Paralelos 95 anos de Unibes contados através da história de São Paulo Parallels 95 years of Unibes through the history of São Paulo Par alelos 95 anos de Unibes contados através da história de São Paulo Paralle ls 95 years of Unibes through the history of São Paulo Paralelos 95 anos de unibes contados através da história de são paulo Parallels 95 years of unibes through the history of são paulo Projeto e Edição São Paulo, agosto de 2011 Diretoria da Unibes 2009-2011 Unibes Board of Directors 2009-2011 presidente president Serviço Social vice-presidentes Social Service vice presidents Barbara Regina Lerner Área da Criança e do Adolescente Administrativo / Financeiro Gabriel Zitune Marcelo Felberg assessor da presidência Área de Sustentabilidade Relações com Mercado Bela Berland Célia Kochen Parnes Meyer Joseph Nigri Secretária Geral Diretora de Captação de Recursos Diretora de Marketing Regina First Fanny Michaan Terepins Mirella Morabia Radomysler 1º Secretário Diretora do Serviço Social Diretora de Comunicações Israel Grytz Denise Coin Kusminsky Tesoureiro Geral Diretorores da Área da Criança e do Adolescente Bruno Laskowsky presidente honorária honorary president Anna Kaufman Schuartz (Anita Schuartz) advisor to the presidency Child and Adolescent Area Sustainability Finance and Administration Public Relations diretoria directors General Secretary Social Service Director First Secretary Treasurer André Coji 1º Tesoureiro First Treasurer Nelson de Figueiredo Moraes Diretor Jurídico Legal Director Luiz Kignel Child and Adolescent Program Directors Silvia Kuperman Rodarte Gilson Kusminsky (Programa Clube Escola da pmsp) Diretor do Programa de Apoio a Sobreviventes do Holocausto Holocaust Victim Program Marketing Director Communications Director Denise Zaclis Antão Diretor Comercial -– Bazares Commercial Director - Bazaars Daniel Pedro Machlup Diretora do Voluntariado Volunteer Director Ahuva Bruria Flit Diretor de Juventude Youth Director Theodoro Jorge Flank Renato Kluger Diretor de Patrimônio Diretora do Centro de Convivência Diretora de Pessoas Airton Sister Olga de Salomon Tânia Sztamfater Chocolat Diretor de Relações com o Mercado Diretora de Farmácia André Coji Sara Cubric Director of Patrimony Public Relations Director 4 Fundraising Director Centro de Convivência Director Pharmacy Director pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s Membership Director “Durante todos esses anos tentei dar o melhor de mim para o desenvolvimento da nossa organização, mas considero que dessa experiência fui eu a mais beneficiada em termos de enriquecimento interior e tranquilidade de espírito.” “During all these years I have tried to do my best for the development of our organization, but I think that, from this experience, it was I who benefitted more in terms of enrichment and inner peace of mind.” Antonietta Feffer Antonietta Feffer *** An homage to Antonietta and Leon Feffer for *** Homenagem a Antonietta e Leon Feffer pelo marcante ativismo comunitário. their outstanding community activism. A Unibes agradece à Companhia Suzano de Papel e Celulose pela generosa doação do papel para a impressão deste livro. Unibes would like to thank Companhia Suzano de Papel e Celulose for their generous paper donation for the printing of this book. conselho vitalício 2009-2011 conselho deliberativo 2009-2011 unibes board of directors 2009-2011 Abram Berland Abrão Bernardo Zweiman Alberto Blay Alberto Samuel Milkewitz Bárbara Regina Lerner Berel Aizenstein Bernardo Parnes Boris Ber Carlos Schuartz Celso Lafer Chulamit Terepins Cláudio L. Lottenberg Denise Goldfarb Terpins Edgar Gleich Ester Adriana Gottschalk Estevão Emílio Klein Etejane Hepner Coin Eugênio Vago Fernando Blay Gilberto Tanos Natalini Gilson Kusminsky Harry Davidowicz Henrique Brenner Jack Leon Terpins lifetime council 2009-2011 Jacques Sarfatti Jairo Okret Jayme Blay Joel Rechtman José Jacob Ankier Ligia Gasko Gaon Lilia Klabin Levine Luis Gaj Luiz Jaime Zaborowsky Marcelo Felberg Mario Fleck Mendel Lukower Neto Moisés Singal Gordon Naum Rotenberg Nessim Hamaoui Oscar Nimitz (z”l) Ricardo Berkiensztat Rigo Sivek Roberto Davidowicz Rubens Gorsky Sidney Birman Stela Yara Blay Suzana Irene Steinberg Wilson Braun Abrão Goloborotko Alberto Rafael Mansur Levy Anna Jacobowicz Anna Kaufman Schuartz (Anita Schuartz) Antonieta Bergamo Beirel Zukerman Carlos Shehtman David Berezovsky Neto David Stuhlberger Dora Lucia Brenner Jacob Osias Langer (z”l) José Mandel (z”l) Kurt Wissman Leon Frejda Szklarowsky Marcos Kertzmann Moisés Mirocznik Moisés Waldsztein Nathan Herchkovici Oscar Juziuk Osias Schefler (z”l) Regina First Rina Kauffmann Gleich conselho fiscal fiscal council mesa do conselho para o triênio 2009-2011 Efetivos Presidente 1º Secretário Mendel Lukower Neto Rigo Sivek Marcelo Felberg Luiz Jayme Zaborowsky Abrão Berland Vice- presidente 2º Secretário Naum Rotenberg Sidney Birman unibes board of directors 2009-2011 President Vice President First Secretary Second Secretary Suplentes Abrão Bernardo Zweiman José Jacob Ankier Jacques Sarfatti comissão editorial do livro criação do logotipo de 95 anos da unibes Mirella Morabia Radomysler, Sarita Bellelis, Germana Langone Crosta, Vanessa Costa e Mauro Ogino Mauro Ogino book editorial board Este livro é dedicado a todos os que se envolveram com a Unibes ao longo destes 95 anos. Diretores, voluntários, parceiros, funcionários, assistidos e amigos que vêm contribuindo generosamente para construir esta história que segue rumo ao centenário. A vocês, nosso muito obrigado! This book is dedicated to everyone who has been involved with Unibes over the past 95 years. Members of the Board, partners, staff, those aided, and friends have all contributed as we have built a road to our 100th year. To all, thank you! Every day I remind myself that my inner and outer life are based on the labors of other men, living and dead, and that I must exert myself in order to give in the same measure as I have received and am still receiving. Albert Einstein Diretoria da Unibes 2006-2008 Unibes Board of Directors 2006-2008 presidente president Bruno Laskowsky vice-presidentes vice presidents Área da Criança e do Adolescente assessores da presidência Child and Adolescent Area Luana Bernardi Bichuetti Marcelo Felberg Comercial advisors to the presidency Gabriel Zitune Commercial Célia Kochen Parnes Marketing / Comunicação Marketing and Communication Martin Joseph Konig Serviço Social Social Service Bela Berland Administrativo / Financeiro Finance and Administration Marcelo Blay Relações Institucionais Institutional Relations Anita Schuartz diretoria directors Relações com Mercado Diretoria de Pessoas Diretoria da Área da Criança e do Adolescente Meyer Joseph Nigri Jairo Okret Secretária Geral Diretor Farmácia Anabela Schor Betty Zymberg Eny Silvia Kuperman Rodarte Sara Cubric Diretoria de Marketing e Comunicação Public Relations General Secretary Rina Kaufmann Gleich Membership Director Pharmacy Director Marketing and Communication Directors 1º Secretário Diretor Voluntariado First Secretary Olga de Salomon Volunteer Director Ahuva Bruria Flit Tesoureiro Geral Treasurer André Coji Diretores de Bazar Bazaars Directors Ida Regina Ebel Cohen Daniel Pedro Machlup 1º Tesoureiro First Treasurer Regina First Diretor Jurídico Legal Director Luiz Kignel Diretor de Patrimônio Director of Patrimony Leon Ciobataru 2º Diretor de Patrimônio Second Director of Patrimony Boris Ber Ester Adriana Gottschalk Luis Otavio Costa Mauricio Eugenio Diretoria de Eventos Events Directors Diretora de Captação de Recursos Sandra Rozenblum Zitune Sandra Gorski Stela Yara Blay Fanny Terepins Diretoria do Centro de Convivência Fundraising Director Diretoria de Serviço Social Social Service Directors Anna Jakobowicz Denise Coin Kusminsky Israel Grytz Stela Yara Blay Sidnei Saad Ángulo 8 Child and Adolescent Program Directors pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s Centro de Convivência Director Helena Moritz Olga de Salomon Irene Calderon Sumário Table of Contents Palavras iniciais: Sustentabilidade institucional e justiça social – Celso Lafer. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 Foreword: Institutional sustainability and social justice – Celso Lafer Apresentação: A maturidade, a juventude e os sonhos de uma instituição – Anita Schuartz . . . . . . . . . . . 13 Prologue: The maturity, the youth and the dreams of an institution – Anita Schuartz 1. Uma comunidade judaica se estabelece em São Paulo em 1915. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 A Jewish community established in Sao Paulo in 1915 2. Policlínica Linath Hatzedek é fundada na metrópole paulista nos anos 1920. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 Policlínica Linath Hatzedek is founded in Sao Paulo in the 1920s 3. Gota de Leite, Sanatório da Ezra e Lar da Criança das Damas são fundados nos anos 30 . . . . . . . . . 43 Gota de Leite, Ezra Sanatorium and Lar da Criança das Damas are founded in the 30s 4. A Ofidas é fundada em 1940 durante o Estado-Novo e a Segunda Guerra Mundial . . . . . . . . . . . . . . 59 Ofidas is founded in 1940 during the New State and World War II 5. As imigrações egípcia e húngara de 1956 e o trabalho conjunto das entidades assistenciais. . . . . . . . 75 The Egyptian and Hungarian immigration of 1956 and joint work of welfare agencies 6. O Serviço Social Unificado reorganiza o atendimento assistencial nos anos 1960. . . . . . . . . . . . . . . . 89 The Unified Social Services reorganizes the social assistance in the 1960s 7. A criação da Unibes em 1976: uma trajetória de sucesso. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99 The creation of Unibes in 1976: A success story 8. Renovar, inovar e manter a tradição: desafio rumo aos 100 anos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111 To renew, to innovate and to maintain the tradition: a challenge for 100 years Fontes de pesquisa, bibliografia e créditos de imagens. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137 Research Sources, Bibliography and Image Credits pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 9 conselho deliberativo 2006-2008 unibes board of directors 2006-2008 Abram Berland Abrão Bernardo Zweiman Alberto Blay Alberto Samuel Milkewitz Trzonowicz Andre Coji Barbara Regina Lerner (Suplente) Bela Berland (Suplente) Berlla Herson (Suplente) Berel Aizenstein Boris Ber Carlos Schuartz Celso Lafer Chulamit Terepins Claudio Luiz Lottenberg Denise Goldfarb Terpins Edgar Gleich Eduardo Luiz Wurzman Ester Adriana Gottschalk Estevão Emilio Klein Etejane Hepner Coin Eugênio Vago Fernando Blay Gabriel Zitune Harry Davidowicz Helio Pilnik Henia L. Kahn Henrique Brenner (Suplente) Henrique Waitman Ilan Davidson Gotlieb Israel Grytz Jayme Blay Jayme Pasmanik (z´l) Joel Rechtman (Secretário do Conselho) José Jacob Ankier Lea Hecht Leo Tomchinsky (Suplente) Leon Ciobataru Lilia Klabin Levine Lilia Wachsmann Luba Kignel Luis Gaj Luiz Jayme Zaborowsky (Presidente do Conselho) Marcelo Blay Marco Gandelman Mario Arthur Adler Mario Fleck Mario Nusbaun (Suplente) Mendel Lukower Neto Meyer Joseph Nigri (Conselho Fiscal) Meyer Yhouda Nigri Moises Baum Moisés Singal Gordon Necha M. Gedanken (z´l) Naum Rotenberg (Assessor Da Presidência Do Conselho) Neide Waitman Nessim Hamaoui Olga De Salomon (Suplente) Oscar Nimitz (z´l) Paulo Roberto Feldmann (Conselho Fiscal) Ricardo Berkiensztat Ricardo Luiz Becker Ricardo Sivek (Rigo) (Suplente do Conselho Fiscal) Roberto Davidowicz Roberto Faldini Rubens Gorski Sidney Birman (Seceretário do Conselho) Stela Yara Blay (Suplente) Susana Irene Steinberg Theodoro Jorge (Conselho Fiscal) Wilson Braun (Suplente) Zlota Stefanescu (Zina) conselho vitalício 2006-2008 lifetime board 2006-2008 Abrão Goloborotko Alberto Rafael Mansur Levy Anna Jakobowicz Anna Kaufman Schuart (Anita Schuartz) Antonieta Bergamo Beirel Zukerman Carlos Shehtman David Berezovsky Neto David Stuhlberger Dora Lucia Brenner Jacob Osias Langer José E. Mindlin (z´´l) José Gedanken (z´´l) José Mandel Kurt Wissman Leon Frejda Szklarowsky Marcos Kertzmann Moisés Mirocznik Moises Waldsztein Nathan Herchkovici Oscar Juziuk Osias Schefler (z´´l) Regina First Rina Kauffmann Gleich Zacharias Belik (z´´l) mesa do conselho para o triênio 2006-2008 unibes board of directors 2009-2011 Presidente Assessor da Presidência Luiz Jayme Zaborowsky Naum Rotenberg Vice- presidente Secretários Anna Jakobowicz Joel Rechtman e Sidney Birman President President’s Advisor Vice President 10 conselho fiscal 2006-2008 Secretary pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s fiscal council 2006-2008 Mendel Lukower Neto Oscar Juziuk Paulo Roberto Feldman Rigo Sivek Teodoro Flank Palavras iniciais Foreword Sustentabilidade institucional e justiça social Institutional sustainability and social justice U Celso Lafer nibes 95 anos tece a interligação, no correr do tempo, entre as instituições da comunidade judaica com suas características e especificidades e a dinâmica das transformações da cidade de São Paulo e das mudanças da sociedade brasileira. Explica como uma rede de proteção social foi inicialmente criada por voluntários para cuidar, com alto sentido de solidariedade, dos problemas enfrentados pelos imigrantes judeus no início do século xx – tema que se insere no processo mais amplo da imigração, da urbanização e da industrialização da cidade de São Paulo. As características desta rede foram se modificando para lidar com as novas realidades e os desafios de uma cidade que veio a ser uma imensa metrópole. Na dinâmica destas modificações o livro analisa como a comunidade judaica, no seu processo de incorporação à vida brasileira, foi, por meio de suas instituições, encontrando novos caminhos para se fazer presente no trato das mudanças históricas do país. Isto, no caso específico da vertente de assistência representada pela Unibes, sediada no bairro do Bom Retiro, traduziu-se na ampliação do seu escopo de atuação. Esta atuação passou a ir além da comunidade judaica e se tornou um paradigma de ação social responsável na cidade de São Paulo ao ocupar-se não só da assistência social stricto sensu, mas também da criança e do adolescente, da capacitação profissional e dos cuidados com a terceira idade. Celso Lafer U nibes 95 Years weaves the interconnection, over time, among the institutions of the Jewish community with its characteristics and specificities and the dynamics of the transformations of the city of Sao Paulo and of the changes in the Brazilian society. It explains how a social safety net was initially created by volunteers to care, with a high sense of solidarity, for the problems faced by Jewish immigrants in the early twentieth century - a theme that fits into the broader process of immigration, urbanization and industrialization of the city of Sao Paulo. The characteristics of this network have been modified to cope with the new realities and the challenges posed by a city that became a huge metropolis. Within the dynamics of these modifications, the book examines how the Jewish community, in its process of incorporation into the Brazilian life, found, through their institutions, new ways to do this while dealing with historical changes in the country. This, in the specific case of the ascending assistance represented by Unibes, based in the neighborhood of Bom Retiro and translated into the expansion of its scope. This action went beyond the Jewish community, and became a paradigm for responsible social action in Sao Paulo to deal with not only social work in its strict sense, but also with children and adolescents, professional training and care of the elderly. pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 11 The analysis of how the relation between tradition, renewal, and innovation of new conceptions is very interesting, which came to permeate the social service and the interaction between volunteer and professional work. Special attention should be drawn to the scope of the final chapter, which discusses the updated models of governance present in Unibes, which pays respect to the requirements of well-being and sustainability of organizations that are currently classified as the third sector. I write these opening words with great satisfaction, because, regarding Unibes, I also have an inside perspective, and not just an “outside” one, on its importance. My family has been associated with Unibes since its beginnings in 1915. My mother, Mrs. Betty Lafer, worked for the organization from the time of Ofidas, and actively participated in the merger of the entities that led to the creation of Unibes in 1976. My mother, who took part in the board of Unibes, lived, with social sensitivity and educational training, the day-to-day of its problems and changes until her death in 2006. Reading this book was, therefore, an opportunity to revisit in a structured way—thanks to the quality of narrative and the research of Roney Cytrynowicz—my conversations with her about Unibes, its problems and achievements over the years. It was also an opportunity to clearly follow how, after her death, the management of Mr. Bruno Laskowsky and his work partners have imprinted upon the social mission of Unibes a new level of institutional sustainability. They respect the original and identifying Jewish values of social justice and innovate when coping with the challenges of the first decade of this century. 12 É muito interessante na análise de como vêm operando a relação entre tradição, renovação e inovação as novas concepções que passaram a permear o serviço social e a interação entre voluntariado e profissionalização. Cabe destacar o alcance do capítulo final, que discute os modelos atualizados de governança presentes na Unibes, que dizem respeito aos requisitos do bom funcionamento e da sustentabilidade das organizações que atualmente são qualificadas como as do terceiro setor. Escrevo estas palavras iniciais com muita satisfação, pois tenho, em relação à Unibes, também uma percepção “de dentro” e não apenas “de fora” da sua importância. Minha família está associada à Unibes desde as suas origens, em 1915, e minha mãe, Betty Lafer, nela atuou desde o tempo da Ofidas e participou ativamente da fusão das entidades que levaram à criação, em 1976, da Unibes. Minha mãe, que integrou a direção da Unibes, viveu, com sensibilidade social e vocação pedagógica, o dia a dia de seus problemas e suas mudanças até o seu falecimento em 2006. A leitura do livro foi, assim, uma oportunidade para revisitar, de maneira estruturada, graças à qualidade da narrativa e da pesquisa de Roney Cytrynowicz, o que, no correr dos anos, foram as minhas conversas com ela sobre a Unibes, seus problemas e suas realizações. Foi também uma oportunidade de, com clareza, acompanhar como, depois do seu falecimento, a gestão de Bruno Laskowsky e de seus parceiros de trabalho vem imprimindo à missão social da Unibes um novo patamar de sustentabilidade institucional, respeitando os valores judaicos de justiça social, que estão na sua origem e identidade, e inovando para lidar com os desafios da primeira década do século xxi. pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s Apresentação Prologue A maturidade, a juventude e os sonhos de uma instituição The maturity, the youth and the dreams of an institution M Anita Schuartz Presidente Honorária da Unibes uitos anos atrás, muito despretensiosamente, foi plantada uma pequenina semente, um pequeno sonho de algumas pessoas, de uma comunidade. Timidamente, de forma espontânea, quase mágica, outras pessoas foram se envolvendo e, como visionários de um mundo melhor, permitiram a materialização desse sonho. Hoje, 95 anos depois, num tempo de novas parcerias entre a sociedade civil, o poder público e empresas cidadãs, a Unibes é uma instituição modelo de gestão solidária e referência de cidadania participativa. Este livro é a história desse gigante, é a história desse sonho! A Unibes é um organismo vivo: são as pessoas que passaram e passam por ela em seus mais diferentes papéis e funções, são as frustrações, as tristezas, as ansiedades, o desespero, mas também a esperança, as alegrias, as realizações, o compartilhar, o dividir, o participar. É, no seu sentido mais amplo, a vida dos que lá estão porque precisam de ajuda e daqueles que lá estão para ajudar. Foram milhares e milhares de pessoas cujas vidas cruzaram com a vida da Unibes nestes 95 anos. Foram milhares e milhares de usuários que confiaram em nós, dividindo conosco suas angústias, suas dúvidas, suas ansiedades e suas dores, mas que também nos permitiram comemorarmos juntos suas alegrias e suas vitórias. Anita Schuartz Honorary Chairman at Unibes M any years ago, very plainly, a tiny seed was planted: a little dream of some people in a community. Cautiously, spontaneously, almost magically, others got involved and, as visionaries of a better world, allowed for the materialization of that dream. Now, 95 years later, in a time for new partnerships among the civil society, the public powers and corporate citizens, Unibes is a model institution of joint management and a reference for participatory citizenship. This book is the history of this giant institution; it is the history of that vision! Unibes is a living organism: there are the people who have passed and pass through it living its many different roles and functions. There is frustration, sadness, anxiety, despair, but also hope, joy, accomplishment, sharing, apportion, participation. It is, in its broadest sense, the lives of those who are there because they need help and of those who are there to help. There were thousands and thousands of people whose lives intersected with the life of Unibes over the last 95 years. There were thousands and thousands of users who relied on us, sharing with us their anguish, their doubts, their anxiety and their pain. Notwithstanding, they also allowed us for celebrating together their joys and their victories. pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 13 The great challenge was wrapped around its shoulders, the day-to-day responsibility, the difficult times and the milder ones, its success and its failure, the problems and their solutions. Responsibility was shared among directors, volunteers, wonderful technicians, partners, donors and government agencies that helped us to help. Congratulations to all who, with extraordinary community vision, dreamed and managed to erect a unique institution on a solid foundation of three other organizations that dignified the Jewish community with their work: Ezra, Ofidas, and the Policlínica Linath Hatzedek. Congratulations to everyone who gave continuity to that dream and transformed Unibes into a modern and model institution in the field of philanthropy in Brazil. The great lesson for a human being is learning how to be happy. These journey partners have shown that being happy is to give, to share, to participate, to share actions of friendship and solidarity. Not only have we learned from the older more experienced, more knowledgeable, more timid, and more cautious generation, but also from the younger, more modern, more dynamic, and more impetuous generation. The wisdom of maturity and dynamism of youth result in a powerful force to carry on with “our Unibes” and “our cause”, an open, transparent, active, and modern organization, built on the foundations of the Torah (Wisdom; the Law): Tzedakah—social justice; Avodah—work and Guemilut Chassadim—to help the needy. Thank you all for yesterday, for today and for tomorrow. The future is yours! 14 O grande desafio foi carregar nos ombros a responsabilidade do dia a dia, os momentos difíceis e os mais amenos, os sucessos e os fracassos, os problemas e as soluções, responsabilidade que foi dividida com diretores, voluntários, com técnicos maravilhosos e com parceiros, doadores e órgãos governamentais, que nos ajudaram a ajudar. Parabéns a todos que, com extraordinária visão comunitária, sonharam e conseguiram erguer uma instituição única sobre alicerces sólidos de três instituições que dignificaram a comunidade judaica com seu trabalho: a Ezra, a Ofidas e a Policlínica Linath Hatzedek. Parabéns a todos que deram continuidade a esse sonho e transformaram a Unibes em uma instituição moderna e modelo na área da filantropia no Brasil. O grande aprendizado do ser humano é aprender a ser feliz. Esses companheiros de jornada mostraram que ser feliz é doar, compartilhar, participar, dividir ações de amizade e solidariedade. Aprendemos com a geração mais madura, mais experiente, mais vivida, mais tímida e mais cautelosa, mas aprendemos também com a geração mais jovem, mais moderna, mais dinâmica e mais impetuosa. A sabedoria da maturidade e o dinamismo da juventude resultaram numa força poderosa para levar avante a “nossa Unibes” e a “nossa causa”, uma organização aberta, transparente, atuante e moderna, edificada sobre os alicerces da: Torá – sabedoria (a lei); Tzedaká – justiça social; Avodá – trabalho; Guemilut Hassadim – ajuda aos necessitados. Obrigada a todos por ontem, por hoje e por amanhã. O futuro é de vocês! pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s 1 Uma comunidade judaica se estabelece em São Paulo em 1915 A Jewish community established in Sao Paulo in 1915 pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 15 p. 15 Viaduto do Chá em 1918, símbolo de uma cidade que crescia e era receptiva e aberta aos imigrantes e a diferentes culturas. acima Estação da Luz no início do século 20, porta de entrada dos imigrantes judeus que chegavam a São Paulo depois de desembarcar no Porto de Santos. p. 15 Viaduto do Chá in 1918, the symbol of a city, growing and receptive, that was open to immigrants and different cultures. above Estação da Luz (Light Station) in the early 20th century – the gateway through which the Jewish immigrants arrived in Sao Paulo after landing at the Port of Santos. 16 pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s A história da União Brasileiro-Israelita do Bem-Estar Social – unibes – tem início na cidade de São Paulo em 1915, com a fundação da Sociedade Beneficente das Damas Israelitas, mais conhecida como Froien Farein, em ídiche, a língua que os imigrantes judeus da Europa Oriental falavam e mantiveram ao chegar a São Paulo. Logo no ano seguinte, em 1916, foi fundada a Sociedade Beneficente Amigo dos Pobres Ezra, conhecida como Ezra, que também se tornaria parte importante da história que levaria à criação da unibes seis décadas depois. Na Europa, a Primeira Guerra Mundial, iniciada em 1914, já entrava em seu segundo ano. As expectativas de que a guerra se encerraria no Natal daquele ano haviam se dissipado e os combates nas trincheiras se prolongavam sem fim, incluindo ataques à população civil e batalhas com centenas de milhares de mortes provocadas pela utilização de aviões, metralhadoras e lança-chamas. A Primeira Guerra Mundial foi, de certa forma, o verdadeiro marco do início do século 20, um século que começara com grandes esperanças e otimismo, com os progressos da ciência e da medicina, com o desenvolvimento das artes e da cultura e a transformação de várias capitais em metrópoles contemporâneas com confortos e equipamentos novos, mas também uma época já permeada por receios e temores de guerra, de obscurantismo político, da destruição em massa e da desumanização. T he history of the União Brasileiro-Israelita do Bem-Estar Social (Unibes) begins in Sao Paulo in 1915 with the founding of the Sociedade Beneficente das Damas Israelitas, better known as Froien Farein in Yiddish, the language spoken by Eastern European Jewish immigrants, and mantained after they arrived in Sao Paulo. The following year, in 1916, the Sociedade Beneficente Amigo dos Pobres Ezra, known as Ezra, was founded—which also became an important part of the history that would lead to the creation of Unibes six decades later. In Europe, the First World War, that broke out in 1914, was now entering its second year. The expectation that the war would end by Christmas of that year had dissipated, and the fighting in the trenches prolonged endlessly, including attacks on civilians and battles with hundreds of thousands of casualties caused by the use of airplanes, machine guns and flamethrowers. The First World War was, in some ways, the true mark of early 20th century—a century that began with high hopes and optimism, with the progress of science and medicine, with the development of arts and culture, and with the transformation of several capital cities into contemporary metropolises, offering comforts and new equipment. It was also a time permeated by concerns and fears of war, political obscurantism, mass destruction, and dehumanization. pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 17 The first two decades of the century also saw large displacements of immigrants, whether seeking new opportunities for a better life, or fleeing from prejudice, violence and persecution. During and at the end of the First World War, a significant flow of Jewish immigrants began arriving in São Paulo, originating from Eastern Europe especially, where legal restrictions on entry into the U.S., Canada and Argentina made Brazil an attractive option. São Paulo was an open and receptive city to the immigrants, integrating and absorbing each distinctive new culture, with freedom of religion and association, conditions for establishing roots, economic opportunities and social advancement. The city grew and urbanized rapidly, with trade and industry growing more and more. At the beginning of World War I, in 1914 and 1915, the Jewish population in Sao Paulo was two to three hundred families, some living here for a decade or two, but without constituting an association or community. The founding of the Sociedade Beneficente das Damas Israelitas and Ezra represented not only the beginning of organized labor to aid immigrants, but also defined their own ground zero towards the formation of an organized Jewish community in Sao Paulo, followed by the first synagogue, Kahalat Israel (Comunidade de Israel), founded in 1912, and later the Zionist movement Ahavat Zion and the Sinagoga Knesset Israel (both in 1916), and then in the 20s, the Gymnasio Hebraico-Brasileiro Renascença and the Cemitério Israelita in the Vila Mariana district. It was the combination of consistent work between charities and communities and the social and economic opportunities offered in the city, along with the atmosphere of cultural and religious freedom that, allowed for the full integration of immigrants. The center of immigration was the neighborhood of Bom Retiro, one of the economic and social hearts of Sao Paulo. In the 1870s, animal-powered trams already cut through the district, which was second in the city to see the arrival of circular electric trams in 1900. The writer Oswald de Andrade noted, “this electricity business was very dangerous. Those who set foot on the tracks were immediately trapped down there and would be fatally crushed by the streetcar.” Between 1900 and 1920 the local population more than doubled, 18 As duas primeiras décadas do século foram também anos de grandes deslocamentos de imigrantes, seja pelos que buscavam novas oportunidades de uma vida melhor, seja pelos que fugiam do preconceito, da violência e da perseguição. Foi durante e ao final da Primeira Guerra Mundial que começou a chegar a São Paulo um significativo fluxo de imigrantes judeus originários especialmente da Europa Oriental, quando restrições legais à entrada nos Estados Unidos, no Canadá e na Argentina tornaram o Brasil um lugar atraente aos imigrantes. São Paulo era uma cidade aberta e receptiva aos imigrantes, integrando-os e absorvendo traços de cada nova cultura, com liberdade de religião e de associação, condições de enraizamento e oportunidades econômicas e de ascensão social. A cidade crescia e se urbanizava rapidamente, com comércio e indústria cada dia mais intensos. No início da Primeira Guerra Mundial, 1914 e 1915, a população judaica de São Paulo contava de duzentas a trezentas famílias, algumas chegadas uma ou duas décadas antes, mas sem constituir entidades ou uma comunidade. A fundação da Sociedade Beneficente das Damas Israelitas e da Ezra representam não apenas o início do trabalho organizado de auxílio aos imigrantes, mas definiram o próprio marco zero da formação de uma comunidade judaica organizada em São Paulo, seguindo-se a primeira sinagoga, Kahalat Israel (Comunidade de Israel), fundada em 1912, depois o movimento sionista Ahavat Zion e a sinagoga Knesset Israel (ambos de 1916), e, em seguida, nos anos 20, o Gymnasio Hebraico-Brasileiro Renascença e o Cemitério Israelita da Vila Mariana. Foi a combinação de um trabalho consistente das entidades assistenciais e comunitárias com as oportunidades sociais e econômicas que se abriam na cidade, aliadas à atmosfera de liberdade cultural e religiosa, que permitiu a plena inserção dos imigrantes. O centro da imigração era o Bom Retiro, um dos corações econômicos e sociais de São Paulo. Nos anos 1870 bondes a tração animal já cortavam o bairro, que foi o segundo na cidade a ver circular bondes elétricos em 1900. O escritor Oswald de Andrade escreveria que “era muito perigoso esse negócio de eletricidade. Quem pusesse os pés nos trilhos ficava ali grudado e seria esmagado fatalmente pelo bonde”. Entre 1900 e 1920 a população pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s Avenida Tiradentes em 1905, retrato da renovação urbana nos bairros da Luz e do Bom Retiro. Avenida Tiradentes in 1905, a portrait of urban renewal in the Luz and Bom Retiro neighborhoods. paulistana mais do que duplicou, passando de 240 mil para 580 mil habitantes. Com o crescimento vieram também novos hábitos e costumes, que substituíam a vida provinciana pelo ritmo acelerado de metrópole. Foram anos em que se disseminaram o telefone, a máquina fotográfica e o cinema, a vitrola, o telégrafo e o automóvel. Nos anos 1910, apesar do início da utilização do concreto armado, a cidade ainda tinha construções de taipa no centro. O primeiro edifício de concreto armado erguido na cidade foi o Palacete Guinle, na Rua Direita, em 1913. Pouco depois, em 1917 abririam na capital paulista a Bolsa de Mercadorias e a Bolsa de Valores. No Bom Retiro se sobressaía a Estação da Luz, ponto final da linha Santos–Jundiaí, cujos trilhos foram assentados em 1867, base do transporte do café, riqueza que fez crescer a cidade. A pró- from 240,000 to 580,000 inhabitants. Along with the growth also came new ways of life and habits, which replaced the provincial life with the fast pace of a metropolis. The telephone, the camera and cinema, the phonograph, the telegraph, and the automobile spread all over throughout those years. In the 1910s, despite the introduction of reinforced concrete, the city still had mud buildings in its center. The first reinforced concrete building constructed in the city was the Palacete Guinle on Rua Direita in 1913. Shortly thereafter, in 1917, the Commodities Market and the Stock Exchange were installed in Sao Paulo. The Estação da Luz in Bom Retiro stood out as the last stop on the Santos-Jundiaí train track, laid in 1867 to support the transport of coffee, providing the wealth that boosted the city. The pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 19 national economy focused on the export of this product, which fed the diversification of the economy and the establishment of industries, as well as the import of new fashions and attitudes from Europe. In 1910, during the period known as café au lait politics, there were just over 26 million people in Brazil and the President was Venceslau Brás Pereira Gomes. The railway turned the neighborhood into an economic center, with factories, workshops and business opportunities for immigrants who began arriving in the 1870s and later, in mass, after the abolition of slavery. Bom Retiro had become an Italian neighborhood from 1890. Between 1910 and 1924 around 150,000 Italians came to Sao Paulo, along with 180,000 Portuguese and 170,000 Spanish. That connected the neighborhood to a major global route that unloaded coffee in Santos harbor and returned with European immigrants to the coffee plantations and to the state capital. A cosmopolitan life was developed there within the area enclosed by the railway line, Avenida Tiradentes and the Tietê River. From the beginning of the 20th century the neighborhood served as a starting point to the routes of street vendors. Upon arriving in the 1910s, the Jews were able to settle in small houses and workers’ villages, with affordable rent uniting housing and work. Jardim da Luz was the center of public life, the first public garden in the city, where immigrants were snapped by local photographers for decades, wearing suits-for-hire and smiles on their faces in the forest-like park setting, composing an imaginary optimism, sense of discovery and joy of being in the New World. At the grand iron bandstand in the center of the park, band performances were popular and often played on Sundays, but also on festive occasions, for military parades and processions. The most-attended recital was the Força Pública, who performed drills, marches, waltzes, operas, operettas and symphonies, but there were others like the Banda Alemã, Corps and the most diverse lyric poetry. On Sundays there might also be a mid-air presentation with balloons, acrobats and jugglers, along with the consumption of sodas, draft beer, sandwiches and ice cream. It was in one of these presentations in the park in Bom Retiro, years earlier, that the young boy Alberto Santos Dumont (later considered the father 20 pria economia do País era centrada na exportação deste produto, que propiciava a diversificação da economia e a implantação das indústrias, além da importação de novas modas e novos comportamentos da Europa. Em 1910, o Brasil tinha pouco mais de 26 milhões de habitantes e o presidente, no período conhecido como o da política do café com leite, era Venceslau Brás Pereira Gomes. Com a ferrovia, o bairro se tornou um polo econômico, com fábricas, oficinas e oportunidades de comércio para os imigrantes que começaram a chegar nos anos 1870 e depois, em massa, após a abolição da escravidão. O Bom Retiro se tornara um bairro de italianos desde 1890. Entre 1910 e 1924 entraram em São Paulo cerca de 150 mil italianos, 180 mil portugueses e 170 mil espanhóis. Com isso, o bairro ficava conectado a uma importante rota mundial que descarregava café em Santos e voltava com imigrantes europeus para as fazendas de café e para a capital paulista. Uma vida cosmopolita ali no território entre a linha de trem, a Avenida Tiradentes e o Rio Tietê. Já no início do século 20 o bairro serviria de ponto de partida aos caminhos dos mascates. Ao chegar nos anos 1910, os judeus puderam instalar-se em sobrados e pequenas vilas operárias, de aluguel acessível e unindo trabalho e moradia. O centro da vida pública era o Jardim da Luz, primeiro jardim público da cidade, onde os imigrantes se fotografaram por décadas com os lambe-lambes, ternos de aluguel, sorrisos nos rostos e a mata do parque como cenário, compondo um imaginário de otimismo, desbravamento e alegria de estar no Novo Mundo. No imponente coreto de ferro ao centro do parque eram populares as apresentações de bandas de música que tocavam geralmente aos domingos, mas também em datas festivas, paradas militares e procissões. A mais concorrida era a da Força Pública, que executava dobrados, marchas, valsas, óperas, operetas e sinfonias, mas havia outras como a Banda Alemã e corporações e liras as mais diversas. Aos domingos podia haver também uma apresentação aérea com balões, acrobatas e malabaristas do ar e o consumo de gasosas, chopes, sanduíches e sorvetes. Foi em uma destas apresentações no parque no Bom Retiro, anos antes, que o menino Alberto Santos Dumont, viajando de Minas Gerais a São Paulo, viu um balão no ar pela primeira vez. pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s Além de estabelecimentos fabris, como a Fábrica de Tecidos Anhaia e a Cervejaria Germânia, o bairro abrigava algumas das mais tradicionais instituições educacionais da cidade no Império e na República, entre elas o Liceu de Artes e Ofícios (prédio da atual Pinacoteca de São Paulo), a Escola Politécnica (1893), a Faculdade de Farmácia e Odontologia (que se mudou para o bairro em 1905), a Escola Modelo Prudente de Morais, o Liceu Coração de Jesus e o Colégio Santa Inês, os dois últimos salesianos. Estas instituições mostram a importância social e cultural do bairro, que atingiria cerca de 30 mil habitantes nos anos 1920. O suave e simpático nome, Bom Retiro, vem de uma das chácaras de recreio que ali existiam, próximas à várzea do Rio Tietê, até a urbanização da região, e onde foram realizadas as primeiras partidas de football, em campos da São Paulo Railway e da ferrovia inglesa, e onde também seria fundado – por imigrantes espanhóis e portugueses – o Sport Club Corinthians em 1910. Antes disso, os funcionários ingleses da ferrovia e de outras empresas, como as de gás e eletricidade, treinavam o esporte na chácara Dulley, no bairro, já que em seu clube os esportes aceitáveis e valorizados eram o cricket e o rugby. As posições de cada team eram assim denominadas, seguindo a tradição britânica: goal-keaper, dois full-backs (direita e esquerda), três half-backs (centro, direita e esquerda) e cinco forwards (direita, esquerda, meio-direita, meio-esquerda, centro). Vários esportes, além do futebol, dividiam as atenções do público no início do século 20 na cidade de São Paulo, entre eles os mais procurados eram o ciclismo, o turfe, o cricket, a peteca, o boliche, o tênis, a ginástica, o rowing (remo ou canoagem), a natação, a aviação, o motociclismo, o automobilismo, a patinação, a esgrima, o pingue-pongue, a boccia e a pelota basca (ou frontão). O velódromo, na Rua da Consolação, construído em 1895 em um terreno de Dona Veridiana Prado, era local de provas de ciclismo e de futebol. E como era a vida na cidade naquela época? Nada mais saboroso do que retomar a descrição, por exemplo, do capítulo “Compras na cidade”, do livro São Paulo naquele tempo 1895-1915, de Jorge Americano, cronista da vida paulistana a partir de fins do século 19: “Moça jamais podia sair de casa sozinha, para o centro of aviation), traveling from Minas Gerais to Sao Paulo, saw a balloon in the air for the first time. In addition to fabric manufacturing businesses, such as Fábrica de Tecidos Anhaia, and the Cervejaria Germânia (brewery), the neighborhood was home to some of the most traditional educational institutions in the city, in the Império and República plazas, including the Liceu de Artes e Ofícios (Arts & Crafts School, in the building which today houses the Pinacoteca of Sao Paulo), the Escola Politécnica (1893), the Faculdade de Farmácia e Odontologia (which moved to the neighborhood in 1905), the Escola Modelo Prudente de Morais, the Liceu Coração de Jesus and the Colégio Santa Inês (the last two being Salesian). These institutions prove the social and cultural importance of the district, which would reach about 30,000 inhabitants in 1920s. The soft and friendly name Bom Retiro originated from one of the recreational farms by the Tietê River valley until the urbanization of the region, and where the first soccer games took place, in the fields of the Sao Paulo and English Railways, and also where the Spanish and Portuguese immigrants would establish Sport Club Corinthians in 1910. Before this, the employees of the British railway and other companies, such as the gas and electric companies, practiced football at the Dulley farm, in the neighborhood. Their club had only accepted and valued cricket and rugby. The positions of each team were well known, following the British tradition: a goalkeeper, two full-backs (right and left), three halfbacks (center, left and right) and five forwards (right, left, middle-right, middle-left, and center). Several sports, besides football(soccer), shared the spotlight in the early 20th century in Sao Paulo, among them the most sought after were cycling, horse racing, cricket, badminton, bowling, tennis, gymnastics, rowing (in shells and canoes), swimming, flying, motorcycling, auto racing, skating, fencing, ping-pong and bocce ball. The velodrome on Rua da Consolação, built in 1895 on some property belonging to Ms. Veridiana Prado, was the location for cycling races and football. And what was life like in the city at that time? Nothing is tastier than revisiting a description, for example, from the chapter “Shopping in the City”, in the book São Paulo Naquele Tempo 1895-1915 by Jorge Americano, a chroni- pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 21 cler of life in Sao Paulo in the late 19th century: “Young ladies could never leave home alone and go downtown. She had to go accompanied by her mother or brother or sister, even younger ones, or by a nephew. Nor could the mother leave home alone. She had to go accompanied by her daughter or grandson. Upon taking the tram, the lady was sometimes surprised to hear from the tariff collector that the passage had been paid ‘by the gentleman back there’. As the tram carried only about 15 passengers, she would turn around and thank the kind gentleman. It was not, many times, out of intimacy. Knowing a lady sufficed for the right and duty to do that courtesy. One might even look bad if he did not do it. At home, one might say he had hidden, pretending not to see the person next to him, in order to not pay for the ticket.’[1] da cidade. Tinha que ir acompanhada pela mãe, ou por irmão ou irmã, mesmo pequenos; ou por um sobrinho. Também a mãe não podia sair de casa sozinha. Tinha que ir acompanhada pela filha ou neto. Ao tomar o bonde, tinha, às vezes, a surpresa de ouvir do cobrador que a passagem já fora paga ‘por aquele senhor lá atrás’. Como o bonde levava mais ou menos 15 passageiros, voltava-se e agradecia ao cavalheiro amável. Não era, muitas vezes, da intimidade. Bastava conhecer para ter o direito e o dever de fazer aquela cortesia. Até lhe ficaria mal se não fizesse. Em casa seria comentado que ele se encolheu, fingindo não ver, para não pagar a passagem”.1 Foi precisamente neste contexto, com seus costumes e cenários, em que uma moça que se prezasse não saía sozinha às compras na “cidade”, mas igualmente em uma cidade que progre- No início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, a população judaica de São Paulo contava de duzentas a trezentas famílias; na foto, a Hospedaria dos Imigrantes. At the beginning of World War I in 1914, the Jewish population of Sao Paulo had two to three hundred families; in the photo, the “House of Immigrants.” 