Paralelos 95 anos de Unibes contados através da história de São Paulo
Parallels 95 years of Unibes through the history of São Paulo
Par alelos 95 anos de Unibes contados através da história de São Paulo
Paralle ls 95 years of Unibes through the history of São Paulo
Paralelos
95 anos de unibes contados através da história de são paulo
Parallels
95 years of unibes through the history of são paulo
Projeto e Edição
São Paulo, agosto de 2011
Diretoria da Unibes 2009-2011
Unibes Board of Directors 2009-2011
presidente
president
Serviço Social
vice-presidentes
Social Service
vice presidents
Barbara Regina Lerner
Área da Criança e do Adolescente
Administrativo / Financeiro
Gabriel Zitune
Marcelo Felberg
assessor da presidência
Área de Sustentabilidade
Relações com Mercado
Bela Berland
Célia Kochen Parnes
Meyer Joseph Nigri
Secretária Geral
Diretora de Captação de Recursos
Diretora de Marketing
Regina First
Fanny Michaan Terepins
Mirella Morabia Radomysler
1º Secretário
Diretora do Serviço Social
Diretora de Comunicações
Israel Grytz
Denise Coin Kusminsky
Tesoureiro Geral
Diretorores da Área da Criança
e do Adolescente
Bruno Laskowsky
presidente honorária
honorary president
Anna Kaufman Schuartz
(Anita Schuartz)
advisor to the presidency
Child and Adolescent Area
Sustainability
Finance and Administration
Public Relations
diretoria directors
General Secretary
Social Service Director
First Secretary
Treasurer
André Coji
1º Tesoureiro
First Treasurer
Nelson de Figueiredo Moraes
Diretor Jurídico
Legal Director
Luiz Kignel
Child and Adolescent Program Directors
Silvia Kuperman Rodarte
Gilson Kusminsky
(Programa Clube Escola da pmsp)
Diretor do Programa de Apoio a
Sobreviventes do Holocausto
Holocaust Victim Program
Marketing Director
Communications Director
Denise Zaclis Antão
Diretor Comercial -– Bazares
Commercial Director - Bazaars
Daniel Pedro Machlup
Diretora do Voluntariado
Volunteer Director
Ahuva Bruria Flit
Diretor de Juventude
Youth Director
Theodoro Jorge Flank
Renato Kluger
Diretor de Patrimônio
Diretora do Centro de Convivência
Diretora de Pessoas
Airton Sister
Olga de Salomon
Tânia Sztamfater Chocolat
Diretor de Relações com o Mercado
Diretora de Farmácia
André Coji
Sara Cubric
Director of Patrimony
Public Relations Director
4 Fundraising Director
Centro de Convivência Director
Pharmacy Director
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
Membership Director
“Durante todos esses anos tentei dar o melhor de mim para o
desenvolvimento da nossa organização, mas considero que
dessa experiência fui eu a mais beneficiada em termos de
enriquecimento interior e tranquilidade de espírito.”
“During all these years I have tried to do my best for
the development of our organization, but I think that,
from this experience, it was I who benefitted more in
terms of enrichment and inner peace of mind.”
Antonietta Feffer
Antonietta Feffer
***
An homage to Antonietta and Leon Feffer for
***
Homenagem a Antonietta e Leon Feffer
pelo marcante ativismo comunitário.
their outstanding community activism.
A Unibes agradece à Companhia Suzano de Papel e Celulose
pela generosa doação do papel para a impressão deste livro.
Unibes would like to thank Companhia Suzano de Papel e Celulose
for their generous paper donation for the printing of this book.
conselho vitalício 2009-2011
conselho deliberativo 2009-2011
unibes board of directors 2009-2011
Abram Berland
Abrão Bernardo Zweiman
Alberto Blay
Alberto Samuel Milkewitz
Bárbara Regina Lerner
Berel Aizenstein
Bernardo Parnes
Boris Ber
Carlos Schuartz
Celso Lafer
Chulamit Terepins
Cláudio L. Lottenberg
Denise Goldfarb Terpins
Edgar Gleich
Ester Adriana Gottschalk
Estevão Emílio Klein
Etejane Hepner Coin
Eugênio Vago
Fernando Blay
Gilberto Tanos Natalini
Gilson Kusminsky
Harry Davidowicz
Henrique Brenner
Jack Leon Terpins
lifetime council 2009-2011
Jacques Sarfatti
Jairo Okret
Jayme Blay
Joel Rechtman
José Jacob Ankier
Ligia Gasko Gaon
Lilia Klabin Levine
Luis Gaj
Luiz Jaime Zaborowsky
Marcelo Felberg
Mario Fleck
Mendel Lukower Neto
Moisés Singal Gordon
Naum Rotenberg
Nessim Hamaoui
Oscar Nimitz (z”l)
Ricardo Berkiensztat
Rigo Sivek
Roberto Davidowicz
Rubens Gorsky
Sidney Birman
Stela Yara Blay
Suzana Irene Steinberg
Wilson Braun
Abrão Goloborotko
Alberto Rafael Mansur Levy
Anna Jacobowicz
Anna Kaufman Schuartz (Anita
Schuartz)
Antonieta Bergamo
Beirel Zukerman
Carlos Shehtman
David Berezovsky Neto
David Stuhlberger
Dora Lucia Brenner
Jacob Osias Langer (z”l)
José Mandel (z”l)
Kurt Wissman
Leon Frejda Szklarowsky
Marcos Kertzmann
Moisés Mirocznik
Moisés Waldsztein
Nathan Herchkovici
Oscar Juziuk
Osias Schefler (z”l)
Regina First
Rina Kauffmann Gleich
conselho fiscal
fiscal council
mesa do conselho para o triênio 2009-2011
Efetivos
Presidente
1º Secretário
Mendel Lukower Neto
Rigo Sivek
Marcelo Felberg
Luiz Jayme Zaborowsky
Abrão Berland
Vice- presidente
2º Secretário
Naum Rotenberg
Sidney Birman
unibes board of directors 2009-2011
President
Vice President
First Secretary
Second Secretary
Suplentes
Abrão Bernardo Zweiman
José Jacob Ankier
Jacques Sarfatti
comissão editorial do livro
criação do logotipo de 95 anos da unibes
Mirella Morabia Radomysler, Sarita Bellelis, Germana
Langone Crosta, Vanessa Costa e Mauro Ogino
Mauro Ogino
book editorial board
Este livro é dedicado a todos os que se envolveram com a Unibes ao longo destes
95 anos. Diretores, voluntários, parceiros, funcionários, assistidos e amigos que
vêm contribuindo generosamente para construir esta história que segue
rumo ao centenário. A vocês, nosso muito obrigado!
This book is dedicated to everyone who has been involved with Unibes over the past
95 years. Members of the Board, partners, staff, those aided, and friends have
all contributed as we have built a road to our 100th year. To all, thank you!
Every day I remind myself that my inner and outer life are based on the labors
of other men, living and dead, and that I must exert myself in order to give
in the same measure as I have received and am still receiving.
Albert Einstein
Diretoria da Unibes 2006-2008
Unibes Board of Directors 2006-2008
presidente
president
Bruno Laskowsky
vice-presidentes
vice presidents
Área da Criança e do Adolescente
assessores da presidência
Child and Adolescent Area
Luana Bernardi Bichuetti
Marcelo Felberg
Comercial
advisors to the presidency
Gabriel Zitune
Commercial
Célia Kochen Parnes
Marketing / Comunicação
Marketing and Communication
Martin Joseph Konig
Serviço Social
Social Service
Bela Berland
Administrativo / Financeiro
Finance and Administration
Marcelo Blay
Relações Institucionais
Institutional Relations
Anita Schuartz
diretoria directors
Relações com Mercado
Diretoria de Pessoas
Diretoria da Área da Criança e do Adolescente
Meyer Joseph Nigri
Jairo Okret
Secretária Geral
Diretor Farmácia
Anabela Schor
Betty Zymberg Eny
Silvia Kuperman Rodarte
Sara Cubric
Diretoria de Marketing e Comunicação
Public Relations
General Secretary
Rina Kaufmann Gleich
Membership Director
Pharmacy Director
Marketing and Communication Directors
1º Secretário
Diretor Voluntariado
First Secretary
Olga de Salomon
Volunteer Director
Ahuva Bruria Flit
Tesoureiro Geral
Treasurer
André Coji
Diretores de Bazar
Bazaars Directors
Ida Regina Ebel Cohen
Daniel Pedro Machlup
1º Tesoureiro
First Treasurer
Regina First
Diretor Jurídico
Legal Director
Luiz Kignel
Diretor de Patrimônio
Director of Patrimony
Leon Ciobataru
2º Diretor de Patrimônio
Second Director of Patrimony
Boris Ber
Ester Adriana Gottschalk
Luis Otavio Costa
Mauricio Eugenio
Diretoria de Eventos
Events Directors
Diretora de Captação de Recursos
Sandra Rozenblum Zitune
Sandra Gorski
Stela Yara Blay
Fanny Terepins
Diretoria do Centro de Convivência
Fundraising Director
Diretoria de Serviço Social
Social Service Directors
Anna Jakobowicz
Denise Coin Kusminsky
Israel Grytz
Stela Yara Blay
Sidnei Saad Ángulo
8 Child and Adolescent Program Directors
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
Centro de Convivência Director
Helena Moritz
Olga de Salomon
Irene Calderon
Sumário
Table of Contents
Palavras iniciais: Sustentabilidade institucional e justiça social – Celso Lafer. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Foreword: Institutional sustainability and social justice – Celso Lafer
Apresentação: A maturidade, a juventude e os sonhos de uma instituição – Anita Schuartz . . . . . . . . . . . 13
Prologue: The maturity, the youth and the dreams of an institution – Anita Schuartz
1. Uma comunidade judaica se estabelece em São Paulo em 1915. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
A Jewish community established in Sao Paulo in 1915
2. Policlínica Linath Hatzedek é fundada na metrópole paulista nos anos 1920. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Policlínica Linath Hatzedek is founded in Sao Paulo in the 1920s
3. Gota de Leite, Sanatório da Ezra e Lar da Criança das Damas são fundados nos anos 30 . . . . . . . . . 43
Gota de Leite, Ezra Sanatorium and Lar da Criança das Damas are founded in the 30s
4. A Ofidas é fundada em 1940 durante o Estado-Novo e a Segunda Guerra Mundial . . . . . . . . . . . . . . 59
Ofidas is founded in 1940 during the New State and World War II
5. As imigrações egípcia e húngara de 1956 e o trabalho conjunto das entidades assistenciais. . . . . . . . 75
The Egyptian and Hungarian immigration of 1956 and joint work of welfare agencies
6. O Serviço Social Unificado reorganiza o atendimento assistencial nos anos 1960. . . . . . . . . . . . . . . . 89
The Unified Social Services reorganizes the social assistance in the 1960s
7. A criação da Unibes em 1976: uma trajetória de sucesso. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
The creation of Unibes in 1976: A success story
8. Renovar, inovar e manter a tradição: desafio rumo aos 100 anos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
To renew, to innovate and to maintain the tradition: a challenge for 100 years
Fontes de pesquisa, bibliografia e créditos de imagens. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137
Research Sources, Bibliography and Image Credits
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 9
conselho deliberativo 2006-2008
unibes board of directors 2006-2008
Abram Berland
Abrão Bernardo Zweiman
Alberto Blay
Alberto Samuel Milkewitz
Trzonowicz
Andre Coji
Barbara Regina Lerner (Suplente)
Bela Berland (Suplente)
Berlla Herson (Suplente)
Berel Aizenstein
Boris Ber
Carlos Schuartz
Celso Lafer
Chulamit Terepins
Claudio Luiz Lottenberg
Denise Goldfarb Terpins
Edgar Gleich
Eduardo Luiz Wurzman
Ester Adriana Gottschalk
Estevão Emilio Klein
Etejane Hepner Coin
Eugênio Vago
Fernando Blay
Gabriel Zitune
Harry Davidowicz
Helio Pilnik
Henia L. Kahn
Henrique Brenner (Suplente)
Henrique Waitman
Ilan Davidson Gotlieb
Israel Grytz
Jayme Blay
Jayme Pasmanik (z´l)
Joel Rechtman (Secretário do
Conselho)
José Jacob Ankier
Lea Hecht
Leo Tomchinsky (Suplente)
Leon Ciobataru
Lilia Klabin Levine
Lilia Wachsmann
Luba Kignel
Luis Gaj
Luiz Jayme Zaborowsky (Presidente
do Conselho)
Marcelo Blay
Marco Gandelman
Mario Arthur Adler
Mario Fleck
Mario Nusbaun (Suplente)
Mendel Lukower Neto
Meyer Joseph Nigri (Conselho Fiscal)
Meyer Yhouda Nigri
Moises Baum
Moisés Singal Gordon
Necha M. Gedanken (z´l)
Naum Rotenberg (Assessor Da
Presidência Do Conselho)
Neide Waitman
Nessim Hamaoui
Olga De Salomon (Suplente)
Oscar Nimitz (z´l)
Paulo Roberto Feldmann (Conselho
Fiscal)
Ricardo Berkiensztat
Ricardo Luiz Becker
Ricardo Sivek (Rigo) (Suplente do
Conselho Fiscal)
Roberto Davidowicz
Roberto Faldini
Rubens Gorski
Sidney Birman (Seceretário do
Conselho)
Stela Yara Blay (Suplente)
Susana Irene Steinberg
Theodoro Jorge (Conselho Fiscal)
Wilson Braun (Suplente)
Zlota Stefanescu (Zina)
conselho vitalício 2006-2008
lifetime board 2006-2008
Abrão Goloborotko
Alberto Rafael Mansur Levy
Anna Jakobowicz
Anna Kaufman Schuart (Anita
Schuartz)
Antonieta Bergamo
Beirel Zukerman
Carlos Shehtman
David Berezovsky Neto
David Stuhlberger
Dora Lucia Brenner
Jacob Osias Langer
José E. Mindlin (z´´l)
José Gedanken (z´´l)
José Mandel
Kurt Wissman
Leon Frejda Szklarowsky
Marcos Kertzmann
Moisés Mirocznik
Moises Waldsztein
Nathan Herchkovici
Oscar Juziuk
Osias Schefler (z´´l)
Regina First
Rina Kauffmann Gleich
Zacharias Belik (z´´l)
mesa do conselho para o triênio 2006-2008
unibes board of directors 2009-2011
Presidente
Assessor da Presidência
Luiz Jayme Zaborowsky
Naum Rotenberg
Vice- presidente
Secretários
Anna Jakobowicz
Joel Rechtman e Sidney Birman
President
President’s Advisor
Vice President
10 conselho fiscal 2006-2008
Secretary
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
fiscal council 2006-2008
Mendel Lukower Neto
Oscar Juziuk
Paulo Roberto Feldman
Rigo Sivek
Teodoro Flank
Palavras iniciais
Foreword
Sustentabilidade institucional
e justiça social
Institutional sustainability
and social justice
U
Celso Lafer
nibes 95 anos tece a interligação, no correr do tempo,
entre as instituições da comunidade judaica com suas
características e especificidades e a dinâmica das transformações da cidade de São Paulo e das mudanças da sociedade
brasileira. Explica como uma rede de proteção social foi inicialmente criada por voluntários para cuidar, com alto sentido de
solidariedade, dos problemas enfrentados pelos imigrantes judeus
no início do século xx – tema que se insere no processo mais amplo da imigração, da urbanização e da industrialização da cidade
de São Paulo. As características desta rede foram se modificando
para lidar com as novas realidades e os desafios de uma cidade que
veio a ser uma imensa metrópole.
Na dinâmica destas modificações o livro analisa como a comunidade judaica, no seu processo de incorporação à vida brasileira, foi, por meio de suas instituições, encontrando novos caminhos
para se fazer presente no trato das mudanças históricas do país.
Isto, no caso específico da vertente de assistência representada
pela Unibes, sediada no bairro do Bom Retiro, traduziu-se na ampliação do seu escopo de atuação. Esta atuação passou a ir além
da comunidade judaica e se tornou um paradigma de ação social
responsável na cidade de São Paulo ao ocupar-se não só da assistência social stricto sensu, mas também da criança e do adolescente,
da capacitação profissional e dos cuidados com a terceira idade.
Celso Lafer
U
nibes 95 Years weaves the interconnection, over time, among the institutions
of the Jewish community with its characteristics and specificities and the dynamics of
the transformations of the city of Sao Paulo and
of the changes in the Brazilian society. It explains
how a social safety net was initially created by
volunteers to care, with a high sense of solidarity, for the problems faced by Jewish immigrants
in the early twentieth century - a theme that fits
into the broader process of immigration, urbanization and industrialization of the city of Sao
Paulo. The characteristics of this network have
been modified to cope with the new realities
and the challenges posed by a city that became
a huge metropolis.
Within the dynamics of these modifications,
the book examines how the Jewish community,
in its process of incorporation into the Brazilian
life, found, through their institutions, new ways
to do this while dealing with historical changes
in the country. This, in the specific case of the
ascending assistance represented by Unibes,
based in the neighborhood of Bom Retiro and
translated into the expansion of its scope. This
action went beyond the Jewish community, and
became a paradigm for responsible social action in Sao Paulo to deal with not only social
work in its strict sense, but also with children
and adolescents, professional training and care
of the elderly.
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 11
The analysis of how the relation between
tradition, renewal, and innovation of new conceptions is very interesting, which came to permeate the social service and the interaction between volunteer and professional work. Special
attention should be drawn to the scope of the
final chapter, which discusses the updated models of governance present in Unibes, which pays
respect to the requirements of well-being and
sustainability of organizations that are currently
classified as the third sector.
I write these opening words with great satisfaction, because, regarding Unibes, I also have
an inside perspective, and not just an “outside”
one, on its importance. My family has been associated with Unibes since its beginnings in 1915.
My mother, Mrs. Betty Lafer, worked for the organization from the time of Ofidas, and actively
participated in the merger of the entities that
led to the creation of Unibes in 1976. My mother,
who took part in the board of Unibes, lived, with
social sensitivity and educational training, the
day-to-day of its problems and changes until
her death in 2006. Reading this book was, therefore, an opportunity to revisit in a structured
way—thanks to the quality of narrative and the
research of Roney Cytrynowicz—my conversations with her about Unibes, its problems and
achievements over the years. It was also an opportunity to clearly follow how, after her death,
the management of Mr. Bruno Laskowsky and
his work partners have imprinted upon the social mission of Unibes a new level of institutional sustainability. They respect the original and
identifying Jewish values of social justice and
innovate when coping with the challenges of
the first decade of this century.
12 É muito interessante na análise de como vêm operando a
relação entre tradição, renovação e inovação as novas concepções
que passaram a permear o serviço social e a interação entre voluntariado e profissionalização. Cabe destacar o alcance do capítulo
final, que discute os modelos atualizados de governança presentes
na Unibes, que dizem respeito aos requisitos do bom funcionamento e da sustentabilidade das organizações que atualmente são
qualificadas como as do terceiro setor.
Escrevo estas palavras iniciais com muita satisfação, pois tenho, em relação à Unibes, também uma percepção “de dentro”
e não apenas “de fora” da sua importância. Minha família está
associada à Unibes desde as suas origens, em 1915, e minha mãe,
Betty Lafer, nela atuou desde o tempo da Ofidas e participou ativamente da fusão das entidades que levaram à criação, em 1976,
da Unibes. Minha mãe, que integrou a direção da Unibes, viveu,
com sensibilidade social e vocação pedagógica, o dia a dia de seus
problemas e suas mudanças até o seu falecimento em 2006. A
leitura do livro foi, assim, uma oportunidade para revisitar, de
maneira estruturada, graças à qualidade da narrativa e da pesquisa de Roney Cytrynowicz, o que, no correr dos anos, foram
as minhas conversas com ela sobre a Unibes, seus problemas e
suas realizações. Foi também uma oportunidade de, com clareza,
acompanhar como, depois do seu falecimento, a gestão de Bruno Laskowsky e de seus parceiros de trabalho vem imprimindo
à missão social da Unibes um novo patamar de sustentabilidade
institucional, respeitando os valores judaicos de justiça social, que
estão na sua origem e identidade, e inovando para lidar com os
desafios da primeira década do século xxi.
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
Apresentação
Prologue
A maturidade, a juventude e os
sonhos de uma instituição
The maturity, the youth and
the dreams of an institution
M
Anita Schuartz
Presidente Honorária da Unibes
uitos anos atrás, muito despretensiosamente, foi
plantada uma pequenina semente, um pequeno sonho de algumas pessoas, de uma comunidade.
Timidamente, de forma espontânea, quase mágica, outras
pessoas foram se envolvendo e, como visionários de um mundo
melhor, permitiram a materialização desse sonho.
Hoje, 95 anos depois, num tempo de novas parcerias entre
a sociedade civil, o poder público e empresas cidadãs, a Unibes é
uma instituição modelo de gestão solidária e referência de cidadania participativa.
Este livro é a história desse gigante, é a história desse sonho!
A Unibes é um organismo vivo: são as pessoas que passaram
e passam por ela em seus mais diferentes papéis e funções, são as
frustrações, as tristezas, as ansiedades, o desespero, mas também
a esperança, as alegrias, as realizações, o compartilhar, o dividir,
o participar. É, no seu sentido mais amplo, a vida dos que lá estão
porque precisam de ajuda e daqueles que lá estão para ajudar.
Foram milhares e milhares de pessoas cujas vidas cruzaram
com a vida da Unibes nestes 95 anos.
Foram milhares e milhares de usuários que confiaram em
nós, dividindo conosco suas angústias, suas dúvidas, suas ansiedades e suas dores, mas que também nos permitiram comemorarmos juntos suas alegrias e suas vitórias.
Anita Schuartz
Honorary Chairman at Unibes
M
any years ago, very plainly, a tiny seed
was planted: a little dream of some
people in a community.
Cautiously, spontaneously, almost magically, others got involved and, as visionaries of a
better world, allowed for the materialization of
that dream.
Now, 95 years later, in a time for new partnerships among the civil society, the public powers
and corporate citizens, Unibes is a model institution of joint management and a reference for
participatory citizenship.
This book is the history of this giant institution; it is the history of that vision!
Unibes is a living organism: there are the
people who have passed and pass through it living its many different roles and functions. There
is frustration, sadness, anxiety, despair, but also
hope, joy, accomplishment, sharing, apportion,
participation.
It is, in its broadest sense, the lives of those
who are there because they need help and of
those who are there to help.
There were thousands and thousands of
people whose lives intersected with the life of
Unibes over the last 95 years.
There were thousands and thousands of users who relied on us, sharing with us their anguish, their doubts, their anxiety and their pain.
Notwithstanding, they also allowed us for celebrating together their joys and their victories.
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 13
The great challenge was wrapped around
its shoulders, the day-to-day responsibility, the
difficult times and the milder ones, its success
and its failure, the problems and their solutions.
Responsibility was shared among directors, volunteers, wonderful technicians, partners, donors
and government agencies that helped us to help.
Congratulations to all who, with extraordinary community vision, dreamed and managed
to erect a unique institution on a solid foundation of three other organizations that dignified
the Jewish community with their work: Ezra, Ofidas, and the Policlínica Linath Hatzedek.
Congratulations to everyone who gave continuity to that dream and transformed Unibes
into a modern and model institution in the field
of philanthropy in Brazil.
The great lesson for a human being is learning how to be happy.
These journey partners have shown that being happy is to give, to share, to participate, to
share actions of friendship and solidarity.
Not only have we learned from the older
more experienced, more knowledgeable, more
timid, and more cautious generation, but also
from the younger, more modern, more dynamic,
and more impetuous generation.
The wisdom of maturity and dynamism of
youth result in a powerful force to carry on with
“our Unibes” and “our cause”, an open, transparent, active, and modern organization, built
on the foundations of the Torah (Wisdom; the
Law): Tzedakah—social justice; Avodah—work
and Guemilut Chassadim—to help the needy.
Thank you all for yesterday, for today and for
tomorrow. The future is yours!
14 O grande desafio foi carregar nos ombros a responsabilidade
do dia a dia, os momentos difíceis e os mais amenos, os sucessos
e os fracassos, os problemas e as soluções, responsabilidade que
foi dividida com diretores, voluntários, com técnicos maravilhosos e com parceiros, doadores e órgãos governamentais, que nos
ajudaram a ajudar.
Parabéns a todos que, com extraordinária visão comunitária,
sonharam e conseguiram erguer uma instituição única sobre alicerces sólidos de três instituições que dignificaram a comunidade
judaica com seu trabalho: a Ezra, a Ofidas e a Policlínica Linath
Hatzedek.
Parabéns a todos que deram continuidade a esse sonho e
transformaram a Unibes em uma instituição moderna e modelo
na área da filantropia no Brasil.
O grande aprendizado do ser humano é aprender a ser feliz.
Esses companheiros de jornada mostraram que ser feliz é
doar, compartilhar, participar, dividir ações de amizade e solidariedade.
Aprendemos com a geração mais madura, mais experiente,
mais vivida, mais tímida e mais cautelosa, mas aprendemos também com a geração mais jovem, mais moderna, mais dinâmica e
mais impetuosa.
A sabedoria da maturidade e o dinamismo da juventude resultaram numa força poderosa para levar avante a “nossa Unibes”
e a “nossa causa”, uma organização aberta, transparente, atuante
e moderna, edificada sobre os alicerces da: Torá – sabedoria (a lei);
Tzedaká – justiça social; Avodá – trabalho; Guemilut Hassadim –
ajuda aos necessitados.
Obrigada a todos por ontem, por hoje e por amanhã. O futuro é de vocês!
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
1
Uma comunidade judaica
se estabelece em São Paulo em 1915
A Jewish community established in Sao Paulo in 1915
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 15
p. 15 Viaduto do Chá em 1918, símbolo de uma cidade que crescia e era receptiva e aberta aos imigrantes e a diferentes culturas. acima Estação da Luz no início do século 20, porta de entrada dos imigrantes judeus que chegavam a São Paulo depois
de desembarcar no Porto de Santos.
p. 15 Viaduto do Chá in 1918, the symbol of a city, growing and receptive, that was open to immigrants and different cultures. above Estação da Luz (Light Station) in the early 20th century – the gateway through which the Jewish immigrants arrived in Sao Paulo after
landing at the Port of Santos.
16 pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
A
história da União Brasileiro-Israelita do Bem-Estar Social
– unibes – tem início na cidade de São Paulo em 1915,
com a fundação da Sociedade Beneficente das Damas
Israelitas, mais conhecida como Froien Farein, em ídiche, a língua
que os imigrantes judeus da Europa Oriental falavam e mantiveram ao chegar a São Paulo. Logo no ano seguinte, em 1916, foi
fundada a Sociedade Beneficente Amigo dos Pobres Ezra, conhecida como Ezra, que também se tornaria parte importante da
história que levaria à criação da unibes seis décadas depois.
Na Europa, a Primeira Guerra Mundial, iniciada em 1914, já
entrava em seu segundo ano. As expectativas de que a guerra se
encerraria no Natal daquele ano haviam se dissipado e os combates
nas trincheiras se prolongavam sem fim, incluindo ataques à população civil e batalhas com centenas de milhares de mortes provocadas pela utilização de aviões, metralhadoras e lança-chamas.
A Primeira Guerra Mundial foi, de certa forma, o verdadeiro marco do início do século 20, um século que começara com
grandes esperanças e otimismo, com os progressos da ciência e
da medicina, com o desenvolvimento das artes e da cultura e a
transformação de várias capitais em metrópoles contemporâneas
com confortos e equipamentos novos, mas também uma época
já permeada por receios e temores de guerra, de obscurantismo
político, da destruição em massa e da desumanização.
T
he history of the União Brasileiro-Israelita
do Bem-Estar Social (Unibes) begins in Sao
Paulo in 1915 with the founding of the Sociedade Beneficente das Damas Israelitas, better
known as Froien Farein in Yiddish, the language
spoken by Eastern European Jewish immigrants,
and mantained after they arrived in Sao Paulo.
The following year, in 1916, the Sociedade Beneficente Amigo dos Pobres Ezra, known as Ezra, was
founded—which also became an important part
of the history that would lead to the creation of
Unibes six decades later.
In Europe, the First World War, that broke out
in 1914, was now entering its second year. The
expectation that the war would end by Christmas of that year had dissipated, and the fighting
in the trenches prolonged endlessly, including
attacks on civilians and battles with hundreds
of thousands of casualties caused by the use
of airplanes, machine guns and flamethrowers.
The First World War was, in some ways, the
true mark of early 20th century—a century that
began with high hopes and optimism, with the
progress of science and medicine, with the development of arts and culture, and with the
transformation of several capital cities into contemporary metropolises, offering comforts and
new equipment. It was also a time permeated
by concerns and fears of war, political obscurantism, mass destruction, and dehumanization.
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 17
The first two decades of the century also saw
large displacements of immigrants, whether
seeking new opportunities for a better life, or
fleeing from prejudice, violence and persecution.
During and at the end of the First World War, a
significant flow of Jewish immigrants began arriving in São Paulo, originating from Eastern Europe especially, where legal restrictions on entry
into the U.S., Canada and Argentina made Brazil
an attractive option.
São Paulo was an open and receptive city to
the immigrants, integrating and absorbing each
distinctive new culture, with freedom of religion and association, conditions for establishing roots, economic opportunities and social advancement. The city grew and urbanized rapidly,
with trade and industry growing more and more.
At the beginning of World War I, in 1914 and
1915, the Jewish population in Sao Paulo was two
to three hundred families, some living here for
a decade or two, but without constituting an
association or community. The founding of the
Sociedade Beneficente das Damas Israelitas and
Ezra represented not only the beginning of organized labor to aid immigrants, but also defined
their own ground zero towards the formation
of an organized Jewish community in Sao Paulo,
followed by the first synagogue, Kahalat Israel
(Comunidade de Israel), founded in 1912, and later the Zionist movement Ahavat Zion and the
Sinagoga Knesset Israel (both in 1916), and then
in the 20s, the Gymnasio Hebraico-Brasileiro Renascença and the Cemitério Israelita in the Vila
Mariana district.
It was the combination of consistent work
between charities and communities and the social and economic opportunities offered in the
city, along with the atmosphere of cultural and
religious freedom that, allowed for the full integration of immigrants. The center of immigration was the neighborhood of Bom Retiro, one
of the economic and social hearts of Sao Paulo.
In the 1870s, animal-powered trams already cut
through the district, which was second in the
city to see the arrival of circular electric trams
in 1900. The writer Oswald de Andrade noted,
“this electricity business was very dangerous.
Those who set foot on the tracks were immediately trapped down there and would be fatally
crushed by the streetcar.” Between 1900 and
1920 the local population more than doubled,
18 As duas primeiras décadas do século foram também anos de
grandes deslocamentos de imigrantes, seja pelos que buscavam
novas oportunidades de uma vida melhor, seja pelos que fugiam
do preconceito, da violência e da perseguição. Foi durante e ao
final da Primeira Guerra Mundial que começou a chegar a São
Paulo um significativo fluxo de imigrantes judeus originários especialmente da Europa Oriental, quando restrições legais à entrada nos Estados Unidos, no Canadá e na Argentina tornaram o
Brasil um lugar atraente aos imigrantes.
São Paulo era uma cidade aberta e receptiva aos imigrantes,
integrando-os e absorvendo traços de cada nova cultura, com
liberdade de religião e de associação, condições de enraizamento
e oportunidades econômicas e de ascensão social. A cidade crescia
e se urbanizava rapidamente, com comércio e indústria cada dia
mais intensos.
No início da Primeira Guerra Mundial, 1914 e 1915, a população judaica de São Paulo contava de duzentas a trezentas famílias,
algumas chegadas uma ou duas décadas antes, mas sem constituir
entidades ou uma comunidade. A fundação da Sociedade Beneficente das Damas Israelitas e da Ezra representam não apenas
o início do trabalho organizado de auxílio aos imigrantes, mas
definiram o próprio marco zero da formação de uma comunidade
judaica organizada em São Paulo, seguindo-se a primeira sinagoga,
Kahalat Israel (Comunidade de Israel), fundada em 1912, depois o
movimento sionista Ahavat Zion e a sinagoga Knesset Israel (ambos de 1916), e, em seguida, nos anos 20, o Gymnasio Hebraico-Brasileiro Renascença e o Cemitério Israelita da Vila Mariana.
Foi a combinação de um trabalho consistente das entidades
assistenciais e comunitárias com as oportunidades sociais e econômicas que se abriam na cidade, aliadas à atmosfera de liberdade
cultural e religiosa, que permitiu a plena inserção dos imigrantes.
O centro da imigração era o Bom Retiro, um dos corações econômicos e sociais de São Paulo. Nos anos 1870 bondes a tração
animal já cortavam o bairro, que foi o segundo na cidade a ver
circular bondes elétricos em 1900. O escritor Oswald de Andrade
escreveria que “era muito perigoso esse negócio de eletricidade.
Quem pusesse os pés nos trilhos ficava ali grudado e seria esmagado fatalmente pelo bonde”. Entre 1900 e 1920 a população
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
Avenida Tiradentes em 1905, retrato da renovação urbana nos bairros da Luz e do Bom Retiro. Avenida Tiradentes in 1905, a portrait
of urban renewal in the Luz and Bom Retiro neighborhoods.
paulistana mais do que duplicou, passando de 240 mil para 580 mil
habitantes. Com o crescimento vieram também novos hábitos e
costumes, que substituíam a vida provinciana pelo ritmo acelerado de metrópole.
Foram anos em que se disseminaram o telefone, a máquina
fotográfica e o cinema, a vitrola, o telégrafo e o automóvel. Nos
anos 1910, apesar do início da utilização do concreto armado, a
cidade ainda tinha construções de taipa no centro. O primeiro edifício de concreto armado erguido na cidade foi o Palacete Guinle,
na Rua Direita, em 1913. Pouco depois, em 1917 abririam na capital
paulista a Bolsa de Mercadorias e a Bolsa de Valores.
No Bom Retiro se sobressaía a Estação da Luz, ponto final
da linha Santos–Jundiaí, cujos trilhos foram assentados em 1867,
base do transporte do café, riqueza que fez crescer a cidade. A pró-
from 240,000 to 580,000 inhabitants. Along
with the growth also came new ways of life and
habits, which replaced the provincial life with
the fast pace of a metropolis.
The telephone, the camera and cinema, the
phonograph, the telegraph, and the automobile spread all over throughout those years. In
the 1910s, despite the introduction of reinforced
concrete, the city still had mud buildings in its
center. The first reinforced concrete building constructed in the city was the Palacete Guinle on
Rua Direita in 1913. Shortly thereafter, in 1917, the
Commodities Market and the Stock Exchange
were installed in Sao Paulo.
The Estação da Luz in Bom Retiro stood out
as the last stop on the Santos-Jundiaí train track,
laid in 1867 to support the transport of coffee,
providing the wealth that boosted the city. The
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 19
national economy focused on the export of this
product, which fed the diversification of the
economy and the establishment of industries,
as well as the import of new fashions and attitudes from Europe. In 1910, during the period
known as café au lait politics, there were just
over 26 million people in Brazil and the President
was Venceslau Brás Pereira Gomes.
The railway turned the neighborhood into an
economic center, with factories, workshops and
business opportunities for immigrants who began arriving in the 1870s and later, in mass, after
the abolition of slavery. Bom Retiro had become
an Italian neighborhood from 1890. Between
1910 and 1924 around 150,000 Italians came to
Sao Paulo, along with 180,000 Portuguese and
170,000 Spanish. That connected the neighborhood to a major global route that unloaded coffee in Santos harbor and returned with European
immigrants to the coffee plantations and to the
state capital. A cosmopolitan life was developed
there within the area enclosed by the railway
line, Avenida Tiradentes and the Tietê River. From
the beginning of the 20th century the neighborhood served as a starting point to the routes of
street vendors.
Upon arriving in the 1910s, the Jews were
able to settle in small houses and workers’ villages, with affordable rent uniting housing and
work. Jardim da Luz was the center of public life,
the first public garden in the city, where immigrants were snapped by local photographers for
decades, wearing suits-for-hire and smiles on
their faces in the forest-like park setting, composing an imaginary optimism, sense of discovery and joy of being in the New World.
At the grand iron bandstand in the center of
the park, band performances were popular and
often played on Sundays, but also on festive occasions, for military parades and processions. The
most-attended recital was the Força Pública, who
performed drills, marches, waltzes, operas, operettas and symphonies, but there were others like
the Banda Alemã, Corps and the most diverse
lyric poetry. On Sundays there might also be a
mid-air presentation with balloons, acrobats and
jugglers, along with the consumption of sodas,
draft beer, sandwiches and ice cream. It was in
one of these presentations in the park in Bom
Retiro, years earlier, that the young boy Alberto Santos Dumont (later considered the father
20 pria economia do País era centrada na exportação deste produto,
que propiciava a diversificação da economia e a implantação das
indústrias, além da importação de novas modas e novos comportamentos da Europa. Em 1910, o Brasil tinha pouco mais de 26
milhões de habitantes e o presidente, no período conhecido como
o da política do café com leite, era Venceslau Brás Pereira Gomes.
Com a ferrovia, o bairro se tornou um polo econômico, com
fábricas, oficinas e oportunidades de comércio para os imigrantes
que começaram a chegar nos anos 1870 e depois, em massa, após
a abolição da escravidão. O Bom Retiro se tornara um bairro de
italianos desde 1890. Entre 1910 e 1924 entraram em São Paulo
cerca de 150 mil italianos, 180 mil portugueses e 170 mil espanhóis.
Com isso, o bairro ficava conectado a uma importante rota mundial que descarregava café em Santos e voltava com imigrantes
europeus para as fazendas de café e para a capital paulista. Uma
vida cosmopolita ali no território entre a linha de trem, a Avenida
Tiradentes e o Rio Tietê. Já no início do século 20 o bairro serviria
de ponto de partida aos caminhos dos mascates.
Ao chegar nos anos 1910, os judeus puderam instalar-se em
sobrados e pequenas vilas operárias, de aluguel acessível e unindo
trabalho e moradia. O centro da vida pública era o Jardim da Luz,
primeiro jardim público da cidade, onde os imigrantes se fotografaram por décadas com os lambe-lambes, ternos de aluguel,
sorrisos nos rostos e a mata do parque como cenário, compondo
um imaginário de otimismo, desbravamento e alegria de estar
no Novo Mundo.
No imponente coreto de ferro ao centro do parque eram
populares as apresentações de bandas de música que tocavam
geralmente aos domingos, mas também em datas festivas, paradas
militares e procissões. A mais concorrida era a da Força Pública,
que executava dobrados, marchas, valsas, óperas, operetas e sinfonias, mas havia outras como a Banda Alemã e corporações e
liras as mais diversas. Aos domingos podia haver também uma
apresentação aérea com balões, acrobatas e malabaristas do ar e
o consumo de gasosas, chopes, sanduíches e sorvetes. Foi em uma
destas apresentações no parque no Bom Retiro, anos antes, que o
menino Alberto Santos Dumont, viajando de Minas Gerais a São
Paulo, viu um balão no ar pela primeira vez.
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
Além de estabelecimentos fabris, como a Fábrica de Tecidos
Anhaia e a Cervejaria Germânia, o bairro abrigava algumas das
mais tradicionais instituições educacionais da cidade no Império e
na República, entre elas o Liceu de Artes e Ofícios (prédio da atual
Pinacoteca de São Paulo), a Escola Politécnica (1893), a Faculdade
de Farmácia e Odontologia (que se mudou para o bairro em 1905),
a Escola Modelo Prudente de Morais, o Liceu Coração de Jesus e
o Colégio Santa Inês, os dois últimos salesianos. Estas instituições
mostram a importância social e cultural do bairro, que atingiria
cerca de 30 mil habitantes nos anos 1920.
O suave e simpático nome, Bom Retiro, vem de uma das
chácaras de recreio que ali existiam, próximas à várzea do Rio
Tietê, até a urbanização da região, e onde foram realizadas as
primeiras partidas de football, em campos da São Paulo Railway e
da ferrovia inglesa, e onde também seria fundado – por imigrantes
espanhóis e portugueses – o Sport Club Corinthians em 1910. Antes
disso, os funcionários ingleses da ferrovia e de outras empresas,
como as de gás e eletricidade, treinavam o esporte na chácara
Dulley, no bairro, já que em seu clube os esportes aceitáveis e valorizados eram o cricket e o rugby. As posições de cada team eram
assim denominadas, seguindo a tradição britânica: goal-keaper,
dois full-backs (direita e esquerda), três half-backs (centro, direita e
esquerda) e cinco forwards (direita, esquerda, meio-direita, meio-esquerda, centro).
Vários esportes, além do futebol, dividiam as atenções do
público no início do século 20 na cidade de São Paulo, entre eles
os mais procurados eram o ciclismo, o turfe, o cricket, a peteca,
o boliche, o tênis, a ginástica, o rowing (remo ou canoagem), a
natação, a aviação, o motociclismo, o automobilismo, a patinação, a esgrima, o pingue-pongue, a boccia e a pelota basca (ou
frontão). O velódromo, na Rua da Consolação, construído em
1895 em um terreno de Dona Veridiana Prado, era local de provas
de ciclismo e de futebol.
E como era a vida na cidade naquela época? Nada mais saboroso do que retomar a descrição, por exemplo, do capítulo
“Compras na cidade”, do livro São Paulo naquele tempo 1895-1915,
de Jorge Americano, cronista da vida paulistana a partir de fins
do século 19: “Moça jamais podia sair de casa sozinha, para o centro
of aviation), traveling from Minas Gerais to Sao
Paulo, saw a balloon in the air for the first time.
In addition to fabric manufacturing businesses, such as Fábrica de Tecidos Anhaia, and
the Cervejaria Germânia (brewery), the neighborhood was home to some of the most traditional educational institutions in the city, in the
Império and República plazas, including the Liceu
de Artes e Ofícios (Arts & Crafts School, in the
building which today houses the Pinacoteca of
Sao Paulo), the Escola Politécnica (1893), the Faculdade de Farmácia e Odontologia (which moved
to the neighborhood in 1905), the Escola Modelo
Prudente de Morais, the Liceu Coração de Jesus
and the Colégio Santa Inês (the last two being
Salesian). These institutions prove the social and
cultural importance of the district, which would
reach about 30,000 inhabitants in 1920s.
The soft and friendly name Bom Retiro originated from one of the recreational farms by the
Tietê River valley until the urbanization of the
region, and where the first soccer games took
place, in the fields of the Sao Paulo and English
Railways, and also where the Spanish and Portuguese immigrants would establish Sport Club
Corinthians in 1910. Before this, the employees of
the British railway and other companies, such as
the gas and electric companies, practiced football at the Dulley farm, in the neighborhood.
Their club had only accepted and valued cricket
and rugby. The positions of each team were well
known, following the British tradition: a goalkeeper, two full-backs (right and left), three halfbacks (center, left and right) and five forwards
(right, left, middle-right, middle-left, and center).
Several sports, besides football(soccer),
shared the spotlight in the early 20th century in
Sao Paulo, among them the most sought after
were cycling, horse racing, cricket, badminton,
bowling, tennis, gymnastics, rowing (in shells
and canoes), swimming, flying, motorcycling,
auto racing, skating, fencing, ping-pong and
bocce ball. The velodrome on Rua da Consolação, built in 1895 on some property belonging to
Ms. Veridiana Prado, was the location for cycling
races and football.
And what was life like in the city at that
time? Nothing is tastier than revisiting a description, for example, from the chapter “Shopping in the City”, in the book São Paulo Naquele
Tempo 1895-1915 by Jorge Americano, a chroni-
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 21
cler of life in Sao Paulo in the late 19th century:
“Young ladies could never leave home alone and
go downtown. She had to go accompanied by her
mother or brother or sister, even younger ones, or
by a nephew. Nor could the mother leave home
alone. She had to go accompanied by her daughter or grandson. Upon taking the tram, the lady
was sometimes surprised to hear from the tariff collector that the passage had been paid ‘by
the gentleman back there’. As the tram carried
only about 15 passengers, she would turn around
and thank the kind gentleman. It was not, many
times, out of intimacy. Knowing a lady sufficed
for the right and duty to do that courtesy. One
might even look bad if he did not do it. At home,
one might say he had hidden, pretending not to
see the person next to him, in order to not pay
for the ticket.’[1]
da cidade. Tinha que ir acompanhada pela mãe, ou por irmão ou irmã,
mesmo pequenos; ou por um sobrinho. Também a mãe não podia sair de
casa sozinha. Tinha que ir acompanhada pela filha ou neto. Ao tomar o
bonde, tinha, às vezes, a surpresa de ouvir do cobrador que a passagem
já fora paga ‘por aquele senhor lá atrás’. Como o bonde levava mais ou
menos 15 passageiros, voltava-se e agradecia ao cavalheiro amável. Não
era, muitas vezes, da intimidade. Bastava conhecer para ter o direito e
o dever de fazer aquela cortesia. Até lhe ficaria mal se não fizesse. Em
casa seria comentado que ele se encolheu, fingindo não ver, para não
pagar a passagem”.1
Foi precisamente neste contexto, com seus costumes e cenários, em que uma moça que se prezasse não saía sozinha às
compras na “cidade”, mas igualmente em uma cidade que progre-
No início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, a população judaica de São Paulo contava de duzentas a trezentas famílias;
na foto, a Hospedaria dos Imigrantes. At the beginning of World War I in 1914, the Jewish population of Sao Paulo had two to three
hundred families; in the photo, the “House of Immigrants.”
