Projeto Pedagógico do Curso de Graduação em Medicina da Faculdade de Medicina de Botucatu Princípios As instituições de ensino superior têm sido estimuladas a transformarem-se na direção de um ensino que valorize a eqüidade e a qualidade da assistência e a eficiência e relevância do trabalho em saúde. No caso específico da educação médica, a mudança significa formar médicos com habilidades adequadas às exigências da carreira profissional, a serem exercidas com responsabilidade e curiosidade científica, e que, lhes permita recuperar a dimensão essencial do cuidado: a relação entre humanos. Considerando os processos de mudança no ensino em saúde, a demanda por novas formas de trabalhar o conhecimento no ensino superior, a política do Ministério da Educação (MEC), com a implantação das novas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina, identificam-se fatores que favoreçam a continuidade e melhoria do ensino médico, de qualidade, da Faculdade de Medicina de Botucatu. O curso de graduação em Medicina deve fornecer ao estudante fundamentos para firmar uma base sólida, sobre o qual o aluno possa construir novos conhecimentos, garantindo-se formação de médicos com habilidades e competências para lidar com os problemas de saúde prevalentes e identificar e responder às necessidades de saúde do indivíduo, da família e da comunidade. Faz-se necessário ensinar o aluno a ser independente em sua aprendizagem, ajudá-lo a buscar conhecimento científico sólido, preparando-o para o exercício profissional que integra técnicas científicas com compromisso, respeito e responsabilidade social pelo paciente e sua família, atento à melhor utilização dos recursos, com capacidade de identificar, pensar e analisar mecanismos promotores de saúde. A prática pedagógica de nossa instituição, está aberta a novas proposições e busca valorizar e integrar experiências bem sucedidas, que ocorreram e ocorrem ao longo de 40 anos de história de ensino de graduação. Transformar a educação, em medicina, implica em mudar relações de poder estabelecidas na escola médica. Não é possível imprimir a mudança sem enfrentar conflitos inerentes a esta questão. Abrir a escola à discussão curricular, rever o papel do professor tido como único detentor do conhecimento, implica em entrar em contato com questões muito cristalizadas na Instituição. Destacam-se os seguintes princípios norteadores do atual projeto pedagógico: Formação humanística, ética e capacitação para atuar no processo saúde-doença nos diferentes níveis de atenção, frente à realidade do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil e as necessidades de saúde da população; 1 Priorização da formação na integralidade da assistência, com senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania; Valorização de outros campos de saberes: saúde mental, humanismo, comunicação, economia da saúde, saúde pública, por meio do processo ensino-aprendizagem que privilegie o ensino da anamnese ampliada, com abordagem psíquica e contexto relacional e familiar, reforçando o compromisso com o sujeito e seu coletivo; Fortalecimento do aprendizado na realidade, problematizando contradições entre a prática de atenção à saúde centrada no modelo tradicional de assistência, com foco nas doenças, e, o processo de trabalho comprometido com a solução dos problemas de saúde, a prevenção de doenças e a promoção da qualidade de vida da população, levando a saúde mais perto da família, no contexto do SUS; Construção de autonomia e postura investigadora, atualizada e crítica, tendo em vista a medicina como uma atividade de aprendizagem permanente; Articulação e integração efetiva entre as áreas clínicas, básicas e a saúde coletiva; Fortalecimento do trabalho em equipe multiprofissional, na perspectiva de garantir a necessária articulação de saberes para uma assistência resolutiva e de qualidade . O Projeto Pedagógico do Curso de Medicina, reformulado em 1996 e implantado em 1997, (grade curricular anexa) tem passado por ampla atualização e ajuste, visando adequar-se às Diretrizes Curriculares e às demandas institucionais. OBJETIVOS GERAIS A formação do médico tem por objetivo dotar o profissional dos conhecimentos requeridos para o exercício das seguintes competências e habilidades gerais: estar apto a desenvolver ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação em saúde, tanto em nível individual quanto coletivo; realizar seus serviços dentro dos mais altos padrões de qualidade e dos princípios da ética/bioética, tendo