Orientador e Professor da Faculdade de Ensino Superior da Amazônia Reunida – FESAR
3. Co-orientador e Professor da Faculdade de Ensino Superior da Amazônia Reunida - FESAR
e-mail para correspondência: [email protected]
INTRODUÇÃO
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Os estafilococos são bactérias pertencentes à família Micrococcaceae classificados
como cocos gram positivos em forma de cachos irregulares, aos pares, isolados, tétrade ou em
cadeia. Composto de 33 espécies, das quais 17 são isoladas em amostras biológicas. São
classificados em dois grupos: os coagulase positiva, cujo principal representante é o
Staphylococcus aureus, e os coagulase negativa (SCoN ), onde os mais freqüentes associados
a infecções humanas são S. epidermides, S. haemolyticus, S. warneri, S. saprophyticus e S.
lugdunensis (MACHADO, 2007).
Os estafilococos coagulase negativa (SCoN) são comumente encontrados na pele e
mucosas dos seres humanos, compondo a flora normal dos mesmos (ALVES e LEMOS,
2007). Antigamente eram considerados de pouca importância clínica, entretanto, durante as
últimas duas décadas a incidência a estes microorganismos vem aumentando e passaram a ser
reconhecidos como agentes oportunistas causadores de infecções nosocomiais e comunitárias.
Os tipos de infecções freqüentemente associados aos SCoN compreendem: infecções
urinárias, associadas a dispositivos permanentes, bacteremias em hospedeiros comprometidos,
endocardites de válvulas cardíacas naturais e protéticas, osteomielite e endoftalmite póscirúrgica (KONEMAN et al., 1997; BARRETO e PICOLI, 2008; CUNHA, SINZATO e
SIVEIRA, 2004).
Atualmente, os estafilococos, sejam coagulase positiva ou negativa, apresentam
elevada resistência em todo o mundo (acima de 60%) a benzilpenicilina (penicilina G). Com a
resistência a esses antimicrobianos foram criadas as penicilinas semi-sintéticas, que possuem
radicais que as protegem da ação das β-lactamases, porém em 1948 a 1961 surgiram na
Europa bactérias resistentes a essas penicilinas, comprovando a plasticidade do genoma desta
bactéria e a capacidade em adaptar-se à pressão seletiva dos antibióticos (ROBINSON e
ENRIGHT, 2003).
Com o aparecimento de cepas de SCoN resistentes a oxacilina ou meticilina
pertencente ao grupo das penicilinases, estas tornaram-se um problema clinicamente grave,
pois as drogas utilizadas para o combate a infecções passam a não mais desempenhar
corretamente sua função tornado o tratamento inviável. Essa problemática fez com que vários
estudiosos pudessem realizar pesquisas a fim de elucidar possíveis mecanismos de resistência
e assim tratar corretamente as infecções verdadeiras, impedindo que o paciente venha a ser
tratado desnecessariamente e que estas venham a conduzir à seleção de mutantes resistentes,
visto que principalmente em ambientes hospitalares ocorrem diagnósticos falso-positivos,
pois estes mesmos microorganismos são erroneamente diagnosticados, sendo então
contaminantes de amostras e materiais (ALCARÁZ et al., 2003).
A resistência a oxacilina pode ser detectada utilizando o método fenótipico através de
DNase, E-Test e disco de difusão (com auxílio de cepas controles), sendo estes utilizados com
maior empregabilidade nos laboratórios de microbiologia clínica por sua rápida execução e
baixo valor aquisitivo e pelo método genótipico tais como eletroforese em gel de campo
pulsado (PFGE) e reação de cadeia em polimerase (PCR), ambos realizados com frequencia
em laboratórios de pesquisas por obter resultados confiavéis, alto custo, execução lenta e por
necessitarem de equipamentos e espaço físico apropriado para sua realização, sendo o último
considerado padrão ouro para a detecção do gene mecA (ROSA, 2008; TERASAWA, 2006).
