EFEITO DA COBERTURA COM RESÍDUOS VEGETAIS SOBRE O DESENVOLVIMENTO DE PLANTIOS EM ÁREAS DEGRADADAS NA REGIÃO DE URUCU, AM. Niwton LEAL FILHO (3) (1) ([email protected]); Ramilla Machado de ALENCAR Rogério GRIBEL ; Antenor Guilherme de MELO NETO (2) ; Ricardo LEME (3) ; (1) (1) Coordenação de Pesquisas em Ecologia/INPA, c.p.: 478 – 69011-970 – Manaus, AM.; (2) Departamento de Engenharia Florestal/Instituto de tecnologia do Amazonas (UTAM); (3) Coordenação de Pesquisas em Botânica/INPA, As atividades de prospecção e produção de gás e petróleo na bacia de Urucu, AM, pela PETROBRAS, exige a abertura de um grande número de clareiras na Floresta Tropical, principalmente para a instalação de jazidas de argila utilizada na construção e manutenção de estradas. Após a exploração estas áreas apresentam intenso processo erosivo devido a ausência de cuidados na conservação dos solos e de uma cobertura vegetal que reduza o impacto das chuvas torrenciais sobre o solo desnudo (Leal Filho et al. 2000). O processo erosivo pode provocar, entre outras coisas, modificações nas características físicas e químicas do solo através da desagregação de suas partículas, carreamento de nutrientes minerais pela erosão superficial e mesmo a formação de voçorocas. A regeneração natural também é prejudicada, já que sementes introduzidas eventualmente nestas áreas podem ser removidas pelos processos erosivos. Os efeitos se fazem sentir em outras áreas, como pode ser observado na época chuvosa quando grandes quantidades de sedimentos alcançam os cursos d’água, turvando a água, ocasionando o assoreamento dos mesmos e afetando negativamente o meio aquática. A utilização de uma cobertura protetora do solo com restos vegetais provenientes da poda de capoeiras estabelecidas nas bordas das clareiras pode diminuir os processos erosivos, fornecer nutrientes minerais para as espécies plantadas através do processo de ciclagem de nutrientes, como observado por vários autores (Ludewiges et al., 2000; Tapia-Coral et al., 2000) e reduzir a temperatura e a perda de umidade do solo, favorecendo o desenvolvimento da fauna do solo e o da vegetação (Leal Filho et al. 2000). Assim, este trabalho se propôs a avaliar o efeito da cobertura do solo de uma jazida explorada sobre o desenvolvimento e a mortalidade de espécies arbóreas plantadas comumente nas áreas em recuperação de Urucu, além de comparar o desenvolvimento destas espécies. O trabalho foi realizado na província petrolífera de Urucu, no município de Coari, AM cerca de 650 km em linha reta de Manaus, em uma jazida de empréstimo de argila para construção de estradas (Jaz. 81), recém plantada pela empresa responsável pela recuperação de áreas. Entre as espécies florestais plantadas foram analisadas 13 que apresentaram no mínimo 10 indivíduos por tratamento. Na jazida foram demarcadas dez parcelas de 150m2 (10x15m). Destas parcelas, 5 foram cobertas com material proveniente de poda de vegetação de capoeira (troncos, galhos e folhas), tomando-se cuidado durante a cobertura para não danificar as mudas anteriormente plantadas. Os dados apresentados se referem às taxas de crescimento mensal (Evans, 1972; Hunt, 1982) em altura e diâmetro, mortalidade, cobrindo o período de seis meses iniciais. Os resultados preliminares foram avaliados através de estatística descritiva, comparando-se visualmente o crescimento e a mortalidade. Após os primeiros seis meses da implantação do experimento verificou-se que as taxas de crescimento em altura e diâmetro foram maiores no tratamento com cobertura para nove das treze espécies analisadas: angelim (Dinizia excelsa), angico (Parkia sp.), buriti (Mauritia flexuosa), fava da mata (Swartizia sp {?