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SELF CUTTING:
UMA VISÃO PSICANALITICA SOBRE OS
TRANSBORDAMENTOS PULSIONAIS NO CORPO
Autora: Zaíra Rocha El Bizri
Co autora e Orientadora: Prof.ª Dr.ª Marcia Maria dos Anjos Azevedo
INTRODUÇÃO
Este trabalho é um estudo acerca dos transbordamentos e direções que podem ter as
pulsões no corpo e sua relação com o processo de automutilação conhecido como o self
cutting. Para isso, foi utilizado como eixo norteador a teoria psicanalítica. Procuramos
demonstrar o contexto histórico e social das modificações corporais, abrangendo desde
os ritos de passagens de outras culturas assim como o uso do corpo como espaço de
transformação na contemporaneidade. As marcas corporais se expressam no corpo
como um território privilegiado para as demarcações identitárias.
Na clínica contemporânea, observa-se uma alta incidência da destrutividade, no que
tange o funcionamento psíquico, direcionada ao corpo do sujeito. Dentre as formas de
destrutividade, destaca-se o self cutting, um nome inglês que significa “cortando si
mesmo”. É o processo pelo qual o sujeito faz um corte intencional na pele, no intuito de
ferir-se e deixar uma cicatriz no corpo.
As indagações que circundam essa temática, como as questões do corpo psicanalítico, as
pulsões intrínsecas do sujeito, a relação mãe-bebê, o corte, a dor, ajudaram na realização
deste trabalho. Algumas hipóteses estão aqui delineadas no sentido de compreender os
caminhos que levam um sujeito ao self cutting.
CORPO E CULTURA
O corpo tem-se tornado algo extremamente valorizado, mas também reduzido a um
status de objeto que pode ser moldado, no qual se pode criar algo distinto, um novo
corpo que, a partir daí, ganha um outro valor.
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A modificação corporal está relacionada com as técnicas de marcar o corpo através de
escarificações, tatuagens, piercing, cutting, ou também pelo uso abusivo de cirurgias
plásticas. A aparência corpórea se altera de maneira significativa, desconstruindo ao
olhar do outro, o tradicional estatuto no que se refere ao corpo.1
Ao pensar sobre essa temática, não pode deixar de citar o Bodyart. Ao invés da tela
branca, foi o corpo que passou a ocupar o espaço artístico. O corpo passa a ser o local e o
espaço de representações através das marcas que obviamente causam dor e sofrimento.
De outra forma, o movimento conhecido como BodyModification, ou modificação
corporal, refere-se a modificação do corpo em si. Em relação a técnicas como tatuagem,
piercing, escarificações e cutting, estas não podem ser confundidas com o processo
artístico da BodyArt, pois surgem em uma tentativa de personalizar o corpo, sem este ser
um objeto de arte, mas uma metáfora da própria identidade.
Essas modificações tornam-se possíveis quando se tem a tecnologia a seu dispor e
dispositivos que resgatam práticas milenares de alterações corporais desenvolvidas por
outras sociedades. Segundo FERNANDES (2011)2 “o corpo é hoje superinvestido,
porém frequentemente apontado como fonte de frustração e sofrimento, constituindo-se
como um instrumento privilegiado de expressão do mal estar na cultura
contemporânea.” Esse mal estar pode ser explicado/justificado em função do fato de o
simbólico estar sendo descartado em uma sociedade que passou a ver somente o objeto
esvaziado de sentido, levado apenas pela imagem. Em função disto, de acordo com
Birman (2007)3 é possível uma comunicação maior através dos atos do que através da
linguagem verbal, ocasionando as chamadas patologias da ação e do corpo.
Ainda sobre a abordagem do corpo na contemporaneidade e de como é utilizado para
expressar a subjetividade no mundo, BRAYTON (2002) afirma que esse corpo que
acopla todas as esperanças e ameaças.