22 pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
dia, que começou a se organizar a comunidade judaica. Tempos
em que balconista era caixeiro e no qual os artigos de comércio
da classe média se concentravam na região do “Triângulo” e no
centro antigo da cidade, onde os homens elegantes de mais idade
ainda usavam sobrecasaca e cartola preta, bengala e guarda-chuva.
Os mais jovens, por sua vez, começavam a inovar: fraque claro,
colarinho em pé, gravata colorida, luvas, chapéu cinza de abas
duras e flor na lapela, ou ainda casaco escuro com calça xadrez, e
depois vieram os enchimentos de ombro masculinos.
Rede de proteção social
It was precisely this context, with its customs and scenes, that did not allow for a selfrespecting lady to go downtown alone to shop,
in a city undergoing progress, where the Jewish
community began to organize itself. Those were
times when a counter clerk was a salesman and
when the middle class goods were concentrated
in the “Triangle” region and the old town center,
where elegant older men still wore black overcoats and top hats, and carried a cane and umbrella. Younger men, in turn, began to innovate:
light-hued morning coats, starched collars, colorful ties, gloves, gray brimmed hats and flowers
in the lapel, or even dark coats over tartan pants,
and then came the masculine shoulder pads.
Estabelecer uma rede de proteção social para os imigrantes
judeus, com a Sociedade das Damas e a Ezra, não era apenas uma
questão comunitária. Nos anos 1910 as instituições e políticas públicas sociais eram quase inexistentes no País. Ainda eram os tempos em que “a questão social era um caso de polícia”, conforme
o refrão político da época e lembrando-se que a clt, o primeiro
conjunto de leis trabalhistas, seria instaurada em 1943. Mais de um
quarto de século antes, ocorreram na cidade as célebres greves de
1917 que paralisaram a cidade por dias seguidos e integravam um
processo de conquista de direitos políticos e trabalhistas por parte
do operariado, muitos dos quais imigrantes europeus e adeptos
do Anarquismo e de movimentos socialistas.
Uma descrição do trabalho de crianças, a partir de sete, oito
anos, nas fábricas paulistanas nos anos 1910, propicia um retrato
de como era o trabalho e de como não havia nem leis nem proteção social, conforme Jacob Penteado lembrando das fábricas no
bairro do Belenzinho: “O horário, ali, era o seguinte: entrada às seis
horas; às sete e meia, um intervalo de quinze minutos, para o café; das
onze horas ao meio-dia, almoço. O segundo período ia das doze às dezesseis, com outro intervalo de quinze minutos, para merenda, às catorze
horas. Trabalhava-se, pois, nove horas por dia, inclusive aos sábados. E,
quando havia muitas encomendas, também aos domingos, das seis às
doze. As “oito horas” representavam, ainda, uma desejada e longínqua
conquista, que viria somente anos depois, após muita luta pelas ruas
e espancamento de operários pela polícia (...) O ambiente era o pior
possível. Calor intolerável, dentro de um barracão coberto de zinco, sem
Social safety net
Establishing a social safety net for Jewish
immigrants, with the help of Sociedade Beneficente das Damas Israelitas and Ezra, was not just
a community issue. In the 1910s, public social
institutions and policies were virtually nonexistent in Brazil. It was still the time when “the
social question was a police matter”, in accordance with the political chorus at that time and
bearing in mind that the CLT, the first set of labor
laws, would be introduced in 1943. More than a
quarter century earlier, the legendary 1917 strikes
took place. They paralyzed the city for days and
the working class, many of whom were European immigrants and supporters of Anarchism
and socialist movements, and achieved a series
of political and labor rights.
A description of child labor, from seven to
eight years of age, in Sao Paulo factories in the
1910s, provides an image of the working conditions and how there were neither laws nor social
protection back then. Referring to the factories
in the Belenzinho neighborhood, Jacob Penteado says: “The schedule, then, was as follows: get
in at six o’clock, a fifteen minute coffee break at
half past seven, from eleven to noon, lunch. The
second period was from noon to four, including
another fifteen-minute coffee break at two pm.
Therefore, one worked nine hours a day, including
Saturdays. And when there were many orders to
be delivered, one worked also on Sundays, from
six to twelve. The ‘eight hours’ then represented
a distant and desired achievement, which would
come true only years later, after much fighting in
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 23
the streets and beatings of workers by the police.
Working conditions were the worst possible: intolerable heat, in a shed topped by a zinc roof, with
no windows nor ventilation Micide dust, saturated with contagions, of the powder of ground
up drugs. Shards of glass scattered on the ground
represented another nightmare for the children,
because many of them worked barefoot or with
their feet protected only by rope sandals, which
were often pierced. Water did not excel in hygiene
or healthiness.”[2]
Along with the progress and development
there was also poverty and serious social difficulties, which included the newly arrived immigrants in need of a social network for immediate protection. In the case of the Sociedade
Beneficente das Damas Israelitas and of Ezra,
the network meant much more than that. It implied membership in a community and effective
opportunities for education, employment and
social ascension.
The formation of the Jewish community
and the actions of the Sociedade Beneficente
das Damas Israelitas and Ezra were carried out
with the support of international aid organizations for Jewish refugees, such as the Hebrew
Immigrant Aid Society (HIAS, founded in 1885),
the Jewish Colonization Association (JCA, established in 1919), Emigdirect and, later, also the
American Jewish Joint Distribution Committee
(Joint, founded in 1914). Most immigrants arrived
through these organizations, which provided
travel, tickets and contact with local organizations. The latter, in turn, prepared the invitation
letters and took care of the legal process so that
the immigrants could get into Brazil.
The JCA was highly skilled in organizing immigration into Brazil, resulting from the arrengement of agricultural colonies in the southern
state of Rio Grande do Sul, in 1901. In Argentina,
the first JCA colonies were founded in 1890. The
focus shift of the JCA, which proceeded to organize the immigration to urban centers like Sao
Paulo, was very important for the formation of
urban Jewish communities after 1910.
The Sociedade Beneficente das Damas Israelitas was founded by women of already-established families in the state capital, notably Olga
Tabacow, Bertha Klabin, and Olga Nebel. Until
1931 the organization was probably more informal, initially working in their patrons’ homes
24 janelas nem ventilação. Poeira micidal, saturada de miasmas, de pó de
drogas moídas. Os cacos de vidros espalhados pelo chão representavam
outro pesadelo para as crianças, porque muitas trabalhavam descalças
ou com os pés protegidos apenas por alpercatas de corda, quase sempre
furadas. A água não primava pela higiene nem pela salubridade”.2
Ao lado do progresso e do desenvolvimento havia também
pobreza e dificuldades sociais sérias, o que incluía os imigrantes
recém-chegados, que precisavam de uma rede social de proteção
imediata. No caso da Sociedade das Damas e da Ezra esta rede
significou muito mais do que isso, incluindo a pertinência a uma
comunidade e efetivas oportunidades de educação, trabalho e
ascensão social.
A formação da comunidade judaica e a ação das Damas e da
Ezra foram realizadas com apoio de organizações internacionais
de auxílio a refugiados judeus, como a Hebrew Immigrant Aid
Society (Hias, fundada em 1885), a Jewish Colonization Association (jca, criada em 1919), a Emigdirect e, mais tarde, também a
American Jewish Joint Distribution Committee ( Joint, fundada
em 1914). A maior parte dos imigrantes chegava por meio destas organizações, que providenciavam a viagem, as passagens e o
contato com as organizações locais, que, por sua vez, preparavam
a carta de chamada e cuidavam do processo legal para que o imigrante pudesse entrar no País.
A jca já tinha experiência em organizar a imigração ao Brasil
desde a instalação das colônias agrícolas no Rio Grande do Sul a
partir de 1901. Na Argentina, as primeiras colônias da jca foram
fundadas em 1890. A mudança de enfoque da jca, que passou a
organizar a imigração para centros urbanos como São Paulo, foi
muito importante para a constituição das comunidades judaicas
urbanas a partir de 1910.
A Sociedade Beneficente das Damas Israelitas foi fundada
por senhoras das famílias já estabelecidas na capital paulista,
destacando-se Olga Tabacow, Bertha Klabin e Olga Nebel. Até
1931 a entidade teve provavelmente uma existência mais informal,
funcionando inicialmente nas casas das suas patronas, depois no
Círculo Israelita e (provavelmente) a partir de 1931, na Rua 15 de
Novembro, no 44, no chamado “Triângulo”. As Damas levavam
roupas aos necessitados, especialmente mulheres e crianças, e
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
Entre 1910 e 1924 entraram em São Paulo cerca de 150 mil italianos, 180 mil portugueses e 170 mil espanhóis e muitos se fixaram
no Bom Retiro. Between 1910 and 1924, about 150,000 Italians, 180,000 Portuguese, and 170,000 Spanish came to Sao Paulo; many
settled in Bom Retiro.
prestavam outros auxílios mais urgentes. Nos primeiros anos de
existência, a ação das Damas estava bastante voltada também para
a assistência às mulheres parturientes, pagando suas despesas médicas e hospitalares por ocasião do parto.
A Sociedade Beneficente Amigo dos Pobres Ezra foi fundada
em 20 de maio de 1916, quando se escreveu em sua ata de fundação
que seu objetivo era o de “não deixar ir pedir esmolas, mas auxiliar
aos pobres, doentes e arranjar serviço aos que não têm, e ajudar
também materialmente quando é necessário. A Comissão dá o
socorro necessário no prazo máximo de 24 horas. São recebidos
donativos dos senhores sócios e também de particulares a qualquer hora e por qualquer membro da Comissão”.
and later in the Círculo Israelita. (Probably) commencing in 1931, it was based on Rua 15 de Novembro, no 44, in the so-called “Triangle”. The
Sociedade Beneficente das Damas Israelitas distributed clothes to the needy, especially women
and children, and provided other urgent assistance. In its first years, the Sociedade Beneficente das Damas Israelitas focused on the assistance to pregnant women, paying for their
medical expenses and hospital stay during labor.
The Sociedade Beneficente Amigo dos Pobres Ezra was founded on May 20, 1916, when,
in its foundation minutes, its objective read:
“not to encourage begging, but help the poor,
the sick and find jobs for unemployed people,
besides helping them materially when the need
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 25
Construção do Cemitério Israelita da Vila Mariana, que recebeu o primeiro sepultamento em 1920. Construction of the Jewish
Cemetery of Vila Mariana, which received the first burial in 1920.
be. The Commission is to provide the necessary
relief within 24 hours. Donations are welcome
both from members and private individuals at
any time and by any member in the Commission.”
Ezra was much more than a social aid organization; it was the very backbone of the community, a post it certainly held until the 40s, as
it took care of most aspects of the arrival and
absorption of immigrants, as well as various
matters relating to daily life of the community,
serving as its organizational center.
The Society proposed, therefore, to provide
first assistance and to seek work for immigrants,
so they would not have to beg on city streets.
Just nine days after its creation, Ezra had already
sent letters to Campinas and other cities in order
to maintain ties, a fact that serves as evidence
of the dispersion of the immigrants trying to
make ends meet upstate. The first case of aid
to be recorded in the board meeting minutes
is that of a patient who was admitted to Santa
Casa de Santos and had asked Ezra to assist with
half of the costs of his ten-day hospitalization.
Ezra organized the legal process of receiving
immigrants. The Brazilian legislation on immi-
26 A Ezra era muito mais do que uma entidade de auxílio social;
era a própria espinha dorsal da comunidade, lugar que ocupou
certamente até os anos 40, já que cuidava da maior parte dos aspectos relativos à chegada e à absorção dos imigrantes, além de
vários assuntos relativos ao dia a dia da comunidade, funcionando
como seu centro organizacional.
A entidade propunha-se, portanto, a prestar os primeiros auxílios e a procurar um trabalho para os imigrantes, para que eles
não tivessem que mendigar nas ruas da cidade. Apenas nove dias
após a sua criação, a Ezra já enviava cartas a Campinas e a outras
cidades para manter laços, evidência da dispersão dos imigrantes
que iam tentar a vida em várias cidades do interior paulista. O
primeiro caso de auxílio registrado em ata de reunião de diretoria
é o de um doente que estava internado na Santa Casa de Santos
e solicitava à Ezra que custeasse metade das despesas de sua internação de dez dias.
A Ezra organizava o processo de recepção legal dos imigrantes. A legislação brasileira sobre imigração deixava margem
à ambiguidade e à possibilidade de recusar a entrada de viajan-
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
tes pobres que chegavam de navio. Pela lei, praticamente toda
pessoa que chegasse de segunda ou terceira classe era declarada
imigrante e sujeita a uma série de restrições, como a recusa à
entrada aos que não tivessem trabalho declarado ou endereço
definido, entre outras cláusulas. Na prática, as ambiguidades e o
excesso de cláusulas davam margem também a um certo território de negociações legais e era neste campo que a Ezra trabalhava,
providenciando certificados de trabalho e de moradia, além das
cartas de chamada, que garantiam um responsável no Brasil pelo
imigrante e um endereço de contato, o que viabilizava o processo
de entrada no País.
Assim que chegava, o imigrante era conduzido para uma
das várias pensões existentes no Bom Retiro ou para um abrigo
coletivo, onde ele podia passar umas poucas semanas no máximo,
até encontrar um quarto ou uma casa para morar e um trabalho,
auxiliado pelo Bureau du Travail da própria Ezra, que providenciava um primeiro emprego. Eventos conjuntos eram comuns entre
Ezra e as Damas.
Em outubro de 1916, a Ezra enviou carta às Damas convidando-as a participar de um espetáculo em benefício das crianças
brasileiras israelitas. Além dos sócios pagantes, a Ezra financiava-se por meio de espetáculos artísticos e de doações espontâneas.
Em agosto de 1916, a entidade enviou uma carta à Sociedade Amadores Israelitas “Scholem Aleichem” pedindo um espetáculo em
benefício da entidade, que foi realizado em 1918, com o título de
“Der Vilde Mentsch”.
gration left room for ambiguity and the possibility to refuse the entry of poor travelers who arrived by ship. Virtually any person who came as
a second or a third class immigrant was declared
by law subject to a number of restrictions, such
as not being admitted into the country for being
unemployed or not bearing a permanent personal address, among other provisions. In practice, this ambiguity and the profusion of clauses
also gave rise to a certain ground for legal negotiations. Ezra worked on that field, providing
certificates of employment and housing, in addition to invitation letters , which guaranteed
the immigrant a responsible party in Brazil and
a contact address, which enabled the process of
entering the country.
Upon arrival, the immigrant was taken to
one of several boarding houses in Bom Retiro,
or to a public shelter, where he could spend a
few weeks at most until he/she found a room or
a house to live in and work, aided by the Bureau
du Travail within Ezra, which provided a first job.
Joint events between Ezra and the Sociedade
Beneficente das Damas Israelitas were common.
In October 1916, Ezra sent a letter to the Sociedade Beneficente das Damas Israelitas inviting them to participate in a benefit show for
Jewish children in Brazil. In addition to paying
members, Ezra supported itself through artistic
performances and spontaneous donations. In
August 1916, the organization sent a letter to Sociedade Amadores Israelitas “Scholem Aleichem”
requesting a benefit production on behalf of the
organization, which was held in 1918 with the
title “Der Mentsch Vilde”.
Ezra and the Spanish Influenza in 1918
A Ezra e a Gripe Espanhola em 1918
A epidemia da Gripe Espanhola que assolou São Paulo no ano
de 1918 levou à criação de um hospital improvisado por parte da
Ezra na sinagoga Knesset Israel, à Rua Newton Prado, no Bom
Retiro. A então estudante de medicina Rebeca Guertzenstein, que
atendeu os doentes, contraiu a doença e faleceu. A doença mobilizou a cidade como um todo e várias comunidades de imigrantes
prestaram socorros. Na Hospedaria dos Imigrantes foi montado
um hospital que contou com os médicos e o apoio do Hospital de
Isolamento da Capital (futuro Hospital Emilio Ribas).
The Spanish flu epidemic that swept Sao
Paulo in 1918 led to the creation of a makeshift
hospital by Ezra in the Knesset Israel synagogue,
located on Rua Newton Prado, in Bom Retiro. The
medical student Rebecca Guertzenstein, who assisted the sick, caught the flu herself and passed
away. The disease had mobilized the whole city
and various immigrant communities provided
aid. A hospital was built at the Hospedaria dos
Imigrantes, which relied on doctors and support
of the Hospital de Isolamento da Capital (the
future Hospital Emilio Ribas).
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 27
It is estimated there were approximately 20
million fatal victims worldwide, which corresponded to 1.5% of the population. In Sao Paulo, the Spanish Flu completely changed the daily
life in the city, as the memoirist Jacob Penteado
wrote: “The strongest outbreak on record in the
capital would come in October 1918, when the flu
epidemic, identified as ‘Spanish’, exploded in a virulent form. There was no home that had not been
reached. In some, all the residents were found
dead. Entire families perished in that sad phase
of life in Sao Paulo, even though the authorities
had mobilized all their resources and appealed
to all institutions and associations. (...) Mournful
processions of hearses could be seen throughout
the streets at any time of day, in full activity.”[3] In
1917, the capital recorded a total of 1,135 deaths
by contagious diseases, and 6,645 deaths in 1918,
5,331 deaths being caused by the flu epidemic.
By the end of the 1910s the Jewish community was already established in Sao Paulo and began planning institutions that would guarantee
other core aspects in their lives, such as the foundation of a cemetery and a school, both pillars
being rooted in the New World. Being bases for
this community, the Sociedade Beneficente das
Damas Israelitas and Ezra allowed for the immigrants to build their homes in the New World.
Nevertheless the flow of immigrants went on intensely and charities, existing and new, created
in 1920 and 1930, continued to occupy a central
place in community life, meeting new and evolving needs and shaping new institutions.
Notes
Americano, Jorge. São Paulo naquele tempo 1895-1915.
São Paulo, Narrativa Um/Carrenho/Carbono 14, 2004,
pp. 76-78.
2. Penteado, Jacob. Belenzinho, 1910, 2ª ed., São Paulo, Narrativa Um/Carrenho, 2003, p. 100.
3. Penteado, Jacob. Belenzinho, op. cit., pp. 260-61.
Estima-se que aproximadamente 20 milhões de pessoas morreram vítimas da doença no mundo, o que correspondia a 1,5%
da população. Em São Paulo, a Gripe Espanhola alterou completamente o cotidiano da cidade, conforme conta o memorialista
Jacob Penteado: “O mais forte surto epidêmico de que há memória na
Capital viria em outubro de 1918, quando a gripe epidêmica, crismada
de ‘espanhola’, explodiu de maneira virulenta. Não houve lar que não
fosse atingido. Em alguns deles, seus moradores foram encontrados todos
mortos. Famílias inteiras pereceram, nessa triste fase da vida paulistana,
embora as autoridades houvessem mobilizado todos os seus recursos e
apelado para todas as instituições e entidades. (...) Viam-se pelas ruas
a qualquer hora do dia, lúgubres cortejos de carros funerários em plena
atividade”.3 Em 1917, a capital registrou um total de 1.135 óbitos por
doenças transmissíveis e em 1918 foram 6.645, sendo 5.331 falecimentos por gripe epidêmica.
Ao encerrar-se a década de 1910 a comunidade judaica já estava estabelecida em São Paulo e começou a planejar instituições
que garantissem outros aspectos centrais de sua vida, como a
fundação de um cemitério e de uma escola, ambos pilares do
enraizamento no Novo Mundo. A Sociedade Beneficente das Damas Israelitas e a Ezra foram bases desta comunidade, que permitiram aos imigrantes construírem seus lares no Novo Mundo.
Mas o fluxo imigratório seguia intenso e as entidades assistenciais
existentes e as novas, criadas nos anos 1920 e 1930, continuaram
a ocupar lugar central na vida comunitária, atendendo a novas e
crescentes necessidades e moldando novas instituições.
1.
28 Notas
1. Americano, Jorge. São Paulo naquele tempo 1895-1915. São Paulo, Narrativa Um/Carrenho/
Carbono 14, 2004, pp. 76-78.
2. Penteado, Jacob. Belenzinho, 1910, 2ª ed., São Paulo, Narrativa Um/Carrenho, 2003, p. 100.
3. Penteado, Jacob. Belenzinho, op. cit., pp. 260-61.
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
2
Policlínica Linath Hatzedek é fundada
na metrópole paulista nos anos 1920
Policlínica Linath Hatzedek founded in Sao Paulo in the 1920s
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 29
p. 29 Automóveis, landôs, tílburis e bondes elétricos dividem o espaço no Viaduto do Chá em 1920, tendo ao fundo o Teatro
Municipal e à direita o Vale do Anhangabaú. acima Nos anos 1920 a comunidade judaica contava com cerca de 30 mil integrantes, que puderam usufruir da atmosfera de progresso e liberdade da cidade de São Paulo.
p. 29 Cars, coaches, tilburies and electric trams share the space in the Viaduto do Chá in 1920, against the backdrop of the Teatro Municipal and, on the right, Anhangabaú Valley. above In the 1920s, the Jewish community had about 30,000 members, who could enjoy the
atmosphere of progress and freedom of the city of Sao Paulo.
30 pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
E
m 1929 uma nova entidade assistencial foi fundada em
São Paulo: a Sociedade Beneficente Linath Hatzedek (o
nome Policlínica seria acrescentado em 1935) e nos anos
de 1928 e 1929 a Ezra associou-se a organizações internacionais
de auxílio à imigração, criando um novo modelo e parceria entre
diferentes entidades para a recepção aos imigrantes. Estes dois
marcos ampliaram em muito o intenso trabalho em uma década na qual a comunidade judaica já se encontrava plenamente
estabelecida.
Nos anos 1920 a comunidade judaica, com cerca de 30 mil
integrantes, se organizou com uma ampla rede de instituições
bem definidas. Entre as entidades fundadas naqueles anos estão:
Cemitério Israelita da Vila Mariana (1920), Gymnasio Hebraico-Brasileiro Renascença (Hatchia, 1922), Sociedade Cemitério Israe­
lita (1923), Comunidade Israelita Sefaradi de São Paulo (1924),
Organização Feminina Sionista Wizo (1926), Clube Esportivo e
Social Macabi (1927) e Sociedade Cooperativa de Crédito Popular
do Bom Retiro (1928).
Em 1928 foram abertas as sinagogas Ohel Yaakov (na Rua
da Abolição), Sinagoga Israelita Brasileira e Sociedade União Israelita Brasileira, as duas últimas erguidas na Mooca, ligadas à
imigração de judeus do Líbano e da Síria, que se estabeleceram
principalmente naquele bairro operário. Em 1929 foi inaugurado
I
n 1929 a new charitable trust was founded
in Sao Paulo: Sociedade Beneficente Linath
Hatzedek (the name “Policlínica” would be
added in 1935). In 1928 and 1929, Ezra joined international aid organizations for immigration,
creating a new model and partnership among
different associations for the reception of immigrants. These two landmarks significantly
increased the intense work in a decade during
which the Jewish community was already well
established.
In the 1920s the Jewish community, with
about 30,000 members, organized an extensive
network of well-defined institutions. Among the
societies founded in those years are the Cemitério Israelita da Vila Mariana (1920), Gymnasio
Hebraico-Brasileiro Renascença (Hatchia, 1922),
Sociedade Cemitério Israelita (1923), Comunidade Israelita Sefaradi de Sao Paulo (1924), Organização Feminina Sionista Wizo (1926), Clube
Esportivo e Social Macabi (1927) and the Sociedade Cooperativa de Crédito Popular do Bom
Retiro (1928).
In 1928, the synagogues Ohel Yaakov (on Rua
da Abolição), Sinagoga Israelita Brasileira and
the Sociedade União Israelita Brasileira were
constructed. The last two were built in the Mooca neighborhood and were connected to the
immigration of Jews from Lebanon and Syria,
who settled mainly in that working-class neighborhood. In 1929 the Templo Beth-El was inau-
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 31
gurated. Political activities were intense: in 1922,
the first Zionist Congress in Brazil was held and
the Federação Sionista Brasileira was founded;
socialist movements, such as the Bund, and communist groups also organized themselves within
the community.
In the 1920s, the wealth provided by coffee
exportation accelerated local growth, industrialization and progress in the city of Sao Paulo, which started building the symbol of a new
era, the Martinelli Skyscraper, with 12 floors, the
venture of an Italian immigrant inaugurated in
1929. The new technology of reinforced concrete
allowed for ever-higher buildings. Earl Martinelli then built himself a rooftop penthouse to
prove that living in a skyscraper was safe and
comfortable.
Modern Art Week in 1922 at the Teatro Municipal in Sao Paulo brought together a group
of artists of the most diverse expressions that
projected Modernism in all fields of art, among
them Mário de Andrade, Oswald de Andrade,
Manuel Bandeira, Guilherme de Almeida, Anita
Malfati, Patrícia Galvão. They shook up the cultural scene in the city, which they considered
stagnant, mocked the Parnassians, and launched
a manifesto in keeping with the times, under the
allegory of Macunaíma, the new Brazilian hero.
“Only Anthropophagy unites us” and “Tupi or
not Tupi, that is the question” have become battle cries of a new aesthetic approach, innovative
but also nationalist. Hollywood movies, newly arrived in theaters downtown Sao Paulo, had started disseminating the “American way of life,” with
the image of the “flapper”, a woman in short
hair, necklines and short skirts, and the “dandy”, a man in greased hair and an elegant suit.
In early 1920s, Sao Paulo was an extension of
Paris where 600,000 inhabitants lived, according to memoirist Jorge Americano, highlighting
the tall towers and buildings in its landscape.
From up high, one can glimpse the trams downtown, ‘a car every three blocks, some carts with
donkeys crouched in a water trough”, looking
eastbound one could make out about 100 factory chimneys.
Despite the intense march of progress, the
city still breathed nostalgic air as the memoirist
Jacob Penteado asserted: “I remember that, still
in 1920, I left a ball downtown, the day dawning,
and hopped on a tilbury in Praça Sé, next to the
32 o Templo Beth-El. As atividades políticas eram intensas: em 1922
foi realizado o primeiro Congresso Sionista do Brasil e fundada
a Federação Sionista Brasileira; movimentos socialistas, como o
Bund, e grupos comunistas também se organizavam no interior
da comunidade.
Na década de 1920, a riqueza propiciada pelo café acelerava
o crescimento, a industrialização e o progresso na cidade de São
Paulo, que começaria a construção do seu arranha-céu símbolo
de uma nova Era, o Edifício Martinelli, com 12 andares, empreendimento de um imigrante italiano inaugurado em 1929. A nova
tecnologia do concreto armado permitia construir prédios cada
vez mais altos e o conde Martinelli construiu para si um palacete
no teto do edifício para demonstrar que era seguro e confortável
viver em um arranha-céu.
A Semana de Arte Moderna de 1922 no Teatro Municipal
de São Paulo reuniu um grupo de artistas das mais diversas expressões que projetou o Modernismo em todos os campos da
arte, entre eles Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel
Bandeira, Guilherme de Almeida, Anita Malfati, Patrícia Galvão.
Eles sacudiram o que consideravam o marasmo da cena cultural
na cidade, ironizaram os parnasianos e lançaram um manifesto
condizente com os novos tempos, sob o signo de Macunaíma, o
novo herói brasileiro.
“Só a Antropofagia nos une” e “Tupi or not tupi, that is the
question” se tornaram gritos de guerra de uma nova proposta
estética, inovadora mas também nacionalista. No cinema de
Hollywood, que chegava às salas de cinema no Centro de São
Paulo, era o início da difusão do american way of life, da imagem da
“melindrosa”, a mulher de cabelos curtos, decotes e saias curtas,
e do “almofadinha”, o homem de cabelo engomado com brilhantina e terno superalinhado.
São Paulo tinha no início dos anos 1920 a extensão de Paris e
seiscentos mil habitantes, conforme o memorialista Jorge Americano, destacando-se torres e edifícios altos em sua paisagem.
Olhando o centro do alto, avistavam-se bondes, “um automóvel
a cada três quarteirões, algumas carroças com burros debruçados
num bebedouro”; em direção ao leste podia-se ver cerca de 100
chaminés de fábrica.
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
Apesar da marcha intensa do progresso, a cidade ainda respirava ares nostálgicos, como conta o memorialista Jacob Penteado: “Lembro-me que, ainda em 1920, saí de um baile, no Centro, já
madrugada, e tomei um tílburi, na Praça da Sé, ao lado da Catedral,
então em construção. Caía uma garoa fininha, aborrecida. O cocheiro
colocou-me um oleado sobre as pernas. Dei-lhe o endereço, Rua Passos,
36, e encostei-me no fundo do veículo, que rumou pela Várzea do Carmo.
Cathedral, then under construction. A thin and
boring drizzle was falling. The coachman put a
rain-blanket on my legs. I forwarded him the address, Rua Passos, no 36, and leaned against the
back of the vehicle, which headed down Várzea do
Carmo. With the monotonous noise of the trotting horse, I fell asleep. I was awakened, upon arriving at the house, by the voice of the coachman.”
At that time, still according to the memoirist,
A riqueza propiciada pelo café acelera o crescimento da cidade, como nesta imagem de 1920 do Largo São Bento, com bondes,
automóveis e tílburis. The wealth provided by the coffee industry accelerates the growth of the city, as seen in this 1920 image of
Largo São Bento, with trams, cars and tilburies.
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 33
Alunas do Colégio Renascença, fundado em 1922, no Parque Antártica, época na qual a comunidade judaica estabeleceu diversas entidades, entre elas a Policlínica Linath Hatzedek. Students from Colégio Renascença, founded in 1922, in Parque Antártica, at
which time the Jewish community had established several organizations, including the Policlínica Linath Hatzedek.
“The most common means of transport, usually
at weddings, baptisms or any other parties, were
taxi cars, stagecoaches, tilburies or carts, all four
wheels, except for the tilbury which had two,
with the shafts attached to the animal. In this
type of car, the most sought for urgent cases, the
coachman sat next to the customer. If encouraged, they would talk the whole time. It was that
which most resisted progress.”[4]
The habits also underwent changes, states
Jorge Americano, “The habit of leaning against
the window in the afternoon was gone. So ingrained it was that back then there were people
who had special pillows to rest their elbows on
(...) On the other hand, the more free young women were the more they got together in groups
for morning walks on the sidewalk, arm in arm.
34 Com o monótono ruído do trote do cavalo, acabei adormecendo. Fui despertado, ao chegar diante da casa, pela voz do cocheiro”. Nesta época,
ainda conforme o memorialista, “o meio de transporte mais comum,
geralmente nos casamentos, batizados ou outras festas quaisquer, eram
os carros de praça, fiacres, tílburis ou landôs, todos eles de quatro rodas,
com exceção do tílburi, que tinha duas, com os varais presos ao animal.
Nesse tipo de carro, o mais procurado para casos urgentes, o cocheiro
sentava ao lado do freguês. Se este desse corda, iam conversando o tempo
todo. Foi o que mais resistiu ao progresso”.1
Os hábitos passavam também por transformações, conta Jorge Americano: “Desapareceu o hábito de vir à janela à tarde. Era tão
enraizado antes que havia gente que possuía almofadinhas especiais
para pousar os cotovelos (...) Por outro lado, a liberdade maior que se
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
deu às moças fez com que elas se reunissem à tarde em grupos para passear nas calçadas, de braços dados. A esses grupos aderiram os rapazes,
modificando por inteiro o tipo anterior do namoro de rua, à distância”.2
Dois anos depois da Semana de Arte Moderna irrompeu a
Revolução Tenentista, mais precisamente em 5 de julho de 1924,
que provocou o bombardeio pelas tropas federais em partes da
cidade, incluindo o Bom Retiro e a Luz, onde ficava o quartel da
Força Pública. Na pauta de reivindicações dos tenentes liderados
por Isidoro Dias Lopes, em oposição à República Velha dominada
por partidos oligárquicos e tradicionais de São Paulo e Minas Gerais, estavam o voto secreto, a obrigatoriedade do ensino primário
e profissional, a descentralização do poder no País, a limitação das
ações do Poder Executivo e a moralização do Poder Judiciário.
Esta efervescência política, com revoltas em São Paulo e no Rio
de Janeiro (com a tomada do Forte de Copacabana), desembocaria
na Revolução de 1930, na ascensão de Getúlio Vargas ao poder e
em um realinhamento político no País.
Assim, novos ares de progresso, renovação e modernismo irradiavam nas artes, na política e na intensa urbanização da cidade.
Foi neste clima geral que a comunidade judaica se consolidou em
São Paulo, recebendo imigrantes aos milhares e contando com o
trabalho diário e inestimável das entidades assistenciais, Ezra, Sociedade das Damas Israelitas e Linath Hatzedek, que cuidavam do
apoio a homens, mulheres e crianças e da saúde dos imigrantes,
em uma sociedade na qual eram poucas as políticas e instituições
oficiais de apoio social aos seus habitantes. Apesar do progresso,
seguiam difíceis e precárias as condições de vida de boa parte da
população da cidade.
Young men then joined these groups, entirely
changing the old type of dating on the street,
from a distance.”[5]
Two years after the Modern Art Week, the
Revolução Tenentista burst, more precisely on
July 5, 1924, which led to bombings by the federal
troops in parts of the city, including Bom Retiro
and Luz, where the headquarters of the Força
Pública was located. In the list of demands of
the lieutenants led by Isidoro Dias Lopes, in opposition to the República Velha dominated by
traditional and oligarchic parties in Sao Paulo
and Minas Gerais, were the secret ballot, the
compulsory primary education, the professional training, the decentralization of the power
in Brazil, the limitation of the actions of the Executive Power and the moralization of the Judiciary Power. This political unrest, with riots in
Sao Paulo and Rio de Janeiro (with the taking of
the Forte de Copacabana), would end in the 1930
Uprising, the rise to power of Getúlio Vargas and
a political realignment in the country.
Thus, a new air of progress, renewal and
modernism radiated in the arts, politics and the
intense urbanization of the city. It was in this
general atmosphere that the Jewish community
was consolidated in Sao Paulo, receiving immigrants by the thousands and relying on the daily
and invaluable work of the assistance agencies,
Ezra, the Sociedade das Damas Israelitas and Linath Hatzedek, who supported men, women and
children, and tended to the immigrants’ health,
in a society in which there were few official policies and institutions of social support to its residents. Despite the progress, living conditions
were still difficult and precarious for most of
the city’s population.
The first merger among entities in 1924
A primeira fusão entre entidades em 1924
Segundo os números organizados pelo historiador Jeffrey
Lesser, entre 1921 e 1925 imigraram ao Brasil 7.139 judeus e no período entre 1926 e 1930 entraram no País um total de 22.296 judeus,
o que representou 12,9% da imigração em geral; parte importante
dos imigrantes foi morar em São Paulo. No chamado período da
grande imigração, entre 1881 e 1914, aqui chegaram mais de 2,9 milhões de imigrantes, dos quais os italianos constituíam a corrente
According to figures organized by historian
Jeffrey Lesser, 7,139 Jews immigrated to Brazil between 1921 and 1925, and between 1926 and 1930
a total of 22,296 Jews entered the country, representing 12.9% of immigration in general; most
immigrants came to live in Sao Paulo. Between
1881 and 1914, in the so-called Great Immigration
period, more than 2.9 million immigrants arrived
here, of which the Italians represented the most
significant influx. In the same period, 9,750 Jews
immigrated, about .013% of overall immigration.
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 35
The history of the aid organizations – until
the foundation of Unibes in 1976 – is a path of
successful mergers and project partnerships. The
first of these mergers occurred in 1924, when the
small Sociedade Pró-Imigrante, or Comitê de Socorro aos Imigrantes Israelitas, donated their
resources to Ezra and was absorbed by it as a
first union between associations that aided immigrants. The new society was renamed Sociedade Beneficente Israelita Ezra, under which Ezra
would become known. Soon after the merger,
following the change of address of Gymnasio Renascença, from Rua Amazonas to Rua Florêncio de
Abreu, Ezra also moved its headquarters over New
Year’s Eve of 1924 to 1925. Once on the new headquarters, the society rented rooms in Renascença.
In 1923, a leader in Ezra proposed to build a
“House of Immigrants”—“however modest it
may be, though indeed deserving its existence
and name”. The temporary headquarters of the
House of Immigrants was on the basement of
the synagogue on Rua Capitão Matarazzo, no
18. The House was to offer at least 12 vacancies.
In March 1923, with Passover approaching, the
synagogue’s basement sheltered over 30 people and Ezra decided to commission two women, among the immigrants housed, to prepare
meals for the co-religionists in the House during the eight days of Passover. The Society took
it upon itself to supply all needed items for a
grand celebration: china, matza, meat, chicken,
potatoes, eggs, wine and coal, among others.
In their daily relief work, Ezra donated small
sums of money and also offered monthly and
timely loans and aid. The organization also came
to function as a bank for financial help to its own
organizers. Ezra still paid for hospital admissions,
surgeries, medical treatments and private consultations with doctors. It also covered travel,
and on more than one occasion, paid the burial
costs of poor people in the Cemitério Israelita
da Vila Mariana.
The founding of the Sociedade Linath
Hatzedek (Policlínica)
In 1929 the Sociedade Beneficente Linath
Hatzedek was founded in order to offer medical
care for immigrants, given the increasing population in the community and its growing needs. According to the founders, they “considered and ob-
36 mais expressiva; nesse mesmo período, 9.750 judeus imigraram,
cerca de 0,013% da imigração geral.
A história das entidades assistenciais – até a fundação da Unibes em 1976 – é a de uma trajetória de bem sucedidas fusões e
parcerias de trabalho. A primeira destas fusões ocorreu em 1924,
quando a pequena Sociedade Pró-Imigrante, ou Comitê de Socorro aos Imigrantes Israelitas, doou seus recursos à Ezra e foi por
esta absorvida, constituindo a primeira união entre entidades que
auxiliavam os imigrantes. O nome da nova entidade passou a ser
Sociedade Beneficente Israelita Ezra, pelo qual a Ezra se tornaria
conhecida. Logo após a fusão, acompanhando a mudança de endereço do Gymnasio Renascença, que saiu da Rua Amazonas e se
mudou para a Rua Florêncio de Abreu, a Ezra também transferiu
sua sede na passagem do ano de 1924 para 1925; na nova sede, a
entidade alugava salas no Renascença.
Em 1923, um diretor da Ezra propôs criar-se uma “casa de
imigrantes”, “por mais modesta que seja, mas que tenha a existência e nome merecidos de fato”. A sede provisória da Casa dos
Imigrantes seria o porão da sinagoga da Rua Capitão Matarazzo,
no 18. A ideia era que a casa tivesse pelo menos 12 vagas. Em março
de 1923, com a aproximação da celebração da Pessach, o porão da
sinagoga abrigava mais de 30 pessoas e a Ezra decidiu encarregar
duas senhoras, entre as imigrantes alojadas, para que preparassem
refeições para os correligionários da Casa durante os oito dias da
Pessach, ficando a cargo da entidade o fornecimento de todos os
gêneros necessários para uma digna celebração: louça, matzá,
carne, frango, batatinha, ovos, vinho, carvão etc.
No dia a dia do seu trabalho assistencial, a Ezra doava pequenas quantias e também fazia empréstimos e auxílios pontuais e
mensais. A entidade chegou a funcionar também como um banco
para socorro financeiro dos próprios diretores. A Ezra pagava
ainda internações em hospitais, cirurgias, tratamentos médicos e
consultas particulares de médicos. Custeava passagens e, em mais
de um caso, arcou com os custos de sepultamentos de pessoas
pobres no Cemitério Israelita da Vila Mariana.
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
Rua Mauá, ao lado da Estação da Luz, em 1931, automóveis de um lado e charretes do outro. Rua Mauá, next to Estação da Luz,
in 1931, carriages on one side and cars on the other.
A fundação da Sociedade Linath Hatzedek (Policlínica)
Em 1929 foi fundada a Sociedade Beneficente Linath Hatzedek para dar assistência médica aos imigrantes, diante do aumento
populacional da comunidade e da ampliação de suas necessidades. Conforme os fundadores, eles “consideraram e observaram
que, com o desenvolvimento da Colônia Israelita nesta Capital,
também aumentava o número de necessitados; achou-se então
que seria de suma importância organizar uma Sociedade sob a
denominação Linath Hatzedek cujo fim seria trazer auxílio para
os doentes em todos os casos”. Como objetivos ainda, a Policlínica
“velará junto ao co-irmão doente” e “cederá na medida do possível
e a título de empréstimo os objetos necessários para o tratamento
do doente, entendendo-se com isto: objetos sanitários etc.”.
served that with the development of this Colônia
Israelita in the Capital, the number of poor people
also increased; one then felt it would be extremely
important to organize a Society under the name
Linath Hatzedek whose purpose was to aid the
sick people under all circumstances.” The Policlínica still aimed at “caring for unwell brethren” and
“lending to the extent possible all required sanitary objects, among others, to treat the patient”.
There were not too many hospitals in town at
that time and they were partly connected to religious orders or immigrant groups, among them
the Irmandade da Santa Casa de Misericórdia,
the Hospital Samaritano, the Umberto Primo
and the Santa Catarina, besides the Hospital de
Isolamento. And hospitals were not regular places for treatment, since many patients were treated at home and thus highlighted the importance
of the existence of a Policlínica. Among the first
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 37
tasks to organize the new institute were: creating a working committee, writing the statutes,
deciding how to care for the sick, and organizing a ladies’ commission. In order to standardize
the procedures of patient care, a document was
written to the Brazilian Red Cross.
The relationship between Linath Hatzedek
and Ezra was part of everyday life of the organizations and projects were conducted jointly
along with the Sociedade das Damas. In 1930, the
three organizations discussed the installation of
a clinic in Linath Hatzedek, which was opened in
December of that year. A festival was organized
having, as guests, the Colônia Israelita de Sepharadim and the Israelitas Sírios in order to raise
funds. Still in the late 20s, Ezra left the headquarters of Gymnasio Renascença and rented its own
headquarters at Rua dos Bandeirantes, no 20, in
Bom Retiro. At the same time, a warehouse was
rented where newcomers’ luggage was stored.
The HICEM and international
cooperation
In 1928, an agreement among the organizations JCA, Emigdirect, and HIAS led to the creation of HICEM, in order to coordinate the assistance to the immigrants. Ezra became the representative of HICEM in Sao Paulo and set up a
Central Immigration Committee, with resource
funds for the purchase of tickets and for loans
for the immigrants. It was run by a self-directed
board which became the embryo of the Cooperativa de Crédito Popular do Bom Retiro, the Lais
Par Casse, established in 1929—the bank that
provided small sums of money to help immigrants settle down economically. There was also
a Bureau de Travail. At least until the early 1940s,
Ezra received monthly grants from the JCA.
The creation of HICEM and the work of Ezra
as their representative in town placed the society in a network of international organizations.
Thereafter, there were frequent meetings between the Ezra’s board and Rabbi Raffalovich,
JCA representative in Brazil and the chief rabbi
of the Coletividade do Rio de Janeiro and later in Brazil. The Central Immigration Committee of HICEM was organized by Raffalovich as
a program of coordinated action in support of
immigrants in South America. In all major urban centers they organized Central Immigration
38 Não eram muitos os hospitais na cidade naquele período e,
em parte, eram ligados a ordens religiosas ou a grupos imigrantes,
entre eles o hospital da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia,
o Hospital Samaritano, o Umberto Primo e o Santa Catarina, além
do Hospital de Isolamento. E hospitais não eram lugares corriqueiros de tratamento, já que muitos se tratavam em casa, o que
reforçava a importância de existência de uma Policlínica. Entre
as primeiras tarefas para organizar a nova entidade estavam: criar
uma comissão de trabalho, escrever os estatutos, decidir como
se deve zelar pelos doentes e criar uma comissão de senhoras.
Para normatizar os procedimentos de como cuidar dos doentes,
escreveu-se à Cruz Vermelha Brasileira.
A relação da Linath Hatzedek com a Ezra era parte do dia a
dia das entidades e eram realizados projetos em conjunto, incluindo também a Sociedade das Damas. Em 1930, as três entidades
discutiram a instalação de um ambulatório na Linath Hatzedek,
que foi inaugurado em dezembro daquele ano. Para arrecadar
fundos, organizou-se um festival e foram convidados a Colônia
Israelita de Sepharadim e os Israelitas Sírios. Ainda no final dos
anos 20, a Ezra deixou a sede do Gymnasio Renascença e alugou
uma sede própria na Rua dos Bandeirantes, no 20, no Bom Retiro.
Ao mesmo tempo foi alugado um armazém onde eram guardadas
as bagagens dos recém-chegados.
O Hicem e a cooperação internacional
Em 1928, um acordo entre as organizações jca, Emigdirect
e Hias levou à criação do Hycem (ou Hicem) para coordenar o
trabalho de ajuda aos imigrantes. A Ezra tornou-se o representante do Hycem em São Paulo e estabeleceu um Comitê Central
de Imigração, um fundo de recursos para a compra de passagens,
uma caixa de empréstimos para imigrantes, dirigida por uma diretoria autônoma em relação à Ezra e que tornou-se o embrião da
Cooperativa de Crédito Popular do Bom Retiro, a Lais Par Casse,
criada em 1929, banco que fornecia pequenas somas de dinheiro
para ajudar os imigrantes a se estabelecerem economicamente.
