Semiologia e Psicopatologia Prof. Octavio Domont de Serpa Jr. - Semiologia: “ciência geral dos signos” (Saussure, Cours...) Semiologia Médica e Semiologia Geral: identidade de palavras correspondência de sistemas e estruturas Sintomas e Signos Sintoma: forma sob a qual a doença se apresenta; não tem nada ainda de semiológico ou semântico; fato mórbido na sua objetividade e na sua descontinuidade; fato bruto oferecido ao trabalho de decifração antes que este tenha começado Signo: sintoma suplementado pela consciência organizadora do clínico; produto explícito da linguagem; o clínico transforma pela mediação da linguagem o sintoma em signo Signo: significante e significado Signo: anamnéstico, diagnóstico e prognóstico Signo: inespecífico, típico e patognomônico Signo Sinal: objetivo Sintoma: subjetivo Campo de correlação do signo: - paradigmática : oposição virtual entre um signo e seus vizinhos (p.ex.: clareza ou rebaixamento de consciência) - sintagmática: combinatória diacronia e sincronia Diagnóstico leitura de uma configuração de signos médicos significado: lugar no quadro nosográfico significante: nome da doença Exame Clínico procura de signos dupla redução: do discurso e do corpo (isto não opera na psicopatologia) saber e saber-fazer (produção de signos) Illness: experiência humana dos sintomas e do sofrimento; experiência vivida de monitoramento de processos corporais Disease: o que o clínico produz processando as queixas em termos técnicos; em termos do modelo biomédico tratase de uma alteração do funcionamento biológico Sickness é a identidade social, que constitui um novo conjunto de direitos e deveres Angústia existencial Resfriado; envelhecimento Casos paradigmáticos Illness Fibromialgia; somatização 6 4 3 5 Hipertensão assintomática Disease 1 2 Medicina preditiva 7 Sickness Dissidência política Twadle, 1994; Hofmann, 2002 Anamnese Psiquiátrica = história clínica psiquiátrica, história da doença do paciente psiquiátrico. Grego: ana, trazer de novo e mnesis, memória Objetivos da anamnese - quais são? Objetivos básicos: Formular diagnóstico Formular prognóstico Formular plano terapêutico Outros: Perícias, pesquisa, ensino Aspectos gerais: Instrumento para construção da aliança terapêutica Pode se dar em contextos diversos Deve acontecer em lugar agradável e confortável Evitar interrupções O profissional deve se apresentar,explicar o objetivo da entrevista e buscar consentimento do paciente. Pacientes sem consciência de morbidade – entrevistar familiares ou pessoas que possam informar, de preferência com concordância e se possível, presença do paciente. Regras básicas: Inicialmente deixar o paciente falar livremente. Só depois perguntar sobre temas específicos e pontos duvidosos. Saber como e quando interromper o paciente Não formular perguntas numa seqüência monótona e mecânica. Evitar perguntas sugestivas ( como você está se sentindo? X Você está ansioso? ) Não aceitar jargões Certificar-se que o paciente compreende as perguntas A entrevista presentifica, atualiza, para o entrevistador, o modo como o sujeito se relaciona com o outro e consequentemente com o mundo. Dá pistas dos desafios do processo de tratamento. A entrevista é um dispositivo de produção de subjetividades, fruto do encontro entre entrevistado em entrevistador. Final da entrevista: fazer uma síntese do que observou, de sua impressão inicial sobre o que se trata, se são ou não necessários exames complementares ou se necessita de entrevistas adicionais para completar a avaliação. se já possui dados suficientes para um diagnóstico, poderá informá-lo em termos simples e em linguagem compreensível, ao próprio paciente evitando o uso do jargão dos sistemas classificatórios. dependendo das circunstancias tal informação deverá ser transmitida aos familiares (pacientes psicóticos, demenciados). informar sobre as alternativas terapêuticas disponíveis, custos, necessidade ou não de internação, uso de medicamentos, efeitos colaterais, prognóstico, etc. reservar os minutos finais para que o paciente possa dirimir suas dúvidas, expressar sua concordância ou não com as medidas propostas, seu desejo de voltarpara completar a avaliação ou de seguir o tratamento proposto. Três grandes riscos: - achar que entendeu tudo, - tomar sempre para si os afetos e falas do paciente, - ignorar os seus próprios afetos (do entrevistador) ESTRUTURA E CONTEÚDO DA ANAMNESE PSIQUIÁTRICA Componentes da avaliação psiquiátrica: Anamnese propriamente dita Exame psíquico (exame do estado mental) ESTRUTURA E CONTEÚDO DA ANAMNESE PSIQUIÁTRICA Anamnese Identificação Queixa principal Motivo do atendimento História da doença atual História patológica pregressa História fisiológica História pessoal História social História familiar Exame psíquico Súmula psicopatológica Exame físico exames complementares diagnóstico sindrômico diagnóstico nosológico