6.6. Processo de produção e progresso técnico 6. Karl Marx 6.6. Processo de produção e progresso técnico 6.6.1. Capital constante, capital variável e maismais-valia 6.6.2. Força de trabalho, trabalho necessário e trabalho excedente 6.6.3. MaisMais-valia relativa 6.6.4. Maquinaria e grande indústria: o progresso progresso técnico capitalista 1 ● a partir da teoria do valor-trabalho, Marx sustenta que somente o trabalho vivo (uso da força de trabalho) cria novo valor na produção - cabe verificar como ele enfoca o processo de produção para fundamentar sua posição - o que ocorre em ... P ... ? D — M {MP;FT} . . . P . . . M’ — D’ 1000 {700; 300} 1300 1300 ∆D = 300 2 6.6.1. Capital constante, capital variável e maismais-valia ● produção capitalista envolve um duplo caráter: - é processo de trabalho, trabalho concreto que opera e produz valores de uso; relações materiais e técnicas entre valores de uso; destroem-se e criam-se valores de uso - é processo de valorização, em que trabalho abstrato acresce valor; relações entre valores, em que se conservam e se criam valores ● capital constante (meios de produção) e capital variável (força de trabalho): são partes do capital adiantado, consideradas segundo as funções que desempenham no processo de valorização 3 ● como processo de trabalho, é essencialmente a mesma coisa que qualquer produção feita pelo homem - há trabalho vivo, concreto útil, que utiliza instrumentos para operar sobre objeto de trabalho, com vista a uma finalidade – produto - processo de trabalho extingue-se no produto; trabalho uniu-se ao objeto; objeto está trabalhado; trabalho está objetivado - caráter capitalista não altera natureza do processo de trabalho; mas o controla: é um processo entre coisas que o capitalista comprou 4 ● no processo de valorização, os instrumentos, objetos e meios de trabalho consistem em uma massa de valor dado que ingressa na produção - é capital constante, cujo valor é transferido ao produto final; é trabalho passado, contém valor - como o valor dos MP reaparece no produto? por meio de seu uso, mediado pelo trabalho, na qualidade de trabalho concreto útil, conserva e transfere - porque valor existe em forma de valor de uso, se perde valor de uso, perde valor; afastados do trabalho concreto, desvalorizam-se pela perda do valor de uso - os MP não dissipam seu valor, porque se transformam noutro valor de uso, são consumidos 5 - pode haver desperdício inevitável: insumo entra totalmente na valorização e parcialmente no processo de trabalho ● no processo de valorização, o trabalho é mero trabalho criador de valor (trabalho abstrato) - uso da força de trabalho é movimento (= trabalho que se cristaliza) - o trabalho vivo é a forma de existência do capital variável na produção; sua função é valorizar o valor dado, acrescendo trabalho; cria valor na medida em que se estende e conforme a produtividade social média 7 para produzir outro; o tempo de trabalho que contêm forma parte do tempo de trabalho do produto ● MP cedem valor porque têm valor, cede apenas o valor que perde; isso ocorre de modo diverso com: gasolina energia (desaparecem); tinta (deixa sua qualidade); m-prima (muda de forma); máquina, edifício (conservam sua figura) - vida útil determina o tempo em que o valor vai sendo transferido depreciação para o capital fixo - máquina entre totalmente no processo de trabalho, mas parcialmente no processo de valorização 6 - é capital variável, muda de valor; (re)produz um equivalente e uma mais-valia maior ou menor ● mais-valia: é a forma capitalista do excedente econômico, um excedente em valor que surge da produção, realiza-se na circulação; pertence ao capitalista - excedente econômico: valor acima das necessidades de reprodução da FT - é o valor do produto excedente (ou mais-produto), do trabalho não-pago 8 ● exemplo de composição do valor: - considerando os dados anteriores como referentes a produção de 1000 biscoitos por dia, por um trabalhador (valor de um biscoito = $1,30) Capital total (K) (consumido) = $1000, sendo capital constante (consumido) C = $700 farinha, água, condimentos, ... $690; depreciação de equipamentos e instalações $10 e capital variável V = $300 valor da FT (salário diário de um trabalhador) Valor da Produção = $1300 - supondo uma jornada de trabalho de 12 horas e que o trabalho médio simples, com produtividade média, cria valor de $50 por hora valor criado em um dia = $600 (valor adicionado na produção) FT custa $300 e cria valor de $600 Valor da Produção = C + V + MV 1300 700 300 300 o valor previamente existente (C) equivale a 1,17 jornadas de trabalho (14h) e o valor da produção a 2,17 JT (26h) - efeitos de alterações nos valores de C e V e de alterações na jornada de trabalho 9 ● taxa de mais-valia e massa de mais-valia Taxa (mv’) = MV / V = 1 ou 100% mede o grau de exploração é a taxa de expansão do capital variável) relação entre trabalho não pago (mais-valia) e trabalho pago (valor da FT) ou entre trabalho excedente e trabalho necessário Massa de MV = V . mv’ = 300 . 