Universidade do Vale do Paraíba Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento “Contribuição ao estudo da cardiotocografia anteparto, através da análise da variabilidade curta da freqüência cardíaca fetal, em ambiente Matlab” Nelson Antonio Sbravatti Dissertação de Mestrado apresentada no Programa de Pós-Graduação em Bioengenharia, como complementação dos créditos necessários para obtenção do título de Mestre em Engenharia Biomédica. São José dos Campos, SP 2003 Universidade do Vale do Paraíba Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento “Contribuição ao estudo da cardiotocografia anteparto, através da análise da variabilidade curta da freqüência cardíaca fetal, em ambiente Matlab ” Nelson Antonio Sbravatti Dissertação de Mestrado apresentada no Programa de Pós-Graduação em Bioengenharia, como complementação dos créditos necessários para obtenção do título de Mestre em Engenharia Biomédica. Orientador: Prof. Dr. Eder Rezende Moraes São José dos Campos, SP 2003 S288a Sbravatti, Nelson Antonio Contribuição ao estudo da cardiotocografia anteparto, através da análise da variabilidade curta da frequência cardíaca fetal, em ambiente Matlab / Nelson Antonio Sbravatti. São José dos Campos: UniVap, 2003. 70p.: il.; 31cm. Dissertação apresentado ao Programa de PósGraduação em Bioengenharia do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Universidade do Vale do Paraíba. 1.Cardiotocografia 2. Estimulação vibroacústico 3. Gestantes 4. Pré-natal I. Moraes, Eder Rezende,orient. II. Título CDU: 618.2-07 Autorizo , exclusivamente para fins acadêmicos e científicos a reprodução parcial ou total desta dissertação , por processo fotocopiador ou transmissão eletrônica. Aluno: Nelson Antonio Sbravatti Data: 04 de agosto de 2003 Dedicatória : Aos meus pais e irmãos, que mesmo distantes, sempre mantiveram seu carinho estímulo . Aos que fazem parte de toda a minha caminhada :Lucilene, Nelsinho e Nicholas . Agradecimentos À Santa Casa de Pindamonhangaba que permitiu nossos estudos. À Comissão de Ética da Santa Casa de Pindamonhangaba, através do Dr. Miguel X. Immediato, a permissão da coleta de dados. À Diretoria Técnica, através do Dr. José Luís C. de Mello César , pelo uso do aparelho de cardiotocografia. Aos colegas Dr. Edson Yorikawa, Dr. José Luís Peixoto, pelas horas de trabalho na maternidade. À Dra. Lucy S. Matsumoto Kayano, pelo apoio e incentivo, presente desde o início. Aos funcionários e à equipe de enfermagem da maternidade e do berçário da Santa Casa de Pindamonhangaba, pela dedicação. Ao Aluno-Mestre Dr. Gregório Lorenzo Acácio, pelo incentivo e principalmente pelo exemplo profissional e acadêmico. À Helena e Juliana C. Biazzotto Moraes, pelas horas cedidas de convívio e lazer em favor da minha orientação, realizada pelo Prof.Dr.Eder Rezende Moraes. Ao Prof. Dr. Coríntio Mariani Neto, pela inspiração através de sua brilhante tese de doutorado. À Ana Rosa Valise Siqueira, pelo esforço na ajuda a digitação. Ao Rogério Confaloni, pela ajuda na língua inglesa. À Panamedical (representante da TOITU no Brasil) --- Na pessoa do Sr. Roberto Itagaki , pelo apoio e confiança. Aos Prof.Dr.s Antonio Carlos Bruno, Paulo Costa Ribeiro e Daniel Acosta Avalos pela concessão do computador e placa AD para a realização desse trabalho. ““O O aapprreennddiizzaaddoo dduurraa aa vviiddaa ttooddaa ee D Deeuuss eennssiinnaa ooss hhoom meennss aattrraavvééss ddooss pprróópprriiooss hhoom meennss ee ssee sseerrvvee ddeelleess ppaarraa qquuee eennxxeerrgguueem mooss aaddiiaannttee..”” ((C C.. TToorrrreess P Paassttoorriinnooss)) R Reessuum moo Estudos das últimas décadas sugerem que a cardiotocografia anteparto (CTGA) venha se mantendo, em âmbito mundial, como o método mais utilizado para avaliar o bem estar fetal anteparto. A CTGA avalia indiretamente o grau de oxigenação fetal, estabelecendo, deste modo, um prognóstico para o feto. Esta avaliação pode ocorrer pela análise visual ou computacional, sobre as quais existem muitas controvérsias, no que se refere às interpretações inter e intra-observadores, estimulação vibroacústica, acelerações transitórias (AT) da freqüência cardíaca fetal (FCF), variabilidade de freqüência cardíaca fetal e movimentos fetais. Com base nestes estudos e com o intuito de verificar a aplicabilidade prática da análise computadorizada, que tem como padrão ouro o cálculo da Variabilidade Curta (STV) que obtém-se; selecionando o seguimento de registro em que não haja acelerações, desacelerações e perdas de captação, de acordo com os critérios de DAWES e REDMAN. Deste registro, cada minuto selecionado é dividido em 16 valores que corresponde a 3,75 segundos, de onde é obtido uma média . Finalizando cálcula-se a média de cada minuto, obtendo o valor final da Variabilidade Curta (STV) em milisegundos , que de acordo com seu resultado numérico, traduz a vitalidade e a predição de boa oxigenação ou acidose metabólica fetal comparamos os valores do STV em registros de CTGA, em ambiente Matlab-Mathworks, de fetos ativos e hipoativos e, em 1 (um) minuto anterior e posterior ao estímulo vibroacústico, na busca de subsídios que contribuam para a predição da vitalidade fetal. Foram analisados 27 registros cardiotocográficos de gestantes entre a 31ª e 41ª semanas de gestação. O STV foi calculado para todos os registros de acordo com os critérios de Dawes e Redman. Os valores do STV pós-estímulo se mostraram maiores que o STV pré-estímulo e o STV dos fetos ativos se mostrou maior que o STV dos hipoativos. Concluímos que a avaliação computacional e visual se complementam, e em nosso parecer seria importante a inclusão da estimulação fetal (ES), e o cálculo do STV pré e pós-ES contribui na predição da vitalidade fetal. Palavras chaves: Cardiotocografia vibroacústica, variabilidade curta. computadorizada, estimulação A stract Abbstract Last decade studies suggest that antenatal cardiotocography (ACTG) has been keeping, in a World range, as the most utilized method to evaluate fetal well being before income. Antenatal cardiotocography evaluates, indirectly, the oxygenation degree, establishing a prognosis for the fetus. This evaluation can occur through visual or computerized analyze, among which there are a lot of controversies regarding to inter and intra – compliers interpretations, vibroacustic stimulation, transitory accelerations of fetal cardiac frequency (FCF), its variability and fetal movements. Based on these studies and in order to verify the practice applicability of computerized analysis utilization, that has as golden standard the estimate of the STV which is obtained, selecting the register following in which there are no acelerations, disacelerations and losses of inveigling, according to DAWES and REDMAN criterion. From this register, each selected minute is divided in 16 values which correspond to 3,75 seconds, whence is obtained an average. Concluding, the average of each minute is calculated, obtaining the final value of STV in milliseconds, that according, to the numerical result, expresses the vitality and the prediction of good oxigenation or acid fetal metabolism, we compare the values of STV in registers of ACTG, in a Matlab-Mathworks environment,of active or hypoactive fetus and, in 1 (one) pre and post minute to the vibroacústico, in search of subsidies which contribute for the fetal vitality prediction. A total of 27 carditocographics were analysed of pregnants from 31st and 41 st gestacional weeks. The STV of all records were calculated according to DAWES and REDMAN criteria. The Values of STV post stimulus were higher than the STV pre stimulus and the STV pre stimulus and the STV of active fetus were higher than those of hypoactive fetus. Therefore we concluded that computerized and visual evaluation complement each other and in point of would be important the inclusion of fetal vibroacoustic stimulation (VS) during computerized analysis, the STV value pre on post (VS) contribute on the prediction of fetal vitality. Key words: Computerized Cardiotocography, vibroacoustic stimulation, short term variation. S Suum máárriioo Listas de figuras, gráficos, quadros, equações e tabelas Símbolos, Siglas e Abreviaturas Motivação 1 Introdução.............................................................................................. 01 1.1 Parâmetros para análise visual da CTGA.............................................. 08 1.2 Parâmetros para análise computacional da CTGA................................ 14 1.3 Considerações frente às análises visual e computacional.................... 17 2 Aspectos da embriologia e fisiologia cardíaca fetal............................... 18 2.1 Embriologia do sistema cardiovascular fetal.......................................... 18 3 Aspectos eletrofisiológicos do coração fetal.......................................... 20 3.1 Desenvolvimento morfológico................................................................ 20 3.2 Características elétricas do coração fetal.............................................. 27 3.3 Atividade elétrica cardíaca..................................................................... 30 4 Aspectos funcionais do córtex cerebral................................................. 33 4.1 Funções auditvas e a influência do estimulo vibroacústico no SNA e no registro da CTGA.............................................................................. 35 4.2 Mecanismo de regulação cardíaco fetal, através de Barorreceptores e Quimiorreceptores e a influência na FCF.............................................. 36 4.3 Mecanismo de adaptação do feto.......................................................... 38 5 Objetivos................................................................................................ 40 5.1 Geral...................................................................................................... 40 5.2 Específicos............................................................................................. 40 6 Casuísticas e Métodos........................................................................... 41 6.1 Características....................................................................................... 41 6.2 Procedimentos para a coleta de dados................................................. 41 6.3 Procedimentos cardiotocográficos......................................................... 41 6.4 Aspectos éticos...................................................................................... 42 6.5 O cardiotocógrafo................................................................................... 42 6.6 Digitalização dos dados......................................................................... 43 6.7 Cálculo da variabilidade curta(STV)..................................................... 43 6.8 Análise dos dados.................................................................................. 44 7 Resultados............................................................................................. 48 8 Discussão............................................................................................... 50 8.1 Aceleração transitória (AT) como requisito do estímulo vibroacústico.. 52 8.2 Calculo do STV como requisito ao estimulo vibroacústico.................... 54 9 Conclusões............................................................................................ 55 9.1 Geral...................................................................................................... 55 9.2 Especificas............................................................................................. 55 10 Propostas futuras................................................................................... 