UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO "LATO SENSU" EM HIGIENE E INSPEÇÃO DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL IRRADIAÇÃO DE QUEIJOS: REVISÃO DE LITERATURA Karen Christina Gomes de Souza Rio de Janeiro, fev. 2007 Karen Christina Gomes de Souza Aluna do Curso de Especialização “Lato sensu” em Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal IRRADIAÇÃO DE QUEIJOS :REVISÃO DE LITERATURA Trabalho monográfico do curso de pós-graduação "Lato Sensu" em Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal apresentado à UCB como requisito parcial para a obtenção de título de Especialista em Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal, sob a orientação do Prof. Mônica Queiroz. Rio de Janeiro, fev. 2007 IRRADIAÇÃO DE QUEIJOS: REVISÃO DE LITERATURA Elaborado por Karen Christina Gomes de Souza Aluna do Curso de Especialização “Lato sensu” em Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal Foi analisado e aprovado com grau: ............................. Rio de Janeiro,_____de_____________________de_______. _______________________________ Professor Dr(a).:Mônica de Queiroz Rio de Janeiro, fev. 2007 ii RESUMO A irradiação empregada como um processo para a conservação de alimentos tem sido muito estudado, e o seu emprego tem passado da fase experimental à escala comercial em alguns países.O principal objetivo do método é conservar os alimentos e reduzir, ou eliminar, a sua carga microbiana. A irradiação de alimentos poderia beneficiar muito a agropecuária brasileira; possibilitando tempo hábil para o escoamento da produção dos centros produtores; viabilizando a exportação de novos produtos pela melhoria da qualidade e prolongamento do tempo de vida útil, reduzindo, ou mesmo dispensando, o uso de conservantes químicos e de exigências de "quarentena"; melhorando a segurança sanitária dos alimentos pela redução da carga biológica; reduzindo perdas pós-colheita decorrentes da deterioração precoce; criando novas zonas produtoras, por tornar economicamente viáveis novas áreas de plantio; e garantindo o abastecimento e os preços na entre safra.O queijo Minas Frescal é um produto largamente produzido pela indústria de laticínios brasileira, com elevado rendimento na fabricação e boa aceitação sensorial.Em se tratando de um queijo fresco, estudos em processos de conservação são requeridos de forma a garantir sua qualidade sanitária. Assim, este trabalho tem como objetivo descrever a irradiação em queijos sob o ponto de vista das características microbiológicas, fisico-químicas e sensoriais especialmente do queijo Minas Frescal, e avaliar as possíveis vantagens e desvantagens da irradiação na conservação e extensão da vida útil do produto em questão. Palavras Chaves: irradiação, queijo, alimentos. ABSTRACT To implement the irradiation, as a process for the food conservation, has been much studied and those researches has passed of the experimental phase to the commercial scale in some countries. The main one objective of the method is to conserve foods and to reduce or to eliminate its microbes load.The food irradiation could benefit very much the farming Brazilian. Making possible skillful time for the draining of the production of the producing centers. Making possible the exportation of new products for improvement of the quality and prolongation of the time of life useful, reducing or same excusing, the use of chemical conserve and requirements of quarantine; improving the sanitary security of foods for the reduction of the biological load. Reducing decurrently losses after-harvest of precocious deterioration; creating new producing zones, for becoming economically viable new areas of plantation; guaranteeing the supplying and prices in the one between crop. The cheese Minas Frescal is a product wide produced by the Brazilian industry of dairy products, with raised income in the manufacture and good sensorial acceptance. Being about a fresh cheese, studies in conservation processes are required of form to guarantee its sanitary quality.Thus, this work has as objective to describe the irradiation in cheeses under the viewpoint of the microbiological characteristics, physicist-chemistries and especially of the cheese Minas Frescal and to evaluate the possible advantages and disadvantages of the irradiation in the conservation and extension of the useful life of the product in question. Key Words: irradiation, cheese, foods. SUMÁRIO 1.INTRODUÇÃO................................................................................................................7 2.REVISÃO DE LITERATURA.......................................................................................8 2.1 Bactérias Contaminantes do queijo...............................................................................8 2.2 Irradiação.......................................................................................................................12 2.2.1 HISTÓRICO................................................................................................................12 2.2.2. IRRADIAÇÃO DE ALIMENTOS............................................................................................................14 2.2.3 VANTAGENS DO USO DA IRRADIAÇÃO GAMA......................................................................17 2.2.4 DESVANTAGENS DO USO DA RADIAÇÃO EM ALIMENTOS..........................18 2.2.5 IRRADIAÇÃO EM QUEIJOS....................................................................................20 2.3 Analise Sensorial...........................................................................................................22 3.CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................23 4.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................24 7 1. INTRODUÇÃO A elaboração de queijos constitui uma das mais importantes atividades da indústria de laticínios, sobretudo no Brasil, onde um dos tipos de maior produção e consumo é o queijo Minas Frescal, cuja produção se concentra, principalmente, em indústrias de pequeno e médio porte das regiões Sul e Sudeste (PINTO et al. 1996). Isso se deve, em parte, ao maior rendimento obtido na elaboração desses queijos, ao processamento simples que requerem e à ausência de maturação do produto final, o que possibilita um retomo rápido do investimento e, conseqüentemente, custos menores aos consumidores (BEHMER, 1984; FELÍCIO FILHO, 1984 e PINTO et al, 1996). Em muitos casos, esse produto é fabricado com deficientes práticas de higiene e com matériaprima de má qualidade, podendo ocorrer contaminação ou recontaminação do produto por diversos microrganismos, comprometendo a sua qualidade assim como a saúde do consumidor. Além disso, é comercializado em embalagens plásticas comuns, amarradas ou fechadas com fechos metálicos, sem usar vácuo. Durante a comercialização, essa embalagem apresenta-se normalmente com um depósito de soro exsudato pelo produto. Esse desoramento, que ocorre devido ao excesso de umidade nos queijos, além de proporcionar um aspecto pouco atraente ao produto, favorece o desenvolvimento de microrganismos contaminantes responsáveis pelo desenvolvimento de sabores e odores desagradáveis. Por essas razões, o queijo Minas Frescal apresenta, geralmente, uma vida útil muito curta, no máximo duas semanas, mesmo em temperaturas adequadas de refrigeração (OLIVEIRA, 1986). O aumento da vida útil do queijo Minas Frescal pode ser possível pela radiação que constitui hoje uma das formas mais modernas, seguras e eficientes para a preservação de alimentos. A irradiação reduz ou elimina a população de microrganismos presentes nos alimentas, melhorando a sua qualidade e a sua durabilidade (WAGNER, 2000). Assim, este trabalho tem como objetivo descrever a irradiação em queijos sob o ponto de vista das características microbiológicas, fisico-químicas e sensoriais especialmente do queijo Minas Frescal,, e avaliar as possíveis vantagens e desvantagens da irradiação na conservação e extensão da vida útil do produto em questão. 