em conta que a responsabilidade da atenção à saúde não se encerra com o ato técnico, mas, sim, com a resolução do problema de saúde; estar fundamentado na capacidade de tomar decisões visando o uso apropriado, eficácia e custo-efetividade, da força de trabalho, de medicamentos, de equipamentos e de práticas. Para este fim, o médico deve ter competências e habilidades para avaliar, sistematizar e decidir as condutas mais adequadas, baseadas em evidências científicas; ser acessível, sabendo escutar e entender o paciente e sua família, mantendo a confidencialidade das informações a ele confiadas, na interação com outros profissionais de saúde e o público em geral; 2 fazer o gerenciamento e administração tanto da força de trabalho, dos recursos físicos e materiais e de informação, da mesma forma que deve estar apto a ser empreendedor, gestor , empregador ou liderança na equipe de saúde; estar atento à melhor utilização dos recursos e à necessidade de educação permanente. PERFIL DO PROFISSIONAL Na reforma de 1996, redefiniu-se o perfil profissional do médico, com processo amplo de discussão na comunidade acadêmica. Propôs-se, assim, o perfil do médico com sólida formação geral, adequado às necessidades de saúde da população, à política de saúde do SUS vigente no país, ao mercado de trabalho médico, ao rápido progresso científico e tecnológico, e formado dentro de princípios éticos e humanísticos. O médico a ser formado pela Faculdade de Medicina de Botucatu deverá levar em consideração, entre outros, os seguintes princípios: I. as necessidades de saúde da população; II. o modelo assistencial prevalente no país e os princípios constitucionais referentes à saúde; III. o mercado de trabalho; IV. o rápido progresso científico e tecnológico; V. os valores éticos e humanísticos; VI. assistir o doente. Seguindo os princípios definiram-se as seguintes competências e habilidades específicas: curiosidade científica e interesse permanente pela aprendizagem, com iniciativa na busca do conhecimento; espírito crítico e consciência da transitoriedade de teorias e técnicas, assumindo a necessidade da educação continuada ao longo de toda a vida profissional; domínio dos conhecimentos básicos necessários à compreensão dos processos relacionados à prática médica; conhecimento dos recursos semiológicos e terapêuticos existentes na medicina de seu tempo, tendo, acompanhado a utilização dos recursos habituais de nível primário e secundário e, dentro do possível, de nível terciário; saber realizar procedimentos semiológicos e terapêuticos básicos, definidos pelo Conselho de Curso, ouvidos os departamentos; domínio da fisiopatologia e dos procedimentos diagnósticos e terapêuticos que o capacitem a enfrentar as principais causas de morbi-mortalidade no Estado e País, a saber: doenças crônicas degenerativas; 3 neoplasias malignas; traumatismos em geral, incluindo acidentes de trânsito e de trabalho, violência urbana e suicídio; doenças mentais e psicossociais, incluindo a dependência a drogas; doenças relacionadas com o trabalho; doenças infecciosas e parasitárias, incluindo infecções hospitalares; doenças nutricionais; saúde da mulher e planejamento familiar; doenças resultantes de agressões ao meio ambiente; doenças iatrogênicas. ter conhecimento crítico das indicações, contra-indicações, limitações, confiabilidade e relação custo/benefício dos procedimentos semiológicos e terapêuticos que utilizar; ter iniciativa criadora e senso de responsabilidade na busca de soluções para os problemas médico-assistenciais de sua competência; ter visão social dos problemas médicos; estar preparado e motivado para participar de programas que visem informar e educar a população no sentido de preservar a saúde e prevenir doenças, incluindo: prevenção de doenças associadas a fatores de risco, dieta, atividade física, higiene ambiental; transmissão de informações que permitam crítica e controle sobre o consumo de produtos alimentícios e medicamentos; transmissão de informações sobre planejamento familiar, tópicos especiais, como vacinações, doenças sexualmente transmissíveis e sobre efeito de drogas que induzem dependência; implantação de medidas à prevenção de acidentes de trabalho e de trânsito; proteção ao meio ambiente; saber trabalhar em equipe multidisciplinar, com maturidade para fazer e receber críticas construtivas; aceitar engajar-se nos processos decisórios que envolvam interesse da comunidade, garantindo a efetivação do princípio constitucional de "Saúde para Todos"; empenhar-se em obter a participação e maior autonomia dos pacientes e suas famílias nas decisões relacionadas à prevenção de doenças, manutenção e recuperação da saúde, respeitando-se a individualidade do sujeito; conhecer as principais características e lidar criticamente com a dinâmica do mercado de trabalho e com as políticas de saúde; ter ética e sensibilidade. Uma referência do perfil profissional do médico tem como base a realidade do Sistema Único de Saúde no Brasil (tanto em relação à formação de médicos para a rede de atenção, como um todo, nos diferentes níveis, como também para o Programa de Saúde da Família). 