Mecânica e Ondas Série 7 Docentes da disciplina: Orfeu Bertolami, Ana M. Martins e Mario J. Pinheiro Licenciaturas em Eng. Mecânica e Naval∗ Departmento de Fı́sica e Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear, Instituto Superior Técnico, Av. Rovisco Pais, & 1049-001 Lisboa, Portugal Phone: 351.1.21.841.93.22 351.1.21.846.44.55† (Dated: June 18, 2008) I. MOVIMENTOS OSCILATÓRIOS 1) Um corpo de massa m = 2 kg move-se sem atrito sobre um plano horizontal preso a duas molas iguais de comprimento próprio L = 0.4 m e constante elástica K = 10 N/m, conforme mostra a Fig. 1. A distância d entre os pontos A e B é de 1.0 m. a) Escreva a equação diferencial do movimento para a função x(t) que representa o afastamento do corpo relativamente à sua posição de equilı́brio (ponto médio do segmento AB); b) Determine a frequência da oscilação; c) Se no instante inicial o corpo se encontrar na origem com uma velocidade de 0.5 m/s, qual vai ser a amplitude e fase inicial da oscilação? 2. Uma massa m presa a uma mola elástica de constante K realiza oscilações de amplitude A na direcção horizontal. No instante t = 0 a mola encontra-se na sua posição de equilı́brio. a) Escreva a forma explı́cita das funcções x(t) e ẋ(t) que descrevem a posição da massa m (relativamente à posição de equilı́brio) e a sua velocidade. Identifique o perı́odo da oscilação; b) Determine, a partir da definição, o trabalho da força elástica no trajecto entre a posição de equilı́brio e o valor máximo da oscilação. Compare com os valores da energia cinética do corpo quando passa pela posição de equilı́brio e com a energia potencial elástica da mola no ponto de elongação máxima; c) Calcule o trabalho da força elástica entre os instantes t = 0 e t = T /8; d) Qual é o trabalho da força elástica durante um perı́odo? 3. Uma esfera de massa m = 5 kg e raio R = 25 cm oscila verticalmente suspensa numa das extremidades de uma mola elástica de constante K = 200 N/m e comprimento próprio l = 0.5 m. a) Escreva a equação de Newton para o movimento e determine a posição de equilı́brio da massa; b) Escreva a solução geral dessa equaçãao; FIG. 1: Prob.1 ∗ Electronic † versão 1.0 address: [email protected] 2 c) Qual é o perı́odo da oscilação? d) Sabendo que no instante t = 0 a mola se encontra na posição de equilı́brio com uma velocidade v0 = 1.5 m/s dirigida para baixo, encontre o valor das constantes de integração que surgem na solução geral. 4. Considere que o sistema descrito no problema anterior é imerso em água a 20o C (densidade d = 1.00, viscosidade η = 1.005 × 10−3 kg/ms) e o factor de forma de uma esfera é κ = 6πR. a) Escreva a equação do movimento para este sistema; b) Dê a solução geral da equação e identifique a frequência angular da oscilação. c) Quanto tempo leva a amplitude da oscilação a reduzir-se a um décimo do valor inicial? 5. Um bloco de gelo com a forma de um cubo de aresta a = 2 m e densidade dg = 0.92 flutua no Oceano Glacial Ártico, cuja água salgada tem uma densidade média da = 1.06. Sobre o bloco de gelo encontra-se em repouso uma foca de massa 100 kg. a) Determine o volume de gelo imerso e a sua altura; b) A foca abandona lentamente o bloco de gelo. Escreva a equação do movimento oscilatório que se segue (despreze o atrito). Qual a frequência e a amplitude das oscilações? 6. Duas massas, de valor m1 e m2 , ligadas entre si por uma mola elástica de constante K e comprimento próprio lo , caem verticalmente de uma altura h À lo . a) Escreva as equações do movimento para a posição z1 e z2 de cada uma das massas relativamente ao solo; b) Escreva as equações do movimento para a posição do centro de massa Z, e para a coordenada relativa z (que dá a posição de uma partı́cula relativamente à outra). Qual a vantagem de usar estas coordenadas em lugar de z1 e z2 ? c) Por integração das equações do movimento deduzidas em b), encontre as funções Z(t) e z(t) que descrevem o movimento do centro de massa e o movimento relativo entre as massas. 