8 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1.Bactérias contaminantes do queijo Segundo BRASIL (2001), entende-se por queijo o produto fresco ou maturado que se obtém por separação parcial do soro do leite ou leite reconstituído (integral, parcial ou totalmente desnatado), ou de soros lácteos coagulados pela ação física do coalho, de enzimas específicas, de bactérias específicas, de ácidos orgânicos, isolados ou combinados, todos de qualidade apta para uso alimentar, com ou sem agregação de substâncias alimentícias e/ou especiarias e/ou condimentos, aditivos especificamente indicados, substâncias aromatizantes e matérias corantes. De acordo com BRASIL (2001), o queijo fresco é obtido por coagulação enzimática do leite com coalho e/ou outras enzimas coagulantes apropriadas, complementada ou não com ação de bactérias lácteas específicas. O queijo Minas Frescal é um dos produtos mais largamente produzidos pela indústria de laticínios do País. Representou, no ano de 2000, 9,14% da produção total de queijos, perdendo apenas para produção de queijo Mussarela e Prato que representaram 30,6% e 29,57%, respectivamente (LEITE BRASIL, 2003). Tem grande aceitação no mercado. Além disso, apresenta diversas vantagens sob o ponto de visto tecnológico: é um produto de fácil aceitação, apresenta elevado rendimento na fabricação e, sobretudo, não tem maturação, o que facilita grandemente o seu escoamento e distribuição no mercado (WOSLFSCHOON-POMBO et al., 1975; FURTADO & LOURENÇO NETO, 1994). Por outro lado, este queijo apresenta vários pontos críticos, durante a fabricação, que podem conduzir a alterações no produto final, dentre eles podem-se destacar: matéria-prima com alta contaminação microbiológica, recontaminação do leite pós-pasteurizado e temperatura inadequada de fabricação. Condições incorretas de manufatura e armazenagem contribuem também de forma efetiva para a má qualidade do produto (SANTOS et al., 1995; MANDIL et al., 1982). Além disso, em gerai a mão de obra é desqualificada e há deficiência de controle de higiene durante o processamento, o que pode acarretar contaminação por diversos microrganismos, comprometendo tanto sua qualidade corno a segurança da saúde do consumidor (SPREER, 1991; PEREIRA et al., 1999 e FURTADO & LOURENÇO NETO, 1994). Por esse motivo, as práticas higiênicas devem ser observadas com rigor, para prevenir a contaminação ou recontaminação do produto. Além disso, por não ser maturado, é um produto perecível, devendo ser consumido rapidamente, após curta estocagem em ambiente refrigerado (SILVA & LEITÃO, 1980). Os microrganismos presentes no queijo Minas Frescal podem ser originários da matériaprima de má qualidade ou por deficiências no processo de pasteurização, contaminação durante o processamento por equipamentos, utensílios e manipuladores ou durante armazenamento inadequado. Podem-se encontrar os seguintes microrganismos no queijo: Staphylococcus aureus, Bacillus cereus, Escherichia coli, Salmonella, Listería monocytogenes, Campylobacter, Yersinia, Lactobacillus, Pseudomonas, Flavobacterium, Actinobacter, Streptococcus, entre outros (SCOTT, 1991). 9 Os principais microrganismos ou grupo de microrganismos que têm sido sugeridos como indicadores de contaminação em queijos frescos são bactérias como coliformes Staphyíococcus e contagem total de aeróbios mesófilos e psicrotróficos (REINBOLD, 1983; CARVALHO, 1999). Também estão presentes em queijos as bactérias lácticas responsáveis pela fermentação láctica, a qual influencia no sabor e aroma do produto. Fazem parte deste grupo os seguintes gêneros bacterianos: Lactobacilo, Pediococcus, Streptococcus, Lactococcus, Enterococcus, Carnobaeterium e Vagococcus (PELCZAR et al., 1997). Os coliformes totais são compostos por bactérias da Família Enterobacteriaceae, capazes de fermentar lactose produzindo ácido e gás num período de 24-48 horas a 32-37°C. São bacilos Gram negativos, não esporulados, sendo aeróbios ou anaeróbios facultativos (SILVA et al., 1997; FRANCO & LANDGRAF, 1996). Fazem parte deste grupo bactérias pertencentes aos gêneros Escherichia, Klebsiellla, Serratia, Hafnia e Citrobacter (REINBOLD, 1983; ÍCMSF, 1983 e CALEI et al, 1998). Destes, apenas Escherichia coli tem como habitat primário o trato intestinal do homem e animais. Os demais, além de serem encontrados nas fezes, também estão presentes em outros ambientes como vegetais e solos, onde persistem por tempo superior ao de bactérias patogênicas de origem intestinal como Salmonela e Shigella (RIBEIRO et al., 1991). Escherichia coli apresentam-se como bastonetes Gram negativos (0,5 por 1 a 3 µm), que podem ser moveis, dotados de flagelos peritriquios ou imóveis, não esporulados. As bactérias crescem bem em meios de cultura artificiais e formam ácido e gás a partir da glicose e lactose. Estas bactérias apresentam antígenos somáticos O, relacionados com polissacarídeos da membrana externa, antígenos flagelares H relacionados com as proteínas do flagelo, e ainda antígenos K, relacionados com polissacarídeos moleculares (FRANCO & LANDGRAF, 1996). No caso de queijo, os coliformes estão relacionados com o estufamento devido á produção de gases; além disso, eles acidificam o produto, ocasionando alteração no sabor (JAY, 1994; FURTADO 1999). O grupo coliforme é freqüentemente pesquisado em alimentos, sendo o queijo um dos principais veículos de toxinfecção alimentar, pois a presença destes microrganismos está associada às práticas de higiene e manipulação inadequadas (RAIBNITZ et al., 1998). Vários trabalhos de incidência de coliformes fecais em queijo Minas Frescal mostram uma contagem superior a 102 Ufc/g, que é o valor máximo permitido segundo a Resolução RDC n° 12, de 2 de Janeiro de 2001 (Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA, 2001). Podem ser citados os trabalhos de COTEN et al. (1984); REMIRA et al, (1987), RAIMUND (1992); SOUZA et al. (1993); SANTOS et al. (1995); DIAS et al, (1995); RODRIGUES et al. (1995); CARVALHO et al. (1996); OLIVEIRA et al. (1998) e LEITE JUNIOR et al. (2000). Para prevenir a contaminação deste grupo bacteriano é necessário haver uma matéria-prima de boa qualidade, higiene durante o processamento tanto de equipamentos e utensílios quanto de manipuladores e condições adequadas de conservação (BISHOP & WHITE, 1986). Há vários métodos para controlar essa população em queijo Minas Frescal, dentre estes podem-se destacar a refrigeração, uso de atmosferas modificadas/controlados e uso de irradiação. O microorganismo Staphylococcus aureus se apresenta em forma de cocos Gram positivos não esporulados, catalase e coagulase positivos, que se dividem em mais de um plano para formar racimos tridimensionais de células, denominados "cachos de uva". S. aureus causa intoxicação provocada pela ingestão do alimento que contém a toxina pré-formada. Portanto, o agente causal não é a bactéria, mas às várias toxinas (A, B, C¹, C², C³, D, E) produzidas por estas bactérias, conhecidas como enterotoxinas (CHORDASH & POTTER, 1976; BOUGEOIS et al., 1994). 