57 11 Referências Bibliográficas...................................................................... 58 12 Apêndices.............................................................................................. 61 Apêndices 1. Ficha de coleta de dados................................................ 62 Apêndices 2. Declaração de consentimento e informado..................... 63 Apêndices 3. Foto do sistema de coleta de dados e foto da técnica de estimulação vibroacústica...................................................................... 64 13 ANEXOS................................................................................................ 65 Anexo 1. Parecer da Comissão de Ética Médica................................ 66 14. Agradecimentos Finais........................................................................... 69 LLiissttaa ddee FFiigguurraass Figura 1: Cristal piezoelétrico convertendo uma onda mecânica em sinal elétrico e vice-versa (adaptado de Duran 2002)............................ Figura 2: 3 Reflexão e refração de uma Incidência normal em uma superfície que separa dois meios (adaptado de Durán 2002)....... 4 Figura 3: Tubos endocárdicos e crista neural (adaptado de Moore)............. 21 Figura 4: Cavidade pré-cardíaca (adaptado de Moore)................................ 22 Figura 5: Coração com duas cavidades distintas (adaptado de Moore)..... Figura 6: Formação de septos que irão dividir, tanto a aurícula quanto o 23 ventrículo, em duas cavidades distintas (adaptado de Moore)...... 24 Figura 7: Formação do septo secundum paralelo ao primum, ambos com uma passagem entre as aurículas formando o foramem oval (adaptado de Moore)...................................................................... 24 Figura 8: Septação do ventrículo (adaptado de Moore)................................ 25 Figura 9: Formação das válvulas tricúspide e mitral (adaptado de Moore) .. 27 Figura 10: Movimentos das paredes do coração e o efeito Dopller................ 32 Figura 11: Influência do SNA na Variabilidade Curta...................................... 39 Figura 12: Cálculo esquemático da Variabilidade Curta................................. 43 LLiissttaa ddee G Grrááffiiccooss Gráfico: 1 Registro cardiotocográfico anteparto............................................. 45 Gráfico: 2 Registro coletado de um feto ativo................................................. 47 Gráfico: 3: Registro coletado de um feto hipoativo reativo.............................. 47 Gráfico: 4: Registros de CTG que se tornaram normais tanto no aspecto visual quanto computacional após o estimulo vibroacústico ......... 53 LLiissttaa ddee Q Quuaaddrrooss Quadro 1: Valores do STV dos registros cardiotocográficos do grupo de fetos ativos..................................................................................... 48 Quadro 2: Valores do STV dos registros cardiotocográficos do grupo de fetos hipoativos.............................................................................. 48 LLiissttaa ddee E Eqquuaaççõõeess Equação 1 Alteração na freqüência no caso de movimento da fonte e receptor em repouso..................................................................... Equação 2 Alteração na freqüência no caso de movimento do receptor e fonte em repouso........................................................................... Equação 3 5 5 Variação da freqüência devido ao efeito Doppler considerando: fonte fixa (transdutor) e receptor em movimento (paredes do coração) – em seguida: fonte em movimento (paredes do coração) e receptor fixo (transdutor).............................................. 6 LLiissttaass ddee TTaabbeellaa Tabela 1 Normatização da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia para classificação de CTGA........................................ 13 Tabela 2 Valores do STV em 1 minuto pré e Pós – estimulo vibroacústico (Wilcoxon pareados)................................................ 49 S Síím mbboollooss,, S Siiggllaass ee A Abbrreevviiaattuurraass A ATT acelerações transitórias A A--VV átrio - ventricular bbppm m batimentos por minuto C CTTG G cardiotocografia C CTTG GA A cardiotocografia anteparto C CTTG GII cardiotocografia intraparto C CSSTT teste com stress da contração uterina (contration stress test) C CTTR R cardiotocografia de repouso (NST – nonstress test) D DIIPP IIII desaceleração tardia EESS estímulo vibroacústico (estímulo sonoro) FFC CFF freqüência cardíaca fetal FFIIG GO O Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia H HM MLLM MB B Hospital Maternidade Leonor Mendes de Barros LLTTVV variabilidade longa (long term variation) M MC CFF movimentos corpóreos fetais M MFF movimento fetal m mss milisegundos PPA A pressão arterial SSN NA A sistema nervoso autônomo SSN NC C sistema nervoso central SSN NPP sistema nervoso periférico SSTTVV variabilidade curta (short term variation) TTB BC C taxa de batimento cardíaco fetal PPO O222 pressão de oxigênio PPC CO O222 pressão de gás carbônico ff rr freqüência no receptor ff 00 freqüência da fonte VV fff velocidade da fonte VV rr velocidade do receptor VV ss velocidade do som no meio M MO OTTIIV VA AÇ ÇÃ ÃO O Desde o inicio de minha formação em ginecologia e obstetrícia, aprendi a valorizar ainda mais os fetos, porque observara que se não fosse o “mais“ seria “um dos mais” importantes anseios dos seres humanos. Por volta de 1984, foi quando mantive o primeiro contato com um aparelho de cardiotocografia, o qual era imenso no tamanho , bem rústico com a “capacidade de perda de captação incrível”. Embora para a época “sofisticado” ao mesmo tempo, contemplava os aparelhos de sonar de ausculta fetal à bateria, que carregávamos a tira colo. Ficava imaginando, quando seria o dia em que iríamos carregar aquele aparelho imenso a “tira colo”. O tempo passou, os aparelhos de cardiotóco diminuiria de tamanho, mas não ainda a “tira colo”. No mestrando conversando sobre batimento cardíaco fetal com o Professor Dr. Eder Rezende Moraes, que seria meu futuro orientador. Buscando literatura e principalmente a brilhante tese do Prof. Dr. Coríntio Mariani Neto, renasce a idéia de carregar um cardiotóco a “tira colo”. Começamos nossas experiências em processamentos de sinais, utilizando o aparelho sonar de ausculta de BCF. Conseguimos alguns sinais, mas no entanto, com muitos ruídos. Repensando tudo, surgiu a idéia de simplificar um cardiotocógrafo e a motivação que já era grande aumentou ainda mais e felizmente colhemos alguns frutos e que hoje carregamos a “tira colo”. Fomos ganhando motivação a cada dado que colhíamos, quando conseguimos o conector que acoplava o cardiotóco ao computador, quando vimos o despertar de interesses não só dos representantes TOITU no Brasil, mas como de outros colegas que trabalham com cardiotocografia. Hoje, com orgulho, contribuímos e abrimos mais perspectivas ao estudo da cardiotocografia fetal. 1 1.Introdução Durante a segunda guerra, observações comportamentais de certos animais como morcegos, golfinhos, comprovaram que os mesmos se locomovem, encontram alimento e fogem do perigo pelas ondas ultra-sônicas que eles próprios emitem; sugeriram então, a idéia do desenvolvimento do sonar (conversor de energia elétrica em energia mecânica e vice-versa, gerado por ondas ultra-sônicas). Esse instrumento serve para detectar objetos sob a água como submarino, em minas e também para avaliar a profundidade do mar. Desde então houve um aumento muito grande de aplicações de técnicas biofísicas de ultra-som e outras dos mais diversos campos. Como o ultra-som está fora da faixa de freqüência audível ao homem, em alguns casos ele pode ser empregado com intensidade bastante alta, além de seu uso à baixa intensidade. As aplicações do ultra-som de baixa intensidade têm, como propósito, transmitir a energia através de um meio e com isso obter informações do mesmo. As aplicações típicas dentro dessa categoria são: ensaio não destrutivo de materiais, medida das propriedades elásticas de materiais e diagnose médica. Todos os métodos de diagnose médica que usam ondas ultra-sônicas se baseiam no tempo entre a emissão e recepção do ultra-som refletido, na intensidade da onda refletida e/ou no efeito produzido pelos movimentos das partes internas do corpo. 2 Portanto, tudo indica que a diagnose com ultra-som é mais segura do que com radiação ionizante, como os raios X, fato esse muito importante para o exame de crianças ou de mulheres grávidas. As vantagens da diagnose com o ultra-som são sua segurança, sua conveniência por ser não-invasiva e não-traumática, além de sua capacidade de detectar fenômenos para os quais os raios X e outros meios de diagnose são insensíveis. As ondas ultra-sônicas são geradas por transdutores ultra-sônicos também chamados simplesmente de transdutores. De uma forma geral, um transdutor é um dispositivo que converte um tipo de energia em outro. Os transdutores ultra-sônicos convertem energia elétrica em energia mecânica e vice-versa. Esses transdutores são feitos de materiais piezoelétricos ou ferroelétricos que apresentam um fenômeno chamado efeito piezoelétrico. Esse efeito (descoberto por Pierre e Jacques Curie, em 1880) consiste na variação das dimensões físicas de certos materiais sujeitos a campos elétricos. O contrário também ocorre, isto é, a aplicação de pressões – por exemplo, pressões acústicas – que causam variações nas dimensões de materiais piezoelétricos, provocam o aparecimento de campos elétricos neles. Ao se colocar um material piezoelétrico num campo elétrico, as cargas elétricas da rede cristalina interagem com o mesmo e produzem tensões mecânicas (Figura 1) . Certos cristais naturais como o quartzo e a turmalina são piezoelétricos. Outros são crescidos artificialmente em laboratórios como o sulfato de lítio, o fosfato diidrogenado de amônia, o titanato de bário e o titanato zirconato de chumbo (OKUNO, 1986). 3 Figura 1- cristal piezoelétrico convertendo uma onda mecânica em sinal elétrico e vice-versa. (DURÁN 2002). O cristal para poder ser utilizado como um transdutor deve ser cortado de forma que um campo elétrico alternado aplicado, nele produza uma variação em sua espessura. Dessa variação resulta um movimento das faces do cristal, originando as ondas sonoras. Cada transdutor possui uma freqüência de ressonância natural, tal que quanto menor a espessura do cristal, maior será sua freqüência de vibração. O mesmo transdutor que emite o sinal ultra-sônico pode funcionar como detector, pois os ecos que voltam a ele produzem vibração no cristal, fazendo variar suas dimensões físicas o que provoca, por sua vez, o aparecimento de um campo elétrico. Esse campo gera sinais que são amplificados e mostrados num osciloscópio ou registrador. Os sinais ultra-sônicos são transmitidos ao interior do corpo, colocandose o transdutor em contato com a pele, usando-se água ou gel para eliminar o ar e obter um bom acoplamento acústico transdutor-pele, que aumenta a 4 transmissão dos sinais ultra-sônicos ao interior do corpo e do eco de volta ao detector. Uma propriedade geral das ondas, de interesse para as aplicações do ultra-som, é que ao encontrar uma interface entre dois meios diferentes, parte delas é refletida e parte é transmitida. A onda refletida na interface, retorna através do meio incidente, com a mesma velocidade com que se aproximou da interface. Essa onda refletida, no caso do som, é chamada eco. A onda transmitida continua a se propagar após a interface, mas com velocidade característica do segundo meio (Figura 2). Os ângulos de incidência e de reflexão são iguais, e vale a lei de Snell como no caso da óptica geométrica. Figura 2 - reflexão e refração de uma onda ultra-sônica para uma incidência normal em uma superfície que separa dois meios (DURÁN 2002). Outro fenômeno utilizado é o efeito Doppler. Toda vez que temos um gerador de ondas, ou uma fonte e um receptor de ondas, com um movimento relativo entre eles, pode acontecer o seguinte: a) aumento da freqüência f r no receptor em relação à freqüência f 0 da fonte, quando o receptor e a fonte estão se aproximando. 