PERFIL DE PRESSÃO ARTERIAL DAS CRIANÇAS DE UMA ESCOLA ESTADUAL DE BELÉM Iziane Silva Rodrigues1; Iany da Silva Freitas1; Mayara Soares de Medeiros1; Carla Andréa Avelar Pires2; Cláudia Daniele Tavares Dutra3 1 Acadêmicas de Medicina; 2Doutora em Doenças Tropicais; 3Doutora em Doenças Tropicais [email protected] Universidade Federal do Pará (UFPA) Introdução: A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é conceituada como um distúrbio clínico multifatorial frequentemente assintomático, onde níveis elevados de pressão arterial (PA) associam-se à alterações metabólicas e funcionais, predispondo seus portadores a riscos aumentados de eventos cardiovasculares fatais e não fatais (VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão, 2010). Berenso (1992) destacou a forte relação entre fatores de risco (hipertensão arterial, elevação de colesterol e índice de massa corpórea) e lesões ateroscleróticas em crianças e adultos jovens que faleceram precocemente. HAS é considerada um problema de saúde pública em todo o mundo, estima-se que atinja em torno de 30% da população adulta no Brasil e, nos últimos anos vem se mostrando como importante item de risco também na população pediátrica, acometendo em torno de 5% das crianças brasileiras. Em seus estudos, Bartosh (1999) verificou que alterações discretas da PA eram muito comuns na faixa pediátrica, muitas delas sem nenhuma causa secundária identificada. Identificados valores alterados de PA é importante também investigar se há envolvimento de causas secundárias, tais como patologias renais, patologias da tireoide, alterações de aorta abdominal e uso de medicamentos que possam alterar os níveis pressóricos. Considerando a natureza assintomática dessa doença e, as cormobidades a ela relacionadas, tornam-se importante e essencial à existência de atividades preventivas e educativas, que busquem identificar precocemente os fatores e as crianças de risco, minimizando a detecção tardia dessa doença e suas complicações. Objetivos: Aferir, caracterizar e avaliar os níveis de pressão arterial em escolares com idade entre 7 e 12 anos, que cursam as séries do 2º ao 5º ano na Escola Estadual Madre Rosa Gattorno. Metodologia: Através de visitas semanais à Escola Estadual Madre Rosa Gattorno, no período de março a junho de 2014, acadêmicos do curso de Medicina e do curso de Nutrição da Universidade Federal do Pará, participantes do Projeto de Extensão Saúde e Nutrição nas Escolas, realizaram atividades de aferição da pressão arterial e de medidas antropométricas (estatura e massa corpórea) em todas as crianças presentes. Foi investigada ainda a história familiar de doenças metabólicas e cardiovasculares, especialmente diabetes e hipertensão arterial. Os dados coletados foram avaliados através de curvas de distribuição de pressão arterial sistólica e diastólica, relacionados à percentis de estatura específicos para faixa etária e sexo, considerou-se a presença de PA alterada quando esses percentis fossem maiores ou iguais ao percentil 95 (III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial). Resultados/Discussão: O estudo avaliou um total de 413 crianças, com média de idade de 9,4 ± 1,5 anos, dos quais 209 (50,6%) eram do sexo masculino e 204 (49,4%) do sexo feminino. Os valores de medidas antropométricas coletados revelaram uma média de estatura de 132,8 ± 9,7 cm e, uma média de peso de 32,6 ± 15,4 kg entre as crianças avaliadas. Quanto à aferição da PA, a média de pressão arterial sistólica (PAS) foi de 95,6 ± 11,4 mmHg e, a média de pressão arterial diastólica (PAD) de 65,4 ± 9,1 mmHg; um grupo de 143 crianças (34,6%) relataram possuir algum parente de primeiro grau portador de hipertensão arterial. Por fim, verificou-se um grupo de 12 crianças com medidas de pressão arterial alteradas, ou seja, com percentil maior ou Anais do III Congresso de Educação em Saúde da Amazônia (COESA), Universidade Federal do Pará - 12 a 14 de novembro de 2014. ISSN 2359-084X. igual a 95, sendo que uma delas já é