12 A derivada da função inversa Sumário 12.1 Derivada da função inversa . . . . . . . . . . . . . . 2 12.2 Funções trigonométricas inversas . . . . . . . . . . . 10 12.3 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 12.4 Textos Complementares . . . . . . . . . . . . . . . . 18 1 Unidade 12 Derivada da função inversa 12.1 Derivada da função inversa Nesta unidade estudaremos a derivabilidade da função inversa de uma função derivável f . Vamos considerar funções f : I → R denidas em um intervalo não trivial I . Se nos restringirmos às funções contínuas, o Teorema 2 da Unidade 8 garante que a imagem de um intervalo é um intervalo, logo f (I) também será um intervalo, que pode ser trivial se f for constante. Na verdade, toda a discussão que se segue pode ser feita considerando funções denidas em uma união D de intervalos não triviais. A imagem f (D) também será uma união de intervalos. Comecemos recordando a denição de função invertível. Definição 1 Dada uma função f : I → R dizemos que f é invertível se existe uma função g : f (I) → R tal que (i) g (f (x)) = x para x ∈ I . (ii) f (g(y)) = y para todo y ∈ f (I). Uma função invertível f tem uma única inversa g , pois, se g e h atendem às condições (i) e (ii) da denição então, dado y ∈ f (I), seja x = g(y), então f (x) = f (g(y)) = y , pela condição (ii). Logo g(y) = g (f (x)) = x e h(y) = h (f (x)) = x, condição (i). Portanto, g(y) = h(y) para todo y ∈ f (I), ou seja, h = g , provando assim a unicidade da inversa de uma função. A função inversa de f é denotada f −1 . Toda função invertível f : I → R é injetora, pois, se x1 , x2 ∈ I então f (x1 ) = f (x2 ) =⇒ f −1 (f (x1 )) = f −1 (f (x2 )) =⇒ x1 = x2 Portanto, uma função invertível f : I → f (I) é bijetora, pois é injetora e, restringindo a imagem a f (I) é evidentemente sobrejetora. Observe a gura a seguir. 2 A derivada da função inversa Unidade 12 f I f (x) x b f (I) b x = g (f (x)) g = f −1 Nem todas as funções contínuas são inversíveis. Além disso, algumas vezes uma função será invertível depois de restringirmos seu domínio. Vamos a alguns exemplos. f : R → R denida por f (x) = x2 . Para buscar a inversa da função, escrevemos y = f (x) e tentamos encontrar x como função de y . Mas, Exemplo 2 √ y = x2 =⇒ x = ± y . √ √ Ou seja, para cada valor y há dois valor x1 = y e x2 = − y tais que y = f (x1 ) = f (x2 ), A função não é invertível. Observe o gráco 12.1. No entanto, restringindo o domínio para f : (0, ∞) → (0, ∞) temos uma função invertível. A inversa é a função g : (0, ∞) → (0, ∞) dada por g(y) = √ y , pois √ g (f (x)) = g(x2 ) = x2 = |x| = x √ √ f (g(y)) = f ( y) = ( y)2 = y . Seja a função f : R → R denida por f (x) = x3 . Buscando uma inversa para a função f , temos y = x3 =⇒ x = √ 3 y Portanto, a função f é invertível e sua inversa é a função g : R → R denida √ por g(y) = 3 y . 