5 b) redução da freqüência f r no receptor em relação à freqüência f 0 da fonte, quando o receptor e a fonte estão se afastando. A alteração na freqüência no caso de movimento da fonte ( Vf = velocidade da fonte) e receptor em repouso é dada pela expressão, equação (1): fr = f0 v 1 ± f vs assumindo o valor positivo para ( Vf ) , (1) quando a fonte se afasta e negativo para ( Vf ) quando a fonte se aproxima. A alteração na freqüência no caso de movimento do receptor e fonte em repouso é dada pela expressão, equação (2): v f r = f 0 1 ± r , vs (2) sendo v s , a velocidade de propagação do som no meio, v r a velocidade do receptor, sendo atribuído o sinal positivo quando o receptor se aproxima e negativo quando se afasta da fonte (DURÁN). Nos sonares obstétricos, e portanto, nos equipamentos de cardiotocografia, o transdutor de ultra-som não se move, porém as paredes do coração ( superfície refletora) estão se movimentando e conseqüentemente produzindo o efeito Doppler nas ondas refletidas. Porém, deve-se lembrar que as paredes estão em movimento tanto no instante da chegada das frentes de ondas, quanto da emissão da onda refletida. Portanto, para chegarmos ao valor do deslocamento da freqüência do ultra-som temos de considerar: primeiro o 6 caso da fonte (transdutor) fixa e receptor (paredes do coração) em movimento, e em seguida fonte em movimento (paredes do coração) e receptor fixo (transdutor), chegando à seguinte expressão para a variação da freqüência devido ao efeito Doppler OKUNO et al, (1986), equação (3). ∆f = 2 f 0 vc cos θ vs (3), sendo θ , o ângulo de incidência em relação à direção da velocidade v c das paredes do coração. O ultra-som pode ser utilizado, tanto para avaliação da distância do meio refletor como a sua velocidade instantânea. As técnicas de imagens convencionais por ultra-som utilizam a intensidade do eco e o intervalo de tempo entre a emissão de um pulso e recepção do eco. Essa técnica é utilizada quando se deseja simplesmente avaliação anatômica ou localização de nódulos no organismo. As imagens de eco-doppler utilizam tanto o eco como o efeito Doppler, fornecendo portanto informação mais detalhada de órgãos que estejam se movimentando, como por exemplo as paredes do coração. A onda ultra-sônica produzida pelo cardiotocógrafo é modulada com deslocamento Doppler, (equação 3), devido ao movimento das válvulas do coração. O sinal modulado do ultra-som é detectado, amplificado e filtrado para separar o deslocamento Doppler fornecendo informação sobre o batimento cardíaco fetal (CALLAGAN, 1964 e HOLMES 19641 apud POSE 1969). 1 HOLMES, JH; TAYLOR, ES; THOMPSON, HE e GOTTESFELD, KR. Ultrasound diagnostic techniques in obstetrics and gynecology. Am. J. Obst. Gynec. 90, p. 666, 1964. 7 Os recentes avanços no campo do diagnóstico e da aceleração da maturidade pulmonar fetal ampliaram substancialmente o espectro de indicações da antecipação terapêutica do parto, melhorando sobremaneira, o porvir do recém-nato. Tais fatos aliados à evolução das técnicas que objetivam e concorrem para a interrupção da gravidez, têm proporcionado papel cada vez mais importante à avaliação anteparto da vitalidade fetal. A capacidade do concepto de iniciar sua vida extra-uterina, desenvolvendo-se física e intelectualmente de acordo com seu potencial genético, depende de sua habilidade em ultrapassar incólume momentos críticos do período perinatal. Entre estes, está o trabalho de parto que é caracterizado por ser aquele que mais oferece riscos de comprometimento das condições fetais. A hipóxia com acidemia metabólica é, indiscutivelmente, uma das principais causas de lesões fetais DAWES et al, (1992), determinando, na dependência de sua intensidade, comprometimentos neurológicos que podem ser transitórios, permanentes ou até letal (CURRAN, 1977). A principal linha de proteção conceptual consiste, provavelmente, em se diagnosticar precocemente o sofrimento fetal, que é o quadro clínico resultante da hipoxia. Assim, a prevenção de acidemía metabólica fetal ou morte intrauterina seria o objetivo fundamental da monitorização eletrônica por avaliação visual bem como a computacional que é dita anteparto ou intraparto, na dependência do período em que se utiliza (CURRAN, 1977). Frente a estas preocupações de concordância e acurácia na leitura dos laudos entre observadores, confiabilidade do registro, dificuldade na 8 valorização e correlação dos índices, terminologia bem como a avaliação de parâmetros na Cardiotocografia visual (MARIANI NETO, 1999) Anteparto (CTGA), como a Freqüência Cardíaca Fetal (FCF) basal, Movimento Fetal (MF), Acelerações Transitórias (AT), desacelerações, estímulos vibroacústicos. NA CTGA computadorizada valoriza-se a Variabilidade Curta (STVShort Term Variation) que são microscilações da FCF (amplitude) cuja variabilidade é compreendida entre uma batida e outra e não visível ao olho humano. Já a Variabilidade Longa ( LTV - Long term Variation ) que são macroscilações da FCF (amplitude) pode ser observada visualmente e consiste na oscilação de longa duração ou variabilidade oscilatória. Variabilidade Longa ou Curta são influências do SNA (simpático e parasimpático) em respostas as alterações metabólicas fetais, que estão, diretamente relacionados à oxigenação sanguínea (PO2) ou acidemia (PCO2). Portanto torna se necessário que os registros de cardiotocográficos sejam mais pesquisados, para que se possa avançar em sua análise, que envolve freqüentemente critérios subjetivos com considerável variação interobservadores e intra-observadores (MARIANI - NETO, 1999). No entanto, com isso, melhorar o tempo, o custo, a confiabilidade do método e contribuir na precocidade de diagnóstico de bem estar ou sofrimento fetal. 1.1 - Parâmetros para análise visual da CTGA A cardiotocografia que, a princípio, só era aplicada no período intraparto (CTGI), tornou-se universalmente difundida e nestas quatro décadas foi 9 bastante aprimorada. Estudos da última década sugerem que a CTG vem se mantendo, no âmbito mundial, como método mais utilizado para avaliar o bem estar fetal antes do parto (MAUAD FILHO e RANGEL, 1992; SPENCER, 1993 e MARTIN, 1998). O início dos estudos em relação à contração uterina no trabalho de parto, ocorreu em torno de 1950, quando ALVAREZ e CALDEYRO BARCIA (19482 apud MARIANI NETO 1999), no Uruguai, demonstraram a fisiologia da contração uterina intraparto, introduzindo transdutores de sonda ou balão intra e extra-amnióticos. Os efeitos das contrações uterinas sobre a freqüência cardíaca fetal foram estudados simultaneamente de maneira independente por HON, 19583, nos Estados Unidos da América e CALDEYRO BARCIA, 19584, no Uruguai, e mais tarde, HAMMACHER, 19625, na Alemanha. (apud MARIANI NETO 1999) No início, o teste era realizado com sobrecarga de ocitocina (contraction stress test – CST) através de infusão intra-venosa que provocaria contrações uterinas simulando o trabalho de parto POSE et al; (1969) e com o objetivo de detectar quedas da freqüência cardíaca fetal (DIP II ou desacelerações tardias), as quais identificariam a probabilidade do feto desenvolver episódios de hipóxia , intraparto 2 resultantes da redução do fluxo ultero-placentário ALVAREZ, H e CALDEYRO-BARCIA, R. Estudios sobre la fisiologia de la actividad contractil del utero humano. Primera comunicación. Nueva tecnica para registrar la actividad contráctil del utero humano gravido. Arch. Gin. Obst. Uruguay, V.7, 7-24, 1948 3 HON, EH - The electronic evaluation of fetal heart rate. Preliminary report. Am.J.Obstet. Gynecol.,V.75, p. 1215-1230, 1958. 4 CALDEYRO-BARCIA, R. Estudio de le anoxia fetal intrauterina mediante el ECG fetal y el registro contínuo de la frecuencia cardíaca fetal. In: 5 HAMMACHER, K. Neue Methode zur selektiven Registrierung der fetalen Herzschlagfrequenz. Gebursth. frauenheilk.,, V. 22, p. 1542-1543, 1962.III Cong. Lat. Amer. Obst. Ginec. México, 2, p. 388390, 1958. 10 materno, que ocorre durante a contração uterina. Caracteriza-se pela queda gradual da FCF que começa após 20 segundos ou mais do inicio da contração uterina e retorno lento à linha de base, tornando-se patológico ao feto. Desaceleração precoce ou DIP I: queda gradual da FCF coincidente com a contração uterina. Corresponde a uma resposta para simpática determinada pela compressão do pólo cefálico durante a contração uterina. É fisiológico durante o trabalho de parto após rotura das menbranas aminióticas. Desaceleração variável ou DIP UMBILICAL : Queda abrupta da FCF, motivada por compressão do cordão umbilical por movimentos corpórios fetais ou por contrações uterinas. A queda é superior ou igual a 15 bpm e inferior a 2 minutos entre o inicio da queda e o retorno à linha de base. Algumas destas desacelerações umbilicais, denunciam mau prognóstico fetal: Ascensão da linha de base após a desaceleração (taquicardia compensadora). Outra característica desfavorável é o retorno lento à linha de base após bradicardia de duração maior que 60 segundos e queda da FCF abaixo de 70 dpms e morfologia do registro cardiotocográfico em “W” Gradualmente esta prova foi sendo substituída pela cardiotocografia anteparto (CTGA) sem sobrecarga, ou seja, de repouso (CTR) chamada de nonstress test (NST) (PHELAN,1981). As Acelerações Transitórias (AT) e o nonstress test (NST) começaram a ser analisados por HAMMACHER e tal (1968), na associação de acelerações transitórias da freqüência cardíaca fetal na CTGA as quais estão intimamente relacionada à boa oxigenação ou comprometimento fetal, no que diz respeito à presença ou não de AT, (MARIANI NETO 2000). 11 Acelerações transitórias são aumentos repentinos e passageiros da freqüência cardíaca fetal em pelo menos 15 bpm em relação à linha de base durante 15 segundos ou mais e inferior a 2 minutos. Geralmente estão associados com os movimentos fetais (AT não periódica) ou contrações uterinas (AT periódica) sendo estas últimas, desencadeadas por estimulação simpática, através da hipotensão fetal ocasionada por fechamento temporário da veia umbilical. Os movimentos fetais provocariam estímulos na área motora central (bulbo e hipotálamo) e estes por via nervosa cardíaca (simpática) provocariam acelerações transitórias. Outros índices de avaliação surgiram, assim como a linha de base (HON, 1975) , que consiste na média aproximada dos valores da FCF avaliados no seguimento de 10 minutos do traçado cardiotocográfico, excluindo-se: desacelerações, acelerações, períodos de acentuada variabilidade e seguimentos onde a variação da FCF apresente diferenças superiores a 25 bpm por minuto. Em qualquer seguimento de 10 minutos, a duração mínima da linha de base deve ser de 2 minutos e considera-se normal valores entre 110 e 150 bpm . É definida variabilidade: como oxilação da linha de base da FCF com 2 componentes ou seja microsilação e macrosilação. A primeira corresponde a variabilidade entre uma batida e outra, instante a instante, o que não é possível avaliar, na interpretação visual da cardiotocografia. A segunda consiste na osilação de longa duração ou Variabilidade Longa (oscilatória), onde a FCF descreve 2 a 6 ciclos no decurso de 1 minuto, com oscilações consideradas normais entre 10 a 25 dpm (BEHLE e ZUGAIB, 1981). 