diagnosticada e faz tratamento para hipertensão desde os 7 anos de idade e possui histórico familiar de mãe hipertensa, além disso apresenta sobrepeso. Foram encontradas ainda 10 crianças com valores de PA limítrofes e com história familiar de hipertensão em parentes de primeiro grau. É válido ressaltar que 27,3% dessas crianças apresentavam sobrepeso. As crianças com pressão arterial limítrofe ou acima do percentil 95 foram orientadas e os pais ou responsáveis foram informados e orientados a fazerem os devidos acompanhamentos da PA da criança consultarem ao médico. Ressalta-se que diversos estudos longitudinais apontam que crianças com níveis de PA elevados, mesmo que dentro de limites considerados normais, costumam evoluir ao longo da vida com níveis de PA acima dos demais, tornando-se potenciais candidatos a desenvolverem HAS e doenças cardiovasculares na vida adulta, principalmente quando apresentam história familiar positiva para essas doenças. Segundo Magalhães (2002), dos fatores que contribuem para a elevação da PA em crianças e adolescentes, destacam-se o aumento de peso e do índice de massa corpórea, acompanhados pelo sedentarismo e pela elevada ingesta de alimentos com alto teor de calorias, gorduras saturadas, colesterol e sal, criando uma relação estreita entre nutrição e fatores de risco. Sendo assim, identificados valores de pressão alterados e sabendo-se dos fatores de risco associados é imprescindível o acompanhamento dessas crianças de forma a prevenir ou detectar precocemente quaisquer alterações. Conclusão: Embora a percentagem de crianças portadoras de HAS seja menor que a de adultos, em números brutos representa uma quantidade significativa, que merece especial atenção, visto que possuem risco potencial de se tornarem os futuros hipertensos e portadores de graves complicações cardiovasculares e renais. Desta forma, tornam-se necessárias ações de busca ativa que procurem identificar precocemente crianças com pressão arterial anormal e, que se realizem atividades educativas que promovam o esclarecimento de crianças, pais e cuidadores a cerca dos fatores de risco e como evita-los, aconselhando um melhor estilo de vida. Para uma melhor eficácia, essas medidas devem alcançar o núcleo familiar, a escola e a comunidade, respeitando as particularidades de cada população. Bons hábitos de vida, representados por uma alimentação adequada e atividades físicas regulares, quando praticados ainda durante o período de infância apresentam um grande potencial de promover um estilo de vida saudável na fase adulta. Destaca-se também a presença do médico pediatra, que deve aferir adequadamente a pressão arterial de seus pacientes durante o exame físico, investigando-a e tratando-a quando necessário. Referências: BARTOSH S. M.; ARONSON A. J. Childhood hypertension: an update on etiology, diagnosis and treatment. Pediatr Clin North Am 1999, 46: 235 – 52. BERENSON G.; WATTIGNEY W.; TRACY R. Atherosclerosis of the aorta and coronary arteries and cardiovascular risk factors in persons aged 6 to 30 years and student at necropsy. Am J Cardiol 1992, 770: 851. MAGALHÃES M. E. C.; BRANDÃO A. A.; POZZAN R.; BRANDÃO A. P. Hipertensão Arterial em Crianças e Adolescentes. Rev Bras Hipertens vol 9 (3), 2002. SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA; SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO; SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA. III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial. Arq Bras Endocrinol Metab, vol 43, nº4, 1999. Anais do III Congresso de Educação em Saúde da Amazônia (COESA), Universidade Federal do Pará - 12 a 14 de novembro de 2014. ISSN 2359-084X. SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA; SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO; SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol 2010, 95 (1 supl.1): 1 - 51. Anais do III Congresso de Educação em Saúde da Amazônia (COESA), Universidade Federal do Pará - 12 a 14 de novembro de 2014. ISSN 2359-084X.