10 São bactérias mesófilas apresentando temperatura para crescimento entre 7 e 48eC, sendo 370 C a temperatura ótima. Para a produção de toxina é de 10 a 48°C, sendo 40 a 45° a faixa ótima. O pH para crescimento é de 4 a 10, sendo o ótimo 6 a 7 e para a produção de toxina 4,5 a 9, 6, sendo o ótimo de 7 a 8. A atividade de água para crescimento é de 0,83 a 0, 99, sendo o ótimo 0,98 e para a produção de toxina, de 0,87 a 0, 99, sendo ótimo também a 0,98. São tolerantes a concentrações de 10 a 20% de NaCl e a nitratos, o que torna alimentos curados veículos potenciais para a contaminação com Staphylococcus .(HOLT et al., 1994 e ICMFS, 1998). A importância de outras espécies dentro desse gênero tem aumentado, de modo que se leva em consideração à detecção também da presença de Staphylococcus coagulase positiva como S. hyicus e S. intermédias, em alimentos, pois estes também são capazes de produzir enterotoxinas que prejudicam o ser humano (JAY, 1994; BOURGEOIS et al., 1994 e GERMANO & GERMANO, 2001). Os Staphilococcus, sobretudo S. aureus, a partir do homem e animais de sangue quente, dispõem de meios de disseminação como os alimentos, distribuindo-se também no ambiente, ar, poeira e águas de esgoto, e passam a constituir problemas quando atingem locais específicos nos laticínios e outras indústrias de alimentos (BRYAN, 1974; JAY, 1994; EIFERT et al, 1996; HOBBS & ROBERTS, 1997; ICMSF, 1998; PEREIRA et al., 1996). Os portadores nasais e os manipuladores de alimentos com mãos e braços que apresentem feridas infectadas com S. aureus são importantes fontes de contaminação no alimento. Além do homem, a maioria dos animais também é portadora ou apresenta-se contaminada peta bactéria. Exemplo típico é a mastite estafilococica do gado leiteiro. Caso o leite infectado seja consumido ou utilizado no preparo de queijos, haverá chances de ocorrer intoxicação (SMITH et al, 1983; CARVALHO, 1999; PEREIRA et al., 1999; TRABULSI et al., 1999 e HATAKKA et al., 2000). Uma vez ingerido o alimento, o período de incubação do surto é geralmente de 30 minutos a oito horas, sendo a média de duas a quatro horas. Os principais sintomas são náuseas, vômitos cãibras abdominais, diarréia, sudorese, dores de cabeça, calafrio, entre outros (TIBANA et al., 1987; PEREIRA et al., 1996). Entre os alimentos envolvidos, pode-se citar o leite e seus derivados, como queijos (BRYYAN, 1968). De um modo geral, todos os alimentos que requerem considerável manipulação durante o seu preparo e cuja temperatura de refrigeração é inadequada, são passíveis de causar intoxicação (HAYES, 1993; BOUGEOIS et al., 1994 & GERMANO & GERMANO, 2001). O microrganismo não é bom competidor com outras bactérias e por isso raramente causa doenças alimentares em alimentos crus. O organismo é inativado rapidamente pelo calor, mas é resistente à secagem e é tolerante a altas concentração de sais (HURST & HUGHES, 1983). Vários trabalhos de incidência de S. aéreos em queijo Minas Frescal mostram uma contagem superior a 102 Ufc/g, que é o valor máxmo permitido segundo a Resolução RÜC n8 12, de 2 (de Janeiro de 2001. Podem ser citados os trabalhos RAIMUND (1992); RODRIGUES et al (1995); CARMO et al, (1995); GOMES & GÁLLO (1995); SANTOS et al (1995); BORELLI et al. (2000); LEITE JUNIOR et al. (2000) e SILVA et al. (2001)). A manipulação do alimento pelo homem, um dos reservatórios desta bactéria, é causa provável de contaminação. O aquecimento do aumento logo após a sua manipulação destrói o microrganismo, ajudando a prevenir a intoxicação. O resfriamento rápido de toda a massa alimentícia é uma das medidas para a prevenção e controle desta intoxicação (TATINI et al,... 1976), Para a produção de enterotoxinas suficiente para causar surto, julga-se uma população no alimento entre105 e 108 Ufc/g de S. aureus. Assim, controlando fatores que afetam o crescimento de S, aureus, a 11 produção de toxina também está sendo controlada e, conseqüentemente, os surtos de intoxicação (SCHEUSNER &. HARMON, 1973; PEREIRA et al, 1999). A contagem de aeróbios mesofilos funciona como um indicador de qualidade de alimentos (REINBOLD, 1983). A maioria das bactérias patogênicas é mesófila, assim analisar um alimento e encontrar um elevado número de bactérias deste grupo é sinal de que podem existir bactérias patogênicas no produto (CARVALHO, 1999). A contagem deste tipo de bactérias inclui os microrganismos que crescem em aerobiose e temperaturas de incubação entre 15 e 45°C, com uma temperatura média de 35°C (SILVA JUNIOR, 2001). A contagem elevada deste grupo de bactérias nos alimentos perecíveis também é indicativo do uso de matéria-prima contaminada ou processamento insatisfatório, sob o ponto de vista sanitário. Podendo, também, indicar abuso durante o armazenamento em relação ao binômio tempo/temperatura (FRANCO & LANDRAG, 1996), A deterioração de alimentos pode ser causada pelo crescimento microbiano que levaria as alterações sensoriais. Neste caso, números elevados são esperados e variam com o tipo de alimento e microrganismo presente. A maioria dos alimentos apresenta, quando essas alterações são detectáveis, populações superiores a 106 Ufc/g do alimento. Entretanto, há aqueles em que são necessários 107 ou até mesmo 108 Ufc/g. Os alimentos fermentados apresentam população microbiana de, aproximadamente, 108 Ufc/g sem, no entanto, serem considerados deteriorados (CARVALHO, 1999). A contagem total de microrganismos aeróbios psicrotróficos avalia o grau de deterioração de alimentos refrigerados (REINBOLD, 1983).Dentre os gêneros presentes neste grupo estão Pseudomonas e Listeria. A espécie Psedomonas ftuorescens, além de alterar os alimentos com a produção de enzimas termorresistentes estimula o crescimento de patôgenos como Listeria monocytogenes e E. coli O157; H7 (FARRAG & MARTH, 1989; QUINTO et al., 1997 e SANTOS et al., 1999). A presença de um grande número de espécies de microrganismos psicrotróficos podem estar relacionado com ocorrência de toxinfecções alimentares humanas ou com deterioração e perda de qualidade organoléptica dos alimentos (SANTOS et al., 1999), A introdução da armazenagem refrigerada de leite cru, antes de seu processamento, sanou o problema de alterações de sabor e desenvolvimento de acidez neste produto devido â ação das bactérias mesofílicas, mas trouxe à tona outro sério problema a seleção de microorganismos psicrotróficos (FURTADO, 1999), Algumas dessas bactérias pscrotróficas são sensíveis aos tratamentos térmicos utilizados, outras não (SANTOS et al). 1999). Porém, independente da bactéria ser sensíveis ou não aos tratamentos térmicos, muitas delas produzem enzimas lipolíticas e proteolíticas durante o seu crescimento na armazenagem refrigerada (ADAMS et al ,1974; ANDERSON et al., 1979 e ADAMS et al., 1981). Essas enzimas são termorresistentes e atuam no leite causando efeitos de geleificação e sabor indesejável do leite U. H. T, Também podem ocasionar diminuição do rendimento na fabricação do queijo e o desenvolvimento de sabor amargo e de ranço no produto acabado e altera também a textura do produto, comprometendo, deste modo, a sua qualidade (FURTADO 1999; SANTOS et al. 1999). Em relação à quantidade de bactérias psicrotróficas necessárias em um determinado produto, para que possa haver alterações de natureza proteolítica e/ou lipofilica, cita-se que os problemas aparecem quando a contagem destes microrganismos atinge 107 Ufc/g (SANTOS et al, 1999), Além dos microrganismos psicrotróficos que causam alterações no leite e em queijos, espécies de psicrotróficos potencialmente patogênicos (Yersinia enterocolítica e Listeria spp.) podem também estar presentes nestes produtos (AHMED et al,1983; SANTOS et al, 1999). 