1 = 300 leis da produção de mais-valia: (determinação proporcional a V, compensação, limitada) 11 10 ● cálculo da lucratividade (margem de lucro sobre os custos diretos e taxa de lucro anual sobre o capital global), extrapolando o exemplo numérico - supondo que emprega 100 trabalhadores por dia e que opera em 250 dias por ano - supondo em 5% a.a. a taxa de depreciação do valor do capital fixo (equipamentos e instalações), ele dura 20 anos ● massa de produto anual = 1000 biscoitos . 100 . 250 = = 25 milhões de biscoitos ● faturamento anual = 25 milhões . $1,30 = $32,5 milhões 12 ● massa de salários anuais = $300 . 100 . 250 = $7.500.000 ● mais-valia anual = V . mv’ = $7.500.000 . 100% = $7.500.000 ● capital constante consumido no ano = $700 . 100 . 250 = $17.500.000 ● cálculo do valor do capital fixo: depreciação anual = $10 . 100 . 250 = $250.000 que é 1/20 do valor total, que é = $5.000.000 ● taxa de lucro anual sobre o capital global (em $milhões): ● margem de lucro sobre os custos (em $milhões): ● com geração mensal de produto para venda (12 vezes por ano), será preciso menos capital variável e constante, o que aumenta a taxa de lucro - neste caso, a taxa de lucro iria a 106% margem = MV / (Cconsumido + V) = 7,5 / (17,5 + 7,5) = 0,3 ou 30% 13 6.6.2. Força de trabalho, trabalho necessário e trabalho excedente ● paralelamente à transformação de dinheiro em capital , transcorre a transformação da FT em mercadoria ● trabalhadores livres: livre disposição sobre sua pessoa, livres da propriedade de meios de trabalho e de subsistência - contratam livremente com proprietários de dinheiro - duas classes sociais; separação entre produtores diretos e MP é o fundamento absoluto do modo de produção 15 Taxa de Lucro (L’) = MV / (C + V) = 7,5 / (17,5 + 5,0 + 7,5) = 0,25 ou 25% ● neste exemplo está implícito que esse capital gera 25 milhões de biscoitos por ano e que o capital circulante (constante consumido e variável) retorna uma vez por ano (período de rotação é de um ano) 14 ● o valor da força de trabalho: equivalente da cesta de consumo, necessidades básicas dadas socialmente, reposição da FT no tempo - varia com condições históricas e com a qualidade da FT (habilidade e destreza, formação educação) e o dispêndio de trabalho para constituir aquela capacidade de trabalho - mais ou menos barata, depende de lutas sociais (elemento moral) - valor é considerado em relação a uma vida útil, o que implica referência a uma jornada de trabalho determinada 16 ● preço da FT (salário) pode cair abaixo do valor (ou ficar acima); limite mínimo = suprimento diário básico fisicamente indispensável - FT é reproduzida de forma atrofiada ● venda da FT é uma necessidade para o trabalhador, realiza o valor da FT e mantém seu valor de uso em prontidão (pior seria não ser explorado) - dinheiro na realidade funciona como meio de pagamento (FT é vendida, mas é paga depois) 6 horas 6 horas t.t.n. t.t.e. jornada 0h 12h 17 - natureza da troca não fixa limite para a jornada - objeto de disputa entre livres proprietários que contratam no mercado; entre direitos iguais, vale a força – até a intermediação do Estado ● reprodução social é mais ampla que o mercado capitalista, transcorre também na esfera doméstica e pela ação do Estado - o valor da FT não precisa estar reduzido (e a jornada estendida) ao ponto de transformar integralmente o trabalhador em insumo do capital ● a jornada de trabalho = tempo de trabalho necessário: recriação do valor da força de trabalho (salário) + tempo de trabalho excedente criação da mais-valia ● limites e extensão efetiva da jornada de trabalho - mínimo: algo acima do t.t.n. - máximo: fisiológico, limitação legal decorre de lutas ● determinação da extensão efetiva da jornada de trabalho é objeto de disputa, inclusive no campo do direito mercantil burguês 18 intensificação (supressão dos poros, intervalos) da(s) jornada(s) de trabalho - representa uma forma limitada de produção de maisvalia, predominante na produção manufatureira, mas sempre presente com a mecanização (que implicam também outra forma de produção de mais-valia) ● produção capitalista é sempre produção de maisvalia - Marx chama de mais-valia absoluta as formas de obtenção de mais-valia, através da extensão e 19 20 6.6.3. MaisMais-valia relativa ● conceito