Havia também um Bureau de Travail. Pelo menos até o início dos
anos 1940, a Ezra recebia subvenções mensais da jca.
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
Diretores e funcionários da Sociedade Cooperativa de Crédito Popular do Bom Retiro, fundada em 1928. Directors and employe-
es of the Sociedade Cooperativa de Crédito do Bom Retiro, founded in 1928.
A criação do Hycem e o trabalho da Ezra como seu representante na cidade inseriram a entidade em uma rede internacional
de organizações. A partir daí, foram realizadas frequentes reu­
niões entre a diretoria da Ezra e o rabino Raffalovich, representante da jca no País e grão-rabino da Coletividade do Rio de Janeiro
e depois do Brasil. O Comitê Central de Imigração do Hycem foi
organizado por Raffalovich como um programa de ação coordenada em prol dos imigrantes na América do Sul. Em todos os
grandes centros urbanos seriam organizados Comitês Centrais de
Imigração, um Bureau de Informação e se organizariam abrigos
para os imigrantes recém-chegados da Europa. Haveria bureaus de
trabalho para ensinar um ofício e também seriam criados bureaus
para mulheres e especificamente para a procura de parentes.
A Crise de 1929 atingiu a cidade e provocou efeitos que perduraram meses seguidos. Em outubro de 1930 foi criado um Comitê
de Socorro de Emergência, com o qual a Ezra decidiu colaborar.
Committees, an Information Bureau and shelters for immigrants newly arrived from Europe.
Workshops were held to teach trades, and, for
women specifically, to search for relatives.
The 1929 Crisis hit the city and caused effects
that persisted months in a row. In October 1930,
an Emergency Relief Committee was created,
with which Ezra decided to collaborate. In November that year, the president of Ezra declared
that “with the prolonged duration the crisis and
lack of work, the economic situation of most
households in the capital was greatly worsened.
Many homes were ruined financially and felt poverty swallow them up; many families were forced
to turn to this Society for all sorts of aid, all being
met, without exception.”
The creation of new societies also imposed
new cooperation among them. In July 1930, Ezra
and the Sociedade Beneficente das Damas Israelitas decided on closer collaboration for “protecting the feminine sex.” The following year,
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 39
just two years after the foundation of Linath
Hatzedek, in June 1931, a director at Ezra proposed a merger to include Ezra, the Sociedade
Beneficente das Damas Israelitas and the newly
founded Linath Hatzedek.
As the largest society within the Jewish community in Sao Paulo, Ezra did not just take care of
all social aspects of immigrants and local Jews.
Its board also discussed general matters pertaining to local Jewish life. In October 1930, there
was a “case of anti-Semitic propaganda” that
had immediate action from Ezra. The president
of Ezra mentioned an article published in the
police press that “includes strong attacks against
Jews in this capital, calling them all communists,
confusing Communism with Zionism”. The president also referred to “the measures taken on the
part of the peaceful and orderly Colonia Israelita
of Sao Paulo against the derogatory campaign”.
Círculo Israelita then met with representatives of the major Jewish institutions and they
decided to go to the chief of police in order to
expose the “menacing situation of the Jews facing such attacks, asking him to send cease order
for them”. It was delivered by Horácio Lafer, Jacob Nebel and Moyses Kauffman “with whom the
chief of police dealt with great kindness, promising to take prompt and vigorous measures.”
The Sociedade das Damas is formalized
The Sociedade das Damas Israelitas, which
organized itself in a more official manner in the
20s, had as its main scope of work, aside from
charity in general, caring for pregnant women
and hospitalizing them for childbirth. The first
existing minutes about the activities of the
Society are dated October 5, 1930, and record
a meeting held at the social headquarters on
Rua 15 de Novembro. They define the objectives
of the organization, founded in 1915: “In regards
to the form of aid to be delivered to the needy,
only medical and hospital aid and medicine will
be provided. No cash assistance will be offered;
which may only be obtainable following an applicable inquiry. The official address of the society,
to which requests for assistance should be sent, is
to be published in the press.”
In 1932 the organization had at least 65 members. Around 1935, the Sociedade das Damas’
headquarters moved to Rua Sao Bento, near the
40 Em novembro daquele ano, o presidente da Ezra declarou que
“com a demasiada duração da crise e falta de trabalho agravou-se
sobremaneira a situação econômica de grande parte das famílias
residentes nesta capital. Muitos lares foram arruinados financeiramente e viram penetrar a miséria e numerosas famílias viram-se
obrigadas a recorrer a esta Sociedade para toda a sorte de auxílios,
sendo todos atendidos, sem exceção alguma”.
A criação de novas entidades impunha também outras modalidades de cooperação entre elas. Em julho de 1930, a Ezra decidiu com a Sociedade Beneficente das Damas Israelitas sobre uma
colaboração mais estreita para a “proteção do sexo feminino”.
E no ano seguinte, apenas dois anos após a fundação da Linath
Hatzedek, em junho de 1931, um diretor da Ezra propôs a fusão
entre a Ezra, as Damas e a recém-fundada Linath Hatzedek.
Como principal entidade da comunidade judaica em São
Paulo, a Ezra não cuidava apenas de todos os aspectos sociais dos
imigrantes e dos judeus locais. Sua diretoria também discutia assuntos gerais concernentes à vida judaica na cidade. Em outubro
de 1930, ocorreu um “caso de propaganda antisemithica” que teve
pronta atuação da Ezra. O presidente da Ezra falou sobre um artigo publicado na imprensa policial que “contém fortes ataques
contra os Israelitas desta Capital, chamando-os todos de comunistas, confundindo o Comunismo com o Sionismo”. O presidente
também falou “das medidas tomadas contra a campanha difamatória por parte da pacata e ordeira Colonia Israelita de São Paulo”.
Em seguida ocorreu uma reunião no Círculo Israelita com representantes das principais instituições israelitas e eles decidiram
dirigir-se ao chefe de polícia expondo a situação “alarmante dos
Israelitas perante tais ataques, pedindo-o para mandar cessá-los”.
Foi entregue por Horácio Lafer, Jacob Nebel e Moyses Kauffman
“a quem o chefe da polícia tratou com muita amabilidade, prometeu tomar medidas prontas e enérgicas”.
A Sociedade das Damas se formaliza
A Sociedade das Damas Israelitas, que se organizou de forma
mais oficial nos anos 20, tinha como perspectiva principal do seu
trabalho, além da benemerência em geral, atender as mulheres
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
Por meio da Cooperativa de Crédito e das entidades assistenciais, a comunidade judaica oferecia ampla assistência aos imigrantes. Through the Cooperative Society and charities, the Jewish community would offer ample assistance to the immigrants.
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 41
Raffalovich, grão-rabino do Brasil, trabalhou com a Ezra para organizar o trabalho
em prol dos imigrantes no País. Raffalovich,
Brazil’s chief rabbi, worked with Ezra to organize
the work on behalf of immigrants in the country.
former headquarters. The Society maintained
the work of helping families who came from Europe, with housing, food and clothing. The parturient women were treated at hospitals, such as
Maternidade Sao Paulo and the Maternidade do
Instituto Baroneza de Limeira. At that time, according to Jorge Americano, the most fortunate
children were born at home, assisted by a midwife or a doctor, the poor or less fortunate were
born in maternity wards, which were charitable
establishments. The Damas got together in their
own homes and were the very founders who visited the members at their homes, received the
donations and took them to the needy.
At the close of the 1920s the community
worked in an active and structured form. The
1930s brought a new and large wave of immigration, and the political issues in Brazil and around
the world placed them at the center of debates
about the day-to-day life of the community.
grávidas e providenciar sua internação hospitalar para o parto. A
primeira Ata existente sobre as atividades da Sociedade data de 5
de outubro de 1930, e registra uma reunião realizada na sede social
à Rua 15 de Novembro. Define os objetivos da entidade, fundada
em 1915: “Tratando-se da forma de auxílio a ser prestado aos necessitados, resolveu-se que só seriam prestados socorros médicos,
hospitalares e remédios, não podendo ministrar ajuda em dinheiro e estas somente serão feitas depois da respectiva sindicância.
Também ficou deliberado fazer publicações na imprensa, sobre o
endereço oficial da sociedade, para onde deverão ser encaminhados os pedidos de auxílio”.
Em 1932 a entidade contava com pelo menos 65 associadas.
A Sociedade das Damas mudaria de sede por volta de 1935, para a
Rua São Bento, próximo à sede anterior. A Sociedade manteve o
trabalho de auxiliar famílias que vinham da Europa, com moradia, roupa e comida. As parturientes eram atendidas em hospitais,
como a Maternidade São Paulo e a Maternidade do Instituto Baroneza de Limeira. Naquela época, conforme Jorge Americano,
as crianças mais afortunadas nasciam em casa, assistidas por uma
parteira ou médico; as indigentes ou menos afortunadas é que
nasciam nas maternidades, que eram estabelecimentos de caridade. As Damas se reuniam em suas próprias casas e eram as próprias fundadoras que visitavam as sócias na casa delas, recebiam
os donativos e os levavam para as pessoas necessitadas.
Ao encerrar-se a década de 1920 a comunidade funcionava de
forma ativa e estruturada. Os anos 1930 trariam uma nova e grande onda imigratória e as questões políticas do País e do mundo
se colocariam no centro dos debates do dia a dia da comunidade.
Notas
1. Penteado, Jacob. Belenzinho, 1910, 2ª ed., São Paulo, Narrativa Um/Carrenho, 200, p. 276.
2. Americano, Jorge. São Paulo naquele tempo 1895-1915. São Paulo, Narrativa Um/Carrenho/
Carbono 14, 2004, p. 99.
Notes
1.
Penteado, Jacob. Belenzinho, 1910, 2ª ed., São Paulo, Narrativa Um/Carrenho, 200, p. 276.
2. Americano, Jorge. São Paulo naquele tempo 1895-1915. São
Paulo, Narrativa Um/Carrenho/Carbono 14, 2004, p. 99.
42 pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
3
Gota de Leite, Sanatório da Ezra e Lar da
Criança das Damas são fundados nos anos 30
Gota de Leite, Ezra Sanatorium and Lar da Criança das Damas are founded in the 30s
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 43
p. 43 Avenida São João na década de 1930, com o recém-inaugurado Edifício Martinelli ao fundo. acima Operários da fábrica de chapéus Ramenzoni, uma das indústrias sediadas no Bom Retiro.
p. 43 Avenida São João in the 1930s, with the newly-inaugurated Martinelli Building in the background. above Workers of the Ramenzoni hat factory, one of the industries located in Bom Retiro.
44 pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
N
a década de 1930 três novas entidades assistenciais foram fundadas: a Gota de Leite da B’nai B’rith, em 1932,
o Sanatório Ezra para tuberculosos, erguido em 1936
em São José dos Campos, e o Lar da Criança das Damas Israelitas,
aberto no ano de 1939 (em continuidade a uma creche aberta em
1935). A fundação da Gota de Leite, do Lar da Criança e do Sanatório da Ezra refletem urgências da época, de garantir a saúde dos
recém-nascidos, um abrigo para crianças filhas de imigrantes que
tinham que trabalhar e nem sempre podiam manter uma estrutura familiar adequada e o atendimento aos doentes de tuberculose.
O processo imigratório continuava intenso, acrescido a partir de 1933 da imigração da Alemanha em decorrência do nazismo
e do antissemitismo institucionalizado naquele país. Em torno
da Congregação Israelita Paulista (cip), estabelecida em 1936, os
refugiados judeus alemães fundaram a Comissão de Assistência
aos Refugiados Israelitas da Alemanha (Caria), em 1933, e o Lar
das Crianças da cip em 1938. Ao longo da década vieram também judeus italianos, fugindo do fascismo, muitos dos quais se
incorporaram à cip.
Na década de 1930 a cidade provinciana transforma-se em
metrópole, com uma população de 1,5 milhão de habitantes.
Diante das mudanças visíveis em uma capital que não planejava
o seu desenvolvimento, o cronista Jorge Americano se pergun-
I
n the 1930s three new charitable trusts were
founded: the Gota de Leite at B’nai B’rith, in
1932, the Ezra Sanatorium for Tuberculosis,
erected in 1936 in Sao Jose dos Campos, and the
Lar da Criança das Damas Israelitas, opened in
1939 (following a nursery which opened in 1935).
The foundation of the Gota de Leite, the Lar da
Criança and the Ezra Sanatorium reflect the requirements of that time; which were, ensuring
the health of newborns, sheltering the children
of immigrants who had to work and could not
always maintain an adequate family structure,
and caring for tuberculosis patients.
The immigration process continued to be intense, with increasing immigration from Germany from 1933 onwards, as a result of Nazism and
institutionalized anti-Semitism in that country.
Related to the Congregação Israelita Paulista
(CIP), established in 1936, German Jewish refugees founded the Comissão de Assistência aos
Refugiados Israelitas da Alemanha (Caria), in
1933, and the Lar das Crianças by CIP in 1938.
Throughout the decade, Italian Jews also came,
fleeing fascism, many of whom joined the CIP.
In the 1930s, the once-provincial city transforms itself into a metropolis, with a population of 1.5 million inhabitants. Facing the visible
changes in a capital that had not planned its
development, the chronicler Jorge Americano
asked: “The overcrowding resulting from the narrow streets would remedy itself if traffic went
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 45
underground or in suspension. But it will still be
a matter of debate, tenders and cancellation of
tenders. Given the steady production of national
cars, what will become of this traffic?”
In the 1930s, the Jewish Community was in
full swing in its institutional, cultural, social and
religious lives. In 1930, the Polisher Ferband, an
Association of Jewish Poles, asked permission to
hold their weekly meetings at Ezra headquarters. The Synagoga and Thalmud Thora Syria (a
religious school for children) was also inaugurated in 1930. That same month, the Círculo Israelita
opened its new social headquarters and Macabi,
Cadima, Centro Recreativo and Sport Club ran
sports and leisure activities there.
Ezra also participated in political forums and
sent a representative to the Comitê no Congresso Internacional Israelita in 1934. In March that
year, Ezra received Israel Dines, the administrative secretary of Relief, from Rio de Janeiro, who
came to ask for the cooperation of all institutions to assist with immigration. A director took
the floor and proposed “that this Society take the
initiative to fight anti-Semitism which is beginning to grow into alarming proportions in Brazil
due to Nazi propaganda. Let us invite the representatives of every Jewish institution in Sao Paulo
to address this issue for the next meeting”, according to the organization minutes of March
29, 1934, the year in which the minutes were
recorded in Portuguese and Yiddish.
The Uprisings of 1930 and 1932
On taking office in 1930, Vargas dissolved
the National Congress, the state and city legislatures and dismissed the governors. With the
so-called “Uprising of 1930,” the República Velha
or Primeira República (1889-1930)—the period
of oligarchic command of the “café au lait”, had
ended. The following period was a dictatorial
but also “modernizing” state in certain aspects
at the same time, with the creation of several
bodies of central planning and economic development, modernization of the state apparatus
and labor laws embodied in the CLT.
By opposing sectors from the oligarchy and
Sao Paulo’s middle class against the federal
government of Getulio Vargas, the Uprising of
1932 hit the Israelite cluster hard due to the geographic location of most immigrants. The dis-
46 tava: “O congestionamento, resultante dos gabaritos estreitos,
obviar-se-ia pelo tráfego subterrâneo ou em suspensão. Mas isso
continuará a ser motivo de discussão, concorrências e anulações
de concorrências. Com a contínua fabricação de carros nacionais,
como será o tráfego?”
Nos anos 1930, a comunidade judaica, ou colônia israelita
(como se dizia na época), estava em plena efervescência em sua
vida institucional, cultural, social e religiosa. Em 1930, a Polisher
Ferband, a Associação dos Judeus Poloneses, pediu para fazer suas
reuniões semanais na sede da Ezra. A Synagoga e Thalmud Thora
Syria (escola religiosa para crianças) foi inaugurada também em
1930. No mesmo mês, o Círculo Israelita abriu sua nova sede social
e Macabi, Cadima, Centro Recreativo e Sport Club mantinham
atividades esportivas e de lazer.
A Ezra participava também de fóruns políticos e enviou um
representante ao Comitê no Congresso Internacional Israelita
em 1934. Em março desse ano, a Ezra recebeu Israel Dines, secretário administrativo do Relief, do Rio de Janeiro, que veio pedir
a cooperação de todas as instituições para auxiliar a imigração;
um diretor pediu a palavra e propôs “que esta Sociedade tome a
iniciativa pelo combate do antissemitismo que começa a tomar
proporções alarmantes no País devido à propaganda nazista. Ficou resolvido convidar para a próxima reunião os representantes
de todas as instituições israelitas de São Paulo para tratar deste
assunto”, conforme a ata da entidade de 29 de março de 1934, ano
em que as atas eram registradas em português e em ídiche.
As revoluções de 1930 e 1932
Ao tomar posse em 1930, Vargas dissolveu o Congresso Nacional, os legislativos estaduais e municipais e destituiu os governadores. Com a chamada Revolução de 1930 encerrou-se a República
Velha ou Primeira República (1889-1930), o período de hegemonia
das oligarquias do “café com leite”. O período que se iniciou foi
o de um Estado ditatorial e ao mesmo tempo “modernizante”
em vários aspectos, com a criação de inúmeros órgãos de planejamento central e de desenvolvimento econômico, modernização
do aparato estatal e as leis trabalhistas consubstanciadas na clt.
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
Imigrantes no Jardim da Luz nos anos 30 e 40, em retratos realizados pelos fotógrafos lambe-lambe. Immigrants in Jardim da Luz
in the ‘30s and ‘40s, in pictures captured by wandering photographers.
A Revolução de 1932, que opôs setores da oligarquia e das
classes médias paulistas ao governo federal de Getúlio Vargas,
atingiu duramente a colônia israelita devido à localização geográfica da maior parte dos imigrantes. Os bairros da Luz e do
Bom Retiro foram um dos epicentros da movimentação militar.
A região sofreu bombardeios e foi palco de combates. As aulas do
Gymnasio Renascença, que funcionava na Avenida Tiradentes,
foram suspensas e numerosas famílias fugiram para o interior do
Estado. A poucas dezenas de metros do Renascença, da Ezra e da
Linath Hatzedek estava o quartel-general da Força Pública e o qg
dos insurgentes.
Ezra e Sociedade das Damas se preocuparam com o impacto
social sobre a comunidade e as Damas também aderiram diretamente à mobilização civil em prol de São Paulo. Em reunião na
Ezra em julho de 1932, um diretor comentou a situação da entidade “em face da anormalidade reinante atualmente neste Estado
e da qual resultou a cessação do trabalho de numerosos israelitas
que perderam assim os meios de ganhar o necessário para a subsistência de suas famílias”. Havia na cidade várias famílias que
estavam passando fome e privações. Já a presidente das Damas,
tricts of Luz and Bom Retiro were among the
epicenters of the military movement. The region
underwent bombings and was the stage of combats. The classes of Gymnasio Renascença on
Avenida Tiradentes were suspended and many
families fled upstate. A few dozen meters from
Renascença, Ezra, and Linath Hatzedek was the
headquarters of the Força Pública as well as the
headquarters of the insurgents.
Ezra and the Sociedade das Damas were concerned with the social impact on the community
and the Damas also directly joined the civilian
mobilization pro Sao Paulo state. In a meeting in
July 1932, one director in Ezra commented on the
situation of the society: “in the face of the abnormality currently prevailing in this state and which
resulted in the cessation of work, many Jews lost
the source of income necessary to support their
families”. Several families in Sao Paulo endured
starvation and deprivation. The president of the
Damas, in turn, stated in a meeting at the organization, “in light of such abnormal times, due to
the uprising, we propose that donations be raised
in cash and supplies to be distributed among the
needy in the cluster; having been unanimously
approved, this proposal demands the creation of
a committee for that purpose”.
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 47
Avenida Dr. Arnaldo nos anos 30, época em que a cidade atinge 1,5 milhão de habitantes. Avenida Dr. Arnaldo in the ‘30s, at the
time when the city reached 1.5 million inhabitants.
The campaign was conducted, including
“help the needy in the cluster, whose conditions were deteriorating due to the revolutionary movement, the formation of a Comissão de
Socorro”. A Comitê de Emergência was created
counting on special funds to be collected without further ado. Ezra, Representação Central,
Linath Hatzedek and the Sociedade das Damas
shared the responsibility for the foundation of
the committee. The distribution post of food and
basic items was installed at the Ezra headquarters, on Rua Bandeirantes, no 20, and opened
three times a week, with the support of the Loja
Moses Mendelsohn from B’nai B’rith.
The Sociedade das Damas organized to collect donations of money and goods for the Brazilian Red Cross and 942 caps were crafted and
donated for the local soldiers. At a meeting on
July 18, 1932 at the Cooperativa de Crédito do
Bom Retiro, on Rua José Paulino, no 84, the discussion was how to help families and how to ensure the “contribution of the Israelite cluster towards the Brazilian Red Cross, as did other foreign
48 em reunião da entidade, “em vista do tempo anormal, devido à
revolução, propõe que se angariem donativos em dinheiro e mantimentos para serem distribuídos entre os necessitados da colônia;
tendo sido esta proposta aprovada por unanimidade, constitui-se
uma comissão para este fim”.
A campanha foi feita, e inclusive, “para ajudar os necessitados
da colônia, cujo estado agravou-se devido ao movimento revolucionário, ficou constituída uma Comissão de Socorro”. Foi criado
um Comitê de Emergência com um fundo especial proveniente
de uma coleta que seria organizada imediatamente. A fundação
do comitê ficaria a cargo da Ezra, Representação Central, Linath Hatzedek e Sociedade das Damas. O posto de distribuição de
alimentos e artigos de primeira necessidade foi instalado na sede
da Ezra, à Rua Bandeirantes, no 20, e funcionava três vezes por
semana, tendo o apoio da Loja Moses Mendelsohn da B’nai B’rith.
A Sociedade das Damas se mobilizou para angariar donativos
em dinheiro e objetos para a Cruz Vermelha Brasileira e foram
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
confeccionados e doados 942 capuzes para os soldados paulistas.
Em reunião em 18 de julho de 1932 na Cooperativa de Crédito
do Bom Retiro, à Rua José Paulino, 84, tratou-se de socorrer as
famílias e de como garantir a “contribuição da colônia israelita
em benefício da Cruz Vermelha Brasileira a exemplo de como
fazem outras colônias estrangeiras aqui domiciliadas” e “a fim
de demonstrar a nossa gratidão e o nosso reconhecimento pela
igualdade de Direito e liberdade que sempre temos gozado neste
grande e hospitaleiro Estado”.
Gota de Leite e Lar da Criança Israelita
A preocupação com a criança imigrante pobre era central
entre as entidades judaicas assistenciais na década de 1930. A pobreza, a má alimentação e a fome produziam consequências extremamente duras para as famílias imigrantes. A situação social
entre os imigrantes era muito difícil e muitas vezes as crianças
e as famílias precisavam do amparo de uma instituição. Em reunião em agosto de 1930, Salo Wissman, diretor da Ezra, falou “sobre a absoluta falta de assistência à infância que infelizmente há
na nossa colônia” e citou diversos casos de “crianças que foram
abandonadas por seus pais e de orfãozinhos de pais cujas mães
não podem ir trabalhar por não terem um lugar onde deixar os
seus pobres filhos para permanecerem durante o dia”. O alerta de
Wissman foi entendido como um apelo para que a comunidade
judaica cuidasse dos casos que requeriam séria atenção.
Em fevereiro de 1932, em reunião de diretoria da Ezra, discutiu-se a criação de uma creche para “criancinhas israelitas pobres”
para que os pais pudessem trabalhar sem a necessidade de recorrer à caridade pública ou ao auxílio das sociedades beneficentes.
A diretoria da Ezra marcou uma nova reunião e decidiu divulgar
a situação na imprensa israelita.
A Gota de Leite foi criada em 1932 com o objetivo de cuidar
de crianças recém-nascidas, fornecendo especialmente leite e alimentos, além de orientar as mães sobre como cuidar dos bebês.
A Gota de Leite surgiu dentro de um círculo de mulheres ligadas
à imigração alemã da Irmandade B’nai B’rith, fundada em São
Paulo em 1932. Pelo menos a partir de 1935 a entidade integrou
colonies residing here” and “to show our gratitude and our recognition for the legal equality
and freedom that we have always enjoyed in this
great and hospitable state.”
Gota de Leite and Lar da Criança
Israelita
Caring for the poor immigrant children was
central among the Jewish welfare organizations in the 1930s. Poverty, malnutrition and
hunger produced extremely harsh consequences for immigrant families. The social situation
among immigrants was very difficult and children and families often needed the support of
an institution. At a meeting in August 1930, Salo
Wissman, director at Ezra, commented on “the
absolute and unfortunate lack of childcare in
our cluster”, mentioning several cases of “children who were abandoned by their parents or
fatherless orphans whose mothers cannot work
for not having a place to leave their poor children to remain during the day”. Wissman’s alert
was received as an appeal for the Jewish community to take care of cases that required serious attention.
In February 1932, the Ezra board meeting
discussed the creation of a nursery school for
“poor Jewish little children” so that their parents could work without the need to appeal
to public charity or assistance organizations.
Ezra’s board scheduled another meeting on the
subject and decided to disclose the situation in
the Jewish press.
Gota de Leite was established in 1932 with
the goal of caring for newborn children, providing especially milk and food, besides teaching
mothers how to care for their babies. Gota de
Leite came about within a circle of women connected to the German immigration of the Irmandade B’nai B’rith, founded in Sao Paulo in
1932. From 1935 onwards, at least, the organization formally incorporated a “Loja de Irmãs”
(Sisters’ Shop), closely coupled to B’nai B’rith of
Sao Paulo, under the official name of Gota de
Leite B’nai B’rith.
The Gota de Leite was a French model of
childcare that was implemented in several cities
in Brazil between late 19th and early 20th centuries. It followed a proposal, considered scientific,
regarding the support of needy children, based
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 49
Pic-nic no parque
nos anos 30, época
em que as mulheres
se destacavam no
trabalho assistencial
na comunidade
judaica.
Picnic in the park in
the ‘30s, at which
time women stood
out in their relief
work in the Jewish
community.
on the education and guidance of families to
care for their children. The personal work was
run by the responsible parties, at the headquarters of the Polyclínica in Bom Retiro. In May 1936,
the service was expanded to collecting donations of clothes and applying ultraviolet rays.
In 1935, the Sociedade das Damas founded a nursery school and launched the Golden
Book, where donations were recorded. In 1939,
the Damas created a kindergarten for children
aged three to seven years, the Lar da Criança
Israelita, with the help of the Polyclínica, which
was housed on Rua Jorge Velho, in Bom Retiro.
The Home founded by the Damas differed from
the Lar da Criança, founded soon after by the
Congregação Israelita Paulista.
Linath Hatzedek becomes Polyclínica
In 1935, the Sociedade Beneficente Linath
Hatzedek changed its name to Sociedade Beneficente Linath Hatzedek Polyclínica, a decision
made in its new headquarters on Rua Ribeiro
de Lima. The name change also indicates a new
50 formalmente uma “Loja de Irmãs” vinculada à B’nai B’rith de São
Paulo, com o nome oficial de Gota de Leite B’nai B’rith.
A Gota de Leite era um modelo francês de atendimento a
crianças e foi implantado em várias cidades do Brasil entre o final do século 19 e o início do 20, de acordo com uma proposta
considerada científica de amparar crianças carentes e educar e
orientar as famílias a cuidar de seus filhos. O trabalho era feito
pessoalmente pelas responsáveis, que funcionou na sede da Policlínica, no Bom Retiro. Em maio de 1936, foi ampliado o serviço
de aplicação de raios ultravioletas e de coleta de roupas.
Em 1935, a Sociedade das Damas fundou uma creche para
crianças e lançou um Livro de Ouro de doações. Em 1939, as Damas criaram um jardim maternal para crianças de três a sete anos,
o Lar da Criança Israelita, com a colaboração da Policlínica, e que
teve como sede uma casa na Rua Jorge Velho, no Bom Retiro. O
Lar fundado pelas Damas era uma entidade distinta do Lar da
Criança da Congregação Israelita Paulista (cip), que seria fundado
logo depois.
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
Estação da Luz; em 1932, os bairros do Bom Retiro e da Luz foram epicentros dos bombardeios que afetaram duramente os moradores. Estação da Luz; in 1932, the districts of Bom Retiro and Luz were epicenters of the bombings that deeply affected the residents.
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 51
Alunos de uma escola no Bom Retiro; nos anos 30 a assistência à infância foi uma questão central das entidades assistenciais.
Students from a school at Bom Retiro; childcare was a central issue of charities in the ‘30s.
52 pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
Linath Hatzedek se torna Policlínica
Em 1935, a Sociedade Beneficente Linath Hatzedek mudou
seu nome para Sociedade Beneficente Linath Hatzedek Polyclinica, decisão tomada em sua nova sede à Rua Ribeiro de Lima. A
mudança de nome indica também um novo padrão de atendimento, que passou a constituir-se como um ambulatório que atendia
diversas especialidades médicas, realizava análises de laboratório,
tirava radiografias, distribuía medicamentos e fazia aplicações de
banho de luz, ultravioleta, diathermia e curativos.
A Linath Hatzedek, tornada Polyclinica, foi deixando de ser
uma entidade que prestava auxílios filantrópicos com o acompanhamento pessoal dos doentes pelos diretores para se tornar,
aos poucos, uma entidade gerida por médicos. No estatuto de
setembro de 1938 escreveu-se que “compete aos dois Conselheiros
Médicos orientar o serviço médico-technico da Sociedade, dar
conselhos necessários para o bom andamento deste serviço de
receitas, assim como regularizar a boa distribuição da assistência
médica em todas as especialidades e doenças que são tratadas pelo
corpo médico da Sociedade”.
Sanatório da Ezra em 1936
Diante do crescente número de pacientes com tuberculose
que a Ezra sustentava em pensões e sanatórios privados, especialmente em São José dos Campos, a entidade decidiu erguer seu
próprio sanatório, inaugurado em 15 de novembro de 1936 naquela
cidade e que chegou a ter capacidade para 120 leitos e 30 funcionários. O terreno, uma chácara de 60 mil m2, para a construção do
sanatório em São José dos Campos foi comprado em 1934 e o primeiro pavilhão começou a funcionar em 1937, quando os doentes
que estavam em outras pensões foram transferidos para a Ezra.
Em 1939, com o primeiro pavilhão lotado, decidiu-se construir
um segundo. Com isso, a partir dos anos 1930, o tratamento da
tuberculose tornou-se o eixo central do trabalho da Ezra.
Desde a fundação da Ezra havia doentes que recorriam à
entidade em busca de tratamento para a tuberculose. A Ezra enviava os doentes ao interior do Estado para tratamento nas cha-
standard of care, which now constituted a clinic
that served diverse medical specialties, conducting laboratory tests, taking x-rays, distributing
medications and making applications of ultraviolet light baths, diathermia and curatives.
The Linath Hatzedek, turned Polyclínica was
no longer a philanthropic organization offering
personal patient care on the part of its very directors. It gradually became a Society managed
by doctors. The September 1938 Statutes read: ‘it
is for the two Medical Advisors to guide the medical-technical service of the Society, to offer the
necessary advice for the straightforward running
of this revenue service, as well as to regulate the
proper distribution of medical care in all specialties and diseases that are treated by the medical
body of the Society.”
Ezra Sanatorium in 1936
Given the increasing number of tuberculosis patients that Ezra sustained in sanatoria
and private pensions, especially in Sao Jose dos
Campos, the organization decided to build his
own sanatorium. It was opened on November 15,
1936, in that very city, and which came to have
a capacity of 120 beds and 30 employees. The
property, a 60,000 square meter farm in Sao
José dos Campos, was purchased in 1934 for the
construction of the sanatorium. The first annex
started working in 1937, when the patients from
the other pensions were transferred to Ezra. In
1939, the first annex being full, they decided to
build a second one. From the 1930s onwards,
thus, tuberculosis treatment had become the
central demand of Ezra’s work.
Since the foundation of Ezra, patients seeking treatment for tuberculosis had turned to
the organization. Ezra sent patients upstate, for
treatment in the so-called climacteric zones,
such as Campos do Jordao and Sao Jose dos
Campos, where they were supported for months.
To facilitate access to Campos do Jordao, in 1915,
a railway line was installed, linking Pindamonhangaba to the region. When Ezra Sanatorium
was built in the 30s, there was no cure for tuberculosis. Nor was there an effective drug for
tuberculosis, which affected thousands of people in the state. The prevailing treatment was
hygienic-dietary and a prescribed routine of
rest and food. Surgeries, such as pneumotho-
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 53
Na cip, fundada em 1936, aula de
hebraico dada pelo rabino Fritz
Pinkus, com o retrato do presidente
Getúlio Vargas na parede.
A Hebrew lesson given by Rabbi
Pinkus Fritz at the cip, founded in
1936, with the portrait of President
Getúlio Vargas on the wall.
rax, were conducted and the effects of climate
on the healing process were discussed. Some
important physicians, such as Aloysio de Paula,
believed climate was secondary, while Clementino Fraga believed it was essential.
Although the mortality rate began to decrease, not long after the physician and sanitarist Oswaldo Cruz stated, in 1907, that “tuberculosis, in Rio de Janeiro, kills more people than all epidemics together; other epidemics appear, cause
many deaths and then end, but tuberculosis kills
the whole year, without coming to an end.” It was
in 1882 that Robert Koch announced the discovery of the bacterium that caused tuberculosis,
which now carries his name, and clarified questions about its transmission. According to Koch,
one-seventh of men in his time died of tuberculosis. In the history of research for the discovery
of a cure for the disease, following the isolation
of the causal bacterium and the development
of techniques that allowed for visualizing the
agent, the discovery of the X-rays by Roentgen
in 1895 was a breakthrough in the diagnosis of
tuberculosis. Radiographs allowed for tracing
the damage caused by the disease in the lungs in
the form of shadows, blemishes or caves. Tuberculosis was still one of the diseases that caused
more deaths in the world until at least the 1940s,
when the cure was discovered. In 1941, there was
54 madas “zonas climatéricas”, como Campos do Jordão e São José
dos Campos, e os sustentava por meses. Para facilitar o acesso a
Campos do Jordão foi estabelecida em 1915 uma linha de trem
ligando Pindamonhangaba à região. Quando o Sanatório da Ezra
foi construído nos anos 30, não havia cura para a tuberculose.
Não havia tampouco medicamento eficaz para a tuberculose, que
atingia milhares de pessoas no Estado. Prevalecia o tratamento
higiênico-dietético, que preconizava uma rotina de descanso e de
alimentação; fazia-se cirurgias, como o pneumotórax, e discutia-se os efeitos do clima na cura. Médicos importantes, como Aloysio de Paula, acreditavam que o clima era secundário, enquanto
Clementino Fraga acreditava que era essencial.
Embora a taxa de mortalidade começasse a declinar, ainda não estavam longe os tempos em que o médico e sanitarista
Oswaldo Cruz afirmara, em 1907, que “a tuberculose, no Rio de Janeiro, mata mais gente do que todas as epidemias juntas; as outras
epidemias aparecem, fazem muitas mortes, depois acabam, mas a
tuberculose mata o ano inteiro, sem cessar um dia”. Foi em 1882
que Robert Koch apresentou a descoberta do bacilo causador da
tuberculose, que passou a ter seu nome, e elucidou questões sobre
a sua transmissão. Segundo Koch, uma sétima parte dos homens
do seu tempo morria de tuberculose. Na história da pesquisa para
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
O Lar da Criança das Damas Israelitas, fundado em 1939, garantia o amparo às crianças e às famílias. The Lar da Criança das
Damas Israelitas, founded in 1939, guaranteed the protection of children and families.
a descoberta da cura da doença, depois do isolamento do bacilo
causador e do desenvolvimento de técnicas que permitiam visualizar o agente, a descoberta dos raios X por Roentgen em 1895 foi
um avanço decisivo no diagnóstico da tuberculose. As radiografias
permitiam ver as lesões causadas pela doença nos pulmões sob a
forma de sombras, manchas ou cavernas. A tuberculose era ainda
uma das doenças que mais mortes provocava no mundo até pelo
menos os anos 1940, quando a cura foi descoberta. Em 1941, a taxa
de altas com cura era de 30% e um índice mais ou menos igual
para “altas melhoradas”.
Em outubro de 1937, a Ezra formou um comitê com senhoras que se ofereceram para angariar donativos para o Sanatório,
época em que discutia-se a necessidade de abrir uma ala para
mulheres. A Ezra recebia pacientes de comunidades judaicas de
a high cure rate of 30% and a rate roughly equal
to it for “significant improvement.”
In October 1937, Ezra formed a committee
of ladies who volunteered to collect donations
for the Sanatorium, a time in which it discussed
the need to open a wing for women. Ezra received patients from Jewish communities
throughout Brazil, with Comittees Pro-Sanatorium who supported these patients and collected funds for the Sanatorium. There were
committees in Belo Horizonte, Recife, Salvador,
Porto Alegre, Pelotas, Maceió, Vitória, João Pessoa, Barretos, Barra do Piraí, Bebedouro, Jundiaí,
Jaboticabal, Jaú, Taubaté, Sao Carlos, Sorocaba,
Sao Jose dos Campos, Lins, Santos, Santa Maria, Franca, Piracicaba, Passo Fundo, Campinas,
Cajaíra, Cruz Alta, Campina Grande, Rio Claro,
Bauru and Ouro Preto. Thus, the Sanatorium
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 55
was perhaps the first Jewish organization to
follow a national scope.
The New State in 1937
After the Uprising of 32 was defeated, the
Government still ran a short period of constitutional life between 1934 and 1937. In 1937, President Getúlio Vargas decreed the New State,
using as the alleged reason the Cohen Plan, a
fabricated communist conspiracy that sounded
anti-Semitic. It was a nationalist dictatorship,
imposing an anti-immigration policy with classified memos from 1938 onward. Despite the
restrictions, however, thousands of Jews immigrated to Brazil during this period (while thousands others could not make it).
From 1937 to 1945, there were a considerable
number of societies created in the Jewish community, substantiating an intense and vital activity even over the years of the New State and
the War. Among the organizations founded were
Escola Luiz Fleitlich (1937) and Sinagoga Israelita
de Pinheiros Beth Jacob (1937). Sinagoga Israelita, Comunidade Israelita, Templo Beth Israel,
Agudas Israel, Comunidade Sepharadi, Synagoga
Síria, the Synagogue in Escola Renascença and
the ones in the districts of Ipiranga, Cambucy,
Vila Mariana, Lapa, Luzo-Brasileiro and Braz operated normally and held minianim.
Between 1937 and 1945, Brazil exuded nationalism and xenophobia towards foreigners.
Despite open displays of anti-Semitism - such as
the ones on the part of Gustavo Barroso’s Integralism, Itamaraty’s (the Foreign Ministry) classified memos limiting or preventing the entry
of Jewish immigrants, and the anti-Semitic correspondence among Consuls in Europe and our
Foreign Minister (there was Jewish immigration even during the enforcement of the memos
and—another significant finding—Jews living
in Brazil did not undergo gaping persecution).
That is, the anti-Semitism present in all spheres
of government and diplomacy, and among right
wing and the extreme right wing intellectuals,
did not grow into anti-Jewish actions in Brazil,
nor did it hinder the daily routine of Jewish organizations.
Some anti-foreigner measures, such as the
demand for name changes and the election of a
board of “native Brazilians”, did affect Jewish or-
56 todo o Brasil, com Comitês Pró-Sanatório que sustentavam estes
pacientes e coletavam fundos para o Sanatório. Havia comitês em
Belo Horizonte, Recife, Salvador, Porto Alegre, Pelotas, Maceió,
Vitória, João Pessoa, Barretos, Barra do Piraí, Bebedouro, Jundiai,
Jaboticabal, Jaú, Taubaté, São Carlos, Sorocaba, São José dos Campos, Lins, Santos, Santa Maria, Franca, Piracicaba, Passo Fundo,
Campinas, Cajaira, Cruz Alta, Campina Grande, Rio Claro, Bauru
e Ouro Preto. Assim, o Sanatório talvez tenha sido a primeira
entidade judaica a ter uma abrangência nacional.
O Estado-Novo em 1937
A Revolução de 32 foi derrotada, o governo ainda teve um
curto período de vida constitucional entre 1934 e 1937, ano em que
o presidente Getúlio Vargas decretou o Estado-Novo, utilizando
como pretexto o Plano Cohen, uma suposta conspiração comunista com ressonância antissemita. Era uma ditadura nacionalista,
que impôs uma política anti-imigratória com as circulares secretas a partir de 1938. No entanto, apesar das restrições, milhares
de judeus imigraram ao Brasil neste período (enquanto outros
milhares não o conseguiram).
A partir de 1937 e até 1945 foi expressivo o número de entidades criadas na comunidade judaica, evidenciando uma intensa vitalidade de atuação mesmo durante os anos do Estado-Novo e da
guerra. Entre as entidades fundadas estavam: Escola Luiz Fleitlich
(1937) e Sinagoga Israelita de Pinheiros Beth Jacob (1937), e funcionaram normalmente as seguintes sinagogas e minianim: Sinagoga
Israelita, Comunidade Israelita, Templo Beth Israel, Agudas Israel
e minianim do Ipiranga, do Cambucy, da Vila Mariana, da Lapa, do
Luzo-Brasileiro, do Braz, da Comunidade Sepharadi, da Synagoga
Síria e da Escola Renascença.
Durante o período entre 1937 e 1945, havia no Brasil um clima
de forte nacionalismo e de xenofobia em relação aos estrangeiros.
Apesar de manifestações abertas de antissemitismo, como as do
Integralismo de Gustavo Barroso, das circulares secretas do Itamaraty limitando ou impedindo a entrada de imigrantes judeus
e da correspondência antissemita entre cônsules na Europa e o
Itamaraty, houve imigração de judeus mesmo durante a vigência
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
Além do Lar das
Damas, em 1932 foi
criada a Gota de
Leite da B’nai B’rith,
também dirigida à
assistência às crianças.
Aside from the Lar das
Damas, the Gota de Leite
of B’nai B’rith was created
in 1932, also to address
childcare.
das circulares e, outro dado significativo, as entidades judaicas
no Brasil não sofreram perseguições abertas. Ou seja, o antissemitismo presente em esferas do governo e da diplomacia e entre
intelectuais de direita e de extrema-direita não se transformou
em ações antijudaicas dentro do Brasil e não impediu a atuação
cotidiana das entidades comunitárias.
Algumas medidas antiestrangeiras atingiram as entidades
judaicas durante o Estado-Novo, como a exigência de mudança
de nome e eleição de uma diretoria de “brasileiros natos”, mas as
entidades souberam reagir diante das exigências legais, mantendo
suas atividades. Como exemplo de como as entidades se adaptaram com altivez, em maio de 1940 a Policlínica mudou seu nome
para “Sociedade Linath Hatzedek (Auxílio Santo)”, e alterou o
estatuto: onde estava escrito “compõe-se de ilimitado número
de sócios, exclusivamente israelitas”, escreveu-se “compõe-se de
sócios de qualquer nacionalidade, pertencentes à Religião Israelita”. Igualmente, se para ser sócio era “necessário ser israelita,
maior de 18 anos, de ambos os sexos”, agora era necessário ser
maior “de 18 anos, de qualquer nacionalidade e sexo, que professem a Religião Israelita”. Assim, alterando o nome e os estatutos,
contornou-se as imposições formais.
ganizations in the New State, but the organizations knew how to react to the legal impositions,
while maintaining their activities. As an example of how the agencies adapted with dignity,
in May 1940 the Polyclínica changed its name
to “Sociedade Linath Hatzedek (Sacred Help)”
and amended the statute: where it had read “it
consists of an unlimited number of members,
exclusively Jewish”, it now read “it consists of
members of any nationality, belonging to the
Jewish religion”. Equally, if then it took “being
Jewish, over 18 years, of either sex” to be a member, now it was necessary to be “over 18, any nationality or sex, follower of the Jewish religion”.
Thus, by changing the name and statutes, they
conformed to the formal requirements.
The assistance societies linked to
German Jewish immigration
The first German Jewish immigrants arrived
in Sao Paulo in 1933, after the rise of Nazism to
power in Germany in January that year. AntiSemitism, central to the Nazi ideology, materialized in more than 400 racist laws and decrees from 1933 to 1939, when the World War II
began. In the same year it took power, the Nazi
Party passed laws that excluded German Jews
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 57
from public office and intensified its anti-Semitic speech. Between 1933 and 1939, between
250,000 and 300,000 Jews emigrated from
Germany and an equivalent number remained
there, later to be deported. Brazil was an exception among the countries that accepted immigrants, imposing several restrictions. Between
1935 and 1940, Britain allowed the entry of only
75,000 Jews into Palestine. In 1934, a total of 483
German Jewish immigrants arrived in Brazil. In
1935 this number reached 201 people. In 1936,
1,127 people immigrated. The peak of immigration from Germany was in 1939, with 1,425 new
immigrants.