12 As fontes de contaminação do leite com estas bactérias são muito variadas e incluem solo, água, forragem, alimentação do gado, a superfície externa do úbere, infecções do úbere, pessoal responsável pela ordenha, toda a linha de utensílios e equipamentos mal higienizados, transporte e processamento no laticínio (GERMANO & GERMANO, 2001). Para controlar estes microrganismos em queijos, deve haver boas práticas de higiene durante todo o processamento do produto. E, após, pode-se utilizar gases como CO2 que impedem o desenvolvimento deles e também adição de bactérias lácticas, que podem produzir peróxido de hidrogênio e bacteriocinas (BOURGEOIS et al, 1994). 2.2.Irradiação 2.2.1. HISTÓRICO O primeiro documento proposto para a utilização da irradiação ionizante com a finalidade de melhorar as condições de gêneros alimentícios e manter a qualidade geral consistiu na Patente Britânica n° 1609 do ano de 1905 no Reino Unido. Os inventores propuseram o uso da radiação ionizante para tratar principalmente cereais, através dos raios alfa, beta ou gama oriundos do isótopo radioativo Rádio, ou de qualquer outra substância radioativa. Enfatizou-se a vantagem da radiação ao substituir o uso de compostos químicos em alimentos, e demonstrou-se que as mudanças químicas que ocorrem no alimento irradiado são similares às que ocorrem no processo natural. Contudo, as fontes radioativas existentes não eram suficientes para irradiação de alimentos em escala comercial (DIEHL, 1990). Dificuldades semelhantes ocorreram em 1921 quando Schwartz, do Departamento da Agência de Agricultura de Indústria Animal dos Estados Unidos, sugeriu o uso de raios X para inativação da Trichinella em carne de porco (SCHWARTZ, apud DIEHL, 1990). Já na França, a primeira patente para irradiação de alimentos utilizando-se Raios X, foi criada, de acordo com DIEHL (1990), em 1930. Em 1947, os cientistas alemães Arno Brasch e Wolfgang Huber (co-inventores do acelerador de elétrons) relataram que a carne e outros gêneros alimentícios poderiam ser esterilizados pela energia dos aceleradores de elétrons. Dentre os alimentos tratados, principalmente leite e laticínios, mostraram-se suscetíveis à irradiação e desenvolveram sabores desagradáveis, que poderiam ser evitados pelo processamento em ausência de oxigênio e a baixas temperaturas (BRACH & HUBER, 1947). Já em 1948, TRUMP & VAN DE GRAAFF (1948) desenvolveram pesquisas no Instituto Tecnológico de Massachusetts com um novo tipo de acelerador de elétrons, objetivando verificar o efeito da irradiação nos alimentos. Os autores citados colaboraram com os estudos desenvolvidos no Departamento de Tecnologia de Alimentos em 1951, e concluíram que a radiação com nêutrons não poderia ser utilizada, por produzir radioatividade nos alimentos. Por volta de 1950, a Comissão de Energia Atômica dos Estados Unidos, iniciou a coordenação de um programa de pesquisas sobre o uso da radiação gama em alimentos a 13 partir de reatores nucleares, entretanto a maior dificuldade foi estimar a dose exata a ser aplicada (DIEHL, 1990). O mesmo autor relata que irradiadores experimentais com atividade de 30.000 Curies (proveniente de cobalto-60) foram instalados nos anos de 1961-62 nos seguintes locais: Instituto Tecnológico de Massachusetts, na Universidade de Washington, e Universidade da Flórida. No Brasil, de acordo com DIAS FILHO (1998) as primeiras pesquisas em irradiação de alimentos ocorreram no Centro de Energia Nuclear da Agricultura (CENA) no ano de 1950. A partir de 1953, o Exército Americano apoiou pesquisas com baixas e altas doses de radiação, as quais estenderam-se até 1960. Após 1960 o exército concentrou seus esforços no desenvolvimento de produtos cárneos esterilizados por radiação (DIEHL, 1990). Uma ampla divulgação realizada pelos Estados Unidos sobre o sucesso dos experimentos com irradiação de alimentos estimulou o interesse de outros países. A partir de 1950, programas nacionais de pesquisas em irradiação foram realizados na Bélgica, Canadá, França, Países Baixos, Polônia, União Soviética, e na República Federativa da Alemanha (ibid.). O primeiro uso comercial de alimentos irradiados ocorreu em 1957, na República Federativa da Alemanha, quando condimentos foram tratados por irradiação proveniente de elétrons do gerador de Van de Graaff (MAURER, 1958). Entretanto, em 1959, a máquina veio a ser desmontada quando uma nova lei proibiu o uso da irradiação de alimentos, retornando então, a utilização da fumigação dos condimentos com óxido de etileno (DIEHL, 1990). No Canadá, a irradiação de batatas foi permitida em 1960. A fábrica utilizava fonte de cobalto-60, e processava cerca de 15.000 toneladas de batatas/mês, porém, esta veio a fechar por dificuldades financeiras (MASEFIELD & DIETZ, 1983). Apesar de certas dificuldades, o interesse pela irradiação cresceu em todo o mundo. No primeiro Simpósio Internacional de Alimentos Irradiados em Karlsruhe, organizado pela Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA), representantes de 28 países acompanharam o progresso das pesquisas laboratoriais (IAEA, 1966). Entretanto, autoridades de saúde destes países ainda hesitavam em conceder permissão para propaganda de alimentos irradiados. Neste período somente o Canadá, EUA e União Soviética conseguiram demonstrar à população os benefícios desta técnica (DIEHL, 1990). Em 1970, um projeto internacional foi criado com o objetivo de reunir pesquisas no campo da irradiação de alimentos, demonstrando o quanto estes são saudáveis. Sob o patrocínio da IAEA (em Viena), da FAO (em Roma), e da Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento (em Paris), 19 países uniram seus recursos e este número cresceu para 24. A Organização Mundial de Saúde (OMS) em Genova associou-se a este projeto na qualidade de assessora. O projeto recebeu o apoio de laboratórios dos EUA, Reino Unido e França, que realizaram estudos na área de alimentação para animais, envolvendo trigo, batatas, arroz, manga, condimentos, tâmara, cacau, e legumes irradiados (ibid.). Em 1980, a OMS, após mais de 30 anos de pesquisas, concluiu que alimentos irradiados com doses de até 10kGy não oferecem riscos nutricionais, microbiológicos e 14 toxicológicos à saúde pública (DEMPSTER, 1984; EGAN & WILLS, 1985; INSTITUTE OF FOOD TECHNOLOGISTS, 1983). Em 1985 a irradiação de alimentos foi regulamentada no Brasil pela DINAL (BRASIL, 1985) que permitiu a irradiação de 17 produtos vegetais e dois de origem animal, inclusive frango. A solicitação para irradiação em produtos de frango, visando à redução de doenças transmitidas por alimentos, foi desenvolvida pelo “Food Safety and Inspection Service” (FSIS) do Departamento de Agricultura dos Estado Unidos e apresentada ao FDA em 19/11/1986. A petição propunha o uso da irradiação em frangos embalados, frescos ou congelados, com uma dose absorvida de 1,5kGy – 3,0kGy para redução de surtos alimentares provocados por patógenos como a Salmonella, Campylobacter, e Yersinia (DIEHL, 1990). LOAHARANU (1997) comentou, em 1997, que cerca de 40 países possuíam legislação específica para irradiação de alimentos, sendo que, 30 países possuíam instalações onde os alimentos eram irradiados rotineiramente. No Brasil, a legislação de alimentos irradiados foi revisada e atualizada pela resolução RDC n. 21 de janeiro de 2001 da Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, publicada no D.O.U, de 29 de janeiro de 2001. Trata-se de um "Regulamento técnico para irradiação de alimentos". Segundo a RDC n.21 de janeiro de 2001 fica liberada a irradiação de qualquer tipo de alimento, observadas as seguintes condições, a dose mínima absorvida deve ser suficiente para alcançar a finalidade pretendida; a dose mínima absorvida deve ser inferior àquela que comprometeria as propriedades funcionais e ou os atributos sensoriais do alimento. As fontes