Análise dos Negócios N anicos a partir da Pesquis a Economia Informal U rbana – EC INF M arc e lo Ner i Centro de Políticas Sociais do IBRE/FGV e da EPGE /FGV TEXTO PARA DISCUSSÃO N.º 01 Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas Brasília, agosto de 2005 Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas TEXTO PARA DISCUSSÃO O Sebrae, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, trabalha desde 1972 pelo desenvolvimento sustentável das empresas de pequeno porte. Para isso, a entidade promove cursos de capacitação, facilita o acesso a serviços financeiros, estimula a cooperação entre as empresas, organiza eventos de mercado e incentiva o desenvolvimento de atividades que contribuem para a geração de emprego e renda. São centenas de projetos gerenciados pelas Unidades de Negócios do Sebrae, sendo atribuída à Unidade de Gestão Estratégica a função de acompanhar, permanentemente, por meio de estudos, pesquisas e cenários, a dinâmica e a evolução temporal das micro e pequenas empresas. Dados como a geração de emprego, renda, produção, exportação, estrutura da produção industrial, dentre outros, permitem ao Sebrae comparar a evolução das micro e pequenas empresas brasileiras com a das empresas de pequeno porte estrangeiras. O Observatório Sebrae divulga dados estatísticos, estudos e pesquisas sobre micro e pequenas empresas. Acesse ao site no Portal Sebrae: http://www.sebrae.com.br - Aprenda com o Sebrae Estudos e Pesquisas. Presidente do Conselho Deliberativo Nacional Armando Monteiro Neto Diretor -presidente do Sebrae Paulo Okamo tto Diretor de Administração e Finanças do Sebrae César Rech Diretor Técnico do Sebrae Luiz Carlos Barboza Gerente da Unidade de Gestão Estratégica Gustavo Morelli Unidade de Marketing e Comunicação Luiz Eduardo Barreto URL: http://www.sebrae.com.br Uma publicação que tem o objetivo de divulgar resultados de estudos desenvolvidos, direta ou indiretamente, pelo Sebrae e trabalhos que, por relevância, levam informações para profissionais especializados e estabelecem um espaço para sugestões. As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, não exprimindo, necessariamente, o ponto de vista do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. É permitida a reprodução deste t exto e dos dados contidos, desde que citada a fonte. Reproduções para fins comerciais são proibidas. Sumário Pág. I – Introdução..................................................................................................................... 01 II – Diagnóstico.................................................................................................................. 02 II.1 – PNAD........................................................................................................... 03 II.1.1 Zoom da PNAD para ECINF............................................................ 05 II.2 – ECINF........................................................................................................... 06 III – Políticas de Apoio Nano-Empresarial........................................................................ 10 III.1 – Crédito......................................................................................................... 11 III.2 – Acesso a Serviços........................................................................................ 12 III.3 – Formalização................................................................................................ 13 Apêndice............................................................................................................................. 15 1. Descrição das Bases de Dados....................................................................................... 15 a) Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílio – PNAD.................................... 15 b) Pesquisa sobre o Setor Informal Urbano – ECINF............................................ 15 2. Exemplos de Uso dos Microdados................................................................................. 16 Bibliografia......................................................................................................................... 21 I – Introdução O momento é bastante apropriado para realizar estudos sobre o funcionamento dos empreendimentos brasileiros de menor porte: em primeiro lugar, o questionário da Pesquisa Nacional de Amostras a Domicílio (PNAD) passou a incluir questões sobre tamanho das empresas, permitindo trabalhar separadamente com as empresas de menor porte da amostra. Em segundo lugar, e mais importante, apesar de existir uma longa tradição na realização de pesquisas domiciliares no Brasil, só recentemente foram implantadas pesquisas representativas, que visam auferir as diferentes dimensões do funcionamento das pequenas empresas brasileiras. Estas pesquisas permitem correlacionar estas dimensões com diversas características sócio -econômicas dos domicílios. Mais especificamente, foi recém-lançada a pesquisa sobre pequenos negócios informais urbanos, a chamada Economia Inf ormal (ECINF), aplicada pelo IBGE a cerca de 50 mil unidades produtivas sob os auspícios do Sebrae Nacional em 2003. Microempresas é o termo mais popular utilizado para caracterizar os empreendimentos de menor porte, entretanto não há unanimidade sobre a delimitação deste segmento. Observa -se, na