12 A variabilidade , na análise visual, baseia-se na amplitude dos complexos que variam desde: ausente (indetectavél), minima ( ≤ 5 bpm), moderada ( 6 a 25 bpm), acentuada ( > 25 bpm). Uma característica da variabilidade que mostra comprometimento fetal é o padrão sinusoidal, onde as ondas do registro da cardiotocografia adquirem a forma de sino, com amplitude de 5 a 15 bpm, com ritmo regular e fixo que não se altera após estimulo vibroacústico. O que é muito comum em fetos hidrópicos ( gestações isoimunisadas graves) e também em hipóxia fetal grave. Também podem surgir as desacelerações da freqüência cardíaca fetal: Que são quedas temporárias da FCF, (HON, 1975), classificadas: Não periódicas (não apresentam relação com as contrações uterinas) ou periódicas (estão relacionadas às contrações uterinas) que são quedas da FCF abaixo da linha de base e podem estar associadas ao comprometimento fetal (BEHLE e ZUGAIB, 1981). Com isto, a avaliação da vitalidade fetal, ou seja, do bem estar fetal, ganha destaque, tornando a CTGA mais rotineira e tem em síntese, como parâmetros: linha de base, variabilidade , acelerações transitórias e desacelerações. No entanto, concomitantemente, surgem as diversidades de termos e conceitos, o que passou a dificultar a interpretação dos sinais registrados. Para a normatização após consenso entre especialistas no assunto, a Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO NEWS,1987) publicou uma classificação de consenso: tabela - 1 13 TABELA 1 Normatização da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia para classificação de CTGA. Normal FCF basal (bpm) 110-150 Suspeito Patológico 100-110 ou <100 ou >170 150-170 Variabilidade(bpm) 5-25 5-10 (>40 min) <5 (>40 min) ou >25 ou sinusoidal Acelerações >2 ou =2 (n/10min) Ausentes Ausentes (> 40min) Desacelerações Ausentes Ocasionais Recidivantes e pequenas ou grandes Prolongadas ou tardias A CTGA avalia, indiretamente, o grau de estabelecendo, deste modo, um prognóstico para o feto. oxigenação Existem fetal, quatro parâmetros de FCF passíveis de análise: nível da linha de base, variabilidade, acelerações transitórias (AT) e desacelerações. O parâmetro mais evidenciado pela análise visual dos registros, é a presença de duas AT (aumentos > 15 bpm por > 15 segundos) desencadeada pelos movimentos corpóreos fetais (MCF). Na ausência de AT ou na presença 14 de apenas uma, complementa-se o exame com a estimulação fetal, geralmente, estímulo vibroacústico. A presença de desacelerações tardias da FCF, desencadeadas por contrações uterinas de Braxton-Hicks (contrações indolores), indica hipóxia fetal ou compressão intensa do funículo, caracterizando o registro francamente patológico (MARIANI NETO, 1998); Padrões normais: FETO ATIVO: no exame basal, são observadas duas AT, com intervalo de até 10 minutos entre si. FETO REATIVO: o estímulo sonoro (ES) provoca MCF e elevação da FCF de pelo menos 20 bpm por > 3 min e/ou duas ou mais AT. Padrões suspeitos: FETO HIPOATIVO: ausência ou presença de apenas uma AT. FETO HIPORREATIVO: há resposta fetal ao ES, porém, insuficiente. Padrões patológicos: FETO INATIVO: presença de desacelerações tardias ou umbilicais desfavoráveis às contrações uterinas de Braxton-Hicks. FETO NÃO REATIVO: ausência completa de resposta ao ES. 1.2 - Parâmetros para análise computacional da CTGA Na década de 80, estudando análises numéricas da variação da freqüência cardíaca fetal, batida a batida, movimentos corpóreos fetais e respiração fetal DAWES et al (1981) deram início aos estudos em direção ao 15 desenvolvimento de sistemas computadorizados que realizam as análises automáticas dos registros (DALTON e DAWSON 1984 e DAWES et al 1982), embora tenham se destacado os modelos de Dawes e Redman pela casuística, (DAWES et al 1991 e PARDEY et al. 2002). Todos os parâmetros utilizados por este sistema computacional, são idênticos aos avaliados pela análise visual já descritos e definidos no subtítulo anterior ou seja: linha de base, variabilidade, acelerações transitórias e desacelerações, exceto a chamada variabilidade curta ou STV, medida em milisegundos (ms) que se destaca, sendo considerado o padrão ouro da CTGA computadorizada. A probabilidade de acidemia metabólica fetal ou morte intra-uterina é de 72% para STV menor que 2,5 ms; 33% entre 2,5 ms e 2,9 ms; 29% entre 3,0 ms e 3,4 ms; 8% entre 3,5 ms e 4,0 ms e 0 para STV maior do que 4,0 ms (DAWES et al 1992). Por outro lado, os períodos de variabilidade longa da FCF são mais valorizados que a presença de AT, uma vez que estão presentes em 99,3% dos fetos normais, enquanto estas últimas são exibidas entre 83,8 e 92,7%, dependendo da idade gestacional. O estimulo vibroacústica , além de substimado não é incluído como parâmetro de análise na CTGA computadorizada Há controvérsias sobre a cardiotocografia computadorizada após a estimulação vibroacústica. Alguns autores afirmam que o sistema não foi desenvolvido para interpretar traçados após estimulo vibroacústico, devido às alterações bruscas na FCF (MONTENEGRO e REZENDE FILHO, 1995). Ao contrário, MONTAN et al.(1992), ao acompanharem 17 gestantes entre 34 e 42 16 semanas, mostraram que a perda de sinal devida à estimulação não ultrapassa 10%, o que permite o desempenho normal do equipamento. De acordo com MARIANI NETO (1999), com a forte tendência generalizada em se acreditar na tecnologia, corre-se o risco de exagero no diagnóstico ou na suspeita de sofrimento fetal. Na avaliação de fetos de mães diabéticas tipo I, o cálculo do STV não parece fiel devido à dificuldade na avaliação da idade gestacional pelo retardo no amadurecimento dos fetos nesta patologia (TINCELLO et al, 1998 ; 2001). Da mesma forma, questionando os critérios de Dawes e Redman, ANCESCHI et al. (1999) concluem que à relação ácido-base da artéria umbilical de recém nascidos está relacionada com a movimentação fetal e acelerações da FCF e não com baixos valores do STV. Utilizando o ultra-som SHAKESPEARE et al, (2001), com intuito de aperfeiçoamento da técnica, tem explorado a monitoração da variabilidade cardíaca fetal. Assim, como na técnica de magnetocardiografia fetal (ZHAO e WAKAI, 2002) e outros que buscam métodos matemáticos de avaliação da variabilidade dos registros (GROOME et al,1999 ; VAN LEEUWEN et al., 1999) incluindo sistemas de avaliação computacional utilizando programas de inteligência artificial (GUIJARRO-BERDIÑAS et al, 2001). 17 1.3 - Considerações frente às análises visual e computacional Com embasamento nestes estudos e com intuito de verificar os sinais e a aplicabilidade prática da análise computacional, comparamos os sinais obtidos em registros de CTGA, com estímulo vibroacústico e sem estímulo vibroacústico, calculando o STV de fetos ativos, hipoativos, pré e pós-ES. Muitos trabalhos já foram desenvolvidos em CTGA, porém a busca da utilização de parâmetros que traduzam segmentos estimulados e não estimulados, em ambiente Matlab-Mathworks, parece ser uma nova abordagem na predição da vitalidade fetal. 18 2. Aspectos da embriologia e fisiologia cardíaca fetal. Neste capítulo e nos próximos dois capítulos, embasados em MOORE e PERSAUD 1993), VIEIRA (1994) e CURRAN (1977), apresentamos uma revisão da embriologia e fisiologia cardíaca fetal, com o objetivo de fornecer informações biológicas e noções que auxiliem na compreensão do trabalho desenvolvido. 2.1 - Embriologia do Sistema Cardiovascular O sistema cardiovascular é o primeiro sistema a funcionar no embrião, com o sangue começando a circular na terceira semana. Esse desenvolvimento precoce é necessário porque o embrião em rápido crescimento precisa de um método eficiente para adquirir oxigênio e nutrientes e para eliminar dióxido de carbono e produtos de excreção. O sistema cardiovascular deriva do tecido angioblástico, que tem origem no mesênquima, um agregado de células mesenquimais derivadas do mesoderma. O processo de formação dos vasos sanguíneos é chamado angiogênese. Não é possível distinguir estruturalmente os vasos sanguíneos como artérias ou veias, mas estas são nomeadas de acordo com o seu futuro destino e sua relação com o coração. No desenvolvimento inicial do coração do sistema circulatório primitivo, o primeiro sinal é o aparecimento de pares de cordões endoteliais denominado cordões angioblásticos, durante a terceira semana. Estes cordões canalizam- 19 se para formar os tubos endocárdicos, que logo se fundem para constituir um único tubo cardíaco. Três pares de veias drenam o coração tubular do embrião de quatro semanas: as veias vitelinas, pelas quais retorna o sangue do saco vitelino e segue pelo pedículo vitelino até o embrião; as veias umbilicais , que trazem sangue oxigenado do córion (parte embrionária da placenta) e no interior do fígado forma-se uma passagem chamada ducto venoso, permitindo que parte do sangue da placenta passe diretamente para o coração; e as veias cardinais comuns, pelas quais retorna o sangue do corpo do embrião (principal sistema de drenagem do embrião). No desenvolvimento da veia cava inferior, a composição da mesma ocorre em quatro segmentos: o segmento hepático, o segmento pré-renal, o segmento renal e o segmento pós-renal. Na formação do coração primitivo, a área cardiogênica se organiza em duas faixas celulares chamadas cordões cardiogênicos. Estes cordões formam os tubos endocárdicos que se fundem formando um único tubo cardíaco, de onde começa a surgir o miocárdio primitivo (camada mais externa), o endocárdio (revestimento interno) e o epicárdio (pericárdio visceral). Na circulação do coração primitivo, as contrações cardíacas começam por volta do vigésimo primeiro ou vigésimo segundo dia e tem origem miogênica. As camadas musculares do átrio e do ventrículo são contínuas e as contrações, de ocorrências peristálticas, que no início é do tipo fluxo e refluxo; e no final da quarta semana estas contrações se tornam coordenadas e resultam em um fluxo unidirecional. 20 A divisão do coração primitivo atrioventricular começa por volta da metade da quarta semana e se completa no final da quinta semana, sendo que a formação do sistema de condução do coração, assim como o nó sinoatrial e o nó atrioventricular se tornam ricamente enervados e desenvolvem-se na quinta semana; e o átrio primitivo atua como um marcapasso temporário do coração. A circulação fetal atende às necessidades pré-natais e permite, ao nascimento, modificações para o padrão circulatório pós-natal. Ajustes circulatórios ocorrem no nascimento quando cessa a circulação do sangue fetal pela placenta, os pulmões do recém-nato começam a funcionar e o sistema vitelino, as veias cardinais e o sistema umbilical não são mais necessários. 3.Aspectos Morfológicos e Elétricos do Coração Fetal 3.1 - Desenvolvimento morfológico Nos estágios inicias de desenvolvimento fetal, a sua alimentação e oxigenação são realizadas por simples difusão. No entanto a partir da terceira semana a sua dimensão é tal, que a simples difusão deixa de ser suficiente para a satisfação das suas necessidades energéticas, pelo que começa a se desenvolver um sistema circulatório primitivo. O processo inicia-se com o desenvolvimento de pequenos vasos sangüíneos no tecido do mesoderme, a partir de pequenas bolhas sangüíneas. A forma como estes pequenos capilares se formam e desenvolvem é pouco conhecida. Algumas teorias defendem que inicialmente todos os capilares são 21 formados exteriormente ao feto, sendo absorvidos por este à medida que se desenvolve. Outras defendem que o desenvolvimento dos capilares acontece simultaneamente, quer exteriormente quer interiormente ao feto. Independentemente de qual o processo que forma os primeiros capilares, parece certo que estes se desenvolvem formando os primeiros vasos sangüíneos. Dois desses vasos, em particular os tubos cardíacos, formam-se junto à crista neuronal e irão ser os precursores do coração (figura 3) Figura 3- Tubos endocárdicos e crista neural – adaptado de Moore Devido ao desenvolvimento acelerado do feto neste período, profundas alterações morfológicas acontecem, fazendo com que esses dois tubos se aproximem e se fundam formando assim, um único tubo. Nesse período formase em redor deste tubo uma cavidade primitiva que se denomina cavidade précardíaca (figura 4). Este estágio é atingido quando o feto tem vinte e três dias e apenas 2,2 milímetros de comprimento. 