}), goiaba de anta (Bellucia sp), ingá(Inga edulis), vermelinho (cassia sp.), virola (Virola sp.).e lacre (Vismia sp.). As espécies azeitona (Eugênia sp.) e Visgueiro (Parkia sp.) aparentemente não foram afetadas pelos tratamentos. Média de crescimento log10 Mungubarana (Bombacopsis sp.) e açaí (Euterpes sp.), duas espécies adaptadas às várzeas, desenvolveram-se melhor no tratamento sem cobertura de resíduos vegetais. . 0,10 T1 T0 Visgueiro Virola Vermelhinho Mungubarana Inga Goiaba de Anta (a) Fava da Mata Buriti Azeitona Angico Angelim Açai 0,00 Vismia da F Gr 0,05 Médias de crescim ento log10 T1 T0 0,10 0,05 Vismia da F Gr Visgueiro Virola Vermelhinho Mungubarana Inga Goiaba de Anta Fava da Mata Buriti Azeitona Angico Angelim (b) Açai 0,00 Figura 1 - Taxas de crescimento médio em diâmetro (a) e altura (b) para os tratamento com (T1) e sem (T0) cobertura de resíduos vegetais. % de m ortalidade 16 12 8 T1 T0 4 0 Figura 2 -Percentuais de mortalidade para as espécies avaliadas nos tratamentos com (T1) e sem (T0) cobertura de resíduos vegetais. As espécies angelim, angico, goiaba de anta, ingá e visgueiro se destacaram pelo crescimento em altura em ambos os tratamentos seis meses após o início do experimento. Azeitona, açaí, fava da mata apresentaram desenvolvimento reduzidos em diâmetro. Enquanto açaí, buriti, azeitona e virola apresentaram as menores taxas de desenvolvimento em altura, devendo-se acrescentar que estas duas últimas apresentaram elevadas taxas de ataques de formigas durante todo o período de acompanhamento. O que indica a necessidade de implementar a aplicação de métodos de controle de pragas nos casos em que se fizer necessário. Entre as treze espécies analisadas somente cinco perderam indivíduos, açaí, angelim, angico, azeitona e goiaba de anta. A espécie que apresentou maior mortalidade foi goiaba de anta, no tratamento sem cobertura. Esta espécie é considerada pioneira de rápido crescimento. A elevada mortalidade e a susceptibilidade à pragas apresentada por algumas espécies ilustram o risco de basear a escolha de espécies apropriadas para plantios em áreas de recuperação com critérios único de crescimento. Valores mais elevados nas taxas de crescimento de altura e diâmetro e menor mortalidade para a maioria das espécies nos tratamentos com cobertura indicam que a prática pode influenciar beneficamente o desenvolvimento dos novos e antigos plantios. Apesar disto, algumas espécies (açaí e mungubarana) apresentaram valores mais elevados no tratamento controle. Porém, o intervalo de tempo de seis meses representa um período limitado para que se possa avaliar os benefícios da prática proposta, principalmente considerando-se o lento processo de disponibilização dos nutrientes às plantas pela mineralização da liteira grossa. Resultados mais consistentes devem ser obtidos com o acompanhamento mais prolongado, atualmente em andamento. Evans, G. C. 1972. The quantitative analysis of plant growth. University of California. 423p. Hunt, R. 1982. Plant growth curves: the functional approach to plant growth analysis. Edward Arnold, London, 300p. Leal Filho, N.; Leme, R.; Rodrigues, D.S.; Barros, E.; Couto, L.B.; Gribel, R. (2002). Efeito da cobertura de matéria orgânica sobre o estabelecimento e desenvolvimento de espécies originadas do banco de sementes em áreas em recuperação na floresta amazônica brasileira. In: V Simpósio nacional Sobre Recuperação de Áreas Degradadas: Água e Biodiversidade. Belo Horizonte-Mg, pg. Tapia-Coral, S.C.; Luizão, F.J.; Wandelli, E.; Sarranzi, M.; Chavez, E.; Fernandes, E.C.M. (2000) Carbono e nutrientes na camada de liteira em sistemas agroflorestaisna Amazônia Central. In: III Congresso Brasileiro de sistemas Agroflorestais. Manaus – Am, pg. 85-87. Ludewiges, T.; Menezes Filho, L.C.L.; Cavalcante, M.I.; Recco, R.D.; Souza, A.D.; Leite, A.P.; Rodrigues, F.Q. (2000) Quantidade e concentração de nutrientes na biomassa de oito espécies de leguminosas arbóreas para fins de uso como componentes agroflorestais. In: III Congresso Brasileiro de sistemas Agroflorestais. Manaus – Am, pg. 274-277.