A possibilidade de modelação do corpo ou da própria imagem, em sua distorção pode
também criar ilusoriamente um bem estar. Como se as angústias e frustrações internas
1
CUNHA, 2004 apud TABOTA, 2010)
FERNANDES, Maria Helena. O corpo e os ideais do clinico contemporâneo, 2011.
3
BIRMAN apud TABOTA, 2007. O ato de escarificar o corpo na adolescência: uma abordagem
psicanalítica
2
3
fossem aplacadas no campo da satisfação a partir dessas modificações. O corpo passa a
ser um objeto de mensagem de fracasso ou de sucesso.
O CORPO NA PSICANÁLISE
Ao se falar do corpo em psicanálise não há como não falar do que Freud definiu, em
1915, como um conceito entre o limite e o somático. Originado no interior do
organismo, uma força constante que foi denominada de pulsão, cuja finalidade é a
satisfação, da qual o sujeito não pode escapar, lembrando que o seu objeto é o que há de
mais variável. O corpo é habitado pelas pulsões, sendo um representante psíquico das
excitações do sujeito, tendo que produzir um trabalho psíquico, para lidar com as
excitações que provem do interior do corpo.
Freud (1920), em seu texto “Além do Princípio do Prazer” passa a reconhecer no âmbito
do ego, uma tendência regressiva e desintegradora ao que denomina de pulsão de morte.
As pulsões sexuais, também remetem a um estado primitivo do ser, mas cuja tendência
é a manutenção e a reprodução da vida, na qual faz ligações, caracterizando-a como
pulsão de vida. A fusão dessas pulsões é percebida em várias manifestações
comportamentais, tanto agressivas quanto afetuosas e amorosas, assim como age no
sentido da preservação quanto da aniquilação do sujeito. Freud reafirma e reformula sua
teoria, sublinhando que o caráter conservador da pulsão é o que ajuda a pensar na
compulsão a repetição, que é a razão pelo qual o sujeito tende a repetir situações que lhe
causam desprazer.4
A teoria freudiana faz diversas referências ao corpo além do eu corporal, mostrando que
há também um corpo subjetivo. Freud (1923), em O Ego e o Id, refletindo sobre a
formação do eu, faz uma articulação do corpo afirmando que “o ego é, primeiro e acima
de tudo, um ego corporal; não é simplesmente uma entidade de superfície, mas é, ele
próprio, a projeção de uma superfície”5.
Mesmo que a temática do corpo esteja em assunção, não significa que o sujeito esteja
em contato com seus sentimentos e sensações. E é nesta perda do elo, que o
adoecimento pode acontecer. Essa psicopatologia pode estar ligada com as experiências
4
BREYTON, Danielli M. ARMENIO, Elaine. ABREU, Julia C.G. FRANCISQUETTI, Paula P. PULITI, Renata. O
corpo: Campo de Batalha Contemporâneo. (2002)
5
FREUD.S Ego e o Id (1923/1996), p. 40
4
mais primitivas da vida humana, desde o nascimento. Isso porque a condição prematura
do bebê faz com que ele seja inteiramente dependente de um outro que cuide dele, que
satisfaça suas necessidades básicas e que acalme suas tensões. O estado de desamparo,
para Freud, é referência e considerada uma experiência fundamental da condição
humana. Esta relação é mediada pela linguagem (Outro) que implica o simbólico,
organiza o laço social e o lugar de inscrição em relação ao outro.
Prochet (2013)6 enfatiza que antes de nascer, o homem é rodeado por um sistema de
significações verbais e experimenta uma comunicação, outro tipo de linguagem, que é o
contato do corpo da mãe deixando registros que, em alguns casos, são mantidos pelo
resto da vida. O corpo é o primeiro meio de contato com o mundo, mesmo antes de
existir um Eu, ou seja, o corpo preexiste ao Eu.
Habitar o próprio corpo é um processo que acontece a partir dessas trocas, permitindo
que o bebê, através do contato e das experiências físicas e psíquicas, torna-se capaz de
constituir, de forma gradual, uma distinção entre o eu e o não-eu. Nas trocas corporais
com a mãe, na ausência e no contato físico, o bebê descobre seu corpo através da
imagem especular.