prática, uma variedade de critérios para a sua definição tanto por parte da legislação específica, como por parte de instituições financeiras oficiais e órgãos representativos do setor, ora baseando-se no valor do faturamento, ora no número de pessoas ocupadas, ora em ambos. A utilização de conceitos heterogêneos decorre do fato de que a finalidade e os objetivos das instituições que promovem seu enquadramento são distintos (regulamentação, crédito, estudos, etc.). De acordo com a lei nº 9.841/99, as microempresas são classificadas segundo sua receita anual que pode chegar a R$244 mil . O Sebrae já usa a classificação pelo número de empregados, onde as microempresas são as com até 9 empregados. A categoria microempresa além de possuir múltiplas definições, abarca grupos cujo faturamento supera, em muito, ao universo coberto pela ECINF. Por exemplo, a categoria de microempresas dada pelo BNDES inclui negócios cujo faturamento atinge empresas com faturamento até cerca de R$ 940 mil anuais (400 mil dólares) enquanto o faturamento médio dos aqui chamados negócios nanicos foi de apenas R$1.754 mensais em 2003 - cerca de R$ 21 mil anuais, isto é, mais de 40 vezes menor que o valor máximo estipulado pelo BNDES. Denominamos aqui o objeto fundamental da nova pesquisa formado por conta-próprias e os empregadores com até 5 empregados de nano empresas em alusão a nano tecnologia, ou Texto para Discussão N.º 01, ago. 2005 - 1 simplesmente de negócios nanicos. Independentemente de nomenclaturas a ECINF permite dar um mergulho no funcionamento da chamada economia subterrânea que fica tradicionalmente à margem das políticas e das estatísticas oficiais 1 . O trabalho é dividido em duas seções. Na primeira, iniciamos com a análise da evolução temporal da população, da renda e do nível educacional dos conta-própria e empregadores nos anos de 1993, 1997 e 2003 usando a PNAD. Posteriormente, fazemos um zoom com a PNAD no universo da ECINF, restringindo a áreas de cobertura física e o tamanho das empresas de forma, a entender os impactos resultados substantivos da pesquisa, função da escolha metodológica incorrida. Em seguida analisamos características das empresas deste segmento utilizando a ECINF de 1997 e de 2003. Na segunda seção tratamos das políticas de apoio a este segmento: analisamos o acesso ao mercado de crédito e as diferentes formas de financiamento disponíveis; o acesso a serviços não financeiros aos microempresários. E finalizando, empreendemos uma análise sobre os fatores que facilitam e dificultam a regularização das empresas informais bem como de cooperativação. Apresentamos ao fim do trabalho dois anexos descrevendo as bases de dados e exemplificando o potencial de aplicações empíricas a partir da ECINF a partir dos microdados da pesquisa. II – Diagnóstico Se quisermos entender minimamente o problema da informalidade e da baixa produtividade das menores empresas brasileiras, a sua diversidade deve ser endereçada. Nesse sentido, a agregação do heterogêneo grupo de trabalhadores por conta própria, lado a lado, com os empregados sem-carteira e os sem-pagamento, comumente implementada na literatura de mercado de trabalho, talvez esconda mais do que revele. Os conta-própria são aqueles que simultaneamente não têm nem patrão, nem empregados, de acordo com a definição usual dada pelas pesquisas domiciliares do IBGE. De acordo com a natureza das relações trabalhistas, os conta-própria seriam os "primos pobres” dos empregadores, enquanto os empregados sem carteira e os sem-pagamento seriam os "primos pobres" dos empregados com carteira. Os laços que unem os trabalhadores autônomos, os empregados sem carteira e os não-remunerados não seria parentesco das relações trabalhistas mas a pobreza. 1 Não são consideradas pessoas ligadas a atividades criminosas, circunscrevendo a análise ao espectro de práticas econômicas “socialmente aceitas”,. Texto para Discussão N.º 01, ago. 2005 - 2 Nesta seção faremos uma descrição do perfil dos trabalhadores conta-própria e empregador es brasileiros, segundo as Pesquisas Nacionais de Domicilio (PNAD) 1993, 1997 e 2003 e a ECINF 1997 e 2003. II.1 – PNAD Dada a natureza da PNAD, tratamos aqui mais do lado pessoa física e menos o lado pessoa jurídica dos microempresários, aqui entendido como as pessoas que trabalham por contaprópria, ou como empregador. Cabe ressaltar que a principal distinção entre estes se refere ao número de empregados: os conta própria seriam atividades análogas a dos empregadores, porém sem empregados. No intervalo de 10 anos (1993-2003), observamos uma expansão de 40% da população ocupada como empregador e 23% dos conta-própria. Decompondo esse intervalo em dois períodos, 1993-1997 e 1997-2003, o aumento de empregadores foi de 18% nos dois períodos e 10% e 12% para os conta -própria. Brasil: Perfil do Trabalhador Empregador 1993 1997 2003 Fonte: PNAD - IBGE 2,238,798 2,640,951 3,126,971 Conta Propria 13,449,873 14,758,197 16,579,662 Elaboração : CPS/IBRE/FGV % em Relação à População Ocupada 1993 1997 2003 Fonte: PNAD - IBGE Empregador Conta Propria 3.7 4.1 4.2 22.0 22.8 22.1 Elaboração : CPS/IBRE/FGV Texto para Discussão N.