22 Figura 4- Cavidade pré-cardíaca – adaptado de Moore No tubo primitivo, que irá formar o coração, já se encontram algumas estruturas idênticas às de um coração adulto, sendo já possível de distinguir dois tipos de tecido. O tecido do endocárdio que é composto por uma simples camada de células de grande permeabilidade, de forma que as células internas do coração possam ser alimentadas e oxigenadas, antes do aparecimento das artérias coronárias. No interior existe a matriz cardíaca, composta inicialmente pela geléia cardíaca e por duas ou três camadas de células de tecido do miocárdio. A geléia é composta essencialmente de proteínas e glicoproteínas, sendo responsável por grande parte da modulação do coração, pois é através dela que se faz a migração de células. As células contrácteis do miocárdio (miócitos) inicialmente são em número muito reduzido e orientadas de uma forma aleatória, mas com o tempo o seu número vai aumentar tal como a sua organização. O epicárdio que vai formar a parte exterior do coração não existe em estádios iniciais, estando a 23 sua formação de algum modo associada ao aparecimento dos vasos coronários, que irão alimentar todo o tecido muscular do coração. Nesta fase, o coração só possui duas cavidades distintas, (figura 5), pelo que vai ter de evoluir para um coração adulto com quatro cavidades. Figura 5- Coração com duas cavidades distintas – adaptado de Moore Este processo vai dar-se entre o vigésimo sétimo e o trigésimo sétimo dia de vida embrionária, período em que o feto passa de um comprimento de cinco milímetros para dezesseis ou dezessete milímetros. Para a divisão do coração em quatro cavidades, várias estruturas têm de ser formadas: a divisão do canal auriculoventricular em dois canais aonde irão se formar as válvulas auriculoventriculares, de forma a se ter uma ligação independente entre o lado direito e o lado esquerdo do coração e a formação de septos de forma a dividir a aurícula assim como o ventrículo em duas cavidades perfeitamente separadas (figura 6). 24 Figura 6- Formação de septos que irão dividir, tanto a aurícula quanto o ventrículo, em duas cavidades distintas – adaptado Moore A divisão do canal auriculoventricular realiza-se com base na divisão celular, que corresponde a um crescimento dos tecidos. A divisão da aurícula é um pouco mais complexa, pois se forma ainda um segundo septo, o septum secundum, de uma forma semelhante ao septum primum e paralelamente a este. Também este septo não se fecha completamente (figura 7). Figura 7- Formação do septo secundum paralelo ao primum, ambos com uma passagem entre as aurículas formando o foramem oval – adaptado de Moore 25 Dessa forma vai permanecer uma pequena passagem entre as aurículas, o foramem oval, durante todo o período gestacional. Esta passagem é essencial nesse período, pelo modo como a circulação sangüínea é realizada. Na altura do nascimento esta passagem deixa de ser necessária, fechando-se devido às grandes alterações hemodinâmicas existentes nesse período. Simultaneamente a este processo, dá-se também a septação do ventrículo (figura 8). Figura 8 – Septação do ventrículo – adaptado de Moore No entanto, a construção deste septo recorre a um processo bastante diferente. O tecido esponjoso do ventrículo começa, a partir da quarta semana de gestação, a dilatar devido a uma maior pressão hemodinâmica, mas como a 26 parte central se encontra fixa, uma divisão entre os ventrículos é criada. Este processo, contrariamente ao que acontece com a divisão das aurículas, praticamente não recorre à divisão celular, não havendo portanto construção de novos tecidos. Obviamente que com esse processo vai permanecer uma pequena passagem na parte superior do septo. Essa passagem tem de ser fechada, fato para o qual a divisão do tronco arterial na aorta pulmonar contribui enormemente. A existência inicial de uma única artéria a sair dos ventrículos, o tronco arterial, justifica-se perfeitamente pelo fato de a evolução decorrer a partir de um único tubo. No entanto, a divisão desse tronco na aorta e artéria pulmonar tem de se dar. O processo vai se basear na construção de um septo em espiral ao longo do tronco arterial, que com o tempo faz com que o tronco se separe em duas artérias completamente independentes. Para o coração se encontrar completamente desenvolvido falta apenas o aparecimento das várias válvulas cardíacas essenciais ao eficiente funcionamento do coração. As válvulas auriculoventriculares (tricúspide e mitral) começam a desenvolver-se logo após a divisão do canal auriculoventricular. Essas válvulas nascem a partir do crescimento de saliências nesses canais e por mutação celular programada, formando-se um tecido conjuntivo envolto pelo endocárdio, ficando ligado às paredes dos ventrículos através das cordas tendinosas (figura 9). Fato curioso é as dimensões destas válvulas estarem dependentes apenas do fluxo sanguíneo que as atravessa quando da sua formação, se por 27 algum motivo o fluxo for muito reduzido, as válvulas vão ficar perfeitamente constituídas mas com dimensões inferiores ao normal. Figura 9- Formação das válvulas tricúspide e mitral – adaptado de Moore Outras válvulas em que também o fluxo sangüíneo é importante para a sua formação são as lunares, que se encontram na artéria aórtica e pulmonar. Essas válvulas começam por ser pequenas saliências nas paredes das artérias, que por influência do fluxo sangüíneo vão sendo escavadas, acontecendo simultaneamente um processo de mutação celular, que forma o tecido conjuntivo existentes nas válvulas do coração adulto. 3.2 - Características Elétricas do Coração Fetal O coração desenvolve-se devido às necessidades crescentes de nutrientes e de oxigênio por parte do feto. Assim sendo, paralelamente ao desenvolvimento fisiológico do coração tem que existir também uma 28 capacidade de bombeamento, de forma a manter alguma pressão sanguínea, pelo que por volta do décimo sétimo dia de gestação, quando o coração se encontra ainda num estágio muito primitivo de desenvolvimento, começam os primeiros batimentos de uma forma completamente irregular e sem qualquer tipo de controle. Nesta fase ainda não existe nenhum local determinado onde o sinal elétrico que provoca a contração é gerado, como também não existem fibras especializadas na propagação dos sinais elétricos, sendo esta realizada por simples contato entre os miócitos (unidades contrácteis do coração). A orientação dos miócitos, ainda é mais ou menos aleatória, impedindo-os de gerarem uma força contráctil eficiente. Assim sendo, nos primeiros estágios a eficiência de bombeamento é praticamente nula, sendo a pressão sangüínea extremamente baixa. Com o desenvolvimento do feto, o coração vai se tornando cada vez mais eficiente e forte, fazendo com que a pressão vá aumentando progressivamente. O processo que forma o sistema elétrico do coração é muito pouco conhecido, ocorre a formação de fibras de características elétricas especiais como as do coração adulto, que são as fibras internodais (nas aurículas) e as fibras de Purkinje (nos ventrículos). No entanto, as teorias estão mais ou menos de acordo em que inicialmente existe praticamente só a geléia cardíaca, onde se vão desenvolver só miócitos que pouco a pouco formam o miocárdio degenerando alguns desses miócitos, em locais específicos, nas células com características elétricas particulares. Um desses locais é o sinus venosos onde se vão formar o nodo sinoauricular e o nodo A-V, que posteriormente migrarão para os seus 29 locais definitivos. São esses dois nodos os mais importantes marcapassos do coração, sendo eles também os primeiros a funcionarem. No entanto, pouco a pouco o nodo sinoauricular vai se tornar o marcapasso principal, existindo para isso três principais razões: 1- Ótima localização para uma distribuição eficiente do sinal elétrico ao longo das aurículas e dos ventrículos. 2- Uma enervação abundante por parte do sistema parassimpático e simpático, sendo o primeiro formado nos dois primeiros meses de gestação e o segundo, aparecendo apenas após o nascimento. 3- O desenvolvimento deste nodo em redor da maior artéria coronária do coração, que se encontra extremamente próxima da aorta, e por esse motivo talvez seja a razão mais importante para o controle do ritmo cardíaco, pois é com base na informação da pressão sangüínea dessa artéria coronária que o controle do ritmo cardíaco ocorre. As vias internodais estão desenvolvidas ao final do segundo mês, quando o foramem oval não está fechado, o que o diferencia do coração adulto. As fibras de Purkinje, que distribuem o sinal elétrico ao longo dos ventrículos, só ficam perfeitamente definidas após o nascimento (quanto ao tamanho, espessura e de acordo com a pressão do bombeamento de sangue no coração). O coração tem suas primeiras contrações a partir do décimo sétimo dia de acordo com unidades contrácteis do coração (os miócitos), que nesta fase não estão perfeitamente desenvolvidas, como por exemplo o retículo 30 sarcoplasmático (regulador importante do cálcio e essencial às contrações); tornando-se mais eficiente no terceiro mês de gestação. Assim sendo, o coração do feto no terceiro mês é muito parecido com o coração adulto em termos morfológicos e em termos eletrofisiológicos, com duas exceções: a existência do foramem oval e a não existência do sistema simpático. 3.3 - Atividade elétrica cardíaca O ritmo cardíaco do feto é mais acelerado ( aproximadamente 140 batimentos por minuto), comparado ao coração adulto( aproximadadamente 70 batimentos por minuto). Para poder compreender o padrão dos sinais eletrocardiográficos ou cardiotocográficos procede-se uma breve análise do processo de contração cardíaca de um coração adulto. O sistema elétrico pode ser resumido da seguinte forma: o sinal gerado no nodo propaga-se através da massa muscular das aurículas, a uma velocidade de 0,3 m/s provocando a sua contração. Esse sinal não pode passar de imediato para a massa muscular dos ventrículos, devido à existência de um tecido fibroso de alta resistência elétrica que separa as duas partes e que se denomina por barreira auriculoventricular. No entanto, ligado ao nodo sinoauricular existe três fibras, as fibras internodais, que conduzem o sinal gerado a uma velocidade elevada (1m/s), até ao nodo auriculoventricular (nodo A-V), que por sua vez transmite-o até aos ventrículos. Como o sinal não pode chegar muito rápido aos ventrículos, de 31 forma a que haja tempo para que as aurículas se contraiam completamente, existe no nodo A-V um sistema de atraso de aproximadamente 0,13 segundo. Do nodo A-V sai um feixe de fibras de grande espessura (exceto numa pequena zona onde as fibras atravessam a barreira fibrosa auriculoventricular) em direção aos ventrículos e onde a velocidade de propagação dos sinais é muito elevada (1,5 a 4 m/s), as fibras de Purkinje. Depois do feixe de fibras de Purkinje ter passado, o tecido fibroso divide-se em dois, dirigindo-se um para cada ventrículo. Estes dois feixes levam rapidamente o sinal elétrico até o ápex do ventrículo, ramificando-se então de forma a envolvê-lo completamente. O sinal é transmitido ao ventrículo a uma velocidade tal, que demora apenas 0,3 ms para propagar-se por todo ele. O não retorno do sinal elétrico às aurículas, justifica-se não só pela existência da barreira auriculoventricular que se comporta como um isolador, mas também devido às fibras do nó atrioventricular terem a característica de propagarem o sinal cardíaco num só sentido (das aurículas para os ventrículos). Caso tal não acontecesse, gerar-se-ia uma grave arritmia que impediria o funcionamento do coração. O ciclo cardíaco pode-se dividir então em quatro partes distintas: a contração das aurículas ou despolarização auricular, a descontração das aurículas ou repolarização auricular; a contração dos ventrículos ou despolarização ventricular e por fim, a descontração dos ventrículos ou repolarização ventricular. 