Pediatria CASO CLÍNICO: LES Hospital Regional da Asa Sul – HRAS/SES/DF Dra Mônica Ferreira Leite, Staff Ala B Dra Larissa Oliveira Dias, R2 www.paulomargotto.com.br Brasília, 29 de março de 2011 CASO CLÍNICO • Identificação: – Michelli Pereira de Melo, 10 anos – Data de Nascimento: 08/08/2000 – Natural e procedente de Pedro II, Piauí – Peso 26 Kg CASO CLÍNICO • QUEIXA PRINCIPAL: • Febre e dor de dente há uma semana. CASO CLÍNICO • Em junho de 2010 iniciou quadro de cefaléia recorrente de difícil controle, sem melhora com analgesia habitual, alem de mialgia e febre recorrente. Em novembro de 2010 apresentou quadro de dor em MMII, sangramento gengival, petéquias, equimoses e febre. Permaneceu internada para investigação clínica, em Teresina, apresentando um episódio de crise convulsiva e segundo familiares foi transfundida duas vezes. CASO CLÍNICO • Levantada hipótese diagnóstica de LES e Esclerose Mesangial Hipocampal. Possui relatório médico em que consta inicio de tratamento para LES com prednisona 30 mg ao dia e Carmabazepina para tto de esclerose mesangial. Segundo relatório possuía FAN +, anticorpos negativos, RNM e EEG que confirmavam diagnóstico de Esclerose Mesangial Hipocampal. Esses exames não estavam com a paciente. CASO CLÍNICO • Familiares procuraram HRAS em 19/02/11 pois a paciente havia perdido consulta com reumatologista em Teresina e porque a criança apresentava febre de 39° há uma semana e dor de dente. Sem história de vômitos, diarréia, tosse, coriza ou sangramentos. CASO CLÍNICO • Exame físico de entrada: REG, hidratada, eupneica, afebril, hipocorada, pouco comunicativa, eritema malar, livedo reticular intenso em tronco e raiz de membros. • ACV: RCR em 2T, BNF s/s. FC 98 bpm • AR: MV + sem RA. FR 20 irpm • AB: plano, normotenso doloroso a palpação em região de hipogastro, sem VMG. • Ext: bem perfundidas sem edemas, com equimoses em MMII. • ORO: placas esbranquiçadas em orofaringe, dentes em péssimo estado de conservação, gengivas hiperemiadas e edemaciadas. • HD: Abscesso dentário, monilíase, LES?? • CD: Iniciada ampicilina e sulbactam, mantida prednisona 20 mg/dia, nistatina solução oral, encaminhada a ALA B, solicitado parecer da odontologia. EVOLUÇÃO CLÍNICA 20/02: solicitados pareceres da odontologia, reumatologia e neurologia. Atb terapia em curso. Paciente com humor deprimido. 21/02: Respondido parecer da neurologia. A mesma julgou que a paciente poderia evoluir com fraqueza muscular em caráter de intermitência, contudo não parecia tratar-se de doença neurológica primária. Orientou solicitar CPK, LHD e aldolase, EEG, eletroneuromiografia, RNM de encéfalo, parecer da oftalmologia fundo de olho. Suspender carbamazepina. EVOLUÇÃO CLÍNICA • 22/02: Respondido parecer da odontologia: solicitar exame radiográfico para conclusão do diagnóstico. • 24/02: Respondido parecer da reumatologia e, devido a forte hipótese diagnóstica de LES, solicitar: angioressonância de crânio, Rx tórax AP e perfil, ecocardiograma, Coombs direto, VDRL, PCR, alfa1glicoproteína ácida, Ur, Cr, cistatina C, TGO, TGP, prot total e frações, colesterol total e frações, triglicerídeos, GGT, BT e frações, FAN, anti-DNA, anti-Sm, anticardiolipina IgM e IgG,anticoagulante lúpico, C3 eC4) EVOLUÇÃO CLÍNICA 25/02: iniciado cálcio 1g/dia devido ao uso crônico de corticóide. D6 de ampicilina/sulbactam e nistatina oral, afebril desde a internação, segue sem queixas com melhora do abscesso. 27/02: Solicitada proteinúria de 24h. 28/02: Realizado ecocardiograma: normal do ponto de vista anatômico e funcional. Ausência de derrame pericárdico. Paciente inicia quadro de vários picos febris durante o dia. D10 de amp/sulbc. 