de radiações permitidas são aquelas autorizadas pela Comissão de Energia Nuclear (CNEN) quais sejam: Cobalto60 e Césio 137, Raios X gerados por máquinas que trabalham com energia até 5 Mev e elétrons acelerados gerados por máquinas que trabalham com energias de até 10 Mev. 2.2.2 IRRADIAÇÃO DE ALIMENTOS A radiação é definida como a emissão e propagação de energia através do espaço ou através de um meio material (JAY, 1978; ADAMS & MOSS, 1995). A dose de radiação ionizante absorvida usualmente medida na unidade denominada Gray (Gy). Essa é a medida da quantidade de energia transferida para um alimento, microrganismo ou outra substância irradiada.O ciclo mortal da radiação para microorganismos é medido em valor D10, este é a quantidade da radiação necessária para destruir 90% dos microrganismos. Os valores D são diferentes para cada microrganismos e deverão ser calculados. Também variam com a temperatura e o tipo de alimento(CDC, 1995). Segundo EGAN & WILLS (1985), existem tipos de terminologia para a radiação de acordo com a dose estimada: O emprego de baixas e médias doses (abaixo de 10 kGy) de radiação ionizante é chamado de pasteurização por irradiação e pode ser dividido em dois grupos: a) radurização, cuja utilização tem por objetivo diminuir a carga microbiana, 15 aumentando o tempo de estocagem; b) radicidação, que tem por objetivo a destruição de patógenos. O tratamento que utiliza altas doses de radiação (acima de 10kGy) é denominado radapertização e resulta em esterilização comercial do produto, também chamada de “esterilização a frio”. Tendo em vista as considerações anteriores, utilizam-se na prática da irradiação as seguintes doses: a) baixas doses de irradiação – até aproximadamente 1kGy, que promove inibição da germinação; retardo da maturação; desinfestação de insetos; inativação de parasitos; b) doses médias de irradiação – 1 a 10kGy, para redução do número de microrganismos que produzem deterioração, redução do número ou eliminação de patógenos não formadores de esporos; c) doses altas de irradiação – superiores a 10 kGy, que reduzem o número de microrganismos até produzirem esterilização (ICGFI, 2000). Ao considerar as formas de atuação das radiações ionizantes, Evangelista (1992) observou que estas se diferem entre si por seus poderes de penetração nos substratos, em virtude de serem constituídas por partículas (elétrons) e ondas eletromagnéticas (raios X e gama). As radiações ionizantes são assim chamadas porque a energia emitida é suficiente para desalojar os elétrons dos átomos e moléculas, e assim convertê-los em partículas carregadas eletricamente. Radiações ionizantes provenientes de raios gama, raios – X e procedentes de aceleradores de elétrons dos átomos e moléculas são utilizados industrialmente no tratamento de diversos tipos de materiais (JAY 1994). Só poderão ser utilizadas nos alimentos as radiações ionizantes, cuja energia seja inferior ao limiar das reações moleculares, o que poderia induzir radioatividade no material irradiado. Por essa razão, somente cinco fontes são permitidas: Co60, 137Cs, Raios - X, Raios X com fótons de energia não superiores a 5 Mev (Mega elétron volt) e feixes de elétrons acelerados com energia máxima de 10 Mev. Todas essas fontes produzem radiação com níveis de energia abaixo da necessária para induzir radioatividade (WHO, 1994). O nível de energia produzido pelo Co60 e 137Cs (DIEHL, 1996) não é suficientemente alto para causar radioatividade. No processo de radiação o produto nunca entra em contato com a fonte de radiação (WHO, 1994). Segundo MALISKA (2000) o processo consiste na exposição dos alimentos, já embalados ou a granel, a um campo de radiações altamente penetrantes, por um determinado tempo, com o objetivo de destruir bactérias patogênicas, parasitas, fungos e insetos e/ou inibir o processo de maturação de frutas e o brotamento de produtos vegetais. É importante salientar que a aplicação das diversas tecnologias existentes no processamento de alimentos, como por exemplo: tratamento térmico, congelamento, tratamentos químicos e irradiação não devem ser usados como substitutos de boas práticas de higiene. Tanto a nível nacional como a nível internacional, as boas práticas de manufatura (BPM) devem ser adotadas na preparação dos alimentos, já que posteriormente serão submetidos à irradiação ou a qualquer outro processo. Entretanto, após a irradiação faz-se ainda necessário uma etapa adicional com aplicação das BPM, de forma a garantir que o produto final esteja no mais alto nível de qualidade possível (ICGFI, 2000). Os mesmos autores citados anteriormente relatam que a tecnologia de irradiação tem por objetivo prioritário assegurar a qualidade higiênica dos alimentos sólidos ou semisólidos, especialmente os de origem animal, através da inativação de patógenos que 16 produzem enfermidades transmitidas por alimentos. Tal tecnologia é comparável à pasteurização térmica de alimentos líquidos, por exemplo, o leite, no qual esta é efetiva, porém não utilizada em alimentos tais como frango, carne e produtos marinhos que são comercializados crus. Finalmente, GERMANO & GERMANO (2000) afirmam que, o método de irradiação de alimentos constitui-se numa tecnologia capaz de diminuir perdas econômicas provenientes da deterioração e transmissão de patógenos ao homem, proporcionando redução dos custos médico -hospitalares, ao aumentar o nível de segurança da carne. Alimentos irradiados são alimentos que foram tratados por um determinado tipo de radiação, em condições de segurança controladas, para a obtenção de alguns efeitos, tais como inibir bactérias, além de manter a qualidade do alimento por mais tempo. Com o objetivo de aperfeiçoar as ações de controle sanitário na área de alimentos e visando prover maior proteção à saúde da população, a ANVISA aprovou o “Regulamento Técnico para Irradiação de Alimentos”, de acordo com a Resolução publicada em 26 de janeiro de 2001, já considerada pelo ICGFI a legislação mais avançada do mundo. Segundo a ANVISA, a irradiação é um processo físico de tratamento que consiste em submeter o alimento, já embalado ou a granel, a doses controladas de radiação ionizante, com finalidade sanitária, fitossanitária e ou tecnológica (BRASIL, 2001). O principal objetivo do método é conservar os alimentos e reduzir, ou eliminar, a sua carga microbiana. Ele pode evitar a presença de micotoxinas nos produtos agrícolas passíveis de estocagem, como cacau, manga, alho entre outros. Permite também uma melhor conservação de carnes (bovina, suína e de aves), frutas e vegetais, alem de eliminar os microrganismos prejudiciais à saúde (MELLO, 2002). A irradiação de alimentos poderia beneficiar muito a agropecuária brasileira; possibilitando tempo hábil para escoamento da produção dos centros produtores para os consumidores; viabilizando a exportação de novos produtos (por melhoria da qualidade e prolongamento do tempo de vida útil, reduzindo, ou mesmo dispensando, o uso de conservantes químicos e de exigências de "quarentena"); melhorando a segurança sanitária dos alimentos pela redução da carga biológica; reduzindo perdas pós-colheita decorrentes da deterioração precoce; criando novas zonas produtoras, por tornar economicamente viáveis novas áreas de plantio; e garantindo o abastecimento e os preços na entressafra (VITAL 2000). Segundo WEDEKING (2002), nos últimos 30 anos, a produção de alimentos global cresceu cerca de 80% para suprir as necessidades mundiais. De acordo com projeções atuais, ainda seria necessário crescer mais 75% nos próximos 30 anos para manter o fornecimento. DARGIE (2000) comenta que as técnicas nucleares são as principais ferramentas