Diversos são os mecanismos de resistência dos ScoN associados a oxacilina, no
entanto, os mais importantes incluem a produção de gene mecA, PBPs, β-lactamase, slime,
plasmídeos e transposons, sendo que os genes que codificam resistência aos antimicrobianos
podem estar localizados no cromossomo ou nos plasmídeos, sendo o DNA cromossômico
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mais estável, enquanto que o DNA plasmidial é facilmente transportado de uma linhagem
para outra por conjugação bacteriana, permitindo assim a transferência de genes em conjunto,
incluindo os de resistência a antimicrobianos (ALVES & LEMOS, 2007).
O gene mecA tem origem cromossômica e apresenta nível de semelhança de
aminoácidos de 88% relacionado a espécies de Staphylococcus aureus meticilina resistente
(MRSA), sendo a similaridade entre as espécies detectada no gênero do Staphylococcus sciuri
em um total de 37 aminoácidos existentes, com uma possível hipótese de este gene ter surgido
primeiramente no gênero mencionado acima, no entanto, sua origem ainda é desconhecida
(CHAMBERS, 1997 ). Este apresenta dois complexos fenotípicos: o induzível e o
constitutivo. O induzível associa-se à presença do plasmídeo contendo o operon bla da βlactamase, com um lócus regulatório contendo os genes mecl e mecRl, semelhante aos genes
reguladores blal e blaRl da expressão de β-lactamase e o constitutivo ocorre quando à perda
ou eliminação do plasmídeo ou da β-lactamase plasmidial convertendo o fenótipo induzível
para constitutivo (MACHADO, 2007).
O gene mecA encontra-se localizado em um elemento genético móvel denominado de
Staphyloccocal cassete chromossome mec (SCCmec), sendo ausente em cepas de
Staphylococcus suceptivéis à oxacilina (MOUSSALLEM; KURY e ACOSTA, 2007),
apresentando-se como um complexo gênico com capacidade de promover trocas de
resistências afim de garantir uma melhor sobrevivência dos Staphylococcus a diversos
ambientes, além de possuir genes de resistência a outros antibióticos e outros genes e
pseudogenes que tem a capacidade de codificar enzimas com diferentes funções, porém seus
reais mecanismos não estão completamente elucidados. Atualmente, são classificados em
tipos I, II, II, IV, V e VI de acordo com os complexos do gene mec e ccr. Os tipos I, II, III e
VI encontram-se distribuídos nas infecções nosocomiais associados ao MRSA e a
disseminação desses tipos ocorrem principalmente pela pressão seletiva da exposição ao
antibiótico relacionado ao tempo de uso (HISATA et al., 2005; MOUSSALEM, KURY &
ACOSTA, 2007). Os tipos IV e V são amplamente distribuídos nas cepas comunitárias e são
facilmente transferidos dos SCoN para o S.aureus por apresentarem pequenas dimensões (21–
28 kbp) em relação aos demais. Os SCCmec tipos I e IV possuem apenas como o
determinante de resistência o gene mecA (que confere resistência somente aos β–lactâmicos)
enquanto que os tipos II e III possuem determinantes múltiplos de resistência a
antimicrobianos não β–lactâmicos, conferindo aos microorganismos multirrestência aos
antibióticos (MOUSSALLEM, KURY e ACOSTA, 2007).
Os complexos acima mencionados são assim denominados porque constituem regiões
indispensáveis e comuns a todos os isolados resistentes a meticilina; sendo o complexo do
gene mec possuidor de genes regulatórios da expressão do gene mecA, formados por mecl e
mecRl, ambos situados no SCCmec, podendo apresentar os genes íntegros ou truncados
(∆mecRl). Estas características podem levar a possíveis alterações nas estruturas do complexo
mec ocorrido pela movimentação ou inclusões seqüenciais de inserção (IS), já o complexo do
gene ccr codifica enzimas recombinases garantindo a mobilidade dos SCCmec de um
elemento do cromossomo e incorporando-o em um sítio específico de um receptor, sendo que
este complexo possui quatro tipos de genes de cada enzima recombinase (MACHADO,
2007).