22 pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s dia, que começou a se organizar a comunidade judaica. Tempos em que balconista era caixeiro e no qual os artigos de comércio da classe média se concentravam na região do “Triângulo” e no centro antigo da cidade, onde os homens elegantes de mais idade ainda usavam sobrecasaca e cartola preta, bengala e guarda-chuva. Os mais jovens, por sua vez, começavam a inovar: fraque claro, colarinho em pé, gravata colorida, luvas, chapéu cinza de abas duras e flor na lapela, ou ainda casaco escuro com calça xadrez, e depois vieram os enchimentos de ombro masculinos. Rede de proteção social It was precisely this context, with its customs and scenes, that did not allow for a selfrespecting lady to go downtown alone to shop, in a city undergoing progress, where the Jewish community began to organize itself. Those were times when a counter clerk was a salesman and when the middle class goods were concentrated in the “Triangle” region and the old town center, where elegant older men still wore black overcoats and top hats, and carried a cane and umbrella. Younger men, in turn, began to innovate: light-hued morning coats, starched collars, colorful ties, gloves, gray brimmed hats and flowers in the lapel, or even dark coats over tartan pants, and then came the masculine shoulder pads. Estabelecer uma rede de proteção social para os imigrantes judeus, com a Sociedade das Damas e a Ezra, não era apenas uma questão comunitária. Nos anos 1910 as instituições e políticas públicas sociais eram quase inexistentes no País. Ainda eram os tempos em que “a questão social era um caso de polícia”, conforme o refrão político da época e lembrando-se que a clt, o primeiro conjunto de leis trabalhistas, seria instaurada em 1943. Mais de um quarto de século antes, ocorreram na cidade as célebres greves de 1917 que paralisaram a cidade por dias seguidos e integravam um processo de conquista de direitos políticos e trabalhistas por parte do operariado, muitos dos quais imigrantes europeus e adeptos do Anarquismo e de movimentos socialistas. Uma descrição do trabalho de crianças, a partir de sete, oito anos, nas fábricas paulistanas nos anos 1910, propicia um retrato de como era o trabalho e de como não havia nem leis nem proteção social, conforme Jacob Penteado lembrando das fábricas no bairro do Belenzinho: “O horário, ali, era o seguinte: entrada às seis horas; às sete e meia, um intervalo de quinze minutos, para o café; das onze horas ao meio-dia, almoço. O segundo período ia das doze às dezesseis, com outro intervalo de quinze minutos, para merenda, às catorze horas. Trabalhava-se, pois, nove horas por dia, inclusive aos sábados. E, quando havia muitas encomendas, também aos domingos, das seis às doze. As “oito horas” representavam, ainda, uma desejada e longínqua conquista, que viria somente anos depois, após muita luta pelas ruas e espancamento de operários pela polícia (...) O ambiente era o pior possível. Calor intolerável, dentro de um barracão coberto de zinco, sem Social safety net Establishing a social safety net for Jewish immigrants, with the help of Sociedade Beneficente das Damas Israelitas and Ezra, was not just a community issue. In the 1910s, public social institutions and policies were virtually nonexistent in Brazil. It was still the time when “the social question was a police matter”, in accordance with the political chorus at that time and bearing in mind that the CLT, the first set of labor laws, would be introduced in 1943. More than a quarter century earlier, the legendary 1917 strikes took place. They paralyzed the city for days and the working class, many of whom were European immigrants and supporters of Anarchism and socialist movements, and achieved a series of political and labor rights. A description of child labor, from seven to eight years of age, in Sao Paulo factories in the 1910s, provides an image of the working conditions and how there were neither laws nor social protection back then. Referring to the factories in the Belenzinho neighborhood, Jacob Penteado says: “The schedule, then, was as follows: get in at six o’clock, a fifteen minute coffee break at half past seven, from eleven to noon, lunch. The second period was from noon to four, including another fifteen-minute coffee break at two pm. Therefore, one worked nine hours a day, including Saturdays. And when there were many orders to be delivered, one worked also on Sundays, from six to twelve. The ‘eight hours’ then represented a distant and desired achievement, which would come true only years later, after much fighting in pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 23 the streets and beatings of workers by the police. Working conditions were the worst possible: intolerable heat, in a shed topped by a zinc roof, with no windows nor ventilation Micide dust, saturated with contagions, of the powder of ground up drugs. Shards of glass scattered on the ground represented another nightmare for the children, because many of them worked barefoot or with their feet protected only by rope sandals, which were often pierced. Water did not excel in hygiene or healthiness.”[2] Along with the progress and development there was also poverty and serious social difficulties, which included the newly arrived immigrants in need of a social network for immediate protection. In the case of the Sociedade Beneficente das Damas Israelitas and of Ezra, the network meant much more than that. It implied membership in a community and effective opportunities for education, employment and social ascension. The formation of the Jewish community and the actions of the Sociedade Beneficente das Damas Israelitas and Ezra were carried out with the support of international aid organizations for Jewish refugees, such as the Hebrew Immigrant Aid Society (HIAS, founded in 1885), the Jewish Colonization Association (JCA, established in 1919), Emigdirect and, later, also the American Jewish Joint Distribution Committee (Joint, founded in 1914). Most immigrants arrived through these organizations, which provided travel, tickets and contact with local organizations. The latter, in turn, prepared the invitation letters and took care of the legal process so that the immigrants could get into Brazil. The JCA was highly skilled in organizing immigration into Brazil, resulting from the arrengement of agricultural colonies in the southern state of Rio Grande do Sul, in 1901. In Argentina, the first JCA colonies were founded in 1890. The focus shift of the JCA, which proceeded to organize the immigration to urban centers like Sao Paulo, was very important for the formation of urban Jewish communities after 1910. The Sociedade Beneficente das Damas Israelitas was founded by women of already-established families in the state capital, notably Olga Tabacow, Bertha Klabin, and Olga Nebel. Until 1931 the organization was probably more informal, initially working in their patrons’ homes 24 janelas nem ventilação. Poeira micidal, saturada de miasmas, de pó de drogas moídas. Os cacos de vidros espalhados pelo chão representavam outro pesadelo para as crianças, porque muitas trabalhavam descalças ou com os pés protegidos apenas por alpercatas de corda, quase sempre furadas. A água não primava pela higiene nem pela salubridade”.2 Ao lado do progresso e do desenvolvimento havia também pobreza e dificuldades sociais sérias, o que incluía os imigrantes recém-chegados, que precisavam de uma rede social de proteção imediata. No caso da Sociedade das Damas e da Ezra esta rede significou muito mais do que isso, incluindo a pertinência a uma comunidade e efetivas oportunidades de educação, trabalho e ascensão social. A formação da comunidade judaica e a ação das Damas e da Ezra foram realizadas com apoio de organizações internacionais de auxílio a refugiados judeus, como a Hebrew Immigrant Aid Society (Hias, fundada em 1885), a Jewish Colonization Association (jca, criada em 1919), a Emigdirect e, mais tarde, também a American Jewish Joint Distribution Committee ( Joint, fundada em 1914). A maior parte dos imigrantes chegava por meio destas organizações, que providenciavam a viagem, as passagens e o contato com as organizações locais, que, por sua vez, preparavam a carta de chamada e cuidavam do processo legal para que o imigrante pudesse entrar no País. A jca já tinha experiência em organizar a imigração ao Brasil desde a instalação das colônias agrícolas no Rio Grande do Sul a partir de 1901. Na Argentina, as primeiras colônias da jca foram fundadas em 1890. A mudança de enfoque da jca, que passou a organizar a imigração para centros urbanos como São Paulo, foi muito importante para a constituição das comunidades judaicas urbanas a partir de 1910. A Sociedade Beneficente das Damas Israelitas foi fundada por senhoras das famílias já estabelecidas na capital paulista, destacando-se Olga Tabacow, Bertha Klabin e Olga Nebel. Até 1931 a entidade teve provavelmente uma existência mais informal, funcionando inicialmente nas casas das suas patronas, depois no Círculo Israelita e (provavelmente) a partir de 1931, na Rua 15 de Novembro, no 44, no chamado “Triângulo”. As Damas levavam roupas aos necessitados, especialmente mulheres e crianças, e pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s Entre 1910 e 1924 entraram em São Paulo cerca de 150 mil italianos, 180 mil portugueses e 170 mil espanhóis e muitos se fixaram no Bom Retiro. Between 1910 and 1924, about 150,000 Italians, 180,000 Portuguese, and 170,000 Spanish came to Sao Paulo; many settled in Bom Retiro. prestavam outros auxílios mais urgentes. Nos primeiros anos de existência, a ação das Damas estava bastante voltada também para a assistência às mulheres parturientes, pagando suas despesas médicas e hospitalares por ocasião do parto. A Sociedade Beneficente Amigo dos Pobres Ezra foi fundada em 20 de maio de 1916, quando se escreveu em sua ata de fundação que seu objetivo era o de “não deixar ir pedir esmolas, mas auxiliar aos pobres, doentes e arranjar serviço aos que não têm, e ajudar também materialmente quando é necessário. A Comissão dá o socorro necessário no prazo máximo de 24 horas. São recebidos donativos dos senhores sócios e também de particulares a qualquer hora e por qualquer membro da Comissão”. and later in the Círculo Israelita. (Probably) commencing in 1931, it was based on Rua 15 de Novembro, no 44, in the so-called “Triangle”. The Sociedade Beneficente das Damas Israelitas distributed clothes to the needy, especially women and children, and provided other urgent assistance. In its first years, the Sociedade Beneficente das Damas Israelitas focused on the assistance to pregnant women, paying for their medical expenses and hospital stay during labor. The Sociedade Beneficente Amigo dos Pobres Ezra was founded on May 20, 1916, when, in its foundation minutes, its objective read: “not to encourage begging, but help the poor, the sick and find jobs for unemployed people, besides helping them materially when the need pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 25 Construção do Cemitério Israelita da Vila Mariana, que recebeu o primeiro sepultamento em 1920. Construction of the Jewish Cemetery of Vila Mariana, which received the first burial in 1920. be. The Commission is to provide the necessary relief within 24 hours. Donations are welcome both from members and private individuals at any time and by any member in the Commission.” Ezra was much more than a social aid organization; it was the very backbone of the community, a post it certainly held until the 40s, as it took care of most aspects of the arrival and absorption of immigrants, as well as various matters relating to daily life of the community, serving as its organizational center. The Society proposed, therefore, to provide first assistance and to seek work for immigrants, so they would not have to beg on city streets. Just nine days after its creation, Ezra had already sent letters to Campinas and other cities in order to maintain ties, a fact that serves as evidence of the dispersion of the immigrants trying to make ends meet upstate. The first case of aid to be recorded in the board meeting minutes is that of a patient who was admitted to Santa Casa de Santos and had asked Ezra to assist with half of the costs of his ten-day hospitalization. Ezra organized the legal process of receiving immigrants. The Brazilian legislation on immi- 26 A Ezra era muito mais do que uma entidade de auxílio social; era a própria espinha dorsal da comunidade, lugar que ocupou certamente até os anos 40, já que cuidava da maior parte dos aspectos relativos à chegada e à absorção dos imigrantes, além de vários assuntos relativos ao dia a dia da comunidade, funcionando como seu centro organizacional. A entidade propunha-se, portanto, a prestar os primeiros auxílios e a procurar um trabalho para os imigrantes, para que eles não tivessem que mendigar nas ruas da cidade. Apenas nove dias após a sua criação, a Ezra já enviava cartas a Campinas e a outras cidades para manter laços, evidência da dispersão dos imigrantes que iam tentar a vida em várias cidades do interior paulista. O primeiro caso de auxílio registrado em ata de reunião de diretoria é o de um doente que estava internado na Santa Casa de Santos e solicitava à Ezra que custeasse metade das despesas de sua internação de dez dias. A Ezra organizava o processo de recepção legal dos imigrantes. A legislação brasileira sobre imigração deixava margem à ambiguidade e à possibilidade de recusar a entrada de viajan- pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s tes pobres que chegavam de navio. Pela lei, praticamente toda pessoa que chegasse de segunda ou terceira classe era declarada imigrante e sujeita a uma série de restrições, como a recusa à entrada aos que não tivessem trabalho declarado ou endereço definido, entre outras cláusulas. Na prática, as ambiguidades e o excesso de cláusulas davam margem também a um certo território de negociações legais e era neste campo que a Ezra trabalhava, providenciando certificados de trabalho e de moradia, além das cartas de chamada, que garantiam um responsável no Brasil pelo imigrante e um endereço de contato, o que viabilizava o processo de entrada no País. Assim que chegava, o imigrante era conduzido para uma das várias pensões existentes no Bom Retiro ou para um abrigo coletivo, onde ele podia passar umas poucas semanas no máximo, até encontrar um quarto ou uma casa para morar e um trabalho, auxiliado pelo Bureau du Travail da própria Ezra, que providenciava um primeiro emprego. Eventos conjuntos eram comuns entre Ezra e as Damas. Em outubro de 1916, a Ezra enviou carta às Damas convidando-as a participar de um espetáculo em benefício das crianças brasileiras israelitas. Além dos sócios pagantes, a Ezra financiava-se por meio de espetáculos artísticos e de doações espontâneas. Em agosto de 1916, a entidade enviou uma carta à Sociedade Amadores Israelitas “Scholem Aleichem” pedindo um espetáculo em benefício da entidade, que foi realizado em 1918, com o título de “Der Vilde Mentsch”. gration left room for ambiguity and the possibility to refuse the entry of poor travelers who arrived by ship. Virtually any person who came as a second or a third class immigrant was declared by law subject to a number of restrictions, such as not being admitted into the country for being unemployed or not bearing a permanent personal address, among other provisions. In practice, this ambiguity and the profusion of clauses also gave rise to a certain ground for legal negotiations. Ezra worked on that field, providing certificates of employment and housing, in addition to invitation letters , which guaranteed the immigrant a responsible party in Brazil and a contact address, which enabled the process of entering the country. Upon arrival, the immigrant was taken to one of several boarding houses in Bom Retiro, or to a public shelter, where he could spend a few weeks at most until he/she found a room or a house to live in and work, aided by the Bureau du Travail within Ezra, which provided a first job. Joint events between Ezra and the Sociedade Beneficente das Damas Israelitas were common. In October 1916, Ezra sent a letter to the Sociedade Beneficente das Damas Israelitas inviting them to participate in a benefit show for Jewish children in Brazil. In addition to paying members, Ezra supported itself through artistic performances and spontaneous donations. In August 1916, the organization sent a letter to Sociedade Amadores Israelitas “Scholem Aleichem” requesting a benefit production on behalf of the organization, which was held in 1918 with the title “Der Mentsch Vilde”. Ezra and the Spanish Influenza in 1918 A Ezra e a Gripe Espanhola em 1918 A epidemia da Gripe Espanhola que assolou São Paulo no ano de 1918 levou à criação de um hospital improvisado por parte da Ezra na sinagoga Knesset Israel, à Rua Newton Prado, no Bom Retiro. A então estudante de medicina Rebeca Guertzenstein, que atendeu os doentes, contraiu a doença e faleceu. A doença mobilizou a cidade como um todo e várias comunidades de imigrantes prestaram socorros. Na Hospedaria dos Imigrantes foi montado um hospital que contou com os médicos e o apoio do Hospital de Isolamento da Capital (futuro Hospital Emilio Ribas). The Spanish flu epidemic that swept Sao Paulo in 1918 led to the creation of a makeshift hospital by Ezra in the Knesset Israel synagogue, located on Rua Newton Prado, in Bom Retiro. The medical student Rebecca Guertzenstein, who assisted the sick, caught the flu herself and passed away. The disease had mobilized the whole city and various immigrant communities provided aid. A hospital was built at the Hospedaria dos Imigrantes, which relied on doctors and support of the Hospital de Isolamento da Capital (the future Hospital Emilio Ribas). pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 27 It is estimated there were approximately 20 million fatal victims worldwide, which corresponded to 1.5% of the population. In Sao Paulo, the Spanish Flu completely changed the daily life in the city, as the memoirist Jacob Penteado wrote: “The strongest outbreak on record in the capital would come in October 1918, when the flu epidemic, identified as ‘Spanish’, exploded in a virulent form. There was no home that had not been reached. In some, all the residents were found dead. Entire families perished in that sad phase of life in Sao Paulo, even though the authorities had mobilized all their resources and appealed to all institutions and associations. (...) Mournful processions of hearses could be seen throughout the streets at any time of day, in full activity.”[3] In 1917, the capital recorded a total of 1,135 deaths by contagious diseases, and 6,645 deaths in 1918, 5,331 deaths being caused by the flu epidemic. By the end of the 1910s the Jewish community was already established in Sao Paulo and began planning institutions that would guarantee other core aspects in their lives, such as the foundation of a cemetery and a school, both pillars being rooted in the New World. Being bases for this community, the Sociedade Beneficente das Damas Israelitas and Ezra allowed for the immigrants to build their homes in the New World. Nevertheless the flow of immigrants went on intensely and charities, existing and new, created in 1920 and 1930, continued to occupy a central place in community life, meeting new and evolving needs and shaping new institutions. Notes Americano, Jorge. São Paulo naquele tempo 1895-1915. São Paulo, Narrativa Um/Carrenho/Carbono 14, 2004, pp. 76-78. 2. Penteado, Jacob. Belenzinho, 1910, 2ª ed., São Paulo, Narrativa Um/Carrenho, 2003, p. 100. 3. Penteado, Jacob. Belenzinho, op. cit., pp. 260-61. Estima-se que aproximadamente 20 milhões de pessoas morreram vítimas da doença no mundo, o que correspondia a 1,5% da população. Em São Paulo, a Gripe Espanhola alterou completamente o cotidiano da cidade, conforme conta o memorialista Jacob Penteado: “O mais forte surto epidêmico de que há memória na Capital viria em outubro de 1918, quando a gripe epidêmica, crismada de ‘espanhola’, explodiu de maneira virulenta. Não houve lar que não fosse atingido. Em alguns deles, seus moradores foram encontrados todos mortos. Famílias inteiras pereceram, nessa triste fase da vida paulistana, embora as autoridades houvessem mobilizado todos os seus recursos e apelado para todas as instituições e entidades. (...) Viam-se pelas ruas a qualquer hora do dia, lúgubres cortejos de carros funerários em plena atividade”.3 Em 1917, a capital registrou um total de 1.135 óbitos por doenças transmissíveis e em 1918 foram 6.645, sendo 5.331 falecimentos por gripe epidêmica. Ao encerrar-se a década de 1910 a comunidade judaica já estava estabelecida em São Paulo e começou a planejar instituições que garantissem outros aspectos centrais de sua vida, como a fundação de um cemitério e de uma escola, ambos pilares do enraizamento no Novo Mundo. A Sociedade Beneficente das Damas Israelitas e a Ezra foram bases desta comunidade, que permitiram aos imigrantes construírem seus lares no Novo Mundo. Mas o fluxo imigratório seguia intenso e as entidades assistenciais existentes e as novas, criadas nos anos 1920 e 1930, continuaram a ocupar lugar central na vida comunitária, atendendo a novas e crescentes necessidades e moldando novas instituições. 1. 28 Notas 1. Americano, Jorge. São Paulo naquele tempo 1895-1915. São Paulo, Narrativa Um/Carrenho/ Carbono 14, 2004, pp. 76-78. 2. Penteado, Jacob. Belenzinho, 1910, 2ª ed., São Paulo, Narrativa Um/Carrenho, 2003, p. 100. 3. Penteado, Jacob. Belenzinho, op. cit., pp. 260-61. pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s 2 Policlínica Linath Hatzedek é fundada na metrópole paulista nos anos 1920 Policlínica Linath Hatzedek founded in Sao Paulo in the 1920s pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 29 p. 29 Automóveis, landôs, tílburis e bondes elétricos dividem o espaço no Viaduto do Chá em 1920, tendo ao fundo o Teatro Municipal e à direita o Vale do Anhangabaú. acima Nos anos 1920 a comunidade judaica contava com cerca de 30 mil integrantes, que puderam usufruir da atmosfera de progresso e liberdade da cidade de São Paulo. p. 29 Cars, coaches, tilburies and electric trams share the space in the Viaduto do Chá in 1920, against the backdrop of the Teatro Municipal and, on the right, Anhangabaú Valley. above In the 1920s, the Jewish community had about 30,000 members, who could enjoy the atmosphere of progress and freedom of the city of Sao Paulo. 30 pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s E m 1929 uma nova entidade assistencial foi fundada em São Paulo: a Sociedade Beneficente Linath Hatzedek (o nome Policlínica seria acrescentado em 1935) e nos anos de 1928 e 1929 a Ezra associou-se a organizações internacionais de auxílio à imigração, criando um novo modelo e parceria entre diferentes entidades para a recepção aos imigrantes. Estes dois marcos ampliaram em muito o intenso trabalho em uma década na qual a comunidade judaica já se encontrava plenamente estabelecida. Nos anos 1920 a comunidade judaica, com cerca de 30 mil integrantes, se organizou com uma ampla rede de instituições bem definidas. Entre as entidades fundadas naqueles anos estão: Cemitério Israelita da Vila Mariana (1920), Gymnasio Hebraico-Brasileiro Renascença (Hatchia, 1922), Sociedade Cemitério Israe lita (1923), Comunidade Israelita Sefaradi de São Paulo (1924), Organização Feminina Sionista Wizo (1926), Clube Esportivo e Social Macabi (1927) e Sociedade Cooperativa de Crédito Popular do Bom Retiro (1928). Em 1928 foram abertas as sinagogas Ohel Yaakov (na Rua da Abolição), Sinagoga Israelita Brasileira e Sociedade União Israelita Brasileira, as duas últimas erguidas na Mooca, ligadas à imigração de judeus do Líbano e da Síria, que se estabeleceram principalmente naquele bairro operário. Em 1929 foi inaugurado I n 1929 a new charitable trust was founded in Sao Paulo: Sociedade Beneficente Linath Hatzedek (the name “Policlínica” would be added in 1935). In 1928 and 1929, Ezra joined international aid organizations for immigration, creating a new model and partnership among different associations for the reception of immigrants. These two landmarks significantly increased the intense work in a decade during which the Jewish community was already well established. In the 1920s the Jewish community, with about 30,000 members, organized an extensive network of well-defined institutions. Among the societies founded in those years are the Cemitério Israelita da Vila Mariana (1920), Gymnasio Hebraico-Brasileiro Renascença (Hatchia, 1922), Sociedade Cemitério Israelita (1923), Comunidade Israelita Sefaradi de Sao Paulo (1924), Organização Feminina Sionista Wizo (1926), Clube Esportivo e Social Macabi (1927) and the Sociedade Cooperativa de Crédito Popular do Bom Retiro (1928). In 1928, the synagogues Ohel Yaakov (on Rua da Abolição), Sinagoga Israelita Brasileira and the Sociedade União Israelita Brasileira were constructed. The last two were built in the Mooca neighborhood and were connected to the immigration of Jews from Lebanon and Syria, who settled mainly in that working-class neighborhood. In 1929 the Templo Beth-El was inau- pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 31 gurated. Political activities were intense: in 1922, the first Zionist Congress in Brazil was held and the Federação Sionista Brasileira was founded; socialist movements, such as the Bund, and communist groups also organized themselves within the community. In the 1920s, the wealth provided by coffee exportation accelerated local growth, industrialization and progress in the city of Sao Paulo, which started building the symbol of a new era, the Martinelli Skyscraper, with 12 floors, the venture of an Italian immigrant inaugurated in 1929. The new technology of reinforced concrete allowed for ever-higher buildings. Earl Martinelli then built himself a rooftop penthouse to prove that living in a skyscraper was safe and comfortable. Modern Art Week in 1922 at the Teatro Municipal in Sao Paulo brought together a group of artists of the most diverse expressions that projected Modernism in all fields of art, among them Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Guilherme de Almeida, Anita Malfati, Patrícia Galvão. They shook up the cultural scene in the city, which they considered stagnant, mocked the Parnassians, and launched a manifesto in keeping with the times, under the allegory of Macunaíma, the new Brazilian hero. “Only Anthropophagy unites us” and “Tupi or not Tupi, that is the question” have become battle cries of a new aesthetic approach, innovative but also nationalist. Hollywood movies, newly arrived in theaters downtown Sao Paulo, had started disseminating the “American way of life,” with the image of the “flapper”, a woman in short hair, necklines and short skirts, and the “dandy”, a man in greased hair and an elegant suit. In early 1920s, Sao Paulo was an extension of Paris where 600,000 inhabitants lived, according to memoirist Jorge Americano, highlighting the tall towers and buildings in its landscape. From up high, one can glimpse the trams downtown, ‘a car every three blocks, some carts with donkeys crouched in a water trough”, looking eastbound one could make out about 100 factory chimneys. Despite the intense march of progress, the city still breathed nostalgic air as the memoirist Jacob Penteado asserted: “I remember that, still in 1920, I left a ball downtown, the day dawning, and hopped on a tilbury in Praça Sé, next to the 32 o Templo Beth-El. As atividades políticas eram intensas: em 1922 foi realizado o primeiro Congresso Sionista do Brasil e fundada a Federação Sionista Brasileira; movimentos socialistas, como o Bund, e grupos comunistas também se organizavam no interior da comunidade. Na década de 1920, a riqueza propiciada pelo café acelerava o crescimento, a industrialização e o progresso na cidade de São Paulo, que começaria a construção do seu arranha-céu símbolo de uma nova Era, o Edifício Martinelli, com 12 andares, empreendimento de um imigrante italiano inaugurado em 1929. A nova tecnologia do concreto armado permitia construir prédios cada vez mais altos e o conde Martinelli construiu para si um palacete no teto do edifício para demonstrar que era seguro e confortável viver em um arranha-céu. A Semana de Arte Moderna de 1922 no Teatro Municipal de São Paulo reuniu um grupo de artistas das mais diversas expressões que projetou o Modernismo em todos os campos da arte, entre eles Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Guilherme de Almeida, Anita Malfati, Patrícia Galvão. Eles sacudiram o que consideravam o marasmo da cena cultural na cidade, ironizaram os parnasianos e lançaram um manifesto condizente com os novos tempos, sob o signo de Macunaíma, o novo herói brasileiro. “Só a Antropofagia nos une” e “Tupi or not tupi, that is the question” se tornaram gritos de guerra de uma nova proposta estética, inovadora mas também nacionalista. No cinema de Hollywood, que chegava às salas de cinema no Centro de São Paulo, era o início da difusão do american way of life, da imagem da “melindrosa”, a mulher de cabelos curtos, decotes e saias curtas, e do “almofadinha”, o homem de cabelo engomado com brilhantina e terno superalinhado. São Paulo tinha no início dos anos 1920 a extensão de Paris e seiscentos mil habitantes, conforme o memorialista Jorge Americano, destacando-se torres e edifícios altos em sua paisagem. Olhando o centro do alto, avistavam-se bondes, “um automóvel a cada três quarteirões, algumas carroças com burros debruçados num bebedouro”; em direção ao leste podia-se ver cerca de 100 chaminés de fábrica. pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s Apesar da marcha intensa do progresso, a cidade ainda respirava ares nostálgicos, como conta o memorialista Jacob Penteado: “Lembro-me que, ainda em 1920, saí de um baile, no Centro, já madrugada, e tomei um tílburi, na Praça da Sé, ao lado da Catedral, então em construção. Caía uma garoa fininha, aborrecida. O cocheiro colocou-me um oleado sobre as pernas. Dei-lhe o endereço, Rua Passos, 36, e encostei-me no fundo do veículo, que rumou pela Várzea do Carmo. Cathedral, then under construction. A thin and boring drizzle was falling. The coachman put a rain-blanket on my legs. I forwarded him the address, Rua Passos, no 36, and leaned against the back of the vehicle, which headed down Várzea do Carmo. With the monotonous noise of the trotting horse, I fell asleep. I was awakened, upon arriving at the house, by the voice of the coachman.” At that time, still according to the memoirist, A riqueza propiciada pelo café acelera o crescimento da cidade, como nesta imagem de 1920 do Largo São Bento, com bondes, automóveis e tílburis. The wealth provided by the coffee industry accelerates the growth of the city, as seen in this 1920 image of Largo São Bento, with trams, cars and tilburies. pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 33 Alunas do Colégio Renascença, fundado em 1922, no Parque Antártica, época na qual a comunidade judaica estabeleceu diversas entidades, entre elas a Policlínica Linath Hatzedek. Students from Colégio Renascença, founded in 1922, in Parque Antártica, at which time the Jewish community had established several organizations, including the Policlínica Linath Hatzedek. “The most common means of transport, usually at weddings, baptisms or any other parties, were taxi cars, stagecoaches, tilburies or carts, all four wheels, except for the tilbury which had two, with the shafts attached to the animal. In this type of car, the most sought for urgent cases, the coachman sat next to the customer. If encouraged, they would talk the whole time. It was that which most resisted progress.”[4] The habits also underwent changes, states Jorge Americano, “The habit of leaning against the window in the afternoon was gone. So ingrained it was that back then there were people who had special pillows to rest their elbows on (...) On the other hand, the more free young women were the more they got together in groups for morning walks on the sidewalk, arm in arm. 34 Com o monótono ruído do trote do cavalo, acabei adormecendo. Fui despertado, ao chegar diante da casa, pela voz do cocheiro”. Nesta época, ainda conforme o memorialista, “o meio de transporte mais comum, geralmente nos casamentos, batizados ou outras festas quaisquer, eram os carros de praça, fiacres, tílburis ou landôs, todos eles de quatro rodas, com exceção do tílburi, que tinha duas, com os varais presos ao animal. Nesse tipo de carro, o mais procurado para casos urgentes, o cocheiro sentava ao lado do freguês. Se este desse corda, iam conversando o tempo todo. Foi o que mais resistiu ao progresso”.1 Os hábitos passavam também por transformações, conta Jorge Americano: “Desapareceu o hábito de vir à janela à tarde. Era tão enraizado antes que havia gente que possuía almofadinhas especiais para pousar os cotovelos (...) Por outro lado, a liberdade maior que se pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s deu às moças fez com que elas se reunissem à tarde em grupos para passear nas calçadas, de braços dados. A esses grupos aderiram os rapazes, modificando por inteiro o tipo anterior do namoro de rua, à distância”.2 Dois anos depois da Semana de Arte Moderna irrompeu a Revolução Tenentista, mais precisamente em 5 de julho de 1924, que provocou o bombardeio pelas tropas federais em partes da cidade, incluindo o Bom Retiro e a Luz, onde ficava o quartel da Força Pública. Na pauta de reivindicações dos tenentes liderados por Isidoro Dias Lopes, em oposição à República Velha dominada por partidos oligárquicos e tradicionais de São Paulo e Minas Gerais, estavam o voto secreto, a obrigatoriedade do ensino primário e profissional, a descentralização do poder no País, a limitação das ações do Poder Executivo e a moralização do Poder Judiciário. Esta efervescência política, com revoltas em São Paulo e no Rio de Janeiro (com a tomada do Forte de Copacabana), desembocaria na Revolução de 1930, na ascensão de Getúlio Vargas ao poder e em um realinhamento político no País. Assim, novos ares de progresso, renovação e modernismo irradiavam nas artes, na política e na intensa urbanização da cidade. Foi neste clima geral que a comunidade judaica se consolidou em São Paulo, recebendo imigrantes aos milhares e contando com o trabalho diário e inestimável das entidades assistenciais, Ezra, Sociedade das Damas Israelitas e Linath Hatzedek, que cuidavam do apoio a homens, mulheres e crianças e da saúde dos imigrantes, em uma sociedade na qual eram poucas as políticas e instituições oficiais de apoio social aos seus habitantes. Apesar do progresso, seguiam difíceis e precárias as condições de vida de boa parte da população da cidade. Young men then joined these groups, entirely changing the old type of dating on the street, from a distance.”[5] Two years after the Modern Art Week, the Revolução Tenentista burst, more precisely on July 5, 1924, which led to bombings by the federal troops in parts of the city, including Bom Retiro and Luz, where the headquarters of the Força Pública was located. In the list of demands of the lieutenants led by Isidoro Dias Lopes, in opposition to the República Velha dominated by traditional and oligarchic parties in Sao Paulo and Minas Gerais, were the secret ballot, the compulsory primary education, the professional training, the decentralization of the power in Brazil, the limitation of the actions of the Executive Power and the moralization of the Judiciary Power. This political unrest, with riots in Sao Paulo and Rio de Janeiro (with the taking of the Forte de Copacabana), would end in the 1930 Uprising, the rise to power of Getúlio Vargas and a political realignment in the country. Thus, a new air of progress, renewal and modernism radiated in the arts, politics and the intense urbanization of the city. It was in this general atmosphere that the Jewish community was consolidated in Sao Paulo, receiving immigrants by the thousands and relying on the daily and invaluable work of the assistance agencies, Ezra, the Sociedade das Damas Israelitas and Linath Hatzedek, who supported men, women and children, and tended to the immigrants’ health, in a society in which there were few official policies and institutions of social support to its residents. Despite the progress, living conditions were still difficult and precarious for most of the city’s population. The first merger among entities in 1924 A primeira fusão entre entidades em 1924 Segundo os números organizados pelo historiador Jeffrey Lesser, entre 1921 e 1925 imigraram ao Brasil 7.139 judeus e no período entre 1926 e 1930 entraram no País um total de 22.296 judeus, o que representou 12,9% da imigração em geral; parte importante dos imigrantes foi morar em São Paulo. No chamado período da grande imigração, entre 1881 e 1914, aqui chegaram mais de 2,9 milhões de imigrantes, dos quais os italianos constituíam a corrente According to figures organized by historian Jeffrey Lesser, 7,139 Jews immigrated to Brazil between 1921 and 1925, and between 1926 and 1930 a total of 22,296 Jews entered the country, representing 12.9% of immigration in general; most immigrants came to live in Sao Paulo. Between 1881 and 1914, in the so-called Great Immigration period, more than 2.9 million immigrants arrived here, of which the Italians represented the most significant influx. In the same period, 9,750 Jews immigrated, about .013% of overall immigration. pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 35 The history of the aid organizations – until the foundation of Unibes in 1976 – is a path of successful mergers and project partnerships. The first of these mergers occurred in 1924, when the small Sociedade Pró-Imigrante, or Comitê de Socorro aos Imigrantes Israelitas, donated their resources to Ezra and was absorbed by it as a first union between associations that aided immigrants. The new society was renamed Sociedade Beneficente Israelita Ezra, under which Ezra would become known. Soon after the merger, following the change of address of Gymnasio Renascença, from Rua Amazonas to Rua Florêncio de Abreu, Ezra also moved its headquarters over New Year’s Eve of 1924 to 1925. Once on the new headquarters, the society rented rooms in Renascença. In 1923, a leader in Ezra proposed to build a “House of Immigrants”—“however modest it may be, though indeed deserving its existence and name”. The temporary headquarters of the House of Immigrants was on the basement of the synagogue on Rua Capitão Matarazzo, no 18. The House was to offer at least 12 vacancies. In March 1923, with Passover approaching, the synagogue’s basement sheltered over 30 people and Ezra decided to commission two women, among the immigrants housed, to prepare meals for the co-religionists in the House during the eight days of Passover. The Society took it upon itself to supply all needed items for a grand celebration: china, matza, meat, chicken, potatoes, eggs, wine and coal, among others. In their daily relief work, Ezra donated small sums of money and also offered monthly and timely loans and aid. The organization also came to function as a bank for financial help to its own organizers. Ezra still paid for hospital admissions, surgeries, medical treatments and private consultations with doctors. It also covered travel, and on more than one occasion, paid the burial costs of poor people in the Cemitério Israelita da Vila Mariana. The founding of the Sociedade Linath Hatzedek (Policlínica) In 1929 the Sociedade Beneficente Linath Hatzedek was founded in order to offer medical care for immigrants, given the increasing population in the community and its growing needs. According to the founders, they “considered and ob- 36 mais expressiva; nesse mesmo período, 9.750 judeus imigraram, cerca de 0,013% da imigração geral. A história das entidades assistenciais – até a fundação da Unibes em 1976 – é a de uma trajetória de bem sucedidas fusões e parcerias de trabalho. A primeira destas fusões ocorreu em 1924, quando a pequena Sociedade Pró-Imigrante, ou Comitê de Socorro aos Imigrantes Israelitas, doou seus recursos à Ezra e foi por esta absorvida, constituindo a primeira união entre entidades que auxiliavam os imigrantes. O nome da nova entidade passou a ser Sociedade Beneficente Israelita Ezra, pelo qual a Ezra se tornaria conhecida. Logo após a fusão, acompanhando a mudança de endereço do Gymnasio Renascença, que saiu da Rua Amazonas e se mudou para a Rua Florêncio de Abreu, a Ezra também transferiu sua sede na passagem do ano de 1924 para 1925; na nova sede, a entidade alugava salas no Renascença. Em 1923, um diretor da Ezra propôs criar-se uma “casa de imigrantes”, “por mais modesta que seja, mas que tenha a existência e nome merecidos de fato”. A sede provisória da Casa dos Imigrantes seria o porão da sinagoga da Rua Capitão Matarazzo, no 18. A ideia era que a casa tivesse pelo menos 12 vagas. Em março de 1923, com a aproximação da celebração da Pessach, o porão da sinagoga abrigava mais de 30 pessoas e a Ezra decidiu encarregar duas senhoras, entre as imigrantes alojadas, para que preparassem refeições para os correligionários da Casa durante os oito dias da Pessach, ficando a cargo da entidade o fornecimento de todos os gêneros necessários para uma digna celebração: louça, matzá, carne, frango, batatinha, ovos, vinho, carvão etc. No dia a dia do seu trabalho assistencial, a Ezra doava pequenas quantias e também fazia empréstimos e auxílios pontuais e mensais. A entidade chegou a funcionar também como um banco para socorro financeiro dos próprios diretores. A Ezra pagava ainda internações em hospitais, cirurgias, tratamentos médicos e consultas particulares de médicos. Custeava passagens e, em mais de um caso, arcou com os custos de sepultamentos de pessoas pobres no Cemitério Israelita da Vila Mariana. pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s Rua Mauá, ao lado da Estação da Luz, em 1931, automóveis de um lado e charretes do outro. Rua Mauá, next to Estação da Luz, in 1931, carriages on one side and cars on the other. A fundação da Sociedade Linath Hatzedek (Policlínica) Em 1929 foi fundada a Sociedade Beneficente Linath Hatzedek para dar assistência médica aos imigrantes, diante do aumento populacional da comunidade e da ampliação de suas necessidades. Conforme os fundadores, eles “consideraram e observaram que, com o desenvolvimento da Colônia Israelita nesta Capital, também aumentava o número de necessitados; achou-se então que seria de suma importância organizar uma Sociedade sob a denominação Linath Hatzedek cujo fim seria trazer auxílio para os doentes em todos os casos”. Como objetivos ainda, a Policlínica “velará junto ao co-irmão doente” e “cederá na medida do possível e a título de empréstimo os objetos necessários para o tratamento do doente, entendendo-se com isto: objetos sanitários etc.”. served that with the development of this Colônia Israelita in the Capital, the number of poor people also increased; one then felt it would be extremely important to organize a Society under the name Linath Hatzedek whose purpose was to aid the sick people under all circumstances.” The Policlínica still aimed at “caring for unwell brethren” and “lending to the extent possible all required sanitary objects, among others, to treat the patient”. There were not too many hospitals in town at that time and they were partly connected to religious orders or immigrant groups, among them the Irmandade da Santa Casa de Misericórdia, the Hospital Samaritano, the Umberto Primo and the Santa Catarina, besides the Hospital de Isolamento. And hospitals were not regular places for treatment, since many patients were treated at home and thus highlighted the importance of the existence of a Policlínica. Among the first pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 37 tasks to organize the new institute were: creating a working committee, writing the statutes, deciding how to care for the sick, and organizing a ladies’ commission. In order to standardize the procedures of patient care, a document was written to the Brazilian Red Cross. The relationship between Linath Hatzedek and Ezra was part of everyday life of the organizations and projects were conducted jointly along with the Sociedade das Damas. In 1930, the three organizations discussed the installation of a clinic in Linath Hatzedek, which was opened in December of that year. A festival was organized having, as guests, the Colônia Israelita de Sepharadim and the Israelitas Sírios in order to raise funds. Still in the late 20s, Ezra left the headquarters of Gymnasio Renascença and rented its own headquarters at Rua dos Bandeirantes, no 20, in Bom Retiro. At the same time, a warehouse was rented where newcomers’ luggage was stored. The HICEM and international cooperation In 1928, an agreement among the organizations JCA, Emigdirect, and HIAS led to the creation of HICEM, in order to coordinate the assistance to the immigrants. Ezra became the representative of HICEM in Sao Paulo and set up a Central Immigration Committee, with resource funds for the purchase of tickets and for loans for the immigrants. It was run by a self-directed board which became the embryo of the Cooperativa de Crédito Popular do Bom Retiro, the Lais Par Casse, established in 1929—the bank that provided small sums of money to help immigrants settle down economically. There was also a Bureau de Travail. At least until the early 1940s, Ezra received monthly grants from the JCA. The creation of HICEM and the work of Ezra as their representative in town placed the society in a network of international organizations. Thereafter, there were frequent meetings between the Ezra’s board and Rabbi Raffalovich, JCA representative in Brazil and the chief rabbi of the Coletividade do Rio de Janeiro and later in Brazil. The Central Immigration Committee of HICEM was organized by Raffalovich as a program of coordinated action in support of immigrants in South America. In all major urban centers they organized Central Immigration 38 Não eram muitos os hospitais na cidade naquele período e, em parte, eram ligados a ordens religiosas ou a grupos imigrantes, entre eles o hospital da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia, o Hospital Samaritano, o Umberto Primo e o Santa Catarina, além do Hospital de Isolamento. E hospitais não eram lugares corriqueiros de tratamento, já que muitos se tratavam em casa, o que reforçava a importância de existência de uma Policlínica. Entre as primeiras tarefas para organizar a nova entidade estavam: criar uma comissão de trabalho, escrever os estatutos, decidir como se deve zelar pelos doentes e criar uma comissão de senhoras. Para normatizar os procedimentos de como cuidar dos doentes, escreveu-se à Cruz Vermelha Brasileira. A relação da Linath Hatzedek com a Ezra era parte do dia a dia das entidades e eram realizados projetos em conjunto, incluindo também a Sociedade das Damas. Em 1930, as três entidades discutiram a instalação de um ambulatório na Linath Hatzedek, que foi inaugurado em dezembro daquele ano. Para arrecadar fundos, organizou-se um festival e foram convidados a Colônia Israelita de Sepharadim e os Israelitas Sírios. Ainda no final dos anos 20, a Ezra deixou a sede do Gymnasio Renascença e alugou uma sede própria na Rua dos Bandeirantes, no 20, no Bom Retiro. Ao mesmo tempo foi alugado um armazém onde eram guardadas as bagagens dos recém-chegados. O Hicem e a cooperação internacional Em 1928, um acordo entre as organizações jca, Emigdirect e Hias levou à criação do Hycem (ou Hicem) para coordenar o trabalho de ajuda aos imigrantes. A Ezra tornou-se o representante do Hycem em São Paulo e estabeleceu um Comitê Central de Imigração, um fundo de recursos para a compra de passagens, uma caixa de empréstimos para imigrantes, dirigida por uma diretoria autônoma em relação à Ezra e que tornou-se o embrião da Cooperativa de Crédito Popular do Bom Retiro, a Lais Par Casse, criada em 1929, banco que fornecia pequenas somas de dinheiro para ajudar os imigrantes a se estabelecerem economicamente. Havia também um Bureau de Travail. Pelo menos até o início dos anos 1940, a Ezra recebia subvenções mensais da jca. pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s Diretores e funcionários da Sociedade Cooperativa de Crédito Popular do Bom Retiro, fundada em 1928. Directors and employe- es of the Sociedade Cooperativa de Crédito do Bom Retiro, founded in 1928. A criação do Hycem e o trabalho da Ezra como seu representante na cidade inseriram a entidade em uma rede internacional de organizações. A partir daí, foram realizadas frequentes reu niões entre a diretoria da Ezra e o rabino Raffalovich, representante da jca no País e grão-rabino da Coletividade do Rio de Janeiro e depois do Brasil. O Comitê Central de Imigração do Hycem foi organizado por Raffalovich como um programa de ação coordenada em prol dos imigrantes na América do Sul. Em todos os grandes centros urbanos seriam organizados Comitês Centrais de Imigração, um Bureau de Informação e se organizariam abrigos para os imigrantes recém-chegados da Europa. Haveria bureaus de trabalho para ensinar um ofício e também seriam criados bureaus para mulheres e especificamente para a procura de parentes. A Crise de 1929 atingiu a cidade e provocou efeitos que perduraram meses seguidos. Em outubro de 1930 foi criado um Comitê de Socorro de Emergência, com o qual a Ezra decidiu colaborar. Committees, an Information Bureau and shelters for immigrants newly arrived from Europe. Workshops were held to teach trades, and, for women specifically, to search for relatives. The 1929 Crisis hit the city and caused effects that persisted months in a row. In October 1930, an Emergency Relief Committee was created, with which Ezra decided to collaborate. In November that year, the president of Ezra declared that “with the prolonged duration the crisis and lack of work, the economic situation of most households in the capital was greatly worsened. Many homes were ruined financially and felt poverty swallow them up; many families were forced to turn to this Society for all sorts of aid, all being met, without exception.” The creation of new societies also imposed new cooperation among them. In July 1930, Ezra and the Sociedade Beneficente das Damas Israelitas decided on closer collaboration for “protecting the feminine sex.” The following year, pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 39 just two years after the foundation of Linath Hatzedek, in June 1931, a director at Ezra proposed a merger to include Ezra, the Sociedade Beneficente das Damas Israelitas and the newly