3 Exemplo 3 Unidade 12 Derivada da função inversa b f (a) f (a) b a a −a b Figura 12.1: f (x) = x2 denida em R Figura 12.2: f (x) = x2 denida em (0, ∞) é invertível. não é invertível Exemplo 4 A função f : R∗ → R∗ dada por f (x) = x1 . Fazendo y = x1 e resolvendo x em função de y , temos y= 1 1 =⇒ xy = 1 =⇒ x = . x y Assim, f é invertível e sua inversa é a função g : R∗ → R∗ dada por g(y) = y1 . Portanto, f é sua própria inversa. Figura 12.3: f (x) = x3 Figura 12.4: f (x) = inversa 1 x é sua própria Como observamos antes, se f : I → R é função contínua denida em um intervalo não trivial I então f (I) também será um intervalo não trivial se f não 4 A derivada da função inversa Unidade 12 for constante. Vamos agora atacar a seguinte questão: como garantir que uma função f : I → R seja invertível? Em outras palavras, que condições são sucientes para garantir a invertibilidade de f ? Observe novamente os grácos nas guras 12.1 e 12.2. Na primeira, a função não é invertível porque não é injetora: existem x1 , x2 ∈ I , x1 6= x2 tal que f (x1 ) = f (x2 ). Por outro lado, no gráco da direita, como a função é crescente, se x1 < x2 (respectivamente, x2 < x1 ) então f (x1 ) < f (x2 ) (respectivamente, f (x2 ) < f (x1 )), o que garante injetividade. O argumento acima mostra que, de maneira geral, toda função crescente f : I → R é injetora. Um argumento análogo mostra que o mesmo vale para funções f : I → R decrescentes. O próximo teorema mostra que a condição de que a função contínua f : I → R seja crescente ou decrescente é suciente para garantir que tenha inversa. Mostra também que, neste caso, sua inversa é uma função contínua. Sejam I um intervalo não trivial e f : I → R uma função contínua crescente (respectivamente, decrescente). Então: Teorema 5 (i) f possui inversa f −1 : f (I) → I . (ii) f −1 é crescente (respectivamente, decrescente) em f (I). (iii) f −1 é contínua em f (I). A demonstração do Teorema se encontra no link a seguir. + Para Saber Mais - Demonstração do Teorema 5 - Clique para ler A função contínua f (x) = 2x+1 denida em R \ {1} é decrescente em x−1 todo seu domínio, como você pode vericar no seu gráco na Figura 12.5. Pelo Teorema 5, a função f é invertível, sua inversa é contínua e decrescente. 5 Exemplo 6 Unidade 12 Derivada da função inversa Para obter a inversa de f , isolamos x em função de y na equação y = f (x): 2x + 1 x−1 xy − y = 2x + 1 y= xy − 2x = y + 1 y+1 x= y−2 Portanto, f −1 (y) = de f −1 (em verde). y+1 , y−2 denida em R \ {2}. A Figura 12.5 mostra o gráco g(y) = y+1 y−2 y=x f (x) = 2x+1 x−1 1 Figura 12.5: Gráco de f (x) = 2x+1 x−1 e de sua inversa g(y) = y+1 y−2 Observe que no exemplo anterior a função não estava denida em um intervalo I , mas sim na união de dois intervalos: (−∞, 1) ∪ (1, ∞) = R \ {1}. Não é difícil mostrar que o Teorema 5 vale para funções denidas sobre uniões de intervalos. Iremos agora estudar a questão da derivabilidade da função inversa de uma função derivável f . O próximo teorema estabele condições sucientes para garantir a derivabilidade da função inversa de uma função derivável f . 6 A derivada da função inversa Seja f : I → R uma função derivável e crescente ou decrescente em um intervalo não trivial I . Se f 0 (x) 6= 0 para todo ∈ I então f −1 é derivável em f (I) e 0 1 f −1 (f (x)) = 0 f (x) Unidade 12 Teorema 7 Teorema da função inversa A demonstração do teorema encontra-se no link a seguir. + Para Saber Mais - Demonstração do Teorema 7 - Clique para ler Vamos retomar a função y = 0 f (x) = 2x + 1 x−1 0 = 2x+1 x−1 do exemplo 6. A derivada de f é: Exemplo 8 2 · (x − 1) − (2x + 1) · 1 −3 = . 