A PBP (Penicillin binding protein) é uma proteína presente na parede celular dos
Staphylococcus, codificada pelo gene mecA e que participa inicialmente da produção de
peptideoglicano do microrganismo. A inibição da síntese da parede celular destes é medida
pela ligação a PBP, sendo esta classificada em quatro tipos principais que são PBPs 1, 2, 3 e 4,
sendo todas produzidas tanto por isolados de Staphylococcus sensíveis como por resistentes,
visto que apenas a PBP2 confere resistência a oxacilina. A PBP2 desempenha função
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auxiliadora e é subdividida em PBP2a, que possui uma baixa afinidade pelos antibióticos βlactâmicos. Na ausência do antibiótico os domínios transpepitidase (TPase) e transglicosilase
(TGase) da PBP2 sintetizam peptideoglicano, mais na presença do mesmo os domínios TPase
e TGase da PBP2 não sintetizam peptideoglicano, e a PBP2a não pode sozinha sintetizar este
material, sendo o domínio TPase inativado, enquanto que domínio TGase permanece ativo e
bifuncional, auxiliando o domínio TPase da PBP2a na atividade da síntese da parede celular e
crescimento bacteriano, como se observa na FIGURA 1 (TERASAWA et al., 2006; PINHO,
LENCASTRE e TOMASZ, 2001).
FIGURA 1: Atuação da PBP2 e PBP2a na presença e ausência de antimicrobianos βlactâmicos.
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Fonte: PINHO et al., 2001.
A β-lactamase é caracterizada como uma enzima extracelular codificada por
plasmídeos, surgida a partir do uso indiscriminado de antimicrobianos β-lactâmicos por parte
dos Staphylococcus spp, com função de hidrolize do mesmo. Esta enzima é classificada em
quatro tipos: A, B, C e D em que seu gene de expressão blaZ é controlado por dois genes
regulatórios denominados de blaRl (indutor) e blal (repressor). Quando o produto do blaRl
clivar blal ocorrerá a transcrição do gene, mais por outro lado a transcrição pode ser inibida se
o produto do gene blal se ligar ao operador blaZ (MACHADO, 2007).
A regulação da produção da PBP2a e da β-lactamase pode ser controlada tanto pela
expressão do gene mec quanto do bla, pois ambos possuem um alto nível de homologia
(MACHADO, 2007). Alguns genes designados fem (factor essential for methicilin resistance)
que são independentes do lócus mec e contribuem para a expressão da resistência aos βlactâmicos estando presente no cromossomo de MRSA (Staphylococcus aureus meticilina
resistente) e MRS (Staphylococcus spp meticilina resistente) e participam da síntese de
peptideoglicano dos Staphylococcus (MOUSSALLEM, KURY e ACOSTA, 2007).
Um último mecanismo associado à resistência dos SCoN relaciona-se a produção de
um material amorfo extracelular denominado de slime, que consiste em uma ampla mistura de
açúcares, constituintes da parede celular e proteínas extracelulares, além do ácido teicóico
como principal componente. Proteínas do tecido conectivo e o fator Von Willebrand também
encontram-se envolvidos nesse processo. Esse material confere a adesão do microrganismo a
superfícies plásticas através do desenvolvimento de duas etapas distintas (TERASAWA, 2006;
MACHADO, 2007; BERNARDI et al., 2007; EIFF, 2002).
A primeira etapa para a formação do biofilme envolve a rápida aderência e
persistência da bactéria na superfície do corpo estranho, onde o polissacarídeo específico
presente no slime chamado de polissacharidade capsular adhesin (PSA) inicia a aderência do
microorganismo a superfície do polímero (ROSA, 2008; TERASAWA, 2006).
A segunda etapa envolve a proliferação e adesão intracelular e um segundo
polissacarídeo denominado de polissacharidae intercelular adhesin (PIA) também está
envolvido na formação do biofilme, demonstrado na FIGURA 2. Alguns pesquisadores
defendem a idéia de que o PIA é o único polissacarídeo associada à formação do biofilme dos
SCoN, independente do PSA (ROSA, 2008; TERASAWA, 2006).