founded Linath Hatzedek. As the largest society within the Jewish community in Sao Paulo, Ezra did not just take care of all social aspects of immigrants and local Jews. Its board also discussed general matters pertaining to local Jewish life. In October 1930, there was a “case of anti-Semitic propaganda” that had immediate action from Ezra. The president of Ezra mentioned an article published in the police press that “includes strong attacks against Jews in this capital, calling them all communists, confusing Communism with Zionism”. The president also referred to “the measures taken on the part of the peaceful and orderly Colonia Israelita of Sao Paulo against the derogatory campaign”. Círculo Israelita then met with representatives of the major Jewish institutions and they decided to go to the chief of police in order to expose the “menacing situation of the Jews facing such attacks, asking him to send cease order for them”. It was delivered by Horácio Lafer, Jacob Nebel and Moyses Kauffman “with whom the chief of police dealt with great kindness, promising to take prompt and vigorous measures.” The Sociedade das Damas is formalized The Sociedade das Damas Israelitas, which organized itself in a more official manner in the 20s, had as its main scope of work, aside from charity in general, caring for pregnant women and hospitalizing them for childbirth. The first existing minutes about the activities of the Society are dated October 5, 1930, and record a meeting held at the social headquarters on Rua 15 de Novembro. They define the objectives of the organization, founded in 1915: “In regards to the form of aid to be delivered to the needy, only medical and hospital aid and medicine will be provided. No cash assistance will be offered; which may only be obtainable following an applicable inquiry. The official address of the society, to which requests for assistance should be sent, is to be published in the press.” In 1932 the organization had at least 65 members. Around 1935, the Sociedade das Damas’ headquarters moved to Rua Sao Bento, near the 40 Em novembro daquele ano, o presidente da Ezra declarou que “com a demasiada duração da crise e falta de trabalho agravou-se sobremaneira a situação econômica de grande parte das famílias residentes nesta capital. Muitos lares foram arruinados financeiramente e viram penetrar a miséria e numerosas famílias viram-se obrigadas a recorrer a esta Sociedade para toda a sorte de auxílios, sendo todos atendidos, sem exceção alguma”. A criação de novas entidades impunha também outras modalidades de cooperação entre elas. Em julho de 1930, a Ezra decidiu com a Sociedade Beneficente das Damas Israelitas sobre uma colaboração mais estreita para a “proteção do sexo feminino”. E no ano seguinte, apenas dois anos após a fundação da Linath Hatzedek, em junho de 1931, um diretor da Ezra propôs a fusão entre a Ezra, as Damas e a recém-fundada Linath Hatzedek. Como principal entidade da comunidade judaica em São Paulo, a Ezra não cuidava apenas de todos os aspectos sociais dos imigrantes e dos judeus locais. Sua diretoria também discutia assuntos gerais concernentes à vida judaica na cidade. Em outubro de 1930, ocorreu um “caso de propaganda antisemithica” que teve pronta atuação da Ezra. O presidente da Ezra falou sobre um artigo publicado na imprensa policial que “contém fortes ataques contra os Israelitas desta Capital, chamando-os todos de comunistas, confundindo o Comunismo com o Sionismo”. O presidente também falou “das medidas tomadas contra a campanha difamatória por parte da pacata e ordeira Colonia Israelita de São Paulo”. Em seguida ocorreu uma reunião no Círculo Israelita com representantes das principais instituições israelitas e eles decidiram dirigir-se ao chefe de polícia expondo a situação “alarmante dos Israelitas perante tais ataques, pedindo-o para mandar cessá-los”. Foi entregue por Horácio Lafer, Jacob Nebel e Moyses Kauffman “a quem o chefe da polícia tratou com muita amabilidade, prometeu tomar medidas prontas e enérgicas”. A Sociedade das Damas se formaliza A Sociedade das Damas Israelitas, que se organizou de forma mais oficial nos anos 20, tinha como perspectiva principal do seu trabalho, além da benemerência em geral, atender as mulheres pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s Por meio da Cooperativa de Crédito e das entidades assistenciais, a comunidade judaica oferecia ampla assistência aos imigrantes. Through the Cooperative Society and charities, the Jewish community would offer ample assistance to the immigrants. pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 41 Raffalovich, grão-rabino do Brasil, trabalhou com a Ezra para organizar o trabalho em prol dos imigrantes no País. Raffalovich, Brazil’s chief rabbi, worked with Ezra to organize the work on behalf of immigrants in the country. former headquarters. The Society maintained the work of helping families who came from Europe, with housing, food and clothing. The parturient women were treated at hospitals, such as Maternidade Sao Paulo and the Maternidade do Instituto Baroneza de Limeira. At that time, according to Jorge Americano, the most fortunate children were born at home, assisted by a midwife or a doctor, the poor or less fortunate were born in maternity wards, which were charitable establishments. The Damas got together in their own homes and were the very founders who visited the members at their homes, received the donations and took them to the needy. At the close of the 1920s the community worked in an active and structured form. The 1930s brought a new and large wave of immigration, and the political issues in Brazil and around the world placed them at the center of debates about the day-to-day life of the community. grávidas e providenciar sua internação hospitalar para o parto. A primeira Ata existente sobre as atividades da Sociedade data de 5 de outubro de 1930, e registra uma reunião realizada na sede social à Rua 15 de Novembro. Define os objetivos da entidade, fundada em 1915: “Tratando-se da forma de auxílio a ser prestado aos necessitados, resolveu-se que só seriam prestados socorros médicos, hospitalares e remédios, não podendo ministrar ajuda em dinheiro e estas somente serão feitas depois da respectiva sindicância. Também ficou deliberado fazer publicações na imprensa, sobre o endereço oficial da sociedade, para onde deverão ser encaminhados os pedidos de auxílio”. Em 1932 a entidade contava com pelo menos 65 associadas. A Sociedade das Damas mudaria de sede por volta de 1935, para a Rua São Bento, próximo à sede anterior. A Sociedade manteve o trabalho de auxiliar famílias que vinham da Europa, com moradia, roupa e comida. As parturientes eram atendidas em hospitais, como a Maternidade São Paulo e a Maternidade do Instituto Baroneza de Limeira. Naquela época, conforme Jorge Americano, as crianças mais afortunadas nasciam em casa, assistidas por uma parteira ou médico; as indigentes ou menos afortunadas é que nasciam nas maternidades, que eram estabelecimentos de caridade. As Damas se reuniam em suas próprias casas e eram as próprias fundadoras que visitavam as sócias na casa delas, recebiam os donativos e os levavam para as pessoas necessitadas. Ao encerrar-se a década de 1920 a comunidade funcionava de forma ativa e estruturada. Os anos 1930 trariam uma nova e grande onda imigratória e as questões políticas do País e do mundo se colocariam no centro dos debates do dia a dia da comunidade. Notas 1. Penteado, Jacob. Belenzinho, 1910, 2ª ed., São Paulo, Narrativa Um/Carrenho, 200, p. 276. 2. Americano, Jorge. São Paulo naquele tempo 1895-1915. São Paulo, Narrativa Um/Carrenho/ Carbono 14, 2004, p. 99. Notes 1. Penteado, Jacob. Belenzinho, 1910, 2ª ed., São Paulo, Narrativa Um/Carrenho, 200, p. 276. 2. Americano, Jorge. São Paulo naquele tempo 1895-1915. São Paulo, Narrativa Um/Carrenho/Carbono 14, 2004, p. 99. 42 pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s 3 Gota de Leite, Sanatório da Ezra e Lar da Criança das Damas são fundados nos anos 30 Gota de Leite, Ezra Sanatorium and Lar da Criança das Damas are founded in the 30s pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 43 p. 43 Avenida São João na década de 1930, com o recém-inaugurado Edifício Martinelli ao fundo. acima Operários da fábrica de chapéus Ramenzoni, uma das indústrias sediadas no Bom Retiro. p. 43 Avenida São João in the 1930s, with the newly-inaugurated Martinelli Building in the background. above Workers of the Ramenzoni hat factory, one of the industries located in Bom Retiro. 44 pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s N a década de 1930 três novas entidades assistenciais foram fundadas: a Gota de Leite da B’nai B’rith, em 1932, o Sanatório Ezra para tuberculosos, erguido em 1936 em São José dos Campos, e o Lar da Criança das Damas Israelitas, aberto no ano de 1939 (em continuidade a uma creche aberta em 1935). A fundação da Gota de Leite, do Lar da Criança e do Sanatório da Ezra refletem urgências da época, de garantir a saúde dos recém-nascidos, um abrigo para crianças filhas de imigrantes que tinham que trabalhar e nem sempre podiam manter uma estrutura familiar adequada e o atendimento aos doentes de tuberculose. O processo imigratório continuava intenso, acrescido a partir de 1933 da imigração da Alemanha em decorrência do nazismo e do antissemitismo institucionalizado naquele país. Em torno da Congregação Israelita Paulista (cip), estabelecida em 1936, os refugiados judeus alemães fundaram a Comissão de Assistência aos Refugiados Israelitas da Alemanha (Caria), em 1933, e o Lar das Crianças da cip em 1938. Ao longo da década vieram também judeus italianos, fugindo do fascismo, muitos dos quais se incorporaram à cip. Na década de 1930 a cidade provinciana transforma-se em metrópole, com uma população de 1,5 milhão de habitantes. Diante das mudanças visíveis em uma capital que não planejava o seu desenvolvimento, o cronista Jorge Americano se pergun- I n the 1930s three new charitable trusts were founded: the Gota de Leite at B’nai B’rith, in 1932, the Ezra Sanatorium for Tuberculosis, erected in 1936 in Sao Jose dos Campos, and the Lar da Criança das Damas Israelitas, opened in 1939 (following a nursery which opened in 1935). The foundation of the Gota de Leite, the Lar da Criança and the Ezra Sanatorium reflect the requirements of that time; which were, ensuring the health of newborns, sheltering the children of immigrants who had to work and could not always maintain an adequate family structure, and caring for tuberculosis patients. The immigration process continued to be intense, with increasing immigration from Germany from 1933 onwards, as a result of Nazism and institutionalized anti-Semitism in that country. Related to the Congregação Israelita Paulista (CIP), established in 1936, German Jewish refugees founded the Comissão de Assistência aos Refugiados Israelitas da Alemanha (Caria), in 1933, and the Lar das Crianças by CIP in 1938. Throughout the decade, Italian Jews also came, fleeing fascism, many of whom joined the CIP. In the 1930s, the once-provincial city transforms itself into a metropolis, with a population of 1.5 million inhabitants. Facing the visible changes in a capital that had not planned its development, the chronicler Jorge Americano asked: “The overcrowding resulting from the narrow streets would remedy itself if traffic went pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 45 underground or in suspension. But it will still be a matter of debate, tenders and cancellation of tenders. Given the steady production of national cars, what will become of this traffic?” In the 1930s, the Jewish Community was in full swing in its institutional, cultural, social and religious lives. In 1930, the Polisher Ferband, an Association of Jewish Poles, asked permission to hold their weekly meetings at Ezra headquarters. The Synagoga and Thalmud Thora Syria (a religious school for children) was also inaugurated in 1930. That same month, the Círculo Israelita opened its new social headquarters and Macabi, Cadima, Centro Recreativo and Sport Club ran sports and leisure activities there. Ezra also participated in political forums and sent a representative to the Comitê no Congresso Internacional Israelita in 1934. In March that year, Ezra received Israel Dines, the administrative secretary of Relief, from Rio de Janeiro, who came to ask for the cooperation of all institutions to assist with immigration. A director took the floor and proposed “that this Society take the initiative to fight anti-Semitism which is beginning to grow into alarming proportions in Brazil due to Nazi propaganda. Let us invite the representatives of every Jewish institution in Sao Paulo to address this issue for the next meeting”, according to the organization minutes of March 29, 1934, the year in which the minutes were recorded in Portuguese and Yiddish. The Uprisings of 1930 and 1932 On taking office in 1930, Vargas dissolved the National Congress, the state and city legislatures and dismissed the governors. With the so-called “Uprising of 1930,” the República Velha or Primeira República (1889-1930)—the period of oligarchic command of the “café au lait”, had ended. The following period was a dictatorial but also “modernizing” state in certain aspects at the same time, with the creation of several bodies of central planning and economic development, modernization of the state apparatus and labor laws embodied in the CLT. By opposing sectors from the oligarchy and Sao Paulo’s middle class against the federal government of Getulio Vargas, the Uprising of 1932 hit the Israelite cluster hard due to the geographic location of most immigrants. The dis- 46 tava: “O congestionamento, resultante dos gabaritos estreitos, obviar-se-ia pelo tráfego subterrâneo ou em suspensão. Mas isso continuará a ser motivo de discussão, concorrências e anulações de concorrências. Com a contínua fabricação de carros nacionais, como será o tráfego?” Nos anos 1930, a comunidade judaica, ou colônia israelita (como se dizia na época), estava em plena efervescência em sua vida institucional, cultural, social e religiosa. Em 1930, a Polisher Ferband, a Associação dos Judeus Poloneses, pediu para fazer suas reuniões semanais na sede da Ezra. A Synagoga e Thalmud Thora Syria (escola religiosa para crianças) foi inaugurada também em 1930. No mesmo mês, o Círculo Israelita abriu sua nova sede social e Macabi, Cadima, Centro Recreativo e Sport Club mantinham atividades esportivas e de lazer. A Ezra participava também de fóruns políticos e enviou um representante ao Comitê no Congresso Internacional Israelita em 1934. Em março desse ano, a Ezra recebeu Israel Dines, secretário administrativo do Relief, do Rio de Janeiro, que veio pedir a cooperação de todas as instituições para auxiliar a imigração; um diretor pediu a palavra e propôs “que esta Sociedade tome a iniciativa pelo combate do antissemitismo que começa a tomar proporções alarmantes no País devido à propaganda nazista. Ficou resolvido convidar para a próxima reunião os representantes de todas as instituições israelitas de São Paulo para tratar deste assunto”, conforme a ata da entidade de 29 de março de 1934, ano em que as atas eram registradas em português e em ídiche. As revoluções de 1930 e 1932 Ao tomar posse em 1930, Vargas dissolveu o Congresso Nacional, os legislativos estaduais e municipais e destituiu os governadores. Com a chamada Revolução de 1930 encerrou-se a República Velha ou Primeira República (1889-1930), o período de hegemonia das oligarquias do “café com leite”. O período que se iniciou foi o de um Estado ditatorial e ao mesmo tempo “modernizante” em vários aspectos, com a criação de inúmeros órgãos de planejamento central e de desenvolvimento econômico, modernização do aparato estatal e as leis trabalhistas consubstanciadas na clt. pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s Imigrantes no Jardim da Luz nos anos 30 e 40, em retratos realizados pelos fotógrafos lambe-lambe. Immigrants in Jardim da Luz in the ‘30s and ‘40s, in pictures captured by wandering photographers. A Revolução de 1932, que opôs setores da oligarquia e das classes médias paulistas ao governo federal de Getúlio Vargas, atingiu duramente a colônia israelita devido à localização geográfica da maior parte dos imigrantes. Os bairros da Luz e do Bom Retiro foram um dos epicentros da movimentação militar. A região sofreu bombardeios e foi palco de combates. As aulas do Gymnasio Renascença, que funcionava na Avenida Tiradentes, foram suspensas e numerosas famílias fugiram para o interior do Estado. A poucas dezenas de metros do Renascença, da Ezra e da Linath Hatzedek estava o quartel-general da Força Pública e o qg dos insurgentes. Ezra e Sociedade das Damas se preocuparam com o impacto social sobre a comunidade e as Damas também aderiram diretamente à mobilização civil em prol de São Paulo. Em reunião na Ezra em julho de 1932, um diretor comentou a situação da entidade “em face da anormalidade reinante atualmente neste Estado e da qual resultou a cessação do trabalho de numerosos israelitas que perderam assim os meios de ganhar o necessário para a subsistência de suas famílias”. Havia na cidade várias famílias que estavam passando fome e privações. Já a presidente das Damas, tricts of Luz and Bom Retiro were among the epicenters of the military movement. The region underwent bombings and was the stage of combats. The classes of Gymnasio Renascença on Avenida Tiradentes were suspended and many families fled upstate. A few dozen meters from Renascença, Ezra, and Linath Hatzedek was the headquarters of the Força Pública as well as the headquarters of the insurgents. Ezra and the Sociedade das Damas were concerned with the social impact on the community and the Damas also directly joined the civilian mobilization pro Sao Paulo state. In a meeting in July 1932, one director in Ezra commented on the situation of the society: “in the face of the abnormality currently prevailing in this state and which resulted in the cessation of work, many Jews lost the source of income necessary to support their families”. Several families in Sao Paulo endured starvation and deprivation. The president of the Damas, in turn, stated in a meeting at the organization, “in light of such abnormal times, due to the uprising, we propose that donations be raised in cash and supplies to be distributed among the needy in the cluster; having been unanimously approved, this proposal demands the creation of a committee for that purpose”. pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 47 Avenida Dr. Arnaldo nos anos 30, época em que a cidade atinge 1,5 milhão de habitantes. Avenida Dr. Arnaldo in the ‘30s, at the time when the city reached 1.5 million inhabitants. The campaign was conducted, including “help the needy in the cluster, whose conditions were deteriorating due to the revolutionary movement, the formation of a Comissão de Socorro”. A Comitê de Emergência was created counting on special funds to be collected without further ado. Ezra, Representação Central, Linath Hatzedek and the Sociedade das Damas shared the responsibility for the foundation of the committee. The distribution post of food and basic items was installed at the Ezra headquarters, on Rua Bandeirantes, no 20, and opened three times a week, with the support of the Loja Moses Mendelsohn from B’nai B’rith. The Sociedade das Damas organized to collect donations of money and goods for the Brazilian Red Cross and 942 caps were crafted and donated for the local soldiers. At a meeting on July 18, 1932 at the Cooperativa de Crédito do Bom Retiro, on Rua José Paulino, no 84, the discussion was how to help families and how to ensure the “contribution of the Israelite cluster towards the Brazilian Red Cross, as did other foreign 48 em reunião da entidade, “em vista do tempo anormal, devido à revolução, propõe que se angariem donativos em dinheiro e mantimentos para serem distribuídos entre os necessitados da colônia; tendo sido esta proposta aprovada por unanimidade, constitui-se uma comissão para este fim”. A campanha foi feita, e inclusive, “para ajudar os necessitados da colônia, cujo estado agravou-se devido ao movimento revolucionário, ficou constituída uma Comissão de Socorro”. Foi criado um Comitê de Emergência com um fundo especial proveniente de uma coleta que seria organizada imediatamente. A fundação do comitê ficaria a cargo da Ezra, Representação Central, Linath Hatzedek e Sociedade das Damas. O posto de distribuição de alimentos e artigos de primeira necessidade foi instalado na sede da Ezra, à Rua Bandeirantes, no 20, e funcionava três vezes por semana, tendo o apoio da Loja Moses Mendelsohn da B’nai B’rith. A Sociedade das Damas se mobilizou para angariar donativos em dinheiro e objetos para a Cruz Vermelha Brasileira e foram pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s confeccionados e doados 942 capuzes para os soldados paulistas. Em reunião em 18 de julho de 1932 na Cooperativa de Crédito do Bom Retiro, à Rua José Paulino, 84, tratou-se de socorrer as famílias e de como garantir a “contribuição da colônia israelita em benefício da Cruz Vermelha Brasileira a exemplo de como fazem outras colônias estrangeiras aqui domiciliadas” e “a fim de demonstrar a nossa gratidão e o nosso reconhecimento pela igualdade de Direito e liberdade que sempre temos gozado neste grande e hospitaleiro Estado”. Gota de Leite e Lar da Criança Israelita A preocupação com a criança imigrante pobre era central entre as entidades judaicas assistenciais na década de 1930. A pobreza, a má alimentação e a fome produziam consequências extremamente duras para as famílias imigrantes. A situação social entre os imigrantes era muito difícil e muitas vezes as crianças e as famílias precisavam do amparo de uma instituição. Em reunião em agosto de 1930, Salo Wissman, diretor da Ezra, falou “sobre a absoluta falta de assistência à infância que infelizmente há na nossa colônia” e citou diversos casos de “crianças que foram abandonadas por seus pais e de orfãozinhos de pais cujas mães não podem ir trabalhar por não terem um lugar onde deixar os seus pobres filhos para permanecerem durante o dia”. O alerta de Wissman foi entendido como um apelo para que a comunidade judaica cuidasse dos casos que requeriam séria atenção. Em fevereiro de 1932, em reunião de diretoria da Ezra, discutiu-se a criação de uma creche para “criancinhas israelitas pobres” para que os pais pudessem trabalhar sem a necessidade de recorrer à caridade pública ou ao auxílio das sociedades beneficentes. A diretoria da Ezra marcou uma nova reunião e decidiu divulgar a situação na imprensa israelita. A Gota de Leite foi criada em 1932 com o objetivo de cuidar de crianças recém-nascidas, fornecendo especialmente leite e alimentos, além de orientar as mães sobre como cuidar dos bebês. A Gota de Leite surgiu dentro de um círculo de mulheres ligadas à imigração alemã da Irmandade B’nai B’rith, fundada em São Paulo em 1932. Pelo menos a partir de 1935 a entidade integrou colonies residing here” and “to show our gratitude and our recognition for the legal equality and freedom that we have always enjoyed in this great and hospitable state.” Gota de Leite and Lar da Criança Israelita Caring for the poor immigrant children was central among the Jewish welfare organizations in the 1930s. Poverty, malnutrition and hunger produced extremely harsh consequences for immigrant families. The social situation among immigrants was very difficult and children and families often needed the support of an institution. At a meeting in August 1930, Salo Wissman, director at Ezra, commented on “the absolute and unfortunate lack of childcare in our cluster”, mentioning several cases of “children who were abandoned by their parents or fatherless orphans whose mothers cannot work for not having a place to leave their poor children to remain during the day”. Wissman’s alert was received as an appeal for the Jewish community to take care of cases that required serious attention. In February 1932, the Ezra board meeting discussed the creation of a nursery school for “poor Jewish little children” so that their parents could work without the need to appeal to public charity or assistance organizations. Ezra’s board scheduled another meeting on the subject and decided to disclose the situation in the Jewish press. Gota de Leite was established in 1932 with the goal of caring for newborn children, providing especially milk and food, besides teaching mothers how to care for their babies. Gota de Leite came about within a circle of women connected to the German immigration of the Irmandade B’nai B’rith, founded in Sao Paulo in 1932. From 1935 onwards, at least, the organization formally incorporated a “Loja de Irmãs” (Sisters’ Shop), closely coupled to B’nai B’rith of Sao Paulo, under the official name of Gota de Leite B’nai B’rith. The Gota de Leite was a French model of childcare that was implemented in several cities in Brazil between late 19th and early 20th centuries. It followed a proposal, considered scientific, regarding the support of needy children, based pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 49 Pic-nic no parque nos anos 30, época em que as mulheres se destacavam no trabalho assistencial na comunidade judaica. Picnic in the park in the ‘30s, at which time women stood out in their relief work in the Jewish community. on the education and guidance of families to care for their children. The personal work was run by the responsible parties, at the headquarters of the Polyclínica in Bom Retiro. In May 1936, the service was expanded to collecting donations of clothes and applying ultraviolet rays. In 1935, the Sociedade das Damas founded a nursery school and launched the Golden Book, where donations were recorded. In 1939, the Damas created a kindergarten for children aged three to seven years, the Lar da Criança Israelita, with the help of the Polyclínica, which was housed on Rua Jorge Velho, in Bom Retiro. The Home founded by the Damas differed from the Lar da Criança, founded soon after by the Congregação Israelita Paulista. Linath Hatzedek becomes Polyclínica In 1935, the Sociedade Beneficente Linath Hatzedek changed its name to Sociedade Beneficente Linath Hatzedek Polyclínica, a decision made in its new headquarters on Rua Ribeiro de Lima. The name change also indicates a new 50 formalmente uma “Loja de Irmãs” vinculada à B’nai B’rith de São Paulo, com o nome oficial de Gota de Leite B’nai B’rith. A Gota de Leite era um modelo francês de atendimento a crianças e foi implantado em várias cidades do Brasil entre o final do século 19 e o início do 20, de acordo com uma proposta considerada científica de amparar crianças carentes e educar e orientar as famílias a cuidar de seus filhos. O trabalho era feito pessoalmente pelas responsáveis, que funcionou na sede da Policlínica, no Bom Retiro. Em maio de 1936, foi ampliado o serviço de aplicação de raios ultravioletas e de coleta de roupas. Em 1935, a Sociedade das Damas fundou uma creche para crianças e lançou um Livro de Ouro de doações. Em 1939, as Damas criaram um jardim maternal para crianças de três a sete anos, o Lar da Criança Israelita, com a colaboração da Policlínica, e que teve como sede uma casa na Rua Jorge Velho, no Bom Retiro. O Lar fundado pelas Damas era uma entidade distinta do Lar da Criança da Congregação Israelita Paulista (cip), que seria fundado logo depois. pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s Estação da Luz; em 1932, os bairros do Bom Retiro e da Luz foram epicentros dos bombardeios que afetaram duramente os moradores. Estação da Luz; in 1932, the districts of Bom Retiro and Luz were epicenters of the bombings that deeply affected the residents. pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 51 Alunos de uma escola no Bom Retiro; nos anos 30 a assistência à infância foi uma questão central das entidades assistenciais. Students from a school at Bom Retiro; childcare was a central issue of charities in the ‘30s. 52 pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s Linath Hatzedek se torna Policlínica Em 1935, a Sociedade Beneficente Linath Hatzedek mudou seu nome para Sociedade Beneficente Linath Hatzedek Polyclinica, decisão tomada em sua nova sede à Rua Ribeiro de Lima. A mudança de nome indica também um novo padrão de atendimento, que passou a constituir-se como um ambulatório que atendia diversas especialidades médicas, realizava análises de laboratório, tirava radiografias, distribuía medicamentos e fazia aplicações de banho de luz, ultravioleta, diathermia e curativos. A Linath Hatzedek, tornada Polyclinica, foi deixando de ser uma entidade que prestava auxílios filantrópicos com o acompanhamento pessoal dos doentes pelos diretores para se tornar, aos poucos, uma entidade gerida por médicos. No estatuto de setembro de 1938 escreveu-se que “compete aos dois Conselheiros Médicos orientar o serviço médico-technico da Sociedade, dar conselhos necessários para o bom andamento deste serviço de receitas, assim como regularizar a boa distribuição da assistência médica em todas as especialidades e doenças que são tratadas pelo corpo médico da Sociedade”. Sanatório da Ezra em 1936 Diante do crescente número de pacientes com tuberculose que a Ezra sustentava em pensões e sanatórios privados, especialmente em São José dos Campos, a entidade decidiu erguer seu próprio sanatório, inaugurado em 15 de novembro de 1936 naquela cidade e que chegou a ter capacidade para 120 leitos e 30 funcionários. O terreno, uma chácara de 60 mil m2, para a construção do sanatório em São José dos Campos foi comprado em 1934 e o primeiro pavilhão começou a funcionar em 1937, quando os doentes que estavam em outras pensões foram transferidos para a Ezra. Em 1939, com o primeiro pavilhão lotado, decidiu-se construir um segundo. Com isso, a partir dos anos 1930, o tratamento da tuberculose tornou-se o eixo central do trabalho da Ezra. Desde a fundação da Ezra havia doentes que recorriam à entidade em busca de tratamento para a tuberculose. A Ezra enviava os doentes ao interior do Estado para tratamento nas cha- standard of care, which now constituted a clinic that served diverse medical specialties, conducting laboratory tests, taking x-rays, distributing medications and making applications of ultraviolet light baths, diathermia and curatives. The Linath Hatzedek, turned Polyclínica was no longer a philanthropic organization offering personal patient care on the part of its very directors. It gradually became a Society managed by doctors. The September 1938 Statutes read: ‘it is for the two Medical Advisors to guide the medical-technical service of the Society, to offer the necessary advice for the straightforward running of this revenue service, as well as to regulate the proper distribution of medical care in all specialties and diseases that are treated by the medical body of the Society.” Ezra Sanatorium in 1936 Given the increasing number of tuberculosis patients that Ezra sustained in sanatoria and private pensions, especially in Sao Jose dos Campos, the organization decided to build his own sanatorium. It was opened on November 15, 1936, in that very city, and which came to have a capacity of 120 beds and 30 employees. The property, a 60,000 square meter farm in Sao José dos Campos, was purchased in 1934 for the construction of the sanatorium. The first annex started working in 1937, when the patients from the other pensions were transferred to Ezra. In 1939, the first annex being full, they decided to build a second one. From the 1930s onwards, thus, tuberculosis treatment had become the central demand of Ezra’s work. Since the foundation of Ezra, patients seeking treatment for tuberculosis had turned to the organization. Ezra sent patients upstate, for treatment in the so-called climacteric zones, such as Campos do Jordao and Sao Jose dos Campos, where they were supported for months. To facilitate access to Campos do Jordao, in 1915, a railway line was installed, linking Pindamonhangaba to the region. When Ezra Sanatorium was built in the 30s, there was no cure for tuberculosis. Nor was there an effective drug for tuberculosis, which affected thousands of people in the state. The prevailing treatment was hygienic-dietary and a prescribed routine of rest and food. Surgeries, such as pneumotho- pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 53 Na cip, fundada em 1936, aula de hebraico dada pelo rabino Fritz Pinkus, com o retrato do presidente Getúlio Vargas na parede. A Hebrew lesson given by Rabbi Pinkus Fritz at the cip, founded in 1936, with the portrait of President Getúlio Vargas on the wall. rax, were conducted and the effects of climate on the healing process were discussed. Some important physicians, such as Aloysio de Paula, believed climate was secondary, while Clementino Fraga believed it was essential. Although the mortality rate began to decrease, not long after the physician and sanitarist Oswaldo Cruz stated, in 1907, that “tuberculosis, in Rio de Janeiro, kills more people than all epidemics together; other epidemics appear, cause many deaths and then end, but tuberculosis kills the whole year, without coming to an end.” It was in 1882 that Robert Koch announced the discovery of the bacterium that caused tuberculosis, which now carries his name, and clarified questions about its transmission. According to Koch, one-seventh of men in his time died of tuberculosis. In the history of research for the discovery of a cure for the disease, following the isolation of the causal bacterium and the development of techniques that allowed for visualizing the agent, the discovery of the X-rays by Roentgen in 1895 was a breakthrough in the diagnosis of tuberculosis. Radiographs allowed for tracing the damage caused by the disease in the lungs in the form of shadows, blemishes or caves. Tuberculosis was still one of the diseases that caused more deaths in the world until at least the 1940s, when the cure was discovered. In 1941, there was 54 madas “zonas climatéricas”, como Campos do Jordão e São José dos Campos, e os sustentava por meses. Para facilitar o acesso a Campos do Jordão foi estabelecida em 1915 uma linha de trem ligando Pindamonhangaba à região. Quando o Sanatório da Ezra foi construído nos anos 30, não havia cura para a tuberculose. Não havia tampouco medicamento eficaz para a tuberculose, que atingia milhares de pessoas no Estado. Prevalecia o tratamento higiênico-dietético, que preconizava uma rotina de descanso e de alimentação; fazia-se cirurgias, como o pneumotórax, e discutia-se os efeitos do clima na cura. Médicos importantes, como Aloysio de Paula, acreditavam que o clima era secundário, enquanto Clementino Fraga acreditava que era essencial. Embora a taxa de mortalidade começasse a declinar, ainda não estavam longe os tempos em que o médico e sanitarista Oswaldo Cruz afirmara, em 1907, que “a tuberculose, no Rio de Janeiro, mata mais gente do que todas as epidemias juntas; as outras epidemias aparecem, fazem muitas mortes, depois acabam, mas a tuberculose mata o ano inteiro, sem cessar um dia”. Foi em 1882 que Robert Koch apresentou a descoberta do bacilo causador da tuberculose, que passou a ter seu nome, e elucidou questões sobre a sua transmissão. Segundo Koch, uma sétima parte dos homens do seu tempo morria de tuberculose. Na história da pesquisa para pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s O Lar da Criança das Damas Israelitas, fundado em 1939, garantia o amparo às crianças e às famílias. The Lar da Criança das Damas Israelitas, founded in 1939, guaranteed the protection of children and families. a descoberta da cura da doença, depois do isolamento do bacilo causador e do desenvolvimento de técnicas que permitiam visualizar o agente, a descoberta dos raios X por Roentgen em 1895 foi um avanço decisivo no diagnóstico da tuberculose. As radiografias permitiam ver as lesões causadas pela doença nos pulmões sob a forma de sombras, manchas ou cavernas. A tuberculose era ainda uma das doenças que mais mortes provocava no mundo até pelo menos os anos 1940, quando a cura foi descoberta. Em 1941, a taxa de altas com cura era de 30% e um índice mais ou menos igual para “altas melhoradas”. Em outubro de 1937, a Ezra formou um comitê com senhoras que se ofereceram para angariar donativos para o Sanatório, época em que discutia-se a necessidade de abrir uma ala para mulheres. A Ezra recebia pacientes de comunidades judaicas de a high cure rate of 30% and a rate roughly equal to it for “significant improvement.” In October 1937, Ezra formed a committee of ladies who volunteered to collect donations for the Sanatorium, a time in which it discussed the need to open a wing for women. Ezra received patients from Jewish communities throughout Brazil, with Comittees Pro-Sanatorium who supported these patients and collected funds for the Sanatorium. There were committees in Belo Horizonte, Recife, Salvador, Porto Alegre, Pelotas, Maceió, Vitória, João Pessoa, Barretos, Barra do Piraí, Bebedouro, Jundiaí, Jaboticabal, Jaú, Taubaté, Sao Carlos, Sorocaba, Sao Jose dos Campos, Lins, Santos, Santa Maria, Franca, Piracicaba, Passo Fundo, Campinas, Cajaíra, Cruz Alta, Campina Grande, Rio Claro, Bauru and Ouro Preto. Thus, the Sanatorium pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 55 was perhaps the first Jewish organization to follow a national scope. The New State in 1937 After the Uprising of 32 was defeated, the Government still ran a short period of constitutional life between 1934 and 1937. In 1937, President Getúlio Vargas decreed the New State, using as the alleged reason the Cohen Plan, a fabricated communist conspiracy that sounded anti-Semitic. It was a nationalist dictatorship, imposing an anti-immigration policy with classified memos from 1938 onward. Despite the restrictions, however, thousands of Jews immigrated to Brazil during this period (while thousands others could not make it). From 1937 to 1945, there were a considerable number of societies created in the Jewish community, substantiating an intense and vital activity even over the years of the New State and the War. Among the organizations founded were Escola Luiz Fleitlich (1937) and Sinagoga Israelita de Pinheiros Beth Jacob (1937). Sinagoga Israelita, Comunidade Israelita, Templo Beth Israel, Agudas Israel, Comunidade Sepharadi, Synagoga Síria, the Synagogue in Escola Renascença and the ones in the districts of Ipiranga, Cambucy, Vila Mariana, Lapa, Luzo-Brasileiro and Braz operated normally and held minianim. Between 1937 and 1945, Brazil exuded nationalism and xenophobia towards foreigners. Despite open displays of anti-Semitism - such as the ones on the part of Gustavo Barroso’s Integralism, Itamaraty’s (the Foreign Ministry) classified memos limiting or preventing the entry of Jewish immigrants, and the anti-Semitic correspondence among Consuls in Europe and our Foreign Minister (there was Jewish immigration even during the enforcement of the memos and—another significant finding—Jews living in Brazil did not undergo gaping persecution). That is, the anti-Semitism present in all spheres of government and diplomacy, and among right wing and the extreme right wing intellectuals, did not grow into anti-Jewish actions in Brazil, nor did it hinder the daily routine of Jewish organizations. Some anti-foreigner measures, such as the demand for name changes and the election of a board of “native Brazilians”, did affect Jewish or- 56 todo o Brasil, com Comitês Pró-Sanatório que sustentavam estes pacientes e coletavam fundos para o Sanatório. Havia comitês em Belo Horizonte, Recife, Salvador, Porto Alegre, Pelotas, Maceió, Vitória, João Pessoa, Barretos, Barra do Piraí, Bebedouro, Jundiai, Jaboticabal, Jaú, Taubaté, São Carlos, Sorocaba, São José dos Campos, Lins, Santos, Santa Maria, Franca, Piracicaba, Passo Fundo, Campinas, Cajaira, Cruz Alta, Campina Grande, Rio Claro, Bauru e Ouro Preto. Assim, o Sanatório talvez tenha sido a primeira entidade judaica a ter uma abrangência nacional. O Estado-Novo em 1937 A Revolução de 32 foi derrotada, o governo ainda teve um curto período de vida constitucional entre 1934 e 1937, ano em que o presidente Getúlio Vargas decretou o Estado-Novo, utilizando como pretexto o Plano Cohen, uma suposta conspiração comunista com ressonância antissemita. Era uma ditadura nacionalista, que impôs uma política anti-imigratória com as circulares secretas a partir de 1938. No entanto, apesar das restrições, milhares de judeus imigraram ao Brasil neste período (enquanto outros milhares não o conseguiram). A partir de 1937 e até 1945 foi expressivo o número de entidades criadas na comunidade judaica, evidenciando uma intensa vitalidade de atuação mesmo durante os anos do Estado-Novo e da guerra. Entre as entidades fundadas estavam: Escola Luiz Fleitlich (1937) e Sinagoga Israelita de Pinheiros Beth Jacob (1937), e funcionaram normalmente as seguintes sinagogas e minianim: Sinagoga Israelita, Comunidade Israelita, Templo Beth Israel, Agudas Israel e minianim do Ipiranga, do Cambucy, da Vila Mariana, da Lapa, do Luzo-Brasileiro, do Braz, da Comunidade Sepharadi, da Synagoga Síria e da Escola Renascença. Durante o período entre 1937 e 1945, havia no Brasil um clima de forte nacionalismo e de xenofobia em relação aos estrangeiros. Apesar de manifestações abertas de antissemitismo, como as do Integralismo de Gustavo Barroso, das circulares secretas do Itamaraty limitando ou impedindo a entrada de imigrantes judeus e da correspondência antissemita entre cônsules na Europa e o Itamaraty, houve imigração de judeus mesmo durante a vigência pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s Além do Lar das Damas, em 1932 foi criada a Gota de Leite da B’nai B’rith, também dirigida à assistência às crianças. Aside from the Lar das Damas, the Gota de Leite of B’nai B’rith was created in 1932, also to address childcare. das circulares e, outro dado significativo, as entidades judaicas no Brasil não sofreram perseguições abertas. Ou seja, o antissemitismo presente em esferas do governo e da diplomacia e entre intelectuais de direita e de extrema-direita não se transformou em ações antijudaicas dentro do Brasil e não impediu a atuação cotidiana das entidades comunitárias. Algumas medidas antiestrangeiras atingiram as entidades judaicas durante o Estado-Novo, como a exigência de mudança de nome e eleição de uma diretoria de “brasileiros natos”, mas as entidades souberam reagir diante das exigências legais, mantendo suas atividades. Como exemplo de como as entidades se adaptaram com altivez, em maio de 1940 a Policlínica mudou seu nome para “Sociedade Linath Hatzedek (Auxílio Santo)”, e alterou o estatuto: onde estava escrito “compõe-se de ilimitado número de sócios, exclusivamente israelitas”, escreveu-se “compõe-se de sócios de qualquer nacionalidade, pertencentes à Religião Israelita”. Igualmente, se para ser sócio era “necessário ser israelita, maior de 18 anos, de ambos os sexos”, agora era necessário ser maior “de 18 anos, de qualquer nacionalidade e sexo, que professem a Religião Israelita”. Assim, alterando o nome e os estatutos, contornou-se as imposições formais. ganizations in the New State, but the organizations knew how to react to the legal impositions, while maintaining their activities. As an example of how the agencies adapted with dignity, in May 1940 the Polyclínica changed its name to “Sociedade Linath Hatzedek (Sacred Help)” and amended the statute: where it had read “it consists of an unlimited number of members, exclusively Jewish”, it now read “it consists of members of any nationality, belonging to the Jewish religion”. Equally, if then it took “being Jewish, over 18 years, of either sex” to be a member, now it was necessary to be “over 18, any nationality or sex, follower of the Jewish religion”. Thus, by changing the name and statutes, they conformed to the formal requirements. The assistance societies linked to German Jewish immigration The first German Jewish immigrants arrived in Sao Paulo in 1933, after the rise of Nazism to power in Germany in January that year. AntiSemitism, central to the Nazi ideology, materialized in more than 400 racist laws and decrees from 1933 to 1939, when the World War II began. In the same year it took power, the Nazi Party passed laws that excluded German Jews pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 57 from public office and intensified its anti-Semitic speech. Between 1933 and 1939, between 250,000 and 300,000 Jews emigrated from Germany and an equivalent number remained there, later to be deported. Brazil was an exception among the countries that accepted immigrants, imposing several restrictions. Between 1935 and 1940, Britain allowed the entry of only 75,000 Jews into Palestine. In 1934, a total of 483 German Jewish immigrants arrived in Brazil. In 1935 this number reached 201 people. In 1936, 1,127 people immigrated. The peak of immigration from Germany was in 1939, with 1,425 new immigrants. The Lar da Criança by CIP began operating in 1937 on Rua Barão de Piracicaba, in Sao Paulo downtown, with the support from Joint. The Lar, founded by the Damas Israelitas, was distinct from the Lar da Criança by CIP, though there were directors in common and permanent contact between the two societies. In 1939, there was an informal agreement in force between them: the Lar by CIP cared for live-in children from 2 to 15 years old, and the Damas, in their Home, served children who went to school and who were less than two years old. The Comissão de Assistência aos Refugiados Israelitas da Alemanha (Caria) worked in contact with HIAS, Hilfsvereindeutscher Juden of Berlin, and JCA-HICEM; the latter holding an office in Rio de Janeiro, and later also with Joint. Caria serve around 172 people in the 1930s, some of whom founded, in 1934, the Sociedade Israelita Paulista, and then in 1936, the Congregação Israelita Paulista. Many of the founders of the two societies and directors of Caria also participated actively in the charities, such as Linath Hatzedek, which served immigrants from Eastern Europe. 58 As entidades assistenciais ligadas à imigração judaico-alemã Os primeiros imigrantes judeus alemães chegaram a São Paulo em 1933, após a ascensão do nazismo ao poder na Alemanha em janeiro daquele ano. O antissemitismo, que era central na ideologia nazista, materializou-se em mais de 400 leis e decretos racistas entre 1933 e 1939, quando começou a Segunda Guerra Mundial. No mesmo ano em que assumiu o poder, o partido nazista promulgou leis que excluíam os judeus alemães de cargos públicos e intensificou o discurso antissemita. Entre 1933 e 1939, de 250 a 300 mil judeus emigraram da Alemanha e um número equivalente ficou e depois foi deportado. O Brasil era uma exceção entre os países que aceitaram, com várias restrições, imigrantes. Entre 1935 e 1940, a Grã-Bretanha permitiu a entrada de apenas 75 mil judeus na Palestina. Em 1934, um total de 483 imigrantes judeus alemães chegaram ao Brasil. Em 1935 este número alcançou 201 pessoas. Em 1936, imigraram 1.127 pessoas. O auge da imigração da Alemanha foi o ano de 1939, com 1.425 novos imigrantes. O Lar da Criança da cip começou a funcionar em 1937 na Rua Barão de Piracicaba, no centro de São Paulo, com apoio do Joint. O Lar fundado pelas Damas Israelitas era uma entidade distinta do Lar da Criança da cip, embora houvesse diretoras comuns e contato permanente entre as duas entidades. Em 1939, um acordo informal vigorava entre elas: o Lar da cip atendia crianças internas de dois a 15 anos e as Damas atendiam no Lar crianças que iam à escola e menores de dois anos. A Comissão de Assistência aos Refugiados Israelitas da Alemanha (Caria) trabalhava em contato com a Hias, com a Hilfsvereindeutscher Juden, de Berlim, e a jca-Hicem, que tinha escritório no Rio de Janeiro, e depois também com o Joint. A Caria atendeu cerca de 172 pessoas nos anos 1930, algumas das quais fundaram em 1934 a Sociedade Israelita Paulista e, depois, em 1936, a Congregação Israelita Paulista (cip). Muitos dos fundadores das duas entidades e diretores da Caria participavam também ativamente das entidades assistenciais, como a Linath Hatzedek, que atendiam os imigrantes da Europa Oriental. pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s 4 A Ofidas é fundada em 1940 durante o Estado-Novo e a Segunda Guerra Mundial Ofidas is founded in 1940 during the New State and World War II pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 59 p. 59 A comunidade judaica se mobilizou ativamente em prol da feb e dos refugiados judeus durante a guerra e, depois, em manifestações em prol da criação do Estado de Israel. acima Jovens caminham pela Rua José Paulino nos anos 1940, época de ativismo dos movimentos juvenis no bairro. p. 59 The Jewish community had actively mobilized on behalf of the FEB and Jewish refugees during the war and, later, in demonstrations in support of the creation of the State of Israel. above Young people walking on Rua José Paulino in the ‘40s, a time that saw a rise in activist youth movements in the neighborhood. 