ATENÇÃO FARMACÊUTICA EM PACIENTES PORTADORES DE HIPERTENSÃO E A IDENTIFICAÇÃO DE POSSÍVEIS INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS Sheila Sharon Cosme Araújo, Wellington Ribeiro Universidade do Vale do Paraíba –UNIVAP/Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento –IP&D/Laboratório de Fisiologia e Farmacodinâmica, Av. Shishima Hifumi 2911, Urbanova, São José dos Campos, SP, CEP 12244-000 [email protected]; [email protected] Resumo- A Atenção Farmacêutica é como um compêndio da prática profissional, onde o paciente é o principal beneficiário das ações do farmacêutico. A hipertensão arterial é uma patologia que se caracteriza por uma desordem crônica geralmente assintomática. O presente trabalho tem como objetivo identificar as principais interações entre fármacos presentes nas prescrições de pacientes hipertensos e documenta-las através da metodologia Dáder para o acompanhamento do paciente. Identificando as possíveis reações adversas, posologias, e a partir disso caracterizar Problemas Relacionados a Medicamentos (PRMs), ligados à segurança, necessidade e efetividade. Desta forma contribuir para a adesão ao tratamento farmacológico e não farmacológico, através da orientação e educação farmacêutica. O profissional deve possuir habilidades técnicas e de comunicação que permitam perceber os PRMs potenciais e reais, prevendo, identificando e resolvendo os mesmos. No decorrer do acompanhamento farmacoterapêutico também se pode realizar intervenções junto ao médico, podendo ser escritas ou verbais, informando ao mesmo as possíveis interações medicamentosas. Palavras-chave: Atenção farmacêutica, hipertensão arterial, método Dáder, interações medicamentosas Área do Conhecimento: Farmácia Introdução Atenção farmacêutica é um modelo de prática farmacêutica, desenvolvida no contexto da assistência farmacêutica. Compreende atitude, valores éticos, comportamentos, habilidades, compromissos e co-responsabilidades na prevenção de doenças, promoção e recuperação da saúde, de forma integrada com os demais profissionais. É a interação direta do farmacêutico com usuário, visando uma farmacoterapia racional. (OPAS-OMS, 2002). Configura-se um processo no qual o farmacêutico se responsabiliza pelas necessidades do usuário relacionadas ao medicamento, por meio da detecção, da prevenção e da resolução de Problemas Relacionados aos Medicamentos (PRM), de forma sistemática, contínua e documentada, com o objetivo de alcançar resultados definidos, buscando a melhoria da qualidade de vida do usuário. (SOUZA; BERTONCIN, 2008). Dentre os problemas de saúde de grande prevalência no Brasil, a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) ocupa papel especial, responsável pelo maior número de óbitos em indivíduos idosos, tornando-se foco de atenção especial. A HAS é uma situação clínica de natureza multifatorial caracterizada por níveis de pressão arterial (PA) elevados. No Brasil, estimase que cerca de 15% dos indivíduos adultos possam ser considerados hipertensos. Os fatores de risco relacionados à HAS são a idade, raça, antecedentes familiares, alimentação, estresse, tabagismo, obesidade, álcool, sedentarismo e medicamentos. Os indivíduos idosos e negros são mais propensos a desenvolverem, com isto multiplica o risco de danos cardiovasculares, contribuindo para aumentar a morbimortalidade e os custos sociais com invalidez e absenteísmo ao trabalho. O controle adequado dessa situação reduz significativamente os riscos individuais e os custos sociais (SBH/SBC/SBN, 2004). Os grupos de medicamentos frequentemente usados em associação para o tratamento da HAS incluem os diuréticos, betabloqueadores, antagonistas dos canais de cálcio e os inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA). (PELIZZARO; PANCHENIAK, 2003). Contudo é preciso estar ciente da farmacodinâmica dos fármacos envolvidos na terapêutica para se evitar interações prejudiciais e possíveis efeitos adversos das drogas aumentando os riscos ao paciente. (CORDÁS; BARRETTO,1998). Interações medicamentosas são tipos especiais de respostas farmacológicas, em que os efeitos de um ou mais medicamentos são alterados pela administração simultânea ou anterior de outros, ou através da administração concorrente com alimentos. (SECOLI, 2001). XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1 O fenômeno das interações medicamentosas constitui na atualidade um dos temas mais importantes da farmacologia, para a prática