FIGURA 2: Esquema de formação do biofilme.
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Fonte: http://www.primary-plus.com/
1. Aderência da bactéria a superfície;
2. Persistência da bactéria e formação do PSA;
3. Proliferação bacteriana;
4. Adesão intracelular e formação do PIA;
5. Desprendimento de células filhas não aderentes ao biofilme.
Diante deste contexto, esta pesquisa teve como finalidade detectar o perfil de
resistência de cepas de Staphylococcus coagulase negativa resistente a oxacilina em pacientes
admitidos no Hospital Regional Público do Araguaia e que tenham que se submeter a exames
de microbiologia.
MATERIAIS E MÉTODOS
Este estudo foi desenvolvido no Hospital Regional Público do Araguaia (HRPA),
localizado em Redenção-PA, apresentando o perfil de média e alta complexidade. Atualmente
apresenta 98 leitos, distribuídos em: 21 na clínica médica, 32 na clínica cirúrgica, 12 clínica
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pediátrica, 06 clínica obstétrica, 04 clínica cirúrgica II, 09 Unidade de Terapia Intensiva (UTI)
adulto, 05 UTI pediátrica, 05 UTI neonatal e 04 leitos berçário. Possui Comissão de Controle
de Infecção Hospitalar (CCIH) implantada desde a sua criação, atualmente apresenta taxa
média de 3,76% de infecção hospitalar.
Para a realização deste estudo foram utilizadas as amostras biológicas colhidas de
pacientes admitidos no HRPA no período compreendido entre 11 de setembro e 30 de outubro
de 2010. Essas foram extraídas da região inguinal, axilar, nasal, sangue (hemocultura) e urina
(urocultura) de pacientes que estavam na Unidade de Terapia Intensiva (UTI adulto),
Enfermaria de Clínica Médica e Ambulatório de Acolhimento.
Durante o período de realização do estudo foram coletadas 237 amostras diversas, mas
somente 24 foram selecionadas, por se tratarem de Staphylococcus coagulase negativas.
Foram utilizados meios não-seletivos (ágar sangue) e seletivos (ágar manitol), coloração de
gram para análises das características morfo-tinturiais e provas bioquímicas específicas tais
como coagulase e catalase para a caracterização do grupo bacteriano. Após a identificação da
espécie bacteriana, as mesmas foram submetidas a teste de sensibilidade a antimicrobianos
por disco de difusão (DD), desenvolvido por Kirby & Bauer. Foram selecionados os
antibióticos mais empregados na prática clínica hospitalar: amoxacilina/ácido clavulânico,
ampicilina, cafalotina, cefoxitina, ciprofloxacina, clindamicina, cloranfenicol, eritromicina,
gentamicina, oxacilina, penicilina, rifampicina, sulfazotrim, tetraciclina e vancomicina para
verificar se as bactérias identificadas apresentavam alguma resistência significativa sobre as
substâncias testadas, sendo então incubadas a 35 ºC (+/- 2 ºC) durante 18-24 horas até a
realização da leitura de seus respectivos halos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com as análises realizadas nas 24 amostras de SCoN das três clínicas do HRPA, 16
delas (67%) mostraram-se resistentes a oxacilina. Notou-se que os maiores números do
microrganismo foram determinados em materiais biológicos de 8 swabs axilares, seguidos de
6 swabs nasais, 4 amostras de sangue, 4 amostras de urina e 2 swabs inguinais, distribuídos
nos distintos setores, apresentados na TABELA 1:
TABELA 1: Origem e número de amostras obtidas por unidades de tratamento.
SÍTIOS DE ISOLAMENTO
UNIDADES
Urina
Sangue
Swab axilar
Swab inguinal
Swab nasal
Ambulatório
04
-*
-
-
-
Clínica Médica
-
01
-
-
-
UTI Adulto
-
03
08
02
06
(-)* não houve crescimento de microorganismos.