60 pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s D urante o Estado-Novo e os anos da Segunda Guerra Mundial, as diretoras que dirigiam a Sociedade das Damas Israelitas, o Lar da Criança Israelita e a Gota de Leite da B’nai B’rith decidiram unir as três entidades, fundando em 1940 a Organização Feminina Israelita de Assistência Social – Ofidas. Foi uma fusão duradoura e que trouxe inúmeros frutos à comunidade judaica. Até a criação da Unibes, em 1976, a Ofidas, sempre conduzida por mulheres, foi sinônimo de assistência social na comunidade judaica de São Paulo, uma entidade que ao longo de três décadas e meia marcou época com seus programas sociais, apoio aos imigrantes e cuidado em todas as modalidades de atendimento. Na primeira metade da década de 1940, a exemplo dos anos anteriores, houve uma expressiva fundação de novas entidades na comunidade judaica paulistana, entre elas o Centro Israelita Brasileiro do Cambuci (1941), com sinagoga e escola, a Sociedade Sinagoga Israelita da Lapa e Sociedade Religiosa Israelita Asilo dos Velhos, todas em 1941, o Centro Cultura e Progresso e o Ginásio Scholem Aleichem (1942), o Ginásio Chaim Nachman Bialik, em 1943, e o Colégio Iavne Beith Chinuch em 1945; nesse mesmo ano passou a funcionar o Seminário Hebraico Renascença de Professores. Nos anos 1940 foram ativos os movimentos juvenis sionistas Hashomer Hatzair, Dror, Ichud e Betar e a comunidade manteve D uring the New State and the years of World War II, the directors who ran the Sociedade das Damas Israelitas, the Lar da Criança Israelita and the Gota de Leite by B’nai B’rith decided to merge the three societies, founding, in 1940, the Organização Feminina Israelita de Assistência Social (Ofidas). It was a lasting merger worthwhile to the Jewish community. Until the creation of Unibes in 1976, always run by women, Ofidas meant social welfare in the Jewish community of Sao Paulo, an epoch-making society with its social programs, immigrant support, and all modalities of care over three and a half decades. In the first half of the 1940s, as in the previous years, there was a noteworthy number of foundations of new societies by the Jewish community in Sao Paulo, among them Centro Israelita Brasileiro Cambuci), including a school and a synagogue, Sociedade Sinagoga Israelita da Lapa and Sociedade Religiosa Israelita Asilo dos Velhos, all in 1941, Centro Cultura e Progresso and Ginásio Scholem Aleichem, in 1942, Ginásio Chaim Nachman Bialik, in 1943, Colégio Iavne Beith Chinuch in 1945, and Seminário Hebraico Renascença de Professores, which also began working in 1945. In the 1940s, the Zionist youth movements Hashomer Hatzair, Dror, Ichud and Betar were active. The community ran a radio program in Sao Paulo, in a time when radio was the chief pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 61 Retratos da comunidade judaica nos anos 40, época de apreensão e esperança. Portraits of the Jewish community in the ‘40s, a time of apprehension and hope. means of mass communication and controlled by Vargas’ government: the A Hora Israelita (“Jewish Hour”) by Siegfried Gothilf, which transmissions began in 1940 on Radio Piratininga. Then, in 1942, the “Mosaic Program” was aired on Radio Tupi. With the founding of the Centro Israelita Brasileiro do Cambuci one more Jewish community center was established in Sao Paulo. Though the largest portion of immigrant Jews lived in Bom Retiro district, there were communities in other neighborhoods, besides Bom Retiro and Cambuci: Ipiranga, Lapa, Brás, Mooca, Vila Mariana and Santo Amaro. In Mooca and Ipiranga, there were Sephardic immigrants from the 1920s onwards, especially from Lebanon and Syria. The Jews from Germany, Austria and Italy 62 um programa de rádio em São Paulo, época em o que o rádio era o principal meio de comunicação de massa e controlado pelo governo Vargas: a “Hora Israelita”, de Siegfried Gothilf, cujas transmissões começaram em 1940 na Rádio Piratininga; depois, em 1942, na Rádio Tupi, passou a se chamar “Programa Mosaico”. Com a fundação do Centro Israelita Brasileiro do Cambuci consolidou-se mais um centro comunitário judaico em São Paulo. Embora a parcela mais numerosa dos imigrantes judeus habitasse o bairro do Bom Retiro, havia comunidades em outros bairros, além do Bom Retiro e do Cambuci: Ipiranga, Lapa, Brás, Mooca, Vila Mariana e Santo Amaro. Na Mooca e no Ipiranga estavam imigrantes sefaradim, a partir dos anos 1920, especialmente do Líbano e da Síria. Os judeus da Alemanha, Áustria e Itália que pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s imigraram nos anos 1930 estabeleceram-se em Indianópolis, Vila Mariana e Jardins. Mas o Bom Retiro foi o centro da vida judaica em São Paulo até pelo menos os anos 1970, quando, em um processo de mobilidade social, parte dos judeus mudou-se para Higienópolis, Jardins, depois Morumbi e outros locais. who immigrated in 1930s settled in Indianópolis, Vila Mariana and Jardins. Bom Retiro, however, was the center of Jewish life in Sao Paulo until at least the 1970s, when some Jews moved to Higienópolis, Jardins, then Morumbi and elsewhere, in a process of social mobility. Local mobilization on behalf of the refugees Mobilização local em prol dos refugiados Os judeus de São Paulo estavam preocupados e mobilizados com o que estava acontecendo na Europa a partir da eclosão da Segunda Guerra Mundial em 1° de setembro de 1939, que provocou uma fuga em massa de judeus da Polônia e, depois, o confinamento em guetos e a deportação de milhões de judeus de países da Europa Oriental e Ocidental para os campos de concentração e de extermínio na Polônia ocupada pela Alemanha nazista. No Brasil, o governo Vargas rompeu relações com os países do Eixo em dezembro de 1942, na conferência dos chanceleres pan-americanos, depois declarou guerra e, em 1944, enviou a Força Expedicionária Brasileira (feb) e pilotos da Força Aérea Brasileira (fab) para enfrentar as tropas nazistas na Itália, participando vitoriosamente da batalha de Monte Castelo, entre outras. Havia soldados judeus na feb, entre eles o artista plástico Carlos Scliar, que publicaria um Álbum de Guerra, e Boris Schnaiderman, que escreveu Guerra em Surdina, romance testemunhal da feb. Durante os anos da Segunda Guerra Mundial, inúmeras campanhas foram criadas e desenvolvidas pela comunidade. A mais conhecida foi o Comitê Central Israelita de Socorro às Vítimas da Guerra, vinculada à Cruz Vermelha Brasileira. Outra entidade ativa foi a Sociedade Escudo Vermelho de David. Havia também o Comitê Hebreu-Brasileiro de Socorro às Vítimas da Guerra (fundado pelo Centro Hebreu-Brasileiro), que enviou roupas e outros itens aos refugiados de guerra na Europa. Em 1942 foi iniciada a Campanha Unida (ou Apelo Unido), movimento visando unificar a arrecadação de recursos da comunidade judaica e que acabou levando à criação da própria Federação Israelita em 1946. Em 1943, a Ofidas colaborou com a Comissão de Costura do Escudo Vermelho, que, sem sede, utilizou o endereço da Ofidas para receber sua correspondência. Em São Paulo, foi constituí- Sao Paulo Jews were concerned with and mobilized by what was happening in Europe since the outbreak of World War II on September 1, 1939, which triggered a mass exodus of Jews from Poland. It then led to confinement into ghettos and deportation of millions of Jews from countries of Eastern and Western Europe into concentration and extermination camps in Poland, occupied by Nazi Germany. In Brazil, the Vargas government broke relations with the Axis countries in December 1942, at a Pan-American Chancellors’ conference and, later, declared war. In 1944, they sent the Força Expedicionária Brasileira (herein, FEB) and pilots from the Força Aérea Brasileira (FAB) to confront the Nazi troops in Italy. They participated successfully in the Battle of Castle Hill, among others. There were Jewish soldiers in the FEB, including the artist Carlos Scliar, who published Álbum de Guerra, and Boris Schnaiderman, who wrote Guerra em Surdina, a testimonial novel of the FEB. During the years of World War II, several campaigns were created and developed by the community. The most acknowledged was the Comitê Central Israelita de Socorro às Vítimas da Guerra, linked to the Brazilian Red Cross. Another active organization was the Sociedade Escudo Vermelho de David. There was also the Comitê Hebreu-Brasileiro de Socorro às Vítimas da Guerra (founded by the Centro HebreuBrasileiro), which sent clothes and other items to war refugees in Europe. In 1942 the Campanha Unida (or Apelo Unido) was launched as a movement that aimed at concentrating the collection of resources in the Jewish community and that eventually led to the creation of Federação Israelita in 1946. In 1943, Ofidas collaborated with the Comissão de Costura do Escudo Vermelho, which, without a base, used the address of Ofi- pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 63 das to receive its correspondence. The Comitê para Angariação de Roupas em Prol dos Israelitas Vítimas da Guerra was formed in Sao Paulo, in 1944. It counted on the participation of the societies: Centro Hebreu-Brasileiro, Centro Cultural Progresso, Ezra, Asylo dos Velhos, Escudo Vermelho, Linath Hatzedek, Associação dos Israelitas Poloneses, Macabi, Sociedade Beneficente dos Israelitas Poloneses, Centro Recreativo Cultura, Escola Profissional ORT, Mrs. Churchill Foundation, the American Red Cross and the Brisith Red Cross. In August 1944, Ofidas requested that Joint mediated the shipment of garments to Europe. Due to this help, the boxes were sent to Sweden, France and Belgium. In 1945, the sewing workshops were organized into several sections: skirts nd coats, socks and winter gloves, shawls, gloves hats, slippers and manual works. The Brazilian Jewish community did not neglect the civic activities in Sao Paulo or in the federal capital then, Rio de Janeiro. In April 1943, the Grêmio Hebreu-Brasileiro held a “dance of war bonds” at the headquarters of the União Nacional dos Estudantes (UNE) in Rio de Janeiro. The best-known episode of Jewish participation, however, was joining the campaign to endow Brazil with an Air Force, with the donation of five aircrafts in late 1942. Especially in 1944, the civil population in Sao Paulo mobilized against the war. There were blackout exercises, exhibitions and publication of manuals on anti-air civil defense, campaigns such as the consumption of “war bread” (made of corn, due to the lack of wheat flour), and the use of syngas, which powered the vehicles from coal in the absence of gas and oil. Daily life in the city was pervaded by war, radio programs such as Repórter Esso, cine-journals from the Department of Press and Publicity (DIP) and American films that debuted in theaters in the capital. Ofidas and the new model of care Apart from the merger of three societies, the creation of Ofidas, on June 10, 1940, represented the restructuring of the social assistance model, with the professionalization of care, the hiring of a social visitor, and a perspective that considered the issues of the assisted from the standpoint of women, children and family. The headquarters 64 do em 1944 o Comitê para Angariação de Roupas em Prol dos Israelitas Vítimas da Guerra, que contou com a participação das entidades Centro Hebreu-Brasileiro, Centro Cultura e Progresso, Ezra, Asylo dos Velhos, Escudo Vermelho, Linath Hatzedek, Associação dos Israelitas Poloneses, Macabi, Sociedade Beneficente dos Israelitas Poloneses, Centro Recreativo Cultura, Escola Profissional ort, Fundação Mrs. Churchill, Cruz Vermelha Americana e a Cruz Vermelha Inglesa. Em agosto de 1944, a Ofidas solicitou que o Joint intermediasse a remessa de roupas à Europa. Com esta ajuda, as caixas podiam ser enviadas para Suécia, França ou Bélgica. Em 1945, as oficinas de costura se organizaram em várias seções: saias; trabalhos manuais; lumberjacks e casacos; meias e luvas de inverno; sapatos de cama, xales, luvas e bonés. A comunidade judaica brasileira não descuidava de atividades cívicas em São Paulo e na então capital federal, o Rio de Janeiro. Em abril de 1943, o Grêmio Hebreu-Brasileiro realizou um “baile do bônus de guerra” na sede da União Nacional dos Estudantes (une) no Rio de Janeiro. Mas o episódio mais conhecido da participação judaica foi a adesão à campanha para dotar o País de uma Força Aérea, com a doação de cinco aeronaves no final de 1942. A situação em São Paulo, especialmente no ano de 1944 era de mobilização civil diante da guerra. Havia exercícios de blackout, exposições e a publicação de manuais sobre defesa civil antiaérea, campanhas como a do consumo do “pão de guerra” (de milho, diante da falta de farinha de trigo) e da utilização do gasogênio, que movia os veículos a partir de carvão na falta de gasolina e óleo. O cotidiano da cidade estava permeado pela guerra, com os programas de rádio, como o Repórter Esso, os cine-jornais do Departamento de Imprensa e Propaganda (dip) e os filmes norte-americanos que estreavam nos cinemas da capital. Ofidas e o novo modelo de atendimento Para além da fusão de três entidades, a criação da Ofidas, em 10 de junho de 1940, representou a reestruturação do modelo de assistência social, com a profissionalização do atendimento, a contratação de uma visitadora social e uma perspectiva que pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s Com a abertura do túnel e da Avenida Nove de Julho, a cidade ganha uma importante ligação entre o centro e os bairros. With the opening of the tunnel and Avenida Nove de Julho, the city gains an important link between downtown and the neighborhoods. considerava a problemática dos assistidos a partir da mulher, da criança e da família. A sede da entidade era à Rua Bandeirantes. Com a fusão, o Lar da Criança Israelita transferiu à Ofidas o imóvel situado na Rua Jorge Velho, no 96. No seu início, nos anos 1940, a Ofidas trabalhava em várias áreas: assistência social, gabinete dentário, higiene infantil (que sucedeu à Gota de Leite) e Peah (distribuição de roupas). Aos poucos, estas áreas de atuação foram sendo estruturadas como departamentos, incluindo depois orientação profissional e biblioteca juvenil (inaugurada em 1945). A Ofidas também providenciava internações hospitalares quando preciso, e entre os convênios, havia um com o recém-inaugurado Hospital das Clínicas. Para manter suas funções, em 1944 a entidade tinha uma equipe com 11 funcionários. Nos anos de 1942/1943 um total de 299 novos sócios passaram a colaborar, sendo que a entidade chegou a ter em 1943 um total de 1.643 sócios contribuintes. A Ofidas atendia mulheres pobres imigrantes, que trabalhavam em casa, cuidavam dos filhos e ainda tinham um ofício in- of the organization was on Rua Bandeirantes. With the merger, Lar da Criança Israelita moved to the property of Ofidas located at Rua Jorge Velho, nº 96. At its beginning in the 1940s, Ofidas worked in several areas: social work, dental practice, child-health (tagging on Gota de Leite) and Peah (clothes distribution). Gradually, these operational areas were structured as departments, later including career guidance and a youth library (opened in 1945). Ofidas also provided hospital stays when needed, and among the covenants, there was one with the recently inaugurated then Hospital das Clínicas. To maintain its functions, the organization ran an 11 employee-staff in 1944. In 1942, a total of 299 new members began to collaborate, and the society grew to have 1,643 contributing members in 1943. Ofidas attended poor women immigrants, who worked at home, cared for the children, and still had an independent craft or helped their husbands. In a report published in 1943, the organization defined its main concerns: fighting infant mortality, caring for children whose pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 65 Acima e à direita; A exemplo de outras instituições, o Macabi, na Rua da Coroa, manteve suas atividades durante o EstadoNovo e a guerra. Above and to the right; An example to other institutions, the Macabi, on Rua da Coroa, continued its activities during the New State and the war. mothers worked, ensuring the health of schoolchildren, caring for families and people abandoned by disease and aging, caring for unprotected children and ensuring the adolescents a professional education for their own sake and that of their families. In 1940, although social work in the country was mostly organized by women, the presence of women in the labor market was not yet common among the middle-class strata. There were teachers, nurses and, in other social strata, there were laborers, but certainly no physicians, lawyers or engineers. The Statutes of Ofidas, at least since 1942, read that the society board should be exclusively exercised by women. Even as a tradition alone, this paragraph remained until the creation of Unibes in 1976, despite several statute changes made over the 36 years. Gota de Leite by B’nai B’rith incorporated a “Loja de Irmãs”, formed by a group of women within the B’nai B’rith and the Lar da Criança Israelita, the 66 dependente ou ajudavam os maridos. Em relatório publicado em 1943, a entidade definiu as suas principais preocupações: combater a mortalidade infantil, cuidar das crianças cujas mães trabalham, zelar pela saúde dos escolares, cuidar das famílias e pessoas desamparadas por doença e velhice, cuidar das crianças desprotegidas e assegurar aos adolescentes uma educação profissional para o seu próprio bem e o de suas famílias. Em 1940, embora o trabalho assistencial no País fosse na maior parte organizado por mulheres, não era ainda comum a presença de mulheres no mercado de trabalho entre os estratos de classe média. Havia professoras, enfermeiras e, em outro estrato social, operárias, mas certamente não médicas, advogadas ou engenheiras. Nos estatutos da Ofidas, pelo menos a partir de 1942, estava escrito que a diretoria da entidade deveria ser exercida exclusivamente por mulheres. Este item permaneceu – mesmo que como tradição – até a criação da Unibes em 1976, apesar das várias pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s alterações de estatutos realizadas ao longo de 36 anos. A Gota de Leite B’nai B’rith integrava uma “Loja de Irmãs”, formada por mulheres dentro da B’nai B’rith; o Lar da Criança Israelita também era dirigido por um grupo de diretoras. Em certo momento, a Ofidas criou um inusitado “Conselho de Senhores”. Nas outras entidades assistenciais, Ezra e Policlínica, a restrição à entrada de mulheres na diretoria não era formalizada em estatutos, mas não há registro de qualquer mulher que tenha participado de suas diretorias, embora houvesse muitas colaboradoras e comissões de senhoras, especialmente para organizar eventos sociais com o propósito de arrecadar recursos. A Ezra atendia basicamente homens e considerava que ajudando-se o homem estava-se ajudando a resolver a situação da família. Esta ajuda era basicamente financeira e alimentar, fosse ela mensal ou pontual. Os pedidos de auxílio à Ofidas eram feitos sempre pela mulher, o que definia uma série de especificidades na compreensão dos problemas e na forma de resolvê-los, vendo a família, e atendendo uma série de demandas não materiais, lidando com dificuldades que não eram apenas de ordem econômica e tendo uma postura de entender o lugar e as necessidades femininas na sociedade. Além disso, a Ofidas tinha, a partir de 1942, uma funcionária contratada, Greta Neuben, que trabalhava três dias por semana, atendia os casos, fazia as visitas domiciliares e às pacientes hospitalizadas, acompanhava regularmente as crianças e elaborava relatórios. latter also ran by a group of women directors. At one point, Ofidas created an unusual Council of Lords. In the other charitable trusts, Ezra and Polyclínica, the no-entrance policy for women was not made official in the Statutes. There is no record whatsoever of women having participated on their boards, though there were many collaborators and committees of women, especially when organizing social events in order to raise funds. Ezra primarily served men and believed that helping men was helping to solve the family’s situation. This support was mainly financial and nourishing, be it monthly or occasional. Requests to Ofidas for assistance were always made by women, which characterized a number of specifics when understanding the problems and how to solve them. They took the families into account and answered a series of non-material demands, dealing with difficulties that were not just of economic order and understanding the role and needs of women in society. In addition, since 1942, Ofidas had an employee, Greta Neuben, who worked three days a week, took down the applications, visited homes and hospitalized patients, was regularly concerned with children and prepared reports. The new profile of social assistance in Brazil It was in the 1930s that there was a transition in the profile of those working in social assistance. In general terms, a young society lady devoted to the social apostolate was no longer required, but a skilled worker. The social work at that time was still connected to the beneficent ladies and within the charitable framework of state-sponsored assistance. In Sao Paulo, the Social Service academic course began in 1936, and in Rio de Janeiro in 1938, at the Escola Técnica de Serviço Social. In 1940, a Preparatory Course to Social Work was introduced at the Ana Nery Nursing School. The first positions for social workers in 1934 were those for work supervisors for both women and minors for the State Department of Labor. In 1937 they began to act in Juvenile Court and in the Submonitoria de Playground of the Municipality of Sao Paulo. In 1938 the Migrant Protection Service was created, pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 67 offering vacancies for social workers and, in 1939, the State Department of Social Services originated in 1935 opened positions for social workers. The first major national social assistance institution established was Legião Brasileira de Assistência (herein, LBA), as a result of Brazil’s engagement in World War II in 1942. It arose to “provide for the needs of families whose heads have had a call of duty, and also to participate in public tenders (in everything that relates to war effort”. LBA immediately attended the families of the summoned, by working in all areas of social assistance, mobilizing and coordinating private and state works, and creating services not covered by them. In 1940, social workers began working in industry and commerce, Institutos de Pensões, Centros Familiares and private societies. In 1942, they started to work for Hospital das Clínicas and for Senai. The work and the concepts of Ofidas were integrated and therefore represented the vanguard of relief work at the time. In 1942, two years after the creation of Ofidas, Ezra and Linath Hatzedek discussed the possibility of a merger for the first time. The relationship between Ofidas and Congregação Israelita Paulista was close, especially between Lar by Ofidas and Lar da Criança by CIP. The Lar by CIP inaugurated its new headquarters in Alto da Boa Vista in 1949. It counted on the support of Joint, HIAS, and Claims Conference (Conference on Jewish Material Claims against Germany, an US-based umbrella organization that coordinated the receipt of war reparations from Germany). Ofidas installed its own dental practice in 1943. Many young people were sen to commercial courses, such as the ones offered by Liga das Senhoras Católicas, to start working soon after age 14, sometimes in domestic services. Children were only recommended for work following a psychological evaluation conducted by psychologist Betty Katzenstein. Ofidas was also requested to allow for completion of studies, to buy books and to provide for school supplies. The career orientation served, in fact, a wide range of issues relating to young people on educational and professional opportunities, schools, courses and jobs (through contact with enterprises), with partial or total school funding, aside from medical treatments and broader guidance to the young within the family and the community context. 68 O novo perfil da assistência social no País Foi na década de 1930 que ocorreu uma transição no perfil dos que trabalham em assistência social, deixando de ser, em linhas gerais, uma moça da sociedade devotada ao apostolado social para tornar-se um trabalhador especializado. O trabalho de assistência social, naquele período, ainda estava ligado às senhoras beneficentes e à moldura de assistencialismo patrocinado pelo Estado. Em São Paulo, o curso de Serviço Social teve início em 1936 e, no Rio de Janeiro, em 1938, na Escola Técnica de Serviço Social. Em 1940 foi introduzido o curso de Preparação em Trabalho Social na Escola de Enfermagem Ana Nery. Os primeiros cargos para as assistentes sociais em 1934 eram os de fiscais para o trabalho feminino e de menores no Departamento Estadual do Trabalho. Em 1937 começam a atuar no Juízo de Menores e na Submonitoria de Play-ground da Prefeitura de São Paulo. Em 1938 foi criado o Serviço de Proteção aos Migrantes, com vagas para assistentes sociais e, em 1939, o Departamento de Serviço Social do Estado, criado em 1935, abriu vagas para assistentes sociais. A primeira grande instituição nacional de assistência social foi a Legião Brasileira de Assistência (lba), criada no movimento de engajamento do Brasil na Segunda Guerra Mundial, em 1942. Surgiu para “prover as necessidades das famílias cujos chefes hajam sido mobilizados e, ainda, prestar decidido concurso ao governo em tudo que se relaciona ao esforço de guerra”. Da família dos convocados, a lba rapidamente passou a atuar em todas as áreas da assistência social, mobilizando e coordenando as obras particulares, estatais e criando serviços não cobertos por estas. A partir de 1940, os assistentes sociais começaram a trabalhar em indústrias e comércio, Institutos de Pensões, Centros Familiares e entidades particulares. Em 1942 passaram a atuar no Hospital das Clínicas e no Senai. O trabalho e as concepções da Ofidas estavam integrados, portanto, na linha de frente do trabalho assistencial na época. Em 1942, dois anos após a criação da Ofidas, Ezra e Linath Hatzedek discutiram pela primeira vez a possibilidade de uma fusão. A relação da Ofidas com a Congregação Israelita Paulista (cip) era estreita, especialmente entre o Lar da Ofidas e o Lar da Criança da cip. O Lar da cip inauguraria sua sede nova, no Alto pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s Evento de inauguração de uma ala nova do Sanatório da Ezra, em São José dos Campos, fundado em 1936. The inauguration event for the new wing at the Ezra Sanatorium, in Sao Jose dos Campos, founded in 1936. da Boa Vista, em 1949 e contaria com o apoio do Joint, da Hias e da Claims Conference (Conference of Jewish Material Claims Against Germany, entidade teto com sede nos eua que coordenou o recebimento de reparações de guerra da Alemanha). A Ofidas instalou seu próprio gabinete dentário em 1943. Muitos jovens eram encaminhados para cursos comerciais, como os da Liga das Senhoras Católicas, para depois começar a trabalhar aos 14 anos, às vezes em serviços domésticos. As crianças eram encaminhadas a partir de uma avaliação psicológica realizada pela psicóloga Betty Katzenstein. Havia também pedidos para concluir estudos, comprar livros e material escolar. O trabalho de orientação profissional atendia, de fato, a uma ampla gama de In late 1930s and early 1940s, members at the Policlínica started debating the construction of a community hospital or clinic, to be planned for another center. In November 1937, a director disclosed “Mrs. Bertha Klabin is building a hospital” and suggested that Ezra participated in the discussion around the subject. The high cost of hospital stay had always been a serious challenge to the work of Policlínica, since it already meant an objective limitation to its service. The organization often felt powerless to solve cases that required surgery and hospital commitment. It was necessary to use other societies to share costs, and agreements were negotiated with hospitals. pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 69 Professores do Renascença, que a exemplo da Ezra, Ofidas e Policlínica, funcionou normalmente durante os anos da guerra. Teachers at Renascença, which, like Ezra, Ofidas, and the Policlínica, functioned normally during the war years. The Jewish community in the postwar years The end of World War II and the regime of the New State in Brazil, which led to democratization, provided for the systematization of numerous Jewish societies, committees to help immigrants and refugees in Europe, the creation of Zionist organizations and, in 1946, the foundation of Federação das Sociedades Israelitas Brasileiras do Estado de Sao Paulo. In Europe, on May 7, 1945, Nazi Germany surrendered to the Allies. The Força Expedicionária Brasileira, which fought the Nazis in northern Italy along with the U.S. army, returned victorious and was celebrated in huge parades in Rio de Janeiro and Sao Paulo. The country’s new constitution, promulgated on September 18, 1946, adopted a liberal democratic model, with direct elections for president of the republic, a five-year term and compulsory voting for literate men and women. The compulsory voting for women was a remarkable social change, since the 1934 Constitution envisaged 70 questões relativas aos jovens sobre oportunidades educacionais e profissionais, escolas, cursos e empregos (por meio de contato com empresas), com financiamento parcial ou total da educação, além de tratamentos médicos e orientação mais geral para o jovem no contexto familiar e comunitário. No final dos anos 1930 e princípio dos anos 1940 teve início a discussão no interior da Policlinica em torno da construção de um hospital da comunidade ou de um ambulatório, que seria organizado em uma nova sede da entidade. Em novembro de 1937, um diretor comunicou que “a sra. Bertha Klabin está construindo um hospital” e sugeriu que a Ezra participasse da discussão sobre o assunto. A questão da internação hospitalar foi sempre um sério desafio ao trabalho da Policlinica, já que esbarrava em uma limitação objetiva ao seu atendimento, dado o alto custo da internação. A entidade se sentia muitas vezes impotente para resolver os casos que requeriam intervenção cirúrgica e internação hospitalar. Era necessário recorrer a outras entidades para dividir os custos, e eram negociados convênios com hospitais. pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s Comunidade judaica se mobiliza para enviar pacotes à feb na Itália e aos refugiados judeus na Europa, em oficinas organizadas com a Cruz Vermelha Brasileira. The Jewish community mobilizes itself to send packages to the feb in Italy and Jewish refugees in Europe, through workshops organized with the Brazilian Red Cross. A comunidade judaica nos anos do pós-guerra O fim da Segunda Guerra Mundial e do regime do Estado-Novo no Brasil, que levou à democratização, propiciou a organização de inúmeras entidades judaicas, comitês para ajudar imigrantes e refugiados na Europa, criação de organizações sionistas, e, em 1946, a fundação da Federação das Sociedades Israelitas Brasileiras do Estado de São Paulo. Na Europa, no dia 7 de maio de 1945 a Alemanha nazista capitulou frente aos Aliados. A Força Expedicionária Brasileira, que combateu os nazistas no Norte da Itália junto com o exército norte-americano, voltou vitoriosa e foi festejada em gigantescos desfiles no Rio de Janeiro e em São Paulo. A nova Constituição do País, promulgada em 18 de setembro de 1946, adotou um modelo liberal-democrático, com eleições diretas para presidente da República, mandato de cinco anos e voto obrigatório para homens e mulheres alfabetizados. O voto obrigatório para mulheres foi uma mudança social de impacto, já que a Constituição de 1934 previa o voto obrigatório apenas para as mulheres que trabalhassem em cargo público remunerado. Se nas eleições presidenciais de 1930 votaram 1,9 milhão de pessoas (equivalente a menos de 6% da população do País), no pleito de compulsory voting only for women who worked in paid public office. While 1.9 million people (the equivalent to less than 6% of the country’s population) voted in the 1930 presidential election, in the election of December 1945, there was a total of 6.2 million voters, including women’s votes (which corresponded to 13.4% of the total). Thus, the constitutional change of 1946 included as full citizens a portion of the country’s population that had not voted in elections until then. Therefore, it expanded the social and cultural base of citizenship and the political and electoral debate. The major debate in the postwar period was among the Social Democratic Party (PSD), the National Democratic Union (UDN), the Labor Party (PTB) and the Communist Party (PCB), which reached about 10% votes in the country in 1945 and third place in the 1947 elections in Sao Paulo–in the same year that party had its registration revoked by the Ministry of Justice. Post-war Zionist activism The arrival of immigrants and Zionist activism brought about a strong drive in the Jewish community after World War II. First, a broad network of support for immigrants was orga- pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 71 Manifestação no Estádio do Pacaembu a favor da criação do Estado de Israel. Demonstration at the Pacaembu Stadium in support of the creation of the State of Israel. nized. This process led to the strengthening of the United Campaign among the several societies working in the reception of immigrants, and then to the creation of the Federação das Sociedades Israelitas Brasileiras do Estado de Sao Paulo in 1946. Besides Centro Hebreu-Brasileiro, Comitê Weitzman, Poalei Zion Hitachdut and Associação Chaim Weitzman were organized at the end of the war. The Organização Sionista do Brasil started operating in August 1945. Next it turned into the Organização Sionista Unificada and later into the Organização dos Sionistas Revisionistas Unidos do Brasil, thus reflecting the diverse ideological positions within the movement proestablishment of a Jewish State in Israel. Subsequently, the Federação das Organizações Juvenis 72 dezembro de 1945 votaram um total de 6,2 milhões de eleitores, com o voto das mulheres, correspondendo a 13,4% destes. Assim, a mudança constitucional de 1946 incluiu como cidadãos plenos uma parcela da população do País que não votava nas eleições e, com isso, ampliou a base social e cultural da cidadania e do debate político e eleitoral. O principal debate partidário no pós-guerra ocorria entre o Partido Social Democrático (psd), a União Democrática Nacional (udn) e o Partido Trabalhista Brasileiro (ptb), além do Partido Comunista Brasileiro (pcb), que chegou a cerca de 10% dos votos em 1945 no País e o terceiro posto nas eleições em São Paulo em 1947 – mesmo ano em que o partido teve seu registro de funcionamento cassado pela Justiça. pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s Ativismo sionista no pós-guerra A movimentação foi intensa na comunidade judaica após a Segunda Guerra Mundial, com a chegada de imigrantes e o ativismo sionista. Primeiro, tratou-se de organizar uma ampla rede de apoio aos imigrantes, processo que levou ao reforço da Campanha Unificada entre as várias entidades que trabalhavam na recepção aos imigrantes, e, depois, à criação da Federação das Sociedades Israelitas Brasileiras do Estado de São Paulo em 1946. No final da guerra organizaram-se, além do Centro Hebreu-Brasileiro, o Comitê Weitzman, o Poalei Zion Hitachdut e a Associação Chaim Weitzman. A Organização Sionista do Brasil começou a funcionar em agosto de 1945, depois seria a vez da Organização Sionista Unificada e, depois, a Organização dos Sionistas Revisionistas Unidos do Brasil, refletindo as diversas posições ideológicas no interior do movimento pró-estabelecimento do Estado judeu em Israel. Em seguida seria fundada a Federação das Organizações Juvenis Judaicas de São Paulo, que fez um comício de protesto contra o Livro Branco britânico (de 1939) em janeiro de 1946. No segundo semestre de 1946, as entidades assistenciais preparavam-se para receber uma leva de imigrantes. Em outubro daquele ano, foi eleito por nada menos que 28 diferentes sociedades um comitê executivo com 13 membros para trabalhar na recepção aos recém-chegados. Entre as sociedades havia as chamadas Landsmannschaften (associações de imigrantes de um mesmo país), como a Associação Israelita de Socorro aos Israelitas de Wolyn, a Litwischer Verband (lituanos), o Comitê de Socorro aos Israelitas Sobreviventes da Guerra na Bessarábia e outras. A Federação mantinha em 1946 uma série de conselhos para coordenar as entidades judaicas que apresentassem objetivos semelhantes. Além de um Conselho-Geral, havia o Conselho de Ensino, Educação e Cultura e o Conselho de Rabinos e Assuntos Religiosos. Em 1948 a Federação instalou um Comitê de Emergência de Assistência aos Imigrantes. Um ano depois, em 1949, criou um Conselho de Assistência Social, cujo principal objetivo era prestar auxílio aos imigrantes e coordenar o trabalho das várias entidades judaicas: Ezra, Ofidas, Linath Hatzedek, cip e Asilo dos Velhos. Judaicas in Sao Paulo was founded. It held a protest rally in January 1946 against the MacDonald White Paper of 1939. In the second half of 1946, the charities prepared to receive a wave of immigrants. In October that year, an executive committee of 13 members was elected to work with the reception of newcomers, by no fewer than 28 different societies. Among the societies were the Landsmannschaften (associations of immigrants from the same country), such as the Associação Israelita (Judaica) de Socorro aos Israelitas de Wolyn, the Litwischer Verband (Lithuanian), the Comitê de Socorro aos Israelitas Sobreviventes da Guerra na Bessarábia, and others. The Federation maintained a series of councils to coordinate the Jewish organizations that presented similar goals in 1946. In addition to a General Council, there was a Board of Schooling, Education and Culture and the Board of Rabbis and Religious Matters. In 1948, the Federation established a Comitê de Emergência de Assistência aos Imigrantes. A year later, in 1949, a Board of Social Services was created, whose main goal was to provide assistance to immigrants and coordinate the work of several Jewish organizations: Ezra, Ofidas, Linath Hatzedek, CIP, and the Home for the Old. As its base, The Federation directed Zionist groups, such as Centro Hebreu-Brasileiro. It sought to unify the collection of resources in the community, centralize the transfer of resources from international organizations, such as HIAS and Joint, and to organize the social assistance and immigrant reception work. Ezra and Linath Hatzedek Polyclínica joined the Federation and the United Campaigns in 1947. Directors of both organizations actively participated in the foundation and first board formation of the merged society. A United Campaign was first held in October 1945, when Centro Hebreu-Brasileiro proposed a United Committee of 10,000 Parcels. Ofidas did not participate, but continued its sewing jobs and package distribution to Europe. Ofidas and Congregação Israelita Paulista did not join the Federation at first. The debate within Ofidas about whether or not to join the Federation and the United Campaign extended between 1946 and 1951, when they eventually merged. Along with several other societies, such as Wizo, Ofidas also participated in campaigns to pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 73 Mulheres da comunidade judaica preparando o envio de pacotes humanitários para a Europa. Women in the Jewish community preparing to send humanitarian packages to Europe. send clothes to Palestine (Israel) in 1948. Collection stations were installed in institutions and private homes in the districts of Brás, Bom Retiro, Higienópolis, Ipiranga, Jardim America, Pinheiros, Vila Mariana and Perdizes, as evidence of a broader geographical dispersion of the community already by late 1940s. There was also a campaign involving the Israel Defence Force (Haganá) in order to purchase ambulances for Palestine and, in June 1948, shortly after the proclamation of independence of Israel, the Campanha de Emergência Pró-Israel and the Comitê Central da Campanha Pró-sobreviventes were created. In 1948, the Sociedade Vita Kempner initiated activities in Brazil, in order to provide assistance to war orphans abroad and poor children in Sao Paulo. In 1949, CIP inaugurated the new building of the Lar da Criança. The consistent partnership among the aid organizations, the Federação Israelita and others, allowed for, in the 1950s as we shall see, the rapid integration of the last great wave of Jewish immigration to Sao Paulo (and Brazil). Ofidas, Polyclínica and Ezra were, again, on the vanguard of this process. 74 A Federação tinha como base grupos sionistas, como o Centro Hebreu-Brasileiro, e procurou unificar a coleta de recursos na comunidade e centralizar o envio dos recursos de entidades internacionais, como Hias e Joint, além de organizar o trabalho de assistência social e recepção aos imigrantes. A Ezra e a Policlínica Linath Hatzedek aderiram à Federação e às Campanhas Unidas no ano de 1947. Diretores das duas entidades participaram ativamente da fundação e da primeira diretoria da nova entidade. Uma primeira campanha unificada começara a ser realizada em outubro de 1945, quando o Centro Hebreu-Brasileiro propôs um “Comitê Unido de 10.000 pacotes”; a Ofidas não participou, mas continuou seu trabalho de costura e envio de pacotes para a Europa. Ofidas e Congregação Israelita Paulista não aderiram à Federação num primeiro momento. O debate no interior da Ofidas sobre filiar-se ou não à Federação e participar da Campanha Unida estendeu-se entre 1946 e 1951, quando se deu a vinculação. Junto com várias outras entidades, como a Wizo, a Ofidas participou em 1948 também de campanhas para enviar roupas para a Palestina (Israel). Postos de arrecadação foram instalados em entidades e casas particulares nos bairros de Brás, Bom Retiro, Higienópolis, Ipiranga, Jardim América, Pinheiros, Vila Mariana e Perdizes, evidência da maior dispersão geográfica da comunidade já no final dos anos 1940. Também houve campanha com a Haganá para a compra de ambulâncias para a Palestina e, em junho de 1948, logo após a proclamação da independência de Israel, foram criadas a Campanha de Emergência Pró-Israel, além do Comitê Central da Campanha Pró-sobreviventes. Em 1948, a Sociedade Vita Kempner iniciou atividades no País para prestar auxílio aos órfãos de guerra no exterior e a crianças pobres em São Paulo e, em 1949, a cip inaugurou o novo prédio do Lar da Criança. A consistente parceria entre as entidades assistenciais, a Federação Israelita e outras organizações permitiu, nos anos 1950, como veremos, a rápida integração da última grande leva de imigração de judeus a São Paulo (e ao Brasil). Ofidas, Policlínica e Ezra estiveram, novamente, na linha de frente deste processo. pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s 5 As imigrações egípcia e húngara de 1956 e o trabalho conjunto das entidades assistenciais The Egyptian and Hungarian immigration of 1956 and joint work of welfare agencies pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 75 p. 75 Edifícios Martinelli e Altino Arantes na década de 1950, quando São Paulo se tornou a maior metrópole da América Latina. acima O ginásio da Hebraica, inaugurado em 1957, projeto do arquiteto Gregory Warschawchik. p. 75 The Martinelli and Altino Arantes buildings in the 1950s, when Sao Paulo became the biggest metropolis in Latin America. above The Ginásio da Hebraica, opened in 1957 and designed by architect Gregory Warschawchik. 