º 01, ago. 2005 - 3 O perfil educacional dos empregadores apresentou uma melhora substancial, os anos completos de estudo dos empregadores passaram de 9,0 em 1993 para 9,7 em 2003. Entre os trabalhadores por conta-própria estas estatísticas corresponde m a 4,9 e 6,0 respectivamente. A educação está relacionada à cidadania como a capacidade de geração de renda dos microempresários, sendo uma variável fundamental na análise. Brasil: Anos de estudo Conta Propria Empregador 1993 1997 2003 Fonte: PNAD - IBGE 9.0 9.9 9.7 4.9 5.6 6.0 Elaboração : CPS/IBRE/FGV A renda do empregador em 1997 era 3,9 vezes a renda média dos ocupados. Em 2003 correspondia a 3,2. Ou seja, a renda relativa dos empregadores brasileiros apresentou uma queda de 18%, enquanto que o rendimento relativo dos conta-própria brasileiros caiu de 1.0 para 0,8 (20%). O conjunto dos conta-própria é muito heterogêneo na medida em que abrange desde dentistas e advogados até ambulantes. Constituindo um retrato representativo da diversidade encontrada no mercado de trabalho brasileiro. Brasil: Renda em relação aos ocupados 1993 1997 2003 Fonte: PNAD - IBGE Empregador Conta Propria 3.8 3.9 3.2 1.0 1.0 0.8 Elaboração : CPS/IBRE/FGV Após apresentar as características gerais dos conta-própria brasileiros e para todos os tamanhos de empresa, seria interessante direcionar nossa análise para os pequenos negócios, que possuem até 5 empregados e encontram-se na área urbana, a partir dos dados da PNAD. Isto é, a PNAD nos permite fazer um zoom do universo mais geral para aquele coberto pela ECINF. Texto para Discussão N.º 01, ago. 2005 - 4 II.1.1 - Zoom da PNAD para ECINF Fazendo um zoom a partir dos dados da PNAD, que abrange praticamente todo o território nacional, exclusive a área rural da Região Norte para chegar ao universo urbano de cobertura da ECINF, verifica-se que apenas 2,9% dos empregadores encontram-se na área rural. Esse percentual é mais expressivo quando analisamos os conta-própria (21,7%). Isso significa que a ECINF ao realizar a pesquisa apenas na área urbana acaba por excluir uma parcela significativa da população de conta-própria. E a ECINF por também se restringir aos empregadores com até 5 empregados, exclui de sua pesquisa cerca de 26% dos empregadores (mais de 6 empregados) segundo os dados da PNAD. Perfil do Trabalhador - 2003 EMPREGADOR TOTAL OCUPADOS Rural Urbana Metropolitana ATÉ 5 6 A 10 11 OU MAIS CONTA PRÓPRIA 17.2% 2.9% 1.8% 2.9% 21.7% 52.8% 65.6% 62.5% 58.7% 50.8% 29.9% 31.5% 35.7% 38.4% 27.5% Fonte: CPS/FGV Processando os Microdados da PNAD/IBGE Analisando a educação dos empregadores e conta-própr ia, percebe-se uma diferença significativa quando levamos em conta em qual área se situa, como por exemplo, a educação média dos trabalhadores conta-própria chega a ser duas vezes maior na área urbana comparada a área rural, e essa diferença é ainda maior quando comparado à área metropolitana. Zoom - Educação Média - 2003 EMPREGADOR TOTAL OCUPADOS Total Rural Urbana Metropolitana ATÉ 5 6 A 10 11 OU MAIS CONTA PRÓPRIA 7,31 3,98 9,76 7,64 10,84 5,65 11,94 10,34 5,96 3,15 7,53 8,86 9,56 10,37 10,54 11,61 11,69 12,46 6,25 7,66 Fonte: CPS/FGV Processando os Microdados da PNAD/IBGE Texto para Discussão N.º 01, ago. 2005 - 5 O mesmo ocorre para a variável renda média, ou seja, a renda média tanto dos contaprópria quanto dos empregadores é maior nas áreas urbanas, porém essa diferença é maior entre os trabalhadores conta-própria, onde essa diferença chega a ser de 70%, e para os empregadores com menos de 5 empregados, cerca de 20%. Zoom - Renda Média - 2003 EMPREGADOR TOTAL OCUPADOS ATÉ 5 6 A 10 11 OU MAIS CONTA PRÓPRIA Total 669,19 1701,50 2677,68 4298,70 559,31 Rural Urbana Metropolitana 348,20 1303,62 1583,69 4323,09 326,28 628,75 865,93 1608,13 1947,12 2642,66 2799,77 3735,58 5196,29 546,08 768,53 Fonte: CPS/FGV Processando os Microdados da PNAD/IBGE Não só pela heterogeneidade apresentada entre os setores rurais e urbanos, como pela característica do negócio e da própria exigência do trabalho de campo, faz sentido restringir a ECINF aos segmentos dos menores produtores urbanos e deixar a análise do seu complemento para outras pesquisas de campo, como o Censo Agrícola do IBGE. II.2 – ECINF Dados da ECINF confirmam que a grande maioria dos empresários informais é representada pelos conta-própria, tanto em 1997 (86%), quanto em 2003 (88%). A ligeira queda da participação dos empregadores no período demonstra redução da escala dos pequenos negócios. Indo aos motivos pesquisados que levaram a iniciar um negócio informal, destacamos a falta de oportunidade de emprego como a principal causa nos dois anos da análise (25% em 1997 e 31% em 2003). O segundo principal motivo em 1997 era independência (que cai de 20,1% para 16,5% em 2003), enquanto que em 2003 foi complementação da renda familiar (que se mantém em torno de 17,5%), reforçando a idéia de perda de dinamismo empresarial no segmento. Texto para Discussão N.