que ultimamente contribuem para o desenvolvimento acelerado. Não devendo ser vista como a tecnologia final, mas como um complemento. E segundo ICGFI (2000), a utilização da irradiação deve ser acompanhada da adoção das Boas Práticas de Fabricação antes, durante e depois do processamento, de acordo com os padrões de alimentos nacionais e internacionais além da observância aos regulamentos higiênico-sanitários aplicáveis. De acordo com SPOLARE e GERMANO (2001), em 1992, a WHO e a American Medical Association afirmaram que o alimento irradiado, produzido sob boas práticas de fabricação deve ser considerado seguro e nutricionalmente adequado já que não induz a 17 alterações na composição do alimento; não introduz alterações na microflora do alimento; e não leva a perdas nutritivas. Deve ser destacado que os produtos irradiados não se mantêm estéreis e adequados para consumo indefinidamente e demandam refrigeração e manuseio adequados (COUSIL FOR AGRICULTURAL AND TECHONOLOGY, 1997). Os efeitos da radiação gama e outras radiações ionizantes sobre as proteínas, segundo CHEFTEL et al. (1989), também podem produzir modificações de conformação, assim como a oxidação de alguns resíduos de aminoácidos, a ruptura de uniões covalentes, ionização, formação de radicais protéicos livres, enfim, uma série de reações de recombinação e polimerização. De acordo com POTTER (1995), a mudança na cor ou textura de um alimento pode ser ocasionada por efeito direto através de colisão direta de uma partícula gama com um pigmento especifico ou molécula protéica ou através de efeitos indiretos. Esses efeitos indiretos resultam da formação de pares de íons e radicais livres, formados predominantemente na água. Nesse caso, moléculas de água dão origem ao hidrogênio altamente reativo e a radicais hidroxil. Tais radicais podem reagir entre si, com oxigênio dissolvido na água e com muitas outras moléculas e íons que podem estar dissolvidos ou em suspensão na água. A irradiação como um processo para a conservação de alimentos tem sido muito estudado, e o seu emprego na conservação de alimentos tem passado de fase experimental à escala comercial em alguns países. 2.2.3. VANTAGENS DO USO DA RADIAÇÃO GAMA De forma concreta a radiação de alimentos tem a vantagem de ser um tratamento que tem um melhor controle que o aquecimento, porque a penetração da radiação é mais profunda, instantânea e uniforme.Além disso, mantém o frescor do produto já que a radiação de baixo nível não produz nenhuma mudança detectável dos caracteres sensoriais na maioria dos produtos irradiados (IFT, 1983). O método de preservação dos alimentos por radiação é considerado´´frio``porque necessita de um pequeno aumento de temperatura durante o processamento.Essa característica faz com que seja um método atrativo para alimentos sensíveis ao calor levando-se em consideração a retenção de nutrientes. Com uma pequena alteração na temperatura,associada com a radiação, mudanças indesejáveis no alimento tais como alterações no sabor , textura e perdas de nutrientes são minimizadas (IFT,1983). Além disso, o processo térmico convencionalmente utilizado tem as suas desvantagens: os alimentos deverão ser envasados em recipientes relativamente pequenos, com líquidos para assegurar uma melhor penetração do calor : a destruição da parede celular nos alimentos pelo calor geralmente faz com que os produtos processados fiquem com textura mole e sabor alterado (IFT, 1983).Em contrapartida, o processamento por radiação possui diversas vantagens. Entre estas pode ser citada: produção de alimentos 18 estáveis que estão mais próximos do seu estado de frescor em relação à textura sabor e coloração; possibilidade dos alimentos serem embalados a seco; ausência de perda do suco durante a radiação podendo ser utilizados recipientes maiores do que quando se utiliza o calor; melhor controle no empacotamento; preservação de uma variedade de alimentos, com tamanho e formas diferentes; processamento dos alimentos em qualquer estado (congelados ou líquidos) em suas embalagens (IFT, 1983; HOBBS&ROBERTS, 1998). As vantagens de cobalto-60 como fonte de radiação é: alto poder de penetração e boa uniformidade de dose; estão comercialmente disponíveis e com baixo risco ambiental cobalto-60 decai pata formar níquel não radiativo). Como desvantagem apresenta meia-vida de 5,3 anos, e por isso 12% da fonte deve ser resposta anualmente para manter o potencial original (JARRET, 1987). Em contraste aos isótopos como fonte de radiação gama, as radiações de feixes de elétrons acelerados e raios-X são produzidas eletricamente, resultando em um considerável consumo de energia. Â principal vantagem é que são máquinas que se ligam e desligam conforme a necessidade, não precisam de reposição como cobalto-60, mas seu poder de penetração é muito pequeno. A principal diferença entre elétrons acelerados e Raio-X é que este ultimo tem maior poder de aceleração (WHO, 1994). Outra grande vantagem industrial é que o tratamento por radiação pode substituir alguns aditivos alimentares ou diminuir a quantidade requerida. Poderá ser utilizada em alimentos com a finalidade de eliminar o Clostridium botulinum, reduzindo ou diminuindo a utilização de nitrito para esse fim (IFT, 1983). 2.2.4. DESVANTAGENS DO USO DA RADIAÇÃO EM ALIMENTOS De acordo com HOBBS & ROBERTS (1998), as poucas desvantagens do uso da radiação com alimentos incluem a continuidade da atividade enzimática durante a estocagem e alterações químicas como o ranço, podendo ocorrer em alimentos predispostos. JAY (1978) confirma esse fato e indica a necessidade de se fazer tratamento térmico antes da radiação a fim de destruir essas enzimas. Em função da produção de radicais livres, facilitando a ocorrência de ranço em alimentos predispostos, existem poucos trabalhos realizados utilizando-se a radiação em leite e produtos lácteos devido a produção de off flavour causados pela radiação. Um dos principais inconvenientes do emprego da radiação em certos alimentos é a mudança de cor e produção de odores desagradáveis.Em conseqüência disto, produtos onde há menor probabilidade de ocorrer essas mudanças têm recebido maior atenção para radapertização comercial.(JAY, 1978).De acordo com ELIAS (1989), poderão ocorrer reações químicas dependendo da dose de radiação aplicada da quantidade de água do alimento e do meio gasoso que o produto é radiado. Assim como outros métodos de tratamento, a irradiação produz pequenas alterações na composição química de alimentos, podendo afetar o valor nutricional deles. A natureza e extensão desses efeitos dependem da composição específica do alimento, da dose de radiação, e de fatores como a temperatura e presença do oxigênio. 