da mais-valia relativa: - redução do tempo de trabalho necessário, do valor da FT (pode ser compatível com aumento do salário real) ● mecanismo da mais-valia extraordinária explica redução dos valores das mercadorias em geral, assim como do valor da FT - busca de vantagens competitivas, obtidas com produção de mercadorias com tempo de trabalho abaixo da média social - concorrência: introdução e difusão de novas técnicas que poupam trabalho 21 - formas históricas da produção capitalista: cooperação simples, divisão do trabalho na manufatura, maquinaria na grande indústria ● na cooperação simples e na manufatura, há subsunção formal do trabalho ao capital (subordinação + inclusão) - controle do capital é “externo” ao processo de trabalho - trabalhador conduz a operação, de propriedade do capitalista - maior produtividade é obtida com maior escala e provoca disputa pelo mercado - tendência de redução dos valores/preços - mais-valia relativa cresce com o aumento da produtividade: é um resultado social da busca de cada capitalista ● capital penetra a produção e a transforma, conforme a necessidade de ampliar a produção de mais-valia - busca do aumento da produtividade pelos capitais particulares toma forma de um contínuo revolucionamento do modo de produção 22 - controle sobre propriedade e funcionamento dos MP - essa produção corresponde ao modo de produção especificamente capitalista; capital desenvolve-se a ponto de colocar sua própria base técnica, com a mecanização ● na produção mecanizada da grande indústria, há subsunção real do trabalho ao capital 23 24 6.6.4. Maquinaria e grande indústria: o progresso técnico capitalista • a grande indústria - resulta de uma revolução da base técnica, com o uso de máquinas (de trabalho e de força motriz) - implica a produção mecanizada de máquinas - continuidade, ritmo, força, supera limites orgânicos - a produtividade (e os ganhos) está determinada, definida na máquina - implica uma objetivação do processo de trabalho (citações 1 - Ure, p. 40; 2 – Marx p.43) 25 ● causas da mecanização estão dadas na natureza da relação capitalista (capital em geral), embora motivações apareçam no âmbito da concorrência entre capitais particulares - relação Capital x Trabalho é antagônica - contradição interna ao capital: o melhor trabalhador é a máquina; decorre a busca do capital por controle do processo de trabalho - progresso técnico tende a reduzir o trabalho vivo ● transformação do modo de produção, para especificamente capitalista implica tendência à redução do trabalho vivo - mais-valia relativa torna-se forma predominante 26 - aumento da composição orgânica do capital (C / V) - aumento do controle do capital sobre o processo de trabalho - aumento do capital fixo (riscos, obsolescência) - capital fixo contém todas as potências do trabalho humano; força produtiva ciência (trabalho complexo acumulado) é mercadoria, corresponde a ramos específicos da produção capitalista ● capital fixo “moderno” (máquinas e instalações) são a forma adequada de existência material do capital - representa a autonomização do valor-capital no processo produtivo - forças naturais e da ciência são apropriadas pelo capital - as forças produtivas ampliadas pertencem ao capital, o trabalhador coletivo é seu ● esse processo implica desqualificação e barateamento da força de trabalho (empobrecimento do trabalho) - há dissociação entre trabalhadores de execução, de engenharia e tecnologia, de direção e gerência - trabalho em larga escala na movimentação das máquinas mero valor de uso do capital, trabalho abstrato, simples criador de valor e mais-valia para o capital 27 28 (dependência do trabalhador pode ampliar mv absoluta) - o produto do seu próprio trabalho se manifesta como uma potência que o subjuga e empobrece ● na medida em que os meios de produção usam o trabalho, Marx associa o capital a imagem de um “vampiro”- trabalho morto alimenta-se de trabalho vivo e somente em contato com esse pode preservar e ampliar seu valor; (citações 3 – 4, Marx, p. 43-44) ● direção do capital é técnica e despótica (autocrática) 29 ● condução do progresso técnico é subordinada a lógica de valorização (não leva em conta as condições sociais do trabalho tampouco as conseqüências sobre os recursos naturais) - limites à introdução de maquinaria: poupa trabalho pago; deve garantir o controle capitalista do processo de trabalho; determinada pelas relações sociais contraditórias ● contradições do desenvolvimento das forças produtivas com as relações capitalistas de produção; estas tornam-se obstáculo à ampliação, difusão do progresso técnico e ao desenvolvimento das forças produtivas 30