De acordo com os resultados mencionados na TABELA 1, a proporção para cada
material neste estudo equivaleu a 33% em swab axilar e 25% nasal, sendo os
microorganismos mais associados à colonização de pacientes imunodeprimidos. NAOUM et
al. (2002) realizaram um estudo em que se demonstra que a proporção para estes materiais
chega a 24% e 26% de positividades, havendo diferenças entre os valores encontrados nestes
e no do autor devido ao menor número de amostras utilizadas para a realização desta análise.
Para a hemocultura e urocultura, ambas obtiveram a mesma proporção de 17% e 8% swab
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inguinal. O grau de proporcionalidade em relação aos materiais utilizados para as distintas
análises pode ser observado no GRÁFICO 1.
GRÁFICO 1: Taxas das amostras analisadas.
Vários trabalhos com diferentes metodologias, para determinação da resistência a
oxacilina por Staphylococcus coagulase negativa, foram realizados em todo o mundo nos
últimos anos. Em sua grande maioria esses trabalhos não apontam a estratégia usada pela
bactéria e sim o percentual de microorganismos resistentes, o que não diminui a importância
dos resultados encontrados, pois indicam em sua maioria a melhor terapêutica a ser prescrita
pelo médico.
CUSTÓDIO et al. (2009) avaliaram a microbiota das mãos dos profissionais de saúde
de um hospital em Itumbiara (GO) e verificaram que os Staphylococcus coagulase negativa
foram o principal achado com 44,5% dos microorganismos isolados, destes 75% eram
resistentes a oxacilina. Os autores referenciaram que este estudo implicou na mudança de
paradigma dos profissionais envolvidos na assistência hospitalar daquela unidade, tendo como
medida mais importante a higienização das mãos para a prevenção e controle de infecções
nosocomiais, visto que a avaliação da assepsia das mãos realizadas por estes profissionais não
eram adotadas de modo correto ou mesmo não empregadas como hábito rotineiro.
Em 2008, HÖRNER et al., avaliaram o perfil microbiológico das meningites em um
hospital universitário de Santa Maria (RS). Neste estudo, o S. epidermidis constituiu a
etiologia bacteriana mais frequente com 19,7%, dos quais 46,2% eram resistentes a oxacilina.
Os autores compararam seus resultados com outros estudos e verificaram que as meningites
provocadas por Staphylococos coagulase negativa estão sempre entre os agentes mais
frequentes causando esta patologia.
No estudo realizado por BARRETO (2008), verificou-se a prevalência de
estafilococos em um hospital de Porto Alegre (RS), onde 81,4% dos Staphylococcus
coagulase negativa, dos diversos materiais analisados apresentavam resistência a oxacilina.
Trata-se de um dado importante, pois a grande maioria destas amostras eram do Centro de
Tratamento Intensivo Neonatal.
Em Uberlândia, MELO et al. (2009), isolaram 32 (72,04%) amostras de estafilococos
com resistência a meticilina/oxacilina a partir de 41 pacientes incluindo 21 (51,21%) e 18
(43,9%) colonizados por MRSA e MRCoNS, respectivamente. Ambos os estudos
apresentaram semelhanças significativas em comparação aos achados de MRCoNS no HRPA,
sabendo que a proporção dos microrganismos encontrados não significa que possam estar
frequentemente associados aos Centros de Terapia Intensiva, pois a quantidade de amostras
advindas destas clínicas são maiores, visto que este procedimento de coleta é adotado com
maior prevalência em pacientes de UTIs.
Diversas são as fontes de contaminações detectadas no ambiente hospitalar, as mais
relevantes são as mãos dos profissionais de assistência, os equipamentos e a microbiota dos
próprios pacientes. Estudos como o desenvolvido por Custódio et al. (2009) demonstram que
a correta assepsia realizada pelos profissionais da saúde implica diretamente no nível de
redução das taxas de infecções hospitalares, sabendo que estes agentes são frequentemente
associados como residentes da pele humana e que podem ser transmitidos e introduzidos nas
diversas clínicas pelos pacientes ou mesmo por profissionais que mantém contato direto com
estes e que uma vez extintos possivéis erros de detecção poderão ser erradicados.