7. O sistema de amortecedores de um automóvel de 1000 kg de massa pode ser assimilado a uma mola elástica de constante K = 105 N/m. O automóvel roda por uma estrada cheia de lombas cujo perfil é aproximadamente uma sinusoide, sendo a distância entre dois máximos consecutivos de 10m. Desprezando os efeitos dos atritos nos amortecedores, determine a velocidade do automóvel para a qual o sistema entra em ressonância. 8. Uma partı́cula de massa m oscila em torno do mı́nimo do potencial representado por: V (x) = A(1 − cos x), comx²[−π/2, +π/2]. (1) a) Escreva a equação dopmovimento da partı́cula. Mostre que, para pequenas oscilações, isto é, x ¿ 1, a frequência da oscilaçõao é dada por A/m; b) Qual a energia total da partı́cula nas condições referidas? c) Admitindo que iria ainda actuar uma força de atrito proporcional à velocidade, qual teria de ser o coeficiente de amortecimento para que a amplitude das oscilações se reduzisse a metade do seu valor inicial ao fim de 10 s? 9. Um pêndulo, de 1 m de comprimento, é largado sem velocidade inicial de um ângulo de 5o . Tendo-se verificado que a amplitude das suas oscilações se reduziu a metade ao fim de 5 minutos. Use a aproximação das pequenas oscilações. a) Escreva a sua equação do movimento; b) Escreva a sua solução geral; c) Calcule o coeficiente de amortecimento; d) Calcule a frequência do movimento; e) Particularize a solução geral para este caso; f) Qual a frequência exterior que se deve aplicar ao sistema para que ele entre em ressonância. A. Ondas 10. Ondas transversais numa corda vibrante. − → Considere uma corda sujeita a uma tensão T , na qual se desloca um dos seus pontos perpendicularmente ao seu comprimento. Sabendo que a corda tem secção S e massa especı́fica ρ, determine: a) A velocidade de propagação das ondas transversais na corda; b) As soluções de onda que verificam a equação de onda obtida na alı́nea anterior; c) As frequências dos modos próprios de vibração, no caso de uma corda de comprimento L; − → d) A variação das frequências dos modos próprios quando aumentamos para o dobro: a amplitude da tensão T ; o raio da corda; o comprimento da corda. e) Particularize para a uma corda com comprimento L = 1 m, raio R = 0.25 mm, massa especı́fica ρ = 5 × 10−3 − → g/mm3 e sujeita a uma tensão de módulo | T |= 10 N. Resolução 3 − → 10. a) Considere uma corda sujeita a uma tensão T , na qual se desloca um dos seus pontos perpendicularmente ao comprimento. Num troço de comprimento dl ' dx que foi deslocado de uma distância dy da sua posição de equilı́brio, − → existe uma força tangencial T em cada uma das extremidades, uma produzida pela parte restante da corda à sua esquerda e outra produzida pela parte restante da corda à sua direita. As duas forças não são opostas devido à curvatura do fio. As componentes verticais da tensão nas extremidades são iguais a Ty = −T sin α Ty0 = T sin α0 (2) A força vertical resultante que se exerce sobre este troço é: T (sin α0 − sin α). (3) Se as curvaturas não forem muito grandes, os ângulos α e α0 são pequenos e podem ser substituı́dos pelas tangentes T (tan α0 − tan α) = T ∆(tan α) (4) e, portanto, dFy = T d(tan α) = T ∂ (tan α)dx. ∂x (5) Usamos aqui a derivada parcial porque tan α depende tanto da posição x, como do tempo t. Ora, tan α é o grau de inclinação do troço da corda, pelo que se tem também tan α = ∂y ∂x (6) e, portanto, dFy = T ∂ ∂x µ ∂y ∂x ¶ dx = T ∂2y dx. ∂x2 (7) De acordo com a 2a lei de Newton, esta força é igual à massa do troço da corda (dl ' dx) a multiplicar pela aceleração vertical ∂2y ∂t2 (8) dm = ρSdx, (9) dFy = dm com sendo ρ a massa especı́fica da corda e S a sua secção. Igualando as duas express.oes para dFy , obtém-se: T ∂2y ∂2y dx = ρS 2 dx 2 ∂x ∂t (10) e, portanto, ∂2y ρS ∂ 2 y − = 0. 2 ∂x T ∂t2 (11) 1 ∂2y ∂2y − 2 2 =0 2 ∂x v ∂t (12) A equação é a equação de propagação de um onda transversal na corda, sendo s T v= ρS (13) 4 a velocidade de propagação. b) A equação da onda admite como solução uma função do tipo y(x, t) = y1 (x − vt) + y2 (x + vt), (14) u1 = x − vt u2 = x + vt (15) como se pode provar. Fazendo tem-se ∂y ∂t ∂2y ∂t2 dy1 ∂u1 dy2 du1 ∂t + du2 2 = dduy21 (−v)2 + 1 = dy1 dy2 ∂u2 ∂t = du1 (−v) + du2 (v) 2 2 2 d y2 2 v = v 2 ( dduy21 + dduy22 ) du22 1 2 (16) enquanto que ∂2y d2 y1 d2 y2 = + ∂x2 du21 du22 (17) ∂2y ∂2y = v2 2 . 