The Lar da Criança by CIP began operating
in 1937 on Rua Barão de Piracicaba, in Sao Paulo
downtown, with the support from Joint. The Lar,
founded by the Damas Israelitas, was distinct
from the Lar da Criança by CIP, though there
were directors in common and permanent contact between the two societies. In 1939, there
was an informal agreement in force between
them: the Lar by CIP cared for live-in children
from 2 to 15 years old, and the Damas, in their
Home, served children who went to school and
who were less than two years old.
The Comissão de Assistência aos Refugiados
Israelitas da Alemanha (Caria) worked in contact
with HIAS, Hilfsvereindeutscher Juden of Berlin,
and JCA-HICEM; the latter holding an office in
Rio de Janeiro, and later also with Joint. Caria
serve around 172 people in the 1930s, some of
whom founded, in 1934, the Sociedade Israelita
Paulista, and then in 1936, the Congregação Israelita Paulista. Many of the founders of the two
societies and directors of Caria also participated
actively in the charities, such as Linath Hatzedek,
which served immigrants from Eastern Europe.
58 As entidades assistenciais ligadas à imigração
judaico-alemã
Os primeiros imigrantes judeus alemães chegaram a São Paulo em 1933, após a ascensão do nazismo ao poder na Alemanha em
janeiro daquele ano. O antissemitismo, que era central na ideologia nazista, materializou-se em mais de 400 leis e decretos racistas
entre 1933 e 1939, quando começou a Segunda Guerra Mundial.
No mesmo ano em que assumiu o poder, o partido nazista promulgou leis que excluíam os judeus alemães de cargos públicos e
intensificou o discurso antissemita. Entre 1933 e 1939, de 250 a 300
mil judeus emigraram da Alemanha e um número equivalente
ficou e depois foi deportado. O Brasil era uma exceção entre os
países que aceitaram, com várias restrições, imigrantes. Entre
1935 e 1940, a Grã-Bretanha permitiu a entrada de apenas 75 mil
judeus na Palestina. Em 1934, um total de 483 imigrantes judeus
alemães chegaram ao Brasil. Em 1935 este número alcançou 201
pessoas. Em 1936, imigraram 1.127 pessoas. O auge da imigração
da Alemanha foi o ano de 1939, com 1.425 novos imigrantes.
O Lar da Criança da cip começou a funcionar em 1937 na Rua
Barão de Piracicaba, no centro de São Paulo, com apoio do Joint.
O Lar fundado pelas Damas Israelitas era uma entidade distinta
do Lar da Criança da cip, embora houvesse diretoras comuns e
contato permanente entre as duas entidades. Em 1939, um acordo
informal vigorava entre elas: o Lar da cip atendia crianças internas
de dois a 15 anos e as Damas atendiam no Lar crianças que iam à
escola e menores de dois anos.
A Comissão de Assistência aos Refugiados Israelitas da Alemanha (Caria) trabalhava em contato com a Hias, com a Hilfsvereindeutscher Juden, de Berlim, e a jca-Hicem, que tinha escritório
no Rio de Janeiro, e depois também com o Joint. A Caria atendeu
cerca de 172 pessoas nos anos 1930, algumas das quais fundaram
em 1934 a Sociedade Israelita Paulista e, depois, em 1936, a Congregação Israelita Paulista (cip). Muitos dos fundadores das duas
entidades e diretores da Caria participavam também ativamente
das entidades assistenciais, como a Linath Hatzedek, que atendiam os imigrantes da Europa Oriental.
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
4
A Ofidas é fundada em 1940 durante o
Estado-Novo e a Segunda Guerra Mundial
Ofidas is founded in 1940 during the New State and World War II
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 59
p. 59 A comunidade judaica se mobilizou ativamente em prol da feb e dos refugiados judeus durante a guerra e, depois, em
manifestações em prol da criação do Estado de Israel. acima Jovens caminham pela Rua José Paulino nos anos 1940, época de
ativismo dos movimentos juvenis no bairro.
p. 59 The Jewish community had actively mobilized on behalf of the FEB and Jewish refugees during the war and, later, in demonstrations in support of the creation of the State of Israel. above Young people walking on Rua José Paulino in the ‘40s, a time that saw a rise
in activist youth movements in the neighborhood.
60 pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
D
urante o Estado-Novo e os anos da Segunda Guerra
Mundial, as diretoras que dirigiam a Sociedade das Damas Israelitas, o Lar da Criança Israelita e a Gota de
Leite da B’nai B’rith decidiram unir as três entidades, fundando
em 1940 a Organização Feminina Israelita de Assistência Social –
Ofidas. Foi uma fusão duradoura e que trouxe inúmeros frutos à
comunidade judaica. Até a criação da Unibes, em 1976, a Ofidas,
sempre conduzida por mulheres, foi sinônimo de assistência social na comunidade judaica de São Paulo, uma entidade que ao
longo de três décadas e meia marcou época com seus programas
sociais, apoio aos imigrantes e cuidado em todas as modalidades
de atendimento.
Na primeira metade da década de 1940, a exemplo dos anos
anteriores, houve uma expressiva fundação de novas entidades na
comunidade judaica paulistana, entre elas o Centro Israelita Brasileiro do Cambuci (1941), com sinagoga e escola, a Sociedade Sinagoga Israelita da Lapa e Sociedade Religiosa Israelita Asilo dos Velhos,
todas em 1941, o Centro Cultura e Progresso e o Ginásio Scholem
Aleichem (1942), o Ginásio Chaim Nachman Bialik, em 1943, e o
Colégio Iavne Beith Chinuch em 1945; nesse mesmo ano passou a
funcionar o Seminário Hebraico Renascença de Professores.
Nos anos 1940 foram ativos os movimentos juvenis sionistas
Hashomer Hatzair, Dror, Ichud e Betar e a comunidade manteve
D
uring the New State and the years of
World War II, the directors who ran the
Sociedade das Damas Israelitas, the Lar
da Criança Israelita and the Gota de Leite by
B’nai B’rith decided to merge the three societies, founding, in 1940, the Organização Feminina Israelita de Assistência Social (Ofidas). It
was a lasting merger worthwhile to the Jewish
community. Until the creation of Unibes in 1976,
always run by women, Ofidas meant social welfare in the Jewish community of Sao Paulo, an
epoch-making society with its social programs,
immigrant support, and all modalities of care
over three and a half decades.
In the first half of the 1940s, as in the previous years, there was a noteworthy number
of foundations of new societies by the Jewish
community in Sao Paulo, among them Centro
Israelita Brasileiro Cambuci), including a school
and a synagogue, Sociedade Sinagoga Israelita
da Lapa and Sociedade Religiosa Israelita Asilo
dos Velhos, all in 1941, Centro Cultura e Progresso
and Ginásio Scholem Aleichem, in 1942, Ginásio
Chaim Nachman Bialik, in 1943, Colégio Iavne
Beith Chinuch in 1945, and Seminário Hebraico
Renascença de Professores, which also began
working in 1945.
In the 1940s, the Zionist youth movements
Hashomer Hatzair, Dror, Ichud and Betar were
active. The community ran a radio program in
Sao Paulo, in a time when radio was the chief
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 61
Retratos da comunidade judaica nos anos 40, época de apreensão e esperança. Portraits of the Jewish community in the ‘40s, a
time of apprehension and hope.
means of mass communication and controlled
by Vargas’ government: the A Hora Israelita
(“Jewish Hour”) by Siegfried Gothilf, which
transmissions began in 1940 on Radio Piratininga. Then, in 1942, the “Mosaic Program” was
aired on Radio Tupi.
With the founding of the Centro Israelita
Brasileiro do Cambuci one more Jewish community center was established in Sao Paulo.
Though the largest portion of immigrant Jews
lived in Bom Retiro district, there were communities in other neighborhoods, besides Bom Retiro and Cambuci: Ipiranga, Lapa, Brás, Mooca,
Vila Mariana and Santo Amaro. In Mooca and
Ipiranga, there were Sephardic immigrants from
the 1920s onwards, especially from Lebanon and
Syria. The Jews from Germany, Austria and Italy
62 um programa de rádio em São Paulo, época em o que o rádio
era o principal meio de comunicação de massa e controlado pelo
governo Vargas: a “Hora Israelita”, de Siegfried Gothilf, cujas
transmissões começaram em 1940 na Rádio Piratininga; depois,
em 1942, na Rádio Tupi, passou a se chamar “Programa Mosaico”.
Com a fundação do Centro Israelita Brasileiro do Cambuci
consolidou-se mais um centro comunitário judaico em São Paulo.
Embora a parcela mais numerosa dos imigrantes judeus habitasse
o bairro do Bom Retiro, havia comunidades em outros bairros,
além do Bom Retiro e do Cambuci: Ipiranga, Lapa, Brás, Mooca,
Vila Mariana e Santo Amaro. Na Mooca e no Ipiranga estavam
imigrantes sefaradim, a partir dos anos 1920, especialmente do
Líbano e da Síria. Os judeus da Alemanha, Áustria e Itália que
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
imigraram nos anos 1930 estabeleceram-se em Indianópolis, Vila
Mariana e Jardins. Mas o Bom Retiro foi o centro da vida judaica em São Paulo até pelo menos os anos 1970, quando, em um
processo de mobilidade social, parte dos judeus mudou-se para
Higienópolis, Jardins, depois Morumbi e outros locais.
who immigrated in 1930s settled in Indianópolis,
Vila Mariana and Jardins. Bom Retiro, however,
was the center of Jewish life in Sao Paulo until
at least the 1970s, when some Jews moved to
Higienópolis, Jardins, then Morumbi and elsewhere, in a process of social mobility.
Local mobilization on behalf of the
refugees
Mobilização local em prol dos refugiados
Os judeus de São Paulo estavam preocupados e mobilizados
com o que estava acontecendo na Europa a partir da eclosão da
Segunda Guerra Mundial em 1° de setembro de 1939, que provocou uma fuga em massa de judeus da Polônia e, depois, o confinamento em guetos e a deportação de milhões de judeus de países
da Europa Oriental e Ocidental para os campos de concentração
e de extermínio na Polônia ocupada pela Alemanha nazista.
No Brasil, o governo Vargas rompeu relações com os países
do Eixo em dezembro de 1942, na conferência dos chanceleres
pan-americanos, depois declarou guerra e, em 1944, enviou a Força Expedicionária Brasileira (feb) e pilotos da Força Aérea Brasileira (fab) para enfrentar as tropas nazistas na Itália, participando
vitoriosamente da batalha de Monte Castelo, entre outras. Havia
soldados judeus na feb, entre eles o artista plástico Carlos Scliar,
que publicaria um Álbum de Guerra, e Boris Schnaiderman, que
escreveu Guerra em Surdina, romance testemunhal da feb.
Durante os anos da Segunda Guerra Mundial, inúmeras campanhas foram criadas e desenvolvidas pela comunidade. A mais
conhecida foi o Comitê Central Israelita de Socorro às Vítimas
da Guerra, vinculada à Cruz Vermelha Brasileira. Outra entidade
ativa foi a Sociedade Escudo Vermelho de David. Havia também o
Comitê Hebreu-Brasileiro de Socorro às Vítimas da Guerra (fundado pelo Centro Hebreu-Brasileiro), que enviou roupas e outros
itens aos refugiados de guerra na Europa. Em 1942 foi iniciada a
Campanha Unida (ou Apelo Unido), movimento visando unificar
a arrecadação de recursos da comunidade judaica e que acabou
levando à criação da própria Federação Israelita em 1946.
Em 1943, a Ofidas colaborou com a Comissão de Costura do
Escudo Vermelho, que, sem sede, utilizou o endereço da Ofidas
para receber sua correspondência. Em São Paulo, foi constituí-
Sao Paulo Jews were concerned with and
mobilized by what was happening in Europe
since the outbreak of World War II on September 1, 1939, which triggered a mass exodus of
Jews from Poland. It then led to confinement
into ghettos and deportation of millions of Jews
from countries of Eastern and Western Europe
into concentration and extermination camps in
Poland, occupied by Nazi Germany.
In Brazil, the Vargas government broke relations with the Axis countries in December 1942,
at a Pan-American Chancellors’ conference and,
later, declared war. In 1944, they sent the Força
Expedicionária Brasileira (herein, FEB) and pilots from the Força Aérea Brasileira (FAB) to confront the Nazi troops in Italy. They participated
successfully in the Battle of Castle Hill, among
others. There were Jewish soldiers in the FEB,
including the artist Carlos Scliar, who published
Álbum de Guerra, and Boris Schnaiderman, who
wrote Guerra em Surdina, a testimonial novel
of the FEB.
During the years of World War II, several
campaigns were created and developed by the
community. The most acknowledged was the
Comitê Central Israelita de Socorro às Vítimas
da Guerra, linked to the Brazilian Red Cross. Another active organization was the Sociedade
Escudo Vermelho de David. There was also the
Comitê Hebreu-Brasileiro de Socorro às Vítimas da Guerra (founded by the Centro HebreuBrasileiro), which sent clothes and other items
to war refugees in Europe. In 1942 the Campanha Unida (or Apelo Unido) was launched
as a movement that aimed at concentrating
the collection of resources in the Jewish community and that eventually led to the creation
of Federação Israelita in 1946.
In 1943, Ofidas collaborated with the
Comissão de Costura do Escudo Vermelho,
which, without a base, used the address of Ofi-
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 63
das to receive its correspondence. The Comitê
para Angariação de Roupas em Prol dos Israelitas Vítimas da Guerra was formed in Sao Paulo,
in 1944. It counted on the participation of the
societies: Centro Hebreu-Brasileiro, Centro Cultural Progresso, Ezra, Asylo dos Velhos, Escudo
Vermelho, Linath Hatzedek, Associação dos Israelitas Poloneses, Macabi, Sociedade Beneficente dos Israelitas Poloneses, Centro Recreativo
Cultura, Escola Profissional ORT, Mrs. Churchill
Foundation, the American Red Cross and the
Brisith Red Cross.
In August 1944, Ofidas requested that Joint
mediated the shipment of garments to Europe.
Due to this help, the boxes were sent to Sweden, France and Belgium. In 1945, the sewing
workshops were organized into several sections:
skirts nd coats, socks and winter gloves, shawls,
gloves hats, slippers and manual works.
The Brazilian Jewish community did not neglect the civic activities in Sao Paulo or in the
federal capital then, Rio de Janeiro. In April 1943,
the Grêmio Hebreu-Brasileiro held a “dance of
war bonds” at the headquarters of the União
Nacional dos Estudantes (UNE) in Rio de Janeiro.
The best-known episode of Jewish participation,
however, was joining the campaign to endow
Brazil with an Air Force, with the donation of
five aircrafts in late 1942.
Especially in 1944, the civil population in Sao
Paulo mobilized against the war. There were
blackout exercises, exhibitions and publication
of manuals on anti-air civil defense, campaigns
such as the consumption of “war bread” (made
of corn, due to the lack of wheat flour), and the
use of syngas, which powered the vehicles from
coal in the absence of gas and oil. Daily life in the
city was pervaded by war, radio programs such
as Repórter Esso, cine-journals from the Department of Press and Publicity (DIP) and American
films that debuted in theaters in the capital.
Ofidas and the new model of care
Apart from the merger of three societies, the
creation of Ofidas, on June 10, 1940, represented
the restructuring of the social assistance model,
with the professionalization of care, the hiring of
a social visitor, and a perspective that considered
the issues of the assisted from the standpoint of
women, children and family. The headquarters
64 do em 1944 o Comitê para Angariação de Roupas em Prol dos
Israelitas Vítimas da Guerra, que contou com a participação das
entidades Centro Hebreu-Brasileiro, Centro Cultura e Progresso,
Ezra, Asylo dos Velhos, Escudo Vermelho, Linath Hatzedek, Associação dos Israelitas Poloneses, Macabi, Sociedade Beneficente
dos Israelitas Poloneses, Centro Recreativo Cultura, Escola Profissional ort, Fundação Mrs. Churchill, Cruz Vermelha Americana
e a Cruz Vermelha Inglesa.
Em agosto de 1944, a Ofidas solicitou que o Joint intermediasse a remessa de roupas à Europa. Com esta ajuda, as caixas
podiam ser enviadas para Suécia, França ou Bélgica. Em 1945, as
oficinas de costura se organizaram em várias seções: saias; trabalhos manuais; lumberjacks e casacos; meias e luvas de inverno;
sapatos de cama, xales, luvas e bonés.
A comunidade judaica brasileira não descuidava de atividades
cívicas em São Paulo e na então capital federal, o Rio de Janeiro.
Em abril de 1943, o Grêmio Hebreu-Brasileiro realizou um “baile
do bônus de guerra” na sede da União Nacional dos Estudantes
(une) no Rio de Janeiro. Mas o episódio mais conhecido da participação judaica foi a adesão à campanha para dotar o País de uma
Força Aérea, com a doação de cinco aeronaves no final de 1942.
A situação em São Paulo, especialmente no ano de 1944 era de
mobilização civil diante da guerra. Havia exercícios de blackout,
exposições e a publicação de manuais sobre defesa civil antiaérea,
campanhas como a do consumo do “pão de guerra” (de milho,
diante da falta de farinha de trigo) e da utilização do gasogênio,
que movia os veículos a partir de carvão na falta de gasolina e
óleo. O cotidiano da cidade estava permeado pela guerra, com
os programas de rádio, como o Repórter Esso, os cine-jornais do
Departamento de Imprensa e Propaganda (dip) e os filmes norte-americanos que estreavam nos cinemas da capital.
Ofidas e o novo modelo de atendimento
Para além da fusão de três entidades, a criação da Ofidas,
em 10 de junho de 1940, representou a reestruturação do modelo
de assistência social, com a profissionalização do atendimento,
a contratação de uma visitadora social e uma perspectiva que
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
Com a abertura do túnel e da Avenida Nove de Julho, a cidade ganha uma importante ligação entre o centro e os bairros. With
the opening of the tunnel and Avenida Nove de Julho, the city gains an important link between downtown and the neighborhoods.
considerava a problemática dos assistidos a partir da mulher, da
criança e da família. A sede da entidade era à Rua Bandeirantes.
Com a fusão, o Lar da Criança Israelita transferiu à Ofidas o imóvel situado na Rua Jorge Velho, no 96.
No seu início, nos anos 1940, a Ofidas trabalhava em várias
áreas: assistência social, gabinete dentário, higiene infantil (que
sucedeu à Gota de Leite) e Peah (distribuição de roupas). Aos
poucos, estas áreas de atuação foram sendo estruturadas como departamentos, incluindo depois orientação profissional e biblioteca
juvenil (inaugurada em 1945). A Ofidas também providenciava
internações hospitalares quando preciso, e entre os convênios,
havia um com o recém-inaugurado Hospital das Clínicas. Para
manter suas funções, em 1944 a entidade tinha uma equipe com 11
funcionários. Nos anos de 1942/1943 um total de 299 novos sócios
passaram a colaborar, sendo que a entidade chegou a ter em 1943
um total de 1.643 sócios contribuintes.
A Ofidas atendia mulheres pobres imigrantes, que trabalhavam em casa, cuidavam dos filhos e ainda tinham um ofício in-
of the organization was on Rua Bandeirantes.
With the merger, Lar da Criança Israelita moved
to the property of Ofidas located at Rua Jorge
Velho, nº 96.
At its beginning in the 1940s, Ofidas worked
in several areas: social work, dental practice,
child-health (tagging on Gota de Leite) and Peah
(clothes distribution). Gradually, these operational areas were structured as departments, later including career guidance and a youth library
(opened in 1945). Ofidas also provided hospital
stays when needed, and among the covenants,
there was one with the recently inaugurated
then Hospital das Clínicas. To maintain its functions, the organization ran an 11 employee-staff
in 1944. In 1942, a total of 299 new members began to collaborate, and the society grew to have
1,643 contributing members in 1943.
Ofidas attended poor women immigrants,
who worked at home, cared for the children, and
still had an independent craft or helped their
husbands. In a report published in 1943, the
organization defined its main concerns: fighting infant mortality, caring for children whose
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 65
Acima e à direita; A exemplo de outras instituições, o Macabi, na Rua da Coroa, manteve suas atividades durante o EstadoNovo e a guerra. Above and to the right; An example to other institutions, the Macabi, on Rua da Coroa, continued its activities during
the New State and the war.
mothers worked, ensuring the health of schoolchildren, caring for families and people abandoned by disease and aging, caring for unprotected children and ensuring the adolescents a
professional education for their own sake and
that of their families.
In 1940, although social work in the country
was mostly organized by women, the presence
of women in the labor market was not yet common among the middle-class strata. There were
teachers, nurses and, in other social strata, there
were laborers, but certainly no physicians, lawyers or engineers. The Statutes of Ofidas, at least
since 1942, read that the society board should
be exclusively exercised by women. Even as a
tradition alone, this paragraph remained until
the creation of Unibes in 1976, despite several
statute changes made over the 36 years. Gota
de Leite by B’nai B’rith incorporated a “Loja de
Irmãs”, formed by a group of women within the
B’nai B’rith and the Lar da Criança Israelita, the
66 dependente ou ajudavam os maridos. Em relatório publicado em
1943, a entidade definiu as suas principais preocupações: combater
a mortalidade infantil, cuidar das crianças cujas mães trabalham,
zelar pela saúde dos escolares, cuidar das famílias e pessoas desamparadas por doença e velhice, cuidar das crianças desprotegidas e
assegurar aos adolescentes uma educação profissional para o seu
próprio bem e o de suas famílias.
Em 1940, embora o trabalho assistencial no País fosse na
maior parte organizado por mulheres, não era ainda comum a
presença de mulheres no mercado de trabalho entre os estratos de
classe média. Havia professoras, enfermeiras e, em outro estrato
social, operárias, mas certamente não médicas, advogadas ou engenheiras. Nos estatutos da Ofidas, pelo menos a partir de 1942,
estava escrito que a diretoria da entidade deveria ser exercida exclusivamente por mulheres. Este item permaneceu – mesmo que
como tradição – até a criação da Unibes em 1976, apesar das várias
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
alterações de estatutos realizadas ao longo de 36 anos. A Gota de
Leite B’nai B’rith integrava uma “Loja de Irmãs”, formada por
mulheres dentro da B’nai B’rith; o Lar da Criança Israelita também
era dirigido por um grupo de diretoras. Em certo momento, a
Ofidas criou um inusitado “Conselho de Senhores”.
Nas outras entidades assistenciais, Ezra e Policlínica, a restrição à entrada de mulheres na diretoria não era formalizada
em estatutos, mas não há registro de qualquer mulher que tenha
participado de suas diretorias, embora houvesse muitas colaboradoras e comissões de senhoras, especialmente para organizar
eventos sociais com o propósito de arrecadar recursos.
A Ezra atendia basicamente homens e considerava que ajudando-se o homem estava-se ajudando a resolver a situação da
família. Esta ajuda era basicamente financeira e alimentar, fosse
ela mensal ou pontual. Os pedidos de auxílio à Ofidas eram feitos
sempre pela mulher, o que definia uma série de especificidades na
compreensão dos problemas e na forma de resolvê-los, vendo a
família, e atendendo uma série de demandas não materiais, lidando com dificuldades que não eram apenas de ordem econômica
e tendo uma postura de entender o lugar e as necessidades femininas na sociedade. Além disso, a Ofidas tinha, a partir de 1942,
uma funcionária contratada, Greta Neuben, que trabalhava três
dias por semana, atendia os casos, fazia as visitas domiciliares e às
pacientes hospitalizadas, acompanhava regularmente as crianças
e elaborava relatórios.
latter also ran by a group of women directors.
At one point, Ofidas created an unusual Council of Lords.
In the other charitable trusts, Ezra and Polyclínica, the no-entrance policy for women was
not made official in the Statutes. There is no
record whatsoever of women having participated on their boards, though there were many
collaborators and committees of women, especially when organizing social events in order to
raise funds.
Ezra primarily served men and believed that
helping men was helping to solve the family’s
situation. This support was mainly financial
and nourishing, be it monthly or occasional.
Requests to Ofidas for assistance were always
made by women, which characterized a number
of specifics when understanding the problems
and how to solve them. They took the families
into account and answered a series of non-material demands, dealing with difficulties that were
not just of economic order and understanding
the role and needs of women in society. In addition, since 1942, Ofidas had an employee, Greta
Neuben, who worked three days a week, took
down the applications, visited homes and hospitalized patients, was regularly concerned with
children and prepared reports.
The new profile of social assistance in
Brazil
It was in the 1930s that there was a transition in the profile of those working in social assistance. In general terms, a young society lady
devoted to the social apostolate was no longer
required, but a skilled worker. The social work at
that time was still connected to the beneficent
ladies and within the charitable framework of
state-sponsored assistance. In Sao Paulo, the Social Service academic course began in 1936, and
in Rio de Janeiro in 1938, at the Escola Técnica
de Serviço Social. In 1940, a Preparatory Course
to Social Work was introduced at the Ana Nery
Nursing School. The first positions for social
workers in 1934 were those for work supervisors for both women and minors for the State
Department of Labor. In 1937 they began to act
in Juvenile Court and in the Submonitoria de
Playground of the Municipality of Sao Paulo. In
1938 the Migrant Protection Service was created,
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 67
offering vacancies for social workers and, in 1939,
the State Department of Social Services originated in 1935 opened positions for social workers.
The first major national social assistance institution established was Legião Brasileira de
Assistência (herein, LBA), as a result of Brazil’s
engagement in World War II in 1942. It arose to
“provide for the needs of families whose heads
have had a call of duty, and also to participate in
public tenders (in everything that relates to war
effort”. LBA immediately attended the families
of the summoned, by working in all areas of social assistance, mobilizing and coordinating private and state works, and creating services not
covered by them. In 1940, social workers began
working in industry and commerce, Institutos de
Pensões, Centros Familiares and private societies. In 1942, they started to work for Hospital das
Clínicas and for Senai. The work and the concepts
of Ofidas were integrated and therefore represented the vanguard of relief work at the time.
In 1942, two years after the creation of Ofidas,
Ezra and Linath Hatzedek discussed the possibility of a merger for the first time. The relationship
between Ofidas and Congregação Israelita Paulista was close, especially between Lar by Ofidas
and Lar da Criança by CIP. The Lar by CIP inaugurated its new headquarters in Alto da Boa Vista
in 1949. It counted on the support of Joint, HIAS,
and Claims Conference (Conference on Jewish
Material Claims against Germany, an US-based
umbrella organization that coordinated the receipt of war reparations from Germany). Ofidas
installed its own dental practice in 1943.
Many young people were sen to commercial courses, such as the ones offered by Liga
das Senhoras Católicas, to start working soon
after age 14, sometimes in domestic services.
Children were only recommended for work following a psychological evaluation conducted by
psychologist Betty Katzenstein. Ofidas was also
requested to allow for completion of studies, to
buy books and to provide for school supplies. The
career orientation served, in fact, a wide range of
issues relating to young people on educational
and professional opportunities, schools, courses and jobs (through contact with enterprises),
with partial or total school funding, aside from
medical treatments and broader guidance to
the young within the family and the community context.
68 O novo perfil da assistência social no País
Foi na década de 1930 que ocorreu uma transição no perfil dos
que trabalham em assistência social, deixando de ser, em linhas
gerais, uma moça da sociedade devotada ao apostolado social para
tornar-se um trabalhador especializado. O trabalho de assistência
social, naquele período, ainda estava ligado às senhoras beneficentes e à moldura de assistencialismo patrocinado pelo Estado.
Em São Paulo, o curso de Serviço Social teve início em 1936 e, no
Rio de Janeiro, em 1938, na Escola Técnica de Serviço Social. Em
1940 foi introduzido o curso de Preparação em Trabalho Social
na Escola de Enfermagem Ana Nery. Os primeiros cargos para
as assistentes sociais em 1934 eram os de fiscais para o trabalho
feminino e de menores no Departamento Estadual do Trabalho.
Em 1937 começam a atuar no Juízo de Menores e na Submonitoria
de Play-ground da Prefeitura de São Paulo. Em 1938 foi criado o
Serviço de Proteção aos Migrantes, com vagas para assistentes
sociais e, em 1939, o Departamento de Serviço Social do Estado,
criado em 1935, abriu vagas para assistentes sociais.
A primeira grande instituição nacional de assistência social foi
a Legião Brasileira de Assistência (lba), criada no movimento de
engajamento do Brasil na Segunda Guerra Mundial, em 1942. Surgiu para “prover as necessidades das famílias cujos chefes hajam
sido mobilizados e, ainda, prestar decidido concurso ao governo
em tudo que se relaciona ao esforço de guerra”. Da família dos
convocados, a lba rapidamente passou a atuar em todas as áreas
da assistência social, mobilizando e coordenando as obras particulares, estatais e criando serviços não cobertos por estas. A partir
de 1940, os assistentes sociais começaram a trabalhar em indústrias
e comércio, Institutos de Pensões, Centros Familiares e entidades
particulares. Em 1942 passaram a atuar no Hospital das Clínicas e
no Senai. O trabalho e as concepções da Ofidas estavam integrados, portanto, na linha de frente do trabalho assistencial na época.
Em 1942, dois anos após a criação da Ofidas, Ezra e Linath
Hatzedek discutiram pela primeira vez a possibilidade de uma
fusão. A relação da Ofidas com a Congregação Israelita Paulista
(cip) era estreita, especialmente entre o Lar da Ofidas e o Lar da
Criança da cip. O Lar da cip inauguraria sua sede nova, no Alto
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
Evento de inauguração de uma ala nova do Sanatório da Ezra, em São José dos Campos, fundado em 1936. The inauguration
event for the new wing at the Ezra Sanatorium, in Sao Jose dos Campos, founded in 1936.
da Boa Vista, em 1949 e contaria com o apoio do Joint, da Hias
e da Claims Conference (Conference of Jewish Material Claims
Against Germany, entidade teto com sede nos eua que coordenou
o recebimento de reparações de guerra da Alemanha). A Ofidas
instalou seu próprio gabinete dentário em 1943.
Muitos jovens eram encaminhados para cursos comerciais,
como os da Liga das Senhoras Católicas, para depois começar a
trabalhar aos 14 anos, às vezes em serviços domésticos. As crianças
eram encaminhadas a partir de uma avaliação psicológica realizada pela psicóloga Betty Katzenstein. Havia também pedidos para
concluir estudos, comprar livros e material escolar. O trabalho
de orientação profissional atendia, de fato, a uma ampla gama de
In late 1930s and early 1940s, members at the
Policlínica started debating the construction of
a community hospital or clinic, to be planned
for another center. In November 1937, a director
disclosed “Mrs. Bertha Klabin is building a hospital” and suggested that Ezra participated in the
discussion around the subject. The high cost of
hospital stay had always been a serious challenge to the work of Policlínica, since it already
meant an objective limitation to its service. The
organization often felt powerless to solve cases that required surgery and hospital commitment. It was necessary to use other societies to
share costs, and agreements were negotiated
with hospitals.
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 69
Professores do
Renascença, que a
exemplo da Ezra,
Ofidas e Policlínica,
funcionou
normalmente
durante os anos
da guerra.
Teachers at
Renascença, which,
like Ezra, Ofidas,
and the Policlínica,
functioned normally
during the war years.
The Jewish community in the
postwar years
The end of World War II and the regime of
the New State in Brazil, which led to democratization, provided for the systematization
of numerous Jewish societies, committees to
help immigrants and refugees in Europe, the
creation of Zionist organizations and, in 1946,
the foundation of Federação das Sociedades Israelitas Brasileiras do Estado de Sao Paulo. In Europe, on May 7, 1945, Nazi Germany surrendered
to the Allies. The Força Expedicionária Brasileira,
which fought the Nazis in northern Italy along
with the U.S. army, returned victorious and was
celebrated in huge parades in Rio de Janeiro
and Sao Paulo.
The country’s new constitution, promulgated
on September 18, 1946, adopted a liberal democratic model, with direct elections for president
of the republic, a five-year term and compulsory
voting for literate men and women. The compulsory voting for women was a remarkable social
change, since the 1934 Constitution envisaged
70 questões relativas aos jovens sobre oportunidades educacionais
e profissionais, escolas, cursos e empregos (por meio de contato
com empresas), com financiamento parcial ou total da educação,
além de tratamentos médicos e orientação mais geral para o jovem no contexto familiar e comunitário.
No final dos anos 1930 e princípio dos anos 1940 teve início
a discussão no interior da Policlinica em torno da construção de
um hospital da comunidade ou de um ambulatório, que seria organizado em uma nova sede da entidade. Em novembro de 1937,
um diretor comunicou que “a sra. Bertha Klabin está construindo
um hospital” e sugeriu que a Ezra participasse da discussão sobre
o assunto. A questão da internação hospitalar foi sempre um sério
desafio ao trabalho da Policlinica, já que esbarrava em uma limitação objetiva ao seu atendimento, dado o alto custo da internação.
A entidade se sentia muitas vezes impotente para resolver os casos
que requeriam intervenção cirúrgica e internação hospitalar. Era
necessário recorrer a outras entidades para dividir os custos, e
eram negociados convênios com hospitais.
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
Comunidade
judaica se mobiliza
para enviar pacotes
à feb na Itália e aos
refugiados judeus na
Europa, em oficinas
organizadas com
a Cruz Vermelha
Brasileira.
The Jewish
community mobilizes
itself to send
packages to the feb
in Italy and Jewish
refugees in Europe,
through workshops
organized with the
Brazilian Red Cross.
A comunidade judaica nos anos do pós-guerra
O fim da Segunda Guerra Mundial e do regime do Estado-Novo no Brasil, que levou à democratização, propiciou a organização
de inúmeras entidades judaicas, comitês para ajudar imigrantes
e refugiados na Europa, criação de organizações sionistas, e, em
1946, a fundação da Federação das Sociedades Israelitas Brasileiras
do Estado de São Paulo. Na Europa, no dia 7 de maio de 1945 a
Alemanha nazista capitulou frente aos Aliados. A Força Expedicionária Brasileira, que combateu os nazistas no Norte da Itália junto
com o exército norte-americano, voltou vitoriosa e foi festejada
em gigantescos desfiles no Rio de Janeiro e em São Paulo.
A nova Constituição do País, promulgada em 18 de setembro
de 1946, adotou um modelo liberal-democrático, com eleições
diretas para presidente da República, mandato de cinco anos e
voto obrigatório para homens e mulheres alfabetizados. O voto
obrigatório para mulheres foi uma mudança social de impacto, já
que a Constituição de 1934 previa o voto obrigatório apenas para
as mulheres que trabalhassem em cargo público remunerado. Se
nas eleições presidenciais de 1930 votaram 1,9 milhão de pessoas
(equivalente a menos de 6% da população do País), no pleito de
compulsory voting only for women who worked
in paid public office. While 1.9 million people (the
equivalent to less than 6% of the country’s population) voted in the 1930 presidential election,
in the election of December 1945, there was a
total of 6.2 million voters, including women’s
votes (which corresponded to 13.4% of the total). Thus, the constitutional change of 1946 included as full citizens a portion of the country’s
population that had not voted in elections until
then. Therefore, it expanded the social and cultural base of citizenship and the political and
electoral debate.
The major debate in the postwar period
was among the Social Democratic Party (PSD),
the National Democratic Union (UDN), the Labor Party (PTB) and the Communist Party (PCB),
which reached about 10% votes in the country
in 1945 and third place in the 1947 elections in
Sao Paulo–in the same year that party had its
registration revoked by the Ministry of Justice.
Post-war Zionist activism
The arrival of immigrants and Zionist activism brought about a strong drive in the Jewish community after World War II. First, a broad
network of support for immigrants was orga-
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 71
Manifestação no Estádio do Pacaembu a favor da criação do Estado de Israel. Demonstration at the Pacaembu Stadium in support of the creation of the State of Israel.
nized. This process led to the strengthening of
the United Campaign among the several societies working in the reception of immigrants,
and then to the creation of the Federação das
Sociedades Israelitas Brasileiras do Estado de
Sao Paulo in 1946.
Besides Centro Hebreu-Brasileiro, Comitê
Weitzman, Poalei Zion Hitachdut and Associação Chaim Weitzman were organized at the end
of the war. The Organização Sionista do Brasil
started operating in August 1945. Next it turned
into the Organização Sionista Unificada and later into the Organização dos Sionistas Revisionistas Unidos do Brasil, thus reflecting the diverse
ideological positions within the movement proestablishment of a Jewish State in Israel. Subsequently, the Federação das Organizações Juvenis
72 dezembro de 1945 votaram um total de 6,2 milhões de eleitores,
com o voto das mulheres, correspondendo a 13,4% destes. Assim,
a mudança constitucional de 1946 incluiu como cidadãos plenos
uma parcela da população do País que não votava nas eleições e,
com isso, ampliou a base social e cultural da cidadania e do debate
político e eleitoral.
O principal debate partidário no pós-guerra ocorria entre o
Partido Social Democrático (psd), a União Democrática Nacional
(udn) e o Partido Trabalhista Brasileiro (ptb), além do Partido
Comunista Brasileiro (pcb), que chegou a cerca de 10% dos votos
em 1945 no País e o terceiro posto nas eleições em São Paulo em
1947 – mesmo ano em que o partido teve seu registro de funcionamento cassado pela Justiça.
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
Ativismo sionista no pós-guerra
A movimentação foi intensa na comunidade judaica após a
Segunda Guerra Mundial, com a chegada de imigrantes e o ativismo sionista. Primeiro, tratou-se de organizar uma ampla rede de
apoio aos imigrantes, processo que levou ao reforço da Campanha
Unificada entre as várias entidades que trabalhavam na recepção
aos imigrantes, e, depois, à criação da Federação das Sociedades
Israelitas Brasileiras do Estado de São Paulo em 1946.
No final da guerra organizaram-se, além do Centro Hebreu-Brasileiro, o Comitê Weitzman, o Poalei Zion Hitachdut e a Associação Chaim Weitzman. A Organização Sionista do Brasil começou
a funcionar em agosto de 1945, depois seria a vez da Organização
Sionista Unificada e, depois, a Organização dos Sionistas Revisionistas Unidos do Brasil, refletindo as diversas posições ideológicas
no interior do movimento pró-estabelecimento do Estado judeu
em Israel. Em seguida seria fundada a Federação das Organizações
Juvenis Judaicas de São Paulo, que fez um comício de protesto
contra o Livro Branco britânico (de 1939) em janeiro de 1946.
No segundo semestre de 1946, as entidades assistenciais preparavam-se para receber uma leva de imigrantes. Em outubro daquele ano, foi eleito por nada menos que 28 diferentes sociedades
um comitê executivo com 13 membros para trabalhar na recepção
aos recém-chegados. Entre as sociedades havia as chamadas Landsmannschaften (associações de imigrantes de um mesmo país),
como a Associação Israelita de Socorro aos Israelitas de Wolyn, a
Litwischer Verband (lituanos), o Comitê de Socorro aos Israelitas
Sobreviventes da Guerra na Bessarábia e outras.
A Federação mantinha em 1946 uma série de conselhos para
coordenar as entidades judaicas que apresentassem objetivos semelhantes. Além de um Conselho-Geral, havia o Conselho de
Ensino, Educação e Cultura e o Conselho de Rabinos e Assuntos
Religiosos. Em 1948 a Federação instalou um Comitê de Emergência de Assistência aos Imigrantes. Um ano depois, em 1949,
criou um Conselho de Assistência Social, cujo principal objetivo
era prestar auxílio aos imigrantes e coordenar o trabalho das várias entidades judaicas: Ezra, Ofidas, Linath Hatzedek, cip e Asilo
dos Velhos.
Judaicas in Sao Paulo was founded. It held a protest rally in January 1946 against the MacDonald
White Paper of 1939.
In the second half of 1946, the charities prepared to receive a wave of immigrants. In October that year, an executive committee of 13
members was elected to work with the reception of newcomers, by no fewer than 28 different
societies. Among the societies were the Landsmannschaften (associations of immigrants from
the same country), such as the Associação Israelita (Judaica) de Socorro aos Israelitas de Wolyn,
the Litwischer Verband (Lithuanian), the Comitê
de Socorro aos Israelitas Sobreviventes da Guerra na Bessarábia, and others.
The Federation maintained a series of councils to coordinate the Jewish organizations that
presented similar goals in 1946. In addition to a
General Council, there was a Board of Schooling,
Education and Culture and the Board of Rabbis
and Religious Matters. In 1948, the Federation
established a Comitê de Emergência de Assistência aos Imigrantes. A year later, in 1949, a Board
of Social Services was created, whose main goal
was to provide assistance to immigrants and
coordinate the work of several Jewish organizations: Ezra, Ofidas, Linath Hatzedek, CIP, and the
Home for the Old.
As its base, The Federation directed Zionist groups, such as Centro Hebreu-Brasileiro. It
sought to unify the collection of resources in the
community, centralize the transfer of resources
from international organizations, such as HIAS
and Joint, and to organize the social assistance
and immigrant reception work. Ezra and Linath
Hatzedek Polyclínica joined the Federation and
the United Campaigns in 1947. Directors of both
organizations actively participated in the foundation and first board formation of the merged
society. A United Campaign was first held in October 1945, when Centro Hebreu-Brasileiro proposed a United Committee of 10,000 Parcels. Ofidas did not participate, but continued its sewing
jobs and package distribution to Europe. Ofidas
and Congregação Israelita Paulista did not join
the Federation at first. The debate within Ofidas
about whether or not to join the Federation and
the United Campaign extended between 1946
and 1951, when they eventually merged.
Along with several other societies, such as
Wizo, Ofidas also participated in campaigns to
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 73
Mulheres da comunidade judaica preparando o envio de pacotes humanitários para
a Europa. Women in the Jewish community
preparing to send humanitarian packages to
Europe.
send clothes to Palestine (Israel) in 1948. Collection stations were installed in institutions and
private homes in the districts of Brás, Bom Retiro,
Higienópolis, Ipiranga, Jardim America, Pinheiros, Vila Mariana and Perdizes, as evidence of a
broader geographical dispersion of the community already by late 1940s.
There was also a campaign involving the
Israel Defence Force (Haganá) in order to purchase ambulances for Palestine and, in June
1948, shortly after the proclamation of independence of Israel, the Campanha de Emergência Pró-Israel and the Comitê Central da Campanha Pró-sobreviventes were created. In 1948,
the Sociedade Vita Kempner initiated activities
in Brazil, in order to provide assistance to war
orphans abroad and poor children in Sao Paulo.
In 1949, CIP inaugurated the new building of the
Lar da Criança.
The consistent partnership among the aid
organizations, the Federação Israelita and others, allowed for, in the 1950s as we shall see, the
rapid integration of the last great wave of Jewish immigration to Sao Paulo (and Brazil). Ofidas,
Polyclínica and Ezra were, again, on the vanguard
of this process.
74 A Federação tinha como base grupos sionistas, como o Centro Hebreu-Brasileiro, e procurou unificar a coleta de recursos
na comunidade e centralizar o envio dos recursos de entidades
internacionais, como Hias e Joint, além de organizar o trabalho de
assistência social e recepção aos imigrantes. A Ezra e a Policlínica
Linath Hatzedek aderiram à Federação e às Campanhas Unidas no
ano de 1947. Diretores das duas entidades participaram ativamente
da fundação e da primeira diretoria da nova entidade. Uma primeira campanha unificada começara a ser realizada em outubro
de 1945, quando o Centro Hebreu-Brasileiro propôs um “Comitê
Unido de 10.000 pacotes”; a Ofidas não participou, mas continuou
seu trabalho de costura e envio de pacotes para a Europa. Ofidas
e Congregação Israelita Paulista não aderiram à Federação num
primeiro momento. O debate no interior da Ofidas sobre filiar-se
ou não à Federação e participar da Campanha Unida estendeu-se
entre 1946 e 1951, quando se deu a vinculação.
Junto com várias outras entidades, como a Wizo, a Ofidas
participou em 1948 também de campanhas para enviar roupas
para a Palestina (Israel). Postos de arrecadação foram instalados
em entidades e casas particulares nos bairros de Brás, Bom Retiro,
Higienópolis, Ipiranga, Jardim América, Pinheiros, Vila Mariana e
Perdizes, evidência da maior dispersão geográfica da comunidade
já no final dos anos 1940.
Também houve campanha com a Haganá para a compra de
ambulâncias para a Palestina e, em junho de 1948, logo após a proclamação da independência de Israel, foram criadas a Campanha
de Emergência Pró-Israel, além do Comitê Central da Campanha
Pró-sobreviventes. Em 1948, a Sociedade Vita Kempner iniciou
atividades no País para prestar auxílio aos órfãos de guerra no
exterior e a crianças pobres em São Paulo e, em 1949, a cip inaugurou o novo prédio do Lar da Criança.
A consistente parceria entre as entidades assistenciais, a Federação Israelita e outras organizações permitiu, nos anos 1950,
como veremos, a rápida integração da última grande leva de imigração de judeus a São Paulo (e ao Brasil). Ofidas, Policlínica e
Ezra estiveram, novamente, na linha de frente deste processo.