32 Como o processo de contração e descontração cardíaco está associado a correntes elétricas, podemos utilizar como recurso à colocação de eletrodos, por exemplo, na superfície do tórax (eletrocardiograma) e no caso do feto, não é possível fazer as medições diretamente sobre o seu tórax, mas pode-se realizá-las colocando transdutores em contacto com o ventre materno. Portanto ocorrendo a polarização e repolarização cardíaca, torna possível a captação da freqüência cardíaca fetal, conseqüentemente, devido aos movimentos da parede do coração e das ondas refletidas, os transdutores permitem a observação do efeito Doppler, que pode ser traduzido em registro na CTGA (figura 10) E F E IT O D O P P L E R N A C A R D IO T O C O G R A F IA T r a n sd u to r (fix o ) P a r e d e s d o c o r a çã o (m o v im e n to ) E fe ito D o p p le r (o n d a s re fletid a s) C o ra ç ã o a p r o x im a n d o a fa sta n d o Figura 10 – Movimentos das paredes do coração e o efeito Doppler 33 4. Aspectos Funcionais do Córtex Cerebral e a resposta do SNA, conforme alteração metabólica fetal na CTGA O córtex cerebral é o disco rígido do computador. É onde estão armazenadas, geneticamente, as informações que aquele ser humano obteve, através não só de sua vida, como também da vida de seus ancestrais. O córtex tem este nome porque se trata de uma camada que envolve por fora o cérebro. A especialização realmente ocorreu na evolução das espécies, e o córtex humano tem, muito bem dividida, várias áreas. Existem meios de comunicação extremamente rápidos entre as várias regiões do córtex, e elas interagem para muitas funções. A audição acontece no córtex temporal, por dentro dos pavilhões auditivos. Assim por exemplo, ouvir é uma função bilateral, podemos cortar fora todo um lado do cérebro que o outro ouve bem sons vindos da direita e da esquerda. Audição, sensação, visão, fala, entendimento de palavras, tudo ocorre em conjunto. A função mais nobre do cérebro humano é associar informações e dar a elas um sentido, uma interpretação. Estas áreas de associação ficam nas fronteiras entre lobos, e principalmente numa região que fica por trás e por cima das orelhas, onde existe uma tripla fronteira, entre lobos parietal, temporal e occipital. Os centros controladores são núcleos de neurônios imersos na substancia branca na base do cérebro. Informações que vêm da região plantar para chegar ao consciente, precisam chegar ao córtex. 34 O caminho começa no nervo periférico, vai pela raiz medular, entra na coluna, sobe pela medula, passa pelo tronco cerebral, pelos núcleos da base e finalmente vai ao córtex. (BITTENCOURT , 2003). Outros controles que dependem da função do córtex cerebral são a circulação sangüínea barorreceptores e e a freqüência cardíaca através de estímulos quimiorreceptores que controlados pelos centros cardioinibidor e cardioacelerador , regulam o ritmo cardíaco no adulto e no feto. Em nossos estudos observamos a relação da freqüência cardíaca fetal com a resposta da vitalidade fetal traduzida na cardiotocografia. Esta tradução da CTGA depende do nível do PO2 e PCO2 na circulação fetal e da resposta do sistema nervoso autônomo (SNA), ou seja, se o feto estiver bem oxigenado, (sem compromentimento PO2 > PCO2 ) o registro cardiotocográfico resultará em variabilidades longas ( presença de acelerações transitórias) e a freqüência cardíaca fetal se mantêm inalterada ( batida a batida ) na sua linha de base com boa variabilidade e o resultado do STV e o ritmo batida batida da estará dentro do normal No entanto, se a oxigenação fetal estiver diminuída,( feto comprometido PCO2 > PO2 ) o registro cardiotocográfico resultará em variabilidades curtas ( ausência de acelerações transitórias) e a freqüência cardíaca fetal ( batida a batida ) estará alterada e se manterá em padrão comprimido, podendo estar abaixo da linha de base e o resultado do STV indicando acidemia metabólica ou sofrimento fetal. 35 4.1 – Funções Auditivas e a influência do ES no SNA e no registro da CTGA Estas funções são atributos do seu órgão sensorial básico: a cóclea. Os ouvidos externo e médio convertem vibrações sonoras de baixa pressão existentes no ar circundante em padrões de baixa amplitude e alta pressão, adequados para serem transmitidos pelo meio líquido que envolve as células sensitivas do ouvido interno. Além disso, permitem uma compressão dinâmica das ondas sonoras em baixas freqüências, com objetivo de proteger essas células sensitivas. Tornam também prioritárias as faixas médias em circunstancias de alto nível de ruído ambiente e sob comando do SNC. O ouvido interno é encarregado na conversão de vibrações de ondas sonoras de baixa amplitude e alta pressão, ou seja de realizar a transformação das ondas sonoras em mecânicas (uma forma de energia biológica, de base eletroquímica). Em analogia, se imaginarmos: uma pedra atirada a um lago, formando uma seqüência de ondas mecânicas (estímulos vibroacústico) que se somam até atingir um objeto (feto) capaz de ser transmitida pelas fibras nervosas (energia eletro química) que, através do nervo auditivo fetal, levarão a informação para ser processada pelas áreas correspondentes do Sistema Nervoso Autônomo (Simpático e Parassimpático). Com isto provocar uma resposta reflexa com movimentos corpóreos fetais súbitos e conseqüentemente alterações da FCF, traduzindo na CTGA 36 com aumento da amplitude da variabilidade na análise visual do registro cardiotocográfico. 4.2 – Mecanismos de Regulação Cardíaco Fetal através de Barorreceptores e Quimiorreceptores e a influência na FCF Schuartz, em 1858, provavelmente foi o primeiro a investigar a atividade respiratória fetal. Schultze, em 1871, estudou sobre morte fetal e a patogenia do CO2 sugerindo irritação vagal com conseqüente bradicardia. Sertz, em 1903, continuou a teoria da asfixia e a importância de quimiorreceptores e barorreceptores no controle da freqüência cardíaca fetal . (KUNZEL, 1985) Barorreceptores são pequenos receptores nas paredes vasculares que são sensíveis ao aumento da pressão arterial (P.A.) , sendo encontrados no arco aórtico e nos seios carotídeos, na junção das artérias carótidas internas e externas. Quando a PA aumenta, impulsos são enviados desses receptores através do vago ou do nervo glosso faríngeo para o mesencéfalo, resultando em impulsos mais distantes, do vago para o coração, o que tende a diminuir a atividade cardíaca. Esta resposta é extremamente rápida, aparecendo na primeira elevação da primeira P.A. sistólica, isto ocorre como função de proteção e equilíbrio do corpo na tentativa de diminuir a P.A., diminuindo a freqüência cardíaca e o rendimento cardíaco, quando a pressão sangüínea está aumentada. (PARER, 1983) 37 Os quimiorreceptores são achados, tanto no SNP quanto no SNC, tendo ação predominante na regularização da respiração, e também agem na circulação. Os quimiorreceptores periféricos são encontrados nos corpos carotídeos e aórticos, como os pressorreceptores são achados no arco aórtico e na área dos seios carotídeos. Os quimiorreceptores centrais são achados na medula e respondem às mudanças nas pressões ( PO2 e PCO2 ), no sangue ou no fluído cérebro espinhal perfundindo esta área. No adulto, quando o O2 diminui no sangue arterial, perfundindo os quimiorreceptores centrais, ou o CO2 contido está aumentando, ocorre um reflexo de taquicardia, e há também um aumento da PA, que é evidenciada com o aumento da concentração de CO2. A taquicardia e o aumento da PA são efeitos que ocorrem na tentativa de proteção das áreas afetadas, com o aumento do fluxo sanguíneo para obter diminuição da PCO2 ou aumento da PO2. Hipóxia e hipercapnia dos quimiorreceptores periféricos produzem bradicardia no adulto, em contraste à taquicardia e à hipertensão vista com hipóxia central e hipercapnia. A interação dos quimiorreceptores centrais e periféricos é obscura no feto, mas é sabido, todavia, que o resultado da hipóxia ou da hipercapnia no feto é bradicardia e hipertensão arterial. (PARER, 1983) Esta interação é compensatória , provocando alteração entre uma batida e outra batida “beat to beat” da FCF, de impossível visualização humana, traduzindo na variabilidade curta observada na Cardiotocografia, e surgindo 38 como padrão ouro dos estudos de Dawes e Redman, e que propomos avaliar em nossos estudos. 4.3 Mecanismos de adaptação do feto e a influência do SNA na variabilidade curta (STV) Há muito se sabe que o feto e o recém-nascido são mais resistentes a episódios de asfixia que os adultos. Em situação de asfixia, o feto maduro consegue redirecionar o fluxo sanguíneo para órgãos mais nobres, como coração, cérebro e supra-renais, que vão lhe assegurar oxigenação e nutrientes adequados. No próprio cérebro ocorrem diferenças de redistribuição; assim o fluxo cerebral é direcionado muito mais para o tronco cerebral do que para o córtex; nessa região, as áreas consideradas de perfusão terminal (como na região parietal parassagital) são as mais atingidas. A resistência vascular diminui nesses órgãos vitais, porque a hipoxia e o acúmulo de CO2 promovem vasodilatação cerebral. Na periferia, ao contrário, aumenta a resistência vascular: adrenalina e noradrenalina estimulam a atividade simpática e dos quimiorreceptores, que, juntamente com a liberação de arginina-vasopressina, vão aumentar a resistência vascular periférica. O feto, ao contrario do adulto, responde à hipoxia com bradicardia, devido aos quimiorreceptores bem desenvolvidos por ocasião do termo. Estes, detectando situação de hipoxia, provocam queda da freqüência cardíaca fetal via regulação vagal. Além disso, como a vasoconstrição periférica leva ao aumento da pressão sanguínea, os barorreceptores arteriais são estimulados e 39 irão manter a bradicardia como resposta do SNA (simpático e para simpático) e assim alterar a FCF ( batida a batida ) fazendo surgir a variabilidade curta, tornando comprimindo o registro na cardiotocografia e conseqüentemente alterando o valor do STV . À medida que a hipoxia se acentua, o feto passa a depender da glicólise anaeróbica para satisfazer suas necessidades energéticas, com conseqüente acúmulo de ácidos láctico e pirúvico, e, portanto, queda de pH, ou seja, um estado de acidose. Este é agravado pelo acúmulo de CO2, que vai se constituir no componente respiratório do estado acidótico. MECANISMO DE ADAPTAÇÃO DO FETO Feto situação asfixia Bradicardia e Hipert. fetal O2 CO2 sangue órgãos nobres resistência periférica CO2 vaso dilatação cerebral Quimio e alteração do intervalo barorreceptores batida – batida variabilidade curta (STV) Figura – 11 Influência do SNA na variabilidade curta (STV) 40 5.Objetivos 5.1 Geral Avaliar a aplicabilidade da cardiotocografia computadorizada em ambiente Matlab. 5.2 Específicos I– Implementar o registro e o cálculo computacional da variabilidade curta (STV) em ambiente Matlab. II - Comparar a variabilidade curta (STV) em registros sem e com estímulo vibroacústico (entre fetos ativos e hipoativos) III - Comparar a variabilidade curta (STV) dos registros de CTGA em um minuto pré e pós estímulo vibroacústico. IV- avaliar o valor do STV como parâmetro para a realização do estimulo sonoro. 