2 ∂x ∂x (18) e, portanto, A solução da equação de onda tem assim dois termos y(x, t) = y1 (x.vt) + y2 (x + vt). (19) Como a amplitude do deslocamento vertical é a mesma nos pontos onde os argumentos u = x ∓ vt se mantém constantes, obtém-se: i) Para a primeira solução x − vt = C1 ⇒ x = C1 + vt, (20) isto é, a onda propaga-se no sentido positivo do eixo dos xx (onda progressiva), pois quando t aumenta os pontos que apresentam o mesmo valor C1 ocorrem em posições x mais elevadas; ii) Para o segunda solução x + vt = C1 ⇒ x = C2 − vt, (21) a onda propaga-se no sentido negativo do eixo dos xx (onda regressiva). Partem assim duas ondas em sentidos opostos a partir do ponto em que a corda é perturbada. Consideremos agora que a corda é perturbada de uma forma periódica, sendo portanto, a solução do tipo harmónico y(x, t) = yo1 sin(k(x − vt)) + yo2 sin(k(x + vt)). (22) O coeficiente k introduzido na expressão das soluções, tem dimensões de um inverso de um comprimento, de forma ao argumento da função seno ser adimensional. Tem-se portanto y(x, t) = yo1 sin(kx − kvt) + yo2 sin(kx + kvt). (23) Se fixarmos um dado instante no tempo, por exemplo, t = 0, tem-se para a onda progressiva (a análise da onda regressiva é semelhante) y1 (x, 0) = y01 sin(kx). (24) A função seno apresenta o mesmo valor quando o seu argumento varia de 2π, pelo que se tem kλ = 2π, (25) 5 sendo λ o comprimento de onda, e portanto k= 2π λ (26) traduz o número de comprimentos de onda que existe em 2π, e é designado por número de onda; k é assim uma frequência espacial. Da mesma forma, se fixarmos a análise numa dada posição x = 0, tem-se para a onda progressiva y1 (0, t) = y01 sin(−kvt) = −y01 sin(kvt). (27) Mais uma vez, como a função seno apresenta o mesmo valor quando o seu argumento varia de 2π, tem-se kvT = 2π, (28) sendo T o perı́odo temporal. Tem-se assim que kv é a frequência angular kv = 2π = ω. T (29) À relação ω = kv (30) chama-se relação de dispersão e substituindo nesta equação ω e k, obtém-se a seguinte relação entre o comprimento de onda e o perı́odo (31) λ = vT. c) Considere agora uma onda progressiva e uma onda regressiva harmónicas com a mesma amplitude y(x, t) = yo sin(kx − ωt) + yo sin(kx + ωt) (32) A soma das duas funções permite obter y(x, t) = yo (sin(kx) cos(−ωt) + cos(kx) sin(−ωt) + sin(kx) cos(ωt) + cos(kx) sin(ωt)) y(x, t) = 2yo sin(kx) cos(ωt) (33) Obtém-se uma onda estacionária, na qual uma dada dependência espacial fixa ao longo da corda, sin(kx), oscila harmonicamente em todos os seus pontos com a mesma frequência ω. Para que a soma das duas ondas “andantes” resulte numa onda estacionária é preciso que a fase na origem das duas ondas seja a mesma, o que se consegue fazendo com que ao longo da corda surjam os modos de vibração que se mostram na figura seguinte, Fig. 2. Nas extremidades sin(kx) = 0, com x = 0 e L. Como sin(kL) = 0 para kL = nπ, tem-se π L (34) 2π 2L = . kn n (35) kn = n e, portanto, λn = As frequências angulares dos modos de vibração são dados por s π ωn = kn v = n L T ρS (36) e, em termos da frequência, f= ω 2π (37) 6 FIG. 2: Corda vibrante. tem-se s 1 fn = n 2L d) Da expressão anterior, vê-se facilmente que T . ρS (38) √ T → 2T ⇒ ωn → 2ωn R → 2R ⇒ ωn → ω2n L → 2L ⇒ ωn → ω2n (39) L = 1m, R = 0.25mm, ρ = 5 × 10−3 g/mm3 , T = 10N (40) S = π × R2 = 0.196mm2 , (41) λ = ρS = 5 × 10−3 × 0.196 = 0.98 × 10−3 g/mm ' 1.0g/m (42) e) Aplicando agora os valores: A secção da corda será então: pelo que a densidade linear de massa é para a velocidade de propagaçãao tem-se então r r T 10 v= = = 1.01 × 102 m/s λ 0.98 × 10−3 para cada um dos modos de frequência tem-se v v v fn = = =n λn 2L/n 2L (43) (44) assim tem-se para a frequência fundamental f1 = 1 × 1.01 × 102 = 50Hz 2×1 (45) fn = nf1 . (46) e, portanto, para os outros modos