clínica dos profissionais da saúde. O uso concomitante de vários medicamentos, e o crescente número destes agentes no mercado são alguns dos fatores que contribuem para ampliar os efeitos benéficos da terapia, mas que também possibilitam a interferência mútua de ações farmacológicas podendo resultar em alterações dos efeitos desejados. (SOBRINHO et al., 2009). Tabela 1 – Interações medicamentosas presentes no tratamento associativo da hipertensão. Pacientes/ Medicamentos antihipertensivos Medicamento associados Possíveis interações A.P.S./Captopril AAS, Metformina, Lipitor, Xalatan, Clob-x. Antiinflamatórios não-esteroidiais e vários outros, provocam redução do efeito antihipertensivo do IECA através da diminuição da síntese de prostaglandinas. Metodologia A metodologia utilizada para o acompanhamento dos pacientes participantes do projeto é o Método Dáder de Seguimento Farmacoterapêutico. O Método Dáder propõe um procedimento concreto para se detectar, a partir da análise dos problemas de saúde que o paciente apresenta e dos medicamentos que utiliza num determinado momento, a presença de algum Problema Relacionado a Medicamentos. A partir daí, derivam-se as intervenções farmacêuticas correspondentes, nas quais o farmacêutico clínico, conjuntamente com o paciente e seu médico decidem o que fazer em função dos conhecimentos e condições particulares que afetam cada caso. (MACHUCA et al., 2003) Aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Vale do Paraíba, sob parecer número 196/96. Para a realização deste estudo foram selecionados 10 pacientes, voluntários, hipertensos, residentes do município de São Jose dos Campos, participantes em um programa da comunidade em incentivo a prática de atividade física, todos usuários de medicamentos antihipertensivos. Foram coletados dados dos pacientes através de um questionário padronizado, por meio de entrevistas. Durante um período de 2 meses, compreendendo junho e julho de 2009. E através dos mesmos foram cruzados os medicamentos anti-hipertensivos com os medicamentos associados diagnosticando possíveis interações medicamentosas. A metformina com o uso concominante dos IECA pode reduzir a glicemia. M.A.F./ Captopril Ibuprofeno Ibuprofeno pode reduzir o efeito anti-hipertensivo, provavelmente por inibição da síntese de prostaglandinas. M.M.S./ Enalapril AAS, Metformina, Daonil, Insulina NPH100, A insulina com outros antidiabéticos orais pode haver necessidade de reajustes posológico da droga antidiabética. AAS pode levar a diminuição do efeito esperado do enalapril. Resultados Os resultados foram condizentes com o estudo que sugere reformulações no gerenciamento de serviços, enfatizando a atenção farmacêutica como importante método para manutenção da saúde e uso adequado dos medicamentos. A caracterização das interações medicamentosas distribui-se amplamente na tabela 1. S.A.S./ Atenolol, Losartan, Anlodipina, Clortalidona. Fluoxetina XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba A fluoxetina aumenta biodisponibilidade dos betabloqueadores, como o Atenolol, podendo atingir níveis séricos. 2 Tabela 1 – Interações medicamentosas presentes no tratamento associativo da hipertensão. (Continuação) Pacientes/ Medicamentos antihipertensivos Medicamento associados Possíveis interações Ranitidina Propanolol associado a ranitidina pode prolongar a meia vida do propanolol e aumentar os seus efeitos. Cetoprofeno Associação com a hidroclorotiazida reduz a excreção de cloro e potássio urinários. Maior risco de desenvolver insuficiência renal. Digoxina Há depuração da digoxina, podendo eventualmente aumentar a toxicidade deste fármaco. I.T.L. / Atenol Antiácidos Os antiácidos diminuem em até 60% a biodisponibilidad e do atenolol por diminuição da absorção intestinal. M.C.A.C. / Amilorida O uso concomidante entre esses dois antihipertensivos pode promover hiperpotassemia. Alopurinol Pode desencadear reações cutâneas. J.G.V./ Propanolol D.R.S./ Hidroclorotiazida N.P.C. / Captopril Captopril I.S.M./ Captopril Discussão Atualmente a morbimortalidade relacionada a medicamentos é um relevante problema de saúde pública e um determinante de internações hospitalares. As internações relacionadas a medicamentos podem ser atribuídas a fatores intrínsecos à atividade do fármaco, falhas terapêuticas, interações medicamentosas, não adesão ao tratamento e eventos adversos (JOHNSON & BOOTMAN, 1995). Ao avaliarmos os pacientes submetidos ao tratamento