76 pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s N a década de 1950 São Paulo já era a maior metrópole da América Latina. As comemorações dos quatrocentos anos da cidade em 1954 foram um evento marcante para a vida do paulistano e tiveram seu auge com a inauguração do Parque do Ibirapuera e de uma exposição universal, que incluiu a exibição do quadro “Guernica”, de Pablo Picasso. “São Paulo é a cidade que mais cresce no mundo” era o slogan das comemorações. Na noite do dia 25 de janeiro de 1954 uma “chuva de prata”, com milhões de papeizinhos coloridos, povoou os céus e caiu lentamente sobre a cidade. Uns dizem-na uma grande cidade, outros dizem-na uma grande aldeia, escreveu o memorialista Jorge Americano sobre São Paulo. A transformação havia sido tão veloz que ainda era difícil entender e apreender o que a capital paulista havia se tornado: “Há cidades que, vistas do alto, caracterizam-se por torres e cápsulas, como as da renascença italiana. Outras por chaminés, como Pittsburgh e Manchester. Ainda outras por arranha-céus, como Nova York, Chicago”, comentou Americano sobre a cidade dos anos 1950, descrevendo-a a assim: “São Paulo, na aproximação por avião, impressiona primeiro pelos loteamentos de terrenos, em todo o redor, por muitos quilômetros. E para quem olhar de alguma altura como o lugar do Trianon na Avenida Paulista, ou do Morro dos Ingleses onde está o Hospital Municipal, verá I n the 1950s Sao Paulo was already the largest metropolis in Latin America. The celebration of its four-hundredth anniversary in 1954 was a landmark event in the life of Sao Paulo. It had its peak with the opening of the Ibirapuera Park and a world exhibition, which included the display of “Guernica”, the famous painting by Pablo Picasso. “Sao Paulo is the fastest growing city in the world” was the slogan of the celebration. On the night of January 25, 1954, a “silver rain” with millions of pieces of colored confetti covered the sky and fell slowly all over the city. “Some say it is a big city, others say it is a big village”, wrote the memoirist Jorge Americano about Sao Paulo. The transformation had been so swift that it was still difficult to understand and grasp what had become of the state capital: “There are cities that, seen from above, are characterized by turrets and domes , like those of the Italian Renaissance. Other by chimneys, like Pittsburgh or Manchester. Others by skyscrapers, including New York, Chicago”, commented Americano on the city in the 1950s, thus describing it: “When the airplane approaches, Sao Paulo first strikes for the plots of land, in every direction possible for kilometers on end. And for those glancing from some height, like Trianon Park on Avenida Paulista, or the Morro dos Ingleses where the Hospital Municipal is, you will spot a huge city, spread all over, with a downtown full of skyscrapers and some vacant areas showing pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 77 Perua escolar do Scholem Aleichem, em frente ao Icib, referência de efervescência cultural da comunidade judaica nos anos 1950. The estate car of the Scholem Aleichem school, in front of Icib; an illustration of the cultural effervescence of the Jewish community in the 1950s. no buildings whatsoever, vast residential districts with skyscrapers everywhere and amidst every four or five edifices already built, the structures of one or two more under construction rise”. Particularly since the inauguration of Juscelino Kubitschek’s government in 1956, the 1950s were a period of intense economic and industrial development, due to the Goals Plan and the Developmental Policy—above all, due to the belief in a promising future, in which Brazil would take 78 uma cidade enorme, toda espalhada, com um centro de arranha-céus e alguns claros não edificados, imensos bairros residenciais semeados de arranha-céus, sendo que no meio de cada quatro ou cinco, já construídos, sobem as estruturas de mais um ou dois em construção”.1 Os anos 1950, e principalmente a partir da posse do governo Juscelino Kubitschek em 1956, foi um período de intenso desenvolvimento econômico e industrial, com o Plano de Metas e a política do desenvolvimentismo, e, sobretudo, de crença em um pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s futuro promissor, no qual o País daria um grande salto seguindo o lema “50 anos em 5”. A conquista da primeira Copa do Mundo em 1958, a inauguração da nova e arrojada capital, Brasília, em 1960 e o sucesso da Bossa Nova ultrapassando as fronteiras do País são alguns dos marcos que criaram uma atmosfera geral de otimismo. Nos anos 1950 a comunidade judaica mantinha instituições que não mais tinham como foco o apoio aos imigrantes, mas uma inserção efetiva na sociedade e apoio aos que precisassem de ajuda localmente, o que permitiu também receber as levas imigratórias desta época em outra condição. A fundação do Estado de Israel em 1948 foi um fator decisivo na criação de um clima de recomeço da vida judaica – após o Holocausto –, embora os anos 1950 (mesmo com a vitória na Guerra do Sinai, em 1956) ainda estivessem longe do otimismo que se disseminou após a vitória na Guerra dos Seis Dias em 1967 e a unificação de Jerusalém como capital de Israel. Em 1951 foi fundada a Confederação das Entidades Representativas da Coletividade Israelita do Brasil, depois Confederação Israelita do Brasil (Conib), uma associação de comunidades estaduais que sentiam a necessidade de uma articulação política em nível nacional. Um novo perfil de entidades estava sendo gestada, como o clube A Hebraica, inaugurado em 1957, e o início da construção do Hospital Albert Einstein, cuja Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Hospital Albert Einstein foi estabelecida em 1955 (no ano de 1958 começaram efetivamente as obras de construção, alguns serviços iniciaram o atendimento na década de 1960 e a inauguração oficial do hospital se daria em 1971). Em outro campo de atuação, em 1954 foi fundado em São Paulo o Instituto Cultural Israelita Brasileiro (Icib) junto ao Teatro de Arte Israelita Brasileiro (Taib), agregando as correntes de esquerda e idichistas na comunidade. A Congregação Israelita Paulista (cip) inaugurou a nova sinagoga à Rua Antônio Carlos em 1957 e a entidade se tornou uma instituição central do judaísmo paulista e polo de atração de centenas de jovens que vinham participar dos movimentos juvenis (Avanhandava e Chazit Hanoar) e das colônias de férias nos Campos de Estudos. Uma nova entidade assistencial foi criada em 1959: o Centro Israelita de Assistência ao Menor – Ciam, resultado da articulação a major leap following the motto “50 years in 5’. Winning the first World Cup in 1958, inaugurating a bold new capital, Brasília, in 1960, and the success of Bossa Nova beyond Brazilian borders are some of the milestones that created a general atmosphere of optimism. In the 1950s, institutions in the Jewish community no longer focused on the support of immigrants, but on their effective insertion in society and support to those who needed help locally, thus enabling them to receive new waves of immigration under other conditions. The foundation of the State of Israel in 1948 was a decisive factor in developing a mood for resumption of Jewish life, following the Holocaust, though the 1950s (even after the 1956 victory in the Sinai War) were still far from the widespread optimism that appeared later, following the 1967 victory in the Six Day War and the unification of Jerusalem as capital of Israel. In 1951 the Confederação das Entidades Representativas da Coletividade Israelita do Brasil was founded. Later, the Confederação Israelita do Brasil (CONIB) was set up, an association of state communities who felt the need for an articulated policy at a national level. A new profile of societies was then born, such as “A Hebraica” the club, inaugurated in 1957, and the Hospital Albert Einstein, that had just started being built and for which Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Hospital Albert Einstein was established in 1955 (the construction effectively began in 1958, some services started treatment in the 1960s, and the official inauguration of the hospital was in 1971). In another field of work, the Instituto Cultural Israelita Brasileiro (ICIB) was founded in Sao Paulo in 1954, along with the Teatro de Arte Israelita Brasileiro (TAIB), thus joining left and Yiddish currents in the community. The Congregação Israelita Paulista inaugurated a new synagogue on Rua Antonio Carlos in 1957 and the society became a central institution of Judaism in Sao Paulo and a pole of attraction for hundreds of young people who came to participate in youth movements (AvanhandavaScouting and Chazit Hanoar) and the vacation summer camps on Study Camps. A new aid organization was created in 1959: the Centro Israelita de Assistência ao Menor— Ciam, as a result of the coordination among societies and professionals within the Jewish com- pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 79 Parque Trianon na década de 50, local em que seria construído o Masp. Parque Trianon in the ‘50s, at the site where the Museu da Arte Sao Paulo (Masp) would be constructed. munity, who realized the need to create an institution that could serve children and youth considered exceptional, based on the initiative of the director of Lar das Crianças da CIP, then, Henrique Rattner. The foundation of CIAM was contemporary to the movement of creation of a series of societies with similar profiles, based on the concept that it was possible to take care of exceptional children and youth searching for ways to provide them with somewhat autonomous lives. Accepting and supporting the exceptional child as an equal-different and not as an inferior person to be isolated as was the case until then, was the central guideline for the new times. Immigrants from Egypt and Hungary A new profile of societies was therefore created within the Jewish community in years of optimism and the growth of Sao Paulo and Brazil. It was within this context, with fresh air and new ideas that the last significant wave of the 20th century Jewish immigration came to Brazil and Sao Paulo. About ten thousand immi- 80 de entidades e profissionais da comunidade judaica que perceberam a necessidade de criar uma instituição que pudesse atender crianças e jovens considerados excepcionais, a partir da iniciativa do diretor do Lar das Crianças da cip, Henrique Rattner. A fundação do Ciam foi contemporânea ao movimento de criação de uma série de entidades com perfil semelhante, fundamentadas na concepção de que era possível cuidar das crianças e dos jovens excepcionais buscando formas de proporcionar-lhes uma vida com algumas esferas de autonomia. Aceitar e receber o excepcional como um igual-diferente, e não como uma pessoa inferior a ser isolada, como acontecia até então, era diretriz central dos novos tempos. Imigrantes do Egito e da Hungria Assim, um novo perfil de entidades foi criado na comunidade judaica em anos de otimismo e crescimento de São Paulo e do País. Foi neste contexto, com novos ares e novas ideias, que chegou ao Brasil e a São Paulo a última onda imigratória judaica pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s expressiva no século 20. Cerca de dez mil imigrantes aportaram na segunda metade dos anos 1950, a maioria originária do Egito e da Hungria. Em menor número, vieram também de Israel e de países da África do Norte e da Polônia. Esta imigração foi resultado direto de acontecimentos políticos, sem relação entre si, que afetaram as comunidades judaicas da Hungria e do Egito. Na Hungria, tropas soviéticas sufocaram militarmente em 1956 um movimento reformista liberal que estava em curso no país, o que levou a um processo de repressão e fechamento político. No Egito, como resultado da Campanha do Suez e da Guerra do Sinai, também em 1956, os judeus do Egito tiveram bens confiscados, sofreram restrições, sentiram-se inseguros e deixaram o país. Cerca de 70 mil judeus saíram do Egito, dos quais 55 mil imigraram para Israel, cinco mil para a França, entre quatro e cinco mil para o Brasil, dois mil para o Canadá, dois grants arrived in the second half of the 1950s, most originating in Egypt and Hungary. In smaller numbers, they also came from Israel, North African countries and from Poland. This immigration was a direct result of political events, unrelated among them, that affected the Jewish communities in Hungary and Egypt. In Hungary, in 1956, Soviet troops militarily suffocated a liberal reform movement underway in the country, which led to a process of political repression and closure. As a result of the Suez Campaign and the Sinai War, still in 1956, the Egyptian Jews had their properties confiscated, suffered restrictions, felt insecure and left the country. About 70,000 Jews left Egypt, out of which 55,000 emigrated to Israel, five thousand to France, between four and five thousand to Brazil, two thousand to Canada, two thousand to England, 500 to Australia, 250 to Venezuela and 250 to Argentina. Rua do Bom Retiro nos anos 50, com o detalhe dos trilhos do bonde. Rua do Bom Retiro in the ‘50s, with the detail of the streetcar tracks. pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 81 Welfare agencies evidently played a decisive role in the integration of these new immigrants. In Sao Paulo, Egyptian immigrants were welcomed by a reception structure that linked the Federação das Sociedades Israelitas (with its Serviço Social Social Serviço Social de Imigrantes do Conselho de Assistência Social, founded in 1955), to the United HIAS Service (herein HIAS, previously known as Hebrew Immigrant Aid Society, later affiliated with Joint) and local charities. HIAS was based in New York and was responsible for supporting and monitoring immigrants for up to one year after their arrival. Medical care was run at the Polyclínica Linath Hatzedek, while Ezra and Ofidas served immigrants one year after their arrival. In 1957, 879 families arrived here; in 1958, 857 families and, in 1959, 557 families, 25% of which coming from Israel. In 1957, 447 families came from Egypt (1,529 people), 233 from Hungary (522 people), 187 from Israel (447 people), 35 from Europe (100 people), 13 from North Africa (23 people). After arriving in Sao Paulo, they were temporarily housed in Colégio Liceu Pasteur, conceded by the French Consulate during the vacation period. Then they were housed at the Hospedaria dos Imigrantes, in Brás, Sao Paulo. Others who could afford to pay, stayed in boarding houses, and some were housed in homes of relatives or friends. The concept of Social Service and that of professional social workers graduated from college was introduced to the Welfare Societies in the Jewish community as from the 1950s, directly linked to the work of the Federação Israelita in Sao Paulo. In 1956, the Social Service Council in the Federação had professionalized its activities and encouraged young college students to study Social Work, funding scholarships and providing professional internships for social workers in Jewish organizations. In that same year, the Social Service Council in the Federação submitted a formal proposal to merge Ezra, Ofidas and Polyclínica. Social workers welcomed immigrants at the port of Santos, accompanied them to the Hospedaria dos Imigrantes, sought employment and housing, paid for medical care, cared for the children, and then left a scheduled interview on the Duty of the Social Service Department. The social, economic and cultural shock that Egyp- 82 mil para a Inglaterra, 500 para a Austrália, 250 para a Venezuela e 250 para a Argentina. As entidades assistenciais evidentemente tiveram papel decisivo na inserção destes novos imigrantes. Em São Paulo os imigrantes egípcios foram recebidos por uma estrutura de recepção que associou a Federação das Sociedades Israelitas (com seu Serviço Social de Imigrantes do Conselho de Assistência Social fundado em 1955), a United Hias Service (Hias, antes Hebrew Immigrant Aid Society, que depois se associou ao Joint) e entidades assistenciais locais. A Hias tinha sede em Nova York e se responsabilizava pelo sustento e acompanhamento por até um ano após a chegada dos imigrantes. O atendimento médico era feito na Policlínica Linath Hatzedek, enquanto Ezra e Ofidas atendiam os imigrantes um ano após a sua chegada. Em 1957, chegaram 879 famílias, em 1958 um total de 857 famílias e, em 1959, 557 famílias, das quais 25% oriundas de Israel. No ano de 1957, entraram 447 famílias do Egito (1.529 pessoas), 233 da Hungria (522 pessoas), 187 de Israel (447 pessoas), 35 da Europa (100 pessoas), 13 do Norte da África (23 pessoas). Ao chegar a São Paulo, foram alojadas provisoriamente no colégio Liceu Pasteur, cedido pelo consulado francês durante o período de férias. Em seguida, passaram a ser alojados na Hospedaria dos Imigrantes, no Brás, em São Paulo. Outros, que tinham recursos para pagar, ficaram em pensões, e alguns eram alojados em casas de parentes ou amigos. O conceito de trabalho de Serviço Social e o trabalho profissional de assistentes sociais formados em faculdades começaram a ser introduzidos nas entidades assistenciais da comunidade judaica a partir da década de 1950, ligados diretamente ao trabalho da Federação Israelita de São Paulo. Em 1956, o Conselho de Assistência Social da Federação profissionalizou suas atividades e passou a incentivar que jovens cursassem a faculdade de Serviço Social, financiando bolsas de estudo e oferecendo estágios profissionais aos assistentes sociais nas entidades judaicas. No mesmo ano, o Conselho de Assistência Social da Federação apresentou a proposta formal de unificação dos serviços da Ezra, Ofidas e Policlínica. Os assistentes sociais recebiam os imigrantes no porto de Santos, acompanhavam-nos até a Hospedaria dos Imigrantes, pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s Hotel Avenida Palace em Santos, frequentado pela comunidade judaica, em tempos de lazer e descontração no pós-guerra. Hotel Avenida Palace in Santos, frequented by the Jewish community in times of leisure and relaxation after the war. iniciavam um trabalho de buscar emprego e moradia, prestavam assistência médica, cuidavam das crianças e, em seguida, deixavam marcada uma entrevista para o Plantão de Assistência Social. O choque cultural, econômico e social de imigrantes refugiados do Egito que, de forma brusca e repentina, chegaram ao Brasil, desdobrou-se em inúmeras dificuldades que tiveram de ser assistidas. Não foi fácil para os imigrantes adaptarem-se a valores e costumes objetivamente muito diferentes, como, por exemplo, a necessidade de a mulher trabalhar, o que implicava muitas vezes em uma completa reestruturação familiar, colocando em cheque os lugares tradicionais de homem e mulher, de pai e mãe. Conta o assistente social João Baptista Adduci (no livro Unibes 85 anos), se referindo aos imigrantes húngaros e egípcios, que “o grande problema para os imigrantes era aprender a língua e obter um emprego. Naquele período, o emprego não era muito difícil para pessoas com habilitações. Mas precisava falar a língua, ter visto de permanência, diplomas e revalidação. Muitas pessoas tinham aquele sonho de trazer o parente que estava no mundo comunista ou sofrendo perseguições, alguns se chocaram quando os imigrantes chegaram, porque tinham costumes muito diferentes”. tian immigrant refugees underwent when, suddenly and abruptly, they arrived in Brazil, unfolded into several difficulties that had to be addressed. It was not easy for immigrants to adapt to values and customs objectively very different, such as the need for women to work, which often entailed a complete restructuring of the family, challenging the traditional roles of men and women, fathers and mothers. Referring to the Egyptian and Hungarian immigrants, social assistant João Baptista Adduci once said: “the great problem for the immigrants was to learn the language and get a job. At that time, jobs were not too difficult for skilled people. One needed to speak the language, though, have a permanent visa, diplomas and endorsement. Many people had that dream of bringing a relative who was in the communist world or being persecuted; some were taken aback when the immigrants arrived because they had very different customs”. Adduci, who had graduated in Social Service at the Pontifical Catholic University in Sao Paulo (PUC) and began working at Federação Israelita in 1959, by assembling a service of “centralizing the hospital stay” at the Polyclínica, ex- pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 83 Golda Meir, primeira-ministra de Israel. Golda Meir, prime minister of Israel. plained how the invitation to assume the head role of Serviço Social de Imigrantes da Federação emerged: “All social workers were called to help. The immigrants arrived and we had to work. I was already known at the Polyclínica, Ezra, and Ofidas. Between 1959 and 1966, I just cared for that. I traveled; I learned about and received instructions from HIAS New York and traveled to Italy to do the pre-immigration. There were two international organizations that cared for the immigrants: United HIAS Service and Joint. Joint did all the political work with countries to persuade them to let the Jews leave, in order to make it feasible for those Jews being persecuted or oppressed to emigrate. While Joint succeeded, HIAS developed an integration work in countries where these immigrants would be received. If a person was in Romania and wanted to come to Brazil he/she could, as long as it was for family reunion sake. I would then look for and talk with his family here, verify that the family had the conditions to receive these immigrants. If they could afford it, I just maintained control, but if they could not afford it, we fully helped them: rented apartments, furnished them, welcomed the family in Santos, brought them to Sao Paulo and followed them for a few months, until these immigrants were part of the job market. HIAS paid for and helped with everything: Portuguese teachers, endorsement of university degrees, volunteers teaching them how to shop in markets and warehouses. It was an adaptation service for refugee immigrants”. 84 Adduci, que estudou Serviço Social na puc de São Paulo e começou a trabalhar na Federação Israelita em 1959 montando um serviço de “centralização de internação hospitalar” na Policlínica, conta como surgiu o convite para assumir o cargo de chefe do Serviço Social de Imigrantes da Federação: “Todos os assistentes sociais foram chamados para ajudar. Os imigrantes estavam chegando e a gente tinha que trabalhar. Eu já era conhecido na Policlínica, na Ezra e na Ofidas. Entre 1959 e 1966, fiquei só cuidando disso. Eu viajei, fui conhecer e receber instruções da Hias de Nova York e viajei para a Itália para fazer a pré-imigração. Existiam duas pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s entidades internacionais que cuidavam dos imigrantes: United Hias Service e Joint. O Joint fazia todo o trabalho político com os países para convencê-los a deixar os judeus sair, para tornar possível a emigração desses judeus que estavam oprimidos ou sendo perseguidos. Se o Joint lograva êxito, a Hias fazia o trabalho de integração destes imigrantes nos países onde seriam recebidos. Se um indivíduo estava na Romênia e queria vir para o Brasil podia, desde que fosse para união de família. Então eu ia procurar e falar com a família dele aqui, verificar se a família tinha condição de receber estes imigrantes – se eles tinham condições, eu só mantinha o controle, mas se eles não tinham condições, ajudávamos integralmente: alugava-se um apartamento, mobiliava-se, íamos receber esta família em Santos, trazíamos para São Paulo e acompanhávamos por alguns meses, até que estes imigrantes se inserissem no mercado de trabalho. A Hias custeava e ajudava em tudo: professores de português, revalidação de diplomas universitários, as voluntárias ensinavam a fazer compras nas quitandas e armazéns. Era um serviço de adaptação do imigrante refugiado”. A continuidade do trabalho cotidiano Ofidas, Policlínica e Ezra prosseguiam também no atendimento cotidiano. Os departamentos da Ofidas, no final dos anos 1950, eram: Assistência Social, Orientação Profissional, Higiene Infantil, Gabinete Dentário, Lar da Criança, Peah-Distribuição de Roupas e Biblioteca Juvenil. A maior parte das assistências prestadas era de hospitalização para partos e operações ginecológicas, auxílio financeiro para mulheres idosas, orientação para famílias desestruturadas, orientação educacional e profissional e outros, tais como encaminhamento das crianças para colônias de férias. O Lar da Criança da Ofidas mantinha 75 crianças em idade pré-escolar e regime de semi-internato. O Departamento de Orientação Educacional Profissional possibilitava opções de estudo e fornecia orientação para a escolha da profissão e do emprego. O Departamento de Higiene Infantil, que substituiu a antiga Gota de Leite, cuidava de bebês até os três anos de idade, com atendimento médico, aplicações de raios ultravioleta e distribuição de sabonete, talco, leite em pó e auxílio financeiro para alimentação The continuity of daily work Ofidas, Polyclínica, and Ezra also went on with daily care. The departments in Ofidas, in late 1950s, were: Social Work, Vocational Guidance, Child Hygiene, Dental Practice, Lar da Criança, Peah-Clothing Distribution, and Juvenile Library. Most of the given assistance was hospital stays provided for childbirth and gynecological surgeries, financial aid for elderly women, orientation for dysfunctional families, educational and vocational guidance, and others, such as summer camp referrals for children. The Lar da Criança in Ofidas housed 75 preschool children under a semi-boarding system. The Departamento de Orientação Educacional profissional offered study options and provided guidance for the choice of profession and employment. The Departamento de Higiene Infantil, which replaced the old Gota de Leite, provided infant care until the age of three, including medical care, application of ultraviolet rays, and distribution of soap, talcum powder, milk powder and financial support for adequate food. It also promoted “hygiene education” and knowledge of childcare for mothers aimed at reducing infant mortality rates. Besides clothing distribution, the Peah Department also distributed furniture, kitchen utensils, dishware, tableware and bed linen. In the first half of 1954, the Polyclínica discussed whether they should bring forth the idea of refurbishing their facility, building a hospital or building a new clinic in their new building in Bom Retiro. One director proposed the foundation of a hospital due to the difficulty of thoroughly helping the ill, since there were many cases of hospitalization and surgeries. Another one noted that there was a donation offer of Ema Klabin left in the legacy of Hessel Klabin to construct a new building. The donation demanded conditions, though, that the medical board of Polyclínica did not accept. A third director then wished “that, in the future, this legacy should be approved by the yishuv. Salo Wissman affirmed “that since the property had been donated by the late Dr. Isaac Tabacow, the hospital should mean the continuity in Linath Hatzedek and should invest the money into a hospital together with the cooperation of the people responsible for the yishuv.” pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 85 Diretoria da Ofidas, em uma década de imigração egípcia e húngara para São Paulo. The Ofidas Board of Directors, in a decade of Egyptian and Hungarian immigration to Sao Paulo. Between the late 1950s and early 1960s there was an agreement for hospital stays with the Casa de Saúde Santa Inês, which provided four beds monthly. In 1961, 125 cases were referred to hospitals, 27 of which went to Santa Casa, 22 to private hospitals, and 20 to Hospital A.C. Camargo. In the 1950s, the number of appointments at the Polyclínica was very expressive. An average of 50 people per day were taken in, from medical appointments, to distribution of medicines and laboratory tests, radiography and radiotherapy. The specialties offered at the Polyclínica were: Medical Clinic, Gynecology, Surgery, Otolaryngology, Pediatrics, Orthopedics, in addition to other procedures offered at medical offices. Minor surgeries, such as extraction of nails, warts, superficial cysts, sutures for cuts, and others, were performed at the seat of the society. The Polyclínica worked in a range of social care that underwent major transformations from the 1940s onwards, with the construction of private hospitals, the dissemination of private practices and specialist doctors, and a change in the profile and quality of care in public health services. The organization always struggled with the cost of medicines, doctor’s appointments, procedures performed at their own facility and, especially, with the difficulty in paying hospital admissions and surgeries in operation theaters. Until the 1960s, the appointments in public or charitable institutions were probably the only form of treatment for a substantial portion of 86 adequada; também promovia “educação higiênica” e conhecimentos de puericultura para as mães com o objetivo de diminuir os índices de mortalidade infantil. O Departamento Peah, além de distribuir roupas, distribuía móveis, utensílios de cozinha, louças e roupas de cama e mesa. No primeiro semestre de 1954, a Policlínica discutiu se deveria levar à frente a ideia de reformar seu prédio, construir um hospital ou se deveria construir um novo ambulatório, em novo prédio no Bom Retiro. Um diretor propôs a fundação de um hospital pela dificuldade de auxiliar completamente os doentes, já que havia muitos casos de internação e de cirurgias. Um diretor lembrou que havia uma oferta de doação de Ema Klabin deixada ao legado de Hessel Klabin para a construção de um prédio novo. Mas a doação tinha condições, que o conselho médico da Policlínica não aceitou. Um diretor fez então “votos que futuramente seja este legado aproveitado pelo ishuv”. Salo Wissman afirmou “que tendo sido o imóvel doado pelo falecido dr. Isaac Tabacow, o hospital será a continuidade em linath hatzedek e aplicará o dinheiro para um hospital conjuntamente com a colaboração de pessoas responsáveis pelo ishuv”. Entre o final dos anos 1950 e o início dos anos 1960 havia um convênio para internação com a Casa de Saúde Santa Inês, que fornecia quatro leitos mensalmente. No ano de 1961, 125 casos foram encaminhados para hospitais, sendo 27 para a Santa Casa, pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s Inauguração da nova sede da Ofidas. The inauguration of Ofidas’ new headquarters. 22 para hospitais particulares e 20 para o Hospital A. C. Camargo. Nos anos 1950 os números de atendimento da Policlínica eram muito expressivos. Uma média de 50 pessoas era recebida por dia, entre consultas médicas, distribuição de medicamentos e exames de laboratório, radiografias e radioterapia. As especialidades oferecidas na própria Policlínica eram: clínica médica, ginecologia, cirurgia, otorrinolaringologia, pediatria, ortopedia, além das demais especialidades oferecidas em consultórios médicos. Eram realizadas na própria sede da entidade cirurgias consideradas pequenas como: exerese de unhas, verrugas, quistos superficiais, pontos em cortes e outras. A Policlínica trabalhava em uma faixa de assistência social que passou por importantes transformações da década de 1940 em diante, com a construção de hospitais privados, a difusão dos consultórios particulares e dos médicos especialistas e uma mudança no perfil e na qualidade do atendimento dos serviços públicos de saúde. A entidade debateu-se sempre com o custo dos remédios, das consultas dos médicos, dos procedimentos realizados em sua própria sede e principalmente com a dificuldade de pagar internações e cirurgias hospitalares. Até a década de 1960, o atendimento na rede pública ou em entidades beneficentes era provavelmente a única forma de tratamento para uma expressiva parcela da comunidade que tinha na Policlínica uma referência necessária, digna e eficiente de atendimento. the community who had the Polyclínica as a necessary, dignified and efficient service reference. When, in 1959, the social worker João Batista Adduci went to work at the Polyclínica as an employee of the Federação Israelita, to assemble a service of “hospital centralization”, he aimed at setting up a service to the community in the area of hospitalization: “Polyclínica basically worked in outpatient clinics carrying out: exams, appointments, and minor surgeries. In addition to organizing the hospital centralization, I ended up systematizing an entry selection for the Polyclínica. As the Polyclínica was in Bom Retiro and most community doctors lived or met patients in Bom Retiro, contact was easy. We hired doctors for prognosis and treatment; surgeries remained the problem. When I joined the Polyclínica, I had to streamline the service, by determining which doctors should work in outpatient clinics and which hospitals should accept patients for hospitalization. At the time, we chose the hospitals Santa Catarina, Oswaldo Cruz, Santa Casa, Hospital das Clínicas and Santa Paula. In former times, there was not the pressure that exists today in the health field. They worked with surgery cases, diagnosis explanation, and referral of psychiatric cases. As psychiatric hospitals, we designated Casa de Saúde Tremembé and Hospital Vera Cruz. Another job I performed at that time was releasing people who had been abandoned in Hospital Juqueri in Franco da Rocha. There was a government movement towards pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 87 Assistentes sociais da Ofidas na porta da creche à Rua Salvador Leme. Ofidas social workers in the doorway of the nursery on Rua Salvador Leme. vacating Juqueri. I looked for and released people, taking them to nursing homes or other psychiatric hospitals. At that time, I had outlined the model that still remains more or less the same: rest homes, psychiatric hospitals and hospitals for admission.” Quando em 1959 o assistente social João Batista Adduci foi trabalhar na Policlínica, como funcionário da Federação Israelita, para montar um serviço de “centralização hospitalar”, o objetivo era montar um atendimento para a comunidade na área de hospitalização: “O trabalho da Policlínica era basicamente ambulatorial: exames, consultas e pequenas cirurgias. Além de organizar a centralização hospitalar, acabei fazendo a seleção de entrada da Policlínica. Como a Policlínica estava no Bom Retiro e a maioria dos médicos da coletividade moravam ou atendiam no Bom Retiro, o contato era fácil. Nós tínhamos médicos para diagnóstico e tratamento, o problema eram as cirurgias. Quando eu vim, sistematizei o atendimento: que médicos atendiam no ambulatório e que hospitais aceitavam os pacientes para hospitalização. Na época, elegemos os hospitais Santa Catarina, Oswaldo Cruz, Santa Casa, Hospital das Clínicas e Santa Paula. Eram outros tempos, não havia a pressão que existe hoje na área da saúde. Trabalhava com casos de cirurgia e esclarecimento de diagnóstico e com encaminhamento de casos psiquiátricos. Como hospitais psiquiátricos, nós tínhamos a Casa de Saúde do Tremembé e o Hospital Vera Cruz. Um outro trabalho que eu fiz nesta época foi o de desinternar pessoas que estavam abandonadas em Franco da Rocha, no Hospital Juqueri. Havia um movimento governamental de esvaziamento do Juqueri, eu fui procurar e desinternei pessoas levando-as para casas de repouso ou para outros hospitais psiquiátricos. Eu tinha naquele tempo esboçado o modelo que até hoje continua mais ou menos igual: casas de repouso, hospitais psiquiátricos e hospitais para internação”. Notas 1. Americano, Jorge. São Paulo naquele tempo 1895-1915. São Paulo, Narrativa Um/Carrenho/ Carbono 14, 2004, p. 27. 88 pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s 6 O Serviço Social Unificado reorganiza o atendimento assistencial nos anos 1960 The Unified Social Services reorganizes the social assistance in the 1960s pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 89 p. 89 O Parque do Ibirapuera e o novo conjunto viário, marco do crescimento da cidade nos anos 1950 e 1960. acima Inauguração da nova sede da Ezra no Bom Retiro em 1963. p. 89 Ibirapuera Park and road interchange, marking the city’s growth in the ’50s and ’60s. above The inauguration of the new Ezra headquarters in Bom Retiro in 1963. 90 pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s N a década de 1960 Ofidas, Policlínica e Ezra inauguraram sedes novas e modernas no Bom Retiro, evidenciando um processo de renovação não apenas dos prédios, mas dos conceitos e serviços de assistência social. Na mesma década foi organizado o Serviço Social Unificado (ssu) entre as três entidades e outras da comunidade judaica em São Paulo, centralizando e padronizando o trabalho. Estes processos foram consequência da valorização dos assistentes sociais e da profissionalização do atendimento aos imigrantes e aos assistidos após o fim da Segunda Guerra Mundial e na década de 1950, com as ondas imigratórias do Egito e da Hungria. Pode-se afirmar que, embora, tenham havido ao longo da história inúmeras reuniões sobre unificar as entidades, foi nesta década que se gestou efetivamente a fusão que levaria à criação da Unibes em 1976. A Ofidas inaugurou a nova sede, na Rua Rodolfo Miranda, em 1960. A Policlínica, que estava instalada em um casarão à Rua Ribeiro de Lima, esquina com a Rua Prates, inaugurou em 1962 sua nova sede na Rua Rodolfo Miranda, intencionalmente vizinha da Ofidas. As duas sedes seriam depois fisicamente unidas com a fundação da Unibes. A Ezra, por sua vez, inaugurou sua sede nova, à Rua Guarany, em novembro de 1963. I n the 1960s Ofidas, Polyclínica and Ezra inaugurated modern new headquarters in Bom Retiro, not only showing a process of renewal of the buildings, but also of the concepts and services of social welfare. In the same decade, the three above-mentioned societies, along with others in the Jewish community in Sao Paulo, merged into the Unified Social Services (herein, SSU), thus centralizing and standardizing their work. These processes were a result of the appreciation for social workers and the professionalization of the care for immigrants and for those assisted after the end of World War II and the 1950s, which brought waves of immigrants from Egypt and Hungary. Although there had been countless meetings on the fusion of the societies throughout their history, one can state that it was in this decade that the merger that would create Unibes in 1976 was actually nurtured. Ofidas inaugurated its new headquarters, on Rua Rodolfo Miranda, in 1960. The Polyclínica, which was housed in a mansion on Rua Ribeiro de Lima, on the corner of Rua Prates, opened its new headquarters on Rua Rodolfo Miranda in 1962, deliberately neighboring Ofidas. The two locations were later physically joined with the founding of Unibes. Ezra, in turn, opened pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 91 its new headquarters, on Rua Guarany in November 1963. By those years, the community was already fully established and could integrate the immigrants that arrived in the 1950s. Israel started its second decade of existence and, with the Six Days War in 1967, Jerusalem was unified as the country’s capital. Also in the 1960s, the migration of part of the Jewish community began from the district of Bom Retiro to Higienópolis. There, in 1968, the local base of Colégio Renascença was inaugurated (this school also earned a new building in 1966 in Bom Retiro). More than a mere geographic shift in the city, that represented a social change. Higienópolis meant a new economic level achieved by sectors of the community whom moved into a neighborhood that had a different status in the city–vertical with modern buildings–one housing the ascending middle class and the old barons of coffee. New facilities on Rua Rodolfo Miranda Polyclínica’s new five-story building on Rua Rodolfo Miranda had ample facilities and sustained a significant range of activities, with a pharmacy, two Social Service rooms, nursing room, physical therapy, four medical offices, a practice for pediatric dentistry and dental X-ray service, a clinical analysis laboratory and rooms for gynecological appointments, an amphitheater and a library. In addition to the appointments of the doctors who held practices at Albert Einstein Hospital, the Polyclínica base offered GP, pediatric and gynecological appointments. The pharmacy worked mostly with free samples from Polyclínica’s doctors, from other doctors who teamed up, and with purchased medicine when necessary. Physiotherapy sessions were performed by a nurse in the headquarters, which was equipped with infrared rays, a Bier oven, ultraviolet rays and short waves. In 1960, 2,450 appointments were made and 1,789 laboratory tests were carried out; in 1961, 2,726 appointments and 2,243 laboratory tests. In December 1961, at a meeting of the Social Service Council in the Federação with the participation of the welfare organizations, each institution committed itself to contribute monthly to a special assistance fund for hospital admis- 92 Naqueles anos a comunidade já estava plenamente estabelecida e havia integrado os imigrantes chegados nos anos 1950. Israel entraria em sua segunda década de existência e em 1967, com a Guerra dos Seis Dias, Jerusalém seria unificada como capital daquele país. Foi na década de 1960 também que teve início a migração de parte da comunidade judaica do bairro do Bom Retiro para Higienópolis, onde em 1968 seria inaugurada a sede local do colégio Renascença (que em 1966 ganhara novo prédio também no Bom Retiro). Mais do que mero deslocamento geográfico na cidade, representou uma mudança social, Higienópolis significando um novo patamar econômico atingido por setores da comunidade que se mudavam para um bairro que tinha outro status na cidade, residência e moradia das classes médias ascendentes e dos antigos barões do café, e que se verticalizou com modernos edifícios. Novas instalações na Rua Rodolfo Miranda O novo prédio de cinco andares da Policlínica na Rua Rodolfo Miranda tinha amplas instalações e mantinha significativa gama de atividades, com farmácia, duas salas de Serviço Social, sala de enfermagem, de fisioterapia, quatro consultórios, sala para o serviço de odontopediatria e serviço odontológico com raio X, laboratório de análises clínicas e salas para ginecologia, anfiteatro e biblioteca. Além das consultas dos médicos pertencentes ao quadro clínico do Hospital Albert Einstein, havia na sede da Policlínica consultas de clínica geral, de pediatria e de ginecologia. A farmácia funcionava principalmente com amostras grátis de médicos da própria entidade, de outros médicos que colaboravam e, quando necessário, remédios comprados. As sessões de fisioterapia eram realizadas por uma enfermeira na própria sede, que dispunha de infravermelho, forno de Bier, ultravioleta e ondas curtas. Em 1960 foram realizadas 2.450 consultas e 1.789 exames de laboratório e, em 1961, 2.726 consultas e 2.243 exames de laboratório. Em dezembro de 1961, em reunião do Conselho de Assistência Social na Federação com a participação das entidades assistenciais, ficou resolvido que cada instituição contribuiria mensalmen- pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s No Bom Retiro, manifestação pública da comunidade judaica nos anos 1970. In Bom Retiro, a public manifestation of the Jewish Community in the ’70s. te para um fundo especial de assistência a internações hospitalares e cirurgias. A questão do custo das internações hospitalares foi sempre um tema importante e as entidades tiveram que buscar diferentes saídas e convênios com hospitais ao longo dos anos. Em junho de 1962, a Federação Israelita tentou centralizar os serviços hospitalares, até criar um Departamento de Assistência Hospitalar, cujo financiamento seria da Federação e da Sociedade Cemitério Israelita de São Paulo. sions and surgeries. The cost of hospitalizations had always been an important issue and the societies compromised to find different alternatives and agreements with hospitals over the years. In June 1962, the Federação Israelita tried to centralize hospital services and create a Department for Hospital Care, to be financed by the Federação itself and the Sociedade Cemitério Israelita de Sao Paulo (herein, Chevrah Kadishah). O Serviço Social Unificado Resuming more effective partnership talks among the aid organizations in 1968, the Federação Israelita invited Ezra and other societies to discuss the “centralized care” through Polyclínica, from which those assisted were referred to various hospitals. Following this, the Chevrah Kadishah decided to assist the Federação concerning hospital care services. Subsequently, the Federação hosted a meeting to discuss the association of the several social service departments in the different agencies. The initial proposal was that while Ezra and Ofidas together analyzed the aid required, the Polyclínica took care of cases that demanded hospitalization. The discussion progressed a lot that year and, in November 1968, the participating societies defined that, initially, there would be three joint but distinct sectors: the hospital, with Hospital Albert Einstein and Polyclínica; the specif- Retomando as conversas de parceria mais efetiva entre as entidades, em 1968 a Federação Israelita convidou a Ezra e outras entidades para discutir a “centralização hospitalar” por meio da Policlínica, de onde os assistidos eram encaminhados a vários hospitais. Em seguida, a Sociedade Cemitério Israelita de São Paulo decidiu prestar auxílio à Federação para os serviços de assistência hospitalar e, na sequência, a Federação sediou uma reunião para tratar da unificação dos serviços sociais das várias entidades. A proposta inicial era que Ezra e Ofidas analisassem em conjunto os auxílios, e a Policlínica cuidaria dos casos que exigissem internação. A discussão avançou muito naquele ano e, em novembro de 1968, as entidades participantes definiram que inicialmente haveria The Unified Social Services pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 93 ic services, with CIAM, Lar dos Velhos, Oficina Abrigada do Trabalho, Lar da Criança by CIP, Ofidas, and Ezra; and a third for general immigrant assistance. The creation of SSU in April 1969, which standardized and unified the treatment of social welfare societies and several others that provided this service, materialized discussions initiated in the early 1950s, with the onset of Social Service and social workers for the community. Undergoing setbacks and advances, this path led to the merger of societies. The SSU assumed sectors of structured Social Service in the diverse organizations that worked cooperatively. Such a nature of work allowed for a broad view of the community needs, discussion of cases, and the centralization of expenses. Ofidas and Ezra were the pillars of the SSU, which integrated the Polyclínica, the Congregação Israelita Paulista and the Mekhor Haim Synagogue in 1969. The SSU started operating on the headquarters of Ofidas and the Fundo Unido, a joint treasury which financed the services on the headquarters of Ezra. Ofidas and Ezra were the societies that financed most resources and those taking most cases. Also later participating in SSU were Sinagoga Israelita Paulista (Hungarian), Associação Israelita Brasil-Bessarábia, Congregação Sefaradi Paulista, Sinagoga Israelita-Brasileira, Templo IsraelitaBrasileiro Ohel Yaacov, Sociedade Beneficente Brasil-Bessarábia and Sociedade Cemitério Israelita de Sao Paulo. The SSU held a central facility, two social workers on duty, two social workers to follow the cases and weekly technical meetings to discuss the cases. Social workers, two representatives of Ofidas, one of Ezra, and one of each of the other societies participated in these meetings. Among the issues highlighted by the commission were the centralization of care, the “social treatment straight by social workers, professionals, thus avoiding the client contact with directors of social work”, in addition to the development of “a practical and technical work, not only aimed at helping clients financially but also at developing the educational work of social promotion through each one’s capability.” SSU served 3,665 cases throughout the 1970. In 1971, 4,458 cases were treated. Education was also a demand for those societies. In 1970, due 94 três setores conjuntos distintos: o hospitalar, com Hospital Albert Einstein e Policlínica; o de serviços específicos, com Ciam, Lar dos Velhos, Oficina Abrigada do Trabalho, Lar da Criança da cip, Ofidas e Ezra; e um terceiro, para assistência geral aos imigrantes. A criação do Serviço Social Unificado (ssu) em abril de 1969, que padronizou e unificou o atendimento das entidades assistenciais e de vários outros que prestavam este serviço, concretizou discussões iniciadas no começo dos anos 1950, com o início do trabalho de Serviço Social e dos assistentes sociais na comunidade. Foi este percurso, com avanços e recuos, que levou ao caminho da unificação das entidades. O ssu pressupunha setores de Serviço Social organizados nas diversas entidades que trabalhariam de forma cooperada. Esta modalidade de trabalho permitia uma ampla visão das necessidades da comunidade, a discussão dos casos e a centralização dos gastos. Ofidas e Ezra foram os pilares do Serviço Social Unificado, que incluiu a Policlínica, a Congregação Israelita Paulista e a sinagoga Mekhor Haim em 1969. O ssu passou a funcionar na sede da Ofidas e o Fundo Unido, uma caixa comum que financiava o atendimento, na sede da Ezra. Ofidas e Ezra eram as entidades que financiavam a maior parte dos recursos e as que atendiam a maior parte dos casos. Também participaram depois do ssu: Sinagoga Israelita Paulista (húngara), Associação Israelita Brasil-Bessarábia, Congregação Sefaradi Paulista, Sinagoga Israelita-Brasileira, Templo Israelita-Brasileiro Ohel Yaacov, Sociedade Beneficente Brasil-Bessarábia e Sociedade Cemitério Israelita de São Paulo. O ssu mantinha um fichário central, dois assistentes sociais no plantão de atendimento, dois assistentes sociais para acompanhar o seguimento dos casos e reuniões técnicas de discussão dos casos uma vez por semana, com a participação dos assistentes sociais, dois representantes da Ofidas, um da Ezra e um de cada uma das outras entidades participantes. Entre os pontos positivos analisados pela comissão estava a centralização do atendimento e o “tratamento social direto por assistentes sociais, profissionais, eliminando-se o contato dos clientes com diretores de obras sociais”, e também uma “objetivação técnica de trabalho, visando dar ao cliente não só o auxílio econômico, mas desenvolver o trabalho educativo de promoção social através do potencial de cada um”. pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s Visita a São Paulo do primeiro-ministro de Israel, David Ben-Gurion. Visit to Sao Paulo by Israel’s Prime Minister, David Ben-Gurion. No total do ano de 1970, o ssu atendeu 3.665 casos. Em 1971 foram atendidos 4.458 casos. Também a questão educacional era uma demanda para essas entidades. Em 1970, diante do número de pedidos de bolsas de estudo que chegavam à Ezra, esta decidiu sugerir ao ssu a criação de um fundo especial para bolsas de estudo na comunidade. Em março de 1971, um diretor da Ezra propôs a fusão de todas as escolas e a sua modernização. O projeto de um hospital psiquiátrico nos anos 1960 Na década de 1960, quando as três entidades estavam em suas sedes novas e se implantava a unificação dos serviços sociais, outros projetos foram cogitados. No início dos anos 1960, diretores to the high number of applications for scholarships delivered to Ezra, the institution suggested that SSU the create a special scholarship fund in the community. In March 1971, an Ezra director proposed the merger of all schools and their modernization. The psychiatric hospital project in the 1960s In the 1960s, while the three societies occupied their new locations and social services started merging, other projects were considered. In early 60s, Ezra directors commented on the need for a more organized care for psychiatric cases. Two different projects were evaluated: building a nursing and rehabilitation home for pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 95 chronically ill and constructing a psychiatric hospital. The two projects were often associated with the set-up of the new Ezra building on Rua Guarany, opened in late 1963. Other ideas were also debated. In May 1963, one director suggested that they sell the buildings that comprised the Sanatorium in Sao José dos Campos and that part of the funds was donated to Hospital Albert Einstein in order to construct an annex structure for Ezra. The difficulty in characterizing a profile of patients to be treated and the cost of hospitalization led to a lengthy discussion regarding the psychiatric hospital. They argued, for example, about