2 (x − 1) (x − 1)2 y+1 Vimos que a função inversa é a função g(y) = y−2 , denida em R \ {2}, cuja derivada é: 0 y+1 −3 1 · (y − 2) − (y + 1) · 1 0 g (y) = = . = 2 y−2 (y − 2) (y − 2)2 Substituindo y = 2x+1 x−1 g 0 (y) = obtemos: −3 2x+1 x−1 2 = −2 −3 9 (x−1)2 = 1 −3 (x−1)2 = 1 f 0 (x) , 0 o que verica a relação entre (f −1 ) (y) e f 0 (x) do teorema. No exemplo anterior havíamos obtido a expressão de f −1 . No entanto, a grande vantagem do Teorema 7 é que, além de prova a derivabilidade de f −1 , permite calcular esta derivada sem necessariamente conhecer f −1 . √ 0 Sabemos que ( x) = 2√1 x . Vamos chegar a esta mesma fórmula usando a derivada da função inversa. √ A função g(y) = y denida para y > 0 é a inversa de f (x) = x2 , pois √ g (f (x)) = g(x2 ) = x2 = x, para x > 0. Considerando que f (x) = x2 é 7 Exemplo 9 Unidade 12 Derivada da função inversa crescente no intervalo (0, ∞) e usando o teorema da função inversa, temos √ ( y)0 = g 0 (y) = 1 f 0 (x) = 1 1 = √ 2x 2 y Vamos agora usar o teorema da função inversa para provar algo novo: a derivada da função potência xn para expoentes fracionários. Exemplo 10 √ Seja n inteiro positivo, n ≥ 2. A função g(x) = n x está denida em (0, ∞) para n par e em R para n ímpar. A função g é a inversa de f (x) = xn , denida em (0, ∞) para n par e em R para n ímpar, e crescente no seu domínio. Logo, para x no domínio de f e x 6= 0, g 0 (y) = Portanto, g(x) = Exemplo 11 1 f 0 (x) √ n = 1 = nxn−1 y 1 n 1 n−1 1 1 1− 1 n−1 = y n = y n . n n x então g 0 (x) = n1 x1− n . 1 Seja f : (0, ∞) → R denida por f (x) = xn , em que n é um número racional. Vamos provar que f é derivável e f 0 (x) = nxn−1 . Seja n = pq , com p e q inteiros positivos. Usando o resultado do exemplo anterior e a regra da cadeia: 1 p−1 1 0 p 0 1 p 0 = p xq f 0 (x) = x q = x q · xq 1 p−1 1 1 1 p p−1 p p = p xq · x q −1 = x q + q −1 = x q −1 q q q 8 A derivada da função inversa Exercícios Para cada função a seguir, determine um domínio para a função f no qual f seja invertível e tal que este domínio não possa ser estendido. 1. f (x) = x2 + 2 2. f (x) = x3 3. f (x) = 4. f (x) = 5. f (x) = 6. f (x) = 1 x √ x √ 5 x 1 x2 Para cada uma das funções abaixo, determine se satisfazem as condições do teorema da função inversa e, caso satisfaçam, aplique o teorema para determinar a derivada da inversa no ponto x0 dado. √ 7. f (x) = x − 1, denida em I = (1, ∞), x0 = 2. 8. f (x) = 1 , x−1 denida em I = (1, ∞), x0 = 2. Assumindo que as hipóteses do teorema da função inversa se vericam, calcule 0 o valor de (f −1 ) (y) dado o seguinte: 9. 10. y = 2, f (1) = 2 e f 0 (1) = 3. y = 21 , f π6 = 12 e f 0 π6 = √ 3 . 2 9 Unidade 12 Unidade 12 Funções trigonométricas inversas 12.2 Funções trigonométricas inversas Nesta seção iremos estudar a derivabilidade das funções trigonométricas inversas: arcsen , arccos e arctan. Como as funções seno, cosseno e tangente são funções periódicas, para cada valor y na imagem, há innitos pontos no domínio que têm imagem y . Portanto, para cada uma destas funções teremos que restringir o domínio de forma a obter uma função injetora. Iniciando pela função seno, sua imagem é o intervalo [−1, 1]. Podemos restringir o domínio ao intervalo − π2 , π2 . A função sen : − π2 , π2 → [−1, 1] é uma função bijetora, contínua, e crescente no seu domínio. f (x) = sen x 1 − π2 π 2 −1 Figura 12.6: Gráco de sen : − π2 , π2 → [−1, 1] A função sen : − π2 , π2 → [−1, 1] possui inversa, chamada função arco seno arcsen : [−1, 1] → − π2 , π2 , denida por y = arcsen x ⇐⇒ x = sen y . Pelo Teorema 5, a função arcsen é crescente e contínua no intervalo [−1, 1]. Seu gráco pode ser observado na gura 12.7. Usaremos agora o teorema da função inversa para estabelecer a derivabilidade da função arco seno. Proposição 12 Derivada do arco seno A função arco seno é derivável em (−1, 1) e sua derivada é ( arcsen )0 (x) = √ 10 1 . 