º 01, ago. 2005 - 6 Motivo que levou a iniciar negócio informal Total Não encontrou emprego Complementação da renda familiar Independência Experiência na área Tradição familiar Negócio promissor Outro motivo Era um trabalho secundário Horário flexível Oportunidade de fazer sociedade Fonte: ECINF/IBGE - SEBRAE 2003 31.1% 17.6% 16.5% 8.4% 8.1% 7.4% 5.8% 2.1% 1.9% 1.0% 1997 25.0% 17.7% 20.1% 8.6% 8.5% 8.3% 5.1% 2.0% 2.1% 2.4% É importante destacar nas fotografias do segmento nano-empresarial realizadas pela ECINF o auge do setor no ano de 1997 com o fundo do poço no ano de 2003, onde o setor de serviços liderava as perdas. Se dispuséssemos de fotografias de 2005 elas seriam mais comparáveis em termos de estágio do ciclo econômico, dado o processo de recuperação da economia recente. Os primeiros anos do Plano Real foram especialmente bons para o mercado informal; de todos os trabalhadores brasileiros, os que mais ganharam foram os produtores de não- transacionáveis, como prestadores de serviços, que não perderam com a abertura econômica e valorização do câmbio como o setor industrial. Setores como comércio e serviços foram beneficiados pelo boom do Plano Real, enquanto que a indústria não conseguiu internalizar toda a conjuntura favorável ocorrida no período. Texto para Discussão N.º 01, ago. 2005 - 7 A receita média das nano empresas caiu cerca de 20% entre os anos de 1997 e 2003 (de R$2.183 para R$1.754, mensais a valores constantes de 2003), enquanto que o lucro caiu apenas 7%. A manutenção dos lucros gerados se deu em função do enxugamento dos custos e não pelo aumento do faturamento. No começo dos anos 90 observamos um processo de reengenharia das grandes empresas brasileiras, que passaram a ter uma maior controle dos seus custos através de terceirização de atividades. Os pequenos negócios parecem ter passado por uma “revolução silenciosa” de reengenharia no período 1997 a 2003. Resultados Financeiros Receita mensal média Despesa mensal média Lucro médio Investimento 1997 2003 2183 1666 977 5853 1754 1326 911 4373 Fonte: ECINF/IBGE-SEBRAE De fato, a proporção de empresas que não apresentaram dificuldades cai de 18,77% para 7,75% no período entre as duas pesquisas. Outros fatores que apontam para a precarização dos negócios são dificuldades de caráter mais geral como a baixa lucratividade que sobe de 7,1% para 16,6%. Principais dificuldades enfrentadas 1997 2003 33.57 18.83 18.77 12.39 7.14 5.49 1.81 0.98 0.72 0.28 23.40 21.41 7.75 12.58 16.56 5.81 4.13 6.53 0.86 0.97 Total Falta de clientes Concorrência muito grande Não teve dificuldade Falta de capital próprio Baixo lucro Outras dificuldades Falta de instalações adequadas Falta de crédito Problemas com fiscalização Falta de mão-de-obra qualificada Fonte: ECINF/IBGE - SEBRAE A principal dificuldade para desenvolver algum negócio nos dois anos da análise foi a falta de clientes, sendo que em menor proporção em 2003 (cai de 33,6% para 23,4%). Por outro Texto para Discussão N.º 01, ago. 2005 - 8 lado, a concorrência muito grande (de 18,8% para 21,4%) passa a ter mais destaque entre as dificuldades principais dos pequenos empresários. A falta de crédito se apresenta como uma percepção de menor magnitude (6,5% em 2003) embora tenha aumentado (0,98% em 1997). Este dado estaria em desacordo com a ênfase atribuída nas discussões de política ao microcrédito. Por outro lado, a manutenção da falta de capital próprio como principais dificuldades elencadas - em torno de 12,5% - levam à percepção de que existe um problema de financiamento que cuja a solução percebida não passa pelo oferta de novas linhas de crédito dadas altas taxas de juros vigentes. A segunda dificuldade do ponto de vista das empresas seria problemas de infra-estrutura e instalação física que sobe de 1,81% para 4,13% no período. Outros elementos de oferta, como baixa qualificação de mão de obra e problemas com a fiscalização, permanecem em patamares baixos com menos de 1% das múltiplas menções. Os dados relativos as principais dificuldades apresentadas pelos pequenos negócios tomados a valor de face indicam a necessidade de implementação de políticas de demanda direcionadas a estes segmentos. Esta política talvez diga menos respeito ao aumento do poder de compra da população de baixa renda - que são os principais consumidores dessas empresas – que é uma variável de difícil controle pelos gestores de política e mais uma política de compras públicas destinada a este segmento como aquela realizada no estado do Ceará, onde as prefeituras compram carteiras escolares de cooperativas de artesãos locais, assim estimulando o aumento da demanda local às pequenas empresas. A longevidade dos empresários informais é um dado interessante da pesquisa na medida em que evidencia que a maior parte deles é proprietário há mais de 5 anos, 56% em 2003 e 50% em 1997. Os negócios informais apresentam uma alta mortalidade, porém como demonstrado nos dados para os empresários isso não ocorre, isto é, os empresários informais se caracterizam por ter “várias vidas” e estar sempre passando de negócio para negócio. Texto para Discussão N.º 01, ago. 2005 - 9 III – Políticas de Apoio Nano-Empresarial O objetivo final desta nota é subsidiar a aplicação de políticas de incremento das atividades nano-empresariais urbanas brasileiras. Em particular, enfatizamos a análise dos recursos e atitudes de pequenos empresários. Empreendemos um estudo de caso dos microempresários do Brasil. Mais forte do que a escassez de recursos privados seja capital físico, humano ou social, é a escassez de serviços financeiros e políticas públicas. Neste sentido o universo aqui analisado constitui num laboratório privilegiado acerca dos constrangimentos e carências que devem ser combatidos através da ação de um banco público e de suas possíveis interações com ações privadas. Na escolha de um elenco de políticas incentivadoras das atividades empresariais, seja como políticas de aliviamento de pobreza, seja