the creation of an institute where they could plant a garden, raise backyard chickens and organize workshops for occupational therapy. The discussion continued throughout the 1960s. In 1963, Ofidas ceded part of a land plot to Ezra, but “once proven they lacked a Nursing Home for convalescent ladies in post-operative cases and others, Ofidas only ceded their land plot with the condition that Ezra build an extra wing devoted to this purpose within the construction it was performing.” In May 1965, the physician Manoel Hidal, in Hospital Albert Einstein, sent a letter to Ezra proposing the sale of the Sanatorium “to finance a pavilion at Hospital Albert Einstein”. Ezra welcomed the suggestion but replied they considered building either a Psychiatric Hospital or a Nursing Home instead of the Sanatorium. The discussion about the Psychiatric Hospital was more seriously discussed in May 1965, when Ezra’s board decided that the organization considered it necessary to create an “assistance service to psychopaths”. There were several attempts to invite psychiatrists to discuss the project, but the plan did not thrive. Ezra then invited several organizations, among them Lar dos Velhos, Ofidas, Polyclínica, Centro Israelita de Assistência ao Menor, Hospital Albert Einstein and Federação Israelita, to discuss these projects. These ideas were being discussed when, on May 31, 1966, the Ezra Sanatorium in Sao José dos Campos was deactivated by the society. To maintain itself, in 1950 and 1960, the Sanatorium had accepted patients in partnership with the Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado (IPASE). The difficulties this agreement involved, name- 96 da Ezra comentavam a necessidade de um atendimento mais organizado aos casos considerados psiquiátricos. Dois diferentes projetos foram avaliados: construir uma casa de repouso e de recuperação para doentes crônicos e erguer um hospital psiquiátrico. Muitas vezes os dois projetos eram associados enquanto se construía o novo prédio da Ezra na Rua Guarani, inaugurado no final de 1963. Outras ideias também eram debatidas. Em maio de 1963, um diretor sugeriu que se vendesse os edifícios que compunham o Sanatório em São José dos Campos e que parte dos recursos fosse doada ao Hospital Albert Einstein para construir um edifício da Ezra em anexo. A dificuldade de definir um perfil dos pacientes a serem atendidos e o custo de internação levaram a uma discussão mais longa em relação ao hospital psiquiátrico. Discutia-se, por exemplo, a criação de um instituto com horta, criação de galinhas e oficinas para terapêutica ocupacional. A discussão continuou ao longo dos anos 1960. Em 1963, a Ofidas cedeu parte de um terreno para a Ezra, mas “tendo sido comprovada a falta de uma Casa de Repouso para senhoras convalescentes em casos pós-operatórios e outros, a Ofidas cede sua parte no terreno mediante a possibilidade de, na construção que a Ezra realiza, faça uma ala destinada a este fim”. Em maio de 1965, o médico Manoel Hidal, do Hospital Albert Einstein, enviou uma carta à Ezra propondo a venda do Sanatório “para financiar um pavilhão no Hospital Albert Einstein”. A Ezra recebeu bem a sugestão, mas respondeu que considerava construir um hospital psiquiátrico ou uma nursing house no lugar do sanatório. A discussão sobre o hospital psiquiátrico ganhou um enquadre mais sério quando, em maio de 1965, a diretoria da Ezra decidiu que a entidade considerava necessário criar um “serviço de assistência aos psicopatas”. Em seguida, foram realizadas várias tentativas de se convidar médicos psiquiatras para discutir o projeto, mas o plano não foi para frente. A Ezra convidou, então, várias entidades, entre elas Lar dos Velhos, Ofidas, Policlínica, Centro Israelita de Assistência ao Menor, Hospital Albert Einstein e Federação Israelita para discutir esses projetos. Essas ideias estavam em discussão quando em 31 de maio de 1966 o sanatório da Ezra em São José dos Campos foi desativado pela entidade. Para manter-se nos anos 1950 e 1960, o pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s O trabalho das assistentes sociais foi decisivo para modernizar o Serviço Social. The efforts of social workers were key to modernizing the Social Service. sanatório havia aceitado doentes em convênio com o Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado (Ipase). As dificuldades com este convênio, o elevado custo de manutenção aliado à complexidade de administrar um sanatório fora da cidade de São Paulo, a diminuição no número de pacientes da comunidade internados, além de discussões, nos anos 1960, sobre não ser mais interessante manter um sanatório, levaram ao fechamento daquela obra que foi o orgulho da Ezra entre os anos 1930 e 1960. As discussões referentes a um novo projeto corriam quando, em 1968, a prefeitura de São José dos Campos decidiu desapropriar o terreno para construir um Paço Municipal e Centro Cívico. A desapropriação já estava sendo cogitada fazia meses e neste ínterim médicos da comunidade visitaram o sanatório para estudar a possibilidade de instalar o hospital psiquiátrico. A ideia é que os médicos apresentariam à Ezra uma proposta de arrendamento e ofereceriam 25 leitos gratuitos para a entidade. Em julho de 1968, a diretoria da Ezra decidiu adquirir um terreno em São Paulo para construir uma pequena casa de saúde ly the high cost of maintenance coupled with the complexity of managing a Sanatorium upstate, the decrease in the number of admissions of patients from the community, on top of the 1960s debates about no longer being interested in maintaining a Sanatorium, led to the closure of a work which had been Ezra’s pride between 1930 and 1960. Discussions regarding a new project continued when, in 1968, the City Hall in Sao José dos Campos decided to expropriate the land to build the Town Hall House and a Civic Center. While the expropriation was considered for months, community physicians visited the Sanatorium to study the feasibility of installing a Psychiatric Hospital in its place. These doctors would submit a proposal to lease it from Ezra and offer 25 free beds for the Society. In July 1968, the Ezra board decided to acquire land in Sao Paulo to build a Nursing Home and considered selling their property on Rua Bandeirantes. Upon receiving the first installment for the expropriation, Ezra acquired land in Taboão da Serra to build the Nursing Home for pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 97 the cases considered psychiatric. The proposal was to combine these cases with the patients that required intensive medical care. The Sanatorium was formally expropriated in August 1968. In August 1969, Ezra asked an engineer to draft the “Sanatorium for Psychopaths” on the plot acquired in Taboão da Serra. In 1971, while preparing the land, Ezra ran a meeting with representatives of the UN High Commissioner on this subject. The UN compromised to contribute with the support of refugees who were committed. The psychiatric hospital and nursing home project began to wane in 1973. Ezra thought of renting or selling half the land. In 1974, Lar dos Velhos asked to see the hospital project, but over the 1970s, the merger of Ezra, Polyclínica, and Ofidas engaged in more effective conversations and other priorities were determined. At the Polyclínica headquarters, the beginning of Oficina Abrigada de Trabalho (OAT) The Oficina Abrigada de Trabalho(OAT) began its activities in 1966 inside the building of Polyclínica. According to the report outlined by social worker João Baptista Adduci, then working at HIAS in 1966 with the absorption of immigrants, his team and he found that there was significant immigration of older people and there was no longer an association in Sao Paulo to absorb the elderly who wanted to work during the day, to have a job and, if possible, also a source of income, which differed essentially from a nursing home for older people. The OAT was later taken over by the Liga Feminina Israelita. The 1960s were, therefore, not only a time of hard work, but also intense and endless discussions about models of societies and social care, about what proved the vitality of the societies, and constantly seeking institutional alternatives and techniques to better serve the community. 98 e pensou em vender um imóvel na Rua Bandeirantes. Ao receber a primeira parcela da desapropriação, a Ezra adquiriu um terreno em Taboão da Serra para construir a casa de saúde para internar os casos considerados psiquiátricos. Assim, a proposta era combinar estes casos e pacientes que requeriam um cuidado médico intensivo. O sanatório foi desapropriado formalmente em agosto de 1968. Em agosto de 1969, a Ezra convidou um engenheiro para projetar o “sanatório para psicopatas” no terreno em Taboão da Serra e, enquanto preparava o terreno, manteve, em 1971, reunião com representantes do Alto Comissariado da onu sobre este tema. A onu poderia contribuir para o sustento de refugiados que fossem internados. O projeto do hospital psiquiátrico e da casa de repouso começou a enfraquecer-se em 1973 e a Ezra pensou em alugar ou vender metade do terreno. Em 1974, o Lar dos Velhos pediria para ver o projeto do hospital, mas no decorrer dos anos 1970 o processo de fusão entre Ezra, Policlínica e Ofidas entrou em conversações mais efetivas e outras foram as prioridades definidas. Na sede da Policlínica, o início da Oficina Abrigada de Trabalho-OAT A Oficina Abrigada de Trabalho-oat teve início em 1966 no prédio da Policlínica. Segundo o relato do assistente social João Baptista Adduci, trabalhando para a Hias em 1966 na absorção de imigrantes, ele e sua equipe constataram que havia uma significativa imigração de pessoas mais idosas e não existia em São Paulo uma entidade para absorver pessoas idosas que quisessem trabalhar durante o dia, ter uma ocupação e, se possível, também uma fonte de renda, o que era diferente de um asilo para pessoas mais velhas. A Oficina depois foi assumida pela Liga Feminina Israelita. Os anos 1960 foram, portanto, uma época não apenas de muito trabalho, mas de densas e incessantes discussões sobre modelos de entidades e de atendimento, evidência da vitalidade das entidades, que buscavam constantemente alternativas institucionais e técnicas para melhor atender à comunidade. pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s 7 A criação da Unibes em 1976: uma trajetória de sucesso The creation of Unibes in 1976: A success story pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 99 p. 99 O Memorial do Imigrante, agora um museu na cidade de São Paulo que evoca a importância dos imigrantes na construção da cidade. acima A agitação urbana e o cosmopolitismo das galerias do centro de São Paulo, uma marca da modernidade na cidade. p. 99 The Immigrant Memorial, now a museum, in the city of Sao Paulo that evokes the importance of immigrants in building the city. above The urban bustle and cosmopolitanism of the galleries in downtown Sao Paulo, a mark of the modernity of the city. 100 pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s U ma martelada na parede, rompendo a divisão entre os prédios da Ofidas e da Policlínica, selou simbolicamente a união de Ofidas, Policlínica e Ezra para fundar a União Brasileiro-Israelita do Bem-Estar Social – Unibes – em 1976. Com isso, a trajetória iniciada em 1915 com a Sociedade Beneficente das Damas Israelitas atingia um novo patamar e iniciava uma nova história institucional. O evento havia sido preparado antes, claro, e a parede fora cortada, permanecendo apenas o reboco. A Unibes, seguindo a tradição das entidades que a formaram, se tornaria, desde então, sinônimo de assistência social e projetos sociais bem sucedidos na comunidade judaica paulista e na sociedade em geral. A fusão em 1976 significou, em parte, a incorporação da Ezra e da Policlínica pela Ofidas, que se tornou o núcleo e o modelo central de atendimento da nova entidade, da mesma forma que a Ofidas era uma continuidade do trabalho da Sociedade das Damas Israelitas (incluindo o Lar da Criança das Damas Israelitas e a Gota de Leite da B’nai B’rith). A Ofidas era a entidade que mais havia profissionalizado seus serviços e que mantinha uma estrutura de atendimento mais organizada. Pode-se dizer, igualmente, que, embora o estatuto da Unibes não mantivesse a cláusula que restringisse as diretorias a mulheres, foram diretoras que passaram a dirigir a nova entidade em 1976. A hammer hitting a wall, breaking the divide between the buildings of Ofidas and Polyclínica, symbolically sealed the union of Ofidas, Polyclínica and Ezra, thus founding the União Brasileiro-Israelita do BemEstar Social (herein, Unibes), in 1976. With this, the trajectory that began in 1915 with the Sociedade Beneficente das Damas Israelitas reached a new level and started a new institutional history. The event had been prepared before, of course, and the outside wall cut away, leaving only the plaster. Following the tradition of the societies which had shaped it, Unibes has since become a synonym to successful social welfare initiatives and projects, both within the Jewish community in Sao Paulo and in the greater society in general. The 1976 merger meant, in part, the incorporation of Ezra and Polyclínica into Ofidas, which became the core and service model of the new society, just as Ofidas was a continuation of the work of the Sociedade das Damas Israelitas (including the Lar da Criança by Damas Israelitas and Gota de Leite by B’nai B’rith). Ofidas was the society that had most professionalized its services and had the most organized service structure. One can also note that, since the statutes of Unibes did not maintain the clause that restricted women on the boards, there were women directors that began to lead the new society in 1976. pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 101 The discussion about the Unibes merger process effectively began in 1971. In September that year, after several meetings among the boards of Ofidas, Ezra, and Linath Hatzedek, it was decided that the three societies would join into a single institution. Since the early 1960s, however, the unification of the societies had been discussed in different combinations, which came to include other organizations such as the Hospital Israelita Albert Einstein (opened in 1971). The construction of the new buildings for Polyclínica and Ofidas, as neighbors on Rua Rodolfo Miranda, in the early 1960s, already suggested the societies and their work were moving towards the same path. The intensification of talks in early 1970s was a consequence of the implementation of SSU, which resulted in a more professional image of care via Social Services and the management of resources in this field. Based on the work of numerous social workers and on the creation of a unified structure for care, fundraising and expenditure, a twofold service proved inadequate. The Federação Israelita took part in this process, establishing a formal cooperation among agencies and providing for the education of many social workers, which clearly illustrated the benefits of working together. In addition, the charities, given their importance in community life, discussed a range of options in other areas, such as education and culture. It is worthwhile to consider at least some of them. In mid 1960s, the board of Ezra suggested a plan for a social and cultural congregation in Bom Retiro, which was to be a cultural pole in the neighborhood, in the synagogue on Rua Newton Prado. In another project, outlined in late 1968, the president of Ginásio Renascença proposed that Ezra and Renascença “pooled their efforts to build a university”, according to Ezra minutes on December 19, 1968. Shortly thereafter, in March 1969, at a meeting attended by the President of the Renascença and in which they discussed the school’s use of an Ezra building on Rua Bandeirantes, the school’s president proposed that “Ezra and Renascença commit to a project to endow Higienópolis with a school equipped for a large attendance, worthy of the community in Sao Paulo”. The Ezra board appreciated the proposal, but could not join such project, eventually brought to fruition 102 A discussão do processo de unificação da Unibes teve início efetivo em 1971. Em setembro daquele ano, após várias reuniões entre as diretorias da Ofidas, Ezra e Linath Hatzedek, ficou resolvido que as três entidades iriam se unir em uma única instituição. Desde o início dos anos 1960, no entanto, se discutia unificar as entidades em diferentes combinações, que chegaram a incluir outras organizações, como o Hospital Israelita Albert Einstein (inaugurado em 1971). A construção dos prédios novos da Policlínica e da Ofidas como vizinhos na Rua Rodolfo Miranda, no começo dos anos 1960, era uma indicação na direção de aproximar as entidades e seus trabalhos. A intensificação das conversações nos primeiros anos da década de 1970 era consequência da implantação do Serviço Social Unificado, que resultou em uma visão mais profissional do atendimento de Serviço Social e da gestão de recursos neste campo. A partir do trabalho de inúmeros assistentes sociais e da criação de uma estrutura unificada de atendimento e de arrecadação e gasto, a existência de duplicidade no atendimento se tornou inadequada. A Federação Israelita teve participação neste processo, estabelecendo uma cooperação formal entre entidades e propiciando a formação de muitos assistentes sociais, o que expôs claramente os benefícios do trabalho conjunto. Além disso, as entidades assistenciais, por sua importância na vida comunitária, discutiam uma série de opções em outras áreas, como a educacional e a cultural, e é interessante registrar pelo menos algumas delas. Na primeira metade dos anos 1960, a diretoria da Ezra aventou o projeto de uma congregação social e cultural do Bom Retiro, que seria um polo cultural no bairro, na sinagoga da Rua Newton Prado. Em outro projeto esboçado no final de 1968, o presidente do Ginásio Renascença propôs que Ezra e Renascença “congreguem os seus esforços para a construção de uma universidade”, segundo ata da Ezra de 19 de dezembro de 1968. Pouco depois, em março de 1969, em reunião que contou com a presença do presidente do Renascença e na qual se discutiu a utilização por parte da escola de um prédio da Ezra na Rua Bandeirantes, o presidente da escola propôs que a “Ezra e o Renascença se incorporem num projeto de dotar Higienópolis com um ginásio de grande capacidade, à altura da coletividade pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s Exibição de judô, em um conceito de atendimento integral a crianças e jovens. A judo exhibition, in a concept of comprehensive care to children and youth. em São Paulo”. A diretoria da Ezra agradeceu a proposta, mas não tinha como se associar a este projeto, que o Renascença acabaria realizando poucos anos depois, após abrir pré-escola e primário. Assembleias antes da unificação e início da Unibes A assembleia-geral da Sociedade Israelita de Beneficência Ezra realizou sua última reunião em 21 de setembro de 1976, na Rua Rodolfo Miranda, 293, na qual autorizou a doação de todos os seus bens em favor da Ofidas. No mesmo dia realizou-se uma assembleia-geral extraordinária da Ofidas, que sacramentou a união com a Ezra. A Sociedade Beneficente Linath Hatzedek realizou uma assembleia-geral em 13 de outubro de 1976, na sua sede, à Rua Rodolfo Miranda, 293. A Unibes iniciou formalmente suas atividades em janeiro de 1977 como uma continuidade prática do trabalho desenvolvido pela Ofidas. Uma das últimas decisões da Ofidas, possivelmente em 29 de dezembro de 1976, quando a fusão já estava consumada, a few years later, by Renascença itself, after opening a pre and a primary school. Assemblies before the unification and in the early days of Unibes The general assembly of the Sociedade Israelita de Beneficência Ezra held its last meeting on September 21, 1976, on Rua Rodolfo Miranda, no 293, at which the donation of all its’ goods in favor of Ofidas was authorized. On the same day, Ofidas’ board held an extraordinary assembly that preserved the union with Ezra. The Sociedade Beneficente Linath Hatzedek held a general assembly on October 13, 1976, on its headquarters, on Rua Rodolfo Miranda, no 293. The Unibes formally began it activities in January 1977, as a sensible continuation of the work process developed by Ofidas. Once the merger was official, one of the last decisions by Ofidas, possibly on December 29, 1976, was choosing a logo for Unibes, which had been designed by Isidoro Gomberg and selected out of three options. Antonieta Bergamo, became president of pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 103 Ofidas in 1975; followed by Raquel Bacaleinik, who ran the organization until 1978, consolidating the merger process. Unibes was designed to include the following departments: Food, Medical, Social Service, Public Relations, Social, Publicity, Departamento de Orientação Educacional Profissional (Vocacional Practice), Leisure, PreSchool, SpeechTherapy and Personal Hygiene. Unibes assumed SSU care services, which were also backed by the Chevrah Kadishah, CIP and Mekhor Haim Synagogue/Congregation. The social workers participated in diverse professional forums: in August 1978, for example, a social worker was sent to a preparatory meeting for the Week of Community Participation in Child Development, at the State Government House. Unibes was chosen to coordinate the Department dealing with Family and Community. In 1978, Unibes divided its services into sectors: Education, Health, Clothing Distribution, and Human Development. The Education sector included a day nursery for 115 toddlers, afterschool activities and recreation programs for 100 children and adolescents. The Health sector considered the Dental, Specialist Therapies (Speech and Psychology) and Medical Departments (for appointments, pharmacy, tests and hospitalizations). Maintained by a partnership with the Education Department of Federação Israelita, Psychological treatment at Unibes was available to Jewish schoolchildren in Sao Paulo. The Human Development sector sustained the Social Services; Grupo Libe cared for Peah – A Sector for Clothing Distribution (for 300 people), and a food distribution program serving 130 families. Gradually, Unibes stopped following Ezra’s program of food distribution and began studying the possibility of offering financial aid to cover these expenses. Also, it integrated the Department of Educational and Vocational Guidance into other departments. At the same time, they decided to provide medicine to the general population whenever available. The society organized a permanent bazaar in 1978, thanks to the surplus from Peah (clothing distribution), and started asking for donations of goods, because, in their words, “the demand is high and could be a source of income” for the society. Also in 1977, the social worker João Batista Adduci was hired as the supervisor of the SSU. One of the ideas discussed by the SSU was the 104 foi a escolha do símbolo da Unibes, desenhado por Isidoro Gomberg e selecionado entre três opções. Antonieta Bergamo, que havia assumido a presidência da Ofidas em 1975, sucedendo a Raquel Bacaleinik, dirigiu a entidade até 1978, consolidando o processo de fusão. A Unibes se estruturou com os seguintes departamentos: Alimentação, Médico, Serviço Social, Relações Públicas, Social, Divulgação, Orientação Profissional, Dentário, Recreação, Jardim Maternal, Fonoaudiologia e Higiene Pessoal. A Unibes assumiu o atendimento do Serviço Social Unificado, que era também financiado pela Sociedade Cemitério Israelita de São Paulo, pela Congregação Israelita Paulista e pela Congregação Mekhor Haim. Os assistentes sociais participavam de diversos fóruns profissionais: em agosto de 1978, por exemplo, uma assistente social foi a uma reunião preparatória da Semana de Participação Comunitária para o Desenvolvimento da Criança no Palácio do Governo do Estado de São Paulo; a Unibes fora escolhida para coordenar o setor de obras que tratavam da família e da comunidade. Em 1978, a entidade dividia seu atendimento em três setores: Educação, Saúde e Promoção Humana. O setor de Educação englobava a creche para 115 crianças e programas de complementação escolar e recreação para 100 crianças e jovens. A área de Saúde contemplava os departamentos Médico (consultas, farmácia, exames e internações hospitalares), Dentário e de Terapias Especializadas (fonoaudiologia e psicologia). O trabalho de psicologia, mantido por meio de um convênio com o departamento de Educação da Federação Israelita, atendia crianças das escolas judaicas de São Paulo. A área de Promoção Humana mantinha o Serviço Social, o Grupo Libe, o setor de distribuição de roupas Peah (para 300 pessoas) e um programa de distribuição de alimentos para 130 famílias. Aos poucos, a Unibes deixou de distribuir alimentos em espécie, um programa da Ezra, e passou a estudar a possibilidade de dar um auxílio financeiro para cobrir essas despesas, bem como integrou o Departamento de Orientação Educacional e Profissional em outros departamentos. Ao mesmo tempo, decidiu passar a fornecer remédios à população em geral quando houvesse disponibilidade. A entidade organizou o bazar perma- pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s O monumento às Bandeiras no Ibirapuera e o relógio da torre da Estação da Luz, dois dos ícones históricos mais apreciados da cidade, fundindo passado e presente. The Bandeiras Monument in Ibirapuera and the clock tower of Estação da Luz, two of the most appreciated historical icons of the city, merging past and present. nente em 1978, com o excedente do Peah – distribuição de roupa – e passou a solicitar a doação de mercadorias, pois, em suas palavras, “a procura é grande e pode ser uma fonte de renda” para a entidade. Também em 1977, o assistente social João Batista Adduci foi contratado como supervisor do Serviço Social Unificado. Uma das ideias que estava sendo discutida pelo Serviço Social era a criação de um Day Center ou Day Care, que seria um desdobramento do Grupo Libe, que se organizou como um departamento em 1977. No início dos anos 1980, a Unibes e outras entidades discutiram a possibilidade de construir o Day Center no bairro de Santa Cecília, com a perspectiva de atender 400 pessoas idosas. O Grupo Libe – cujo nome é em homenagem à assistente social Libe Paz, que o fundou – tem sido uma referência importante no trabalho com a terceira idade. Outro grupo que se organizou foi o Anne Frank, formado por voluntárias que visitavam pessoas que viviam sozinhas ou internadas em hospitais. Antonieta Bergamo passou a presidência a Petrônia Chapira Teperman antes do final de sua gestão, em 1979 (e “Pepa”, como Petrônia era conhecida, dirigiria a entidade até 1990). Em 1979 o Serviço Social Unificado (ssu) continuava em pleno funcionamento, tendo a Unibes como base de todo o trabalho. Neste período, uma representação permanente da Hias passou a funcionar dentro do prédio da Unibes. Em 1979, a creche foi creation of a Day Center or Day Care, which was to be an offshoot of Grupo Libe, organized as a Department in 1977. In early 1980s, Unibes and other societies discussed the possibility of building the Day Center in the district of Santa Cecília, aiming at serving 400 elderly people. Grupo Libe—whose name was chosen in honor of its founder, the social worker Libe Paz—is an important reference in working with the elderly. Another group to organize itself was Anne Frank, formed by volunteers who visited people living alone or hospitalized organized another group. Antonieta Bergamo transferred the presidency to Petrônia Chapira Teperman before the end of her tenure, in 1979 (and “Pepa”, as Petrônia was known, ran the organization until 1990). In 1979, the SSU carried on, with Unibes as the base for all the work. During this period, a permanent representation of HIAS began working within the Unibes building. In 1979, the Unibes Day Care was chosen as a model by the Sao Paulo state government. One year later, in 1980, a tragic event marked the history of Unibes. It was perhaps the saddest moment in the institutional history of the Jewish community’s relief work in Sao Paulo since its inception in 1915. In the early morning of August 13th of that year, the nursery awoke to terrible marks of vandalism and destruction to its facilities, even affecting the children’s toys. Only the spontaneous solidarity from the Jewish community, from the greater society, and from the public authorities served as pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 105 some consolation to this barbaric act against a nursery school. Even the Sao Paulo state government donated funds towards the refurbishment of the Day Care. The episode was recorded in the memory of the masses by a short story called “The Murdered Day Care”, written by the poet Carlos Drummond de Andrade, and published in Jornal do Brasil on August 21, 1980. The writer Trudi Landau, a Unibes collaborator, who wrote a section of short stories about Unibes in the Jewish Press for several years, had drawn the poet’s attention regarding the assault. The Unibes is recognized as a model of work In the 1980s and 1990s, Unibes went through a series of transformations that projected the society as a model in the area of social assistance to families, of child care services, of recreational programs and of sports and job training for young people. A succession of important awards, of national and international prestige, and a series of partnerships with organizations such as UNICEF, GMK and Fundação Vitae, the federal, state and municipal governments, and corporations and organizations of public recognition alike, made broadly known the society’s work in serving both the Jewish community and the society in general. Unibes quickly transformed itself to meet the new demands. Dora Lúcia Brenner recalls that her first role, upon beginning work at the organization in 1989, was “to transform the bazaar, which was small, had only served the assisted, and opened to the public twice a week. In the bazaar there were no cash registers and the money collected was placed in a bread bag. The innovation was to give a ticket to the user so that he could chose what he wanted to buy in the bazaar, based on a value determined by the social welfare department, according to the needs of the family. The users themselves choose how to spend their resources in the bazaar, which is a form of a social promotion: learning to manage the resources they receive. Of course this is not strict, if any other need should be. But the prime concern of the bazaar is the amount of resources that pass from donors to users, via clothing, utensils and objects, and which are not considered cash.” 106 escolhida como modelo pelo governo do Estado de São Paulo. Um ano depois, em 1980, um trágico acontecimento marcou a história da Unibes. Foi talvez o momento institucional mais triste na história do trabalho assistencial da comunidade judaica em São Paulo desde o seu início em 1915. No dia 13 de agosto daquele ano, a creche amanheceu com marcas terríveis de vandalismo e de destruição, atingindo inclusive os brinquedos das crianças. Apenas a solidariedade espontânea, seja da comunidade judaica, seja da sociedade em geral e das autoridades públicas serviu de pequeno consolo a este ato bárbaro contra uma creche. O próprio governo do Estado de São Paulo contribuiu com uma doação para o trabalho de recuperação da creche. O episódio ficaria registrado na memória de todos por meio de uma crônica, intitulada “A Creche Assassinada”, escrita pelo poeta Carlos Drummond de Andrade, publicada no Jornal do Brasil em 21 de agosto de 1980. O poeta foi alertado da agressão pela escritora Trudi Landau, colaboradora da Unibes e que manteve durante vários anos uma seção de crônica sobre a Unibes na imprensa judaica. A Unibes é reconhecida como modelo de trabalho A entidade passou por uma série de transformações nos anos 1980 e 1990 que a projetaram como uma entidade modelo na área da assistência social para famílias, de atendimento a crianças em creche e de programas de recreação, de esporte e de capacitação profissional para jovens. Uma sucessão de prêmios importantes, com prestígio nacional e internacional, e uma série de parcerias com entidades como a Unicef, a gmk e a Fundação Vitae, os governos federal, estadual e municipal, e empresas e entidades de reconhecimento público, divulgou amplamente seu trabalho no atendimento tanto à comunidade judaica como à sociedade em geral. A Unibes se transformava a passos rápidos para atender às novas demandas. Dora Lúcia Brenner lembra que sua primeira função, ao começar a trabalhar na entidade em 1989, foi “transformar o bazar, que era pequeno, atendia basicamente os assistidos e funcionava para o público duas vezes por semana. No bazar não havia máquina registradora e o dinheiro arrecadado era colocado pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s em um saquinho de pão. A inovação foi dar um ticket ao usuário de forma que ele escolhesse o que ele queria comprar no bazar, com um valor determinado pelo departamento de assistência social, conforme as necessidades da família. São os usuários que escolhem como gastar seus recursos no bazar, o que é uma forma de promoção social: aprender a administrar os recursos que recebe. É claro que isto não é rígido, em caso de necessidade. Mas o primordial do bazar é a quantidade de recursos que passa dos doadores aos usuários, via roupas, utensílios e objetos, e que não são computados como dinheiro”. A partir de 1990, a Unibes ampliou seu atendimento, alargando sua estrutura de atuação, a oferta de projetos e de programas até que, na segunda metade dos anos 90, a entidade começou a tornar-se ainda mais reconhecida como modelo nacional e internacional de assistência. Neste mesmo período, diante da crise social e econômica, intensificou-se muito a demanda de pessoas e famílias de classe média, mudando em parte o perfil do assistido e criando um fenômeno chamado de “nova pobreza” dentro da comunidade judaica. O novo perfil do assistido foi uma das preocupações centrais da gestão de Dora Lúcia Brenner, presidente da Unibes entre 2000 e 2006. Ela teve a dupla responsabilidade de administrar uma entidade com muitas parcerias e prêmios e, ao mesmo tempo, com sérios desafios pela frente, especialmente diante de uma grave situação social, que não se estabilizava, e diante da qual não se podia planejar com segurança. A crise social e econômica tinha levado numerosas famílias de classe média a procurar a entidade, definindo novos programas específicos para atender esta faixa de assistidos. Em 1995, a Unibes concluiu uma ampla reforma, iniciada em 1993, que praticamente renovou e remodelou todas as instalações da entidade, mantendo-se a fachada original dos prédios inaugurados no início dos anos 60. Foi com esta reforma que se deu a unificação física total dos prédios da Ofidas e da Policlínica, que eram vizinhos na Rua Rodolfo Miranda e que se tornaram a sede da Unibes em 1976. Os prêmios “Bem Eficiente” (1997 e 1999) concedidos pela consultoria Kanitz & Associados, a menção honrosa do Prêmio Since 1990, Unibes has expanded its service by broadening its operational structure and its offer of projects and programs. In the second half of the 1990s, the organization’s national and international reputation for model assistance grew even further. During this same period, given the social and economic crisis, the demand from middle class individuals and families had intensified so much, partly changing the profile of the assisted and creating a phenomenon called “new poverty” within the Jewish community. This new profile of assisted was one of the central concerns of Dora Lúcia Brenner’s management, who assumed the presidency in 2000. She had the twofold responsibility of managing a society with many partnerships and awards and, at the same time, was faced with serious challenges ahead, especially in light of the grave and unsteady social situation, as a result of which one cannot plan with confidence. The social and economic crisis has prompted numerous middle class families to seek the society’s assistance, thus defining specific new programs to meet this new group of beneficiaries. In 1995, Unibes completed its extensive restructuring reform, which had started in 1993 and renovated and remodeled virtually the organization’s entire facility, keeping the original façade of the buildings which opened in the early ‘60s. This reform made the total physical unification of the buildings of Ofidas and Polyclínica feasible. The two societies had been neighbors on Rua Rodolfo Miranda and had become the headquarters of Unibes in 1976. The “Bem Eficiente” (“Very Efficient”) prizes, awarded in 1997 and 1999 by the consulting firm Kanitz & Associados, the honorable mention for the Human Rights Award, promoted by the Secretary of State of the Human Rights Department in the Ministry of Justice and awarded by the President in 1999, in addition to being a finalist for the Prêmio Itaú-Unicef Educação e Participação (for the program Oficina de Convivência Esportiva) in 1997/1998, further projected the work of Unibes within the society at large. The honorable mention for the Prêmio Direitos Humanos in 1999 was personally delivered by thenPresident Fernando Henrique Cardoso to Anita Schuartz, the president of Unibes, during a ceremony at Palácio do Planalto in Brasília. pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 107 Atividade musical no Centro da Criança e do Adolescente, que atende a faixa etária de 6 a 15 anos. Musical activity in the Center for Children and Adolescents, which serves children aged 6 to 15 years. According to Anita Schuartz, who served as president of the organization between 1990 and 2000, in her statement for the 85th anniversary book, “I am genuinely proud to have participated in a job such as this one, in which professionals and volunteers dedicate themselves to the incredible mission of trying to rescue the dignity, respect and self-confidence of those who inquire about us. We have won many awards, thanks to our professionals who were the most responsible for this. We tried to show them our appreciation through a number of actions: when we won the Prêmio Bem Eficiente in 2000, for instance, we delivered a personalized souvenir to each employee.” Unibes was also awarded three times by the federal government’s Comunidade Solidária, with the projects “Globalized world: what is one 108 Direitos Humanos, concedido pela Presidência da República e promovido pela Secretaria de Estado dos Direitos Humanos do Ministério da Justiça em 1999, além de menções como ter sido finalista do Prêmio Itaú-Unicef Educação e Participação (com o programa Oficina de Convivência Esportiva) em 1997/1998, projetaram na sociedade em geral o trabalho desenvolvido pela entidade. A menção honrosa do Prêmio Direitos Humanos foi entregue pessoalmente pelo presidente Fernando Henrique Cardoso a Anita Schuartz, presidente da Unibes entre 1990 e 2000, em solenidade no Palácio do Planalto, em Brasília. Segundo Anita Schuartz, em depoimento ao livro de 85 anos, “é um orgulho muito grande para mim ter participado de um trabalho como este, no qual profissionais e voluntários se dedi- pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s cam à incrível missão de tentar resgatar a dignidade, o respeito e a autoconfiança daqueles que nos procuram. Ganhamos muitos prêmios, e foram nossos profissionais os maiores responsáveis por isso; tentamos demonstrar a eles o nosso reconhecimento por meio de algumas ações: quando ganhamos o Prêmio Bem Eficiente, em 2000, entregamos a cada funcionário uma lembrança com o seu nome registrado”. A Unibes foi também três vezes premiada pelo Comunidade Solidária do governo federal, com os projetos “Mundo globalizado: o que pensar?”, em 1999; Projeto “Capacitação Profissional de Jovens: Escalada para o Terceiro Milênio”, em 1998, e projeto “Capacitação Profissional de Jovens: Cidadão do Amanhã”, em 1997. Entre outros projetos, prêmios e indicações, pode-se citar também o Projeto “Oficinas de Múltipla Escola: Aprender com Liberdade”, da Fundação Vitae, nos anos de 1997 e 1998, e a indicação, entre apenas quatro entidades do Brasil, para o prêmio Conrad N. Hilton Humanitarian Prize, em 1998. O prêmio Bem Eficiente, que já foi chamado pela imprensa de “iso da filantropia” e de o “mapa do bem”, tornou-se uma referência obrigatória em sua área. As 50 entidades filantrópicas do Terceiro Setor, beneficentes e que ajudam o próximo diretamente, escolhidas a cada ano, são consideradas muito bem administradas. Em 1997, um total de 230 entidades habilitaram-se ao prêmio. Em 1999, um evento especial catalizou as atenções da entidade. O Projeto “Adote um Artista” teve 17 patrocinadores e um time de artistas plásticos de renome que acompanhou jovens atendidos na Unibes que elaboraram, nos próprios ateliês dos artistas, um trabalho de arte. Os artistas plásticos que participaram foram Silvio Oppenheim, Aldemir Martins, Antônio Peticov, Bob Wolfenson, Cláudio Tozzi, Emanoel Araújo, Gustavo Rosa, Ivald Granato, Kimi Nii, Pinky Wainer, Rômulo Fialdini, Sara Carone e Tuneu. Uma seleção da produção dos jovens, com a fotografia do jovem e do artista plástico, ilustra o calendário da entidade do ano 2000. A Unibes vem sendo considerada como uma entidade modelo na gestão e aplicação de recursos. Esta experiência de gestão foi importante inclusive para a Fundação Getúlio Vargas (fgv) de São Paulo montar o seu primeiro curso de administração do Terceiro Setor, tendo a Unibes como um case de estudo permanente. to think?” in 1999; Project “Professional Training of Young People: Climbing to the Third Millennium” in 1998; and the project “Professional Training of Young People: Citizens of Tomorrow” in 1997. Among other projects, awards and nominations, one can also bring up the project “MultiSchool Workshops: Learning from Liberty” years 1997 and 1998; and the nomination, among just four societies in Brazil, for the Conrad N. Hilton Humanitarian Award, in 1998. The “Bem Eficiente” Award, named “ISO of philanthropy” and the “map of doing good” by the press, became an obligatory point of reference in its area. The fifty philanthropic nonprofit Third Sector charities, that provide direct assistance, chosen each year, are all considered very well-managed. In 1997, 230 societies qualified for the award. In 1999, a special event drew the attention of the society: the Project “Adopt an Artist”. It gained seventeen sponsors and a team of renowned artists who guided the youngsters served by Unibes in works of art the youngsters themselves elaborated in the artists’ own studios. The artists who participated were Silvio Oppenheim, Aldemir Martins, Antônio Peticov, Bob Wolfenson, Cláudio Tozzi, Emanoel Araújo, Gustavo Rosa, Ivald Granato, Kimi Nii, Pinky Wainer, Rômulo Fialdini, Sara Carone and Tuneu. A selection of the youngsters’ productions, accompanied by each child’s photograph alongside the artist, illustrated the society’s year calendar in 2000. Unibes has been considered a model society concerning management and application of resources. This management experience was important even to Fundação Getúlio Vargas (FGV) in Sao Paulo, when preparing their first course in Third Sector Administration, having Unibes as a permanent case study. “We feel we are in the vanguard of social service, mainly when we visit other societies”, said Dora Lúcia Brenner, in her statement for the book commemorating Unibes’ 85th anniversary. She added “there is a ‘new poor’ because a high percentage of people who come to ask for help fit within this profile. There was a group of people who were already being helped and who are able to progress a little, like sick elderly patients. The new poor are the middle class, lower middle, sometimes upper middle, whose level dropped pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 109 due to the country’s situation; for they are more demanding, and the most difficult thing is keeping one’s dignity and replacing it to face a new reality. We must act towards applying the concept of ‘tzedaká’ in our Social Services, i.e. that of dignity and of promotion, and not just assistance, because the standard of care is higher. There are people who are still ashamed to address the institution; people who either do not know or are not aware they need it. As long as the crisis endures in Brazil, this demand will exist and may increase. What most costs on today’s family are health expenses, in which a fall in income is first felt.” From that first aid, made from home to home, in the year 1915—when a Jewish community did not even exist as such, but only a few dozen families—to the brink of passage from the 20th to the 21st century—was a path of transformation and care for the needy , assisted or users. Each of the societies, each of the models of care, was modern and contemporary in its time, consolidating Unibes as a model of work and service to the Jewish community and society in general. 110 “Nós sentimos que estamos na vanguarda do Serviço Social, e sentimos isso quando vamos a outras entidades”, afirmou Dora Lúcia Brenner em depoimento ao livro de 85 anos da Unibes, acrescentando que “há um ‘novo pobre’ porque uma elevada porcentagem das pessoas que vêm pedir ajuda encaixa-se neste perfil. Havia uma faixa de pessoas que já eram ajudadas e as quais se consegue promover pouco, como idosos doentes. O novo pobre é a classe média, média baixa, às vezes média alta, que caiu de nível por causa da situação do País; eles são mais exigentes, e o mais difícil é manter a dignidade da pessoa e reposicioná-la diante de uma nova realidade. Temos que ter a postura de aplicar em nosso Serviço Social o conceito de tsedaká, de dignidade e de promoção, e não apenas de assistencialismo, porque o padrão de atendimento é maior. Há pessoas que ainda têm vergonha de procurar a instituição, que não sabem que precisam, não se conscientizaram. Enquanto durar a crise no Brasil, esta demanda vai existir e pode aumentar. O que mais pesa na família hoje é a área da saúde, onde a diminuição de rendimento é sentida primeiro”. Daquele primeiro auxílio, feito de casa em casa, no ano de 1915, quando ainda nem existia uma comunidade judaica, mas apenas algumas poucas dezenas de famílias, ao limiar da passagem do século 20 para o século 21, foi uma trajetória de transformações e de atendimento aos necessitados, assistidos ou usuários. Cada uma das entidades, cada um dos modelos de atendimento, foi moderno e contemporâneo à sua época, consolidando a Unibes como modelo de trabalho e de atendimento na comunidade judaica e na sociedade em geral. pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s 8 Renovar, inovar e manter a tradição: desafio rumo aos 100 anos To renew, to innovate and to maintain the tradition: a challenge for 100 years pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 111 p. 111 Em parceria com a Galeria Choque Cultural, a Unibes abriu as portas da sua unidade Núcleo Sócio-Educativo para que 17 artistas pintassem um grande painel coletivo em sua quadra de esportes. As pinturas utilizaram diversas técnicas, entre elas, colagem, spray e stencil. A parceria, no ano de 2009, envolveu outros projetos, como a realização de workshops educativos para incentivar o interesse pela arte. As reproduções de obras deste capítulo integram este projeto.. acima Anita Schuartz e Bruno Laskowsky no evento da Câmara Municipal que homenageou os 95 anos da Unibes. p. 111 In partnership with the Culture Shock Gallery, Unibes opened the doors to its Socio-Educational Center, so that 17 artists could paint a large, collective panel in their gymnasium. The painters used diverse techniques, among them, collage, spray, and stencil. The partnership, in 2009, also involved other projects, such as educational workshops, to encourage interest in the arts. Reproductions of works in this chapter are part of this project. above Anita Schuartz and Bruno Laskowsky at the City Council event that paid tribute to the 95 years of Unibes. 