1 − x2 A derivada da função inversa Unidade 12 π 2 f (x) = arcsen x −1 1 − π2 Figura 12.7: Gráco de arcsen : [−1, 1] → − π2 , π2 Seja f (x) = sen : − π2 , π2 → [−1, 1]. Podemos observar na Figura 12.6 que f (x) = sen x é crescente no intervalo − π2 , π2 . Pelo Teorema da função inversa, f −1 é derivável em (−1, 1) e 0 f −1 (y) = 1 f 0 (x) = Demonstração 1 . cos x Como y = sen x e sen 2 x + cos2 x = 1, segue que p √ cos2 x = 1 − sen 2 x =⇒ cos x = 1 − sen 2 x = 1 − y 2 . Portanto, 0 1 f −1 (y) = p . 1 − y2 Sendo f −1 (x) = arcsen x, segue o resultado. √ √ Encontre a derivada da função f (x) = arcsen (x2 −1) para x ∈ (− 2, 2). Teremos que usar a derivada do arco seno e a regra da cadeia. Seja g(x) = √ √ 2 x − 1 e h(x) = arcsen x. Temos que g − 2, 2 = (−1, 1) está contido no domínio de h. Como g e h são deriváveis em seus domínios, então f = h ◦ g é √ √ derivável em (− 2, 2) e vale que: 2x 1 f 0 (x) = h0 (g(x)) · g 0 (x) = p · (2x) = √ 2 2 2x − x2 1 − (x − 1) 11 Exemplo 13 Unidade 12 Funções trigonométricas inversas Passemos agora para a função arco cosseno. A imagem da função cosseno é o intervalo [−1, 1]. Se restringirmos o domínio da função cosseno ao intervalo [0, π], obtemos a função bijetora cos : [0, π] → [−1, 1] que é contínua e decrescente em todo seu domínio. f (x) = cos x 1 π π 2 −1 Figura 12.8: Gráco de cos : [0, π] → [−1, 1] A função cos : [0, π] → [−1, 1] possui inversa, chamada função arco cosseno arccos : [−1, 1] → [0, π], denida por y = arccos x ⇐⇒ x = cos y . Pelo Teorema 5, a função arccos é decrescente e contínua no intervalo [−1, 1]. Seu gráco pode ser observado na gura 12.9. π f (x) = arccos x b π 2 1 −1 Figura 12.9: Gráco de arccos : [−1, 1] → [0, π] Usaremos agora o teorema da função inversa para estabelecer a derivabilidade da função arco cosseno. 12 A derivada da função inversa A função arco cosseno é derivável em (−1, 1) e sua derivada é 1 . (arccos)0 (x) = − √ 1 − x2 Seja f (x) = cos : [0, π] → [−1, 1]. Como podemos observar no gráco da gura 12.8, f é decrescente em (0, π). Logo, pelo Teorema da função inversa, f −1 é derivável em (−1, 1) e 0 f −1 (y) = 1 f 0 (x) =− Unidade 12 Proposição 14 Derivada do arco cosseno Demonstração 1 . sen x Como y = cos x e sen 2 x + cos2 x = 1, segue que sen 2 x = 1 − cos2 x =⇒ sen x = Portanto, √ 1 − cos2 x = p 1 − y2 . 0 1 f −1 (y) = − p . 1 − y2 Sendo f −1 (x) = arccos x, segue o resultado. Estude a derivabilidade da função f (x) = arccos 1 − . Para começar, devemos determinar o domínio de f . Como o domínio do 2 arccos é [−1, 1] então a imagem da função 1− x4 deve estar contido em [−1, 1]. 2 Mas o gráco de g(x) = 1 − x4 é uma parábola com concavidade para baixo √ 2 e vértice no ponto (0, 1). Como 1 − x4 = −1 =⇒ x = ±2 2, então √ √ 2 x ∈ [−2 2, 2 2] =⇒ g(x) = 1 − x4 ∈ [−1, 1]. Veja o gráco da gura a seguir. 