MESTRADO
ESTUDOS DE CULTURA CONTEMPORÂNEA
A CRÍTICA NIETZSCHIANA AOS VALORES METAFÍSICOS
GABRIEL PEREIRA FARIA
Analisaremos o percurso de Nietzsche concernente às críticas proferidas à metafísica dogmática. Ao
apontar os problemas da metafísica o autor esboça como contrapartida uma possível vida imanente
com a sua teoria das forças. A metafísica é dogmática porque apresenta conceitos como “coisa em si”,
“espírito puro”, pois estes são todos artigos de fé transpondo a realidade efetiva, o mundo que é
chamado de aparente pelos filósofos idealistas. A metafísica tem como característica classificar este
mundo como mera representação de outro mundo que é verdadeiro, essencial, imutável e eterno; além
de ter como mote a postulação de uma substância essencial. Nietzsche apresenta três focos da
metafísica como representação deste mundo que corroboraram para a perpetuação dos valores na
sociedade. A primeira é a forma de representação do filósofo, este mundo é a representação de um
“mundo-razão” onde as funções lógicas classificam e conceitualiza o mundo aparente. A segunda é a
representação religiosa ou do homem religioso, pois inventa o “mundo divino” e deste provém o mundo
aparente antinatural. A terceira é a representação moral ou homem moral, este inventa um “mundo
livre”, “bom, perfeito, justo, santo”; algo que todos devem seguir por ter uma alma virtuosa. A
metafísica nas três instâncias tem o mesmo fim, ainda que por caminhos diferentes: negar esta vida, o
corpo, o natural em nome de outro tido por verdadeiro, situado no além; ou por conceitos subjetivos,
no caso do filósofo. Ao dogmatismo filosófico o autor chamará de não-ser, ao religioso definirá como
não viver e, no caso da moral, de não querer viver. O autor combate a tradição metafísica por esta
duplicação de mundo instaurando valores, concepções que visam sempre à unidade das coisas. Na
tentativa de explicar o mundo e tudo o que nele existe, o homem, a vida, Nietzsche lança mão da
concepção de que o mundo é múltiplo, não há uma unidade ou uma ação geradora para que as coisas
aconteçam e para tal traz à discussão a sua teoria das forças, a vontade de potência. Assim o autor opõe
ao “ser” como fundamento o devir perpétuo; as coisas são plurais em processo e relação. Lança-se
critica aos conceitos e noções fundantes tais como a crença no valor absoluto da verdade. Nietzsche
rompe com a metafísica clássica e moderna e abre todo um campo de possibilidades para o pensamento
pós-metafísico que se consolida, a partir dele, no contemporâneo. Os pensadores contemporâneos vão
entender, a partir de Nietzsche, que existe uma ontologia, mas não como explicação causal da
realidade, mas sim como uma descrição das estruturas do mundo, convertendo este mesmo mundo
numa realidade puramente discursiva do sujeito do conhecimento. Logo, as bases do contemporâneo
como a concepção de verdade não é um valor absoluto tendo o ser como fundamento e causa da
verdade, mas como evento, acontecimento da historicidade dos desvelamentos e aberturas.
Convencido estou, como postula Vattimo que se instaura uma razão narrativa, ou seja, uma ontologia
hermenêutica.
PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO
VI MOSTRA DA PÓS-GRADUAÇÃO/2014
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