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
5
As imigrações egípcia e húngara de 1956 e o
trabalho conjunto das entidades assistenciais
The Egyptian and Hungarian immigration of 1956 and joint work of welfare agencies
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 75
p. 75 Edifícios Martinelli e Altino Arantes na década de 1950, quando São Paulo se tornou a maior metrópole da América
Latina. acima O ginásio da Hebraica, inaugurado em 1957, projeto do arquiteto Gregory Warschawchik.
p. 75 The Martinelli and Altino Arantes buildings in the 1950s, when Sao Paulo became the biggest metropolis in Latin
America. above The Ginásio da Hebraica, opened in 1957 and designed by architect Gregory Warschawchik.
76 pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
N
a década de 1950 São Paulo já era a maior metrópole da
América Latina. As comemorações dos quatrocentos
anos da cidade em 1954 foram um evento marcante
para a vida do paulistano e tiveram seu auge com a inauguração do Parque do Ibirapuera e de uma exposição universal, que
incluiu a exibição do quadro “Guernica”, de Pablo Picasso. “São
Paulo é a cidade que mais cresce no mundo” era o slogan das comemorações. Na noite do dia 25 de janeiro de 1954 uma “chuva
de prata”, com milhões de papeizinhos coloridos, povoou os céus
e caiu lentamente sobre a cidade.
Uns dizem-na uma grande cidade, outros dizem-na uma
grande aldeia, escreveu o memorialista Jorge Americano sobre
São Paulo. A transformação havia sido tão veloz que ainda era
difícil entender e apreender o que a capital paulista havia se tornado: “Há cidades que, vistas do alto, caracterizam-se por torres e
cápsulas, como as da renascença italiana. Outras por chaminés, como
Pittsburgh e Manchester. Ainda outras por arranha-céus, como Nova
York, Chicago”, comentou Americano sobre a cidade dos anos
1950, descrevendo-a a assim:
“São Paulo, na aproximação por avião, impressiona primeiro pelos loteamentos de terrenos, em todo o redor, por muitos quilômetros. E
para quem olhar de alguma altura como o lugar do Trianon na Avenida
Paulista, ou do Morro dos Ingleses onde está o Hospital Municipal, verá
I
n the 1950s Sao Paulo was already the largest
metropolis in Latin America. The celebration
of its four-hundredth anniversary in 1954 was
a landmark event in the life of Sao Paulo. It had
its peak with the opening of the Ibirapuera Park
and a world exhibition, which included the display of “Guernica”, the famous painting by Pablo
Picasso. “Sao Paulo is the fastest growing city in
the world” was the slogan of the celebration. On
the night of January 25, 1954, a “silver rain” with
millions of pieces of colored confetti covered the
sky and fell slowly all over the city.
“Some say it is a big city, others say it is a big
village”, wrote the memoirist Jorge Americano
about Sao Paulo. The transformation had been
so swift that it was still difficult to understand
and grasp what had become of the state capital: “There are cities that, seen from above, are
characterized by turrets and domes , like those of
the Italian Renaissance. Other by chimneys, like
Pittsburgh or Manchester. Others by skyscrapers,
including New York, Chicago”, commented Americano on the city in the 1950s, thus describing it:
“When the airplane approaches, Sao Paulo
first strikes for the plots of land, in every direction possible for kilometers on end. And for those
glancing from some height, like Trianon Park
on Avenida Paulista, or the Morro dos Ingleses
where the Hospital Municipal is, you will spot a
huge city, spread all over, with a downtown full
of skyscrapers and some vacant areas showing
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 77
Perua escolar do Scholem Aleichem, em frente ao Icib, referência de efervescência cultural da comunidade judaica nos anos
1950. The estate car of the Scholem Aleichem school, in front of Icib; an illustration of the cultural effervescence of the Jewish community in the 1950s.
no buildings whatsoever, vast residential districts
with skyscrapers everywhere and amidst every
four or five edifices already built, the structures of
one or two more under construction rise”.
Particularly since the inauguration of Juscelino Kubitschek’s government in 1956, the 1950s
were a period of intense economic and industrial
development, due to the Goals Plan and the Developmental Policy—above all, due to the belief
in a promising future, in which Brazil would take
78 uma cidade enorme, toda espalhada, com um centro de arranha-céus e
alguns claros não edificados, imensos bairros residenciais semeados de
arranha-céus, sendo que no meio de cada quatro ou cinco, já construídos,
sobem as estruturas de mais um ou dois em construção”.1
Os anos 1950, e principalmente a partir da posse do governo
Juscelino Kubitschek em 1956, foi um período de intenso desenvolvimento econômico e industrial, com o Plano de Metas e a
política do desenvolvimentismo, e, sobretudo, de crença em um
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
futuro promissor, no qual o País daria um grande salto seguindo o
lema “50 anos em 5”. A conquista da primeira Copa do Mundo em
1958, a inauguração da nova e arrojada capital, Brasília, em 1960 e
o sucesso da Bossa Nova ultrapassando as fronteiras do País são
alguns dos marcos que criaram uma atmosfera geral de otimismo.
Nos anos 1950 a comunidade judaica mantinha instituições
que não mais tinham como foco o apoio aos imigrantes, mas
uma inserção efetiva na sociedade e apoio aos que precisassem de
ajuda localmente, o que permitiu também receber as levas imigratórias desta época em outra condição. A fundação do Estado
de Israel em 1948 foi um fator decisivo na criação de um clima de
recomeço da vida judaica – após o Holocausto –, embora os anos
1950 (mesmo com a vitória na Guerra do Sinai, em 1956) ainda
estivessem longe do otimismo que se disseminou após a vitória
na Guerra dos Seis Dias em 1967 e a unificação de Jerusalém como
capital de Israel.
Em 1951 foi fundada a Confederação das Entidades Representativas da Coletividade Israelita do Brasil, depois Confederação Israelita do Brasil (Conib), uma associação de comunidades
estaduais que sentiam a necessidade de uma articulação política
em nível nacional. Um novo perfil de entidades estava sendo gestada, como o clube A Hebraica, inaugurado em 1957, e o início da
construção do Hospital Albert Einstein, cuja Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Hospital Albert Einstein foi estabelecida
em 1955 (no ano de 1958 começaram efetivamente as obras de
construção, alguns serviços iniciaram o atendimento na década
de 1960 e a inauguração oficial do hospital se daria em 1971). Em
outro campo de atuação, em 1954 foi fundado em São Paulo o
Instituto Cultural Israelita Brasileiro (Icib) junto ao Teatro de Arte
Israelita Brasileiro (Taib), agregando as correntes de esquerda e
idichistas na comunidade. A Congregação Israelita Paulista (cip)
inaugurou a nova sinagoga à Rua Antônio Carlos em 1957 e a
entidade se tornou uma instituição central do judaísmo paulista
e polo de atração de centenas de jovens que vinham participar
dos movimentos juvenis (Avanhandava e Chazit Hanoar) e das
colônias de férias nos Campos de Estudos.
Uma nova entidade assistencial foi criada em 1959: o Centro
Israelita de Assistência ao Menor – Ciam, resultado da articulação
a major leap following the motto “50 years in 5’.
Winning the first World Cup in 1958, inaugurating a bold new capital, Brasília, in 1960, and the
success of Bossa Nova beyond Brazilian borders
are some of the milestones that created a general atmosphere of optimism.
In the 1950s, institutions in the Jewish community no longer focused on the support of immigrants, but on their effective insertion in society and support to those who needed help locally, thus enabling them to receive new waves of
immigration under other conditions. The foundation of the State of Israel in 1948 was a decisive factor in developing a mood for resumption
of Jewish life, following the Holocaust, though
the 1950s (even after the 1956 victory in the Sinai War) were still far from the widespread optimism that appeared later, following the 1967
victory in the Six Day War and the unification of
Jerusalem as capital of Israel.
In 1951 the Confederação das Entidades Representativas da Coletividade Israelita do Brasil
was founded. Later, the Confederação Israelita
do Brasil (CONIB) was set up, an association of
state communities who felt the need for an articulated policy at a national level. A new profile
of societies was then born, such as “A Hebraica”
the club, inaugurated in 1957, and the Hospital
Albert Einstein, that had just started being built
and for which Sociedade Beneficente Israelita
Brasileira Hospital Albert Einstein was established in 1955 (the construction effectively began in 1958, some services started treatment in
the 1960s, and the official inauguration of the
hospital was in 1971). In another field of work,
the Instituto Cultural Israelita Brasileiro (ICIB)
was founded in Sao Paulo in 1954, along with
the Teatro de Arte Israelita Brasileiro (TAIB), thus
joining left and Yiddish currents in the community. The Congregação Israelita Paulista inaugurated a new synagogue on Rua Antonio Carlos in
1957 and the society became a central institution
of Judaism in Sao Paulo and a pole of attraction for hundreds of young people who came to
participate in youth movements (AvanhandavaScouting and Chazit Hanoar) and the vacation
summer camps on Study Camps.
A new aid organization was created in 1959:
the Centro Israelita de Assistência ao Menor—
Ciam, as a result of the coordination among societies and professionals within the Jewish com-
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 79
Parque Trianon na década de 50, local em que seria construído o Masp. Parque Trianon in the ‘50s, at the site where the Museu da
Arte Sao Paulo (Masp) would be constructed.
munity, who realized the need to create an institution that could serve children and youth
considered exceptional, based on the initiative
of the director of Lar das Crianças da CIP, then,
Henrique Rattner. The foundation of CIAM was
contemporary to the movement of creation of
a series of societies with similar profiles, based
on the concept that it was possible to take care
of exceptional children and youth searching for
ways to provide them with somewhat autonomous lives. Accepting and supporting the exceptional child as an equal-different and not
as an inferior person to be isolated as was the
case until then, was the central guideline for
the new times.
Immigrants from Egypt and Hungary
A new profile of societies was therefore created within the Jewish community in years of
optimism and the growth of Sao Paulo and Brazil. It was within this context, with fresh air and
new ideas that the last significant wave of the
20th century Jewish immigration came to Brazil and Sao Paulo. About ten thousand immi-
80 de entidades e profissionais da comunidade judaica que perceberam a necessidade de criar uma instituição que pudesse atender
crianças e jovens considerados excepcionais, a partir da iniciativa
do diretor do Lar das Crianças da cip, Henrique Rattner. A fundação do Ciam foi contemporânea ao movimento de criação de
uma série de entidades com perfil semelhante, fundamentadas
na concepção de que era possível cuidar das crianças e dos jovens
excepcionais buscando formas de proporcionar-lhes uma vida
com algumas esferas de autonomia. Aceitar e receber o excepcional como um igual-diferente, e não como uma pessoa inferior
a ser isolada, como acontecia até então, era diretriz central dos
novos tempos.
Imigrantes do Egito e da Hungria
Assim, um novo perfil de entidades foi criado na comunidade judaica em anos de otimismo e crescimento de São Paulo e
do País. Foi neste contexto, com novos ares e novas ideias, que
chegou ao Brasil e a São Paulo a última onda imigratória judaica
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
expressiva no século 20. Cerca de dez mil imigrantes aportaram
na segunda metade dos anos 1950, a maioria originária do Egito
e da Hungria. Em menor número, vieram também de Israel e de
países da África do Norte e da Polônia.
Esta imigração foi resultado direto de acontecimentos políticos, sem relação entre si, que afetaram as comunidades judaicas
da Hungria e do Egito. Na Hungria, tropas soviéticas sufocaram
militarmente em 1956 um movimento reformista liberal que estava em curso no país, o que levou a um processo de repressão e
fechamento político. No Egito, como resultado da Campanha do
Suez e da Guerra do Sinai, também em 1956, os judeus do Egito
tiveram bens confiscados, sofreram restrições, sentiram-se inseguros e deixaram o país. Cerca de 70 mil judeus saíram do Egito,
dos quais 55 mil imigraram para Israel, cinco mil para a França,
entre quatro e cinco mil para o Brasil, dois mil para o Canadá, dois
grants arrived in the second half of the 1950s,
most originating in Egypt and Hungary. In smaller numbers, they also came from Israel, North
African countries and from Poland.
This immigration was a direct result of political events, unrelated among them, that affected
the Jewish communities in Hungary and Egypt.
In Hungary, in 1956, Soviet troops militarily suffocated a liberal reform movement underway in
the country, which led to a process of political
repression and closure. As a result of the Suez
Campaign and the Sinai War, still in 1956, the
Egyptian Jews had their properties confiscated,
suffered restrictions, felt insecure and left the
country. About 70,000 Jews left Egypt, out of
which 55,000 emigrated to Israel, five thousand
to France, between four and five thousand to
Brazil, two thousand to Canada, two thousand
to England, 500 to Australia, 250 to Venezuela
and 250 to Argentina.
Rua do Bom Retiro nos anos 50, com o detalhe dos trilhos do bonde. Rua do Bom Retiro in the ‘50s, with the detail of the
streetcar tracks.
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 81
Welfare agencies evidently played a decisive role in the integration of these new immigrants. In Sao Paulo, Egyptian immigrants were
welcomed by a reception structure that linked
the Federação das Sociedades Israelitas (with its
Serviço Social Social Serviço Social de Imigrantes do Conselho de Assistência Social, founded in 1955), to the United HIAS Service (herein
HIAS, previously known as Hebrew Immigrant
Aid Society, later affiliated with Joint) and local
charities. HIAS was based in New York and was
responsible for supporting and monitoring immigrants for up to one year after their arrival.
Medical care was run at the Polyclínica Linath
Hatzedek, while Ezra and Ofidas served immigrants one year after their arrival.
In 1957, 879 families arrived here; in 1958,
857 families and, in 1959, 557 families, 25% of
which coming from Israel. In 1957, 447 families
came from Egypt (1,529 people), 233 from Hungary (522 people), 187 from Israel (447 people),
35 from Europe (100 people), 13 from North Africa (23 people). After arriving in Sao Paulo, they
were temporarily housed in Colégio Liceu Pasteur, conceded by the French Consulate during
the vacation period. Then they were housed
at the Hospedaria dos Imigrantes, in Brás, Sao
Paulo. Others who could afford to pay, stayed
in boarding houses, and some were housed in
homes of relatives or friends.
The concept of Social Service and that of professional social workers graduated from college
was introduced to the Welfare Societies in the
Jewish community as from the 1950s, directly
linked to the work of the Federação Israelita in
Sao Paulo. In 1956, the Social Service Council in
the Federação had professionalized its activities
and encouraged young college students to study
Social Work, funding scholarships and providing professional internships for social workers
in Jewish organizations. In that same year, the
Social Service Council in the Federação submitted a formal proposal to merge Ezra, Ofidas and
Polyclínica.
Social workers welcomed immigrants at
the port of Santos, accompanied them to the
Hospedaria dos Imigrantes, sought employment
and housing, paid for medical care, cared for the
children, and then left a scheduled interview on
the Duty of the Social Service Department. The
social, economic and cultural shock that Egyp-
82 mil para a Inglaterra, 500 para a Austrália, 250 para a Venezuela e
250 para a Argentina.
As entidades assistenciais evidentemente tiveram papel decisivo na inserção destes novos imigrantes. Em São Paulo os imigrantes egípcios foram recebidos por uma estrutura de recepção
que associou a Federação das Sociedades Israelitas (com seu Serviço Social de Imigrantes do Conselho de Assistência Social fundado
em 1955), a United Hias Service (Hias, antes Hebrew Immigrant
Aid Society, que depois se associou ao Joint) e entidades assistenciais locais. A Hias tinha sede em Nova York e se responsabilizava
pelo sustento e acompanhamento por até um ano após a chegada
dos imigrantes. O atendimento médico era feito na Policlínica
Linath Hatzedek, enquanto Ezra e Ofidas atendiam os imigrantes
um ano após a sua chegada.
Em 1957, chegaram 879 famílias, em 1958 um total de 857
famílias e, em 1959, 557 famílias, das quais 25% oriundas de Israel.
No ano de 1957, entraram 447 famílias do Egito (1.529 pessoas),
233 da Hungria (522 pessoas), 187 de Israel (447 pessoas), 35 da Europa (100 pessoas), 13 do Norte da África (23 pessoas). Ao chegar
a São Paulo, foram alojadas provisoriamente no colégio Liceu
Pasteur, cedido pelo consulado francês durante o período de
férias. Em seguida, passaram a ser alojados na Hospedaria dos
Imigrantes, no Brás, em São Paulo. Outros, que tinham recursos
para pagar, ficaram em pensões, e alguns eram alojados em casas
de parentes ou amigos.
O conceito de trabalho de Serviço Social e o trabalho profissional de assistentes sociais formados em faculdades começaram a
ser introduzidos nas entidades assistenciais da comunidade judaica
a partir da década de 1950, ligados diretamente ao trabalho da Federação Israelita de São Paulo. Em 1956, o Conselho de Assistência
Social da Federação profissionalizou suas atividades e passou a
incentivar que jovens cursassem a faculdade de Serviço Social,
financiando bolsas de estudo e oferecendo estágios profissionais
aos assistentes sociais nas entidades judaicas. No mesmo ano, o
Conselho de Assistência Social da Federação apresentou a proposta formal de unificação dos serviços da Ezra, Ofidas e Policlínica.
Os assistentes sociais recebiam os imigrantes no porto de
Santos, acompanhavam-nos até a Hospedaria dos Imigrantes,
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
Hotel Avenida
Palace em Santos,
frequentado pela
comunidade
judaica, em
tempos de lazer e
descontração no
pós-guerra.
Hotel Avenida
Palace in Santos,
frequented by the
Jewish community
in times of leisure
and relaxation after
the war.
iniciavam um trabalho de buscar emprego e moradia, prestavam
assistência médica, cuidavam das crianças e, em seguida, deixavam marcada uma entrevista para o Plantão de Assistência Social.
O choque cultural, econômico e social de imigrantes refugiados
do Egito que, de forma brusca e repentina, chegaram ao Brasil,
desdobrou-se em inúmeras dificuldades que tiveram de ser assistidas. Não foi fácil para os imigrantes adaptarem-se a valores e
costumes objetivamente muito diferentes, como, por exemplo, a
necessidade de a mulher trabalhar, o que implicava muitas vezes
em uma completa reestruturação familiar, colocando em cheque
os lugares tradicionais de homem e mulher, de pai e mãe.
Conta o assistente social João Baptista Adduci (no livro Unibes 85 anos), se referindo aos imigrantes húngaros e egípcios, que
“o grande problema para os imigrantes era aprender a língua e
obter um emprego. Naquele período, o emprego não era muito
difícil para pessoas com habilitações. Mas precisava falar a língua,
ter visto de permanência, diplomas e revalidação. Muitas pessoas
tinham aquele sonho de trazer o parente que estava no mundo comunista ou sofrendo perseguições, alguns se chocaram quando os
imigrantes chegaram, porque tinham costumes muito diferentes”.
tian immigrant refugees underwent when, suddenly and abruptly, they arrived in Brazil, unfolded into several difficulties that had to be
addressed. It was not easy for immigrants to
adapt to values and customs objectively very
different, such as the need for women to work,
which often entailed a complete restructuring
of the family, challenging the traditional roles of
men and women, fathers and mothers.
Referring to the Egyptian and Hungarian immigrants, social assistant João Baptista Adduci
once said: “the great problem for the immigrants
was to learn the language and get a job. At that
time, jobs were not too difficult for skilled people. One needed to speak the language, though,
have a permanent visa, diplomas and endorsement. Many people had that dream of bringing
a relative who was in the communist world or
being persecuted; some were taken aback when
the immigrants arrived because they had very
different customs”.
Adduci, who had graduated in Social Service
at the Pontifical Catholic University in Sao Paulo
(PUC) and began working at Federação Israelita in 1959, by assembling a service of “centralizing the hospital stay” at the Polyclínica, ex-
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 83
Golda Meir, primeira-ministra de Israel.
Golda Meir, prime minister of Israel.
plained how the invitation to assume the head
role of Serviço Social de Imigrantes da Federação
emerged: “All social workers were called to help.
The immigrants arrived and we had to work. I
was already known at the Polyclínica, Ezra, and
Ofidas. Between 1959 and 1966, I just cared for
that. I traveled; I learned about and received instructions from HIAS New York and traveled to
Italy to do the pre-immigration. There were two
international organizations that cared for the immigrants: United HIAS Service and Joint. Joint did
all the political work with countries to persuade
them to let the Jews leave, in order to make it
feasible for those Jews being persecuted or oppressed to emigrate. While Joint succeeded, HIAS
developed an integration work in countries where
these immigrants would be received. If a person
was in Romania and wanted to come to Brazil
he/she could, as long as it was for family reunion
sake. I would then look for and talk with his family here, verify that the family had the conditions
to receive these immigrants. If they could afford it,
I just maintained control, but if they could not afford it, we fully helped them: rented apartments,
furnished them, welcomed the family in Santos,
brought them to Sao Paulo and followed them for
a few months, until these immigrants were part
of the job market. HIAS paid for and helped with
everything: Portuguese teachers, endorsement
of university degrees, volunteers teaching them
how to shop in markets and warehouses. It was
an adaptation service for refugee immigrants”.
84 Adduci, que estudou Serviço Social na puc de São Paulo e começou a trabalhar na Federação Israelita em 1959 montando um
serviço de “centralização de internação hospitalar” na Policlínica,
conta como surgiu o convite para assumir o cargo de chefe do
Serviço Social de Imigrantes da Federação: “Todos os assistentes
sociais foram chamados para ajudar. Os imigrantes estavam chegando e a gente tinha que trabalhar. Eu já era conhecido na Policlínica, na Ezra e na Ofidas. Entre 1959 e 1966, fiquei só cuidando
disso. Eu viajei, fui conhecer e receber instruções da Hias de Nova
York e viajei para a Itália para fazer a pré-imigração. Existiam duas
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
entidades internacionais que cuidavam dos imigrantes: United
Hias Service e Joint. O Joint fazia todo o trabalho político com os
países para convencê-los a deixar os judeus sair, para tornar possível a emigração desses judeus que estavam oprimidos ou sendo
perseguidos. Se o Joint lograva êxito, a Hias fazia o trabalho de
integração destes imigrantes nos países onde seriam recebidos. Se
um indivíduo estava na Romênia e queria vir para o Brasil podia,
desde que fosse para união de família. Então eu ia procurar e
falar com a família dele aqui, verificar se a família tinha condição de receber estes imigrantes – se eles tinham condições, eu só
mantinha o controle, mas se eles não tinham condições, ajudávamos integralmente: alugava-se um apartamento, mobiliava-se,
íamos receber esta família em Santos, trazíamos para São Paulo
e acompanhávamos por alguns meses, até que estes imigrantes se
inserissem no mercado de trabalho. A Hias custeava e ajudava em
tudo: professores de português, revalidação de diplomas universitários, as voluntárias ensinavam a fazer compras nas quitandas e
armazéns. Era um serviço de adaptação do imigrante refugiado”.
A continuidade do trabalho cotidiano
Ofidas, Policlínica e Ezra prosseguiam também no atendimento cotidiano. Os departamentos da Ofidas, no final dos anos
1950, eram: Assistência Social, Orientação Profissional, Higiene
Infantil, Gabinete Dentário, Lar da Criança, Peah-Distribuição de
Roupas e Biblioteca Juvenil. A maior parte das assistências prestadas era de hospitalização para partos e operações ginecológicas,
auxílio financeiro para mulheres idosas, orientação para famílias
desestruturadas, orientação educacional e profissional e outros,
tais como encaminhamento das crianças para colônias de férias.
O Lar da Criança da Ofidas mantinha 75 crianças em idade pré-escolar e regime de semi-internato. O Departamento de
Orientação Educacional Profissional possibilitava opções de estudo e fornecia orientação para a escolha da profissão e do emprego.
O Departamento de Higiene Infantil, que substituiu a antiga Gota
de Leite, cuidava de bebês até os três anos de idade, com atendimento médico, aplicações de raios ultravioleta e distribuição de
sabonete, talco, leite em pó e auxílio financeiro para alimentação
The continuity of daily work
Ofidas, Polyclínica, and Ezra also went on
with daily care. The departments in Ofidas, in
late 1950s, were: Social Work, Vocational Guidance, Child Hygiene, Dental Practice, Lar da Criança, Peah-Clothing Distribution, and Juvenile
Library. Most of the given assistance was hospital stays provided for childbirth and gynecological surgeries, financial aid for elderly women,
orientation for dysfunctional families, educational and vocational guidance, and others, such
as summer camp referrals for children.
The Lar da Criança in Ofidas housed 75 preschool children under a semi-boarding system.
The Departamento de Orientação Educacional
profissional offered study options and provided
guidance for the choice of profession and employment. The Departamento de Higiene Infantil, which replaced the old Gota de Leite, provided infant care until the age of three, including
medical care, application of ultraviolet rays, and
distribution of soap, talcum powder, milk powder and financial support for adequate food. It
also promoted “hygiene education” and knowledge of childcare for mothers aimed at reducing
infant mortality rates. Besides clothing distribution, the Peah Department also distributed
furniture, kitchen utensils, dishware, tableware
and bed linen.
In the first half of 1954, the Polyclínica discussed whether they should bring forth the idea
of refurbishing their facility, building a hospital
or building a new clinic in their new building in
Bom Retiro. One director proposed the foundation of a hospital due to the difficulty of thoroughly helping the ill, since there were many
cases of hospitalization and surgeries. Another
one noted that there was a donation offer of
Ema Klabin left in the legacy of Hessel Klabin
to construct a new building. The donation demanded conditions, though, that the medical
board of Polyclínica did not accept. A third director then wished “that, in the future, this legacy
should be approved by the yishuv. Salo Wissman
affirmed “that since the property had been donated by the late Dr. Isaac Tabacow, the hospital
should mean the continuity in Linath Hatzedek
and should invest the money into a hospital together with the cooperation of the people responsible for the yishuv.”
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 85
Diretoria da Ofidas,
em uma década de
imigração egípcia e
húngara para São
Paulo.
The Ofidas Board
of Directors, in a
decade of Egyptian
and Hungarian
immigration to Sao
Paulo.
Between the late 1950s and early 1960s there
was an agreement for hospital stays with the
Casa de Saúde Santa Inês, which provided four
beds monthly. In 1961, 125 cases were referred to
hospitals, 27 of which went to Santa Casa, 22 to
private hospitals, and 20 to Hospital A.C. Camargo. In the 1950s, the number of appointments at
the Polyclínica was very expressive. An average
of 50 people per day were taken in, from medical
appointments, to distribution of medicines and
laboratory tests, radiography and radiotherapy.
The specialties offered at the Polyclínica were:
Medical Clinic, Gynecology, Surgery, Otolaryngology, Pediatrics, Orthopedics, in addition to other procedures offered at medical offices. Minor
surgeries, such as extraction of nails, warts, superficial cysts, sutures for cuts, and others, were
performed at the seat of the society.
The Polyclínica worked in a range of social
care that underwent major transformations
from the 1940s onwards, with the construction
of private hospitals, the dissemination of private
practices and specialist doctors, and a change in
the profile and quality of care in public health
services. The organization always struggled with
the cost of medicines, doctor’s appointments,
procedures performed at their own facility and,
especially, with the difficulty in paying hospital
admissions and surgeries in operation theaters.
Until the 1960s, the appointments in public or
charitable institutions were probably the only
form of treatment for a substantial portion of
86 adequada; também promovia “educação higiênica” e conhecimentos de puericultura para as mães com o objetivo de diminuir
os índices de mortalidade infantil. O Departamento Peah, além de
distribuir roupas, distribuía móveis, utensílios de cozinha, louças
e roupas de cama e mesa.
No primeiro semestre de 1954, a Policlínica discutiu se deveria
levar à frente a ideia de reformar seu prédio, construir um hospital
ou se deveria construir um novo ambulatório, em novo prédio no
Bom Retiro. Um diretor propôs a fundação de um hospital pela
dificuldade de auxiliar completamente os doentes, já que havia
muitos casos de internação e de cirurgias. Um diretor lembrou
que havia uma oferta de doação de Ema Klabin deixada ao legado de Hessel Klabin para a construção de um prédio novo. Mas
a doação tinha condições, que o conselho médico da Policlínica
não aceitou. Um diretor fez então “votos que futuramente seja
este legado aproveitado pelo ishuv”. Salo Wissman afirmou “que
tendo sido o imóvel doado pelo falecido dr. Isaac Tabacow, o hospital será a continuidade em linath hatzedek e aplicará o dinheiro
para um hospital conjuntamente com a colaboração de pessoas
responsáveis pelo ishuv”.
Entre o final dos anos 1950 e o início dos anos 1960 havia um
convênio para internação com a Casa de Saúde Santa Inês, que
fornecia quatro leitos mensalmente. No ano de 1961, 125 casos
foram encaminhados para hospitais, sendo 27 para a Santa Casa,
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
Inauguração da nova sede da Ofidas.
The inauguration of Ofidas’ new headquarters.
22 para hospitais particulares e 20 para o Hospital A. C. Camargo.
Nos anos 1950 os números de atendimento da Policlínica eram
muito expressivos. Uma média de 50 pessoas era recebida por dia,
entre consultas médicas, distribuição de medicamentos e exames
de laboratório, radiografias e radioterapia. As especialidades oferecidas na própria Policlínica eram: clínica médica, ginecologia,
cirurgia, otorrinolaringologia, pediatria, ortopedia, além das demais especialidades oferecidas em consultórios médicos. Eram
realizadas na própria sede da entidade cirurgias consideradas pequenas como: exerese de unhas, verrugas, quistos superficiais,
pontos em cortes e outras.
A Policlínica trabalhava em uma faixa de assistência social
que passou por importantes transformações da década de 1940 em
diante, com a construção de hospitais privados, a difusão dos consultórios particulares e dos médicos especialistas e uma mudança
no perfil e na qualidade do atendimento dos serviços públicos de
saúde. A entidade debateu-se sempre com o custo dos remédios,
das consultas dos médicos, dos procedimentos realizados em sua
própria sede e principalmente com a dificuldade de pagar internações e cirurgias hospitalares. Até a década de 1960, o atendimento
na rede pública ou em entidades beneficentes era provavelmente a
única forma de tratamento para uma expressiva parcela da comunidade que tinha na Policlínica uma referência necessária, digna e
eficiente de atendimento.
the community who had the Polyclínica as a necessary, dignified and efficient service reference.
When, in 1959, the social worker João Batista Adduci went to work at the Polyclínica as
an employee of the Federação Israelita, to assemble a service of “hospital centralization”, he
aimed at setting up a service to the community in the area of hospitalization: “Polyclínica
basically worked in outpatient clinics carrying
out: exams, appointments, and minor surgeries.
In addition to organizing the hospital centralization, I ended up systematizing an entry selection for the Polyclínica. As the Polyclínica was in
Bom Retiro and most community doctors lived
or met patients in Bom Retiro, contact was easy.
We hired doctors for prognosis and treatment;
surgeries remained the problem. When I joined
the Polyclínica, I had to streamline the service,
by determining which doctors should work in
outpatient clinics and which hospitals should
accept patients for hospitalization. At the time,
we chose the hospitals Santa Catarina, Oswaldo
Cruz, Santa Casa, Hospital das Clínicas and Santa
Paula. In former times, there was not the pressure
that exists today in the health field. They worked
with surgery cases, diagnosis explanation, and
referral of psychiatric cases. As psychiatric hospitals, we designated Casa de Saúde Tremembé
and Hospital Vera Cruz. Another job I performed
at that time was releasing people who had been
abandoned in Hospital Juqueri in Franco da Rocha. There was a government movement towards
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 87
Assistentes sociais da Ofidas na porta da
creche à Rua Salvador Leme. Ofidas social
workers in the doorway of the nursery on Rua
Salvador Leme.
vacating Juqueri. I looked for and released people,
taking them to nursing homes or other psychiatric hospitals. At that time, I had outlined the
model that still remains more or less the same:
rest homes, psychiatric hospitals and hospitals
for admission.”
Quando em 1959 o assistente social João Batista Adduci foi
trabalhar na Policlínica, como funcionário da Federação Israelita, para montar um serviço de “centralização hospitalar”, o objetivo era montar um atendimento para a comunidade na área
de hospitalização: “O trabalho da Policlínica era basicamente
ambulatorial: exames, consultas e pequenas cirurgias. Além de
organizar a centralização hospitalar, acabei fazendo a seleção de
entrada da Policlínica. Como a Policlínica estava no Bom Retiro
e a maioria dos médicos da coletividade moravam ou atendiam
no Bom Retiro, o contato era fácil. Nós tínhamos médicos para
diagnóstico e tratamento, o problema eram as cirurgias. Quando
eu vim, sistematizei o atendimento: que médicos atendiam no
ambulatório e que hospitais aceitavam os pacientes para hospitalização. Na época, elegemos os hospitais Santa Catarina, Oswaldo
Cruz, Santa Casa, Hospital das Clínicas e Santa Paula. Eram outros tempos, não havia a pressão que existe hoje na área da saúde.
Trabalhava com casos de cirurgia e esclarecimento de diagnóstico
e com encaminhamento de casos psiquiátricos. Como hospitais
psiquiátricos, nós tínhamos a Casa de Saúde do Tremembé e o
Hospital Vera Cruz. Um outro trabalho que eu fiz nesta época
foi o de desinternar pessoas que estavam abandonadas em Franco
da Rocha, no Hospital Juqueri. Havia um movimento governamental de esvaziamento do Juqueri, eu fui procurar e desinternei
pessoas levando-as para casas de repouso ou para outros hospitais
psiquiátricos. Eu tinha naquele tempo esboçado o modelo que até
hoje continua mais ou menos igual: casas de repouso, hospitais
psiquiátricos e hospitais para internação”.
Notas
1. Americano, Jorge. São Paulo naquele tempo 1895-1915. São Paulo, Narrativa Um/Carrenho/
Carbono 14, 2004, p. 27.
88 pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
6
O Serviço Social Unificado reorganiza
o atendimento assistencial nos anos 1960
The Unified Social Services reorganizes the social assistance in the 1960s
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 89
p. 89 O Parque do Ibirapuera e o novo conjunto viário, marco do crescimento da cidade nos anos 1950 e 1960. acima Inauguração da nova sede da Ezra no Bom Retiro em 1963.
p. 89 Ibirapuera Park and road interchange, marking the city’s growth in the ’50s and ’60s. above The inauguration of the new Ezra
headquarters in Bom Retiro in 1963.
90 pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
N
a década de 1960 Ofidas, Policlínica e Ezra inauguraram
sedes novas e modernas no Bom Retiro, evidenciando
um processo de renovação não apenas dos prédios,
mas dos conceitos e serviços de assistência social. Na mesma década foi organizado o Serviço Social Unificado (ssu) entre as três
entidades e outras da comunidade judaica em São Paulo, centralizando e padronizando o trabalho.
Estes processos foram consequência da valorização dos assistentes sociais e da profissionalização do atendimento aos imigrantes e aos assistidos após o fim da Segunda Guerra Mundial
e na década de 1950, com as ondas imigratórias do Egito e da
Hungria. Pode-se afirmar que, embora, tenham havido ao longo
da história inúmeras reuniões sobre unificar as entidades, foi nesta
década que se gestou efetivamente a fusão que levaria à criação
da Unibes em 1976.
A Ofidas inaugurou a nova sede, na Rua Rodolfo Miranda,
em 1960. A Policlínica, que estava instalada em um casarão à Rua
Ribeiro de Lima, esquina com a Rua Prates, inaugurou em 1962
sua nova sede na Rua Rodolfo Miranda, intencionalmente vizinha
da Ofidas. As duas sedes seriam depois fisicamente unidas com
a fundação da Unibes. A Ezra, por sua vez, inaugurou sua sede
nova, à Rua Guarany, em novembro de 1963.
I
n the 1960s Ofidas, Polyclínica and Ezra inaugurated modern new headquarters in
Bom Retiro, not only showing a process of
renewal of the buildings, but also of the concepts and services of social welfare. In the same
decade, the three above-mentioned societies,
along with others in the Jewish community in
Sao Paulo, merged into the Unified Social Services (herein, SSU), thus centralizing and standardizing their work.
These processes were a result of the appreciation for social workers and the professionalization of the care for immigrants and
for those assisted after the end of World War
II and the 1950s, which brought waves of immigrants from Egypt and Hungary. Although
there had been countless meetings on the fusion of the societies throughout their history,
one can state that it was in this decade that
the merger that would create Unibes in 1976
was actually nurtured.
Ofidas inaugurated its new headquarters,
on Rua Rodolfo Miranda, in 1960. The Polyclínica,
which was housed in a mansion on Rua Ribeiro
de Lima, on the corner of Rua Prates, opened
its new headquarters on Rua Rodolfo Miranda
in 1962, deliberately neighboring Ofidas. The
two locations were later physically joined with
the founding of Unibes. Ezra, in turn, opened
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 91
its new headquarters, on Rua Guarany in November 1963.
By those years, the community was already
fully established and could integrate the immigrants that arrived in the 1950s. Israel started
its second decade of existence and, with the
Six Days War in 1967, Jerusalem was unified as
the country’s capital. Also in the 1960s, the migration of part of the Jewish community began
from the district of Bom Retiro to Higienópolis.
There, in 1968, the local base of Colégio Renascença was inaugurated (this school also earned
a new building in 1966 in Bom Retiro). More than
a mere geographic shift in the city, that represented a social change. Higienópolis meant a
new economic level achieved by sectors of the
community whom moved into a neighborhood
that had a different status in the city–vertical
with modern buildings–one housing the ascending middle class and the old barons of coffee.
New facilities on Rua Rodolfo Miranda
Polyclínica’s new five-story building on Rua
Rodolfo Miranda had ample facilities and sustained a significant range of activities, with a
pharmacy, two Social Service rooms, nursing
room, physical therapy, four medical offices, a
practice for pediatric dentistry and dental X-ray
service, a clinical analysis laboratory and rooms
for gynecological appointments, an amphitheater and a library.
In addition to the appointments of the doctors who held practices at Albert Einstein Hospital, the Polyclínica base offered GP, pediatric
and gynecological appointments. The pharmacy
worked mostly with free samples from Polyclínica’s doctors, from other doctors who teamed up,
and with purchased medicine when necessary.
Physiotherapy sessions were performed by a
nurse in the headquarters, which was equipped
with infrared rays, a Bier oven, ultraviolet rays
and short waves. In 1960, 2,450 appointments
were made and 1,789 laboratory tests were carried out; in 1961, 2,726 appointments and 2,243
laboratory tests.
In December 1961, at a meeting of the Social
Service Council in the Federação with the participation of the welfare organizations, each institution committed itself to contribute monthly
to a special assistance fund for hospital admis-
92 Naqueles anos a comunidade já estava plenamente estabelecida e havia integrado os imigrantes chegados nos anos 1950.
Israel entraria em sua segunda década de existência e em 1967,
com a Guerra dos Seis Dias, Jerusalém seria unificada como capital daquele país. Foi na década de 1960 também que teve início
a migração de parte da comunidade judaica do bairro do Bom
Retiro para Higienópolis, onde em 1968 seria inaugurada a sede
local do colégio Renascença (que em 1966 ganhara novo prédio
também no Bom Retiro). Mais do que mero deslocamento geográfico na cidade, representou uma mudança social, Higienópolis
significando um novo patamar econômico atingido por setores
da comunidade que se mudavam para um bairro que tinha outro
status na cidade, residência e moradia das classes médias ascendentes e dos antigos barões do café, e que se verticalizou com
modernos edifícios.
Novas instalações na Rua Rodolfo Miranda
O novo prédio de cinco andares da Policlínica na Rua Rodolfo
Miranda tinha amplas instalações e mantinha significativa gama
de atividades, com farmácia, duas salas de Serviço Social, sala
de enfermagem, de fisioterapia, quatro consultórios, sala para o
serviço de odontopediatria e serviço odontológico com raio X,
laboratório de análises clínicas e salas para ginecologia, anfiteatro
e biblioteca.
Além das consultas dos médicos pertencentes ao quadro clínico do Hospital Albert Einstein, havia na sede da Policlínica consultas de clínica geral, de pediatria e de ginecologia. A farmácia
funcionava principalmente com amostras grátis de médicos da
própria entidade, de outros médicos que colaboravam e, quando
necessário, remédios comprados. As sessões de fisioterapia eram
realizadas por uma enfermeira na própria sede, que dispunha de
infravermelho, forno de Bier, ultravioleta e ondas curtas. Em 1960
foram realizadas 2.450 consultas e 1.789 exames de laboratório e,
em 1961, 2.726 consultas e 2.243 exames de laboratório.
Em dezembro de 1961, em reunião do Conselho de Assistência Social na Federação com a participação das entidades assistenciais, ficou resolvido que cada instituição contribuiria mensalmen-
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
No Bom Retiro, manifestação pública da
comunidade judaica nos anos 1970.
In Bom Retiro, a public manifestation of the
Jewish Community in the ’70s.
te para um fundo especial de assistência a internações hospitalares
e cirurgias. A questão do custo das internações hospitalares foi
sempre um tema importante e as entidades tiveram que buscar
diferentes saídas e convênios com hospitais ao longo dos anos.
Em junho de 1962, a Federação Israelita tentou centralizar os
serviços hospitalares, até criar um Departamento de Assistência
Hospitalar, cujo financiamento seria da Federação e da Sociedade
Cemitério Israelita de São Paulo.
sions and surgeries. The cost of hospitalizations
had always been an important issue and the
societies compromised to find different alternatives and agreements with hospitals over the
years. In June 1962, the Federação Israelita tried
to centralize hospital services and create a Department for Hospital Care, to be financed by
the Federação itself and the Sociedade Cemitério
Israelita de Sao Paulo (herein, Chevrah Kadishah).
O Serviço Social Unificado
Resuming more effective partnership talks
among the aid organizations in 1968, the Federação Israelita invited Ezra and other societies
to discuss the “centralized care” through Polyclínica, from which those assisted were referred
to various hospitals. Following this, the Chevrah
Kadishah decided to assist the Federação concerning hospital care services. Subsequently,
the Federação hosted a meeting to discuss the
association of the several social service departments in the different agencies. The initial proposal was that while Ezra and Ofidas together
analyzed the aid required, the Polyclínica took
care of cases that demanded hospitalization.
The discussion progressed a lot that year and,
in November 1968, the participating societies
defined that, initially, there would be three joint
but distinct sectors: the hospital, with Hospital Albert Einstein and Polyclínica; the specif-
Retomando as conversas de parceria mais efetiva entre as entidades, em 1968 a Federação Israelita convidou a Ezra e outras
entidades para discutir a “centralização hospitalar” por meio da
Policlínica, de onde os assistidos eram encaminhados a vários hospitais. Em seguida, a Sociedade Cemitério Israelita de São Paulo
decidiu prestar auxílio à Federação para os serviços de assistência
hospitalar e, na sequência, a Federação sediou uma reunião para
tratar da unificação dos serviços sociais das várias entidades. A proposta inicial era que Ezra e Ofidas analisassem em conjunto os auxílios, e a Policlínica cuidaria dos casos que exigissem internação.
A discussão avançou muito naquele ano e, em novembro de
1968, as entidades participantes definiram que inicialmente haveria
The Unified Social Services
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 93
ic services, with CIAM, Lar dos Velhos, Oficina
Abrigada do Trabalho, Lar da Criança by CIP, Ofidas, and Ezra; and a third for general immigrant
assistance.
The creation of SSU in April 1969, which standardized and unified the treatment of social
welfare societies and several others that provided this service, materialized discussions initiated in the early 1950s, with the onset of Social
Service and social workers for the community.
Undergoing setbacks and advances, this path
led to the merger of societies.
The SSU assumed sectors of structured Social Service in the diverse organizations that
worked cooperatively. Such a nature of work allowed for a broad view of the community needs,
discussion of cases, and the centralization of expenses. Ofidas and Ezra were the pillars of the
SSU, which integrated the Polyclínica, the Congregação Israelita Paulista and the Mekhor Haim
Synagogue in 1969. The SSU started operating
on the headquarters of Ofidas and the Fundo
Unido, a joint treasury which financed the services on the headquarters of Ezra. Ofidas and
Ezra were the societies that financed most resources and those taking most cases. Also later participating in SSU were Sinagoga Israelita
Paulista (Hungarian), Associação Israelita Brasil-Bessarábia, Congregação Sefaradi Paulista,
Sinagoga Israelita-Brasileira, Templo IsraelitaBrasileiro Ohel Yaacov, Sociedade Beneficente
Brasil-Bessarábia and Sociedade Cemitério Israelita de Sao Paulo.
The SSU held a central facility, two social
workers on duty, two social workers to follow the
cases and weekly technical meetings to discuss
the cases. Social workers, two representatives
of Ofidas, one of Ezra, and one of each of the
other societies participated in these meetings.
Among the issues highlighted by the commission were the centralization of care, the “social
treatment straight by social workers, professionals, thus avoiding the client contact with directors
of social work”, in addition to the development
of “a practical and technical work, not only aimed
at helping clients financially but also at developing the educational work of social promotion
through each one’s capability.”
SSU served 3,665 cases throughout the 1970.
In 1971, 4,458 cases were treated. Education was
also a demand for those societies. In 1970, due
94 três setores conjuntos distintos: o hospitalar, com Hospital Albert
Einstein e Policlínica; o de serviços específicos, com Ciam, Lar
dos Velhos, Oficina Abrigada do Trabalho, Lar da Criança da cip,
Ofidas e Ezra; e um terceiro, para assistência geral aos imigrantes.