como políticas fomentadoras das atividades empresariais em geral, devemos avaliar a efetividade da restrição de escassez dos diversos tipos de recursos enfrentada pelos microempresários. Aqui estamos mais especificamente interessados na aplicação de políticas de assistência, formalização e crédito produtivo popular. Esta análise pode se beneficiar de informações sistemáticas quanto à estrutura de ativos e passivos da mesma, a saber: • Capital Financeiro (portfolio de ativos e passivos financeiros). • Capital Humano (escolaridade formal, cursos técnicos e experiência profissional do dono do negócio). • Capital Físico Permanente (máquinas, estoques, ferramentas, local de trabalho e etc.) • Capital de Giro (matéria -prima, estoque de produtos acabados, vendas e compras a prazo e etc.) • Capital Público (infra-estrutura, comunicação, transporte e serviços públicos). • Capital Social (relação familiar entre dono e empregados/sócios, grau de cooperativação e outras formas de associativismo) • Trabalho (nível de capital humano formal e experiência profissional dos empregados) No caso de políticas nano-empresariais é fundamental identificar não só o potencial gerador de lucro do conjunto de ativos como também a pobreza, o risco e a capacidade de arrecadação associada. Outro elemento fundamental para a determinação do potencial de Texto para Discussão N.º 01, ago. 2005 - 10 crescimento das unidades é diferenciar a alocação de recursos para consumo e para investimento no interior das pequenas firmas/unidades familiares. Pois existe uma ligação estreita entre o lado pessoa física dos nano empresários com o lado pessoa jurídica, mesmo que informal, dos seus respectivos negócios. A sobreposição destas duas facetas implica que o entendimento da estrutura e funcionamento destas empresas deve levar em conta as características do(s) seu(s) dono(s) e de sua(s) família(s). III.1 – Crédito O mercado de crédito brasileiro visa mais ao consumidor do que ao produtor. É mais de curto do que de longo prazo e atinge mais a alta do que a baixa renda. A escassa oferta de microcrédito existente é de natureza pública, e não privada, gerando potenciais ineficiências alocativas. Estes vieses podem ser sintetizados no que VEGA-GONZALEZ, professor da Universidade de Ohio e especialista em microcrédito, chamou numa palestra realizada em 1997 na sede do BNDES de “mistério brasileño”: por que o crédito produtivo popular privado pouco se desenvolveu nesse país? De lá para cá houve a implementação de diversas políticas de microcrédito, entretanto o percentual de empresas que estavam endividadas se manteve constante ao compararmos os anos de 1997 e 2003 (17,1%). Ou seja, o “mistério brasileño” continuaria atual. A partir desses dados de endividamento e de acesso a crédito não é possível afirmar que o fato das empresas informais continuarem a recorrer pouco a empréstimos ocorre por falta de acesso a crédito ou porque os juros altos inibiram a demanda. As empresas podem estar evitando o financiamento numa conjuntura imprópria por conveniência, ou instinto de sobrevivência. Utilização de crédito nos últimos 3 meses Total Utilizou crédito Não utilizou crédito conta-própria empregador 6.1% 93.9% 5.1% 94.9% 13.2% 86.7% Fonte: ECINF/IBGE - SEBRAE Saindo da análise de estoques de dívida para fluxos de crédito. Em 1997, apenas 5% dos negócios obtiveram crédito ou financiamento nos três meses anteriores, enquanto que em 2003, 6,1%. Estes recursos foram, em grande parte, obtidos através de amigos e parentes (32,64%) e em Texto para Discussão N.º 01, ago. 2005 - 11 bancos públicos ou privados (43,42%), representando conjuntamente 77% dos créditos em 1997. Já em 2003, o crédito por meio de bancos foi mais expressivo (58%) e por amigos e parentes menos significativa (15.8%) comparado ao ano anterior da análise. Em suma, observamos um ligeiro incremento no fluxo de crédito e um aumento da composição destes fluxos pelas vias do setor financeiro. Origem dos recursos Utilização de crédito nos últimos 3 meses 2003 Bancos público ou privado 58.1% Com amigos e parentes 15.8% Com o próprio fornecedor 15.8% Com outras empresas ou pessoas 7.9% Outra origem 1.6% 1997 43.4% 32.6% 11.4% 9.5% 3.0% Fonte: ECINF /IBGE III.2 – Acesso a serviços Apenas 3,6% das empresas do setor informal receberam algum tipo de assistência técnica, jurídica ou financeira e a maior parte provém de outras instituições e não do governo. A situação é precária, mas melhorou quando comparada a de 1997, onde o acesso à assistência técnica, jurídica e ou financeira era de 2,3%. Apesar do uso de assistência técnica, jurídica ou financeira ainda apresentar uma base muito baixa, o acesso à assistência apresentou um aumento de mais de 50%. Recebimento de assistência técnica, jurídica ou financeira nos últimos 5 anos 2003 1997 Recebeu asssistência 3.6% 2.3% De órgãos do governo 0.7% 0.8% De outras instituições 2.9% 1.6% Não recebeu assistência 96.3% 97.7% Fonte: ECINF /IBGE Texto para Discussão N.