41 6.Casuística e Métodos 6.1 – Características A amostra de casos foi obtida entre gestantes da maternidade da Santa Casa de Misericórdia de Pindamonhangaba e encaminhadas ao setor de monitoragem fetal deste hospital. A idade gestacional foi igual ou superior a 31 semanas, feto vivo, único, no período de outubro a dezembro de 2002. Participaram da pesquisa 27 gestantes, sendo coletados e armazenados digitalmente 27 registros cardiotocográficos. 6.2 - Procedimentos para coleta de dados As gestantes foram encaminhadas para a monitoragem fetal, onde foram colhidos os dados e anotados em ficha estruturada (anexo 1) e consentimento livre informado (anexo 2). 6.3 - Procedimentos cardiotocográficos Gestantes em posição semi-sentada, alimentadas, sem uso de sedativos, em bom estado geral, normotensas e orientadas. A duração mínima do exame foi de 10 minutos e máxima de 20 minutos. O monitor fetal utilizado foi o TOITU MT-325. 42 Realizava-se o estímulo vibroacústico em fetos considerados hipoativos, através de um estimulador fetal vibroacústico, com potência em torno de 80 a 100 dB, aplicado sobre o ventre materno na altura do pólo cefálico fetal durante 5 segundos aproximadamente. 6.4 - Aspectos Éticos O projeto de pesquisa foi previamente aprovado pela comissão de ética da Santa Casa de Misericórdia de Pindamonhangaba. O estudo foi realizado com gestantes voluntárias após consentimento livre e esclarecido, e respeitados os princípios para pesquisa em seres humanos da ASSEMBLÉIA MÉDICA MUNDIAL, 1990, Declaração de Helsinki (ASAMBLEA, 1990). A participação das gestantes na pesquisa e sob sigilo e consta no termo de consentimento livre e informado (anexo 2). 6.5 - O cardiotocógrafo O cardiotocógrafo consiste de dois transdutores, um de ultra-som e um de pressão, para coleta da atividade cardíaca fetal e contração uterina, respectivamente. O sinal de ultra-som coletado é processado para obtenção da freqüência cardíaca fetal e impressão em papel apropriado da FCF e da contração uterina, esta última quando existente. O equipamento também disponibiliza saídas analógicas tanto da freqüência cardíaca quanto da contração uterina em um conector traseiro. 43 6.6 - Digitalização dos dados Os registros da FCF foram digitalizados a uma taxa de 50 pontos por segundo coletados na saída analógica do cardiotocógrafo e armazenados, para análise posterior, no disco rígido através de um programa computacional desenvolvido em ambiente Labview-National Instruments (ambiente de programação que administra o tempo, amplitude e visualização na tela) . 6.7 - Cálculo da variabilidade curta (STV) CÁLCULO DA VARIABILIDADE CURTA (STV) DAWES e REDMAN 1/16 1/16..........................16/16 ! ! ( PARDEY 2002) ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! 1 min 1 min 1 min 1 min 3.75 3.75 3.75 3.75 s 3.75 3.75 3.75 s 3.75 3.75 s = período médio ...... ...... ...Diferença dos IPM Média das diferenças cada min. STV = variabilidade curta ( ms ) Média dos valores por min. Figura - 12 Cálculo esquemático da Variabilidade Curta 44 O STV, ou critério de Dawes e Redman, foi calculado de acordo com os seguintes passos (PARDEY et al, 2002): • Retira-se do registro os minutos contendo acelerações, desacelerações e perdas de captação. • Toma-se o inverso do registro em freqüência, obtendo-se o período. • É obtido um valor do período médio para cada 3,75 segundos de registro. • Calcula-se a diferença entre os períodos sucessivos e toma-se a média a cada 16 valores, ou seja, a média a cada minuto. • Por último, calcula-se a média de cada minuto, obtendo o STV. A retirada dos segmentos foi realizada por inspeção visual, sendo excluídos os trechos com perda de captação e variação da taxa de batimento cardíaco maior que 15 bpm em relação à linha de base (acima e abaixo). 6.8 - Análises dos dados Todos os registros cardiotocográficos foram submetidos a análises visuais e computadorizadas, e ambas analisadas sob o aspecto físico e clínico. A avaliação visual dos registros em papel (Gráfico 1), foi realizada de acordo com os critérios da Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo. (SOGESP, 1998). 45 Gráfico 1 - registro cardiotocográfico anteparto. A avaliação computacional foi realizada em ambiente Matlab- Mathworks, e consiste no cálculo do STV e avaliação de seus valores nos registros ativos e segmentos anterior ao estímulo dos registros considerados hipoativos reativos, e em um minuto anterior e posterior ao estímulo vibroacústico nos hipoativos reativos. A seleção dos segmentos analisados foi feita por análise visual, respeitando os critérios sugeridos para esse cálculo (PARDEY et al, 2002), já descritos anteriormente. 46 Consideramos as amostras por análise visual para o cálculo do STV e para a realização do estímulo vibroacústico. Separamos as amostras em 4 grupos: Grupo A – fetos ativos: registros em que se observou visualmente duas ou mais AT (Gráfico 2). Grupo B – hipoativos: registros em que não se observou no mínimo duas AT (Gráfico 3). Grupo C – fetos pré-estimulados (fetos pré ES): registros em que não se observou no mínimo duas AT Grupo D – fetos pós estimulados (fetos pós ES): registros em que se observou aumento (aceleração) da freqüência cardíaca fetal igual ou superior a 15 bpm e persistiu por 3 min ou mais. Comparamos: I. O STV global do grupo ativos (grupo A) com os do grupo hipoativos (grupo B) II. O STV do segmento em 1 min do grupo de fetos pré-ES (grupo C) e pós-ES (grupo D) 47 200 180 160 140 120 100 80 60 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Gráfico 2 - registro coletado de um feto ativo. 200 180 ES 160 140 120 100 80 60 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Gráfico 3 – registro coletado de feto hipoativos reativos 48 7.Resultados Foram coletados digitalmente 27 registros cardiotocográficos de gestantes entre a 31a e 41a semana de gestação. A variabilidade curta STV foi calculada para todos os grupos: ativos (Quadro 1); hipoativos (Quadro 2), pré e pós ES (Quadro 4). Grupo ativo (grupo A) STV (ms) 7.00 9.70 1 10.00 2 4.20 10 3 7.40 14.80 4 5 8.10 7.20 5.90 7.20 11 12 13 14 4.60 3.50 6 5.10 8.00 7 5.60 15 6.30 8 9 4.20 4.60 17 18 16 Quadro 1 - valores do STV global onde a média é de 6.86 ms e o desvio padrão de 2.72 ms. Grupo hipoativo (grupo B) STV (ms) 4.20 1 3.90 2 4.50 3 5.60 4 3.80 5 3.00 4.70 5.70 3.00 6 7 8 9 Quadro 2 – valores do STV global onde a média é de 4.27 ms e o desvio padrão de 0.98 ms. 49 TABELA 2 Valores do STV em um minuto pré e pós-estímulo vibroacústico (Wilcoxon pareados) Fetos Pré-ES Pós-ES Diferença (grupo C) (grupo D) pré e pós-ES 1 4.90 9.30 4.40 2 4.30 3.40 -0.90 3 9.30 9.70 0.40 4 3.10 4.20 1.10 5 3.30 5.00 1.70 6 6.10 6.40 0.30 7 7.00 11.20 4.20 8 2.30 3.20 0.90 9 4.10 6.40 2.30 média 4.93 6.53 1.60 desvio padrão 2.20 2.92 1.78 entre A comparação entre os grupos A e B, e C e D, foi realizada através dos testes estatísticos de Wilcoxon não pareado e pareado respectivamente, tendo com hipótese nula que os dados são idênticos. Observamos entre os grupos A e B p < 0.004 sendo o STV dos ativos 2.59 ms maiores que o dos hipoativos em média e p < 0.02 entre os grupos C e D, sendo o STV pós estímulo 1.60 ms maior que o pré estímulo em média. 50 8.Discussão A avaliação da vitalidade fetal tem sido realizada na busca exaustiva do diagnóstico precoce da alteração metabólica fetal e seus principais alvos, que incluem a acidose metabólica (hipóxia-anóxia) e insuficiência feto-placentária intra-uterina e assim como predição confiável e segura para o desfecho. Conseqüentemente, métodos vêm sendo desenvolvidos como Doppler fluxometria, ultra-sonografia, inteligência artificial, magnetocardiotocografia fetal e entre eles a CTGA, que é um método indolor, de fácil realização, confortável, de baixo custo, não invasivo, e boa aceitabilidade e bom efeito psicológico à gestante. Assim, o presente estudo foi desenvolvido com o intuito de: avaliar o registro e o cálculo computacional do STV em ambiente Matlab , que facilita a análise e o processamento de sinais, possui várias ferramentas como exemplo: transformadas de FOURIER, redes neuronais e outras. O Matlab permite um desenvolvimento livre,não é rígido,permite calcular, associar, transformar e vai se adequando ao tempo fornecendo liberdade de análise. Possibilitando, assim, a comparação dos valores globais em fetos ativos e hipoativos, pré e pós-ES na avaliação da cardiotocografia computadorizada, em nossa análise. DAWES e colaboradores (1992), afirmam em seus estudos que a chegada de uma conclusão diagnóstica, teria tempo reduzido na análise computadorizada, sem a utilização de qualquer tipo de estimulação fetal. 51 MARIANI NETO (2000) em análise visual de cardiotocografia, concluiu que o estimulo vibroacústico, por si só, reduz o tempo total do exame Neste estudo associamos a análise visual e a computacional. Calculamos computacionalmente o STV e verificamos que essa avaliação parece melhorar a confiabilidade do método ao depararmos com os 27 registros de CTGA de gestantes dentre os quais 9 foram considerados hipoativos reativos e 18 ativos. Comparamos o grupo dos ativos (grupo A) com o grupo dos hipoativos (grupo B) e observamos que o cálculo de STV, na média, mostra ser maior no grupo dos ativos, provavelmente justificando a presença de acelerações transitórias (AT), o que já não ocorreu no grupo dos hipoativos que mostra o valor do STV inferior na média, sendo necessário estimulação vibroacústica para, provavelmente, compensar a ausência das AT e assim poder ter predição da capacidade de reserva de oxigenação fetal. Da mesma forma, comparando os registros do segmento de 1 minuto pré e pós-ES de cada feto (Grupos C e D), o valor do STV, em média, mostrou significativo aumento estatístico (p < 0.02) após estimulo. Portanto, reforçando a necessidade do estímulo vibroacústico, valorização da AT e a variabilidade longa (Long Term Variation – LTV) na análise computadorizada., assim como é pertinente associar o cálculo do STV à análise visual da cardiotocografia com o auxílio de ambiente Matlab. Com estes estudos observamos a importância do aumento do valor do STV tanto nos fetos ativos quanto nos reativos, o que reflete a importância das acelerações transitórias, como a variabilidade longa ou seja a amplitude da 52 FCF no registro cardiotocográfico na predição da vitalidade fetal. Também a idéia de que talvez alguns fetos hiporreativos com o aumento do STV possam ser considerados normais e que para isto seja necessário uma casuística maior e assim definir o valor critico da variabilidade curta para indicar o estimulo vibroacústico e qual o aumento necessário do valor do STV, para ser valorizado. Outro fator importante é o tempo do seguimento selecionado: comparando o valor do STV dos fetos ativos com os reativos, observamos que numericamente o valor do STV dos ativos (Grupo A) na média é significantemente maior que os reativos (Grupo B), esta alteração de valores ocorre devido à diferença de tempo dos seguimentos selecionados para o cálculo. O mesmo ocorre ao compararmos os grupo B e C, que ambos são, os considerados hipoativos 8.1 - Aceleração transitória (AT) como requisito ao estímulo vibroacústico (ES) Nos estudos de PARDEY et al. (2002) , a análise do STV exclui alguns segmentos do registro computacional como: intervalos de variabilidade longa tanto acima quanto abaixo da linha de base, portanto, exclusas as acelerações transitórias da FCF na análise computacional do STV, o parâmetro que o presente estudo correlaciona com o bem estar fetal. No entanto, MARIANI NETO (2000) , no estudo de aceleração transitória de FCF, conclue sua importância em fetos hígidos, afirmando boa vitalidade 53 fetal em análise visual e constatam a integridade do sistema nervoso autônomo fetal. O STV dos registros ativos se apresentaram na totalidade dos casos, acima de 3.5 milisegundos confirmando boa vitalidade fetal acentuando a importância do método computacional. Acredita-se que após estímulos vibroacústicos a linha de base se altera, devido às mudanças bruscas da FCF (MOTENEGRO ; REZENDE FILHO, 1995). MONTAN (1992) mostra que a perda de captação é mínima, em torno de 10 %, não alterando a análise computacional. Em nossos estudos observase que a perda de captação existente associada ao estímulo vibroacústico realmente não compromete a análise. Avaliando os registros, em um minuto antes e em um minuto após o estímulo vibroacústico, observamos uma alteração, tanto da FCF quanto do STV, ambos aumentando pós-estímulo (Quadro 4), fazendo ressurgir em alguns casos as AT, tornando normais alguns registros tanto no aspecto visual quanto computacional (Gráfico 4). 