DINÂMICA PULSIONAL E AUTOPUNIÇÃO
É importante a compreensão dos movimentos pulsionais para se ter um maior
entendimento na relação que o indivíduo tem com a dor e o sofrimento a partir do seu
corpo. O processo contínuo de investimento e desinvestimento, no qual o eu tanto é o
objeto quanto o sujeito, caracteriza a dinâmica psíquica que está imersa nas suas
experiências de prazer e desprazer.
Em O Problema Econômico Do Masoquismo, Freud (1929) traz um questionamento do
ponto de vista econômico, pois se o aparelho psíquico está orientado pela obtenção do
prazer e pela evitação do desprazer, o sofrimento como objetivo seria incompreensível.
Freud introduz a idéia de que não se pode simplesmente medir, quantificar o prazer e o
desprazer apenas pelo aumento ou diminuição de uma quantidade, mas, também, por
alguma característica qualitativa na relação entre o princípio de prazer e as pulsões de
6
PROCHET, Neysa O corte que une, 2013
5
vida e morte. O masoquismo é a parte que sobrou do que foi posto para fora do
organismo (sadismo), quando a libido tentava tornar inócuo o instinto destruidor.
Anteriormente, em seu trabalho Pulsões e seus destinos (1915), Freud explicou como a
pulsão pode mudar de objeto para alcançar sua finalidade, que é sempre satisfação. E,
nesse sentido, o próprio corpo ou parte dele poderá servir como objeto dessa satisfação.
Rosemberg (1982) em Culpa ou masoquismo moral ou a culpa como “negativo” do
masoquismo, levanta a questão de que quando esse sadismo retorna ao próprio eu e não
procura um objeto estranho, não é o masoquismo, e sim um auto-sadismo, um sadismo
refletido. A necessidade de atormentar torna-se em si mesmo, uma autopunição, não um
masoquismo.
Freud (1923), no texto “As relações dependentes do ego”, exibe as relações que o ego
pode apresentar com o mundo externo, com o sentimento de culpa e, o fator “moral”,
provido do superego, que podem desdobrar para a autopunição.
Ele percebeu, em alguns pacientes, reações inversas na medida em que os encorajava e
dava-lhes alguma esperança. Esses pacientes, em alguns casos, se recusavam a
abandonar a punição do sofrimento, por tal sentimento de culpa. Pensa-se então, na
dificuldade que os automutiladores têm de abandonar os cortes na pele.
A partir dessa concepção, pode-se abordar a relação da culpa com o auto-sadismo, como
visto anteriormente. Na tentativa de entender o papel exato da culpa na transformação
de sadismo para masoquismo, será de relevância entender essa união, ou seja, o autosadismo.
Vemos que o sadismo como violência ou o poder sobre uma pessoa ou um objeto,
abandona esse objeto, e é substituído pelo eu do individuo. Nesse retorno ao eu também
ocorre uma mudança de finalidade, de ativa para passiva. Para Freud (1915, pg 85) “o
desejo de torturar transforma-se em autotortura e autopunição”.
Uma observação importante é sobre a realização da finalidade, que não estava restrita
apenas a humilhação e dominação, mas também à infligir dor. Chama a questão de que
a fruição da dor seria originária da pulsão de um indivíduo masoquista, mas para
encontrar sua satisfação pulsional, deverá ser originário de um indivíduo sádico. O auto-
6
sadismo está condicionado pela mudança de objeto, o próprio eu, ao invés do objeto do
sadismo.
É importante destacar que, em relação ao masoquismo, Freud (1929) estabelece uma
diferenciação entre o erógeno, o feminino e o moral. E é esse último que será
considerado a seguir em função dos objetivos deste trabalho.
Todos os outros sofrimentos masoquistas apresentam-se como uma demanda da pessoa
amada, que é suportada por quem recebe. Entretanto, no masoquismo moral, o próprio
sofrimento é o que importa. Os pacientes expressam um sentimento consciente de culpa
e não reconhecem que existe neles uma necessidade de punição inconsciente.
