4 fgv – 02/12/2007 CPV o cursinho que mais aprova na GV 1234 1234 12 1234 12 1234567890 1 23 1234 12 12 1234567890 123 123456789012 123456789012 1234567890 1234567890 1234567890 1234567890 1234567890 1234567890 1234567890 1234567890 1234567890 REDAÇÃO Instrução Leia o fragmento de Gilberto Freyre e redija um texto dissertativo sobre as relações raciais no Brasil, a partir de nossa formação social e de seus reflexos na sociedade brasileira contemporânea. O português do Brasil, ligando as casas grandes às senzalas, os escravos aos senhores, as mucamas aos sinhô-moços, enriqueceu-se de uma variedade de antagonismos que falta ao português da Europa (...) A força, ou antes, a potencialidade da cultura brasileira parece-nos residir toda na riqueza dos antagonismos equilibrados (...) Não que no brasileiro subsistam, como no anglo-americano, duas metades inimigas: a branca e a preta; o ex-senhor e o ex-escravo. De modo nenhum. Somos duas metades confraternizantes que se vêm mutuamente enriquecendo de valores e experiências diversas; quando nos completarmos em um todo, não será com o sacrifício de um elemento do outro. Gilberto Freyre. Casa Grande & Senzala. São Paulo: Global, 2006, p. 417-418. COMENTÁRIO DO CPV A prova de Redação da FGV/ADM 2º semestre de 2007, mantendo o padrão das provas anteriores, solicitou a elaboração de um texto dissertativo a partir de um excerto — neste semestre, um fragmento da obra CasaGrande & Senzala, de Gilberto Freyre. A partir da leitura do texto de Freyre, NO o candidato deveria redigir sobre as relações raciais no Brasil, considerando a formação social do país e seus reflexos na sociedade contemporânea. Como vimos em sala de aula no CPV, havia, no final do século XIX, uma tendência em afirmar que a mistura de raças seria a razão do atraso brasileiro como povo e cultura. Gilberto Freyre, no início do século XX, com o seu Casa-Grande & Senzala (1933), propõe, a partir de uma abordagem antropológica (substituindo o paradigma racial pelo cultural), uma releitura da mestiçagem, após exaustiva pesquisa em arquivos nacionais e estrangeiros. Freyre foi buscar nos diários dos senhores de engenho e na vida pessoal de seus próprios antepassados a história do homem brasileiro. Sua intenção era provar que a miscigenação corrigiu a distância social que, de outro modo, teria se conservado enorme. Em Casa-Grande & Senzala, o escritor exprime claramente o seu pensamento. Ele diz: “o que houve no Brasil foi a degradação das raças atrasadas pelo domínio da adiantada”. Evidencia que os índios foram submetidos ao cativeiro e à prostituição. A relação entre brancos e mulheres de cor foi a de vencedores e vencidos. Segundo ele, num processo de equilíbrio de antagonismos, o branco e o negro se misturavam no interior da casa-grande e alteravam as relações sociais e culturais, criando um novo modo de vida no século XVI. As relações de poder, a vida doméstica e sexual, os negócios e a religiosidade forjavam, no dia-a-dia, a base da sociedade brasileira. A casa-grande abrigava uma rotina comandada pelo senhor de engenho, cuja estabilidade patriarcal estava apoiada no açúcar e no escravo. O suor do negro ajudava a dar aos alicerces da casa-grande sua consistência quase de fortaleza. Assim, o país se formava. E a unidade dessa grande extensão territorial com profundas diferenças regionais, garantida muitas vezes com o uso da força, aconteceu, segundo Freyre, devido à uniformidade da língua e da religião. A Igreja desenvolvia planos ambiciosos de evangelização da América Latina, toda ocupada por países de tradição católica. Nessa quase cruzada no Novo Mundo, os padres jesuítas desempenhavam um papel importante na tentativa de implantar uma sociedade estruturada com base na fé católica. Para catequizar os índios, os jesuítas decidiram vesti-los e tirá-los de seu habitat. Já o senhor de engenho tentava escravizá-los. Nos dois casos, o resultado era o extermínio e a fuga dos primitivos habitantes da terra para o interior. Ademais, o Brasil importava da África não somente o animal de tração que fecundou os canaviais, mas também técnicos para as minas, donas de casa para os colonos, criadores de gado e comerciantes de panos e sabão. Os negros vindos das áreas de cultura africana mais adiantada eram um elemento ativo, criador e, pode-se dizer, nobre na colonização do Brasil, degradados apenas pela condição de escravos. O negro escravo e a cana-de-açúcar fundamentavam a colonização aristocrática e a estrutura básica do mundo dos coronéis se repetiria nos ciclos do ouro e do café, em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, com o mesmo fundamento: a ocupação da terra. Na sociedade escravocrata e latifundiária que se formava, os valores culturais e sociais se misturavam à revelia de brancos e negros. Sua convivência diária favorecia o intercâmbio de culturas e gerava sadismos e vícios, que influenciavam a formação do caráter do brasileiro. A escravatura degradava senhores e escravos. Com a abolição, os problemas do negro estariam apenas começando. Mas quem se interessou por isso? Ninguém se interessou. O negro livre deixou as fazendas e os engenhos e foi inchar as periferias das cidades. Abandonado, constituiu-se num sub-brasileiro. Apesar desse contexto, Freyre afirmou que “somos duas metades confraternizantes que se vêm mutuamente enriquecendo de valores e experiências diversas (...)”, e, em função disso, foi acusado de negar a existência das desigualdades e do racismo existentes no Brasil até hoje. Casa-Grande & Senzala, na verdade, foi a tentativa de resposta à seguinte indagação: o que é ser brasileiro? O candidato poderia discutir que, na sociedade contemporânea brasileira, nossa identidade decorre desta mistura de raças, que gerou nossa riqueza cultural; mas, ao contrário do que queria Freyre, nem sempre se deu de maneira confraternizante, uma vez que se observam, como resultado desse processo, o extermínio dos indígenas e a marginalização do povo negro. TEMA DADO EM AULA CPV CPV fgv07dezobjadm