º 01, ago. 2005 - 12 Analisando a assistência recebida, do total das empresas informais, observa-se que a assistência jurídica é a que apresenta menor percentual, enquanto que a capacitação em gestão é a com maior percentual, porém em todos os tipos o número de empresas assistidas é muito baixo. Tipos de assistência recebida (% no total das empresas informais) - 2003 Capacitação em gestão Assistência técnica Assistência jurídica Assistência contábil Apoio à comercialização 5,8% 2,1% 0,8% 1,4% 2,8% Fonte: ECINF III.3 – Formalização A informalidade está associada a encargos fiscais crescentes imprimidos pelos vários níveis de governo, sem que correspondentes benefícios sociais sejam percebidos coletiva ou individualmente. O estado brasileiro apresenta uma carga tributária tendendo a da Inglaterra e uma qualidade de serviços público prestados similar a de Gana: Ingana seria um apelido apropriado para o estado brasileiro, segundo Rosane Bezerra uma das nossas maiores especialistas no assunto. Outros, olhando o papel redistributivo do estado brasileiro, o apelidariam de Robin Hood às avessas, ou Hood Robin que tiraria da pobre classe média para gastar com as elites. De acordo com os dados da ECINF para 1997 as empresas informais que possuíam: licença municipal ou estadual 22,7%, constituição jurídica 11,5% e filiação a sindicato ou órgão de classe 10,7% e em 2003, conforme pode ser observado na tabela seguinte, esses dados não passaram por grande mudança, tendo um pequeno aumento, apenas na posse de licença municipal, ou estadual. Texto para Discussão N.º 01, ago. 2005 - 13 Indicadores de Formalização Licença Municipal ou Estadual Possui Não possui Tem constituição jurídica Possui Não possui Filiação a sindicato ou órgão de classe Filiado Não-filiado Fonte: ECINF/IBGE-SEBRAE 2003 1997 22.65 74.28 25.05 74.95 11.53 88.38 13.22 86.78 10.67 89.30 10.79 88.27 Os dados da ECINF demonstram que entre os principais problemas apresentados pelos nano empresários foi a falta de clientes. E a partir disto, frisamos a relevância de políticas de demanda, não adiantando somente implantar políticas de oferta como microcrédito, assistência técnica e treinamento, se não há mercado para absorver os produtos e serviços ofertados neste segmento. A expansão de políticas de apoio ao segmento das nano empresas representa um grande desafio para uma instituição como o Sebrae. Há que se fazer uma opção sobre a forma de realizar este apoio no varejo o que implicaria em aumentar substancialmente a capilaridade da rede de oferta de serviços da instituição. Outra idéia que parece mais factível é adotar medidas de provisão de infra-estrutura que facilitem a aplicação de políticas públicas e a oferta de serviços privados ao segmento. Neste caso o Sebrae atacaria na escala do problema ao nível nacional. Por exemplo, o desenho e proposição da lei das microempresas, aconselhamento de medidas de ampliação do crédito produtivo popular ou o desenho e financiamento de esquemas de provisão de informação como no caso da ECINF. Texto para Discussão N.º 01, ago. 2005 - 14 Apêndice 1. Descrição das Bases de Dados Além da principal base de dados desta nota a pesquisa ECINF, propomos utilizar a PNAD, como ponto de comparação temporal, espacial e setorial algo mais amplo. Apresentamos abaixo uma breve descrição da PNAD abaixo e uma descrição mais detalhada sobre a Metodologia da ENCIF, utilizadas neste trabalho: a) Pesquisas Nacional de Amostras de Domicílios – PNAD Esta é uma pesquisa domiciliar anual realizada no terceiro trimestre que entrevista mais de 100.000 domicílios todo ano. Ela é conduzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE desde 1967. Esta base de dados possui extensa informação das características pessoal e ocupacional dos indivíduos. A PNAD possui informações detalhadas sobre a posse de bens duráveis, e condições de moradia desde que ela foi iniciada. A PNAD passou por uma grande revisão entre 1990 e 1992 aumentando o tamanho do questionário de 60 para 130 perguntas. O novo questionário que é utilizado desde 1992 possui informações sobre o tamanho das empresas e a natureza de empregos anteriores o que nos permite analisar em detalhe a natureza dos atributos sócio-demográficos dos indivíduos envolvidos em atividades micro-empresariais seja como dono ou sócio seja como empregado. b) Pesquisa sobre o setor informal urbano (ECINF) A ECINF visa captar o papel e a dimensão do setor informal. O primeiro piloto da pesquisa teve como referência o município do Rio de Janeiro no mês de outubro de 1994. Uma nova pesquisa do Setor Informal foi a campo durante o ano de 1997, agora cobrindo o conjunto das áreas urbanas brasileiras. E a pesquisa foi novamente a campo em 2003, com parceria do Sebrae, passando a incluir informações mais detalhadas sobre as características individuais dos proprietários. Procura-se identificar os proprietários de negócios informais: trabalhadores por conta própria e empregadores com até 5 empregados em pelo menos uma situação de trabalho, Texto para Discussão N.