RISCOS DE EXPOSIÇÃO AOS AGENTES FÍSICOS Marcos Barbosa Horta – Engenheiro de Segurança FRIO TEMPERATURAS EXTREMAS FRIO => temperaturas abaixo de 15ºC Cada um tem uma definição para a expressão ‘sentir frio’. A expressão é tão usada que pouco notamos o que ela realmente significa... Metade da Terra e 1/10 dos oceanos são cobertos por neve e gelo durante boa parte do ano. O frio extremo pode ser encontrado em basicamente três lugares: nas grandes altitudes, nos pólos e no fundo do mar. Mas nem precisamos ir tão longe para sabermos que o frio mata. O corpo humano não foi feito para agüentar temperaturas muito baixas, apesar de alguns povos viverem em lugares muito frios, como a Sibéria, que enfrenta temperaturas de – 60 °C no inverno, e o norte do Canadá. A temperatura mais baixa registrada no nosso planeta foi de – 89 °C, na estação de pesquisa russa de Vostok, situada no Continente Antártico, em 1983. Nas montanhas, para cada 100 m que subimos a temperatura cai 1 °C. O cume do Everest costuma estar envolto por uma temperatura de – 40°C, além dos ventos, que reduzem consideravelmente este número. Isto chama-se ‘fator vento’ e existe uma fórmula que permite achar a temperatura ‘real’ a que estamos expostos, quando enfrentamos baixas temperaturas com ventos gélidos. O vento aumenta a taxa de perda de calor porque troca o ar aquecido em volta da gente por ar frio e nos faz perder todo o calor que acabamos de produzir. Isto significa que, em temperaturas muito baixas acrescidas de vento, podemos congelar partes expostas do nosso corpo em questão de segundos. Assim, vale dizer que o ser humano suporta bem o frio se ele estiver bem alimentado, bem agasalhado e tiver um abrigo (como casa, cabana ou mesmo barraca). É a comida que vai fazê-lo produzir calor e, assim, se aquecer em condições extremas. É o agasalho adequado que não vai deixar este calor produzido ir embora. E é um abrigo que irá protegê-lo das piores condições e, principalmente, do vento enregelante. Condições extremas como a escalada de uma montanha com altitude superior a 5.000 metros consome, em média, 6.000 calorias por dia. O que significa que carregar comida suficiente para vários dias é muito difícil, ou seja, é comum perder peso em uma expedição e, assim, se expor aos efeitos do frio com mais facilidade. O resultado disso é a possibilidade de sofrer congelamento nas extremidades ou mesmo morrer. E quanto agüentamos? Isso vai depender do tempo que ficarmos exposto ao frio. Meros 25°C é a temperatura que os seres humanos nus começam a sentir frio, por exemplo. Se o ar estiver parado a – 29°C e a pessoa estiver bem agasalhada, ela corre poucos riscos. "Acrescente" um vento de 40 km/h e teremos uma temperatura equivalente a – 66°C, o que o faz congelar as partes expostas e/ou as extremidades do nosso corpo em menos de 30 segundos! E por quê as extremidades sofrem tanto? É mera questão de sobrevivência... O corpo ‘escolhe’ o que vale mais a pena salvar, ou seja, ele concentra o envio de sangue e, consequentemente, de calor nas partes vitais (cabeça e tronco), sacrificando as extremidades. Por isso se diz que, quando temos frio nas mãos, devemos proteger a cabeça (e o pescoço)...! É por ali que se perde até 25% do calor produzido pelo corpo. Se a neve é bonita e legal para nós, brasileiros, que só a temos quando escolhemos passar férias em lugares nevados e frios (além de poucos lugares no sul do País), ela pode ser um incômodo para quem vive em lugares extremos. A – 55°C, aviões não decolam, caminhões e carros não andam pois o combustível e os radiadores congelam, baterias não ligam, tecidos sintéticos rasgam, linhas de transmissão elétrica de metal se retesam e rompem, cortando o fornecimento de energia elétrica, e nem mesmo um termômetro a mercúrio