112 pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s A o completar 95 anos de história e se aproximar da celebração do seu primeiro centenário, a Unibes segue empreendendo sua missão social entre a tradição, a renovação e a inovação. No campo da assistência social, mudam as necessidades e os enfoques de trabalho, mudam também as concepções, os conceitos e as ferramentas para gerir as entidades. É uma história dinâmica na qual os novos desafios exigem constantemente novas respostas e novos modelos de atuação. O fenômeno da globalização trouxe inéditas oportunidades e parâmetros de integração entre os continentes, os países e dentro de cada sociedade. Mas, igualmente, trouxe desafios ainda maiores de inclusão e promoção social. Processo de governança e melhores práticas corporativas, busca de sustentabilidade e eficiência na gestão são conceitos que se tornaram parte do dia a dia da instituição desde o início da gestão liderada pelo presidente Bruno Laskowsky, para quem “a Unibes é benchmark entre as entidades que atendem a comunidade, a municipalidade e uma instituição que tem uma reputação do mais alto patamar entre as organizações de assistência social do País. O desafio da atual diretoria é garantir a continuidade sustentável da entidade, de sua identidade e cultura e trabalhar para deixar a instituição melhor para as próximas gerações. Com isso, a Unibes pode continuar a realizar um trabalho rigoroso e completo de tecnologia de ponta no mundo social”. A t the completion of 95 years of history and approaching its centennial celebration, Unibes continues implementing its social mission of tradition, renewal and innovation. In the field of social welfare, not only needs and approaches to work change, but also conceptions change - the very concepts and tools that manage the institutions. It is a dynamic history through which new challenges constantly demand new responses and role models. The phenomenon of globalization has brought unprecedented opportunities and parameters of integration among continents, countries and within each and every society. It also however brought greater challenges for inclusion and social promotion. Processes of governance, corporate best practices, and the search for sustainability and efficiency in management are concepts that have become part of everyday life of the institution since the beginning of its management under President Bruno Laskowsky According to him, “Unibes is a benchmark among institutes that serve the community, the municipality and an institution that is reckoned at the highest level among social service organizations in the country. The challenge for the current management is to ensure the sustainable continuity of the institution, its identity, its culture and work to make the institution better for generations to come. Unibes can thus continue to implement its rigorous work with cutting edge technology in the social world.” pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 113 Os artistas que participaram do projeto foram: Cesar Profeta, Zézão, Boleta, Nove, Minhau, Chivitz, Presto, Speto, Mzk, Ramon Martins, Whip Dxl, Shn, Meã, Pjota, Luciano Scherer, Titi Freak e Daniel Melin. The artists who participated in the project were: Cesar Profeta, Zézão, Boleta, Nove, Minhau, Chivitz, Presto, Speto, Mzk, Ramon Martins, Whip Dxl, Shn, Meã, Pjota, Luciano Scherer, Titi Freak and Daniel Melin. In order to accomplish this goal it must renew itself: “I usually say I took over a blessed heritage and applied a quantitative and qualitative leap through a management shock to it. We developed a change in the institutional mode. Such transformation symbolizes an important passage throughout the history of Unibes and in the context of the course of Jewish organizations as a whole. We developed a change in the institutional model and this transformation symbolizes an important passage throughout the history of Unibes and in the context of the trajectory of Jewish organizations as a whole. We added new content of policy management which has been learned in the business world and adapted/adjusted them to be assimilated and improved by the Institution. This ‘new’ look had important implications in the management model of Unibes, namely in the areas of finance, administration, and marketing, and in its own welfare (and social services, child and adolescent). According to Mr. Laskowsky, “the new vision that we imprint on the institution brings management and governance together in line with best practices from the corporate world—with the love of the volunteers and those that direct Unibes. This made executive directors gain social sensitivity and the professionals and volunteers acquire management tools for the social field. There was understanding and convergence between these two dimensions of the work. As 114 Para realizar este objetivo é preciso renovar-se: “Costumo dizer que assumi uma herança bendita e, a partir dela, demos um salto quantitativo e qualitativo por meio de um choque de gestão. Realizamos uma mudança no modelo institucional e essa transformação simboliza uma passagem importante na história da Unibes e no contexto da trajetória das entidades judaicas. Adicionamos um novo conteúdo de políticas gerenciais aprendidas no mundo ‘empresarial’ e as adaptamos/ajustamos para que estas fossem assimiladas e melhoradas pela Instituição. Este ‘novo’ olhar teve implicações importantes no modelo de gestão da Unibes, nomeadamente nas áreas financeira, administrativa, de marketing e nos próprios departamentos de assistência social (e serviço social, menor e adolescente)”. Ainda conforme Laskowsky, “a nova visão que imprimimos à entidade une gestão e governança – alinhadas às melhores práticas do mundo corporativo – ao amor dos voluntários e dos que dirigem a Unibes. Com isso, os diretores executivos ganharam sensibilidade social e os profissionais e voluntários da área social adquiriram ferramentas de gestão. Houve entendimento e convergência entre estas duas dimensões do trabalho e, com isso, criamos um ótimo modelo, que se preocupa com orçamento, metas e indicadores de performance”. Esta transformação tem por objetivo, portanto, “garantir a sustentabilidade e a perenidade da instituição e, como consequên- pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s cia, dar mais consistência ao trabalho de serviço social e na área do menor e do adolescente. Este modelo agrega benefícios aos assistidos, permite reduzir a dependência de doações pontuais e, por meio de apurados controles de gestão, garante credibilidade aos doadores. Faz parte dos valores e do papel da comunidade judaica dar o exemplo de justiça social e de tzedaká. Os grupos que recebem o nosso trabalho social entendem o esforço da comunidade e, igualmente, percebem que esta dimensão altruísta é inerente à cultura judaica e à forma como nossa comunidade está inserida na sociedade brasileira”, afirma o atual presidente. Sustentabilidade e geração de recursos A Área de Sustentabilidade e Desenvolvimento Institucional foi criada pela nova gestão e está focada na geração de recursos por meio de projetos que garantam autossustentabilidade e continuidade. Conforme sua vice-presidente, Célia Kochen Parnes: “O grupo envolvido nas ‘áreas de negócios’ da Unibes tem uma formação empresarial e de varejo e realiza seu planejamento e orçamento de forma estratégica, com dois anos de antecedência, o que permite estruturar a captação com um prazo adequado. O foco é dirigir os esforços para as áreas que vêm tendo sucesso, que conhecemos melhor, nas quais sabemos atuar com competência e ampliar cada vez mais estas ações”, continua Célia. A busca pela sustentabilidade, utilizando conceitos e ferramentas consolidadas no exterior, teve um marco em 2004, quando a Unibes criou o “Brindemos”, uma linha de produtos corporativos sofisticados e exclusivos e editou um catálogo que apresentava, além de brindes, presentes e troféus especialmente desenhados por designers e artistas plásticos. Os produtos seguiam uma série de critérios, como o de serem confeccionados com materiais recicláveis, de não utilizar mão de obra infantil e de estarem alinhados a uma filosofia de produção sustentável, mas a entidade deixou de investir em desenvolvimento nessa área e prioriza os Bazares, os Eventos, a Captação de Recursos e o Marketing como seus principais pilares na busca de sustentabilidade financeira. “Atualmente, 20% de nosso orçamento provém de fontes próprias. Nossas áreas de negócios. O que para nós é de grande satisfação e mostra que a result we created a great model that is concerned with budget, targets and performance indicators.” This transformation aims, therefore, “at ensuring sustainability and continuity of the institution and, consequently, at giving more consistency to the social service work and in the field of child and adolescent services. This model brings benefits to those attended, permits reduction of dependence on occasional donations and, through established management controls, ensures credibility to the donors. It means that part of the values and the role of the Jewish community set an example of social justice and tzedaká (charity). The groups that receive our social work understand the effort of the community and also perceive that this altruistic dimension is inherent in Jewish culture and how our community is embedded in Brazilian society”, affirms the current President. Sustainability and resource generation The Department of Sustainability and Institutional Development was created by the new management and is focused on generating resources through projects that ensure self-sustainability and continuity. According to its Vice President Célia Parnes Kochen: “The group engaged in the ‘business departments’ at Unibes have a background in business and retail and carry out their planning and budgeting in a strategic way, with a two-year projection, which allows for the structure of fund-raising to be organized within an adequate timeframe. The focus is to direct efforts from the departments that have been successful, and which we know best, to those which we can influence with expertise and steadily improve these actions”, continues Célia. The search for sustainability, based on concepts and tools consolidated abroad, set up its milestone back in 2004 when Unibes created the “Brindemos”, a sophisticated and exclusive line of business products including a catalog, presents, gifts and trophies specially designed by designers and artists. The products met a series of criteria, such as being made from recyclable materials, not using child labor, and being aligned with a philosophy of sustainable production. Notwithstanding, the organiza- pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 115 tion discarded the investment on the development in this area, and highlighted bazaars, events, fundraising and marketing as its main pillars in the pursuit of financial sustainability. “Currently, 20% of our budget comes from our own sources; our own business departments. That, to us, is of great satisfaction and it shows that we can generate resources internally, and not just seek them externally”, states Célia Kochen Parnes. Additionally, she continues, “an essential and immense source of our pride is our staff- in fact, our most precious asset. They are the day-to-day of the institution, some of them for many years, such as social worker João Batista Aducci, who has been with us for 50 years; Selma Schuchman, for 52 years; Germana Langone Crosta, for 30 years; Odete Calantone Monteiro, for 31 years; Zenóbia Duch, for 33 years; and Henrique Sérgio Sznifer, for 13 years; among many others.” Besides, emphasizes Célia, “they carry the DNA and the code of ethics of the organization along with them, throughout several generations of managers of the institution. They know the work and Unibes as a whole profoundly, and many times end up being informal coaches to the new boards.” Fundraising and Partnerships The department of fundraising, which is directed by Fanny Michaan Terepins, was established in 2007 with the objective of improving existing partnerships and of endorsing the Unibes mission regarding education, culture, health and social promotion with excellence. For this ideal to be met, some strategies were created to support the fundraising actions. After the analysis of revenue sources, the need was identified to create a relation between programs and activities, which resulted in an institutional folder for fundraising, including an English version, in order to receive international certification for prospective donors, both from individuals and from foreign companies. From then on, there were systemized partnership agreements for all projects and defined processes for participation in proclamations. For instance, the Advocacy Program, financed by lawyers and law firms, and other fundraising strategy programs, like the recent Programa Gastronomia Solidária 116 se pode produzir recursos internamente, e não apenas buscar externamente”, afirma Célia Kochen Parnes. Além disso, prossegue ela, “essencial e imensa fonte de orgulho para nós é a nossa equipe de funcionários. Nosso ativo mais precioso. São o dia a dia da entidade, alguns há muito tempo, como o assistente social João Batista Aducci, que está conosco há 50 anos; Selma Schuchman, há 52 anos; Germana Langone Crosta, há 30 anos; Odete Calantone Monteiro, há 31 anos; Zenóbia Duch, há 33 anos, e Henrique Sérgio Sznifer, há 13 anos, entre tantos outros.” Além disso, enfatiza Célia, “eles carregam o dna e o código de ética da entidade consigo, por várias gerações de gestores da entidade. Conhecem profundamente seu trabalho e o da Unibes como um todo, e acabam inúmeras vezes sendo coaches informais das novas diretorias”. Captação de recursos e parcerias A área de Captação de Recursos, que tem como diretora Fanny Michaan Terepins, foi estabelecida em 2007 com o objetivo de aperfeiçoar as parcerias existentes, promovendo com qualidade a missão da Unibes no que se refere a educação, cultura, saúde e promoção social. Para que esse ideal seja cumprido, foram criadas algumas estratégias de suporte à ação de captação. Após a análise das fontes de receita, foi identificada a necessidade da criação de uma relação de programas e de atividades, que resultou em um folder institucional de captação de recursos, incluindo versão em inglês, com o objetivo de receber uma certificação internacional para prospecção de doadores, tanto pessoas físicas como empresas estrangeiras. A partir daí foram sistematizados contratos de parcerias para todos os projetos e definidos processos de participação em editais, programas da área social, como, por exemplo, o Programa Advocacia, financiado por advogados e escritórios da área, e outros de estratégia de captação, como o recente Programa Gastronomia Solidária. Paralelamente instituiu-se o conceito de fidelização, gerando o envolvimento de parceiros no programa Forças da Comunidade, que hoje atende 1.300 famílias em situação de média e baixa com- pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s O trabalho de um dos artistas que participaram do projeto em parceria com a Galeria Choque Cultural na Unibes em 2009. The work of one of the artists who participated in the project in partnership with the Culture Shock Gallery in 2009. plexidade social. As famílias são acompanhadas por uma equipe multiprofissional com assistentes sociais, psicólogos, psiquiatras, terapeuta ocupacional, educadora, enfermeira, além de instituições públicas e privadas que dão suporte ao atendimento visando a promoção e o cuidado destas famílias. Este é um programa que permite pessoas físicas e jurídicas adotarem e acompanharem o histórico do processo de evolução das famílias, mantendo o devido sigilo técnico. Com a parceria da Microsoft, a Unibes implantou o crm como ferramenta de gestão para garantir a qualidade e a eficiência no relacionamento com os parceiros, com um projeto customizado para as necessidades da Unibes. “A área de captação oferece suporte em todos os eventos e ações institucionais. O objetivo para o futuro próximo é fortalecer a área com mais recursos humanos, criando uma agenda anual que permita um planejamento estratégico integrado com toda a diretoria envolvida na captação”, conclui Fanny Terepins. Eventos e bazares Shows, eventos e jantares são organizados anualmente e um calendário é elaborado cuidadosamente para garantir a continui- (Gastronomic Corroboration Program), supporting the social programs. In parallel, it established the concept of loyalty, generating the involvement of partners in the program Forças da Comunidade, which now serves 1,300 families in middle and low social complexity. Families are accompanied by a multi-disciplinary team with social workers, psychologists, psychiatrists, an occupational therapist, an educator, a nurse, as well as public and private institutions that lend their support thus targeting at the promotion of and care for these families. This is a program that allows for individuals and corporations to adopt and follow the history of the evolutionary process of the families, maintaining the due technical secrecy. In partnership with Microsoft, Unibes implemented the CRM as a management tool to ensure quality and efficiency in the relationship with partners, with a design customized to the needs of Unibes. “The fundraising department offers support in all events and institutional actions. The goal for the near future is to strengthen the area with more human resources, creating an annual schedule that allows for integrated strategic planning with the entire board involved in the fundraising”, says Fanny Terepins. pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 117 Events and Bazaars Concerts, events and dinners are organized annually and a calendar is carefully prepared to ensure continuity. As examples of recent events, we can highlight the premiere of the musicals “Beatles num Céu de Diamantes (Beatles in a Sky of Diamonds)” and “A Noviça Rebelde (The Sound of Music)”, not to mention the presentation of the Jerusalem Symphony Orchestra, conducted by maestro Yeruham Scharovsky, at Sala São Paulo, both the result of a unique partnership to benefit Unibes and the Liga Solidária, under the careful management of director Denise Zaclis Anthony. The events have come to occupy a prominent place in the Unibes performance indicators, with significant funding from sponsors and audiences. In addition, they publicize the organization, always combining quality culture with social responsibility. “It is essential to have a real dimension of the volume of resources that Unibes needs and moves”, cites Denise, “when the issue is to define the selection criteria of events.” The Permanent Bazaars at Unibes is central to the strategy of the sustainability division, and the changes made by the current board are examples of the direction of transformation that the institution follows. Through the Bazaar, Unibes learned to generate income from the ability to share value between those who no longer needed objects, furniture, utensils, clothing, and other items and those who can give them new life and value in use. It is a true stock market that generates resources and helps to make the entity self-sustaining. The control of the Bazaars was completely reworked by the current director Daniel Pedro Machlup. He deployed the latest inventory management and sales software, which allows for the bazaar to be managed like a modern enterprise. All products have a bar code and lot number, from the time they leave the home of the donator. In stores, security is outsourced and constantly monitored by cameras in a monitoring station. “The Bazaar is a prime example of the new management concepts, combining tradition and modernization”, says Daniel. The sorting of donations is around 1,500 items per day among clothes, furniture, books, 118 Formatura do Programa de Capacitação Profissional Unibes – Instituto George M. Klabin. Graduation of the Unibes Professional Training Program – George M. Klabin Institute. dade. Como exemplos de eventos recentes, destacam-se a pré-estreia dos musicais “Beatles num Céu de Diamantes” e “A Noviça Rebelde” e também a apresentação da Orquestra Sinfônica de Jerusalém, sob regência do maestro Yeruham Scharovsky, na Sala São Paulo, ambos resultado de uma inédita parceria em benefício da Unibes e da Liga Solidária, sob a gestão criteriosa da diretora Denise Zaclis Antão. Os eventos vêm ocupando lugar de destaque nos indicadores de resultados da Unibes, com captações expressivas de patrocinadores e de público presente. Além do que, divulgam a entidade, sempre associando cultura de qualidade à responsabilidade social. “É essencial ter a real dimensão do volume de recursos que a Unibes necessita e movimenta”, cita Denise, “quando a questão é definir o critério de seleção de eventos”. O trabalho dos Bazares Permanentes Unibes é central na estratégia da Área de Sustentabilidade e as mudanças realizadas pela atual diretoria são exemplos do rumo de transformações que a entidade segue. Por meio do Bazar, a Unibes aprendeu a gerar renda a partir da capacidade de compartilhar valor entre os que não necessitam mais de objetos, móveis, utensílios, roupas e outros itens com quem pode lhes dar nova vida e valor de uso. É um verdadeiro mercado de valores que gera recursos e contribui para tornar a entidade autossustentável. pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s Os controles dos Bazares foram inteiramente reformulados pelo atual diretor Daniel Pedro Machlup, implantando-se o mais moderno software de gestão de estoque e de vendas, que permite ao Bazar ser gerenciado como uma empresa moderna. Todos os produtos têm código de barras e seu número de lote, desde quando sai da casa do doador. Nas lojas, a segurança é terceirizada e permanentemente controlada por câmeras em uma central de monitoramento. “O Bazar é um exemplo emblemático dos novos conceitos de gestão, unindo a tradição à modernização”, afirma Daniel. A triagem das doações gira em torno de aproximadamente 1.500 peças por dia entre roupas, móveis, livros, eletroeletrônicos, eletrodomésticos, brinquedos e acessórios em geral. São em média 50 retiradas diárias realizadas por oito veículos com data marcada. Possui atualmente quatro lojas: Filial 1, na Rua Rodolfo Miranda, 150; Filial 2, na Rua Rodolfo Miranda, 293, ambas no Bom Retiro; Filial 3, na Av. Celso Garcia, 165, no bairro do Brás; e Filial 4, na Rua Guarani, 63, Bom Retiro. O horário de funcionamento é de segunda a quinta das 9h00 às 18h30, sextas das 9h00 às 17h30, e domingos e feriados das 9h00 às 16h00. “A entidade pretende abrir novas lojas e levar adiante as mudanças até chegar a um conceito de Unibes Stores”, conta, motivado, Daniel Machlup. Marketing e assessoria de imprensa O setor de Marketing e Assessoria de Imprensa, sob a diretoria de Mirella Morabia Radomysler, também se modificou com a atual gestão, tendo uma visão de mercado, trabalhado em conjunto com as diversas áreas da instituição e mantendo, assim, uma visão ágil de suas necessidades e realizações. Com isso, consegue ter uma identidade corporativa que padronizou a linguagem com que se apresenta ao público. Conforme Mirella: “Para mim a Unibes é uma instituição ímpar. Atua de forma incisiva na comunidade judaica e inspiradora em relação à comunidade maior. É uma daquelas instituições modelo, que todo mundo quer saber como funciona e o segredo do sucesso que afinal se traduz também na sua longevidade. Estava na hora de mostrar ao público, àqueles que não conhecem e electronics, appliances, toys and accessories in general. On average, there are 60 pickups made per day, by eight vehicles, with dates and times pre-arranged. The Bazaar currently has four stores: Branch 1, on Rua Rodolfo Miranda, no 150 and Branch 2, on Rua Rodolfo Miranda, nr 293, both in Bom Retiro; Branch 3, on Avenida Celso Garcia, nr 165, in the Brás neighborhood; and Branch 4, on Rua Guarani, nr 63, also in Bom Retiro. The opening hours are Monday through Thursday from 9:00 am to 6:30 pm, Friday from 9:00 am to 5:30 pm, and on Sundays and holidays from 9:00 am to 4:00 pm. “The organization plans to open new stores and carry out the changes until we reach a concept of Unibes Stores”, says Daniel Machlup, enthusiastically. Marketing and Public Relations The Marketing & Media Relations Department, under the direction of Mirella Morabia Radomysler, also changed under the current administration, with a market vision and working together with the various sectors of the institution, thus maintaining an agile balance of their needs and accomplishments. With that, it was possible to build a corporate identity that standardized the language in which it presents itself to the public. According to Mirella: “To me, Unibes is a unique institution. It operates in an incisive manner in the Jewish community and inspiringly in relation to the larger community. It is one of those model institutions, which everyone wants to know how it works and the secret of its success which ultimately also translates into its longevity. It was time to show the public, to those who don’t know, and to those who have heard about what we do and why we are a major Jewish institution. My biggest challenge was and continues to be counting all the activities that we hold and develop. Here, there is something for everyone. For children, for the elderly, there is leisure and culture. A great pleasure, however, is to capture people’s attention to the world that is Unibes. I recently discovered it, and my goal is to reveal to as many people as possible this great and fantastic work.” The marketing work is, in large part, conceived and conducted within the institution by a team of volunteers and professionals whom, together, create various public and some inter- pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 119 nal ad campaigns. A strong partnership with Grupo Eugênio ensures Unibes’s biggest campaigns. The Press Relations are also performed autonomously by the internal Unibes team and has achieved impressive results together with its vehicles for dissemination. “The media have shown interest in the changes that Unibes is presenting”, says Mirella. Code of ethics and standards of control Unibes, over its 95-year existence, has always believed in the importance of management guided by transparency, respecting the ethical and moral principles. By acting this way, it was able to build solid and sustainable foundations to ensure development and sustainability of the institution for generations to come. “The current board is committed to the modernization of the management tools of the institution”, says Marcelo Felberg, Vice President of Administration and Finance, “in order to ensure the sustainability of its programs. They have implemented in recent years a number of policies and practices, such as budget control, a system for an information management code of ethics, and standards of internal control, external auditing performed by a top-line national enterprise, as well as several other management tools. The increase in our assistance activities and volume of financial transactions makes it necessary to use a system enabling control and automation of our transactions.” “Aware of the changes and the adoption of new management practices and governance, including the third sector, Unibes sought to enhance their internal policies and practices of management and corporate governance over the past six years. Thus, in the view of its administration, the organization is now a modern institution and aware of the need for accountability to society”, says Felberg. Inside Unibes, the department of financial administration carries out several assignments including ensuring that the institution is run efficiently, adequately, and always with appropriate material resources, financial and human, to support its various welfare programs. A comprehensive project to restructure the administrative and financial management was 120 àqueles que ouviram falar, o que fazemos e por que somos a principal entidade judaica. O meu maior desafio foi e continua sendo contar todas as atividades que temos e desenvolvemos. Aqui tem para todos os gostos. Para criança, para idoso, tem lazer e cultura. Um grande prazer, no entanto, é captar a atenção das pessoas para esse mundo que é a Unibes. Eu descobri recentemente e meu objetivo é revelar ao maior número de pessoas possível esse trabalho enorme e fantástico”. O trabalho de marketing é, em grande parte, concebido e realizado dentro da instituição por uma equipe de voluntários e de profissionais que, inclusive, criam diversos anúncios e algumas campanhas. Uma forte parceria com o Grupo Eugênio garante as grandes campanhas da Unibes. A Assessoria de Imprensa também é realizada de forma autônoma pela equipe interna da Unibes e tem conseguido resultados impressionantes com os veículos de divulgação. “A imprensa tem se mostrado interessada nas mudanças que a Unibes vem apresentando”, conta Mirella. Código de ética e normas de controle A Unibes, ao longo de seus 95 anos de existência, sempre acreditou na importância de pautar sua gestão pela transparência, respeitando os princípios éticos e morais. Ao atuar dessa forma, foi capaz de construir bases sólidas e sustentáveis para garantir seu desenvolvimento e a perenidade da instituição para as gerações vindouras. “A atual diretoria está comprometida com a modernização das ferramentas de gestão da instituição”, conta Marcelo Felberg, vice-presidente Administrativo e Financeiro, “como forma de garantir a sustentabilidade de seus programas, tendo implantado nos últimos anos diversas políticas e práticas, tais como controle orçamentário, sistema de informações gerenciais código de ética e normas de controle interno, auditoria externa feita por empresa nacional de primeira linha, além de diversas outras ferramentas de gestão. O aumento de nossas atividades assistenciais e dos volumes de transações financeiras torna necessário o uso de um sistema que possibilite o controle e a automação de nossas transações”. pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s Atenta às mudanças e à adoção de novas práticas de gestão e de governança, incluindo o terceiro setor, a Unibes buscou aprimorar suas políticas e práticas internas de Gestão e Governança Corporativa ao longo dos últimos seis anos. Dessa forma, na ótica de sua administração, a entidade é hoje uma instituição moderna e ciente da necessidade de prestação de contas para com a sociedade, conforme Felberg. Dentro da Unibes, a área administrativa financeira tem diversas atribuições entre as quais assegurar que a instituição funcione de forma eficiente, adequada e sempre com recursos materiais, financeiros e humanos suficientes para apoiar seus diversos programas assistenciais. Um projeto abrangente de reestruturação de gestão administrativa e financeira foi implementado a partir de 2005. Esse trabalho envolveu profissionais de diversos setores implemented in 2005. This work has involved professionals from different sectors of Unibes, volunteers and also had the support of external consultants. The results exceeded the expectations and, among many others, some highlights included: • Establishment of committees and commissions subordinate to the board and/or counsel, including the Finance and Investment Committee and the Property Committee; • Segregation of duties in the treasury and introduction of new controls in cash management and resource investment; • Development of tools for control and supervision; • Creation and implementation of the Handbook of Management and Governance; A Creche Betty Lafer atende 200 crianças em período integral. The Betty Lafer Creche attends 200 children full time. pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 121 • Introduction of the Code of Ethics; • Adoption of IT systems that are efficient and responsive to the needs of the institution; • Introduction of appropriate rules and practices for fundraising and resource collection. As a direct result of this work, Unibes can present gains in efficiency and better results in their operations, attracting new partners, donors and members to support its social assistance work. It is particularly important to note the growth of the donor and member base with positive impact on the collection of donations and members’ contributions in recent years. As a result, we observe an upward trend in the number of beneficiaries. All this effort has had just one goal: to expand and improve assistance service. Despite the increase in costs for users served and the increase in total expenditures for social assistance over the past few years, the institution has preserved the excellence of quality and efficiency of services provided. As Marcelo Felberg states, “Our challenge is constant. Efficient management and transparency principles are our goals. Practice good for the community and seek to serve in the best possible way our deprived public. We are committed to good administration and the financial health of Unibes. We practice a serious management, transparent and guided by high moral values. We encourage the participation of all, we believe in training and valorization of professionals, volunteers and of all collaborators in the institution. We are guided by respect towards one another and the integrity of our values. We are convinced that we are building a solid Unibes which is able to guarantee its continuity.” Division of Child and Adolescent Services The Division for Children and Adolescents, which has Gabriel Zitune as Vice President, and Silvia Rodarte and Gilson Kusminsky as directors, follows three main lines of work: the Early Childhood Center Betty Lafer (CEI), the Center for Children and Adolescents (CCA) and the Unibes Institute Vocational Training Program (George M. Klabin / GMK). For these, it partnered with private enterprise and the Municipality of São Paulo through the following departments: Mu- 122 da Unibes, voluntários e contou também com o apoio de consultores externos. O resultado superou as expectativas e entre vários outros pode-se destacar: • • • • • • • Criação de comitês e comissões subordinados à diretoria e/ ou ao conselho, incluindo o Comitê Financeiro e Investimentos e a Comissão de Imóveis; Segregação de funções na tesouraria e introdução de novos controles na gestão do caixa e aplicação de recursos; Desenvolvimento de ferramentas de controle e supervisão; Criação e aplicação do Manual de Gestão e Governança; Introdução do Código de Ética; Adoção de sistemas de informática eficientes e adequados às necessidades da instituição; Introdução de regras e práticas adequadas para a captação e arrecadação de recursos. Como resultado direto desse trabalho, a Unibes pode apresentar ganhos de eficiência e melhores resultados na sua operação, atraindo novos parceiros, doadores e sócios para apoiar seu trabalho de assistência social. É particularmente importante notar o crescimento na base de doadores e sócios com impacto positivo na arrecadação de donativos e nas contribuições de sócios nos últimos anos. Como resultado, observamos uma evolução no número de assistidos. Todo este esforço teve apenas um objetivo: expandir e melhorar o atendimento assistencial. A despeito do aumento nos custos por usuários atendidos e do aumento nos gastos totais com assistência social ao longo dos últimos anos, a instituição preservou a excelência de qualidade e eficiência nos serviços prestados. Conforme Marcelo Felberg: “Nosso desafio é constante. Gestão eficiente e transparência de princípios são os nossos objetivos. Praticamos o bem para a comunidade e buscamos atender da melhor forma possível nosso público carente. Nosso compromisso é com a boa administração e com a higidez financeira da Unibes. Praticamos uma gestão séria, transparente e pautada por elevados valores morais. Incentivamos a participação de todos, acreditamos na capacitação e valorização dos profissionais, voluntários e de pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s todos os colaboradores da instituição. Nos pautamos pelo respeito para com o próximo e a integridade de nossos valores. Temos convicção de que estamos construindo uma Unibes sólida e capaz de garantir sua perenidade”. Área da Criança e do Adolescente A Área da Criança e do Adolescente – que tem Gabriel Zitune como vice-presidente e Silvia Rodarte e Gilson Kusminsky como diretores – mantém três eixos principais de trabalho: o Centro de Educação Infantil (cei) Betty Lafer, o Centro da Criança e do Adolescente (cca) e o Programa de Capacitação Profissional Unibes – Instituto George M. Klabin (gmk). Para isso, estabeleceu parcerias com empresas privadas e com a Prefeitura de São Paulo através das seguintes secretarias: Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social – smads-cras Mooca –; Secretaria Especial de Participação e Parcerias – sepp-fumcad –; Secretaria Municipal de Educação – sme – e Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação – seme. O Centro de Educação Infantil (cei) Betty Lafer (conhecido como creche), mantido em parceria com a Secretaria Municipal de Educação (sme), atende 200 crianças por dia, entre dois e cinco anos de idade, em período integral. Basicamente são atendidas crianças de famílias carentes cujo pai ou mãe trabalha na região do Bom Retiro, Luz e adjacências. O Centro oferece um atendimento integral às crianças no campo social, educacional, psicológico, odontológico e alimentar, além de manter programas também para as famílias das crianças. Possui a Biblioteca Tatiana Belinky, com livros doados pela própria autora. O cei localiza-se à Rua Jorge Velho, 96, endereço histórico do Lar da Criança das Damas Israelitas aberto em 1939. O Centro da Criança e do Adolescente (cca), em convênio com a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (smads) e parceria de empresas privadas e da Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação (projeto Clube Escola), atende diariamente 600 crianças e adolescentes, em “situações de vulnerabilidade e risco”, entre 6 e 15 anos de idade, em horário inverso ao escolar, proporcionando atividades complementares às nicipal Secretary of Social Welfare and Development (SMADS–CRAS Mooca); the Special Secretary for Participation and Partnerships (SEPP– FUMCAD); and the Municipal Department of Education (SME); and the Municipal Secretary of Sports, Leisure and Recreation (SEME). The CEI Betty Lafer (known as creche), held in partnership with the SME, attends 200 children a day, between two and five years old, full-time. Primarily, the children attended come from poor families whose fathers or mothers work in Bom Retiro, Luz and the vicinity. The CEI offers comprehensive care for children in social, educational, psychological, dental and nutritional fields, and also maintains programs for children’s families. It includes the Tatiana Belinky Library, with books donated by the author herself. The CEI is located at Rua Jorge Velho,no 96, the address of the historic Lar da Criança das Damas Israelitas, founded in 1939. The CCA, in agreement with SMADS and partnership with private enterprise and the SEME (School Club Project), serves 600 children and adolescents daily, in “situations of vulnerability and risk”, between 6 and 15 years of age. In hours inverse to the school schedules, they provide complementary activities to those at school, with homework assistance, ballet, music, sports, judo, arts and crafts, recreation and diverse workshops. To perform the work, led by Zenóbia Duch a team is maintained, with teachers and expert educators for the workshops. Two projects are conducted in partnership with enterprises: an agreement with the Deutsche Bank maintains the orchestra and another, with Disney International, affords ballet classes. The GMK in the United States serves 350 youth per day/700 youth per year, aged 16 to 29, offering semiannual vocational courses in Office Routines, Cinematic Service, Computer Building and Maintenance, Hospitality, Web Design, Telemarketing, Restaurant Service — Waitstaff and Gastronomy. The courses—bearing partnerships with private companies—last one semester, Monday through Friday, full-time. Of the 700 youth who completed the training courses in 2009, 60% were sent to their first job. The area of vocational education still operates, in partnership with GMK, with nuclei in Francisco Mor- pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 123 Concertos musicais envolvendo crianças e jovens fazem parte do cotidiano da Unibes. Musical concerts involving children and young people are a part of the everyday of Unibes. ato, São Paulo State, and in Natal, Rio Grande do Norte State. To give continuity to the process of training professional and global youth, to provide the opportunity to voice their experiences, ideas and to stimulate their protagonism, Unibes created the magazine TransFormar, published every six months that addresses current issues, professional and social. The publication is coordinated by Silvia Rodarte and will be produced by young people themselves, in the Professional Training Program in a project process that involves lectures with journalists and other professionals. Youngsters served by the CCA and the GMK attend the Health and Quality of Life Project, developed in partnership with Johnson & Johnson, which aims at not only improving the quality of life and relationships of the adolescent, but also at reducing the frequency of unwanted pregnancies and the incidence of infection caused by HIV, AIDS, and STDs. The program serves about 400 students from neighboring schools and 300 representatives of organizations participating in the Journey of the Adolescent Health and Sexuality, mostly residents of Canindé, Bom Retiro, Pari and other nearby neighborhoods. In the Division for Children and Adolescents, the Social Service works with families of children 124 da escola, com acompanhamento escolar, balé, música, esportes, judô, artesanato, artes, recreação e oficinas diversas. Para realizar o trabalho, liderado por Zenóbia Duch, é mantida uma equipe com educadores e professores específicos para as oficinas. Dois projetos são realizados em parceria com empresas: um convênio com o Deutsche Bank permite manter uma orquestra e outro, com a Disney International, propicia as aulas de balé. O Programa de Capacitação Profissional Unibes – Instituto George M. Klabin (gmk) –, dos Estados Unidos, atende 350 jovens por dia/700 jovens por ano na faixa etária de 16 a 29 anos, oferecendo cursos profissionalizantes semestrais de Rotinas de Escritório, Atendimento em Cinema, Montagem e Manutenção de Computadores, Hotelaria, Web Designer, Telemarketing, Atendimento em Restaurante/Garçom e Gastronomia. Os cursos – que têm parcerias com empresas privadas – são semestrais, de segunda a sexta-feira, em período integral. Dos 700 jovens que concluíram os cursos profissionalizantes em 2009, 60% foram encaminhados para o primeiro trabalho (estágio de ensino médio, aprendiz e programa 1º Emprego). A área de ensino profissionalizante mantém ainda, em parceria com a gmk, núcleos em Francisco Morato (São Paulo) e Natal (Rio Grande do Norte). pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s Para dar continuidade ao processo de formação profissional e global do jovem, proporcionando a oportunidade de expor suas vivências, idéias e estimulando seu protagonismo, a Unibes criou a revista TransFormar, de periodicidade semestral que abordará temas atuais, profissionais e sociais. A publicação é coordenada por Silvia Rodarte e será produzida pelos próprios jovens do Programa de Capacitação Profissional em um processo de trabalho que envolve palestras com jornalistas e outros profissionais. Os jovens que estão no cca e no Programa de Capacitação Profissional frequentam o Projeto Saúde e Qualidade de Vida, desenvolvido em parceria com a Johnson & Johnson, que tem por objetivo promover a melhoria na qualidade de vida e relações do adolescente e, igualmente, reduzir a frequência de gravidez não desejada e a incidência da infecção causada pela hiv/aids/dst. O programa atende ainda cerca de 400 alunos de escolas da região e 300 representantes de entidades participantes da Jornada de Saúde e Sexualidade do Adolescente, em sua maioria moradores do Canindé, Bom Retiro, Pari e ouros bairros próximos. Na Área da Criança e do Adolescente, o Serviço Social trabalha com as famílias de crianças e jovens, realizando trabalho socioeducativo de orientação, encaminhamento e acompanhamento para 480 famílias. No contexto das atividades da Área da Criança e do Adolescente, a Unibes realizou a iv Ação Cidadã 2010, com diversas atividades de promoção à saúde, cultura, lazer, esporte e cidadania para toda a família, com o objetivo de atender o maior número possível de pessoas do entorno comunitário e a população dos bairros adjacentes. É um exemplo de atividades promovidas pela entidade em prol da população local e de sua capacidade de mobilização e de estabelecer parcerias públicas e privadas. Foram realizados mais de 13.000 atendimentos, contando com 500 voluntários e diversos parceiros dos poderes público e privado. Existe também o Programa Ieladim (Crianças), que acolhe mais de 250 crianças e jovens oferecendo bolsa escolar (para ensino fundamental e médio) e universitária; neste mesmo projeto uma parceria com a Fundação Arymax oferece 27 bolsas para ensino fundamental e médio. “A atuação na Área da Criança e do Adolescente me trouxe uma visão institucional diferente. A prefeitura tem respeito pelo and youngsters, developing a work of socio-educational orientation, referral and monitoring for 480 families. Within the context of the activities of the Division for Children and Adolescents, Unibes held the 4th Citizen Action 2010, with various activities to promote health, culture, leisure, sport, and citizenship for the whole family, with the objective of serving the largest possible number of people in the surrounding community and the population of adjacent neighborhoods. It was an exemplary activity, among many others, promoted by the institution on behalf of local people. It proved able to mobilize and establish public and private partnerships. More than 13,000 services were performed by 500 volunteers and several partners in the public and private sectors. Last but not least, the Ieladim Program for children reaches out to more than 250 children and youngsters by offering scholarships (for elementary and high school) and university (academic). A partnership with the Arymax Foundation offers 27 scholarships for elementary and high school education. “The activities in the Division for Children and Adolescents brought me a different institutional vision. The municipal government respects the work of the community. Unibes does it well. The partnerships have a lot of visibility. These conditions are largely due to professionals who are in authority. They are wonderful, they are committed, the volunteers enable this work. Mrs. Zenobia Duch, one of the departmental professionals, for example, was awarded the Citizenship Prize (‘Cidadã Paulistana’, or in English, Sao Paulo Citizen). One must say the public recognition of the public sounds great. Inspections, fiscal evaluations and their results have always been very positive”, affirms Vice President Gabriel Zitune, who has worked as an Unibes volunteer for 18 years and begun his activity with the elderly, visiting them at home and carrying out outings and other activities, thus “doing away with their loneliness and ostracism”. He was then the Vice President of the Social Service Department, under the management of Anita Schuartz, when the area underwent a modernization process. In the current administration, he assumed the vice presidency of the Division for Children and Adolescents. He points out the importance of the Forum of Leaders and Technicians of the Israelite pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 125 Federation of Sao Paulo State, which brought the community’s charities together in order to discuss departmental issues. Unibes Social Service Department According to a 2009 report, 1,397 families (totaling 5,100 people) were served by the Department of Social Services. A most recent report, in August 2010, recorded 1,464 families served. The Department of Social Service has Barbara Regina Lerner as Vice President and Denise Coin Kusminsky as Director. In the 85th Unibes anniversary book, Mrs. Esther Koch (Lenhard) stated that the work of social assistance, developed by the team in the Department of Social Service, has had a character regarded as modern for their time since 1944. As Esther assumes it is not merely about a simple charity, that is helping the needy, relieving their suffering. What this work aims at allowing for users to obtain, through social assistance, the necessary tools to lead a dignified life, becoming the protagonists of their own history and independence from the institutions. Based on this concept, Unibes structured itself to supply the community it serves with a professionalized service, with a view of empowering families and their social reintegration. Under the leadership of Social Assistant Arlete A. Nago, who has devoted 17 years of her professional life to the institution, various programs have been developed: Family Assistance, Mental