anti-hipertensivo observou-se que a grande maioria destes pacientes recebeu um elevado número de fármacos em terapia associativa. Desta forma torna-se necessário realizar a previsão de potenciais efeitos adversos decorrentes do emprego destas terapias associativas, a fim de evitar possíveis quadros de sinergismo de ação ou antagonismo parcial ou total destes efeitos. O farmacêutico atua em cooperação com o médico e o paciente, visando a melhora dos resultados da farmacoterapia, com a prevenção e detecção de Problemas Relacionados com os Medicamentos (PRMs), evitando desta forma à morbidade e/ou mortalidade relacionada a medicamentos. A adesão terapêutica significa relação colaborativa entre o paciente e os profissionais de saúde, podendo ser caracterizada pelo grau de coincidência entre o paciente. Enquanto que a não adesão ao tratamento é um problema multifatorial, influenciado por aspectos relacionados à (jovens ou idosos) sexo (homens ou mulheres), doença (crônica ou aguda), ao paciente (esquecimento, diminuição sensorial e problemas econômicos), problemas relacionados aos medicamentos (custos, efeito adversos reais ou percebidos ou, ainda, horário de uso) ou equipe cuidadora de saúde (envolvimento ou relacionamento inadequado). Sendo assim, os erros na utilização de medicamentos, mais comuns, estão divididos nas etapas de prescrição, dispensação e administração. Por esse motivo, no presente trabalho, foram enfatizadas as atividades dos profissionais de saúde ligados diretamente a essas etapas da farmacoterapia como médico e o farmacêutico. Por essa razão as intervenções não farmacológicas possuem grande importância e devem sempre que possível incentivadas. (SBH/SBC/SBN, 2004). Os farmacêuticos atuam como ultimo elo entre a prescrição e a administração, identificando na dispensação os pacientes de alto risco, enfatizando a importância da monitorização da farmacoterapia e controle da pressão arterial evitando futuras complicações. XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 3 De forma geral, as intervenções farmacêuticas têm mostrado resultados positivos na hipertensão arterial, reduzindo custos melhorando as prescrições, controlando as possíveis interações medicamentosas e promovendo maior adesão do paciente ao tratamento. Acredita-se em viabilizar articulações de meios que proporcionem maior integração entre os profissionais prescritores e dispensadores, tendo como meta o alcance de resultados efetivos e seguros para ao paciente. (LYRA JÚNIOR, 2006). Conclusão Este trabalho poderá contribuir para uma melhor conscientização dos pacientes em relação ao tratamento anti-hipertensivo, minimizando desde problemas relacionados aos medicamentos, tais como interações medicamentosas, assim como uma melhor qualidade de vida. Interações medicamentosas em prescrições de pacientes hospitalizados - Sociedade Brasileira de Hipertensão Arterial, Sociedade Brasileira de Cardiologia, Sociedade Brasileira de Nefrologia. IV Diretrizes brasileiras de hipertensão arterial. São Paulo: SBH/SBC/SBN; Arquivo Brasileiro de Cardiologia v.82, (suplemento IV), 2004. - SOUZA, V. V; BERTONCIN A. L. F. Atenção farmacêutica para pacientes hipertensos – nova metodologia e a importância dessa prática no acompanhamento domiciliar. 21 (3): 224-230, 2008. Referências - CORDÁS, T.A; BARRETTO, O.C.O. Interações medicamentosas. 1.ed. São Paulo: Lemos editorial, p.290-304, 1998. - JOHNSON, J.A; BOOTMAN, J.L. Drug related morbidity and mortality. A cost –of – illness model. Arch. Intern Med. v. 155, p. 1949-1956, 1995. - LYRA JÚNIOR, D.P; AMARAL R.T; VEIGA, E.V; CÁRNIO E.C; NOGUEIRA M.S; PELÁ, I.R. A farmacoterapia no idoso: revisão sobre a abordagem multiprofissional no controle da hipertensão arterial sistêmica. Ver Latino-am Enfermagem. 14(3)435-41, 2006. - MACHUCA, M; FERNÁNDEZ-LLIMÓS, F; FAUS, M.J. Método Dáder. Guia de seguimento farmacoterapêutico. GIAF-UGR, p.5, 2003. - OPAS/ OMS, Consenso brasileiro de atenção farmacêutica- Proposta. Brasília; 2002. - PELIZZARO, M.C; PANCHENIAK, E.F.R. Assistência farmacêutica no tratamento de doenças cardiovasculares e hipertensão. Infarma. Universidade Federal do Paraná, (PR), v.15, n. 910. 2003. - SECOLI, S. R. Interações medicamentosas: fundamentos para a pratica clínica da enfermagem. Universidade de São Paulo, v.35, n. 1, p. 28-34. 2001. - SOBRINHO, F. F; NASCIMENTO, J. W. L; GRECO, K. V; MENEZES, F.G. Avaliação de XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 4