serve para medir a temperatura, pois ele congela a – 39°C. O termômetro tem de ser a álcool. Morrer de frio. Esta expressão é bastante comum em nossa língua, mas pode corresponder 100% à realidade. A nossa temperatura corporal é de 36-38°C. A hipotermia começa a ser definida quando a temperatura basal cai a cerca de 35°C. Hipotermia branda, apesar de não causar a morte, é bastante perigosa e pode ser de difícil detecção, já causando uma série de distúrbios na pessoa, como calafrios, destreza manual reduzida, cansaço, afeta o julgamento e a pessoa pode ficar propensa a discutir, além de não cooperar com a sua própria recuperação. A hipotermia moderada vem associada a calafrios violentos, a coordenação muscular e as habilidades mentais são afetadas e é aqui que a pessoa pode simplesmente ‘se deixar morrer’, pois perde a capacidade de discernimento. Perdemos a consciência quando nosso corpo chega a 30°C. Na hipotermia profunda, tanto a respiração quanto os batimentos cardíacos podem acontecer ao ritmo de apenas um ou dois por minuto. O coração pára quando a temperatura chega a 20°C. RISCOS DE EXPOSIÇÃO AOS AGENTES FÍSICOS Marcos Barbosa Horta – Engenheiro de Segurança FRIO OCUPACIONAL A exposição ocupacional ao frio intenso pode constituir problema sério implicando em diversos inconvenientes que afetarão a saúde, o conforto e a eficiência do trabalhador. Temperaturas extremas – Fontes Alguns segmentos necessitam de baixas temperaturas para o desempenho de suas atividades afins: Frigoríficos Indústria alimentícia Industria de pescado Armazenagem de alimentos Câmaras frigoríficas Câmaras frias e resfriadas Fabricação de gelo e sorvete RISCOS DE EXPOSIÇÃO AOS AGENTES FÍSICOS Marcos Barbosa Horta – Engenheiro de Segurança EFEITOS DO FRIO NO ORGANISMO HUMANO A baixa temperatura corporal resulta de um balanço negativo entre a produção e a perda de calor; O fluxo sangüíneo é reduzido em proporção direta com a queda da temperatura; Temperatura corpórea < 35ºC => - cai a freqüência do pulso; - diminuição global de todas as atividades fisiológicas; - queda da pressão arterial; - queda da taxa metabólica; - a produção de calor é insuficiente para manter o equilíbrio; - hipotermia (diminuição da temperatura interna do corpo) RISCOS DE EXPOSIÇÃO AOS AGENTES FÍSICOS Marcos Barbosa Horta – Engenheiro de Segurança Os mecanismos fisiológicos mais importantes em relação ao frio são os seguintes: Redução do fluxo sanguíneo superficial e o incremento da atividade física (tremor). RISCOS DE EXPOSIÇÃO AOS AGENTES FÍSICOS Marcos Barbosa Horta – Engenheiro de Segurança Nas baixas temperaturas o corpo humano apresenta alterações na respiração e na frequência cardíaca, palidez da pele, resfriamento das extremidades (que, muitas vezes, ficam roxas), dificuldade de movimentação muscular, ressecamento do nariz e rachaduras nos lábios. Por sermos animais endotérmicos, nosso corpo tende a manter uma temperatura relativamente constante (em torno dos 36,5 graus Celsius). Nesse caso, o que aconteceria se alguém decidisse tomar sol de biquíni numa praia da Antártica? Que temperaturas nosso corpo pode suportar? A mais baixa é determinada pelo tempo de exposição, pela alimentação, pelas condições climáticas e, claro, pela vestimenta. Em geral uma pessoa nua começa a sentir frio dos 25 graus Celsius para baixo. Usando roupas leves, um adulto suporta 5 graus negativos. De qualquer forma, o corpo aumenta o metabolismo para produzir mais calor e reduz a circulação periférica –por isso a palidez. A ingestão de bebidas alcoólicas para esquentar pode ser examinada: ela aquece por produzir certa ardência, mas provoca um aumento da circulação periférica (aquele calorzinho). RISCOS DE EXPOSIÇÃO AOS AGENTES FÍSICOS Marcos Barbosa Horta – Engenheiro de Segurança