01/03: Persiste com febre (evolução da doença ou foco infeccioso??), discutido troca de atb, optou-se por solicitar exames, manter atb e extrair dente. Reumatologia orientou aumentar dose de prednisona para 30 mg/dia, iniciar protetor gástrico e albendazol. Exames: radiografia tórax infiltrado bilateral, plaquetopenia, anemia, aumento de transaminases. Realizada angioressonância no HUB. EVOLUÇÃO CLÍNICA 02/03: Avaliação Reumato: Pneumonite por vasculite decorrente de atividade lúpica? Infecção subclínica associada? Conduta: aumentar corticóide oral para 2mg/kg/dia (60 mg/dia). Esperando melhora da vasculite e da febre se causada por atividade lúpica. Trocar nistatina por fluconazol. 04/03: Extraídos dentes comprometidos. Resgatado resultado de exames solicitados pela reumatologia. Conduta: AAS 100mg/dia, Sulfato de hidroxicloroquina 150mg/dia. 05/03: Suspenso ampicilina/sulbactan D14. Paciente afebril há 48 horas. EVOLUÇÃO CLÍNICA 07/03: PROTEINÚRIA DE 24h: 132,4mg/24h = 5,09mg/kg/dia 09/03: Avaliação neurologia: Aguardando resultados de angiorressonância para avaliar critérios de Neurolupus. Avaliação Reumatologia: profilaxia de espasmos vasculares , tromboembolismos e necroses periféricos: nifedipina LP 20 mg/dia dividida em 2 tomadas. 10/03: suspenso fluconazol 12/03: Paciente apresentando melhora importante do estado geral, mais ativa, diminuição de rash malar, aceitando bem dieta oral. Apresentando picos hipertensivos. 15 dias após inicio de pulsoterapia oral. 14/03: dobrada dose de anlodipino. 15/03: solicitados exames de controle, iniciado captopril 12/12h. 16/03: resultado de exames: aumento de triglicerídeos e colesterol total, passado captopril para 08/08. 18/03: iniciado sinvastatina. Solicitado US de vias urinarias (trombose de artéria renal??) Exame normal. 19/03: Controle de picos hipertensivos, Ainda aguardando angiorressonância para prosseguir com tratamento. Exames 22/03 01/03 24/02 19/02 Hemácia 4,5 4.4 4.41 4.69 Hemoglobina 14,0 12.8 13.4 13.9 Hematócrito 39,8 36.6 37.0 39.2 Leucócitos 10.600 3.5 2.9 7.5 Neutrófilos 86,0 90.0 76.0 87.0 Bastonetes 0,0 6.0 2.0 3.0 Segmentados 86,0 84.0 74.0 84.00 Eosinófilos 0,0 0.0 0.0 0.0 Basófilos 0,0 0.0 1.0 0.0 Monócitos 8,0 2.0 3.0 5.0 Linfócitos 6,0 8.0 20.0 8.0 Plaquetas 262 112 179 187 VHS 7 51 6 Mat insuf Exames 22/03 15/03 01/03 24/02 Calcio 9,1 8.8 8.3 - Cloro 99 101 98 - Patássio 4,2 4.0 4.2 - Sodio 137 140 137 - Glicose 89 148 108 - TGO 16 17 62 29 TGP 49 52 35 28 Ureia 22 42 26 - Creatinina 0,6 0,7 0,6 0.6 Colesterol total triglicerideos 299/ 92 372 / 371 159 / 77 - / 240 Albumina 4,1 3.9 4.1 4.3 Globulina 3,7 4.1 2.5 3.5 Relação A/G 1,1 1.0 1,6 1.2 Radiografia tórax Diagnóstico • LES • FAN reagente 1/640, padrão nuclear homogêneo (compatível com LES); • Anti-DNA reagente 1/80 (compatível com possibilidade de nefrite lúpica associada); • Anti-Sm: negativo; • C3: 48,5 (VR: 79-152); • C4: 4,0 (VR: 9-36); Anticorpos anti-fosfolípedes: • Anti-cardiolipina IgM: 94,6 (maior que 80: forte reatividade); • Anti-cardiolipina IgG: 20,2 (de 20 a 60: moderada reatividade); • Anti-coagulante lúpico: Positivo (VR: ausência de anticoagulante lúpico) Os achados acima corroboram laboratorialmente o já diagnóstico clínico de LES: • Rash malar; • Fotossensibilidade; • Anemia/plaquetopenia; • Convulsão sem sinais de infecção/neoplasia do SNC. Diagnóstico A presença dos anti-fosfolípedes está associada à possibilidade de tromboses arterial, venosa e microvascular recorrentes e com possibilidades catastróficas, em qualquer localização, ainda mais quando se encontram altos títulos conforme os da paciente. Dessa forma, o resultado da angioressonância de crânio,é crucial para sabermos se houve desenvolvimento da síndrome anti-fosfolípede em si, caracterizada pela trombose de seios venosos. Tal evento, juntamente com a vasculite cerebral, justificaria a ocorrência da convulsão em dezembro de 2010. Medicamentos em uso: • • • • • • • • Prednisona 60 mg/dia (2 mg/kg/dia) AAS 100 mg/dia Anlodipino 0,4 mg/kg/dia Captopril 25mg 12/12h Hidroxicloroquina 150mg/dia Sinvastatina 5mg 1x/dia Omeprazol 40 mg/dia Carbonato de Cálcio 500 mg 12/12h