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De acordo com o estudo desenvolvido por GANDIN e SOUSA (2007) no Hospital
Infantil Joana de Gusmão, a taxa média de infecção hospitalar foi equivalente a 3,47% ao ano.
Apesar do perfil de atendimento deste hospital ser distinto do HRPA, eles se assemelham
quanto a taxa média mensal de infecção hospitalar, que no caso do HRPA é de 3,76%. Estas
médias são classificadas como aceitáveis, por estarem dentro do percentual preconizado pelo
Ministério da Saúde, que é de até 5% ao ano.
A técnica de disco de difusão proposta por Kirby & Bauer tem sido rotineiramente
empregada pelos laboratórios de microbiologia clínica por se tratar de uma ferramenta rápida
e eficaz, onde seu resultado reflete o grau de susceptibilidade do microrganismo quanto aos
antimicrobianos testados. Outras técnicas oferecem maior margem de segurança quanto à
identificação de resistência a antimicrobianos, como a PCR (Polymerase Chain Reaction), por
exemplo, mas o seu emprego ainda não se tornou realidade para os laboratórios, devido ao
alto custo envolvido. O emprego da PCR limita-se as pesquisas científicas, onde é o “padrão
ouro” para a elucidação dos mecanismos de resistência bacteriana.
A oxacilina é um antimicrobiano do grupo das penicilinas onde é a primeira escolha
para tratamento das infecções estafilocócicas em hospitais, quando não há resistência
aparente. A determinação correta da susceptibilidade a oxacilina em amostras de estafilococos
é fundamental, pois a falha na detecção desta resistência pode resultar em uma terapêutica
ineficaz, levando ao uso desnecessário e indiscriminado da vancomicina e outros agentes de
amplo espectro em hospitais (KAISER, 2010).
Em 2010, a CCIH do Hospital de Clínicas de Porto Alegre desenvolveu um programa
que monitora e controla o uso dos antimicrobianos neste local, o chamado Programa de
controle de antimicrobianos (PCAs). Este tem o objetivo de realizar o controle de
medicamentos empregados de acordo com a real situação clínica do paciente, o tempo
adequado bem como as doses administradas a cada um, visando à redução dos custos com os
medicamentos e possíveis mecanismos que levem ao desenvolvimento de resistência cruzada,
para que dessa forma a terapia empírica venha a ser desenvolvida sem maiores consequências
e que os antibióticos principalmente de amplo espectro não venham a ser utilizados de forma
indiscriminada (SANTOS et al., 2010). Ações como estas devem ser seguidas para que haja
avanço na redução de bactérias resistentes a antimicrobianos de uso sistêmico.
CONCLUSÃO
O conhecimento do grupo e a resistência mediada pelos Staphylococcus coagulase
negativa são de suma importância para a determinação do diagnóstico, visto que estes podem
permanecer em diversos ambientes, sejam eles hospitalares ou entre a comunidade. A
detecção de cepas resistentes a oxacilina deve ser imediatamente relatada para que estas não
venham tornar-se um agravante, circulando no ambiente hospitalar e desenvolvendo possíveis
mecanismos de resistência que levem a restrinção no uso de antibióticos empregados com a
finalidade do combate a estes microrganismos. A assepsia realizada de forma correta e
empregada rotineiramente entre os profissionais de saúde também levam a redução das taxas
de infecções e contaminação evitando assim possíveis erros de detecção e falhas quanto ao
uso do terapêutico empregado.
AGRADECIMENTOS
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Agradecemos ao Hospital Regional Público do Araguaia/PA por nos disponibilizar as
amostras necessárias utilizadas neste estudo, aos orientadores pela compreensão e paciência e
aos familiares pelo apoio incondicional nos momentos difíceis.
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Staphylococcus coagulase negativa resistente a oxacilina