A criação do Serviço Social Unificado (ssu) em abril de 1969,
que padronizou e unificou o atendimento das entidades assistenciais e de vários outros que prestavam este serviço, concretizou
discussões iniciadas no começo dos anos 1950, com o início do
trabalho de Serviço Social e dos assistentes sociais na comunidade.
Foi este percurso, com avanços e recuos, que levou ao caminho
da unificação das entidades.
O ssu pressupunha setores de Serviço Social organizados nas
diversas entidades que trabalhariam de forma cooperada. Esta
modalidade de trabalho permitia uma ampla visão das necessidades da comunidade, a discussão dos casos e a centralização dos
gastos. Ofidas e Ezra foram os pilares do Serviço Social Unificado,
que incluiu a Policlínica, a Congregação Israelita Paulista e a sinagoga Mekhor Haim em 1969. O ssu passou a funcionar na sede da
Ofidas e o Fundo Unido, uma caixa comum que financiava o atendimento, na sede da Ezra. Ofidas e Ezra eram as entidades que
financiavam a maior parte dos recursos e as que atendiam a maior
parte dos casos. Também participaram depois do ssu: Sinagoga
Israelita Paulista (húngara), Associação Israelita Brasil-Bessarábia,
Congregação Sefaradi Paulista, Sinagoga Israelita-Brasileira, Templo Israelita-Brasileiro Ohel Yaacov, Sociedade Beneficente Brasil-Bessarábia e Sociedade Cemitério Israelita de São Paulo.
O ssu mantinha um fichário central, dois assistentes sociais no
plantão de atendimento, dois assistentes sociais para acompanhar
o seguimento dos casos e reuniões técnicas de discussão dos casos
uma vez por semana, com a participação dos assistentes sociais,
dois representantes da Ofidas, um da Ezra e um de cada uma das
outras entidades participantes. Entre os pontos positivos analisados pela comissão estava a centralização do atendimento e o
“tratamento social direto por assistentes sociais, profissionais, eliminando-se o contato dos clientes com diretores de obras sociais”,
e também uma “objetivação técnica de trabalho, visando dar ao
cliente não só o auxílio econômico, mas desenvolver o trabalho
educativo de promoção social através do potencial de cada um”.
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
Visita a São Paulo do primeiro-ministro de Israel, David Ben-Gurion. Visit to Sao Paulo by Israel’s Prime Minister, David Ben-Gurion.
No total do ano de 1970, o ssu atendeu 3.665 casos. Em 1971
foram atendidos 4.458 casos. Também a questão educacional era
uma demanda para essas entidades. Em 1970, diante do número
de pedidos de bolsas de estudo que chegavam à Ezra, esta decidiu
sugerir ao ssu a criação de um fundo especial para bolsas de estudo na comunidade. Em março de 1971, um diretor da Ezra propôs
a fusão de todas as escolas e a sua modernização.
O projeto de um hospital psiquiátrico nos anos 1960
Na década de 1960, quando as três entidades estavam em suas
sedes novas e se implantava a unificação dos serviços sociais, outros projetos foram cogitados. No início dos anos 1960, diretores
to the high number of applications for scholarships delivered to Ezra, the institution suggested
that SSU the create a special scholarship fund
in the community. In March 1971, an Ezra director proposed the merger of all schools and their
modernization.
The psychiatric hospital project
in the 1960s
In the 1960s, while the three societies occupied their new locations and social services
started merging, other projects were considered.
In early 60s, Ezra directors commented on the
need for a more organized care for psychiatric
cases. Two different projects were evaluated:
building a nursing and rehabilitation home for
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 95
chronically ill and constructing a psychiatric hospital. The two projects were often associated
with the set-up of the new Ezra building on Rua
Guarany, opened in late 1963. Other ideas were
also debated. In May 1963, one director suggested that they sell the buildings that comprised
the Sanatorium in Sao José dos Campos and
that part of the funds was donated to Hospital
Albert Einstein in order to construct an annex
structure for Ezra.
The difficulty in characterizing a profile of
patients to be treated and the cost of hospitalization led to a lengthy discussion regarding the
psychiatric hospital. They argued, for example,
about the creation of an institute where they
could plant a garden, raise backyard chickens
and organize workshops for occupational therapy. The discussion continued throughout the
1960s. In 1963, Ofidas ceded part of a land plot
to Ezra, but “once proven they lacked a Nursing
Home for convalescent ladies in post-operative
cases and others, Ofidas only ceded their land plot
with the condition that Ezra build an extra wing
devoted to this purpose within the construction
it was performing.”
In May 1965, the physician Manoel Hidal, in
Hospital Albert Einstein, sent a letter to Ezra proposing the sale of the Sanatorium “to finance a
pavilion at Hospital Albert Einstein”. Ezra welcomed the suggestion but replied they considered building either a Psychiatric Hospital or a
Nursing Home instead of the Sanatorium. The
discussion about the Psychiatric Hospital was
more seriously discussed in May 1965, when Ezra’s board decided that the organization considered it necessary to create an “assistance service
to psychopaths”. There were several attempts to
invite psychiatrists to discuss the project, but the
plan did not thrive.
Ezra then invited several organizations,
among them Lar dos Velhos, Ofidas, Polyclínica,
Centro Israelita de Assistência ao Menor, Hospital Albert Einstein and Federação Israelita, to
discuss these projects. These ideas were being
discussed when, on May 31, 1966, the Ezra Sanatorium in Sao José dos Campos was deactivated by the society. To maintain itself, in 1950 and
1960, the Sanatorium had accepted patients in
partnership with the Instituto de Previdência
e Assistência dos Servidores do Estado (IPASE).
The difficulties this agreement involved, name-
96 da Ezra comentavam a necessidade de um atendimento mais organizado aos casos considerados psiquiátricos. Dois diferentes
projetos foram avaliados: construir uma casa de repouso e de
recuperação para doentes crônicos e erguer um hospital psiquiátrico. Muitas vezes os dois projetos eram associados enquanto
se construía o novo prédio da Ezra na Rua Guarani, inaugurado
no final de 1963. Outras ideias também eram debatidas. Em maio
de 1963, um diretor sugeriu que se vendesse os edifícios que compunham o Sanatório em São José dos Campos e que parte dos
recursos fosse doada ao Hospital Albert Einstein para construir
um edifício da Ezra em anexo.
A dificuldade de definir um perfil dos pacientes a serem atendidos e o custo de internação levaram a uma discussão mais longa
em relação ao hospital psiquiátrico. Discutia-se, por exemplo, a
criação de um instituto com horta, criação de galinhas e oficinas
para terapêutica ocupacional. A discussão continuou ao longo dos
anos 1960. Em 1963, a Ofidas cedeu parte de um terreno para a
Ezra, mas “tendo sido comprovada a falta de uma Casa de Repouso
para senhoras convalescentes em casos pós-operatórios e outros,
a Ofidas cede sua parte no terreno mediante a possibilidade de, na
construção que a Ezra realiza, faça uma ala destinada a este fim”.
Em maio de 1965, o médico Manoel Hidal, do Hospital Albert
Einstein, enviou uma carta à Ezra propondo a venda do Sanatório
“para financiar um pavilhão no Hospital Albert Einstein”. A Ezra
recebeu bem a sugestão, mas respondeu que considerava construir um hospital psiquiátrico ou uma nursing house no lugar do
sanatório. A discussão sobre o hospital psiquiátrico ganhou um
enquadre mais sério quando, em maio de 1965, a diretoria da Ezra
decidiu que a entidade considerava necessário criar um “serviço
de assistência aos psicopatas”. Em seguida, foram realizadas várias tentativas de se convidar médicos psiquiatras para discutir o
projeto, mas o plano não foi para frente.
A Ezra convidou, então, várias entidades, entre elas Lar dos
Velhos, Ofidas, Policlínica, Centro Israelita de Assistência ao Menor, Hospital Albert Einstein e Federação Israelita para discutir
esses projetos. Essas ideias estavam em discussão quando em 31
de maio de 1966 o sanatório da Ezra em São José dos Campos foi
desativado pela entidade. Para manter-se nos anos 1950 e 1960, o
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
O trabalho das
assistentes sociais
foi decisivo para
modernizar o
Serviço Social.
The efforts of social
workers were key
to modernizing the
Social Service.
sanatório havia aceitado doentes em convênio com o Instituto
de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado (Ipase). As
dificuldades com este convênio, o elevado custo de manutenção
aliado à complexidade de administrar um sanatório fora da cidade
de São Paulo, a diminuição no número de pacientes da comunidade internados, além de discussões, nos anos 1960, sobre não ser
mais interessante manter um sanatório, levaram ao fechamento
daquela obra que foi o orgulho da Ezra entre os anos 1930 e 1960.
As discussões referentes a um novo projeto corriam quando,
em 1968, a prefeitura de São José dos Campos decidiu desapropriar
o terreno para construir um Paço Municipal e Centro Cívico. A
desapropriação já estava sendo cogitada fazia meses e neste ínterim médicos da comunidade visitaram o sanatório para estudar a
possibilidade de instalar o hospital psiquiátrico. A ideia é que os
médicos apresentariam à Ezra uma proposta de arrendamento e
ofereceriam 25 leitos gratuitos para a entidade.
Em julho de 1968, a diretoria da Ezra decidiu adquirir um
terreno em São Paulo para construir uma pequena casa de saúde
ly the high cost of maintenance coupled with
the complexity of managing a Sanatorium upstate, the decrease in the number of admissions
of patients from the community, on top of the
1960s debates about no longer being interested
in maintaining a Sanatorium, led to the closure
of a work which had been Ezra’s pride between
1930 and 1960.
Discussions regarding a new project continued when, in 1968, the City Hall in Sao José dos
Campos decided to expropriate the land to build
the Town Hall House and a Civic Center. While
the expropriation was considered for months,
community physicians visited the Sanatorium
to study the feasibility of installing a Psychiatric
Hospital in its place. These doctors would submit
a proposal to lease it from Ezra and offer 25 free
beds for the Society.
In July 1968, the Ezra board decided to acquire land in Sao Paulo to build a Nursing Home
and considered selling their property on Rua
Bandeirantes. Upon receiving the first installment for the expropriation, Ezra acquired land
in Taboão da Serra to build the Nursing Home for
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 97
the cases considered psychiatric. The proposal
was to combine these cases with the patients
that required intensive medical care. The Sanatorium was formally expropriated in August 1968.
In August 1969, Ezra asked an engineer to
draft the “Sanatorium for Psychopaths” on the
plot acquired in Taboão da Serra. In 1971, while
preparing the land, Ezra ran a meeting with representatives of the UN High Commissioner on
this subject. The UN compromised to contribute
with the support of refugees who were committed. The psychiatric hospital and nursing home
project began to wane in 1973. Ezra thought of
renting or selling half the land. In 1974, Lar dos
Velhos asked to see the hospital project, but over
the 1970s, the merger of Ezra, Polyclínica, and
Ofidas engaged in more effective conversations
and other priorities were determined.
At the Polyclínica headquarters,
the beginning of Oficina Abrigada
de Trabalho (OAT)
The Oficina Abrigada de Trabalho(OAT) began
its activities in 1966 inside the building of Polyclínica. According to the report outlined by social
worker João Baptista Adduci, then working at
HIAS in 1966 with the absorption of immigrants,
his team and he found that there was significant
immigration of older people and there was no
longer an association in Sao Paulo to absorb the
elderly who wanted to work during the day, to
have a job and, if possible, also a source of income, which differed essentially from a nursing
home for older people. The OAT was later taken
over by the Liga Feminina Israelita.
The 1960s were, therefore, not only a time of
hard work, but also intense and endless discussions about models of societies and social care,
about what proved the vitality of the societies,
and constantly seeking institutional alternatives
and techniques to better serve the community.
98 e pensou em vender um imóvel na Rua Bandeirantes. Ao receber a primeira parcela da desapropriação, a Ezra adquiriu um
terreno em Taboão da Serra para construir a casa de saúde para
internar os casos considerados psiquiátricos. Assim, a proposta
era combinar estes casos e pacientes que requeriam um cuidado
médico intensivo. O sanatório foi desapropriado formalmente
em agosto de 1968.
Em agosto de 1969, a Ezra convidou um engenheiro para projetar o “sanatório para psicopatas” no terreno em Taboão da Serra
e, enquanto preparava o terreno, manteve, em 1971, reunião com
representantes do Alto Comissariado da onu sobre este tema. A
onu poderia contribuir para o sustento de refugiados que fossem
internados. O projeto do hospital psiquiátrico e da casa de repouso começou a enfraquecer-se em 1973 e a Ezra pensou em alugar
ou vender metade do terreno. Em 1974, o Lar dos Velhos pediria
para ver o projeto do hospital, mas no decorrer dos anos 1970 o
processo de fusão entre Ezra, Policlínica e Ofidas entrou em conversações mais efetivas e outras foram as prioridades definidas.
Na sede da Policlínica, o início da Oficina Abrigada de
Trabalho-OAT
A Oficina Abrigada de Trabalho-oat teve início em 1966 no
prédio da Policlínica. Segundo o relato do assistente social João
Baptista Adduci, trabalhando para a Hias em 1966 na absorção de
imigrantes, ele e sua equipe constataram que havia uma significativa imigração de pessoas mais idosas e não existia em São Paulo
uma entidade para absorver pessoas idosas que quisessem trabalhar durante o dia, ter uma ocupação e, se possível, também uma
fonte de renda, o que era diferente de um asilo para pessoas mais
velhas. A Oficina depois foi assumida pela Liga Feminina Israelita.
Os anos 1960 foram, portanto, uma época não apenas de muito trabalho, mas de densas e incessantes discussões sobre modelos
de entidades e de atendimento, evidência da vitalidade das entidades, que buscavam constantemente alternativas institucionais
e técnicas para melhor atender à comunidade.
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
7
A criação da Unibes em 1976:
uma trajetória de sucesso
The creation of Unibes in 1976: A success story
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 99
p. 99 O Memorial do Imigrante, agora um museu na cidade de São Paulo que evoca a importância dos imigrantes na
construção da cidade. acima A agitação urbana e o cosmopolitismo das galerias do centro de São Paulo, uma marca da
modernidade na cidade.
p. 99 The Immigrant Memorial, now a museum, in the city of Sao Paulo that evokes the importance of immigrants in building the
city. above The urban bustle and cosmopolitanism of the galleries in downtown Sao Paulo, a mark of the modernity of the city.
100 pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
U
ma martelada na parede, rompendo a divisão entre os
prédios da Ofidas e da Policlínica, selou simbolicamente a união de Ofidas, Policlínica e Ezra para fundar a
União Brasileiro-Israelita do Bem-Estar Social – Unibes – em 1976.
Com isso, a trajetória iniciada em 1915 com a Sociedade Beneficente das Damas Israelitas atingia um novo patamar e iniciava uma
nova história institucional. O evento havia sido preparado antes,
claro, e a parede fora cortada, permanecendo apenas o reboco.
A Unibes, seguindo a tradição das entidades que a formaram, se
tornaria, desde então, sinônimo de assistência social e projetos
sociais bem sucedidos na comunidade judaica paulista e na sociedade em geral.
A fusão em 1976 significou, em parte, a incorporação da Ezra
e da Policlínica pela Ofidas, que se tornou o núcleo e o modelo
central de atendimento da nova entidade, da mesma forma que a
Ofidas era uma continuidade do trabalho da Sociedade das Damas
Israelitas (incluindo o Lar da Criança das Damas Israelitas e a Gota
de Leite da B’nai B’rith). A Ofidas era a entidade que mais havia
profissionalizado seus serviços e que mantinha uma estrutura de
atendimento mais organizada. Pode-se dizer, igualmente, que,
embora o estatuto da Unibes não mantivesse a cláusula que restringisse as diretorias a mulheres, foram diretoras que passaram
a dirigir a nova entidade em 1976.
A
hammer hitting a wall, breaking the
divide between the buildings of Ofidas and Polyclínica, symbolically sealed
the union of Ofidas, Polyclínica and Ezra, thus
founding the União Brasileiro-Israelita do BemEstar Social (herein, Unibes), in 1976. With this,
the trajectory that began in 1915 with the Sociedade Beneficente das Damas Israelitas reached
a new level and started a new institutional history. The event had been prepared before, of
course, and the outside wall cut away, leaving
only the plaster. Following the tradition of the
societies which had shaped it, Unibes has since
become a synonym to successful social welfare
initiatives and projects, both within the Jewish
community in Sao Paulo and in the greater society in general.
The 1976 merger meant, in part, the incorporation of Ezra and Polyclínica into Ofidas, which
became the core and service model of the new
society, just as Ofidas was a continuation of the
work of the Sociedade das Damas Israelitas (including the Lar da Criança by Damas Israelitas
and Gota de Leite by B’nai B’rith). Ofidas was
the society that had most professionalized its
services and had the most organized service
structure. One can also note that, since the statutes of Unibes did not maintain the clause that
restricted women on the boards, there were
women directors that began to lead the new
society in 1976.
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 101
The discussion about the Unibes merger
process effectively began in 1971. In September that year, after several meetings among the
boards of Ofidas, Ezra, and Linath Hatzedek, it
was decided that the three societies would join
into a single institution. Since the early 1960s,
however, the unification of the societies had
been discussed in different combinations,
which came to include other organizations
such as the Hospital Israelita Albert Einstein
(opened in 1971). The construction of the new
buildings for Polyclínica and Ofidas, as neighbors on Rua Rodolfo Miranda, in the early 1960s,
already suggested the societies and their work
were moving towards the same path.
The intensification of talks in early 1970s was
a consequence of the implementation of SSU,
which resulted in a more professional image of
care via Social Services and the management
of resources in this field. Based on the work of
numerous social workers and on the creation of
a unified structure for care, fundraising and expenditure, a twofold service proved inadequate.
The Federação Israelita took part in this process,
establishing a formal cooperation among agencies and providing for the education of many
social workers, which clearly illustrated the benefits of working together.
In addition, the charities, given their importance in community life, discussed a range of options in other areas, such as education and culture. It is worthwhile to consider at least some of
them. In mid 1960s, the board of Ezra suggested
a plan for a social and cultural congregation in
Bom Retiro, which was to be a cultural pole in the
neighborhood, in the synagogue on Rua Newton
Prado. In another project, outlined in late 1968,
the president of Ginásio Renascença proposed
that Ezra and Renascença “pooled their efforts to
build a university”, according to Ezra minutes on
December 19, 1968.
Shortly thereafter, in March 1969, at a meeting attended by the President of the Renascença and in which they discussed the school’s use
of an Ezra building on Rua Bandeirantes, the
school’s president proposed that “Ezra and Renascença commit to a project to endow Higienópolis
with a school equipped for a large attendance,
worthy of the community in Sao Paulo”. The Ezra
board appreciated the proposal, but could not
join such project, eventually brought to fruition
102 A discussão do processo de unificação da Unibes teve início
efetivo em 1971. Em setembro daquele ano, após várias reuniões
entre as diretorias da Ofidas, Ezra e Linath Hatzedek, ficou resolvido que as três entidades iriam se unir em uma única instituição.
Desde o início dos anos 1960, no entanto, se discutia unificar as
entidades em diferentes combinações, que chegaram a incluir
outras organizações, como o Hospital Israelita Albert Einstein
(inaugurado em 1971). A construção dos prédios novos da Policlínica e da Ofidas como vizinhos na Rua Rodolfo Miranda, no
começo dos anos 1960, era uma indicação na direção de aproximar
as entidades e seus trabalhos.
A intensificação das conversações nos primeiros anos da década de 1970 era consequência da implantação do Serviço Social
Unificado, que resultou em uma visão mais profissional do atendimento de Serviço Social e da gestão de recursos neste campo. A
partir do trabalho de inúmeros assistentes sociais e da criação de
uma estrutura unificada de atendimento e de arrecadação e gasto,
a existência de duplicidade no atendimento se tornou inadequada.
A Federação Israelita teve participação neste processo, estabelecendo uma cooperação formal entre entidades e propiciando a
formação de muitos assistentes sociais, o que expôs claramente
os benefícios do trabalho conjunto.
Além disso, as entidades assistenciais, por sua importância na
vida comunitária, discutiam uma série de opções em outras áreas,
como a educacional e a cultural, e é interessante registrar pelo menos algumas delas. Na primeira metade dos anos 1960, a diretoria
da Ezra aventou o projeto de uma congregação social e cultural do
Bom Retiro, que seria um polo cultural no bairro, na sinagoga da
Rua Newton Prado. Em outro projeto esboçado no final de 1968,
o presidente do Ginásio Renascença propôs que Ezra e Renascença
“congreguem os seus esforços para a construção de uma universidade”, segundo ata da Ezra de 19 de dezembro de 1968.
Pouco depois, em março de 1969, em reunião que contou
com a presença do presidente do Renascença e na qual se discutiu a utilização por parte da escola de um prédio da Ezra na
Rua Bandeirantes, o presidente da escola propôs que a “Ezra e
o Renascença se incorporem num projeto de dotar Higienópolis
com um ginásio de grande capacidade, à altura da coletividade
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
Exibição de judô,
em um conceito de
atendimento integral
a crianças e jovens.
A judo exhibition,
in a concept of
comprehensive care to
children and youth.
em São Paulo”. A diretoria da Ezra agradeceu a proposta, mas não
tinha como se associar a este projeto, que o Renascença acabaria
realizando poucos anos depois, após abrir pré-escola e primário.
Assembleias antes da unificação e início da Unibes
A assembleia-geral da Sociedade Israelita de Beneficência
Ezra realizou sua última reunião em 21 de setembro de 1976, na
Rua Rodolfo Miranda, 293, na qual autorizou a doação de todos os
seus bens em favor da Ofidas. No mesmo dia realizou-se uma assembleia-geral extraordinária da Ofidas, que sacramentou a união
com a Ezra. A Sociedade Beneficente Linath Hatzedek realizou
uma assembleia-geral em 13 de outubro de 1976, na sua sede, à
Rua Rodolfo Miranda, 293.
A Unibes iniciou formalmente suas atividades em janeiro de
1977 como uma continuidade prática do trabalho desenvolvido
pela Ofidas. Uma das últimas decisões da Ofidas, possivelmente
em 29 de dezembro de 1976, quando a fusão já estava consumada,
a few years later, by Renascença itself, after opening a pre and a primary school.
Assemblies before the unification and
in the early days of Unibes
The general assembly of the Sociedade Israelita de Beneficência Ezra held its last meeting
on September 21, 1976, on Rua Rodolfo Miranda,
no 293, at which the donation of all its’ goods in
favor of Ofidas was authorized. On the same day,
Ofidas’ board held an extraordinary assembly
that preserved the union with Ezra. The Sociedade Beneficente Linath Hatzedek held a general
assembly on October 13, 1976, on its headquarters, on Rua Rodolfo Miranda, no 293.
The Unibes formally began it activities in January 1977, as a sensible continuation of the work
process developed by Ofidas. Once the merger
was official, one of the last decisions by Ofidas,
possibly on December 29, 1976, was choosing a
logo for Unibes, which had been designed by
Isidoro Gomberg and selected out of three options. Antonieta Bergamo, became president of
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 103
Ofidas in 1975; followed by Raquel Bacaleinik,
who ran the organization until 1978, consolidating the merger process. Unibes was designed to
include the following departments: Food, Medical, Social Service, Public Relations, Social, Publicity, Departamento de Orientação Educacional
Profissional (Vocacional Practice), Leisure, PreSchool, SpeechTherapy and Personal Hygiene.
Unibes assumed SSU care services, which
were also backed by the Chevrah Kadishah, CIP
and Mekhor Haim Synagogue/Congregation.
The social workers participated in diverse professional forums: in August 1978, for example, a
social worker was sent to a preparatory meeting for the Week of Community Participation in
Child Development, at the State Government
House. Unibes was chosen to coordinate the Department dealing with Family and Community.
In 1978, Unibes divided its services into sectors: Education, Health, Clothing Distribution,
and Human Development. The Education sector included a day nursery for 115 toddlers, afterschool activities and recreation programs for 100
children and adolescents. The Health sector considered the Dental, Specialist Therapies (Speech
and Psychology) and Medical Departments (for
appointments, pharmacy, tests and hospitalizations). Maintained by a partnership with the
Education Department of Federação Israelita,
Psychological treatment at Unibes was available
to Jewish schoolchildren in Sao Paulo. The Human Development sector sustained the Social
Services; Grupo Libe cared for Peah – A Sector
for Clothing Distribution (for 300 people), and a
food distribution program serving 130 families.
Gradually, Unibes stopped following Ezra’s
program of food distribution and began studying the possibility of offering financial aid to
cover these expenses. Also, it integrated the Department of Educational and Vocational Guidance into other departments. At the same time,
they decided to provide medicine to the general
population whenever available. The society organized a permanent bazaar in 1978, thanks to
the surplus from Peah (clothing distribution),
and started asking for donations of goods, because, in their words, “the demand is high and
could be a source of income” for the society.
Also in 1977, the social worker João Batista
Adduci was hired as the supervisor of the SSU.
One of the ideas discussed by the SSU was the
104 foi a escolha do símbolo da Unibes, desenhado por Isidoro Gomberg e selecionado entre três opções. Antonieta Bergamo, que havia assumido a presidência da Ofidas em 1975, sucedendo a Raquel
Bacaleinik, dirigiu a entidade até 1978, consolidando o processo de
fusão. A Unibes se estruturou com os seguintes departamentos:
Alimentação, Médico, Serviço Social, Relações Públicas, Social,
Divulgação, Orientação Profissional, Dentário, Recreação, Jardim
Maternal, Fonoaudiologia e Higiene Pessoal.
A Unibes assumiu o atendimento do Serviço Social Unificado, que era também financiado pela Sociedade Cemitério Israelita de São Paulo, pela Congregação Israelita Paulista e pela
Congregação Mekhor Haim. Os assistentes sociais participavam
de diversos fóruns profissionais: em agosto de 1978, por exemplo,
uma assistente social foi a uma reunião preparatória da Semana
de Participação Comunitária para o Desenvolvimento da Criança
no Palácio do Governo do Estado de São Paulo; a Unibes fora escolhida para coordenar o setor de obras que tratavam da família
e da comunidade.
Em 1978, a entidade dividia seu atendimento em três setores:
Educação, Saúde e Promoção Humana. O setor de Educação englobava a creche para 115 crianças e programas de complementação escolar e recreação para 100 crianças e jovens. A área de
Saúde contemplava os departamentos Médico (consultas, farmácia, exames e internações hospitalares), Dentário e de Terapias
Especializadas (fonoaudiologia e psicologia). O trabalho de psicologia, mantido por meio de um convênio com o departamento
de Educação da Federação Israelita, atendia crianças das escolas
judaicas de São Paulo. A área de Promoção Humana mantinha
o Serviço Social, o Grupo Libe, o setor de distribuição de roupas
Peah (para 300 pessoas) e um programa de distribuição de alimentos para 130 famílias.
Aos poucos, a Unibes deixou de distribuir alimentos em espécie, um programa da Ezra, e passou a estudar a possibilidade de dar um auxílio financeiro para cobrir essas despesas, bem
como integrou o Departamento de Orientação Educacional e
Profissional em outros departamentos. Ao mesmo tempo, decidiu passar a fornecer remédios à população em geral quando
houvesse disponibilidade. A entidade organizou o bazar perma-
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
O monumento às Bandeiras no Ibirapuera e o relógio da torre da Estação da Luz, dois dos ícones históricos mais apreciados da
cidade, fundindo passado e presente. The Bandeiras Monument in Ibirapuera and the clock tower of Estação da Luz, two of the most
appreciated historical icons of the city, merging past and present.
nente em 1978, com o excedente do Peah – distribuição de roupa
– e passou a solicitar a doação de mercadorias, pois, em suas
palavras, “a procura é grande e pode ser uma fonte de renda”
para a entidade.
Também em 1977, o assistente social João Batista Adduci foi
contratado como supervisor do Serviço Social Unificado. Uma das
ideias que estava sendo discutida pelo Serviço Social era a criação
de um Day Center ou Day Care, que seria um desdobramento do
Grupo Libe, que se organizou como um departamento em 1977.
No início dos anos 1980, a Unibes e outras entidades discutiram
a possibilidade de construir o Day Center no bairro de Santa Cecília, com a perspectiva de atender 400 pessoas idosas. O Grupo
Libe – cujo nome é em homenagem à assistente social Libe Paz,
que o fundou – tem sido uma referência importante no trabalho
com a terceira idade. Outro grupo que se organizou foi o Anne
Frank, formado por voluntárias que visitavam pessoas que viviam
sozinhas ou internadas em hospitais. Antonieta Bergamo passou
a presidência a Petrônia Chapira Teperman antes do final de sua
gestão, em 1979 (e “Pepa”, como Petrônia era conhecida, dirigiria
a entidade até 1990).
Em 1979 o Serviço Social Unificado (ssu) continuava em pleno
funcionamento, tendo a Unibes como base de todo o trabalho.
Neste período, uma representação permanente da Hias passou
a funcionar dentro do prédio da Unibes. Em 1979, a creche foi
creation of a Day Center or Day Care, which was
to be an offshoot of Grupo Libe, organized as a
Department in 1977. In early 1980s, Unibes and
other societies discussed the possibility of building the Day Center in the district of Santa Cecília, aiming at serving 400 elderly people. Grupo
Libe—whose name was chosen in honor of its
founder, the social worker Libe Paz—is an important reference in working with the elderly.
Another group to organize itself was Anne Frank,
formed by volunteers who visited people living
alone or hospitalized organized another group.
Antonieta Bergamo transferred the presidency
to Petrônia Chapira Teperman before the end of
her tenure, in 1979 (and “Pepa”, as Petrônia was
known, ran the organization until 1990).
In 1979, the SSU carried on, with Unibes as the
base for all the work. During this period, a permanent representation of HIAS began working
within the Unibes building. In 1979, the Unibes
Day Care was chosen as a model by the Sao Paulo state government. One year later, in 1980, a
tragic event marked the history of Unibes. It was
perhaps the saddest moment in the institutional
history of the Jewish community’s relief work in
Sao Paulo since its inception in 1915. In the early
morning of August 13th of that year, the nursery awoke to terrible marks of vandalism and
destruction to its facilities, even affecting the
children’s toys. Only the spontaneous solidarity
from the Jewish community, from the greater
society, and from the public authorities served as
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 105
some consolation to this barbaric act against a
nursery school. Even the Sao Paulo state government donated funds towards the refurbishment
of the Day Care. The episode was recorded in the
memory of the masses by a short story called
“The Murdered Day Care”, written by the poet
Carlos Drummond de Andrade, and published
in Jornal do Brasil on August 21, 1980. The writer
Trudi Landau, a Unibes collaborator, who wrote a
section of short stories about Unibes in the Jewish Press for several years, had drawn the poet’s
attention regarding the assault.
The Unibes is recognized as a model
of work
In the 1980s and 1990s, Unibes went through
a series of transformations that projected the
society as a model in the area of social assistance to families, of child care services, of recreational programs and of sports and job training for young people. A succession of important
awards, of national and international prestige,
and a series of partnerships with organizations
such as UNICEF, GMK and Fundação Vitae, the
federal, state and municipal governments, and
corporations and organizations of public recognition alike, made broadly known the society’s
work in serving both the Jewish community and
the society in general.
Unibes quickly transformed itself to meet
the new demands. Dora Lúcia Brenner recalls
that her first role, upon beginning work at the
organization in 1989, was “to transform the bazaar, which was small, had only served the assisted, and opened to the public twice a week.
In the bazaar there were no cash registers and
the money collected was placed in a bread bag.
The innovation was to give a ticket to the user
so that he could chose what he wanted to buy
in the bazaar, based on a value determined by
the social welfare department, according to the
needs of the family. The users themselves choose
how to spend their resources in the bazaar, which
is a form of a social promotion: learning to manage the resources they receive. Of course this is
not strict, if any other need should be. But the
prime concern of the bazaar is the amount of resources that pass from donors to users, via clothing, utensils and objects, and which are not considered cash.”
106 escolhida como modelo pelo governo do Estado de São Paulo.
Um ano depois, em 1980, um trágico acontecimento marcou a
história da Unibes. Foi talvez o momento institucional mais triste
na história do trabalho assistencial da comunidade judaica em
São Paulo desde o seu início em 1915. No dia 13 de agosto daquele
ano, a creche amanheceu com marcas terríveis de vandalismo e de
destruição, atingindo inclusive os brinquedos das crianças. Apenas
a solidariedade espontânea, seja da comunidade judaica, seja da
sociedade em geral e das autoridades públicas serviu de pequeno
consolo a este ato bárbaro contra uma creche. O próprio governo
do Estado de São Paulo contribuiu com uma doação para o trabalho de recuperação da creche. O episódio ficaria registrado na
memória de todos por meio de uma crônica, intitulada “A Creche
Assassinada”, escrita pelo poeta Carlos Drummond de Andrade,
publicada no Jornal do Brasil em 21 de agosto de 1980. O poeta foi
alertado da agressão pela escritora Trudi Landau, colaboradora da
Unibes e que manteve durante vários anos uma seção de crônica
sobre a Unibes na imprensa judaica.
A Unibes é reconhecida como modelo de trabalho
A entidade passou por uma série de transformações nos
anos 1980 e 1990 que a projetaram como uma entidade modelo na área da assistência social para famílias, de atendimento a
crianças em creche e de programas de recreação, de esporte e de
capacitação profissional para jovens. Uma sucessão de prêmios
importantes, com prestígio nacional e internacional, e uma série
de parcerias com entidades como a Unicef, a gmk e a Fundação
Vitae, os governos federal, estadual e municipal, e empresas e
entidades de reconhecimento público, divulgou amplamente seu
trabalho no atendimento tanto à comunidade judaica como à
sociedade em geral.
A Unibes se transformava a passos rápidos para atender às
novas demandas. Dora Lúcia Brenner lembra que sua primeira
função, ao começar a trabalhar na entidade em 1989, foi “transformar o bazar, que era pequeno, atendia basicamente os assistidos e
funcionava para o público duas vezes por semana. No bazar não
havia máquina registradora e o dinheiro arrecadado era colocado
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
em um saquinho de pão. A inovação foi dar um ticket ao usuário
de forma que ele escolhesse o que ele queria comprar no bazar,
com um valor determinado pelo departamento de assistência social, conforme as necessidades da família. São os usuários que
escolhem como gastar seus recursos no bazar, o que é uma forma
de promoção social: aprender a administrar os recursos que recebe. É claro que isto não é rígido, em caso de necessidade. Mas
o primordial do bazar é a quantidade de recursos que passa dos
doadores aos usuários, via roupas, utensílios e objetos, e que não
são computados como dinheiro”.
A partir de 1990, a Unibes ampliou seu atendimento, alargando sua estrutura de atuação, a oferta de projetos e de programas
até que, na segunda metade dos anos 90, a entidade começou a
tornar-se ainda mais reconhecida como modelo nacional e internacional de assistência. Neste mesmo período, diante da crise
social e econômica, intensificou-se muito a demanda de pessoas e
famílias de classe média, mudando em parte o perfil do assistido
e criando um fenômeno chamado de “nova pobreza” dentro da
comunidade judaica.
O novo perfil do assistido foi uma das preocupações centrais
da gestão de Dora Lúcia Brenner, presidente da Unibes entre
2000 e 2006. Ela teve a dupla responsabilidade de administrar
uma entidade com muitas parcerias e prêmios e, ao mesmo tempo, com sérios desafios pela frente, especialmente diante de uma
grave situação social, que não se estabilizava, e diante da qual
não se podia planejar com segurança. A crise social e econômica
tinha levado numerosas famílias de classe média a procurar a
entidade, definindo novos programas específicos para atender
esta faixa de assistidos.
Em 1995, a Unibes concluiu uma ampla reforma, iniciada em
1993, que praticamente renovou e remodelou todas as instalações
da entidade, mantendo-se a fachada original dos prédios inaugurados no início dos anos 60. Foi com esta reforma que se deu a
unificação física total dos prédios da Ofidas e da Policlínica, que
eram vizinhos na Rua Rodolfo Miranda e que se tornaram a sede
da Unibes em 1976.
Os prêmios “Bem Eficiente” (1997 e 1999) concedidos pela
consultoria Kanitz & Associados, a menção honrosa do Prêmio
Since 1990, Unibes has expanded its service
by broadening its operational structure and its
offer of projects and programs. In the second
half of the 1990s, the organization’s national
and international reputation for model assistance grew even further. During this same period, given the social and economic crisis, the
demand from middle class individuals and families had intensified so much, partly changing
the profile of the assisted and creating a phenomenon called “new poverty” within the Jewish community.
This new profile of assisted was one of the
central concerns of Dora Lúcia Brenner’s management, who assumed the presidency in 2000.
She had the twofold responsibility of managing
a society with many partnerships and awards
and, at the same time, was faced with serious challenges ahead, especially in light of the
grave and unsteady social situation, as a result
of which one cannot plan with confidence. The
social and economic crisis has prompted numerous middle class families to seek the society’s assistance, thus defining specific new programs to
meet this new group of beneficiaries.
In 1995, Unibes completed its extensive restructuring reform, which had started in 1993
and renovated and remodeled virtually the organization’s entire facility, keeping the original façade of the buildings which opened in the early
‘60s. This reform made the total physical unification of the buildings of Ofidas and Polyclínica
feasible. The two societies had been neighbors
on Rua Rodolfo Miranda and had become the
headquarters of Unibes in 1976.
The “Bem Eficiente” (“Very Efficient”) prizes,
awarded in 1997 and 1999 by the consulting firm
Kanitz & Associados, the honorable mention for
the Human Rights Award, promoted by the Secretary of State of the Human Rights Department
in the Ministry of Justice and awarded by the
President in 1999, in addition to being a finalist
for the Prêmio Itaú-Unicef Educação e Participação (for the program Oficina de Convivência
Esportiva) in 1997/1998, further projected the
work of Unibes within the society at large. The
honorable mention for the Prêmio Direitos Humanos in 1999 was personally delivered by thenPresident Fernando Henrique Cardoso to Anita
Schuartz, the president of Unibes, during a ceremony at Palácio do Planalto in Brasília.
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 107
Atividade musical no Centro da Criança e do Adolescente, que atende a faixa etária de 6 a 15 anos. Musical activity in the Center
for Children and Adolescents, which serves children aged 6 to 15 years.
According to Anita Schuartz, who served as
president of the organization between 1990 and
2000, in her statement for the 85th anniversary
book, “I am genuinely proud to have participated
in a job such as this one, in which professionals
and volunteers dedicate themselves to the incredible mission of trying to rescue the dignity, respect
and self-confidence of those who inquire about
us. We have won many awards, thanks to our professionals who were the most responsible for this.
We tried to show them our appreciation through
a number of actions: when we won the Prêmio
Bem Eficiente in 2000, for instance, we delivered
a personalized souvenir to each employee.”
Unibes was also awarded three times by the
federal government’s Comunidade Solidária,
with the projects “Globalized world: what is one
108 Direitos Humanos, concedido pela Presidência da República e
promovido pela Secretaria de Estado dos Direitos Humanos do
Ministério da Justiça em 1999, além de menções como ter sido
finalista do Prêmio Itaú-Unicef Educação e Participação (com
o programa Oficina de Convivência Esportiva) em 1997/1998,
projetaram na sociedade em geral o trabalho desenvolvido pela
entidade. A menção honrosa do Prêmio Direitos Humanos foi
entregue pessoalmente pelo presidente Fernando Henrique Cardoso a Anita Schuartz, presidente da Unibes entre 1990 e 2000, em
solenidade no Palácio do Planalto, em Brasília.
Segundo Anita Schuartz, em depoimento ao livro de 85 anos,
“é um orgulho muito grande para mim ter participado de um
trabalho como este, no qual profissionais e voluntários se dedi-
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
cam à incrível missão de tentar resgatar a dignidade, o respeito e
a autoconfiança daqueles que nos procuram. Ganhamos muitos
prêmios, e foram nossos profissionais os maiores responsáveis por
isso; tentamos demonstrar a eles o nosso reconhecimento por
meio de algumas ações: quando ganhamos o Prêmio Bem Eficiente, em 2000, entregamos a cada funcionário uma lembrança
com o seu nome registrado”.
A Unibes foi também três vezes premiada pelo Comunidade
Solidária do governo federal, com os projetos “Mundo globalizado: o que pensar?”, em 1999; Projeto “Capacitação Profissional
de Jovens: Escalada para o Terceiro Milênio”, em 1998, e projeto
“Capacitação Profissional de Jovens: Cidadão do Amanhã”, em
1997. Entre outros projetos, prêmios e indicações, pode-se citar
também o Projeto “Oficinas de Múltipla Escola: Aprender com
Liberdade”, da Fundação Vitae, nos anos de 1997 e 1998, e a indicação, entre apenas quatro entidades do Brasil, para o prêmio
Conrad N. Hilton Humanitarian Prize, em 1998.
O prêmio Bem Eficiente, que já foi chamado pela imprensa
de “iso da filantropia” e de o “mapa do bem”, tornou-se uma referência obrigatória em sua área. As 50 entidades filantrópicas do
Terceiro Setor, beneficentes e que ajudam o próximo diretamente,
escolhidas a cada ano, são consideradas muito bem administradas.
Em 1997, um total de 230 entidades habilitaram-se ao prêmio.
Em 1999, um evento especial catalizou as atenções da entidade. O Projeto “Adote um Artista” teve 17 patrocinadores e um time
de artistas plásticos de renome que acompanhou jovens atendidos
na Unibes que elaboraram, nos próprios ateliês dos artistas, um
trabalho de arte. Os artistas plásticos que participaram foram Silvio Oppenheim, Aldemir Martins, Antônio Peticov, Bob Wolfenson, Cláudio Tozzi, Emanoel Araújo, Gustavo Rosa, Ivald Granato, Kimi Nii, Pinky Wainer, Rômulo Fialdini, Sara Carone e Tuneu.
Uma seleção da produção dos jovens, com a fotografia do jovem
e do artista plástico, ilustra o calendário da entidade do ano 2000.
A Unibes vem sendo considerada como uma entidade modelo na gestão e aplicação de recursos. Esta experiência de gestão foi
importante inclusive para a Fundação Getúlio Vargas (fgv) de São
Paulo montar o seu primeiro curso de administração do Terceiro
Setor, tendo a Unibes como um case de estudo permanente.
to think?” in 1999; Project “Professional Training of Young People: Climbing to the Third Millennium” in 1998; and the project “Professional
Training of Young People: Citizens of Tomorrow”
in 1997. Among other projects, awards and nominations, one can also bring up the project “MultiSchool Workshops: Learning from Liberty” years
1997 and 1998; and the nomination, among just
four societies in Brazil, for the Conrad N. Hilton
Humanitarian Award, in 1998.
The “Bem Eficiente” Award, named “ISO of
philanthropy” and the “map of doing good” by
the press, became an obligatory point of reference in its area. The fifty philanthropic nonprofit
Third Sector charities, that provide direct assistance, chosen each year, are all considered very
well-managed. In 1997, 230 societies qualified
for the award.
In 1999, a special event drew the attention
of the society: the Project “Adopt an Artist”. It
gained seventeen sponsors and a team of renowned artists who guided the youngsters
served by Unibes in works of art the youngsters
themselves elaborated in the artists’ own studios. The artists who participated were Silvio
Oppenheim, Aldemir Martins, Antônio Peticov,
Bob Wolfenson, Cláudio Tozzi, Emanoel Araújo, Gustavo Rosa, Ivald Granato, Kimi Nii, Pinky
Wainer, Rômulo Fialdini, Sara Carone and Tuneu.
A selection of the youngsters’ productions, accompanied by each child’s photograph alongside the artist, illustrated the society’s year calendar in 2000.
Unibes has been considered a model society
concerning management and application of resources. This management experience was important even to Fundação Getúlio Vargas (FGV)
in Sao Paulo, when preparing their first course
in Third Sector Administration, having Unibes as
a permanent case study.
“We feel we are in the vanguard of social service, mainly when we visit other societies”, said
Dora Lúcia Brenner, in her statement for the
book commemorating Unibes’ 85th anniversary.
She added “there is a ‘new poor’ because a high
percentage of people who come to ask for help
fit within this profile. There was a group of people who were already being helped and who are
able to progress a little, like sick elderly patients.
The new poor are the middle class, lower middle,
sometimes upper middle, whose level dropped
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 109
due to the country’s situation; for they are more
demanding, and the most difficult thing is keeping one’s dignity and replacing it to face a new
reality. We must act towards applying the concept
of ‘tzedaká’ in our Social Services, i.e. that of dignity and of promotion, and not just assistance,
because the standard of care is higher. There are
people who are still ashamed to address the institution; people who either do not know or are not
aware they need it. As long as the crisis endures
in Brazil, this demand will exist and may increase.
What most costs on today’s family are health expenses, in which a fall in income is first felt.”
From that first aid, made from home to
home, in the year 1915—when a Jewish community did not even exist as such, but only a
few dozen families—to the brink of passage
from the 20th to the 21st century—was a path
of transformation and care for the needy , assisted or users. Each of the societies, each of the
models of care, was modern and contemporary
in its time, consolidating Unibes as a model of
work and service to the Jewish community and
society in general.