O masoquismo moral e o sentimento de culpa podem se confundir em algum momento,
pois Freud coloca uma noção de culpa no masoquismo moral. Porém, Rosemberg
(1982) diz que ambas têm relação com o Supereu e o eu, o que diferencia é o lugar de
satisfação. A culpa é o eu submetido por esse Supereu severo, já no masoquismo moral,
a satisfação está na própria culpa.
Segundo Freud, a consciência de culpa é uma expressão de conflito entre o ego e o
superego. Ele diz que “o superego reteve características essenciais das pessoas
introjetadas – a sua força, sua severidade, a sua inclinação a supervisionar e punir”.
Nessa perspectiva, Freud (1929) afirma ainda que os indivíduos masoquistas estão
envolvidos por uma necessidade que é satisfeita pela punição e sofrimento e para
Rosemberg trata-se de um desejo de punição, de satisfação masoquista. O sadismo do
Supereu (este severo com o eu) e o masoquismo próprio do eu se completam e unem-se
para provocar as mesmas conseqüências: a autopunição.
“É notável que, quanto mais um homem controla sua agressividade para com o exterior,
mais severo- isto é, agressivo- ele se torna em seu ideal do ego” 7, ou seja, maior a
inclinação dessa agressividade para seu ego. Essa agressividade contra o ego, que
também é um ego corporal, pode expressar-se de maneira cruel contra a pele, sob
formas de cortes.
O LIMITE TERRITORIAL E A AUTOMUTILAÇÃO
7
FREUD, Sigmund. As relações dependentes do ego. pag. 68.
7
A partir dessa perspectiva das relações precoces da dependência do outro de seu
investimento foi possível pensar situações de automutilações como um modo de inserir
o outro a partir da noção de auto-sadismo.
Menniger considera três elementos essenciais no quadro da automutilação: Em um
primeiro aspecto, seria o de uma agressão dirigida internamente, mas que é voltada para
uma figura externa, em geral um dos pais. Em segundo, a estimulação sensorial – seja
ela de caráter sexual, seja puramente física, e ainda uma autopunição que compensaria/
purgaria os “delitos” de natureza agressiva ou sexual.8
Nestes casos, o corpo de um vive uma imagem fusionada, na qual, entre o corpo do
indivíduo e o da mãe não permanecem fronteiras definidas. Dessa forma, os sofrimentos
que são difíceis de nomear, expressar por palavras, se misturam e o desejo a atacar ao
outro pode se tornar um auto-ataque.
A partir dessa perspectiva, cortar-se é um corte, é algo que se rompe a partir de um ato.
Seja em qual processo for, o de elaboração, na narrativa etc, quando o psiquismo é
incapaz de conter um excesso, este transborda para o corpo. O corte é o escape do
interior do psiquismo para o que se possa ver.
O CORPO E O CORTE – A DOR, A PELE E O CUTTING
O corpo cresce numa tensão ambígua, entre a alienação e a separação. Esta última é a
versão particular, assinatura privada da própria imagem, a tentativa de separação entre o
dentro e o fora do corpo, entre o íntimo e o público.
Parte da literatura acadêmica tratava a automutilação como uma forma de parasuicídio,
ou seja, há intenção ou idealização suicida. Porém, segundo Menninger, a
automutilação, seria uma formação de compromisso para evitar a aniquilação do sujeito.
A automutilação seria, o sacrifício em uma parte no corpo para o bem de todo o corpo.9
O processo do self cutting é doloroso. Para entende-lo, foram também utilizadas as
teorias de Anzieu, constantes em sua obra “Eu pele”, na qual refere-se às fases precoces
do desenvolvimento, o humano precisa representar a si mesmo como um Eu, que
contem conteúdos psíquicos, pela sua experiência com a superfície do seu corpo. Esse
8
LANG, 2009 apud PROCHET,N. 2013
LANG, Charles Elias. BARBOSA, Juliana Falcão. CASELLI, Francisco Rafael Barbosa. (2006)
9
8
autor encontra argumentos em sua teoria para definir o masoquismo, antes de ser
secundário, dando ênfase na relação entre a mãe e o bebê.