Health, Social Center for the elderly, Or Group to Visit the Elderly, Income Generation, Private Pharmacy. A multidisciplinary team now has nine social workers, aside from a psychologist, a lawyer, a nurse, a physiotherapist, an administrator and an occupational therapist, in addition to an administrative staff. A social study is conducted for each family served, using a tool developed by the technical team. They objectively provide the conditions to draw a plan of individualized, comprehensive care, aiming not only at improving the quality of life (health and education), but also at strengthening personal and familiar self-esteem, restoring the autonomy to confront life. It is the work of the multidisciplinary team that includes partners such as the Jewish In- 126 trabalho da comunidade. A Unibes faz bem feito. As parcerias têm muita visibilidade. Esta condição se deve em grande parte aos profissionais que estão na entidade, são maravilhosos, vestem a camisa, os voluntários viabilizam esse trabalho. Zenobia Duch, profissional da área, por exemplo, recebeu o título de ‘Cidadã Paulistana’. O reconhecimento da rede pública é muito grande. Supervisores e fiscais avaliam e o resultado é sempre muito positivo”, afirma o vice-presidente Gabriel Zitune, que trabalha como voluntário na Unibes há 18 anos e começou sua atividade com pessoas da terceira idade, visitando-as em casa e fazendo passeios e outras atividades, “retirando as pessoas da solidão e do ostracismo”; depois ele foi vice-presidente do Serviço Social na gestão de Anita Schuartz, quando a área passou por um processo de modernização e, na atual gestão, assumiu a vice-presidência da Área da Criança e do Adolescente. Ele lembra a importância do Fórum dos Dirigentes e dos Técnicos da Federação Israelita do Estado de São Paulo, que reunia as entidades assistenciais da comunidade para discutir conjuntamente as questões do setor. Área de Serviço Social da Unibes Conforme o relatório de 2009 foram atendidas pelo Departamento de Serviço Social 1.397 famílias num total de 5.100 pessoas. O dado mais recente, de agosto de 2010, registrava 1.464 famílias atendidas. A área de Serviço Social tem como vice-presidente Barbara Regina Lerner e como diretora, Denise Coin Kusminsky. Desde 1944, conforme o depoimento de Esther Koch (Lenhard) ao livro de 85 anos, o trabalho de assistência social desenvolvido pela equipe do Departamento de Serviço Social da Unibes teve um caráter considerado moderno em sua época. Como contou Esther, não se trata meramente de uma simples caridade, ou seja, ajudar aos necessitados, aliviando os seus sofrimentos. O que este trabalho visa é dar a possibilidade de que os usuários possam obter, através da assistência social, as ferramentas necessárias para viverem dignamente, constituindo-se em protagonistas de sua história e independentes das instituições. Partindo deste conceito, a Unibes se estruturou para dar à comunidade que dela necessita um atendimento profissionalizado, pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s com vistas à autonomização das famílias e sua reinserção social. Sob a liderança da Assistente Social Arlete A. Nago, que trabalha há 17 anos na instituição, vários programas são desenvolvidos: atendimento às famílias, Saúde Mental, Centro de Convivência para os idosos, Grupo Or para visitação de idosos, Geração de Renda, Farmácia Privativa. A equipe multiprofissional atual conta com nove assistentes sociais, uma psicóloga, uma advogada, uma enfermeira, uma fisioterapeuta, uma administradora e uma terapeuta ocupacional, além dos funcionários administrativos. Para cada família atendida é realizado estudo social e utilizada uma ferramenta desenvolvida pela equipe técnica que proporciona a condição de traçar de forma objetiva um plano de atendimento individualizado e abrangente, visando não apenas a melhoria da qualidade de vida (saúde e educação), como também o reforço da autoestima pessoal e familiar, resgatando a autonomia para o enfrentamento da vida. Trata-se do trabalho da equipe multiprofissional que conta com parcerias como a do Instituto Israelita de Responsabilidade Social – sibib Hospital Albert Einstein, para o atendimento médico-hospitalar, como a de uma carteira de profissionais voluntários (médicos, dentistas, psiquiatras, psicólogos e fonoaudiólogos, entre outros) que oferecem consultas e tratamentos de cortesia, e de laboratórios que oferecem alguns exames gratuitamente. A Saúde Mental é um programa de destaque: a entidade mantém uma Moradia Assistida onde vivem quatro usuários, assim como contrata uma clínica terapêutica para outros 14 usuários com autonomia relativa e frequentam o Centro de Convivência da Unibes, onde realizam atividades sob a orientação de uma terapeuta ocupacional. Além disso, oferece atendimento médico psiquiátrico ambulatorial para 143 pacientes anualmente, bem como internações integrais para os casos agudos. Dentre seus vários programas, existe aquele direcionado à Geração de Renda, no qual um profissional da área ministra noções de empreendedorismo, e talentos são descobertos, devolvendo as famílias ao mercado. O voluntariado – Grupo Or – presta um papel inestimável, realizando visitas a pacientes em hospitais e, principalmente, fazendo visitas domiciliares aos idosos em situação de isolamento que não têm ou não contam com o apoio da família. O stitute for Social Responsibility (SIBIB Hospital Albert Einstein), for medical and hospital attendance, as a portfolio of volunteer professionals (doctors, dentists, psychiatrists, psychologists and speech therapists, among others) that offer complimentary consultations and treatments, and some laboratories that offer free testing. Attention is to be drawn to the Mental Health Program: the institution maintains an Assisted Living Facility which houses four users, as well as hires a therapeutic clinic to serve fourteen other users who have relative autonomy. They attend the Centro de Convivência (Sharing Center) at Unibes, where they engage in activities under the guidance of an occupational therapist. Furthermore, it provides outpatient psychiatric medical care for 143 patients annually, as well as full admissions for acute cases. Among its many programs, one should highlight the Income Generation Program, in which a professional from the entrepreneurship field works to discover talents, returning the families to the market. The volunteer Or Group plays an invaluable role, carrying out visits to patients in hospitals and, especially, making home visits to elderly people in isolation who do not have or cannot count on family support. The elderly are encouraged to attend the Sharing Center, thus helping themselves towards their re-socialization. These volunteers rely on thorough training, support from a psychologist and monitoring of the departmental social workers when carrying out their work. The Sharing Center, directed by Mrs. Olga de Salomon, where 63 users are involved, continues the work of caring for the elderly that was formerly conducted by Libe Group. Open daily (serving approximately 30 seniors per day, Monday through Friday from 2:00 pm to 4:00 pm), it provides users with cultural afternoons, physiotherapy, and group work aiming at adapting to daily physical activities, activities in the area of gastronomy (in which flavors bring back childhood memories and cultural roots), in addition to outings. All festivals in the Jewish calendar are celebrated with a massive presence of users. The Centro de Convivência strengthens associative, productive and promoting activities, thus contributing to auton- pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 127 omy, healthy aging, prevention of social isolation, and encouraging cultural and religious reinsertion, socialization with other groups and improved quality of life. Population aging is already being noted among Unibes users. The elderly of the Sharing Center go beyond the “senior’ age, as some are close to the tenth decade of life. The institution has to be increasingly prepared to provide for an aging and more fragile population with adequate quality and technology. The technology in health care extends life with quality, but at rising costs. To be prepared to maintain the quality of care ahead for the new parameters is an ongoing challenge, for which the institution intends to rely on their partners. Unibes maintains a Private Pharmacy which daily receives about 200 visitors. The Director of the pharmacy is Sara Cubric. The cost of medicine has proved a quite significant budget item for middle class families and older people, which makes it very important to relieve the household budget. The pharmacy receives donations of medicines within their validity and works with a donation system of free samples from hundreds of registered physicians who provide them to the institution. It relies on the work of a professional pharmacist to ensure the quality of medicines and the service provided. Unibes is also a support agency for Brazil in the Claims–Conference of Jewish Material Claims Against Germany, which serves, with funds for compensation from various governments and European banks a total of 280 victims of Nazi persecution who live in Brazil. The institution relies, this program in particular, on the management of yhe social worker João Batista Adduci, under the coordination of Director Theodoro Flank. Depositions of Directors and collaborators The history, mission, perspectives and future challenges of UNIBES are part of the everyday life of its directors, volunteers, and collaborators. Working for UNIBES is an experience that helps to transform the institution and its work, but also the personal life of each collaborator. For Meyer Joseph Nigri, Vice president of Market Relations in the 2006-2008 and 2009- 128 idoso visitado é estimulado a ir ao Centro de Convivência, visando sua ressocialização. Estes voluntários passam por um treinamento criterioso, recebem apoio de um psicólogo e o acompanhamento dos assistentes sociais da área quando da realização de seu trabalho. O Centro de Convivência – que tem como diretora Olga de Salomon –, do qual participam 63 usuários, prossegue o trabalho de atenção ao idoso que era realizado pelo antigo Grupo Libe. Funciona diariamente (atende cerca de 30 idosos por dia, de segunda a sexta-feira das 14h às 16h), proporcionando aos usuários tardes culturais, atenção de fisioterapeuta, trabalhos em grupo visando a adequação às atividades físicas diárias, atividades na área de gastronomia (nas quais rememoram os sabores de sua infância e suas raízes culturais), além de passeios. Todas as festas do calendário judaico são comemoradas com a presença maciça de usuários. O Centro de Convivência fortalece as atividades associativas, produtivas e promocionais, contribuindo para a autonomia, o envelhecimento saudável, a prevenção ao isolamento social, a promoção da reinserção cultural e religiosa, a socialização com outros grupos para a melhor qualidade de vida. O envelhecimento populacional já se faz notar nos usuários da Unibes. Os idosos do Centro de Convivência estão além da “terceira” idade, já que alguns estão próximos da décima década de vida. A entidade tem que estar preparada para, cada vez mais, atender a uma população idosa e mais fragilizada com qualidade e tecnologia adequadas. A tecnologia na área da saúde prolonga a vida com qualidade, porém com custos ascendentes. Estar preparado para manter a qualidade do atendimento diante de novos parâmetros é desafio constante, para o qual a entidade pretende contar com seus parceiros. A Unibes mantém a Farmácia Privativa que realiza cerca de 200 atendimentos diários. A diretora de Farmácia é Sara Cubric. O custo do remédio tem sido um item muito significativo no orçamento das famílias de classe média e de pessoas idosas, o que torna a Farmácia muito importante para aliviar o orçamento doméstico. A Farmácia recebe doação de remédios dentro da validade e trabalha com um sistema de doação de amostras grátis de centenas de médicos cadastrados que os fornecem à entidade. Um profissional farmacêutico garante a qualidade dos medicamentos e do atendimento prestado. pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s Trabalhos de pintura da quadra de esportes da Unibes, que utilizam diversas técnicas, como a colagem, o spray e o stencil. Works of art at the sports court at Unibes, utilizing various techniques, such as collage, spray paint, and stencil. A Unibes é também a agência de suporte para o Brasil da Claims – Conference of Jewish Material Claims Againt Germany –, na qual atende, com verba indenizatória proveniente de vários governos e bancos europeus, um total de 280 vítimas da perseguição nazista que vivem no Brasil. Conta, neste programa específico, com a gerência do assistente social João Baptista Adduci, sob a coordenação do diretor Theodoro Flank. Depoimentos de diretores e colaboradores A história, a missão e as perspectivas e desafios futuros da Unibes fazem parte do dia a dia de seus diretores voluntários e colaboradores. Trabalhar para a Unibes é uma experiência que contribui para transformar a entidade e seu trabalho, mas também a vida pessoal de cada um dos colaboradores. Para Meyer Joseph Nigri, vice-presidente de Relações com o Mercado na gestões 2006-2008 e 2009-2011, “A Unibes não auxilia somente a comunidade judaica, como muitos acreditam. Seu trabalho é sim muito importante para a comunidade, pois 10% dos judeus na cidade dependem da assistência da fundação. A Unibes garante o acesso a alimentos, moradias e remédios para seus assistidos, ao mesmo tempo em que apoia creches, farmácias e outras obras assistenciais, que não estão, necessariamente, voltadas à comunidade judaica. 2011 administrations, “UNIBES doesn’t just help the Jewish community, as many believe. Its work is very important to this community, as 10% of Jews in the city depend on the foundation’s assistance. UNIBES guarantees access to food, shelter and medicine to those assisted, while supporting child care, pharmacy and other charities, which are not necessarily directed at the Jewish community.” “The greatest wish is that in future there no longer exists so many poor people dependent on the support of foundations and institutions like UNIBES. But while the need exists, it is important that we have entities that perform exemplary works such as this. A world that is more fair and balanced is our challenge. So we need to publicize and educate more people about the activities of the institution. Thus, we can engage more people in a cause as important and noble as this.” “The dream of a fairer world does not just belong to the Jewish community, but also to the citizens of the world, with many different faiths and many diverse ethnicities. Through consistent work we will involve the next generations so that all this effort will not disappear overnight. On the contrary, we are working toward the expansion and perpetuation of the project.” Nelson Morales, in turn, says: “For many years I looked for alternatives so that I could engage in a social project, one that would complete me as a person and increase the degree of satisfaction with myself. In 2006, after a lunch with pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 129 Bruno Laskowsky, who came to promote a major change in my life, I engaged in UNIBES, on a journey that has lasted five years. “During these years I have learned the organization in a profound way, with the responsibility for preparing the annual budget, I had access to all areas and activities of UNIBES and, more importantly, all the key people within the entity.” “In these intense years of working together I have met some fantastic people, with deep knowledge of their various activities, and I learned how great the importance is the social role of an entity like UNIBES. And also how a group, so dedicated and competent, is able to promote social action and help people simply by touching their lives in sensitive moments, but convincingly, leading them in directions which, unaided, they could not have landed.” “I discovered that there is excellence in activites oriented not for profit, but oriented for social wellbeing and justice. I discovered a new universe of people that changed my understanding of the meaning of the word donate. UNIBES led me to a transformation and a better understanding of how we can give ourselves as part of a group of dedicated and well-intentioned people, based on high ethical values, and promote positive change in the lives of people in need, of the most variable forms of aid.” In the words of Marcelo Blay, Vice President of Administration and Finance between 2006 and 2008: “UNIBES, throughout its 95 year history, moved from an organization that supported Jewish refugees to became a social welfare institution to underprivileged community in the city of São Paulo, having as its principal focus, complementing the education and food supply for thousands of young people. Through professionalized training courses, these young people are given an opportunity to enter the job market, with a very high rate of employability, and in many cases, their pay will become the main source of family income. We have cases of young people prepared by UNIBES vocational courses in conjunction with key partners from the private sector, who started out in renowned law firms as office boys, and today hold law degrees and have their own offices.” “UNIBES fights daily for a fairer world, but it depends on the generosity of donors, whether individuals or corporations, to continue their 130 “O maior desejo é que no futuro não existam mais tantas pessoas carentes na dependência do apoio de fundações e instituições como a Unibes. Mas enquanto existe a carência, é importante termos entidades que desempenhem trabalhos exemplares como o desta entidade. Um mundo mais justo e equilibrado é o nosso desafio. Por isso, precisamos divulgar e conscientizar cada vez mais pessoas sobre as atividades da instituição. Assim, conseguiremos engajar mais pessoas em uma causa tão importante e nobre como essa. “O sonho de um mundo mais justo não pertence só à comunidade judaica, mas também a cidadãos do mundo todo com os mais diferente credos e as mais diversas etnias. Através de um trabalho consistente vamos envolver as próximas gerações para que todo este esforço não desapareça da noite para o dia. Pelo contrário, trabalhamos pela ampliação e perpetuação do projeto.” Nelson Moraes, por sua vez, conta: “Durante muitos anos busquei alternativas para que eu pudesse me engajar em um projeto social, algo que pudesse me completar como pessoa e elevar o grau de satisfação comigo mesmo. Em 2006, depois de um almoço com Bruno Laskowsky, que veio a promover uma grande modificação em minha vida, me engajei na Unibes, em uma jornada que já dura cinco anos. “Durante esses anos conheci a entidade de uma forma profunda, pois tendo como responsabilidade a preparação do orçamento anual, tive acesso a todas as áreas e atividades da Unibes e, mais importante, a todas as pessoas chaves da entidade. “Nesses anos de intensa convivência conheci pessoas fantásticas, com profundo conhecimento das suas diversas atividades e aprendi o quão importante é o papel social de uma entidade como a Unibes. E também como um grupo tão dedicado e competente é capaz de promover ações sociais e ajudar pessoas simplesmente tocando em suas vidas em momentos sensíveis, mas de forma contundente, levando-os em direções às quais, sem ajuda, elas não teriam como chegar. “Descobri que existe excelência em atividades não orientadas ao lucro, mas tão somente ao social e ao justo. Descobri um novo universo de pessoas que modificaram o meu entendimento do significado da palavra doar. A Unibes conduziu em mim uma pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s transformação e uma melhor compreensão de como podemos nos doar fazendo parte de um grupo de pessoas dedicadas e bem intencionadas que, baseadas em valores éticos elevados, promovem mudanças positivas nas vidas de pessoas que precisam das mais variáveis formas de ajuda.” Nas palavras de Marcelo Blay, vice-presidente Administrativo e Financeiro entre 2006 e 2008: “A Unibes, ao longo de seus 95 anos de existência, partiu de uma entidade de apoio a refugiados judeus e passou a ser uma instituição de assistência social à comunidade carente da cidade de São Paulo, tendo como principal foco a complementação da educação e a alimentação de milhares de jovens. Através de cursos profissionalizantes é dada uma oportunidade para que estes jovens consigam ingressar no mercado de trabalho, tendo um índice de empregabilidade altíssimo e, em muitas situações, sua remuneração passa a ser a principal fonte de renda da família. Temos casos de jovens preparados pelos cursos profissionalizantes da Unibes em conjunto com importantes parceiros da iniciativa privada, que ingressaram em empresas renomadas de advocacia como office-boys e hoje são formados em Direito e possuem seu próprio escritório. “A Unibes luta diariamente por um mundo mais justo, mas depende da generosidade de doadores, sejam pessoas físicas ou jurídicas, para continuar seu trabalho de excelência, reconhecido por uma grande quantidade de prêmios obtidos ao longo de sua quase centenária existência. Este é um dos principais desafios, a obtenção de recursos para manutenção de projetos de eficiência comprovada e a sua ampliação, para que mais garotas e garotos possam sonhar com um futuro promissor, para que vislumbrem a oportunidade de realizarem seus sonhos. “São 95 anos de trabalho abnegado, uma maratona com obstáculos na qual o grande desafio continua sendo sua sobrevivência, numa corrida onde o bastão é passado de geração a geração para que o sonho de milhares de pessoas que passaram pela Unibes – seus fundadores, voluntários, usuários, funcionários, doadores, governantes e poder público – possa se perpetuar e inspirar novos líderes a manter acesa esta esperança de uma vida mais digna para aqueles que necessitam de apoio, carinho e educação.” excellent work, recognized with many awards achieved throughout its nearly century-old existence. This is one of the main challenges, securing resources to maintain its projects which have proven efficient and its amplification, so that more boys and girls can dream of a brighter future, to envisage the opportunity to realize their dreams.” “They are 95 years of selfless work, a marathon with obstacles in which the major challenge continues to be its survival, in a race where the baton is passed from generation to generation so that the dream of thousands of people who have passed through UNIBES - its founders, volunteers, users, staff, donors, governors and public authorities - can perpetuate and inspire new leaders to keep alive this hope of a better life for those who need support, care and education.” According Luiz Kignel, Chief Counsel in the 2006-2008 and 2009-2011 administrations: “After completing 95 years of existence, UNIBES reasserts itself as an entity of excellence in the provision of social services. Its age, however, does not weigh it down. With a leadership that combines an active group of committed volunteers and professionals who seek to give their best in social welfare, there can be no other result. The work built by UNIBES went beyond the foundations of its own headquarters, its bazaars, its assistanct activities. It reaches the intangible needs of its assisted in moral support and spiritual redemption, bringing a message of hope and empowerment for those in need.” “For everything it’s done, UNIBES could have said that its duty was fulfilled. But this is not what happened. What has already been realized is done, and should be maintained. And then, instead of settling, it went in search of new challenges. To participate in this great UNIBES family is to feel a part of a larger project. It is to have the satisfaction of being integrated with the highest principles of Jewish faith. As our wise taught, ‘an act is worth more than a thousand sighs.’ And to be in UNIBES is to continuously practice an act in favor of those in need.” In the words of André Coji, General Treasurer and Public Relations Director in the 2006-2008 administration, “UNIBES is grand for its excellence. Excellence in its mission to the welfare of pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 131 others, in its successful activities, in its national recognition, and in the fact that it now completes 95 years of hard work, effort, dedication, and, especially, 95 years helping needy families, something that shows not only its humanistic character, but also its Jewish character.” “It’s a privilege to be part of its story. An entity such as this only made my pleasure in helping others grow, and likewise completed me as a person. I came to know how to reserve part of my time for those who needed me. It is a unique feeling.” Regina First remembers that she began working as a volunteer at UNIBES at the invitation of Fanny Felmanas, then worked with Cecilia Cohn – in the treasury and then general secretary, the function in which she remains until today with the 2009-2011 administration: “It has been over 50 years of volunteer work. I worked under the administrations of Rachel Bacaleinick, Petronia Chapera Teperman, Anita Schuartz, Dora Lúcia Brenner, and Bruno Laskowsky. The dedication to this work came from the example of my grandmother, who was a founder of the Sociedade das Damas Israelitas de São Paulo. I felt that the work was part of my grandmother’s life and it was this sentiment that motivated my coming to UNIBES. At first it was a limited Society and today, through the needs and the development of the country, the Society has become more ample. UNIBES was adapting to these changes and growing in all sectors, with integrity and respect, never aiming at profit but by targeting the goal of welfare of the individual within society. UNIBES has always been and will continue to be an example for other institutions, worthy of respect and admiration for the work of people dedicated to social assistance. The new generation must be part of this context, if interested, to take part in social actions and devote himself to social work: only then will we give continuity to this institution 95 years.” Joint efforts Globalization creates new demands, forcing the institution to adapt to changing times. Refresher courses for both professionals and volunteers are indispensible so that the institution can operate at the forefront of social assistance, 132 Segundo Luiz Kignel, diretor Jurídico na gestões 2006-2008 e 2009-2011: “Ao completar 95 anos de existência, a Unibes se reafirma como uma entidade de excelência na prestação dos serviços de assistência social. A idade, todavia, não lhe pesa. Com uma liderança atuante que mescla um grupo de voluntariado comprometido e profissionais que buscam dar o melhor de si na assistência social, outro não poderia ser o resultado. A obra construída pela Unibes foi além dos alicerces de sua sede própria, de seus bazares, de suas obras assistenciais. Ela alcança as necessidades intangíveis de seus assistidos no apoio moral e no espírito de resgate, trazendo uma mensagem de esperança e fortalecimento aos que dela necessitam. “Por tudo que já fez, a Unibes poderia dizer que seu dever foi cumprido. Mas não é isto que ocorre. O que já foi realizado está cumprido e deve ser mantido. E então, ao invés de acomodar-se, parte em busca de novos desafios. Participar desta grande Família Unibes é sentir-se parte de um projeto maior. É ter a satisfação de estar integrado aos princípios mais elevados da fé judaica. Como ensinaram nossos sábios, ‘um ato vale mais do que mil suspiros’. E estar na Unibes é praticar continuamente um ato em favor dos necessitados.” Nas palavras de André Coji, Tesoureiro-Geral e diretor de Relações com o Mercado na gestão 2006-2008, “A Unibes é grandiosa por excelência. Excelência em sua missão para o bem do próximo, em suas atividades bem sucedidas, em seu reconhecimento nacional e pelo fato de agora completar 95 anos de muito trabalho, esforço, dedicação e, principalmente, 95 anos ajudando famílias necessitadas, algo que demonstra não só o seu caráter humanístico, mas também judaico. É um privilegio fazer parte de sua história. Uma entidade como esta só fez com que minha satisfação em ajudar o próximo crescesse, e assim me completei como pessoa. Soube reservar parte de meu tempo àqueles que necessitam de mim. Esse é um sentimento único.” Regina First lembra que começou a trabalhar como voluntária na Unibes a convite de Fanny Felmanas, depois trabalhou com Cecília Cohn – na tesouraria e depois secretária geral, função em que permanece até hoje na gestão 2009-2011: “São mais de 50 anos de trabalho voluntário. Passei pelas gestões de Rachel Bacaleinick, Petronia Chapira Teperman, Anita Schuartz, Dora Lúcia Brenner pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s A atuação do Voluntariado permite levar adiante diversos projetos. The work of volunteers allows the entity to carry out diverse projects. Os Bazares vêm contribuindo para tornar a entidade autosustentável The Bazaars continue to make the entity self-sustaining. e Bruno Laskowsky. A dedicação deste trabalho veio do exemplo da minha avó, que foi uma das fundadoras da Sociedade das Damas Israelitas de São Paulo. Eu sentia que o trabalho fazia parte da vida da minha avó e foi este sentimento que motivou a minha vinda para a Unibes. No começo era uma Sociedade restrita e hoje, pelas necessidades e o desenvolvimento do País, a Sociedade se tornou ampla. A Unibes foi se adaptando a estas mudanças e crescendo em todos os setores, com integridade e respeito, nunca visando fins lucrativos e sim visando o objetivo do bem-estar do indivíduo dentro da sociedade. A Unibes sempre foi e será um exemplo para as outras instituições, merecedora de respeito e admiração das pessoas pelo trabalho dedicado a assistência social. A nova geração tem que fazer parte deste contexto, se interessar, tomar parte de ações sociais e se dedicar ao trabalho social; só assim daremos continuidade a esta instituição de 95 anos.” A conjugação de esforços A globalização cria novas exigências, fazendo com que a entidade tenha que se adaptar aos novos tempos. Cursos de atualização, tanto para profissionais como para voluntários, são indispensáveis para que a instituição possa atuar na vanguarda da assistência social, em acordo com a nova legislação do País, que visa, cada vez mais, a inclusão social, a equidade e a universalidade in accordance with the new legislation in the country. It aims, increasingly, at social inclusion, equity and universality in attendance. The engagement of new generations in the workplace is essential. Transparency in administration and intervention, certification and quality standards are goals that Unibes imposes upon itself to maintain the leadership reached in the assistance to the population that comes to it, in pursuit of improving the destiny of the community. Volunteering plays a major role within the institution. It is thanks to these people who dedicate their time and talent to the cause of the institution that projects are taken forward. The organization maintains a Volunteer Department, headed by Ahuva Flit, who coordinates the fundraising, recruitment and candidate selection for volunteers, according to the needs of Unibes, later monitoring the performance and satisfaction of each. Currently Unibes has 208 active volunteers distributed among its various departments including: Board and Counsel; Nursery, Nota Fiscal Paulista; Home Visits (Or Group); Holocaust, Inhome Dentistry; Social Service, Pharmacy, Bazaars, Sharing Center (Senior Service), Income Generation Group; Speech Therapy; Horticulture, Fundraising, Marketing, Specialized Medicine, and Events. “Working as a volunteer at Unibes has proved a unique experience. I never imagined, when invited to join the board, I was entering into a two- pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 133 way street”, says Mr. Marcelo Felberg, adding afterwards: “It is a fact that contributes greatly to my personal and professional experience to assist managing the institution. I also however recognize that I have learned a great deal enjoying the interaction with capable people and some rich life experience. The practice of mitzvah and tzedakah ceased to be words and became actions, setting an example for my children. I am proud to participate in management that leads Unibes to a new level of excellence without losing its main reason for being: doing good and helping others.” When explaining what motivated him to assume the presidency of Unibes, Mr. Bruno Laskowsky narrates: “In accepting the invitation to be President, I took up a three-dimensional challenge: at this time in life, a desire to donate my time and to lend a contribution to a collective work to community life, as a citizen, to set an example in my own home for my children, by making some concrete work and opening a perspective for them, and, finally, to get an interest in learning and face the challenge of working in education and social welfare, believing that they are complementary to my education and that I would acquire new tools.” The three dimensions fortunately took place, says Bruno. Anita Kaufman Schuartz, former President of the organization who is now an Honorary Chairman, recalls: “My love story with volunteering goes way back. It began in 1963 when, following my cousin Selma Schuchman’s invitation, I went to learn about the institution where she worked as a secretary — the Jewish Feminine Organization for Social Assistance (Ofidas) — which is now Unibes. I started as a ‘voluntary social visitor’ and, after engaging in many other activities, tasks and positions, 47 years have passed. Today I occupy the post of Honorary President, of which I am very proud. The institution was present in almost two-thirds of my life. I was a general soldier for several years, Vice President for five administrations, the Executive Chairwoman for three administrations and Deliberative Counsel for two terms.” “I have given a lot of thought to all the causes for which they fought and still fight, When recalling my career as a volunteer and community leader, I realize that I have never lost the strong determination, whatever the scenario. I learned, 134 no atendimento. O engajamento das novas gerações no trabalho é imprescindível. Transparência na administração e na intervenção, certificação e parâmetros de qualidade são metas que a Unibes se impõe para manter a liderança alcançada no atendimento à população que chega a ela e na procura da melhoria do destino da comunidade. O trabalho voluntário desempenha um papel importante dentro da entidade, pois, graças a estas pessoas que dedicam seu tempo e talento à causa da entidade é que os projetos são levados adiante. A entidade mantém um Departamento de Voluntariado – dirigido por Ahuva Flit – que coordena a captação, o recrutamento e a seleção dos candidatos a voluntário de acordo com as necessidades da Unibes e, posteriormente, acompanha o desempenho e a satisfação de cada um deles. Atualmente a Unibes dispõe de 208 voluntários ativos nos diversos departamentos, entre eles: Diretoria e Conselho; Creche; Nota Fiscal Paulista; Visitas Domiciliares (Grupo or); Holocausto; Dentistas Domiciliares; Serviço Social; Farmácia; Bazares; Centro de Convivência (3ª Idade); Grupo de Geração de Renda; Fonoaudiólogos; Horta; Captação de Recursos; Marketing; Médicos Especializados e Eventos. “Trabalhar como voluntário na Unibes tem se mostrado uma experiência única. Não imaginava, quando convidado a me juntar à diretoria, que estava entrando em uma avenida de duas mãos”, conta Marcelo Felberg, acrescentando: “É fato que muito contribuí com minha experiência pessoal e profissional para ajudar na gestão da instituição, mas também reconheço que muito aprendi usufruindo da convivência com pessoas capazes e com rica experiência de vida. A prática da mitzvá e da tzedaká deixaram de ser palavras e tornaram-se ações servindo de exemplo para meus filhos. Tenho orgulho de participar de uma gestão que conduziu a Unibes para um novo patamar de excelência de gestão sem perder a sua principal razão de ser: praticar o bem e ajudar o próximo.” Explicando o que o motivou a assumir a presidência da Unibes, Bruno Laskowsky conta: “Ao aceitar o convite para ser presidente, assumi um desafio com três dimensões: a vontade de, neste momento de vida, doar meu tempo e emprestar para a vida comunitária, como cidadão, uma contribuição a um trabalho coletivo; pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s dar o exemplo na minha própria casa para os meus filhos, fazendo um trabalho concreto e abrindo uma perspectiva para eles e, por fim, o interesse no aprendizado e o desafio de trabalhar na área de educação e assistência social, acreditando que seriam complementares à minha formação e que adquiriria novas ferramentas”. As três dimensões felizmente se realizaram, afirma Bruno. Anita Kaufman Schuartz, que foi presidente da entidade e hoje é presidente honorária, lembra: “Minha história de amor com o voluntariado é muito longa, começou em 1963 quando, a convite da minha prima Selma Schuchman, fui conhecer a instituição onde ela trabalhava como secretária – a Organização Feminina Israelita de Assistência Social (Ofidas) – que hoje é a Unibes. Comecei como ‘visitadora social voluntária’ e, depois de muitas outras atividades, tarefas e cargos, já lá se vão 47 anos. Hoje ocupo o cargo de presidente honorária, o que muito me orgulha. A entidade esteve presente em quase 2/3 da minha vida. Fui soldado raso por vários anos, vice-presidente por cinco gestões, presidente do executivo por três gestões e presidente do conselho deliberativo por duas gestões”. “Tenho pensado muito em todas as causas pelas quais lutei e ainda luto e, procurando relembrar minha trajetória como voluntária e dirigente comunitária, percebo que jamais perdi a firme determinação, qualquer que fosse o cenário, de aprender, de ensinar, de tentar transformar, de integrar ações que pautaram minha formação de educadora e reforçaram meu papel de trabalhadora social”, prossegue Anita, completando: “Olho para dentro de mim mesma e vejo que foi como educadora que me senti a vida inteira, e foi com essa visão e sob essa ótica que baseei toda a minha atuação como voluntária e dirigente comunitária por tantos anos no trabalho social: a criança e o jovem, sempre, sempre, sempre; as famílias carentes, para todo o sempre. Milagres acontecem como expressão de amor e concretização de sonhos. A Unibes permitiu que grandes desafios fossem vencidos e grandes sonhos concretizados, realizando o desejo de centenas e centenas de voluntários que, como eu, amam o que fazem e lutam pela melhoria de vida dos menos favorecidos e pela educação dos jovens”. A qualidade dos atendimentos e dos programas sociais da Unibes já obteve o máximo de reconhecimento que uma entidade A Farmácia da Unibes permite aliviar o peso do custo dos remédios no orçamento doméstico. The pharmacy enables Unibes to alleviate the burden of medicinal expenses on the household budget. I taught, I tried to transform, I integrated actions that guided my training as an educator and reinforced my role as a social worker.” Anita continued, adding: “I look inside and see myself as an educator ever since I can remember, This view and focus based my tenure as a volunteer and community leader for many years in social work: children and youth, always, always, always; needy families, forever. Miracles happen as an expression of love and fulfillment of dreams. Unibes allowed for the biggest challenges to be overcome and the greatest dreams to come true, fulfilling the desire of hundreds and hundreds of volunteers who, like me, love what they do and strive to improve the lives of the disadvantaged and for the education of the youth.” The quality of Unibes’s care and social programs already obtained the most recognition that an institution of this kind could wish for, with prizes, mentions, hundreds of media reports, but above all, the certainty of a mission accomplished to verify the inclusion and digni- pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 135 O Centro de Convivência funciona diariamente e permite melhorar a qualidade de vida dos idosos. The Sharing Center is open daily and improves the seniors’ quality of life. fied life achieved by those assisted in general. After 95 years, Unibes, renewing, innovating and updating its concepts of management and social work, continues toward its centennial on this mission, helping thousands of people to create new milestones and opportunities for a better life in the Jewish community and society in general. 136 do gênero poderia almejar, com prêmios, menções, centenas de reportagens na mídia, mas, acima de tudo, com a certeza de missão cumprida ao constatar a inserção e a vida digna alcançada por seus assistidos em geral. Passados 95 anos, a Unibes, renovando, inovando e atualizando seus conceitos de gestão e de trabalho social, prossegue rumo ao centenário nesta missão, contribuindo para que milhares de pessoas possam criar novos marcos e oportunidades para uma vida melhor, na comunidade judaica e na sociedade em geral. pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s Fontes de pesquisa, bibliografia e créditos de imagens Research Sources, Bibliography and Image Credits Créditos de Imagens Image Credits Acervo Unibes (livro Unibes 85 anos. Uma história do trabalho social da comunidade judaica em São Paulo. São Paulo, Narrativa Um, 2000): páginas 17, 42, 45, 55, 57, 86, 87, 88, 90, 97, 103, 108 a 136. Acervo Fototeca do Arquivo Histórico Judaico Brasileiro: páginas 30, 39, 41, 44, 47, 50, 52, 59, 60, 62, 66, 67, 69, 71, 72, 74, 78, 81, 83, 84, 93 e 95. Acervo do Departamento de Patrimônio Histórico da Prefeitura de São Paulo: páginas 2 e 16 (foto de Guilherme Gaensly), 15 (foto de Aurélio Becherini), 19 (foto de Guilherme Gaensly), 29 (foto de Aurélio Becherini), 33, 37, 43, 51 (foto de Benedito Junqueira Duarte), 75 e 89 (foto de Edison Pacheco Aquino). Acervo família Musatti: páginas 22, 25, 48, 65 e 80. Acervo pessoal Mina Mutchnik Zveibil: páginas 45 e 61. Livro Renascença 75 anos (S.P., Sociedade Hebraico-Brasileira Renascença, 1997): páginas 34 e 70. Livro Hebraica 50 anos - 1953-2003 (S.P., Narrativa Um, 2003): página 76. Livro A Construção de um Projeto para a Juventude. Uma história do Grupo Escoteiro e Distrito Bandeirante Avanhandava (S.P., cip, 1998): página 54. Livro Associação Cemitério Israelita de São Paulo 85 anos. Patrimônio de história da comunidade judaica e da cidade de São Paulo (S.P., Narrativa Um, 2008): página 26. Fotos de Flávio Magalhães: páginas 99, 100 e 105. Fontes de Pesquisa e Bibliografia Research Sources and Bibliography 1. Acervos pesquisados na pesquisa do livro Unibes 85 anos. Uma história do trabalho social da comunidade judaica em São Paulo (São Paulo, Narrativa Um, 2000), que serviu de base para a redação deste livro de 95 anos. pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 137 1.1 Acervo do Arquivo Histórico Judaico-Brasileiro Atas de Assembleia-Geral Ordinária da Sociedade Beneficente das Damas Israelitas 5-10-1931 a 21-5-1940 Atas de diretoria da Sociedade Beneficente Israelita Ezra 20-5-1916 a 13-8-1942; 15-3-1954 a 22-6-1954; 5-4-1961 a 23-9-1965; 5-2-1968 a 2-9-1976 Atas de diretoria da Sociedade Beneficente Policlínica Linath Hatzedek 15-11-1929 a 22-2-1954 Atas de Assembleia-Geral Ordinária da Organização Feminina Israelita de Assistência – Ofidas 10-6-1940 a 7-4-1965 1.2. Acervo da União Israelita do Bem-Estar Social – Unibes Atas de diretoria da Organização Feminina Israelita de Assistência – Ofidas 6-1-1942 a 29-12-1951 e 1969 a 1976 1.3. Acervo Pró-Memória da B’nai B’rith de São Paulo Atas de Assembleia-Geral Ordinária e Assembleia-Geral Extraordinária da Irmandade B’nai B’rith de São Paulo, de 1-3-1939 a 28-1-1942. 1.4 Monografias de conclusão de curso de Serviço Social Blumenthal, Marion. Um Estudo sobre a Integração de Refugiados Egípcios Através do Serviço Social. Trabalho de conclusão de curso, apresentado para obtenção de título de Assistente Social à Escola de Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1959. Scharafirovits, Clara. Centro de Convivência para Idosos. Projeto de Criação. Trabalho de conclusão de curso apresentado à Faculdade Paulista de Serviço Social, 1981. Goldberg, Eliza. O Serviço Social na Sociedade Israelita de Beneficência “Ezra”. Trabalho de conclusão de curso, apresentado para obtenção de título de Assistente Social à Escola de Serviço Social da puc-sp, 1961. Grostein, Annita Iracema. O Serviço Social do Ambulatório Médico Policlínica Linath Hatzedek. Trabalho de conclusão de curso, apresentado para obtenção de título de Assistente Social à Escola de Serviço Social da puc-sp, 1959. Szechtman, Ana. Colaboração da Estagiária na Ampliação do Serviço Social junto à Nova Sede da Policlínica Linath Hatzedek. Trabalho de conclusão de curso, apresentado para obtenção de título de Assistente Social à Escola de Serviço Social da puc-sp, 1961. Zabirowski, Therezinha Davidovich. A criança semi-interna e o tratamento social da família. Trabalho de conclusão de curso, apresentado para obtenção de título de Assistente Social à Escola de Serviço Social da puc-sp, 1960. 138 pa r a l l e l s : 9 5 y e a r s o f u n i b e s 1. Bibliografia Bibliography Cytrynowicz, Roney e Cytrynowicz, Monica Musatti. Unibes 85 anos. Uma história do trabalho social da comunidade judaica em São Paulo. São Paulo, Narrativa Um, 2000. __________. A Congregação Israelita dos Pequenos. História do Lar das Crianças da Congregação Israelita Paulista – 65 anos. São Paulo, Narrativa Um, 2002. Cytrynowicz, Roney e Zuquim, Judith. Renascença 75 anos. São Paulo, Sociedade Hebraico-Brasileira Renascença, 1997. __________. A Construção de um Projeto para a Juventude. Uma história do Grupo Escoteiro e Distrito Bandeirante Avanhandava. São Paulo, cip, 1998. Falbel, Nachman (org.) Inventário dos Fundos das Entidades Assistenciais do Arquivo Histórico Judaico-Brasileiro. São Paulo, Humanitas, 1999. __________. Unibes 80 Anos de História. São Paulo, Unibes, 1995. Hirschberg, Alice Irene. Desafio e Resposta. A história da Congregação Israelita Paulista. São Paulo, Congregação Israelita Paulista, 1976. História da Ezra e do Sanatório Ezra desde a sua fundação até a presente data 1916-1941. São Paulo, maio de 1941, autor Frankental. Lesser, Jeffrey. Pawns of the Powerfull. Jewish Imigration to Brazil 1904-1945. Tese (Doutorado em História). New York University, 1989. __________. O Brasil e a Questão Judaica. Rio de Janeiro, Imago, 1996. Rattner, Henrique. Tradição e Mudança (A Comunidade Judaica em São Paulo). São Paulo, Ática, 1977. pa r a l e lo s : 9 5 a n o s d e u n i b e s 139 Créditos de trabalho Work Credits Projeto e realização Project and Realization Narrativa Um – Projetos e Pesquisas de História Coordenação de projeto Project Coordination Roney Cytrynowicz Pesquisa histórica e redação Historical Research and Text Monica Musatti Cytrynowicz Roney Cytrynowicz Edição de arte e design Art Edition and Design Negrito Produção Editorial Ricardo Assis Tainá Nunes Costa Sebastian Ribeiro Versão para o inglês Translation to English Jenny Suzanne Miller Revisão de texto em português Copy-desk in Portuguese Libra Produção de Textos Mariangela Paganini Revisão da versão em inglês Review of English Translation Suely Pfeferman Kagan Editora Narrativa Um – Projetos e Pesquisas de História www.narrativaum.com.br [email protected] cip-brasil. catalogação-na-fonte (Sindicato Nacional dos Editores de Livros, rj) U49 União Brasileiro-Israelita do Bem-Estar Social, Unibes 95 anos: construindo justiça social com sustentabilidade e inovação / [coordenação de projeto, project coordination Roney Cytrynowicz, pesquisa histórica e redação, historical research and text Monica Musatti Cytrynowicz, Roney Cytrynowicz; versão para o inglês, translation to english Jenny Miller]. – São Paulo: Narrativa Um, 2011. Il. Texto em português com tradução paralelal em inglês. Inclui bibliografia. isbn 978-85-88065-26-0 1. União Brasileiro-Israelita do Bem-Estar Social – História. 2. Judeus – São Paulo (sp) – História. 3. Judeus – São Paulo (sp) – Sociedades, etc. – História. 4. Judeus – Associações, etc. – História. 5. Comunidade – Organização – São Paulo (sp) – História. 6. Associações sem fins lucrativos – São Paulo (sp) – História. 7. São Paulo (sp) – História. i. Cytronowicz, Roney, 1964-. ii. Cytrynowicz, Monica Musatti, 1964-. iii. Título: Unibes 95 anos, construindo justiça social com sustentabilidade e inovação. 11-2197 cdd-981.611 cdu-94(815.611)