1 √ −2 2 b x2 4 g(x) = 1 − x2 /4 √ 2 2 b −1 13 Exemplo 15 Unidade 12 Funções trigonométricas inversas 2 Considerando a função f (x) = arccos 1 − x4 com domínio em √ √ [−2 2, 2 2], então f = h◦g para h(x) = arccos(x) e g(x) = g(x) = 1−x2 /4. √ √ Segue, pela regra da cadeia, que f é derivável em (−2 2, 2 2) e x x · (− ) = q 2 2 2 1 − g(x)2 2 1 − 1 − x4 2x x x = √ . = q = |x| √ 2 2 x4 x2 |x| 8 − x 2 8 − x 2 − 4 1 f 0 (x) = h0 (g(x)) · g 0 (x) = − p 2 16 Estudaremos a seguir a função arco tangente. A função tangente é periódica de período π e denida no conjunto R \ kπ ; k ∈ Z, k ímpar . Sua imagem é todo o conjunto R. Se restringir2 mos o domínio da função tangente ao intervalo − π2 , π2 , obtemos a função bijetora tan : − π2 , π2 → R que é contínua e crescente em todo seu domínio. f (x) = tan x π 2 − π2 Figura 12.10: Gráco de tan : − π2 , π2 → R A função tan : − π2 , π2 → R possui inversa, chamada função arco tangente arctan : R → − π2 , π2 , denida por y = arctan x ⇐⇒ x = tan y . 14 A derivada da função inversa Unidade 12 Pelo Teorema 5, a função arctan é crescente e contínua em R. Seu gráco pode ser observado na gura 12.11. π 2 f (x) = arctan x − π2 Figura 12.11: Gráco de arctan : R → − π2 , π2 Usaremos agora o teorema da função inversa para estabelecer a derivabilidade da função arco tangente. A função arco tangente arctan : R → − π2 , π2 é derivável em R e sua derivada é 1 . (arctan)0 (x) = 1 + x2 Proposição 16 Seja f (x) = tan : − π2 , π2 → R. Como podemos observar no gráco da gura 12.10, f é crescente no intervalo − π2 , π2 . Logo, pelo Teorema da função inversa, f −1 é derivável em R e Demonstração 0 f −1 (y) = 1 f 0 (x) = 1 1 cos2 x Como y = tan x e 1 + tan2 x = sec2 x = cos2 x = Portanto, = cos2 x . 1 , cos2 x segue que 1 1 = . 2 1 + tan x 1 + y2 0 f −1 (y) = 1 . 1 + y2 Sendo f −1 (x) = arctan x, segue o resultado. 15 Derivada do arco tangente Unidade 12 Exemplo 17 Funções trigonométricas inversas Encontre a derivada de f (x) = arctan x+1 para x ∈ R \ {1}. x−1 Como o domínio de h(x) = arctan x é R, não temos que nos preocupar x+1 . Então, para x 6= 1, temos com a imagem de g(x) = x−1 ! 0 1 x+1 0 0 0 f (x) = h (g(x)) g (x) = 2 x−1 1 + x+1 x−1 2 = (x − 1) 1 −2 2 =− 2 · =− 2 2 2 2 (x − 1) + (x + 1) (x − 1) 2x + 2 x +1 Como a função inversa de uma função f é representada por f −1 , alguns autores utilizam a notação sen −1 x para a função arcsen x, cos−1 x para arccos x e tan−1 x arctan x. É importante car atento porque assim a notação ca confusa. Repare: sen 2 x = ( sen x)2 , mas sen −1 x é a inversa de sen x e não ( sen x)−1 = sen1 x . As escolhas que zemos para os domínios de arcsen x, arccos x e arctan x são as escolhas usuais, mas não são únicas. Por exemplo, para a função arcsen x qualquer intervalo I tal que sen : I → [−1, 1] é bijetora seria uma escolha tão legítima quanto a escolha I = − π2 , π2 . Assim, o intervalo I = π2 , 3π seria 2 tão bom quanto. Encerramos aqui esta unidade. O estudo da derivabilidade das funções arco secante, arco cossecante e arco cotangente será deixado como exercício. 