200 200 ES 180 160 160 140 140 120 120 100 100 80 80 60 ES 180 60 0 1 2 3 4 5 6 7 Gráfico 4 - 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Registros de CTG que se tornara normais tanto no Aspecto visual quanto computacional após o estimulo vibroacústico 54 8.2 - Cálculo do STV como requisito ao estímulo vibroacústico Devido ao grande número de detalhes a serem considerados na CTG, apesar do grande valor estatístico, estudos de imensa casuística deixam falhas na interpretação, visto que o cálculo do STV não considera os trechos de AT e desacelerações acentuadas bem como em nenhum momento se observa a inclusão do estímulo vibroacústico na CTG computacional, substimando assim o valor do mesmo na análise. Haja vista a impossibilidade humana de análise visual desta variabilidade instantânea, é pertinente basearmos no cálculo da variabilidade curta (STV) como requisito para ocorrência ou não da estimulação vibroacústica. 55 9.Conclusões 9.1. Geral Implementamos satisfatoriamente o cálculo do STV, ou variabilidade curta, em ambiente Matlab-Mathworks, que permite liberdade de análise e facilita o processamento dos sinais e por possuir várias ferramentas que facilitam os cálculos, transformações, associações e não sendo rígido, o programa vai se adequando ao tempo. 9.2. Específicas I- Comparando o STV dos registros ativos (grupo A) e hipoativos (grupo B), chegamos à conclusão que: Os valores são diferentes, os registros de fetos ativos mostram o STV 2.59 ms maior em relação aos fetos hipoativos. Observamos que o STV na média é maior no grupo dos fetos ativos, isto devido às AT, o que não ocorreu no grupo dos hipoativos pela ausência de AT e compensadas pelo ES e relacionando com a vitalidade fetal pela capacidade de oxigenação. II - A aplicabilidade da cardiotocografia computadorizada com o cálculo do STV mostrou importância significativa pela diferença dos valores comparados e a possibilidade da realização do cálculo da variabilidade curta (STV) e associa- 56 lo aos dados visuais, haja vista a impossibilidade humana da análise visual destas variabilidades instantâneas. III - Ao calcularmos o STV dos registros em 1 minuto pré e pós - ES dos grupos C e D chegamos à conclusão que : Os valores de STV são significativamente diferentes e em média, os valores do STV pós - ES são 1.60 ms maiores que os do pré – ES em ambiente Matlab, mostrando a importância da LTV, AT, ou seja da amplitude da variabilidade da FCF e a necessidade da valorização do ES IV - A diferença significante entre os valores do STV antes e depois do estímulo, tanto em seus valores pareados, quanto à média, em nosso parecer sugere: o valor do STV como novo parâmetro para a realização ou não do estimulo vibro acústico. Portanto, concluímos, que a avaliação computacional e visual se complementa, e em nosso parecer seria importante a inclusão da estimulação fetal na análise computacional, visto que ela pode tornar normal, tanto do ponto de vista visual como computacional, registros de fetos hipoativos. A importância da AT, LTV, ou seja a amplitude da FCF são reflexos correspondem diretamente com a vitalidade fetal que verificamos em nossos estudos, embora seja necessário definir o valor critico do STV para a realização do ES, bem como a linha de base para LTV. 57 10.Propostas Futuras • Analisar a inclusão de estímulo vibroacústico na análise computacional. • Avaliação do STV antes e após acelerações transitórias comparando-as com o STV antes e após estímulos fetais. • Avaliar a aplicação de outros métodos de avaliação da variabilidade da freqüência cardíaca fetal, como por exemplo, a entropia do registro cardiotocográfico. • Implementar o cálculo do Long Term Variation, ou variabilidade longa, e a determinação da linha de base para a avaliação computacional de CTG em ambiente Matlab. • Aplicação de estímulo controlada pelo computador. • Avaliar os fetos hiporreativos, não só no aspecto visual, mas também o valor do STV computacional no registro destes fetos. 58 11.Referências Bibliográficas ANCESCHI, M.M., PIAZZE, J.J; VOZZI, G; RUOZI BERETTA, A; FIGLIOLINI, C.; VIGNA, R E; COSMI, E.V. 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Simultaneity of foetal heart rate acceleration and.foetal trunk movement determined by foetal magnetocardiogram actocardiography, Phys Med. Biol. v.47, p.839-846, 2002. 61 12. APÊNDICES 62 APÊNDICE 1 FICHA DE COLETA DE DADOS 1- Programa .................................................................................... 2- Nome .......................................................................................... 3- Idade .................... RG ................................................ 4- Data .........../............./............... 5- Nº Ficha ................... / Nº Internação ........................ 6- Pré natal normal 7- Pré natal alto risco > patologia ( ) , medicação ......... ............................................................................................................... ......... 8- I.G................sem. 9- Paridade ............Gesta ............Para ...........A 10- Alimentada há menos de 2 horas ........................ 11- Amniorrexe ........................ 12- Liquido Amniótico.......................... 13- Horário do exame ........................... 14-Duração do exame.......................... Sem estimulo 15-Analise da CTG .> VISUAL............................................................................. .......................................................................................................................... ............................................................................................................................... ........................................................................................................................... Sem estimulo 16-Analise da CTG .> COMPUTACIONAL-------........................... ............................................................................................................................... ........................................................................................................................... Com estimulo 17-Analise da CTG > VISUAL ---.................................................. ............................................................................................................................... ........................................................................................................................... 18-Analise da CTG > COMPUTACIONAL ............................ Com estimulo ............................................................................................................................. 19-Observação:..................................................................................................... ............................................................................................................................... 63 APÊNDICE 2 DECLARAÇÃO DE CONSENTIMENTO E INFORMADO Nome:.................................................................................. RG: ........................................................ Registro / internação........................................... Pesquisador............Dr. Nelson Antonio Sbravatti Declaro que concordo em participar voluntariamente do estudo que vai analisar o Processamento de sinais obtidos por cardiotocografia fetal. Estou ciente que: 1. Estou grávida e este exame chamado monitoragem fetal,não interfere no meu bem estar e do meu bebê . 2. Este exame será analisado por médicos e físicos . 3. Meu exame será feito num aparelho de cardiotocografia fetal acoplado em um computador e não causa dor ao bebê e a mim . 4. Fui informada que meus dados serão mantidos em sigilo pelo pesquisador e que, caso não queira participar do estudo,o acompanhamento da minha gravidez e do meu parto não será prejudicado . 5. Não sou obrigada a realizar nenhum destes exames, nem participar do estudo . 6. Minhas dúvidas foram esclarecidas e minha assinatura significa que concordei em participar do estudo . Pindamonhangaba,.........../.........../.......... ......................................... assinatura ......................................... testemunha ............................................ pesquisador 64 APÊNDICE 3 Foto do sistema de coleta de dados. Foto da técnica de estimulação vibroacústica 65 13. ANEXOS 66 ANEXO 1 PARECER DA COMISSÃO DE ÉTICA MÉDICA 67 68 69 14. AGRADECIMENTOS FINAIS Bem, hoje é o dia de voltar o filme e recomeço agradecendo. • Primeiramente, à Univap , que considero o meu manto que me acolheu e deu a oportunidade de desenvolver o meu trabalho, me fez evoluir no dia a dia e fomos transformando sonho em realidade. Aqui fiz muitos amigos e agradeço a toda a Univap em especial a família IP&D. • Aos amigos do Hospital Universitário de Taubaté representado pelo Prof. Dr. Xenofont Mazzini, Prof Drª Valéria Tuffi, Dr. Gilberto de Abreu Victor, Dr. Ailton A. Marchi, e todos que trabalham conosco no dia a dia. • A Drª Lucy no trabalho, na troca de informações e no aprendizado do dia a dia. • Ao Dr. Gregório, na amizade e no apoio acadêmico. • As minhas irmãs que mesmo distantes sempre mantiveram o carinho e apoio e em especial a minha irmã querida que partiu , mas deixou o exemplo do aprender e ensinar, o meu muito obrigado. • Aos meus pais minha eterna gratidão por acreditar nos meus objetivos. • Aos meus companheiros de toda a minha caminhada: minha esposa e filhos meu amor e carinho e o perdão pela ausência. • A Prof Drª Belén e sua memória fantástica, de onde saíram as primeiras palavras de incentivo , quando me recebeu para a primeira aula de mestrado. • Ao Prof. Dr. Daniel pela simpatia, sempre quebrando o gelo nos momentos tensos e sempre solidário. 70 • Ao Prof. Dr. Corintio de renome nacional e internacional a quem devo toda minha base obstétrica, desde os meus primeiros passos na medicina e a quem sempre procurei me espelhar pela sua dignidade, postura acadêmica e sua dedicação e contribuição à obstetrícia do Vale do Paraíba e do Brasil. • Ao Prof. Dr. Eder que me orientou durante todo nosso trabalho, que não consigo qualificar e nem como me referir: amigo, irmão, talvez “o mais novo”, como ele gosta, mas que aprendi a admirar como ser humano, pela humildade e competência que contribui muito para a evolução daqueles que o procuram. Como acredito que o aprendizado dura a vida toda e que DEUS ensina através dos homens e se serve deles para que enxerguemos adiante. Minha eterna gratidão por serem meus mestres Prof. Corintio, Prof. Eder, Prof. Daniel, Profª Belén