Anzieu (1989) percebe que uma posição masoquista perversa tem origem na primeira
infância, quando houve um episódio de agressão física real a sua pele, o que forneceu
material para sua organização fantasmática. Para ele, a fantasia inconsciente que
sustenta o masoquismo perverso é do corpo “esfolado”. O registro no corpo é algo
importante a ser deixado pelo sujeito com um funcionamento masoquista. E esses
processos podem ter ligações com as primeiras relações entre a mãe e o bebê, como dito
anteriormente.
Esse corpo, por ter sido desprovido de afetos, pois a mãe, por cuidados apenas
mecanizados, se ocupou por obrigação e não por satisfação, torna-se um corpo provedor
de abuso e de poder, não de prazer.
Para Anzieu, o corpo violentado proporciona, ali, um gozo seguro. O corpo de
sofrimento carrega em si uma aptidão excessiva para a encarnação do sofrimento. É a
possibilidade de viver esse sofrimento em seu nome, em atuação e representação.
Corso e Corso10 mostram que Freud, quando narra das neuroses de guerra, lembra que
os mais afetados pela tragédia vivida eram os que não tinham nenhuma marca visível,
pois quem ficou com uma cicatriz, uma lesão, ou perdeu um membro, paradoxalmente,
estava menos vulnerável às más lembranças. As marcas do sofrimento ajudam a lembrar
e certificar-se de que aquilo realmente ocorreu e que a dor procede.
No artigo Subjetividade, corpo e contemporaneidade11 há o questionamento sobre o
toque que parece ter uma forte ligação com a automutilação. Os automutiladores
parecem voltar de forma narcísica seu toque, afetuoso ou agressivo para o próprio
corpo, cortando-o.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma busca na diferenciação e no reconhecimento do outro que possa encontrar um
significado. O sofrimento apresentado sob marcas no corpo é uma mensagem que o
sujeito encontrou para representar suas angústias.
10
CORSO Mario, CORSO Diana (2008)
LANG, Charles Elias. BARBOSA, Juliana Falcão. CASELLI, Francisco Rafael Barbosa. (2006)
11
9
Algo que muitos estudos sobre o cutting se assemelham é sobre o sofrimento silencioso.
Sendo assim, o jovem que se corta, sofre em silencio, e representa sua angustia em
aglomeradas cicatrizes pelo corpo. Seria uma transferência da dor interna, psíquica para
a dor física.
Prochet (2013) considera o cutting como um ato de descarregar os afetos que ameaçam
a integridade psíquica. Seria uma forma de aliviar a dor pela dificuldade de se expressar
em palavras sobre essa dor: Os cortes, no entanto, acontecem como uma forma de
expressão defensiva a algo que esta ameaçando sua integridade.
Muitas são a hipóteses para explicar o cutting e, possivelmente, ocorre pelo afastamento
do outro e pela perda de significados simbólicos coletivos estruturantes, o individuo se
retrai sobre si mesmo, e como resposta a tudo isso, investe no seu corpo, procurando em
si uma localização real de si mesmo. A autenticidade como marca corporal é uma forma
de existir que dispensa as palavras.
Os comportamentos autodestrutivos não acham simbolização para a descarga
necessária, manifestando-se através dessas formas. Pela dificuldade de expressar-se, os
sujeitos podem desencadear uma conduta autoagressiva. O que é difícil de internalizar
porque é insuportável, poderá ter o destino de ser escrito sobre a pele.
Podemos pensar, então, nessas modificações corporais, nos cortes sobre a pele, que
usam de um processo doloroso como passagem, como marca, um reflexo sobre os afetos
humanos, como expressão do mal estar que não pode ser expresso em palavras.
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