19 Carboidratos, proteínas e gorduras, denominados macronutrientes, fornecem a energia e constituem peças chave na construção e manutenção do corpo.Diversos estudos com animais já mostraram alimentados com rações irradiadas com qualquer dose, no intervalo de interesse (até 50 KGy), não mostraram qualquer prejuízo dessas funções. Análises químicas mostram alguns efeitos da radiação sobre macronutrientes, os quais crescem com a dose. Porém, mesmo no intervalo entre 10 e 50 KGy, eles são tão pequenos e tão indefinidos que esforços para desenvolvimento de metodologias analíticas para determinar se um alimento foi irradiado ou não somente tiveram sucesso parcial. Nas proteínas, não ocorre destruição significativa de aminoácidos essenciais em carne ou peixe ou em outro tipo de alimento, mesmo quando submetidos a doses para esterilização.Pesquisas de crescimento de animais também mostraram que o valor biológico e a digestibilidade de proteínas permanecem essencialmente inalteradas com a radiação, mesmo na faixa de 50 KGy.Experimentos com frangos mostraram um aumento do valor nutricional de proteínas em feijões e lentilhas. Mesmo em doses extremamente altas, a radiação não prejudicou a qualidade das proteínas: 210 KGy (feijão) e 180 KGy (lentilhas). Vários estudos sobre efeitos da radiação sobre vitaminas se contradizem. Alguns relatos superestimam as perdas porque baseiam-se nos resultados para soluções puras de vitaminas, onde elas são muito maiores do que nos alimentos.Por outro lado, alguns trabalhos subestimam as perdas vitamínicas porque são realizados logo após a irradiação, não considerando que a taxa de perda depois da irradiação e na presença do oxigênio, em geral, é mais acentuada em alimentos irradiados. Alimentos irradiados também mostram uma tendência a sofrer maiores perdas vitamínicas durante o cozimento do que os não irradiados. Algumas exceções podem ocorrer devido aos menores tempos de cozimento verificados para alguns legumes secos irradiados. As vitaminas B1 e E , as mais sensíveis à irradiação, além da exclusão do oxigênio, devem receber uma proteção adicional: baixas temperaturas. Alguns tratamentos necessários para minimizar degradação de características sensoriais, como exclusão de oxigênio e irradiação em temperaturas muito baixas, as vezes fazem com que as perdas vitamínicas de produtos esterilizados por radiação seja menor que a dos esterilizados por calor. As perdas de vitamina C variam muito de acordo com a composição do alimento. Perdas de vitamina C em frutas e legumes irradiados com doses abaixo de 2 KGy resultam de alterações metabólicas no alimento e não constituem efeito radiolítico direto. Tal resposta fisiológica depende da dose de radiação, espécie e variedade do vegetal, tempo decorrido entre a irradiação e a análise, grau de amadurecimento na hora da colheita, temperatura durante a irradiação e durante o armazenamento pós-irradiação e outros fatores, pode ocorrer conversão parcial de ácido ascórbico em ácido dehidroascórbico-ambos responsáveis pela atividade de vitamina C no homem. Trabalhos sobre alimentos vegetais freqüentemente mencionam apenas o nível de ácido ascórbico, o que geralmente leva a cálculos exagerados de perda de vitamina C. Entre as vitaminas solúveis em água, tiamina é a mais sensível à radiação, seguida da vitamina C, piridoxina (B6), riboflavina (B2) e niacina. Dentre as solúveis em gordura, alfa-tocoferol é a mais facilmente destruída pela radiação, seguida da vitamina A e K, enquanto vitamina D é relativamente estável. 20 2.2.5. IRRADIAÇÕES EM QUEIJOS. A tecnologia de produtos lácteos desempenha importante papel na indústria de alimentos. No leite, a dose máxima para não ocorrer efeitos indesejáveis (alteração de cor e sabor) é por volta de 0,5 KGy. Para a preservação de queijo é possível utilizar-se uma dose de até 2,0 KGy sem o aparecimento de sabores estranhos. GURGEL (2000) inoculou S. aureus (106 UFC/ml) em queijo Minas Frescal irradiado com doses de O (controle); 1; 2; 3 e 4 KGy armazenados sob refrigeração (5°C). As amostras foram analisadas nos períodos de 1 , 7 e 14 dias, concluindo que doses entre 2 e 3 são indicadas para a destruição do S. aureas, -não interferindo nas propriedades físico-químicas e sensoriais do produto. Lalaguma (2003) estudou os efeitos sobre as propriedades sensonais de baixas doses 1-5KGy de radiação em queijo Palmita, um tipo de queijo branco, popular na Venezuela. As amostras foram analisadas imediatamente após a irradiação e após 21 dias do armazenamento a 12°C. Nenhuma propriedade sensórial desagradável foi desenvolvida apôs a irradiação. Após 21 dias do armazenamento, as amostras não irradiadas foram rejeitadas sensorialmente, enquanto que as amostras irradiadas mantiveram o frescor do produto. No trabalho realizado por EWAIS et al (1990), com queijo Roquefort irradiado com 2,5 KGy em fonte de cobalto-60, durante as 8 semanas de maturação a 9°C e 90% UR ,verificaram que a contagem total de bactérias diminui do começo ao fim da maturação. O efeito da irradiação diminui os índices de proteólise e lipólise bacteriana durante a maturação; já para a contagem de mofos e leveduras houve um aumento desta população. A irradiação reduziu a umidade e o conteúdo de gordura e aumentou a porcentagem de sal e pH do queijo. ODEGOV et al (1974) verificaram o efeito dá radiação gama com doses de 0,06 KGy a 49,68 KGy sobre as características bacteriológicas e organolépticas do queijo Rossiiskí durante a maturação. Os resultados mostraram que doses maiores que 10 KGy esterilizaram o produto. Os queijos irradiados com doses maiores que 0,5 KGy, após 70 dias, apresentaram sabor estranho, e aqueles com doses maiores que 2,0 KGy, apresentaram sabor amargo e azedo e alteração na consistência. Em trabalho realizado sobre as características microbiológicas e sensoriais com queijos Cammembert, Cottage e Cottage de soro irradiados com baixas doses, com 0,75 KGy foi observado que houve diminuição em 96%, 99% e 50% da população microbiana, respectivamente. Nos queijos Cottage, as mudanças de sabor começaram a ser notadas a partir de 0,75 KGy e tornaram-se mais intensos com o aumento da dose de radiação. Com 0,75 KGy os sabores foi descrito como amargo, cozido e estranho. Com 2,0 KGy, um pronunciado sabor de queimado foi detectado. Para os queijos Cottage de soro, irradiados com dose de 0,30 KGy, já foi notada mudança no sabor. O sabor descrito após doses maiores (1,20 e 2,00 KGy) foi de estragado e queimado e para 0,75 KGy como adocicado. No queijo Cammembert, as mudanças foram detectadas com 0,30 KGy e tomaram-se mais pronunciadas com o aumento da dose. O sabor foi descrito como queimado ou mofado (JONES & JELEN, 1988). BOUGLE & SIAHL (1994) verificaram que queijos Cammembert fabricados com leite cru e irradiados com dose de 2,6 KGy não sofreram alterações nas propriedades organotépíicas. BOUGIE & STAHAL (1994) estudaram Listeria monocytogens inoculada em queijos Cammembert irradiados. A dose de 2,6 kGy não alterou as propriedades sensoriais do Cammembert, 21 permitindo uma destruição completa da população de 104 UFC/g de L. monocytogenes. Quando 105 UFC/g foram inoculados no queijo, alguns eram viáveis após a irradiação e armazenamento de 45 dias a 12°C; e as bactérias que sobreviveram eram incapazes de multiplicar-se no produto. Um estudo foi realizado com queijo Kaseri (queijo de pasta filada) e Baski (queijo não processado), durante 4 meses, irradiados com as doses de 1 a 58 KGy em fonte de cobalto 60. Os resultados mostraram que os microorganismos foram satisfatoriamente destruídos, e o período de maturação do queijo Kaseri pôde ser reduzido de 15 para 12 dias (VOSNIAKOS & HATZIITOANNOU, 1997). IBRAHIN et al. (1987) estudaram o queijo Rãs (produzido a partir do leite fresco de cabra), irradiado com 2,5 KGy após maturação por 15, 30, 60, e 90 dias a 15°C. A contagem total de microrganismos, a contagem de fungos e leveduras e coliformes diminuíram durante a maturação. O pH diminuiu durante os 30 primeiros dias e depois aumentou. Em outro estudo foi comparado a qualidade microbiológica do queijo Rãs feito com leite irradiado com 5 KGy e com leite tratado termicamente. A irradiação gama do leite reduziu a contagem total de bactérias e esporos em 98,98% e 95,77%, respectivamente, e eliminou coliformes e bactérias patogênicas. Este tratamento aumentou ligeiramente a acidez e estimulou a ação proteolítica e lipolítica bacteriana durante â maturação (ABDELBAKYETAL, 1986). YUCCER & GUNDUZ (1980) estudaram a preservação de queijo Kashar turco com baixas doses de radiação e concluíram que doses abaixo