º 01, ago. 2005 - 15 moradores de áreas urbanas, e através deles investigar as características de funcionamento das unidades produtivas. Como conseqüência desta definição operacional, uma primeira limitação da pesquisa resulta de seu recorte urbano. Assim sendo, ela deixa de cobrir as atividades não-agrícolas desenvolvidas por moradores de domicílios rurais - de que servem de exemplo a pequena indústria alimentar, artesanato, confecção e serviços - e que, em virtude de seu próprio modo de organização e do cálculo econômico que as rege, deveriam, a rigor, estar incluídas no espectro de economia informal. A pesquisa é feita em duas etapas. Na primeira é feito um cadastro exaustivo dos domicílios situados nos setores se lecionados para a amostra em que residam proprietários de unidades produtivas informais. Na segunda fase, as entrevistas são realizadas nos domicílios. Procura-se combinar, no corpo do questionário, perguntas referentes não apenas ao indivíduo, mas também à firma ou ao negócio que opera, reconhecendo a existência, na prática, de empresas individuais e familiares e rompendo, com isso, a rigidez, por que artificial, de barreiras entre pesquisas domiciliares e pesquisas de estabelecimentos. As dimensões de pessoa jurídica da pesquisa incluem elementos como receitas, perfil da clientela, estrutura de custos, lucratividade, decisões de investimento, inventário de ativos, acesso ao crédito (incluindo linhas oficiais), forma de utilização do crédito, assistência técnica recebida, cumprimento da legislação, sazonalidades operacionais, duração do negócio e etc. 2. Exemplos de Uso dos Microdados Exemplificamos aqui o potencial dos microdados da ECINF para o diagnóstico dos determinantes do desempenho dos negócios nanicos. Relatamos inicialmente os resultados de equações de salário popularizadas por Mincer nos anos 70. A diferença é que explicamos o lucro das atividades empresariais nanicas ao invés dos salários de empregados, além de usarmos dados dos negócios como variáveis explicativas. A equação de lucro aqui descrita consegue explicar 51% da variância de renda observada entre os 45.642 conta-próprias e empregadores até cinco empregados entrevistados pelo IBGE nas áreas urbanas brasileiras em 1997 (os microdados de 2003 ainda não estão disponíveis). O lucro médio foi de 741 reais, resultantes da diferença entre um faturamento de 2.268 reais e um custo de 1.527 reais. Texto para Discussão N.º 01, ago. 2005 - 16 A tabela apresenta este exercício com os coeficientes estimados, as respectivas estatísticas t das estimativas, o diferencial de lucros sem controle e a respectiva participação de cada atributo analisado na população de nano-empresários em questão. O coeficiente (primeira coluna) de cada variável da regressão de lucro estimada corresponde à sua respectiva taxa de retorno controlando pelos demais atributos considerados, daí a sua utilidade. Exemplificando: o lucro das atividades que possuem dívidas financeiras é 8.2% maior do que aqueles que não têm (terceira coluna). Agora a comparação que nos interessa par ticularmente aqui é aquela que mantém as demais características consideradas exatamente iguais (como escolaridade, acesso a assistência técnica etc.). Quando usamos este procedimento, o diferencial de lucros entre os que utilizaram crédito em relação aos demais cai para 1.9%. Este exercício controlado pode ajudar na escolha do mix de políticas públicas (microcrédito, cooperativação etc) a ser aplicado. Em primeiro lugar, a taxa de retorno controlada (entre parênteses) de variáveis sociodemográficas, como sexo masculino (34%) e raça branca (25%), indica algum viés contrário às minorias. Já variáveis relacionadas à acumulação de capital humano, como idade e tempo de negócio, apresentam rendimentos decrescentes, enquanto educação apresenta rendimentos crescentes. Isto é, a taxa de retorno da educação sobe à medida que se acumula mais anos de estudo. Se analisarmos a variável no ponto inicial o lucro sobe para o primeiro ano de escolaridade, idade e tempo de negócio 3.9 %, 4.2% e 0.17%, respectivamente. Variáve is associadas à extensão horária semanal da jornada de trabalho (0.74%) e a acumulação simultânea de outro trabalho (-14%) apontam a relevância da intensidade de esforço microempresarial e na concentração deste esforço no negócio em questão. O retorno dos empregadores é 32% superior aos dos conta-própria. A taxa de retorno para cada empregado adicional é de 7.8% para os empregados não-familiares e 5.2% para os familiares. Quer dizer, apesar de os empregados familiares serem mais baratos o retorno final destes é em média inferior ao dos não-familiares. As políticas de crédito produtivo popular têm ganhado destaque entre as iniciativas de apoio microempresarial no Brasil. Deve-se ressaltar que uma relação maior entre os montantes de dívida e de lucro guarda um relação negativa com o próprio auferido. Afiliação à cooperativa (21%), a presença de sócios (20%), recebimento de assistência técnica (18%) e a execução do controle das contas do negócio (40%) também explicam diferenças de lucratividade observadas. Texto para Discussão N.º 01, ago. 2005 - 17 Diversas variáveis relacionadas ao local de funcionamento das pequenas empresas indicam a conveniência da separação entre moradia e local de trabalho. Enquanto um prévio insucesso profissional, captado pela variável “foi demitido do último emprego” (-1.2%), atua contra o êxito microempresarial, outra variável relacionada à trajetória pregressa do pequeno empresário ligada à naturalidade do conta-própria aponta que os nativos apresentam um desempenho inferior (-6.2%) quando comparados aos imigrantes. Eurist icamente, a imigração pode ser considerada como um empreendimento familiar bem-sucedido. Em termos espaciais o desempenho das atividades em áreas metropolitanas apresenta correlação positiva com o lucro vis-à-vis as demais regiões urbanas. Texto para Discussão N.