Temperatura do núcleo do corpo < 29ºC => - O hipotálamo perde a capacidade termoreguladora; - Sonolência; - Coma; - Morte. torporoso: que não responde a estímulos RISCOS DE EXPOSIÇÃO AOS AGENTES FÍSICOS Marcos Barbosa Horta – Engenheiro de Segurança Medidas de Proteção contra o Frio Regime de trabalho – recomendam-se períodos de trabalho intercalados por períodos de descanso para regime de trabalho; Exames médicos admissionais – excluir portadores de diabetes, epiléticos, fumantes, alcoólatras, alérgicos ao frio e portadores de problemas articulares; Exames médicos periódicos – atentar para o diagnóstico precoce de vasculopatias periféricas, ulcerações térmicas, dores articulares, perda de sensibilidade tátil e repetidas infecções das vias aéreas superiores (faringites, rinites, sinusites, amigdalites) Vestimentas adequadas – japona e calça térmica, luvas térmicas, botas térmicas, meias de lã, balaclava. RISCOS DE EXPOSIÇÃO AOS AGENTES FÍSICOS Marcos Barbosa Horta – Engenheiro de Segurança Educação e Treinamento – conscientizar o trabalhador quanto a necessidade do uso de vestimentas adequadas. Quando na sala de repouso, manter-se aquecido, seco e em movimento, realizando exercícios com os braços, pernas, mãos, dedos e pés, para ativar a circulação periférica. Evitar exercícios violentos, como jogos coletivos, para não haver dispersão de calor excessivo. RISCOS DE EXPOSIÇÃO AOS AGENTES FÍSICOS Marcos Barbosa Horta – Engenheiro de Segurança • Roupa de proteção contra o frio, considerar os seguintes fatores: a roupa deve proporcionar isolamento contra o frio, o vento e a umidade; deve permitir a transpiração e dissipação do excesso de calor gerado durante o trabalho; deve permitir a realização cômoda do trabalho (considerar o peso e o volume da roupa). RISCOS DE EXPOSIÇÃO AOS AGENTES FÍSICOS Marcos Barbosa Horta – Engenheiro de Segurança CRITÉRIOS PREVENTIVOS BÁSICOS • Adotar difusores nos sistemas de distribuição do ar frio de modo a impedir ou minimizar as correntes diretas de ar sobre as pessoas. • Isolar os processos, os equipamentos ou suas partes frias, para evitar o contato. • Reduzir ou eliminar as tarefas de mera vigilância que exijam pouca atividade física. • Evitar o contato direto com equipamentos ou com suas partes frias por meio de isolamento. • Limitar a duração da exposição aumentando a freqüência e duração dos intervalos de descanso e recuperação, ou permitindo a autolimitação da exposição. • Realizar programas de treinamento dos trabalhadores para o reconhecimento precoce dos sintomas da exposição inadequada ao frio bem como quanto aos primeiros socorros necessários. RISCOS DE EXPOSIÇÃO AOS AGENTES FÍSICOS Marcos Barbosa Horta – Engenheiro de Segurança balaclava RISCOS DE EXPOSIÇÃO AOS AGENTES FÍSICOS Marcos Barbosa Horta – Engenheiro de Segurança Calça térmica RISCOS DE EXPOSIÇÃO AOS AGENTES FÍSICOS Marcos Barbosa Horta – Engenheiro de Segurança Japona térmica Tempo de Exposição ao Frio – NR 29 Portaria 3214 QUADRO 1 Faixa de Temperatura de Bulbo Seco ( ºC) Máxima exposição diária permissível para pessoas adequadamente vestidas para frio 15,0 a – 17,9 12,0 a -17,9 10,0 a -17,9 Tempo máximo de 6 horas e 40 minutos sendo 4 períodos de 1 hora 40 minutos alternados com 20 minutos de repouso e recuperação térmica fora do ambiente frio. - 18,9 a – 33,9 Tempo máximo de 4 horas, alternando 1 hora de trabalho e 1 hora de descanso fora do ambiente frio. - 34,0 a - 56,9 Tempo máximo de 1 hora em 2 períodos de 30 minutos separados 4 horas para recuperação. - 57,0 a – 73,0 Tempo máximo: 5 minutos Abaixo de – 73,0 Não é permitida exposição ao ambiente frio seja qual for a vestimenta utilizada. RISCOS DE EXPOSIÇÃO AOS AGENTES FÍSICOS Marcos Barbosa Horta – Engenheiro de Segurança Mensagem Namastê / Iogustê