110 “Nós sentimos que estamos na vanguarda do Serviço Social,
e sentimos isso quando vamos a outras entidades”, afirmou Dora
Lúcia Brenner em depoimento ao livro de 85 anos da Unibes,
acrescentando que “há um ‘novo pobre’ porque uma elevada porcentagem das pessoas que vêm pedir ajuda encaixa-se neste perfil.
Havia uma faixa de pessoas que já eram ajudadas e as quais se
consegue promover pouco, como idosos doentes. O novo pobre é
a classe média, média baixa, às vezes média alta, que caiu de nível
por causa da situação do País; eles são mais exigentes, e o mais
difícil é manter a dignidade da pessoa e reposicioná-la diante de
uma nova realidade. Temos que ter a postura de aplicar em nosso
Serviço Social o conceito de tsedaká, de dignidade e de promoção,
e não apenas de assistencialismo, porque o padrão de atendimento
é maior. Há pessoas que ainda têm vergonha de procurar a instituição, que não sabem que precisam, não se conscientizaram.
Enquanto durar a crise no Brasil, esta demanda vai existir e pode
aumentar. O que mais pesa na família hoje é a área da saúde, onde
a diminuição de rendimento é sentida primeiro”.
Daquele primeiro auxílio, feito de casa em casa, no ano de
1915, quando ainda nem existia uma comunidade judaica, mas
apenas algumas poucas dezenas de famílias, ao limiar da passagem
do século 20 para o século 21, foi uma trajetória de transformações
e de atendimento aos necessitados, assistidos ou usuários. Cada
uma das entidades, cada um dos modelos de atendimento, foi
moderno e contemporâneo à sua época, consolidando a Unibes
como modelo de trabalho e de atendimento na comunidade judaica e na sociedade em geral.
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
8
Renovar, inovar e manter a tradição:
desafio rumo aos 100 anos
To renew, to innovate and to maintain the tradition: a challenge for 100 years
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 111
p. 111 Em parceria com a Galeria Choque Cultural, a Unibes abriu as portas da sua unidade Núcleo Sócio-Educativo para
que 17 artistas pintassem um grande painel coletivo em sua quadra de esportes. As pinturas utilizaram diversas técnicas,
entre elas, colagem, spray e stencil. A parceria, no ano de 2009, envolveu outros projetos, como a realização de workshops
educativos para incentivar o interesse pela arte. As reproduções de obras deste capítulo integram este projeto..
acima Anita Schuartz e Bruno Laskowsky no evento da Câmara Municipal que homenageou os 95 anos da Unibes.
p. 111 In partnership with the Culture Shock Gallery, Unibes opened the doors to its Socio-Educational Center, so that 17 artists could
paint a large, collective panel in their gymnasium. The painters used diverse techniques, among them, collage, spray, and stencil. The
partnership, in 2009, also involved other projects, such as educational workshops, to encourage interest in the arts. Reproductions of
works in this chapter are part of this project. above Anita Schuartz and Bruno Laskowsky at the City Council event that paid tribute
to the 95 years of Unibes.
112 pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
A
o completar 95 anos de história e se aproximar da celebração do seu primeiro centenário, a Unibes segue
empreendendo sua missão social entre a tradição, a renovação e a inovação. No campo da assistência social, mudam
as necessidades e os enfoques de trabalho, mudam também as
concepções, os conceitos e as ferramentas para gerir as entidades. É uma história dinâmica na qual os novos desafios exigem
constantemente novas respostas e novos modelos de atuação. O
fenômeno da globalização trouxe inéditas oportunidades e parâmetros de integração entre os continentes, os países e dentro de
cada sociedade. Mas, igualmente, trouxe desafios ainda maiores
de inclusão e promoção social.
Processo de governança e melhores práticas corporativas,
busca de sustentabilidade e eficiência na gestão são conceitos que
se tornaram parte do dia a dia da instituição desde o início da
gestão liderada pelo presidente Bruno Laskowsky, para quem “a
Unibes é benchmark entre as entidades que atendem a comunidade, a municipalidade e uma instituição que tem uma reputação
do mais alto patamar entre as organizações de assistência social
do País. O desafio da atual diretoria é garantir a continuidade
sustentável da entidade, de sua identidade e cultura e trabalhar
para deixar a instituição melhor para as próximas gerações. Com
isso, a Unibes pode continuar a realizar um trabalho rigoroso e
completo de tecnologia de ponta no mundo social”.
A
t the completion of 95 years of history
and approaching its centennial celebration, Unibes continues implementing its
social mission of tradition, renewal and innovation. In the field of social welfare, not only needs
and approaches to work change, but also conceptions change - the very concepts and tools
that manage the institutions. It is a dynamic history through which new challenges constantly
demand new responses and role models. The
phenomenon of globalization has brought unprecedented opportunities and parameters of
integration among continents, countries and
within each and every society. It also however
brought greater challenges for inclusion and
social promotion.
Processes of governance, corporate best practices, and the search for sustainability and efficiency in management are concepts that have
become part of everyday life of the institution
since the beginning of its management under
President Bruno Laskowsky According to him,
“Unibes is a benchmark among institutes that
serve the community, the municipality and an
institution that is reckoned at the highest level
among social service organizations in the country.
The challenge for the current management is to
ensure the sustainable continuity of the institution, its identity, its culture and work to make the
institution better for generations to come. Unibes
can thus continue to implement its rigorous work
with cutting edge technology in the social world.”
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 113
Os artistas que participaram do projeto foram: Cesar Profeta, Zézão, Boleta, Nove, Minhau, Chivitz, Presto, Speto, Mzk, Ramon Martins, Whip Dxl, Shn, Meã, Pjota, Luciano Scherer, Titi Freak e Daniel Melin. The artists who participated in the project were: Cesar Profeta, Zézão, Boleta, Nove, Minhau, Chivitz, Presto, Speto, Mzk, Ramon Martins, Whip Dxl, Shn, Meã, Pjota, Luciano Scherer, Titi Freak and Daniel Melin.
In order to accomplish this goal it must renew itself: “I usually say I took over a blessed
heritage and applied a quantitative and qualitative leap through a management shock to
it. We developed a change in the institutional mode. Such transformation symbolizes an
important passage throughout the history of
Unibes and in the context of the course of Jewish organizations as a whole. We developed
a change in the institutional model and this
transformation symbolizes an important passage throughout the history of Unibes and in
the context of the trajectory of Jewish organizations as a whole. We added new content of
policy management which has been learned in
the business world and adapted/adjusted them
to be assimilated and improved by the Institution. This ‘new’ look had important implications
in the management model of Unibes, namely in
the areas of finance, administration, and marketing, and in its own welfare (and social services, child and adolescent).
According to Mr. Laskowsky, “the new vision
that we imprint on the institution brings management and governance together in line with
best practices from the corporate world—with
the love of the volunteers and those that direct
Unibes. This made executive directors gain social sensitivity and the professionals and volunteers acquire management tools for the social
field. There was understanding and convergence
between these two dimensions of the work. As
114 Para realizar este objetivo é preciso renovar-se: “Costumo
dizer que assumi uma herança bendita e, a partir dela, demos
um salto quantitativo e qualitativo por meio de um choque de
gestão. Realizamos uma mudança no modelo institucional e essa
transformação simboliza uma passagem importante na história da Unibes e no contexto da trajetória das entidades judaicas.
Adicionamos um novo conteúdo de políticas gerenciais aprendidas no mundo ‘empresarial’ e as adaptamos/ajustamos para
que estas fossem assimiladas e melhoradas pela Instituição. Este
‘novo’ olhar teve implicações importantes no modelo de gestão
da Unibes, nomeadamente nas áreas financeira, administrativa,
de marketing e nos próprios departamentos de assistência social
(e serviço social, menor e adolescente)”.
Ainda conforme Laskowsky, “a nova visão que imprimimos
à entidade une gestão e governança – alinhadas às melhores práticas do mundo corporativo – ao amor dos voluntários e dos que
dirigem a Unibes. Com isso, os diretores executivos ganharam
sensibilidade social e os profissionais e voluntários da área social
adquiriram ferramentas de gestão. Houve entendimento e convergência entre estas duas dimensões do trabalho e, com isso,
criamos um ótimo modelo, que se preocupa com orçamento,
metas e indicadores de performance”.
Esta transformação tem por objetivo, portanto, “garantir a
sustentabilidade e a perenidade da instituição e, como consequên-
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
cia, dar mais consistência ao trabalho de serviço social e na área
do menor e do adolescente. Este modelo agrega benefícios aos
assistidos, permite reduzir a dependência de doações pontuais e,
por meio de apurados controles de gestão, garante credibilidade
aos doadores. Faz parte dos valores e do papel da comunidade
judaica dar o exemplo de justiça social e de tzedaká. Os grupos
que recebem o nosso trabalho social entendem o esforço da comunidade e, igualmente, percebem que esta dimensão altruísta
é inerente à cultura judaica e à forma como nossa comunidade
está inserida na sociedade brasileira”, afirma o atual presidente.
Sustentabilidade e geração de recursos
A Área de Sustentabilidade e Desenvolvimento Institucional
foi criada pela nova gestão e está focada na geração de recursos
por meio de projetos que garantam autossustentabilidade e continuidade. Conforme sua vice-presidente, Célia Kochen Parnes:
“O grupo envolvido nas ‘áreas de negócios’ da Unibes tem uma
formação empresarial e de varejo e realiza seu planejamento e
orçamento de forma estratégica, com dois anos de antecedência,
o que permite estruturar a captação com um prazo adequado. O
foco é dirigir os esforços para as áreas que vêm tendo sucesso, que
conhecemos melhor, nas quais sabemos atuar com competência
e ampliar cada vez mais estas ações”, continua Célia.
A busca pela sustentabilidade, utilizando conceitos e ferramentas consolidadas no exterior, teve um marco em 2004, quando
a Unibes criou o “Brindemos”, uma linha de produtos corporativos sofisticados e exclusivos e editou um catálogo que apresentava, além de brindes, presentes e troféus especialmente desenhados
por designers e artistas plásticos. Os produtos seguiam uma série
de critérios, como o de serem confeccionados com materiais recicláveis, de não utilizar mão de obra infantil e de estarem alinhados
a uma filosofia de produção sustentável, mas a entidade deixou de
investir em desenvolvimento nessa área e prioriza os Bazares, os
Eventos, a Captação de Recursos e o Marketing como seus principais pilares na busca de sustentabilidade financeira. “Atualmente,
20% de nosso orçamento provém de fontes próprias. Nossas áreas
de negócios. O que para nós é de grande satisfação e mostra que
a result we created a great model that is concerned with budget, targets and performance
indicators.”
This transformation aims, therefore, “at ensuring sustainability and continuity of the institution and, consequently, at giving more consistency to the social service work and in the
field of child and adolescent services. This model
brings benefits to those attended, permits reduction of dependence on occasional donations and,
through established management controls, ensures credibility to the donors. It means that part
of the values and the role of the Jewish community set an example of social justice and tzedaká (charity). The groups that receive our social
work understand the effort of the community
and also perceive that this altruistic dimension
is inherent in Jewish culture and how our community is embedded in Brazilian society”, affirms
the current President.
Sustainability and resource generation
The Department of Sustainability and Institutional Development was created by the
new management and is focused on generating resources through projects that ensure
self-sustainability and continuity. According
to its Vice President Célia Parnes Kochen: “The
group engaged in the ‘business departments’ at
Unibes have a background in business and retail and carry out their planning and budgeting
in a strategic way, with a two-year projection,
which allows for the structure of fund-raising
to be organized within an adequate timeframe.
The focus is to direct efforts from the departments that have been successful, and which we
know best, to those which we can influence with
expertise and steadily improve these actions”,
continues Célia.
The search for sustainability, based on concepts and tools consolidated abroad, set up its
milestone back in 2004 when Unibes created
the “Brindemos”, a sophisticated and exclusive
line of business products including a catalog,
presents, gifts and trophies specially designed
by designers and artists. The products met a
series of criteria, such as being made from recyclable materials, not using child labor, and
being aligned with a philosophy of sustainable
production. Notwithstanding, the organiza-
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 115
tion discarded the investment on the development in this area, and highlighted bazaars,
events, fundraising and marketing as its main
pillars in the pursuit of financial sustainability.
“Currently, 20% of our budget comes from our
own sources; our own business departments.
That, to us, is of great satisfaction and it shows
that we can generate resources internally, and
not just seek them externally”, states Célia Kochen Parnes.
Additionally, she continues, “an essential and
immense source of our pride is our staff- in fact,
our most precious asset. They are the day-to-day
of the institution, some of them for many years,
such as social worker João Batista Aducci, who has
been with us for 50 years; Selma Schuchman, for
52 years; Germana Langone Crosta, for 30 years;
Odete Calantone Monteiro, for 31 years; Zenóbia
Duch, for 33 years; and Henrique Sérgio Sznifer,
for 13 years; among many others.”
Besides, emphasizes Célia, “they carry the
DNA and the code of ethics of the organization
along with them, throughout several generations of managers of the institution. They know
the work and Unibes as a whole profoundly, and
many times end up being informal coaches to
the new boards.”
Fundraising and Partnerships
The department of fundraising, which is directed by Fanny Michaan Terepins, was established in 2007 with the objective of improving existing partnerships and of endorsing the
Unibes mission regarding education, culture,
health and social promotion with excellence.
For this ideal to be met, some strategies were
created to support the fundraising actions. After
the analysis of revenue sources, the need was
identified to create a relation between programs
and activities, which resulted in an institutional
folder for fundraising, including an English version, in order to receive international certification for prospective donors, both from individuals and from foreign companies. From then on,
there were systemized partnership agreements
for all projects and defined processes for participation in proclamations. For instance, the Advocacy Program, financed by lawyers and law
firms, and other fundraising strategy programs,
like the recent Programa Gastronomia Solidária
116 se pode produzir recursos internamente, e não apenas buscar externamente”, afirma Célia Kochen Parnes.
Além disso, prossegue ela, “essencial e imensa fonte de orgulho para nós é a nossa equipe de funcionários. Nosso ativo mais
precioso. São o dia a dia da entidade, alguns há muito tempo, como
o assistente social João Batista Aducci, que está conosco há 50 anos;
Selma Schuchman, há 52 anos; Germana Langone Crosta, há 30
anos; Odete Calantone Monteiro, há 31 anos; Zenóbia Duch, há 33
anos, e Henrique Sérgio Sznifer, há 13 anos, entre tantos outros.”
Além disso, enfatiza Célia, “eles carregam o dna e o código
de ética da entidade consigo, por várias gerações de gestores da
entidade. Conhecem profundamente seu trabalho e o da Unibes
como um todo, e acabam inúmeras vezes sendo coaches informais
das novas diretorias”.
Captação de recursos e parcerias
A área de Captação de Recursos, que tem como diretora
Fanny Michaan Terepins, foi estabelecida em 2007 com o objetivo
de aperfeiçoar as parcerias existentes, promovendo com qualidade
a missão da Unibes no que se refere a educação, cultura, saúde e
promoção social.
Para que esse ideal seja cumprido, foram criadas algumas
estratégias de suporte à ação de captação. Após a análise das fontes de receita, foi identificada a necessidade da criação de uma
relação de programas e de atividades, que resultou em um folder institucional de captação de recursos, incluindo versão em
inglês, com o objetivo de receber uma certificação internacional
para prospecção de doadores, tanto pessoas físicas como empresas estrangeiras. A partir daí foram sistematizados contratos de
parcerias para todos os projetos e definidos processos de participação em editais, programas da área social, como, por exemplo,
o Programa Advocacia, financiado por advogados e escritórios da
área, e outros de estratégia de captação, como o recente Programa Gastronomia Solidária.
Paralelamente instituiu-se o conceito de fidelização, gerando
o envolvimento de parceiros no programa Forças da Comunidade,
que hoje atende 1.300 famílias em situação de média e baixa com-
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
O trabalho de um
dos artistas que
participaram do
projeto em parceria
com a Galeria Choque
Cultural na Unibes
em 2009.
The work of one
of the artists who
participated in the
project in partnership
with the Culture Shock
Gallery in 2009.
plexidade social. As famílias são acompanhadas por uma equipe
multiprofissional com assistentes sociais, psicólogos, psiquiatras,
terapeuta ocupacional, educadora, enfermeira, além de instituições públicas e privadas que dão suporte ao atendimento visando
a promoção e o cuidado destas famílias. Este é um programa que
permite pessoas físicas e jurídicas adotarem e acompanharem o
histórico do processo de evolução das famílias, mantendo o devido sigilo técnico.
Com a parceria da Microsoft, a Unibes implantou o crm como
ferramenta de gestão para garantir a qualidade e a eficiência no
relacionamento com os parceiros, com um projeto customizado
para as necessidades da Unibes. “A área de captação oferece suporte em todos os eventos e ações institucionais. O objetivo para
o futuro próximo é fortalecer a área com mais recursos humanos,
criando uma agenda anual que permita um planejamento estratégico integrado com toda a diretoria envolvida na captação”,
conclui Fanny Terepins.
Eventos e bazares
Shows, eventos e jantares são organizados anualmente e um
calendário é elaborado cuidadosamente para garantir a continui-
(Gastronomic Corroboration Program), supporting the social programs.
In parallel, it established the concept of loyalty, generating the involvement of partners
in the program Forças da Comunidade, which
now serves 1,300 families in middle and low
social complexity. Families are accompanied by
a multi-disciplinary team with social workers,
psychologists, psychiatrists, an occupational
therapist, an educator, a nurse, as well as public
and private institutions that lend their support
thus targeting at the promotion of and care for
these families. This is a program that allows
for individuals and corporations to adopt and
follow the history of the evolutionary process
of the families, maintaining the due technical secrecy.
In partnership with Microsoft, Unibes implemented the CRM as a management tool to ensure quality and efficiency in the relationship
with partners, with a design customized to the
needs of Unibes.
“The fundraising department offers support
in all events and institutional actions. The goal
for the near future is to strengthen the area with
more human resources, creating an annual schedule that allows for integrated strategic planning
with the entire board involved in the fundraising”,
says Fanny Terepins.
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 117
Events and Bazaars
Concerts, events and dinners are organized
annually and a calendar is carefully prepared to
ensure continuity. As examples of recent events,
we can highlight the premiere of the musicals
“Beatles num Céu de Diamantes (Beatles in a
Sky of Diamonds)” and “A Noviça Rebelde (The
Sound of Music)”, not to mention the presentation of the Jerusalem Symphony Orchestra,
conducted by maestro Yeruham Scharovsky, at
Sala São Paulo, both the result of a unique partnership to benefit Unibes and the Liga Solidária,
under the careful management of director Denise Zaclis Anthony.
The events have come to occupy a prominent place in the Unibes performance indicators, with significant funding from sponsors
and audiences. In addition, they publicize the
organization, always combining quality culture with social responsibility. “It is essential to
have a real dimension of the volume of resources that Unibes needs and moves”, cites Denise,
“when the issue is to define the selection criteria
of events.”
The Permanent Bazaars at Unibes is central
to the strategy of the sustainability division, and
the changes made by the current board are examples of the direction of transformation that
the institution follows. Through the Bazaar,
Unibes learned to generate income from the
ability to share value between those who no
longer needed objects, furniture, utensils, clothing, and other items and those who can give
them new life and value in use. It is a true stock
market that generates resources and helps to
make the entity self-sustaining.
The control of the Bazaars was completely
reworked by the current director Daniel Pedro
Machlup. He deployed the latest inventory management and sales software, which allows for
the bazaar to be managed like a modern enterprise. All products have a bar code and lot
number, from the time they leave the home of
the donator. In stores, security is outsourced and
constantly monitored by cameras in a monitoring station. “The Bazaar is a prime example of the
new management concepts, combining tradition
and modernization”, says Daniel.
The sorting of donations is around 1,500
items per day among clothes, furniture, books,
118 Formatura do Programa de Capacitação Profissional Unibes – Instituto George M. Klabin. Graduation of the Unibes Professional Training Program – George
M. Klabin Institute.
dade. Como exemplos de eventos recentes, destacam-se a pré-estreia dos musicais “Beatles num Céu de Diamantes” e “A Noviça
Rebelde” e também a apresentação da Orquestra Sinfônica de
Jerusalém, sob regência do maestro Yeruham Scharovsky, na Sala
São Paulo, ambos resultado de uma inédita parceria em benefício
da Unibes e da Liga Solidária, sob a gestão criteriosa da diretora
Denise Zaclis Antão.
Os eventos vêm ocupando lugar de destaque nos indicadores
de resultados da Unibes, com captações expressivas de patrocinadores e de público presente. Além do que, divulgam a entidade,
sempre associando cultura de qualidade à responsabilidade social.
“É essencial ter a real dimensão do volume de recursos que a
Unibes necessita e movimenta”, cita Denise, “quando a questão
é definir o critério de seleção de eventos”.
O trabalho dos Bazares Permanentes Unibes é central na
estratégia da Área de Sustentabilidade e as mudanças realizadas
pela atual diretoria são exemplos do rumo de transformações
que a entidade segue. Por meio do Bazar, a Unibes aprendeu a
gerar renda a partir da capacidade de compartilhar valor entre os
que não necessitam mais de objetos, móveis, utensílios, roupas e
outros itens com quem pode lhes dar nova vida e valor de uso. É
um verdadeiro mercado de valores que gera recursos e contribui
para tornar a entidade autossustentável.
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
Os controles dos Bazares foram inteiramente reformulados
pelo atual diretor Daniel Pedro Machlup, implantando-se o mais
moderno software de gestão de estoque e de vendas, que permite ao Bazar ser gerenciado como uma empresa moderna. Todos
os produtos têm código de barras e seu número de lote, desde
quando sai da casa do doador. Nas lojas, a segurança é terceirizada e permanentemente controlada por câmeras em uma central
de monitoramento. “O Bazar é um exemplo emblemático dos
novos conceitos de gestão, unindo a tradição à modernização”,
afirma Daniel.
A triagem das doações gira em torno de aproximadamente
1.500 peças por dia entre roupas, móveis, livros, eletroeletrônicos, eletrodomésticos, brinquedos e acessórios em geral. São em
média 50 retiradas diárias realizadas por oito veículos com data
marcada. Possui atualmente quatro lojas: Filial 1, na Rua Rodolfo
Miranda, 150; Filial 2, na Rua Rodolfo Miranda, 293, ambas no
Bom Retiro; Filial 3, na Av. Celso Garcia, 165, no bairro do Brás; e
Filial 4, na Rua Guarani, 63, Bom Retiro. O horário de funcionamento é de segunda a quinta das 9h00 às 18h30, sextas das 9h00
às 17h30, e domingos e feriados das 9h00 às 16h00. “A entidade
pretende abrir novas lojas e levar adiante as mudanças até chegar
a um conceito de Unibes Stores”, conta, motivado, Daniel Machlup.
Marketing e assessoria de imprensa
O setor de Marketing e Assessoria de Imprensa, sob a diretoria de Mirella Morabia Radomysler, também se modificou com
a atual gestão, tendo uma visão de mercado, trabalhado em conjunto com as diversas áreas da instituição e mantendo, assim, uma
visão ágil de suas necessidades e realizações. Com isso, consegue
ter uma identidade corporativa que padronizou a linguagem com
que se apresenta ao público.
Conforme Mirella: “Para mim a Unibes é uma instituição
ímpar. Atua de forma incisiva na comunidade judaica e inspiradora em relação à comunidade maior. É uma daquelas instituições
modelo, que todo mundo quer saber como funciona e o segredo
do sucesso que afinal se traduz também na sua longevidade. Estava na hora de mostrar ao público, àqueles que não conhecem e
electronics, appliances, toys and accessories in
general. On average, there are 60 pickups made
per day, by eight vehicles, with dates and times
pre-arranged. The Bazaar currently has four
stores: Branch 1, on Rua Rodolfo Miranda, no
150 and Branch 2, on Rua Rodolfo Miranda, nr
293, both in Bom Retiro; Branch 3, on Avenida
Celso Garcia, nr 165, in the Brás neighborhood;
and Branch 4, on Rua Guarani, nr 63, also in Bom
Retiro. The opening hours are Monday through
Thursday from 9:00 am to 6:30 pm, Friday from
9:00 am to 5:30 pm, and on Sundays and holidays from 9:00 am to 4:00 pm. “The organization plans to open new stores and carry out
the changes until we reach a concept of Unibes
Stores”, says Daniel Machlup, enthusiastically.
Marketing and Public Relations
The Marketing & Media Relations Department, under the direction of Mirella Morabia
Radomysler, also changed under the current
administration, with a market vision and working together with the various sectors of the institution, thus maintaining an agile balance of
their needs and accomplishments. With that, it
was possible to build a corporate identity that
standardized the language in which it presents
itself to the public.
According to Mirella: “To me, Unibes is a
unique institution. It operates in an incisive manner in the Jewish community and inspiringly in
relation to the larger community. It is one of
those model institutions, which everyone wants
to know how it works and the secret of its success
which ultimately also translates into its longevity. It was time to show the public, to those who
don’t know, and to those who have heard about
what we do and why we are a major Jewish institution. My biggest challenge was and continues
to be counting all the activities that we hold and
develop. Here, there is something for everyone.
For children, for the elderly, there is leisure and
culture. A great pleasure, however, is to capture
people’s attention to the world that is Unibes. I
recently discovered it, and my goal is to reveal to
as many people as possible this great and fantastic work.”
The marketing work is, in large part, conceived and conducted within the institution by
a team of volunteers and professionals whom,
together, create various public and some inter-
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 119
nal ad campaigns. A strong partnership with
Grupo Eugênio ensures Unibes’s biggest campaigns. The Press Relations are also performed
autonomously by the internal Unibes team and
has achieved impressive results together with
its vehicles for dissemination. “The media have
shown interest in the changes that Unibes is
presenting”, says Mirella.
Code of ethics and standards of
control
Unibes, over its 95-year existence, has always
believed in the importance of management
guided by transparency, respecting the ethical
and moral principles. By acting this way, it was
able to build solid and sustainable foundations
to ensure development and sustainability of the
institution for generations to come.
“The current board is committed to the modernization of the management tools of the institution”, says Marcelo Felberg, Vice President of
Administration and Finance, “in order to ensure
the sustainability of its programs. They have implemented in recent years a number of policies
and practices, such as budget control, a system
for an information management code of ethics,
and standards of internal control, external auditing performed by a top-line national enterprise,
as well as several other management tools. The
increase in our assistance activities and volume
of financial transactions makes it necessary to
use a system enabling control and automation
of our transactions.”
“Aware of the changes and the adoption of
new management practices and governance, including the third sector, Unibes sought to enhance
their internal policies and practices of management and corporate governance over the past six
years. Thus, in the view of its administration, the
organization is now a modern institution and
aware of the need for accountability to society”,
says Felberg.
Inside Unibes, the department of financial
administration carries out several assignments
including ensuring that the institution is run
efficiently, adequately, and always with appropriate material resources, financial and human, to support its various welfare programs.
A comprehensive project to restructure the administrative and financial management was
120 àqueles que ouviram falar, o que fazemos e por que somos a principal entidade judaica. O meu maior desafio foi e continua sendo
contar todas as atividades que temos e desenvolvemos. Aqui tem
para todos os gostos. Para criança, para idoso, tem lazer e cultura.
Um grande prazer, no entanto, é captar a atenção das pessoas
para esse mundo que é a Unibes. Eu descobri recentemente e
meu objetivo é revelar ao maior número de pessoas possível esse
trabalho enorme e fantástico”.
O trabalho de marketing é, em grande parte, concebido e
realizado dentro da instituição por uma equipe de voluntários e
de profissionais que, inclusive, criam diversos anúncios e algumas
campanhas. Uma forte parceria com o Grupo Eugênio garante as
grandes campanhas da Unibes. A Assessoria de Imprensa também
é realizada de forma autônoma pela equipe interna da Unibes e
tem conseguido resultados impressionantes com os veículos de
divulgação. “A imprensa tem se mostrado interessada nas mudanças que a Unibes vem apresentando”, conta Mirella.
Código de ética e normas de controle
A Unibes, ao longo de seus 95 anos de existência, sempre
acreditou na importância de pautar sua gestão pela transparência,
respeitando os princípios éticos e morais. Ao atuar dessa forma,
foi capaz de construir bases sólidas e sustentáveis para garantir seu
desenvolvimento e a perenidade da instituição para as gerações
vindouras.
“A atual diretoria está comprometida com a modernização
das ferramentas de gestão da instituição”, conta Marcelo Felberg, vice-presidente Administrativo e Financeiro, “como forma
de garantir a sustentabilidade de seus programas, tendo implantado nos últimos anos diversas políticas e práticas, tais como
controle orçamentário, sistema de informações gerenciais código de ética e normas de controle interno, auditoria externa feita
por empresa nacional de primeira linha, além de diversas outras
ferramentas de gestão. O aumento de nossas atividades assistenciais e dos volumes de transações financeiras torna necessário o
uso de um sistema que possibilite o controle e a automação de
nossas transações”.
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
Atenta às mudanças e à adoção de novas práticas de gestão e
de governança, incluindo o terceiro setor, a Unibes buscou aprimorar suas políticas e práticas internas de Gestão e Governança
Corporativa ao longo dos últimos seis anos. Dessa forma, na ótica
de sua administração, a entidade é hoje uma instituição moderna
e ciente da necessidade de prestação de contas para com a sociedade, conforme Felberg.
Dentro da Unibes, a área administrativa financeira tem diversas atribuições entre as quais assegurar que a instituição funcione
de forma eficiente, adequada e sempre com recursos materiais,
financeiros e humanos suficientes para apoiar seus diversos programas assistenciais. Um projeto abrangente de reestruturação
de gestão administrativa e financeira foi implementado a partir
de 2005. Esse trabalho envolveu profissionais de diversos setores
implemented in 2005. This work has involved
professionals from different sectors of Unibes,
volunteers and also had the support of external
consultants. The results exceeded the expectations and, among many others, some highlights
included:
• Establishment of committees and commissions subordinate to the board and/or counsel, including the Finance and Investment
Committee and the Property Committee;
• Segregation of duties in the treasury and introduction of new controls in cash management and resource investment;
• Development of tools for control and supervision;
• Creation and implementation of the Handbook of Management and Governance;
A Creche Betty Lafer atende 200 crianças em período integral. The Betty Lafer Creche attends 200 children full time.
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 121
• Introduction of the Code of Ethics;
• Adoption of IT systems that are efficient and
responsive to the needs of the institution;
• Introduction of appropriate rules and practices for fundraising and resource collection.
As a direct result of this work, Unibes can
present gains in efficiency and better results in
their operations, attracting new partners, donors and members to support its social assistance work. It is particularly important to note
the growth of the donor and member base with
positive impact on the collection of donations
and members’ contributions in recent years.
As a result, we observe an upward trend in the
number of beneficiaries. All this effort has had
just one goal: to expand and improve assistance
service. Despite the increase in costs for users
served and the increase in total expenditures
for social assistance over the past few years, the
institution has preserved the excellence of quality and efficiency of services provided.
As Marcelo Felberg states, “Our challenge is
constant. Efficient management and transparency principles are our goals. Practice good for
the community and seek to serve in the best possible way our deprived public. We are committed
to good administration and the financial health
of Unibes. We practice a serious management,
transparent and guided by high moral values. We
encourage the participation of all, we believe in
training and valorization of professionals, volunteers and of all collaborators in the institution.
We are guided by respect towards one another
and the integrity of our values. We are convinced
that we are building a solid Unibes which is able
to guarantee its continuity.”
Division of Child and Adolescent
Services
The Division for Children and Adolescents,
which has Gabriel Zitune as Vice President, and
Silvia Rodarte and Gilson Kusminsky as directors, follows three main lines of work: the Early
Childhood Center Betty Lafer (CEI), the Center for
Children and Adolescents (CCA) and the Unibes
Institute Vocational Training Program (George
M. Klabin / GMK). For these, it partnered with
private enterprise and the Municipality of São
Paulo through the following departments: Mu-
122 da Unibes, voluntários e contou também com o apoio de consultores externos. O resultado superou as expectativas e entre vários
outros pode-se destacar:
•
•
•
•
•
•
•
Criação de comitês e comissões subordinados à diretoria e/
ou ao conselho, incluindo o Comitê Financeiro e Investimentos e a Comissão de Imóveis;
Segregação de funções na tesouraria e introdução de novos
controles na gestão do caixa e aplicação de recursos;
Desenvolvimento de ferramentas de controle e supervisão;
Criação e aplicação do Manual de Gestão e Governança;
Introdução do Código de Ética;
Adoção de sistemas de informática eficientes e adequados às
necessidades da instituição;
Introdução de regras e práticas adequadas para a captação e
arrecadação de recursos.
Como resultado direto desse trabalho, a Unibes pode apresentar ganhos de eficiência e melhores resultados na sua operação, atraindo novos parceiros, doadores e sócios para apoiar seu
trabalho de assistência social. É particularmente importante notar
o crescimento na base de doadores e sócios com impacto positivo na arrecadação de donativos e nas contribuições de sócios
nos últimos anos. Como resultado, observamos uma evolução no
número de assistidos. Todo este esforço teve apenas um objetivo:
expandir e melhorar o atendimento assistencial. A despeito do
aumento nos custos por usuários atendidos e do aumento nos
gastos totais com assistência social ao longo dos últimos anos, a
instituição preservou a excelência de qualidade e eficiência nos
serviços prestados.
Conforme Marcelo Felberg: “Nosso desafio é constante. Gestão eficiente e transparência de princípios são os nossos objetivos.
Praticamos o bem para a comunidade e buscamos atender da melhor forma possível nosso público carente. Nosso compromisso
é com a boa administração e com a higidez financeira da Unibes.
Praticamos uma gestão séria, transparente e pautada por elevados
valores morais. Incentivamos a participação de todos, acreditamos
na capacitação e valorização dos profissionais, voluntários e de
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
todos os colaboradores da instituição. Nos pautamos pelo respeito para com o próximo e a integridade de nossos valores. Temos
convicção de que estamos construindo uma Unibes sólida e capaz
de garantir sua perenidade”.
Área da Criança e do Adolescente
A Área da Criança e do Adolescente – que tem Gabriel Zitune
como vice-presidente e Silvia Rodarte e Gilson Kusminsky como
diretores – mantém três eixos principais de trabalho: o Centro de
Educação Infantil (cei) Betty Lafer, o Centro da Criança e do Adolescente (cca) e o Programa de Capacitação Profissional Unibes –
Instituto George M. Klabin (gmk). Para isso, estabeleceu parcerias
com empresas privadas e com a Prefeitura de São Paulo através
das seguintes secretarias: Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social – smads-cras Mooca –; Secretaria Especial
de Participação e Parcerias – sepp-fumcad –; Secretaria Municipal
de Educação – sme – e Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e
Recreação – seme.
O Centro de Educação Infantil (cei) Betty Lafer (conhecido
como creche), mantido em parceria com a Secretaria Municipal
de Educação (sme), atende 200 crianças por dia, entre dois e cinco
anos de idade, em período integral. Basicamente são atendidas
crianças de famílias carentes cujo pai ou mãe trabalha na região do
Bom Retiro, Luz e adjacências. O Centro oferece um atendimento
integral às crianças no campo social, educacional, psicológico,
odontológico e alimentar, além de manter programas também
para as famílias das crianças. Possui a Biblioteca Tatiana Belinky,
com livros doados pela própria autora. O cei localiza-se à Rua
Jorge Velho, 96, endereço histórico do Lar da Criança das Damas
Israelitas aberto em 1939.
O Centro da Criança e do Adolescente (cca), em convênio
com a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento
Social (smads) e parceria de empresas privadas e da Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação (projeto Clube Escola),
atende diariamente 600 crianças e adolescentes, em “situações de
vulnerabilidade e risco”, entre 6 e 15 anos de idade, em horário
inverso ao escolar, proporcionando atividades complementares às
nicipal Secretary of Social Welfare and Development (SMADS–CRAS Mooca); the Special Secretary for Participation and Partnerships (SEPP–
FUMCAD); and the Municipal Department of
Education (SME); and the Municipal Secretary
of Sports, Leisure and Recreation (SEME).
The CEI Betty Lafer (known as creche), held in
partnership with the SME, attends 200 children
a day, between two and five years old, full-time.
Primarily, the children attended come from poor
families whose fathers or mothers work in Bom
Retiro, Luz and the vicinity. The CEI offers comprehensive care for children in social, educational, psychological, dental and nutritional fields,
and also maintains programs for children’s families. It includes the Tatiana Belinky Library, with
books donated by the author herself. The CEI is
located at Rua Jorge Velho,no 96, the address of
the historic Lar da Criança das Damas Israelitas,
founded in 1939.
The CCA, in agreement with SMADS and
partnership with private enterprise and the
SEME (School Club Project), serves 600 children
and adolescents daily, in “situations of vulnerability and risk”, between 6 and 15 years of age.
In hours inverse to the school schedules, they
provide complementary activities to those at
school, with homework assistance, ballet, music, sports, judo, arts and crafts, recreation and
diverse workshops. To perform the work, led
by Zenóbia Duch a team is maintained, with
teachers and expert educators for the workshops. Two projects are conducted in partnership with enterprises: an agreement with the
Deutsche Bank maintains the orchestra and
another, with Disney International, affords ballet classes.
The GMK in the United States serves 350
youth per day/700 youth per year, aged 16 to
29, offering semiannual vocational courses in
Office Routines, Cinematic Service, Computer
Building and Maintenance, Hospitality, Web Design, Telemarketing, Restaurant Service — Waitstaff and Gastronomy.
The courses—bearing partnerships with
private companies—last one semester, Monday through Friday, full-time. Of the 700 youth
who completed the training courses in 2009,
60% were sent to their first job. The area of
vocational education still operates, in partnership with GMK, with nuclei in Francisco Mor-
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 123
Concertos musicais
envolvendo crianças
e jovens fazem parte
do cotidiano da
Unibes.
Musical concerts
involving children and
young people are a
part of the everyday
of Unibes.
ato, São Paulo State, and in Natal, Rio Grande
do Norte State.
To give continuity to the process of training
professional and global youth, to provide the opportunity to voice their experiences, ideas and
to stimulate their protagonism, Unibes created
the magazine TransFormar, published every six
months that addresses current issues, professional and social. The publication is coordinated
by Silvia Rodarte and will be produced by young
people themselves, in the Professional Training
Program in a project process that involves lectures with journalists and other professionals.
Youngsters served by the CCA and the GMK
attend the Health and Quality of Life Project, developed in partnership with Johnson & Johnson,
which aims at not only improving the quality of
life and relationships of the adolescent, but also
at reducing the frequency of unwanted pregnancies and the incidence of infection caused by
HIV, AIDS, and STDs. The program serves about
400 students from neighboring schools and 300
representatives of organizations participating
in the Journey of the Adolescent Health and
Sexuality, mostly residents of Canindé, Bom Retiro, Pari and other nearby neighborhoods. In
the Division for Children and Adolescents, the
Social Service works with families of children
124 da escola, com acompanhamento escolar, balé, música, esportes,
judô, artesanato, artes, recreação e oficinas diversas. Para realizar
o trabalho, liderado por Zenóbia Duch, é mantida uma equipe
com educadores e professores específicos para as oficinas. Dois
projetos são realizados em parceria com empresas: um convênio
com o Deutsche Bank permite manter uma orquestra e outro,
com a Disney International, propicia as aulas de balé.
O Programa de Capacitação Profissional Unibes – Instituto
George M. Klabin (gmk) –, dos Estados Unidos, atende 350 jovens
por dia/700 jovens por ano na faixa etária de 16 a 29 anos, oferecendo cursos profissionalizantes semestrais de Rotinas de Escritório, Atendimento em Cinema, Montagem e Manutenção de
Computadores, Hotelaria, Web Designer, Telemarketing, Atendimento em Restaurante/Garçom e Gastronomia.
Os cursos – que têm parcerias com empresas privadas – são
semestrais, de segunda a sexta-feira, em período integral. Dos
700 jovens que concluíram os cursos profissionalizantes em 2009,
60% foram encaminhados para o primeiro trabalho (estágio de
ensino médio, aprendiz e programa 1º Emprego). A área de ensino
profissionalizante mantém ainda, em parceria com a gmk, núcleos
em Francisco Morato (São Paulo) e Natal (Rio Grande do Norte).
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
Para dar continuidade ao processo de formação profissional
e global do jovem, proporcionando a oportunidade de expor suas
vivências, idéias e estimulando seu protagonismo, a Unibes criou
a revista TransFormar, de periodicidade semestral que abordará
temas atuais, profissionais e sociais. A publicação é coordenada
por Silvia Rodarte e será produzida pelos próprios jovens do Programa de Capacitação Profissional em um processo de trabalho
que envolve palestras com jornalistas e outros profissionais.
Os jovens que estão no cca e no Programa de Capacitação
Profissional frequentam o Projeto Saúde e Qualidade de Vida, desenvolvido em parceria com a Johnson & Johnson, que tem por
objetivo promover a melhoria na qualidade de vida e relações do
adolescente e, igualmente, reduzir a frequência de gravidez não
desejada e a incidência da infecção causada pela hiv/aids/dst. O
programa atende ainda cerca de 400 alunos de escolas da região e
300 representantes de entidades participantes da Jornada de Saúde e Sexualidade do Adolescente, em sua maioria moradores do
Canindé, Bom Retiro, Pari e ouros bairros próximos. Na Área da
Criança e do Adolescente, o Serviço Social trabalha com as famílias
de crianças e jovens, realizando trabalho socioeducativo de orientação, encaminhamento e acompanhamento para 480 famílias.
No contexto das atividades da Área da Criança e do Adolescente, a Unibes realizou a iv Ação Cidadã 2010, com diversas atividades de promoção à saúde, cultura, lazer, esporte e cidadania
para toda a família, com o objetivo de atender o maior número
possível de pessoas do entorno comunitário e a população dos
bairros adjacentes. É um exemplo de atividades promovidas pela
entidade em prol da população local e de sua capacidade de mobilização e de estabelecer parcerias públicas e privadas. Foram realizados mais de 13.000 atendimentos, contando com 500 voluntários
e diversos parceiros dos poderes público e privado.
Existe também o Programa Ieladim (Crianças), que acolhe
mais de 250 crianças e jovens oferecendo bolsa escolar (para ensino fundamental e médio) e universitária; neste mesmo projeto
uma parceria com a Fundação Arymax oferece 27 bolsas para ensino fundamental e médio.
“A atuação na Área da Criança e do Adolescente me trouxe
uma visão institucional diferente. A prefeitura tem respeito pelo
and youngsters, developing a work of socio-educational orientation, referral and monitoring
for 480 families.
Within the context of the activities of the
Division for Children and Adolescents, Unibes
held the 4th Citizen Action 2010, with various activities to promote health, culture, leisure, sport,
and citizenship for the whole family, with the
objective of serving the largest possible number
of people in the surrounding community and the
population of adjacent neighborhoods. It was an
exemplary activity, among many others, promoted by the institution on behalf of local people. It
proved able to mobilize and establish public and
private partnerships. More than 13,000 services
were performed by 500 volunteers and several
partners in the public and private sectors.
Last but not least, the Ieladim Program for
children reaches out to more than 250 children
and youngsters by offering scholarships (for elementary and high school) and university (academic). A partnership with the Arymax Foundation offers 27 scholarships for elementary and
high school education.
“The activities in the Division for Children and
Adolescents brought me a different institutional
vision. The municipal government respects the
work of the community. Unibes does it well. The
partnerships have a lot of visibility. These conditions are largely due to professionals who are in
authority. They are wonderful, they are committed, the volunteers enable this work. Mrs. Zenobia Duch, one of the departmental professionals,
for example, was awarded the Citizenship Prize
(‘Cidadã Paulistana’, or in English, Sao Paulo Citizen). One must say the public recognition of the
public sounds great. Inspections, fiscal evaluations and their results have always been very
positive”, affirms Vice President Gabriel Zitune,
who has worked as an Unibes volunteer for 18
years and begun his activity with the elderly,
visiting them at home and carrying out outings
and other activities, thus “doing away with their
loneliness and ostracism”. He was then the Vice
President of the Social Service Department, under the management of Anita Schuartz, when
the area underwent a modernization process.
In the current administration, he assumed the
vice presidency of the Division for Children and
Adolescents. He points out the importance of the
Forum of Leaders and Technicians of the Israelite
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 125
Federation of Sao Paulo State, which brought
the community’s charities together in order to
discuss departmental issues.
Unibes Social Service Department
According to a 2009 report, 1,397 families (totaling 5,100 people) were served by the Department of Social Services. A most recent report,
in August 2010, recorded 1,464 families served.
The Department of Social Service has Barbara
Regina Lerner as Vice President and Denise Coin
Kusminsky as Director.
In the 85th Unibes anniversary book, Mrs.
Esther Koch (Lenhard) stated that the work
of social assistance, developed by the team
in the Department of Social Service, has had
a character regarded as modern for their time
since 1944. As Esther assumes it is not merely about a simple charity, that is helping the
needy, relieving their suffering. What this work
aims at allowing for users to obtain, through
social assistance, the necessary tools to lead
a dignified life, becoming the protagonists of
their own history and independence from the
institutions.
Based on this concept, Unibes structured
itself to supply the community it serves with
a professionalized service, with a view of empowering families and their social reintegration.