º 01, ago. 2005 - 18 EQUAÇÃO DE LOG DE LUCRO UNIVERSO: CONTA-PRÓPRIA E EMPREGADOR - BRASIL LUCRO MÉDIO = R$ 741.24 Dif. Lucro Estimador Estatística t Univariado Sexo - Homem 0,3439 26,9718 Raça - Brancos ou Amarelos 0,2461 25,4467 Posição na Família - Chefe 0,1132 9,4912 Idade - Anos de Idade 0,0416 19,0963 Idade ao Quadrado - Anos de Idade ao Quadrado -0,0005 -19,8083 Educação - Anos de Estudo Completos 0,0387 10,4595 Educação ao Quadrado - Anos de Estudo Completos ao Quadrado0,0018 7,9106 Tempo no Negócio (em anos) 0,0017 15,3914 Tempo no Negócio ao Quadrado 0,0000 -10,6249 Jornada de Trabalho 0,0074 30,4469 Tem Outro Trabalho -0,1397 -8,7556 Empregador 0,3175 17,1966 Empregados Não Familiares 0,0775 12,1063 Empregados Familiares 0,0520 7,5173 Tem Sócio 0,2008 5,4382 Nº de Sócios 0,0675 4,4111 Cooperativado, Associado ou Sindicalizado 0,2066 14,0838 Recebeu nos Últimos 5 Anos Algum Tipo de Assistência 0,1838 7,1890 Realiza o Controle das Contas do Negócio 0,4033 37,4109 Sua empresa tem constituição jurídica 0,2401 5,7110 Tem Registro de Pequenas Empresas -0,1026 -4,1766 Possui CGC -0,1622 -4,2984 Declarou Imposto de Renda 0,2401 9,1649 Vende a Prazo ou a Vista e a Prazo 0,0934 9,9776 Tem Clientela Fixa 0,0247 1,7566 Possui Dívida Pendente 0,0191 1,4263 Razão Dívida/Lucro -0,0036 -15,5818 Utiliza equipamentos 0,0641 4,5415 Tipos de equipamentos - Imóveis, Barracas ou Trailler 0,0307 1,8556 Tipo de Equipamento - Ferramentas ou Utensílio de Trabalho -0,0933 -7,9565 Tipo de Equipamento - Máquinas 0,0472 3,5819 Tipo de equipamento - Móveis e Equipamentos -0,0136 -1,0436 Tipo de Equipamento - Veículos 0,4036 24,1990 Setor de Atividade - Indústria 0,0929 5,5442 Setor de Atividade - Construção Civil 0,2502 14,3393 Setor de Atividade - Serviços -0,0081 -0,6498 Desenvolve Atividade Fora do Domicílio 0,3666 22,9262 Negócio Desenvolvido em Loja, Oficina, Escritório, etc 0,1251 8,0366 No Domicílio tem Local Exclusivo 0,3005 17,3487 Foi Demitido do Último Emprego -0,0115 -0,7023 Nasceu Neste Município -0,0622 -6,7181 Região Metropolitana 0,1971 20,5914 Intercepto 2,7207 56,6345 Número de observações = 45642 Graus de Liberdade = 45598 R2 : 0.5074 R2 Ajust. : 0.5069 % na População ** 0,138 0,6699 ** 0,270 0,6096 ** 0,126 ** ** - 39,7 # - ** - 6,6 # ** - ** - 7,8 # ** ** - 43,5 # ** 0,226 0,0911 ** 1,173 0,2517 ** - ** 1,364 ** 0,6686 - 0,6 # 0,4 # 0,1032 ** - ** 1,411 0,1532 ** 1,336 0,0363 ** ** 0,419 1,117 0,5881 0,2111 ** 0,768 0,1620 ** 1,093 0,1934 ** 1,332 0,1697 ** 0,174 0,253 0,5750 0,1173 0,082 0,1420 * 0,4 # ** - ** 0,097 0,8310 * ** 0,424 -0,231 0,1009 0,2581 ** 0,129 0,1742 0,546 0,2053 ** 0,576 -0,088 0,1014 0,1290 ** -0,384 0,1419 ** ** 0,040 0,183 0,824 0,3573 0,6899 0,3073 ** -0,548 0,0402 -0,211 0,0872 -0,027 0,137 0,4168 0,3642 0,290 0,0091 ** ** ** ** 0,0 # F Value : 1067.37 Prob>F : <.0001 *Intervalo de confiança a 90% **Intervalo de confiança a 95% # Corresponde ao valor médio da variável. Obs: Variáveis Omitidas: Quando for variável binária é o complemento. Exemplo: Sexo aparece homem logo o omitido é mulher. Fonte : ENCIF - IBGE Elaboração : CPS\IBRE\FGV Texto para Discussão N.º 01, ago. 2005 - 19 Descrevemos, a partir da ECINF-97, a concentração de faturamento e de lucro na cauda inferior dos pequenos negócios. A análise dessas variáveis revela que a concentração de faturamento entre os 10% mais altos valores é 60.8% contra 59.4% no caso do lucro dos negócios nanicos. Mesmo quando nos restringimos à parte inferior dos negócios, a desigualdade é gritante, em particular pela total ausência de acesso a crédito da maior parte deste segmento. Curvas de Lorenz - Dívida, Faturamento e Lucro 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49 51 53 55 57 59 61 63 65 67 69 71 73 75 77 79 81 83 85 87 89 91 93 95 97 99 99 96 93 90 87 84 81 78 75 72 69 66 63 60 57 54 51 48 45 42 39 36 33 30 27 24 21 18 15 12 9 6 3 0 população DÍVIDA FATURAMENTO LUCRO Fonte: CPS/FGV processando os microdados do IBGE Em suma, os resultados aqui discutidos apresentam duas conclusões básicas, a saber: em primeiro lugar, seguindo uma interpretação causal, variáveis relacionadas às políticas fomentadoras de capital humano geral ou específico, do cooperativismo, de fornecimento de crédito e de assistência técnica apontariam para um maior nível de sucesso dos conta-própria contemplados por essas iniciativas. É preciso, entretanto, endereçar problemas relacionados à direção de causalidade, o que idealmente implicaria o uso de dados em painel além de levar em conta o custo de oferta desses elementos de políticas. Finalmente, a realização de análises como estas, proporcionadas pela inovadora pesquisa do setor informal implantada com a usual competência do IBGE, agora na edição de 2003 com aconselhamento técnico e apoio do Sebrae Nacional, apresenta um potencial a ser apropriado no desenho e na implantação de políticas de apoio nano empresarial. Texto para Discussão N.º 01, ago. 2005 - 20 Bibliografia BERGER, A. e UNDELL, G. “The Economics of Small Business Finance: The roles of private equity and debt markets in the financial growth cycle ”, Journal of Banking and Finance, v. 22, 1998. COCO, G. “On the Use of Collateral”. Journal of Economic Surveys, 14 (2), 191-214, 2002. FERREIRA, F; LANJOUW, P. e NERI, M. “A Robust Poverty Profile for Brazil Using Multiple Data Sources”, Revista Brasileira de Economia, Vol. 57 nº 1, Rio de Janeiro, JAN/MAR 2003. 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