16 A derivada da função inversa 12.3 Exercícios Escolha domínios apropriados e dena as funções: 1. Arco secante y = arcsec x. 2. Arco cossecante y = arccosec x. 3. Arco cotangente y = arccotan x. Prove as seguintes relações: π 2 − arcsen x 4. arccos x = 5. arccosec x = π 2 − arctan x 6. arccosec x = π 2 − arcsec x 7. arcsen (−x) = − arcsen x 8. arccos(−x) = π − arccos x 9. arctan(−x) = − arctan x 10. arccos(1/x) = arcsec x 11. arcsen (1/x) = arccosec x 12. arctan(1/x) = π2 − arctan x = arccotan x, se x > 0 Usando o Teorema da função inversa, mostre que: 1 0 13. ( arccotan x) (x) = − para todo x ∈ R. 1 + x2 1 0 √ para todo x ∈ (−∞, −1) ∪ (1, ∞). 14. ( arcsec x) (x) = |x| x2 − 1 15. ( arccosec x)0 (x) = − 1 √ para todo x ∈ (−∞, −1) ∪ (1, ∞). |x| x2 − 1 Para cada uma das funções abaixo, determine seu domínio, os pontos onde é derivável e sua derivada. 1 16. f (x) = arcsen x 17. f (x) = arccos(x2 − 1) 18. f (x) = arccos( sen x) √ f (x) = arcsen x2 − x + 2 arccos x2 f (x) = x−1 19. 20. 17 Unidade 12 Unidade 12 Textos Complementares 12.4 Para Saber Mais Demonstração Textos Complementares Demonstração do Teorema 5 Demonstraremos os três itens do Teorema para uma função f crescente. A prova para uma função decrescente é inteiramente análoga. Comecemos provando (i). Como a função f : I → f (I) é crescente, então é injetora e, como o contradomínio é a imagem f (I), é bijetora. Toda função bijetora é invertível, logo f tem inversa f −1 . Para provar (ii), sejam y1 , y2 ∈ f (I) com y1 < y2 . Sejam x1 , x2 ∈ I tais que y1 = f (x1 ) e y2 = f (x2 ). Então: y1 < y2 =⇒ f (x1 ) < f (x2 ) =⇒ x1 < x2 , pois f é crescente. Mas x1 = f −1 (y1 ) e x2 = f −1 (y2 ), logo y1 < y2 =⇒ f −1 (y1 ) < f −1 (y2 ) , o que mostra que f −1 é uma função crescente. Observe que até aqui não usamos a continuidade de f . Agora a prova de (iii). Seja y ∈ f (I) e seja uma sequência (yn ) ⊂ f (I) tal que yn → y . Para provar a continuidade de f −1 basta mostrar que f −1 (yn ) → f −1 (y). Dado > 0, sejam r, s ∈ I tais que f −1 (y) − < r < f −1 (y) < s < f −1 (y) + . Se f −1 (y) for um extremo de I , não haverá r ou s. Estes casos devem ser analisados separadamente, mas a análise é análoga a que é feita aqui. Como f é crescente, f (r) < f f −1 (y) = y < f (s) . Como yn → y , existe n0 ∈ N tal que para todo n ≥ n0 vale f (r) < yn < f (s). Usando o fato de que se f é crescente então f −1 é crescente (provado no item anterior), temos f −1 (f (r)) < f −1 (yn ) < f −1 (f (s)) =⇒ r < f −1 (yn ) < s =⇒ f −1 (y) − < r < f −1 (yn ) < s < f −1 (y) + . 18 A derivada da função inversa Portanto, |f −1 (yn ) − f −1 (y)| < o que conclui a demonstração. 19 Unidade 12 Unidade 12 Para Saber Mais Demonstração Textos Complementares Demonstração do Teorema 7 Seja x ∈ I e seja y = f (x) ∈ f (I). Seja w 6= 0 tal que y + w ∈ f (I). Então f −1 (y + w) ∈ I . Seja h = f −1 (y + w) − x, logo f −1 (y + w) = x + h e y + w = f (x + h). Então (x + h) − x h h f −1 (y + w) − f −1 (y) = = = = w w w f (x + h) − y 1 f (x+h)−f (x) h Como f é crescente ou decrescente e contínua por ser derivável, pelo Teorema 5, f −1 é contínua, logo lim h = lim ((x + h) − x)) = lim f −1 (y + w) − f −1 (y) = 0 . w→0 w→0 w→0 Por outro lado, lim w = lim ((y + w) − y) = lim (f (x + h) − f (x)) = 0 . h→0 h→0 h→0 Assim, h → 0 se, e somente se, w → 0. Aplicando a propriedade do quociente para limites, obtemos: f −1 (y + w) − f (y) = lim w→0 h→0 w lim 1 f (x+h)−f (x) h = 1 (x) limh→0 f (x+h)−f h o que mostra que f 0 é derivável em y = f (x) e 0 f −1 (y) = 20 1 f 0 (x) . = 1 f 0 (x) ,