conduta terapêutica ESTRUTURA E CONTEÚDO DA ANAMNESE PSIQUIÁTRICA Identificação Nome DN Sexo Estado civil Naturalidade Nível de instrução Profissão Etnia Religião Residência Procedência Filiação ESTRUTURA E CONTEÚDO DA ANAMNESE PSIQUIÁTRICA Queixa Principal Deve ser sucinta Redigida nas palavras do paciente Discriminar quando paciente não formula nenhuma queixa ESTRUTURA E CONTEÚDO DA ANAMNESE PSIQUIÁTRICA Motivo do Atendimento Quando o paciente não formula queixa Conteúdo fornecido por outra pessoa Citar literalmente ESTRUTURA E CONTEÚDO DA ANAMNESE PSIQUIÁTRICA HDA Neste tópico, avalia-se e descreve-se: 1 - como a doença começou, 2- se existiram fatores precipitantes, 3- como evoluiu, 4- qual a gravidade e o impacto da doença sobre a vida da pessoa. É importante considerar a descrição detalhada dos sintomas, a freqüência, duração e flutuações dos mesmos. Ainda, deve-se observar a seqüência cronológica dos sintomas e eventos relacionados desde as primeiras manifestações até a situação atual. ESTRUTURA E CONTEÚDO DA ANAMNESE PSIQUIÁTRICA HDA – conteúdos da descrição: época e modo do início da doença Presença de fatores desencadeantes Tratamentos efetuados e modos de evolução Impacto sobre a vida do paciente Intercorrências de outros sintomas e a queixa atual Características da descrição: Pode ser narrada por pacientes ou informantes (dizer fonte) Não usar termos técnicos ( usar palavras do paciente) Não nomear quadros clínicos , descreve-los Ordem da redação – cronológica Inserir informações pesquisadas pelo entrevistador Referir negativos pertinentes Relatar episódios psiquiátricos anteriores ESTRUTURA E CONTEÚDO DA ANAMNESE PSIQUIÁTRICA HPP Descrever estados mórbidos passados, em geral não psiquiátricos, que não tenham relação direta ou indireta de causa e efeito com a moléstia atual História Fisiológica –descrever: Gestação Nascimento Aleitamento Desenvolvimento psicomotor Menarca Atividade sexual Gestações Partos Abortos Menopausa Padrões de sono e alimentação ESTRUTURA E CONTEÚDO DA ANAMNESE PSIQUIÁTRICA História Pessoal Infância – descrever socialização, brincadeiras, aproveitamento escolar, ansiedade de separação Adolescência – descrever desempenho escolar, drogas, delinqüência relacionamentos interpessoais Idade adulta – descrever atitudes frente trabalho, vida familiar e conjugal, a sexualidade os relacionamento Personalidade pré- mórbida – descrever o modo de ser habitual do paciente, independente da situação da doença: relacionamentos sociais, interesses, hábitos de lazer e culturais, padrão de humor, agressividade, introversão/extroversão , egoísmo/altruísmo, dependência independência, atividade/ passividade, valores, adaptação ao ambiente. - Observar mudanças de personalidade com a doença. ESTRUTURA E CONTEÚDO DA ANAMNESE PSIQUIÁTRICA História Social informações relativas à moradia situações sócio-econômicas características socio-culturais atividade ocupacional atual situação previdenciária vinculo com sistema de saúde atividade religiosa, política antecedentes criminais ESTRUTURA E CONTEÚDO DA ANAMNESE PSIQUIÁTRICA História Familiar dados relacionados a doenças psiquiátricos e não ter sido desejado pelos pais separação dos pais quem criou o paciente ordem de nascimento diferenças de idade característica de personalidade dos familiares Relacionamento entre familiares atitude da família diante da doença do paciente relacionamento com filhos e cônjuge Psicopatologia Geral Aula Semiologia e Psicopatologia: a anamnese psiquiátrica ESTRUTURA E CONTEÚDO DA ANAMNESE PSIQUIÁTRICA EXAME PSÍQUICO avaliação do funcionamento mental do paciente, no momento do exame, com base nas observações que foram feitas durante a entrevista. pode variar de um momento para outro, em função de mudanças na psicopatologia do paciente (da mesma forma que o exame físico de um paciente com hipertensão arterial, pode mostrar uma pressão arterial normal, em razão do paciente estar medicado, o exame do estado mental de um esquizofrênico pode deixar de apresentar alucinações, pelo mesmo motivo). Com o objetivo de facilitar a descrição, o exame do estado mental é organizado por áreas (p.ex.,pensamento, senso-percepção, afeto, etc.), embora exista uma grande inter-relação entre estas diferentes áreas. ESTRUTURA E CONTEÚDO DA ANAMNESE PSIQUIÁTRICA . Exame das funções psíquicas Apresentação – Aparência – Atenção e Concentração – Manutenção – Focalização – Desatenção seletiva Orientação – Autopsíquica – Alopsíquica Consciência Memória Inteligência Consciência do eu Consciência da realidade Linguagem - Característica da fala – Progressão da fala Pensamento – Forma do pensamento – Conteúdo do pensamento – Capacidade de abstração Senso-Percepção Afetividade e Humor – Tonalidade emocional – Modulação – Associação pensamento/afeto Vontade e Pragmatismo Psicomotricidade Planos para o futuro Juízo de Morbidade