de 1,5 KGy não causaram diferenças no sabor entre as amostras irradiadas e não irradiadas. A condição ótima para este queijo foi de dose total dê 0,2-0,4 KGy, taxa de dose de 0,025 - 0,05 KGy / min e tempo de radiação de 8 minutos.. Segundo ROSENTHAL et al. (1983), a irradiação do queijo Gouda com dose de 0,6 KGy, reduziu a contagem total de bactérias, psicrotróficos, coliformes, fungos e leveduras, sem afetar o sabor. KRCAL et al. (1978) estudaram queijos Bryndza irradiado com 0,75 a 5,0 KG em fonte de cobalto-60. O tratamento com dose maior que 1KGy apresentou uma redução substancial na contagem de microrganismos, mas causou alteração no sabor (queimado, estranho, estragado). A irradiação com 0,75 KGy reduziu substancialmente a contagem (mais de 90% da contagem total, coliforme e leveduras), mas não teve efeito nos esporos de bactérias aeróbias e anaeróbias. CECHI et al (1996) inocularam microrganismos patogênicos em queijos de Crescenza, Crosta Fiorita, Gorgonzola, itálico, Mascarpone, Mussarela, Robiola e Taleggio, irradiados com diferentes doses (2, 2,5, 3, 5, 6, 10 KGy) com fonte de cobalto-60. Cada um foi inoculado com Escherichia coli, Salmonella typhimurium, Listeria monocytogenes, Staphylococcus aureus e Bacillus cereus individualmente. Com 3 KGy, uma redução significativa nos números dos patógenos foi observada, sem nenhum efeito prejudicial sobre organismos benéficos como bactérias lácticas e alguns fungos. E.coli, S. typhimurium e S. aureus foram eliminados com 2 KGy; com 3 KGy, os coliformes e L monocytogenes. HASHISAKA et al. (1989) estudaram a sobrevivência Listeria monocytogenes inoculada em sorvete e queijo Mussarela antes do tratamento de radiação gama. As amostras foram mantidas em -78°C e expostas às doses de 2, de 4, de 8, de 16, e de 32 KGy. Os valores D calculados eram 1,4 KGy para o queijo do Mussarela e 2,0 KGy para o sorvete. A dose eficaz da radiação (12D) para inativação de L. monocytogenes foi de 16,8 KGy para o queijo do Mussarela e 24,4 KGy para o sorvete. LAMB et al (2002) estudaram o efeito da radiação gama em sanduíches de presunto e queijo inoculados com 108 ou 107 UFC/g de S, aureus, que foram analisados após 1, 13, 27 e 39 dias do armazenamento a 4°C. Os sanduíches irradiados com 5,6 kGy não mostraram nenhum crescimento do S. aureus, os sanduíches irradiados com 3,85 KGy, após 13 dias, mostraram uma redução de 6 log, e os não irradiados mostraram um aumento de 0.53 log, após 39 dias. 22 2.3. Analise Sensorial Através da análise sensorial pode-se determinar a aceitabilidade e a qualidade dos alimentos, com auxílio dos sentidos humanos como paladar e olfato. Para avaliar a qualidade; deve-se levar em conta as propriedades sensoriais aceitáveis, como essenciais no momento da venda e consumo do produto (MORALES, 1997). A avaliação sensórial é efetuada de maneira científica, através de métodos sensoriais, que são utilizados para medir a qualidade dos alimentos através dos sentidos humanos de uma equipe de avaliação, especialmente treinadas para analisar os diferentes atributos destes (MONTEIRO, 1984; DUCCOSKY, 1996), Os métodos sensoriais classificam-se em: métodos de diferença, métodos analíticos, métodos de sensibilidade e métodos de preferência e aceitabilidade. O teste de aceitabilidade é utilizado principalmente para testar novos produtos, bem como para controlar a qualidade e testar o tempo de armazenamento adequado para cada tipo de produto. Nestes métodos, duas ou mais amostras são comparadas, e os valoras são expressos através de uma escala de pontos (vertical ou horizontal), na qual cada ponto representa um adjetivo correspondente. Os tipos de escalas mais utilizados: escala hedônica facial, emito numérica e escala estruturada. Estes testes dão a grandeza (intensidade da sensação) e a direção das diferenças entre as amostras. Através das escalas, é possível descobrir o quanto as amostras diferem entre si, e qual a amostra que apresento maior intensidade do atributo sensórial que está sendo medido (CHAVES, 1993; MORI, 1992). Os métodos descritivos têm por objetivo descrever as propriedades sensoriais dos produtos, medindo a intensidade percebida de cada atributo por cada provador (CHAVES, 1990). Os métodos de testes descritivos são usados para detectar e quantificar as características sensoriais de um produto (MORI, 1992). Esta técnica requer um painel de 5 a 10 provadores treinados, familiarizados com as características sensoriais dos produtos. Neste teste é desenvolvido um registro permanente de um produto ou dos componentes sensoriais de seus ingredientes. O perfil de características requer do julgador muita habilidade, intenso treinamento, interesse e perspicácia para poder distinguir características de cada amostra . Este teste faz uso de um tipo multidimensional de representação visual para mostrar diferenças e similaridades (DAMÁSIO & COSTELL, 1991). Segundo STONE & SIDEL (1985), a análise descritiva quantitativa (ADQ) é uma técnica que treina indivíduos a identificar e quantificar, em ordem de ocorrência, propriedades sensoriais dos produtos e ingredientes O procedimento é o seguinte: inicialmente é realizados treinamento com testes de sensibilidade com gostos primários, reconhecimento, percepção, limiar, reconhecimento de odores, etc, (LYON et al, 1992), Com auxílio de um líder, os julgadores desenvolvem a lista de atributos sensoriais que caracterizam o produto, definem, por escrito, cada termo descritivo. Após os termos definidos pela equipe de provadores devem ser agrupados com a supervisão de um coordenador. Podem-se utilizar escalas de 0-5 ou 0-10 pontos, em que os provadores situam sua avaliação (HARPER, 1984), Para se caracterizar o produto, não existe o número mínimo e máximo de termos que serão utilizados na avaliação, porém, é importante que todos os termos propostos pela equipe, durante o treinamento sejam considerados. 23 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS A irradiação constitui um atraente método, seguro e eficiente, capaz de prolongar a vida útil e melhorar a qualidade de alimentos, tem sido estudado no mundo sob o ponto de vista da segurança, da toxicologia, da adequação e do valor nutricional. O Brasil, enquanto nação em busca do desenvolvimento, não pode deixar de pesquisar ou de utilizar este processo de conservação, tendo em vista a economia gerada através da diminuição das perdas de alimentos, os ganhos com a exportação de produtos de melhor qualidade fitosanitária e, principalmente, a melhoria da saúde pública, decorrente da oferta de produtos de maior segurança microbiológica. Os consumidores estão cada vez mais exigentes em relação à escolha de seus alimentos, muitos deles estão propensos a comprar alimentos obtidos ou tratados por métodos alternativos; por este motivo o interesse de descrever a irradiação em queijos. 24 4. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: ADAMS, D.M., BARACH,J.T.; SPECK,M.L. Heat resistant proteases in milk by psychrotrophic bactéria of dairy origin. Journal of Dairy Science, v.58, n.6, p.828-834, Dec. 1974. ALVES, L. M. C ; COSTA, F. N.; SILVA, M. I. S.; SALES, S. S.; CORREA, M. R. Infecção alimentar por Salmonella Enteritidis: Relato de um surto em São Luís – MA. Higiene Alimentar, São Paulo, v. 15, n. 80/81, p. 57-58. 2001. ALMEIDA FILHO.E.S , NADER FILHO . A ocorrência de Staphylococcus aureus em queijo minas tipo frescal. Revista Saúde Pública , v. 34, n. 6 p. 25- 29 Dez 2005. ANDERSON,R.E ; HEDLUND, C.B.;JONSSON, U. Thermal inactivation of a heat resistant lipase produced by the psychritrophic bacterium Pseudomonas fluorescens. 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