Under the leadership of Social Assistant Arlete
A. Nago, who has devoted 17 years of her professional life to the institution, various programs
have been developed: Family Assistance, Mental
Health, Social Center for the elderly, Or Group
to Visit the Elderly, Income Generation, Private
Pharmacy. A multidisciplinary team now has
nine social workers, aside from a psychologist,
a lawyer, a nurse, a physiotherapist, an administrator and an occupational therapist, in addition
to an administrative staff.
A social study is conducted for each family
served, using a tool developed by the technical
team. They objectively provide the conditions
to draw a plan of individualized, comprehensive
care, aiming not only at improving the quality of
life (health and education), but also at strengthening personal and familiar self-esteem, restoring the autonomy to confront life.
It is the work of the multidisciplinary team
that includes partners such as the Jewish In-
126 trabalho da comunidade. A Unibes faz bem feito. As parcerias
têm muita visibilidade. Esta condição se deve em grande parte
aos profissionais que estão na entidade, são maravilhosos, vestem
a camisa, os voluntários viabilizam esse trabalho. Zenobia Duch,
profissional da área, por exemplo, recebeu o título de ‘Cidadã
Paulistana’. O reconhecimento da rede pública é muito grande.
Supervisores e fiscais avaliam e o resultado é sempre muito positivo”, afirma o vice-presidente Gabriel Zitune, que trabalha como
voluntário na Unibes há 18 anos e começou sua atividade com
pessoas da terceira idade, visitando-as em casa e fazendo passeios
e outras atividades, “retirando as pessoas da solidão e do ostracismo”; depois ele foi vice-presidente do Serviço Social na gestão
de Anita Schuartz, quando a área passou por um processo de modernização e, na atual gestão, assumiu a vice-presidência da Área
da Criança e do Adolescente. Ele lembra a importância do Fórum
dos Dirigentes e dos Técnicos da Federação Israelita do Estado de
São Paulo, que reunia as entidades assistenciais da comunidade
para discutir conjuntamente as questões do setor.
Área de Serviço Social da Unibes
Conforme o relatório de 2009 foram atendidas pelo Departamento de Serviço Social 1.397 famílias num total de 5.100 pessoas.
O dado mais recente, de agosto de 2010, registrava 1.464 famílias
atendidas. A área de Serviço Social tem como vice-presidente Barbara Regina Lerner e como diretora, Denise Coin Kusminsky.
Desde 1944, conforme o depoimento de Esther Koch (Lenhard) ao livro de 85 anos, o trabalho de assistência social desenvolvido pela equipe do Departamento de Serviço Social da Unibes
teve um caráter considerado moderno em sua época. Como contou Esther, não se trata meramente de uma simples caridade, ou
seja, ajudar aos necessitados, aliviando os seus sofrimentos. O que
este trabalho visa é dar a possibilidade de que os usuários possam
obter, através da assistência social, as ferramentas necessárias para
viverem dignamente, constituindo-se em protagonistas de sua
história e independentes das instituições.
Partindo deste conceito, a Unibes se estruturou para dar à comunidade que dela necessita um atendimento profissionalizado,
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
com vistas à autonomização das famílias e sua reinserção social.
Sob a liderança da Assistente Social Arlete A. Nago, que trabalha
há 17 anos na instituição, vários programas são desenvolvidos:
atendimento às famílias, Saúde Mental, Centro de Convivência
para os idosos, Grupo Or para visitação de idosos, Geração de
Renda, Farmácia Privativa. A equipe multiprofissional atual conta com nove assistentes sociais, uma psicóloga, uma advogada,
uma enfermeira, uma fisioterapeuta, uma administradora e uma
terapeuta ocupacional, além dos funcionários administrativos.
Para cada família atendida é realizado estudo social e utilizada
uma ferramenta desenvolvida pela equipe técnica que proporciona a condição de traçar de forma objetiva um plano de atendimento individualizado e abrangente, visando não apenas a melhoria
da qualidade de vida (saúde e educação), como também o reforço
da autoestima pessoal e familiar, resgatando a autonomia para o
enfrentamento da vida.
Trata-se do trabalho da equipe multiprofissional que conta
com parcerias como a do Instituto Israelita de Responsabilidade
Social – sibib Hospital Albert Einstein, para o atendimento médico-hospitalar, como a de uma carteira de profissionais voluntários
(médicos, dentistas, psiquiatras, psicólogos e fonoaudiólogos, entre outros) que oferecem consultas e tratamentos de cortesia, e de
laboratórios que oferecem alguns exames gratuitamente.
A Saúde Mental é um programa de destaque: a entidade mantém uma Moradia Assistida onde vivem quatro usuários, assim
como contrata uma clínica terapêutica para outros 14 usuários
com autonomia relativa e frequentam o Centro de Convivência
da Unibes, onde realizam atividades sob a orientação de uma terapeuta ocupacional. Além disso, oferece atendimento médico
psiquiátrico ambulatorial para 143 pacientes anualmente, bem
como internações integrais para os casos agudos.
Dentre seus vários programas, existe aquele direcionado à Geração de Renda, no qual um profissional da área ministra noções
de empreendedorismo, e talentos são descobertos, devolvendo as
famílias ao mercado. O voluntariado – Grupo Or – presta um papel
inestimável, realizando visitas a pacientes em hospitais e, principalmente, fazendo visitas domiciliares aos idosos em situação de
isolamento que não têm ou não contam com o apoio da família. O
stitute for Social Responsibility (SIBIB Hospital
Albert Einstein), for medical and hospital attendance, as a portfolio of volunteer professionals (doctors, dentists, psychiatrists, psychologists and speech therapists, among others) that offer complimentary consultations
and treatments, and some laboratories that
offer free testing.
Attention is to be drawn to the Mental
Health Program: the institution maintains an
Assisted Living Facility which houses four users, as well as hires a therapeutic clinic to serve
fourteen other users who have relative autonomy. They attend the Centro de Convivência
(Sharing Center) at Unibes, where they engage
in activities under the guidance of an occupational therapist. Furthermore, it provides
outpatient psychiatric medical care for 143
patients annually, as well as full admissions
for acute cases.
Among its many programs, one should highlight the Income Generation Program, in which
a professional from the entrepreneurship field
works to discover talents, returning the families
to the market. The volunteer Or Group plays an
invaluable role, carrying out visits to patients in
hospitals and, especially, making home visits to
elderly people in isolation who do not have or
cannot count on family support. The elderly are
encouraged to attend the Sharing Center, thus
helping themselves towards their re-socialization. These volunteers rely on thorough training,
support from a psychologist and monitoring of
the departmental social workers when carrying
out their work.
The Sharing Center, directed by Mrs. Olga
de Salomon, where 63 users are involved, continues the work of caring for the elderly that
was formerly conducted by Libe Group. Open
daily (serving approximately 30 seniors per
day, Monday through Friday from 2:00 pm to
4:00 pm), it provides users with cultural afternoons, physiotherapy, and group work aiming
at adapting to daily physical activities, activities in the area of gastronomy (in which flavors
bring back childhood memories and cultural
roots), in addition to outings. All festivals in the
Jewish calendar are celebrated with a massive
presence of users. The Centro de Convivência
strengthens associative, productive and promoting activities, thus contributing to auton-
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 127
omy, healthy aging, prevention of social isolation, and encouraging cultural and religious
reinsertion, socialization with other groups
and improved quality of life.
Population aging is already being noted
among Unibes users. The elderly of the Sharing Center go beyond the “senior’ age, as some
are close to the tenth decade of life. The institution has to be increasingly prepared to provide
for an aging and more fragile population with
adequate quality and technology. The technology in health care extends life with quality, but
at rising costs. To be prepared to maintain the
quality of care ahead for the new parameters is
an ongoing challenge, for which the institution
intends to rely on their partners.
Unibes maintains a Private Pharmacy which
daily receives about 200 visitors. The Director of
the pharmacy is Sara Cubric. The cost of medicine has proved a quite significant budget item
for middle class families and older people, which
makes it very important to relieve the household budget. The pharmacy receives donations
of medicines within their validity and works
with a donation system of free samples from
hundreds of registered physicians who provide
them to the institution. It relies on the work of
a professional pharmacist to ensure the quality
of medicines and the service provided.
Unibes is also a support agency for Brazil
in the Claims–Conference of Jewish Material
Claims Against Germany, which serves, with
funds for compensation from various governments and European banks a total of 280 victims of Nazi persecution who live in Brazil. The
institution relies, this program in particular, on
the management of yhe social worker João Batista Adduci, under the coordination of Director
Theodoro Flank.
Depositions of Directors and
collaborators
The history, mission, perspectives and future
challenges of UNIBES are part of the everyday
life of its directors, volunteers, and collaborators. Working for UNIBES is an experience that
helps to transform the institution and its work,
but also the personal life of each collaborator.
For Meyer Joseph Nigri, Vice president of
Market Relations in the 2006-2008 and 2009-
128 idoso visitado é estimulado a ir ao Centro de Convivência, visando
sua ressocialização. Estes voluntários passam por um treinamento
criterioso, recebem apoio de um psicólogo e o acompanhamento
dos assistentes sociais da área quando da realização de seu trabalho.
O Centro de Convivência – que tem como diretora Olga de
Salomon –, do qual participam 63 usuários, prossegue o trabalho
de atenção ao idoso que era realizado pelo antigo Grupo Libe.
Funciona diariamente (atende cerca de 30 idosos por dia, de segunda a sexta-feira das 14h às 16h), proporcionando aos usuários
tardes culturais, atenção de fisioterapeuta, trabalhos em grupo
visando a adequação às atividades físicas diárias, atividades na
área de gastronomia (nas quais rememoram os sabores de sua infância e suas raízes culturais), além de passeios. Todas as festas do
calendário judaico são comemoradas com a presença maciça de
usuários. O Centro de Convivência fortalece as atividades associativas, produtivas e promocionais, contribuindo para a autonomia,
o envelhecimento saudável, a prevenção ao isolamento social, a
promoção da reinserção cultural e religiosa, a socialização com
outros grupos para a melhor qualidade de vida.
O envelhecimento populacional já se faz notar nos usuários
da Unibes. Os idosos do Centro de Convivência estão além da
“terceira” idade, já que alguns estão próximos da décima década
de vida. A entidade tem que estar preparada para, cada vez mais,
atender a uma população idosa e mais fragilizada com qualidade
e tecnologia adequadas. A tecnologia na área da saúde prolonga
a vida com qualidade, porém com custos ascendentes. Estar preparado para manter a qualidade do atendimento diante de novos
parâmetros é desafio constante, para o qual a entidade pretende
contar com seus parceiros. A Unibes mantém a Farmácia Privativa que realiza cerca de 200 atendimentos diários. A diretora de
Farmácia é Sara Cubric. O custo do remédio tem sido um item
muito significativo no orçamento das famílias de classe média
e de pessoas idosas, o que torna a Farmácia muito importante
para aliviar o orçamento doméstico. A Farmácia recebe doação
de remédios dentro da validade e trabalha com um sistema de doação de amostras grátis de centenas de médicos cadastrados que
os fornecem à entidade. Um profissional farmacêutico garante a
qualidade dos medicamentos e do atendimento prestado.
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
Trabalhos de pintura da quadra de esportes da Unibes, que utilizam diversas técnicas, como a colagem, o spray e o stencil. Works of art at the sports court at Unibes, utilizing various techniques, such as collage, spray paint, and stencil.
A Unibes é também a agência de suporte para o Brasil da
Claims – Conference of Jewish Material Claims Againt Germany
–, na qual atende, com verba indenizatória proveniente de vários
governos e bancos europeus, um total de 280 vítimas da perseguição nazista que vivem no Brasil. Conta, neste programa específico, com a gerência do assistente social João Baptista Adduci, sob
a coordenação do diretor Theodoro Flank.
Depoimentos de diretores e colaboradores
A história, a missão e as perspectivas e desafios futuros da
Unibes fazem parte do dia a dia de seus diretores voluntários e
colaboradores. Trabalhar para a Unibes é uma experiência que
contribui para transformar a entidade e seu trabalho, mas também a vida pessoal de cada um dos colaboradores.
Para Meyer Joseph Nigri, vice-presidente de Relações com o
Mercado na gestões 2006-2008 e 2009-2011, “A Unibes não auxilia
somente a comunidade judaica, como muitos acreditam. Seu trabalho é sim muito importante para a comunidade, pois 10% dos
judeus na cidade dependem da assistência da fundação. A Unibes
garante o acesso a alimentos, moradias e remédios para seus assistidos, ao mesmo tempo em que apoia creches, farmácias e outras
obras assistenciais, que não estão, necessariamente, voltadas à
comunidade judaica.
2011 administrations, “UNIBES doesn’t just help
the Jewish community, as many believe. Its work
is very important to this community, as 10% of
Jews in the city depend on the foundation’s assistance. UNIBES guarantees access to food,
shelter and medicine to those assisted, while
supporting child care, pharmacy and other charities, which are not necessarily directed at the
Jewish community.”
“The greatest wish is that in future there no
longer exists so many poor people dependent
on the support of foundations and institutions
like UNIBES. But while the need exists, it is important that we have entities that perform exemplary works such as this. A world that is more
fair and balanced is our challenge. So we need
to publicize and educate more people about the
activities of the institution. Thus, we can engage
more people in a cause as important and noble
as this.”
“The dream of a fairer world does not just
belong to the Jewish community, but also to the
citizens of the world, with many different faiths
and many diverse ethnicities. Through consistent work we will involve the next generations
so that all this effort will not disappear overnight. On the contrary, we are working toward
the expansion and perpetuation of the project.”
Nelson Morales, in turn, says: “For many years
I looked for alternatives so that I could engage
in a social project, one that would complete me
as a person and increase the degree of satisfaction with myself. In 2006, after a lunch with
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 129
Bruno Laskowsky, who came to promote a major change in my life, I engaged in UNIBES, on a
journey that has lasted five years.
“During these years I have learned the organization in a profound way, with the responsibility for preparing the annual budget, I had access
to all areas and activities of UNIBES and, more
importantly, all the key people within the entity.”
“In these intense years of working together I have met some fantastic people, with deep
knowledge of their various activities, and I
learned how great the importance is the social
role of an entity like UNIBES. And also how a
group, so dedicated and competent, is able to
promote social action and help people simply
by touching their lives in sensitive moments, but
convincingly, leading them in directions which,
unaided, they could not have landed.”
“I discovered that there is excellence in activites oriented not for profit, but oriented for
social wellbeing and justice. I discovered a new
universe of people that changed my understanding of the meaning of the word donate.
UNIBES led me to a transformation and a better understanding of how we can give ourselves
as part of a group of dedicated and well-intentioned people, based on high ethical values, and
promote positive change in the lives of people in
need, of the most variable forms of aid.”
In the words of Marcelo Blay, Vice President
of Administration and Finance between 2006
and 2008: “UNIBES, throughout its 95 year history, moved from an organization that supported Jewish refugees to became a social welfare
institution to underprivileged community in the
city of São Paulo, having as its principal focus,
complementing the education and food supply
for thousands of young people. Through professionalized training courses, these young people
are given an opportunity to enter the job market, with a very high rate of employability, and
in many cases, their pay will become the main
source of family income. We have cases of young
people prepared by UNIBES vocational courses in
conjunction with key partners from the private
sector, who started out in renowned law firms
as office boys, and today hold law degrees and
have their own offices.”
“UNIBES fights daily for a fairer world, but it
depends on the generosity of donors, whether
individuals or corporations, to continue their
130 “O maior desejo é que no futuro não existam mais tantas
pessoas carentes na dependência do apoio de fundações e instituições como a Unibes. Mas enquanto existe a carência, é importante termos entidades que desempenhem trabalhos exemplares
como o desta entidade. Um mundo mais justo e equilibrado é o
nosso desafio. Por isso, precisamos divulgar e conscientizar cada
vez mais pessoas sobre as atividades da instituição. Assim, conseguiremos engajar mais pessoas em uma causa tão importante e
nobre como essa.
“O sonho de um mundo mais justo não pertence só à comunidade judaica, mas também a cidadãos do mundo todo com
os mais diferente credos e as mais diversas etnias. Através de um
trabalho consistente vamos envolver as próximas gerações para
que todo este esforço não desapareça da noite para o dia. Pelo
contrário, trabalhamos pela ampliação e perpetuação do projeto.”
Nelson Moraes, por sua vez, conta: “Durante muitos anos
busquei alternativas para que eu pudesse me engajar em um projeto social, algo que pudesse me completar como pessoa e elevar o
grau de satisfação comigo mesmo. Em 2006, depois de um almoço
com Bruno Laskowsky, que veio a promover uma grande modificação em minha vida, me engajei na Unibes, em uma jornada
que já dura cinco anos.
“Durante esses anos conheci a entidade de uma forma profunda, pois tendo como responsabilidade a preparação do orçamento anual, tive acesso a todas as áreas e atividades da Unibes e,
mais importante, a todas as pessoas chaves da entidade.
“Nesses anos de intensa convivência conheci pessoas fantásticas, com profundo conhecimento das suas diversas atividades e
aprendi o quão importante é o papel social de uma entidade como
a Unibes. E também como um grupo tão dedicado e competente
é capaz de promover ações sociais e ajudar pessoas simplesmente
tocando em suas vidas em momentos sensíveis, mas de forma
contundente, levando-os em direções às quais, sem ajuda, elas
não teriam como chegar.
“Descobri que existe excelência em atividades não orientadas ao lucro, mas tão somente ao social e ao justo. Descobri um
novo universo de pessoas que modificaram o meu entendimento
do significado da palavra doar. A Unibes conduziu em mim uma
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
transformação e uma melhor compreensão de como podemos
nos doar fazendo parte de um grupo de pessoas dedicadas e bem
intencionadas que, baseadas em valores éticos elevados, promovem mudanças positivas nas vidas de pessoas que precisam das
mais variáveis formas de ajuda.”
Nas palavras de Marcelo Blay, vice-presidente Administrativo
e Financeiro entre 2006 e 2008: “A Unibes, ao longo de seus 95 anos
de existência, partiu de uma entidade de apoio a refugiados judeus
e passou a ser uma instituição de assistência social à comunidade
carente da cidade de São Paulo, tendo como principal foco a complementação da educação e a alimentação de milhares de jovens.
Através de cursos profissionalizantes é dada uma oportunidade
para que estes jovens consigam ingressar no mercado de trabalho, tendo um índice de empregabilidade altíssimo e, em muitas
situações, sua remuneração passa a ser a principal fonte de renda
da família. Temos casos de jovens preparados pelos cursos profissionalizantes da Unibes em conjunto com importantes parceiros
da iniciativa privada, que ingressaram em empresas renomadas
de advocacia como office-boys e hoje são formados em Direito e
possuem seu próprio escritório.
“A Unibes luta diariamente por um mundo mais justo, mas
depende da generosidade de doadores, sejam pessoas físicas ou
jurídicas, para continuar seu trabalho de excelência, reconhecido
por uma grande quantidade de prêmios obtidos ao longo de sua
quase centenária existência. Este é um dos principais desafios, a
obtenção de recursos para manutenção de projetos de eficiência
comprovada e a sua ampliação, para que mais garotas e garotos
possam sonhar com um futuro promissor, para que vislumbrem
a oportunidade de realizarem seus sonhos.
“São 95 anos de trabalho abnegado, uma maratona com obstáculos na qual o grande desafio continua sendo sua sobrevivência, numa corrida onde o bastão é passado de geração a geração
para que o sonho de milhares de pessoas que passaram pela Unibes – seus fundadores, voluntários, usuários, funcionários, doadores, governantes e poder público – possa se perpetuar e inspirar
novos líderes a manter acesa esta esperança de uma vida mais
digna para aqueles que necessitam de apoio, carinho e educação.”
excellent work, recognized with many awards
achieved throughout its nearly century-old existence. This is one of the main challenges, securing resources to maintain its projects which
have proven efficient and its amplification, so
that more boys and girls can dream of a brighter
future, to envisage the opportunity to realize
their dreams.”
“They are 95 years of selfless work, a marathon with obstacles in which the major challenge continues to be its survival, in a race
where the baton is passed from generation to
generation so that the dream of thousands of
people who have passed through UNIBES - its
founders, volunteers, users, staff, donors, governors and public authorities - can perpetuate
and inspire new leaders to keep alive this hope
of a better life for those who need support, care
and education.”
According Luiz Kignel, Chief Counsel in the
2006-2008 and 2009-2011 administrations: “After completing 95 years of existence, UNIBES
reasserts itself as an entity of excellence in the
provision of social services. Its age, however,
does not weigh it down. With a leadership that
combines an active group of committed volunteers and professionals who seek to give their
best in social welfare, there can be no other result. The work built by UNIBES went beyond the
foundations of its own headquarters, its bazaars,
its assistanct activities. It reaches the intangible
needs of its assisted in moral support and spiritual redemption, bringing a message of hope
and empowerment for those in need.”
“For everything it’s done, UNIBES could have
said that its duty was fulfilled. But this is not
what happened. What has already been realized
is done, and should be maintained. And then, instead of settling, it went in search of new challenges. To participate in this great UNIBES family
is to feel a part of a larger project. It is to have the
satisfaction of being integrated with the highest
principles of Jewish faith. As our wise taught, ‘an
act is worth more than a thousand sighs.’ And to
be in UNIBES is to continuously practice an act
in favor of those in need.”
In the words of André Coji, General Treasurer
and Public Relations Director in the 2006-2008
administration, “UNIBES is grand for its excellence. Excellence in its mission to the welfare of
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 131
others, in its successful activities, in its national
recognition, and in the fact that it now completes 95 years of hard work, effort, dedication,
and, especially, 95 years helping needy families,
something that shows not only its humanistic
character, but also its Jewish character.”
“It’s a privilege to be part of its story. An entity such as this only made my pleasure in helping others grow, and likewise completed me as
a person. I came to know how to reserve part of
my time for those who needed me. It is a unique
feeling.”
Regina First remembers that she began
working as a volunteer at UNIBES at the invitation of Fanny Felmanas, then worked with
Cecilia Cohn – in the treasury and then general
secretary, the function in which she remains
until today with the 2009-2011 administration:
“It has been over 50 years of volunteer work. I
worked under the administrations of Rachel
Bacaleinick, Petronia Chapera Teperman, Anita
Schuartz, Dora Lúcia Brenner, and Bruno Laskowsky. The dedication to this work came from
the example of my grandmother, who was a
founder of the Sociedade das Damas Israelitas
de São Paulo. I felt that the work was part of my
grandmother’s life and it was this sentiment
that motivated my coming to UNIBES. At first
it was a limited Society and today, through the
needs and the development of the country, the
Society has become more ample. UNIBES was
adapting to these changes and growing in all
sectors, with integrity and respect, never aiming at profit but by targeting the goal of welfare of the individual within society. UNIBES
has always been and will continue to be an example for other institutions, worthy of respect
and admiration for the work of people dedicated to social assistance. The new generation
must be part of this context, if interested, to
take part in social actions and devote himself
to social work: only then will we give continuity to this institution 95 years.”
Joint efforts
Globalization creates new demands, forcing
the institution to adapt to changing times. Refresher courses for both professionals and volunteers are indispensible so that the institution
can operate at the forefront of social assistance,
132 Segundo Luiz Kignel, diretor Jurídico na gestões 2006-2008 e
2009-2011: “Ao completar 95 anos de existência, a Unibes se reafirma como uma entidade de excelência na prestação dos serviços de
assistência social. A idade, todavia, não lhe pesa. Com uma liderança atuante que mescla um grupo de voluntariado comprometido
e profissionais que buscam dar o melhor de si na assistência social,
outro não poderia ser o resultado. A obra construída pela Unibes
foi além dos alicerces de sua sede própria, de seus bazares, de suas
obras assistenciais. Ela alcança as necessidades intangíveis de seus
assistidos no apoio moral e no espírito de resgate, trazendo uma
mensagem de esperança e fortalecimento aos que dela necessitam.
“Por tudo que já fez, a Unibes poderia dizer que seu dever foi
cumprido. Mas não é isto que ocorre. O que já foi realizado está
cumprido e deve ser mantido. E então, ao invés de acomodar-se,
parte em busca de novos desafios. Participar desta grande Família
Unibes é sentir-se parte de um projeto maior. É ter a satisfação de
estar integrado aos princípios mais elevados da fé judaica. Como
ensinaram nossos sábios, ‘um ato vale mais do que mil suspiros’.
E estar na Unibes é praticar continuamente um ato em favor dos
necessitados.”
Nas palavras de André Coji, Tesoureiro-Geral e diretor de
Relações com o Mercado na gestão 2006-2008, “A Unibes é grandiosa por excelência. Excelência em sua missão para o bem do
próximo, em suas atividades bem sucedidas, em seu reconhecimento nacional e pelo fato de agora completar 95 anos de muito
trabalho, esforço, dedicação e, principalmente, 95 anos ajudando
famílias necessitadas, algo que demonstra não só o seu caráter
humanístico, mas também judaico. É um privilegio fazer parte
de sua história. Uma entidade como esta só fez com que minha
satisfação em ajudar o próximo crescesse, e assim me completei
como pessoa. Soube reservar parte de meu tempo àqueles que
necessitam de mim. Esse é um sentimento único.”
Regina First lembra que começou a trabalhar como voluntária na Unibes a convite de Fanny Felmanas, depois trabalhou com
Cecília Cohn – na tesouraria e depois secretária geral, função em
que permanece até hoje na gestão 2009-2011: “São mais de 50 anos
de trabalho voluntário. Passei pelas gestões de Rachel Bacaleinick,
Petronia Chapira Teperman, Anita Schuartz, Dora Lúcia Brenner
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
A atuação do Voluntariado permite levar adiante diversos projetos. The work of volunteers allows the entity to carry out diverse projects.
Os Bazares vêm contribuindo para tornar a entidade autosustentável The Bazaars continue to make the entity self-sustaining.
e Bruno Laskowsky. A dedicação deste trabalho veio do exemplo
da minha avó, que foi uma das fundadoras da Sociedade das Damas Israelitas de São Paulo. Eu sentia que o trabalho fazia parte
da vida da minha avó e foi este sentimento que motivou a minha
vinda para a Unibes. No começo era uma Sociedade restrita e
hoje, pelas necessidades e o desenvolvimento do País, a Sociedade
se tornou ampla. A Unibes foi se adaptando a estas mudanças e
crescendo em todos os setores, com integridade e respeito, nunca
visando fins lucrativos e sim visando o objetivo do bem-estar do
indivíduo dentro da sociedade. A Unibes sempre foi e será um
exemplo para as outras instituições, merecedora de respeito e
admiração das pessoas pelo trabalho dedicado a assistência social.
A nova geração tem que fazer parte deste contexto, se interessar,
tomar parte de ações sociais e se dedicar ao trabalho social; só
assim daremos continuidade a esta instituição de 95 anos.”
A conjugação de esforços
A globalização cria novas exigências, fazendo com que a entidade tenha que se adaptar aos novos tempos. Cursos de atualização, tanto para profissionais como para voluntários, são indispensáveis para que a instituição possa atuar na vanguarda da
assistência social, em acordo com a nova legislação do País, que
visa, cada vez mais, a inclusão social, a equidade e a universalidade
in accordance with the new legislation in the
country. It aims, increasingly, at social inclusion,
equity and universality in attendance. The engagement of new generations in the workplace
is essential. Transparency in administration and
intervention, certification and quality standards
are goals that Unibes imposes upon itself to
maintain the leadership reached in the assistance to the population that comes to it, in pursuit of improving the destiny of the community.
Volunteering plays a major role within the
institution. It is thanks to these people who
dedicate their time and talent to the cause of
the institution that projects are taken forward.
The organization maintains a Volunteer Department, headed by Ahuva Flit, who coordinates the
fundraising, recruitment and candidate selection for volunteers, according to the needs of
Unibes, later monitoring the performance and
satisfaction of each.
Currently Unibes has 208 active volunteers
distributed among its various departments including: Board and Counsel; Nursery, Nota Fiscal
Paulista; Home Visits (Or Group); Holocaust, Inhome Dentistry; Social Service, Pharmacy, Bazaars, Sharing Center (Senior Service), Income
Generation Group; Speech Therapy; Horticulture,
Fundraising, Marketing, Specialized Medicine,
and Events.
“Working as a volunteer at Unibes has proved
a unique experience. I never imagined, when invited to join the board, I was entering into a two-
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 133
way street”, says Mr. Marcelo Felberg, adding
afterwards: “It is a fact that contributes greatly
to my personal and professional experience to
assist managing the institution. I also however
recognize that I have learned a great deal enjoying the interaction with capable people and
some rich life experience. The practice of mitzvah
and tzedakah ceased to be words and became
actions, setting an example for my children. I am
proud to participate in management that leads
Unibes to a new level of excellence without losing its main reason for being: doing good and
helping others.”
When explaining what motivated him to assume the presidency of Unibes, Mr. Bruno Laskowsky narrates: “In accepting the invitation to
be President, I took up a three-dimensional challenge: at this time in life, a desire to donate my
time and to lend a contribution to a collective
work to community life, as a citizen, to set an
example in my own home for my children, by
making some concrete work and opening a perspective for them, and, finally, to get an interest
in learning and face the challenge of working in
education and social welfare, believing that they
are complementary to my education and that I
would acquire new tools.” The three dimensions
fortunately took place, says Bruno.
Anita Kaufman Schuartz, former President
of the organization who is now an Honorary
Chairman, recalls: “My love story with volunteering goes way back. It began in 1963 when,
following my cousin Selma Schuchman’s invitation, I went to learn about the institution where
she worked as a secretary — the Jewish Feminine
Organization for Social Assistance (Ofidas) —
which is now Unibes. I started as a ‘voluntary
social visitor’ and, after engaging in many other activities, tasks and positions, 47 years have
passed. Today I occupy the post of Honorary
President, of which I am very proud. The institution was present in almost two-thirds of my
life. I was a general soldier for several years, Vice
President for five administrations, the Executive
Chairwoman for three administrations and Deliberative Counsel for two terms.”
“I have given a lot of thought to all the causes
for which they fought and still fight, When recalling my career as a volunteer and community
leader, I realize that I have never lost the strong
determination, whatever the scenario. I learned,
134 no atendimento. O engajamento das novas gerações no trabalho é
imprescindível. Transparência na administração e na intervenção,
certificação e parâmetros de qualidade são metas que a Unibes
se impõe para manter a liderança alcançada no atendimento à
população que chega a ela e na procura da melhoria do destino
da comunidade.
O trabalho voluntário desempenha um papel importante
dentro da entidade, pois, graças a estas pessoas que dedicam seu
tempo e talento à causa da entidade é que os projetos são levados
adiante. A entidade mantém um Departamento de Voluntariado
– dirigido por Ahuva Flit – que coordena a captação, o recrutamento e a seleção dos candidatos a voluntário de acordo com as
necessidades da Unibes e, posteriormente, acompanha o desempenho e a satisfação de cada um deles.
Atualmente a Unibes dispõe de 208 voluntários ativos nos
diversos departamentos, entre eles: Diretoria e Conselho; Creche;
Nota Fiscal Paulista; Visitas Domiciliares (Grupo or); Holocausto;
Dentistas Domiciliares; Serviço Social; Farmácia; Bazares; Centro
de Convivência (3ª Idade); Grupo de Geração de Renda; Fonoaudiólogos; Horta; Captação de Recursos; Marketing; Médicos
Especializados e Eventos. “Trabalhar como voluntário na Unibes tem se mostrado uma
experiência única. Não imaginava, quando convidado a me juntar
à diretoria, que estava entrando em uma avenida de duas mãos”,
conta Marcelo Felberg, acrescentando: “É fato que muito contribuí com minha experiência pessoal e profissional para ajudar na
gestão da instituição, mas também reconheço que muito aprendi
usufruindo da convivência com pessoas capazes e com rica experiência de vida. A prática da mitzvá e da tzedaká deixaram de
ser palavras e tornaram-se ações servindo de exemplo para meus
filhos. Tenho orgulho de participar de uma gestão que conduziu a
Unibes para um novo patamar de excelência de gestão sem perder
a sua principal razão de ser: praticar o bem e ajudar o próximo.”
Explicando o que o motivou a assumir a presidência da Unibes, Bruno Laskowsky conta: “Ao aceitar o convite para ser presidente, assumi um desafio com três dimensões: a vontade de, neste
momento de vida, doar meu tempo e emprestar para a vida comunitária, como cidadão, uma contribuição a um trabalho coletivo;
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
dar o exemplo na minha própria casa para os meus filhos, fazendo
um trabalho concreto e abrindo uma perspectiva para eles e, por
fim, o interesse no aprendizado e o desafio de trabalhar na área
de educação e assistência social, acreditando que seriam complementares à minha formação e que adquiriria novas ferramentas”.
As três dimensões felizmente se realizaram, afirma Bruno.
Anita Kaufman Schuartz, que foi presidente da entidade e
hoje é presidente honorária, lembra: “Minha história de amor
com o voluntariado é muito longa, começou em 1963 quando, a
convite da minha prima Selma Schuchman, fui conhecer a instituição onde ela trabalhava como secretária – a Organização Feminina Israelita de Assistência Social (Ofidas) – que hoje é a Unibes.
Comecei como ‘visitadora social voluntária’ e, depois de muitas
outras atividades, tarefas e cargos, já lá se vão 47 anos. Hoje ocupo o cargo de presidente honorária, o que muito me orgulha. A
entidade esteve presente em quase 2/3 da minha vida. Fui soldado
raso por vários anos, vice-presidente por cinco gestões, presidente
do executivo por três gestões e presidente do conselho deliberativo por duas gestões”.
“Tenho pensado muito em todas as causas pelas quais lutei
e ainda luto e, procurando relembrar minha trajetória como voluntária e dirigente comunitária, percebo que jamais perdi a firme
determinação, qualquer que fosse o cenário, de aprender, de ensinar, de tentar transformar, de integrar ações que pautaram minha
formação de educadora e reforçaram meu papel de trabalhadora
social”, prossegue Anita, completando: “Olho para dentro de mim
mesma e vejo que foi como educadora que me senti a vida inteira,
e foi com essa visão e sob essa ótica que baseei toda a minha atuação como voluntária e dirigente comunitária por tantos anos no
trabalho social: a criança e o jovem, sempre, sempre, sempre; as
famílias carentes, para todo o sempre. Milagres acontecem como
expressão de amor e concretização de sonhos. A Unibes permitiu
que grandes desafios fossem vencidos e grandes sonhos concretizados, realizando o desejo de centenas e centenas de voluntários
que, como eu, amam o que fazem e lutam pela melhoria de vida
dos menos favorecidos e pela educação dos jovens”.
A qualidade dos atendimentos e dos programas sociais da
Unibes já obteve o máximo de reconhecimento que uma entidade
A Farmácia da Unibes permite aliviar o
peso do custo dos remédios no orçamento
doméstico. The pharmacy enables Unibes to
alleviate the burden of medicinal expenses on
the household budget.
I taught, I tried to transform, I integrated actions
that guided my training as an educator and reinforced my role as a social worker.” Anita continued, adding: “I look inside and see myself as
an educator ever since I can remember, This view
and focus based my tenure as a volunteer and
community leader for many years in social work:
children and youth, always, always, always; needy
families, forever. Miracles happen as an expression of love and fulfillment of dreams. Unibes allowed for the biggest challenges to be overcome
and the greatest dreams to come true, fulfilling
the desire of hundreds and hundreds of volunteers who, like me, love what they do and strive
to improve the lives of the disadvantaged and for
the education of the youth.”
The quality of Unibes’s care and social programs already obtained the most recognition
that an institution of this kind could wish for,
with prizes, mentions, hundreds of media reports, but above all, the certainty of a mission
accomplished to verify the inclusion and digni-
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 135
O Centro de Convivência funciona diariamente e permite melhorar a qualidade de vida dos idosos. The Sharing Center is open
daily and improves the seniors’ quality of life.
fied life achieved by those assisted in general.
After 95 years, Unibes, renewing, innovating
and updating its concepts of management and
social work, continues toward its centennial on
this mission, helping thousands of people to
create new milestones and opportunities for a
better life in the Jewish community and society in general.
136 do gênero poderia almejar, com prêmios, menções, centenas de
reportagens na mídia, mas, acima de tudo, com a certeza de missão cumprida ao constatar a inserção e a vida digna alcançada por
seus assistidos em geral. Passados 95 anos, a Unibes, renovando,
inovando e atualizando seus conceitos de gestão e de trabalho
social, prossegue rumo ao centenário nesta missão, contribuindo
para que milhares de pessoas possam criar novos marcos e oportunidades para uma vida melhor, na comunidade judaica e na
sociedade em geral.
pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
Fontes de pesquisa, bibliografia e créditos de imagens
Research Sources, Bibliography and Image Credits
Créditos de Imagens Image Credits
Acervo Unibes (livro Unibes 85 anos. Uma história do trabalho social da comunidade
judaica em São Paulo. São Paulo, Narrativa Um, 2000): páginas 17, 42, 45, 55, 57,
86, 87, 88, 90, 97, 103, 108 a 136.
Acervo Fototeca do Arquivo Histórico Judaico Brasileiro: páginas 30, 39, 41, 44, 47,
50, 52, 59, 60, 62, 66, 67, 69, 71, 72, 74, 78, 81, 83, 84, 93 e 95.
Acervo do Departamento de Patrimônio Histórico da Prefeitura de São Paulo: páginas 2 e 16 (foto de Guilherme Gaensly), 15 (foto de Aurélio Becherini), 19 (foto
de Guilherme Gaensly), 29 (foto de Aurélio Becherini), 33, 37, 43, 51 (foto de
Benedito Junqueira Duarte), 75 e 89 (foto de Edison Pacheco Aquino).
Acervo família Musatti: páginas 22, 25, 48, 65 e 80.
Acervo pessoal Mina Mutchnik Zveibil: páginas 45 e 61.
Livro Renascença 75 anos (S.P., Sociedade Hebraico-Brasileira Renascença, 1997): páginas 34 e 70.
Livro Hebraica 50 anos - 1953-2003 (S.P., Narrativa Um, 2003): página 76.
Livro A Construção de um Projeto para a Juventude. Uma história do Grupo Escoteiro e
Distrito Bandeirante Avanhandava (S.P., cip, 1998): página 54.
Livro Associação Cemitério Israelita de São Paulo 85 anos. Patrimônio de história
da comunidade judaica e da cidade de São Paulo (S.P., Narrativa Um, 2008):
página 26.
Fotos de Flávio Magalhães: páginas 99, 100 e 105.
Fontes de Pesquisa e Bibliografia Research Sources and Bibliography
1. Acervos pesquisados na pesquisa do livro Unibes 85 anos. Uma história do trabalho
social da comunidade judaica em São Paulo (São Paulo, Narrativa Um, 2000), que
serviu de base para a redação deste livro de 95 anos.
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 137
1.1 Acervo do Arquivo Histórico Judaico-Brasileiro
Atas de Assembleia-Geral Ordinária da Sociedade Beneficente das Damas Israelitas
5-10-1931 a 21-5-1940
Atas de diretoria da Sociedade Beneficente Israelita Ezra
20-5-1916 a 13-8-1942; 15-3-1954 a 22-6-1954; 5-4-1961 a 23-9-1965; 5-2-1968 a 2-9-1976
Atas de diretoria da Sociedade Beneficente Policlínica Linath Hatzedek
15-11-1929 a 22-2-1954
Atas de Assembleia-Geral Ordinária da Organização Feminina Israelita de Assistência – Ofidas
10-6-1940 a 7-4-1965
1.2. Acervo da União Israelita do Bem-Estar Social – Unibes
Atas de diretoria da Organização Feminina Israelita de Assistência – Ofidas
6-1-1942 a 29-12-1951 e 1969 a 1976
1.3. Acervo Pró-Memória da B’nai B’rith de São Paulo
Atas de Assembleia-Geral Ordinária e Assembleia-Geral Extraordinária da Irmandade B’nai B’rith de São Paulo, de 1-3-1939 a 28-1-1942.
1.4 Monografias de conclusão de curso de Serviço Social
Blumenthal, Marion. Um Estudo sobre a Integração de Refugiados Egípcios Através do
Serviço Social. Trabalho de conclusão de curso, apresentado para obtenção de
título de Assistente Social à Escola de Serviço Social da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, 1959.
Scharafirovits, Clara. Centro de Convivência para Idosos. Projeto de Criação. Trabalho
de conclusão de curso apresentado à Faculdade Paulista de Serviço Social, 1981.
Goldberg, Eliza. O Serviço Social na Sociedade Israelita de Beneficência “Ezra”. Trabalho
de conclusão de curso, apresentado para obtenção de título de Assistente Social
à Escola de Serviço Social da puc-sp, 1961.
Grostein, Annita Iracema. O Serviço Social do Ambulatório Médico Policlínica Linath
Hatzedek. Trabalho de conclusão de curso, apresentado para obtenção de título
de Assistente Social à Escola de Serviço Social da puc-sp, 1959.
Szechtman, Ana. Colaboração da Estagiária na Ampliação do Serviço Social junto à Nova
Sede da Policlínica Linath Hatzedek. Trabalho de conclusão de curso, apresentado
para obtenção de título de Assistente Social à Escola de Serviço Social da puc-sp, 1961.
Zabirowski, Therezinha Davidovich. A criança semi-interna e o tratamento social
da família. Trabalho de conclusão de curso, apresentado para obtenção de título
de Assistente Social à Escola de Serviço Social da puc-sp, 1960.
138 pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s
1. Bibliografia Bibliography
Cytrynowicz, Roney e Cytrynowicz, Monica Musatti. Unibes 85 anos. Uma história do
trabalho social da comunidade judaica em São Paulo. São Paulo, Narrativa Um, 2000.
__________. A Congregação Israelita dos Pequenos. História do Lar das Crianças da
Congregação Israelita Paulista – 65 anos. São Paulo, Narrativa Um, 2002.
Cytrynowicz, Roney e Zuquim, Judith. Renascença 75 anos. São Paulo, Sociedade
Hebraico-Brasileira Renascença, 1997.
__________. A Construção de um Projeto para a Juventude. Uma história do Grupo Escoteiro e Distrito Bandeirante Avanhandava. São Paulo, cip, 1998.
Falbel, Nachman (org.) Inventário dos Fundos das Entidades Assistenciais do Arquivo
Histórico Judaico-Brasileiro. São Paulo, Humanitas, 1999.
__________. Unibes 80 Anos de História. São Paulo, Unibes, 1995.
Hirschberg, Alice Irene. Desafio e Resposta. A história da Congregação Israelita Paulista.
São Paulo, Congregação Israelita Paulista, 1976.
História da Ezra e do Sanatório Ezra desde a sua fundação até a presente data 1916-1941.
São Paulo, maio de 1941, autor Frankental.
Lesser, Jeffrey. Pawns of the Powerfull. Jewish Imigration to Brazil 1904-1945. Tese (Doutorado em História). New York University, 1989.
__________. O Brasil e a Questão Judaica. Rio de Janeiro, Imago, 1996.
Rattner, Henrique. Tradição e Mudança (A Comunidade Judaica em São Paulo). São
Paulo, Ática, 1977.
pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 139
Créditos de trabalho
Work Credits
Projeto e realização
Project and Realization
Narrativa Um – Projetos e Pesquisas de História
Coordenação de projeto
Project Coordination
Roney Cytrynowicz
Pesquisa histórica e redação
Historical Research and Text
Monica Musatti Cytrynowicz
Roney Cytrynowicz
Edição de arte e design
Art Edition and Design
Negrito Produção Editorial
Ricardo Assis
Tainá Nunes Costa
Sebastian Ribeiro
Versão para o inglês
Translation to English
Jenny Suzanne Miller
Revisão de texto em português
Copy-desk in Portuguese
Libra Produção de Textos
Mariangela Paganini
Revisão da versão em inglês
Review of English Translation
Suely Pfeferman Kagan
Editora Narrativa Um – Projetos e Pesquisas de História
www.narrativaum.com.br
[email protected]
cip-brasil. catalogação-na-fonte
(Sindicato Nacional dos Editores de Livros, rj)
U49
União Brasileiro-Israelita do Bem-Estar Social, Unibes 95 anos: construindo justiça social com sustentabilidade e inovação / [coordenação de projeto, project coordination Roney Cytrynowicz, pesquisa
histórica e redação, historical research and text Monica Musatti Cytrynowicz, Roney Cytrynowicz; versão
para o inglês, translation to english Jenny Miller]. – São Paulo: Narrativa Um, 2011.
Il.
Texto em português com tradução paralelal em inglês.
Inclui bibliografia.
isbn 978-85-88065-26-0
1. União Brasileiro-Israelita do Bem-Estar Social – História. 2. Judeus – São Paulo (sp) – História. 3. Judeus – São Paulo (sp) – Sociedades, etc. – História. 4. Judeus – Associações, etc. – História. 5. Comunidade
– Organização – São Paulo (sp) – História. 6. Associações sem fins lucrativos – São Paulo (sp) – História. 7.
São Paulo (sp) – História. i. Cytronowicz, Roney, 1964-. ii. Cytrynowicz, Monica Musatti, 1964-. iii. Título:
Unibes 95 anos, construindo justiça social com sustentabilidade e inovação.
11-2197
cdd-981.611
cdu-94(815.611)
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Paralelos 95 anos de Unibes contados através da história de São