4 A sólida formação geral do médico foi buscada na ampliação do ensino nas grandes áreas e na integração dessas com disciplinas de conhecimento básico, ou, mesmo especializado. A realização dos momentos integradores busca, nesse sentido, com o estudo de problemas de saúde, a percepção da integralidade do ser humano e ainda a necessidade de visão interdisciplinar, na compreensão do processo saúde-doença. A valorização do ensino, com base no rápido progresso cientifico e tecnológico, tem sido realizada com a prática da medicina Baseada em Evidências e com utilização dos problemas (seja de papel ou concretos e da realidade), tanto no sentido de proporcionar ao estudante a necessidade de busca constante de novos conhecimentos, como no sentido do aprender a aprender. A formação dentro de princípios éticos e humanísticos foi buscada por meio da presença de temas de ética integrados a outras disciplinas, nos seis anos de graduação, e com o curso de Introdução à Medicina, ministrado ao primeiro ano de medicina, no qual se tem trabalhado a temática da identidade profissional. A implantação do Programa de Interação, Universidade, Serviços e Comunidade tem proporcionado aos alunos maior vivência na comunidade priorizando práticas pautadas em princípios éticos e humanísticos. As mudanças implementadas em1996 Embora o currículo atual contemple um excesso de conteúdos, organizados e ministrados, prioritariamente, em disciplinas autônomas, observa-se a presença de inovações que fogem a essa concepção, sendo necessário implementar a efetiva mudança. As principais mudanças, implantadas em1997, referiram-se a executar o projeto de integração disciplinar, da seguinte forma: o ensino permanece disciplinar, com momentos integradores, com a participação de todas as disciplinas do ano (série), com núcleos temáticos que possam abarcar os conteúdos que estão sendo ministrados em cada disciplina (temas transversais). Esta foi uma experiência com resultados favoráveis e, até o momento atual, ocorre duas vezes ao ano, por dez dias, no primeiro e segundo anos, na forma de ensino baseado em problemas. Várias disciplinas inovaram seu ensino: ensino da Obstetrícia, passou a ser ministrado, em parte, em hospital secundário de Botucatu, articulando o ensino com pesquisa diagnóstica, sobre condições do parto no Município e com propostas efetivas para redução da mortalidade materna, integrando, efetivamente, a Universidade com o Serviço de Saúde Municipal; disciplinas agruparam-se como matérias, buscando trabalhar com a metodologia da problematização; disciplinas do básico vem utilizando de metodologias inovadoras e com momentos de integração com o ensino profissionalizante; 5 disciplinas do internato integraram-se em estágios únicos, como é o caso das disciplinas de Cirurgia Torácica e de Pneumologia; a Saúde Coletiva III foi organizada por núcleos temáticos: Problemas em Saúde Pública; Nutrição em Saúde Pública e Planejamento em Saúde. O modelo de ensino centrou-se na problematização de situações vivenciadas na prática da Saúde Publica, em Centros de Saúde, Serviços e organizações de saúde; a Semiologia Pediátrica privilegiou a atenção integral à saúde da criança. O modelo de ensino centrou-se na aprendizagem baseada em problemas e no aprendizado prático da Semiologia Pediátrica, em diferentes cenários, enfatizando-se o ensino ambulatorial. Privilegiou-se o trabalho em pequenos grupos, com orientação docente. Ocorreu a criação da disciplina de Introdução ao Curso Médico, no início do primeiro ano, que vem trabalhando com os estudantes a identidade profissional e a criação da disciplina de Terapêutica Médica, que estimula adequar o uso racional de medicamentos e eliminar ações intervencionistas desnecessárias com práticas resolutivas . O ensino de semiologia passou a iniciar-se, precocemente, no segundo ano. Assim, pode-se observar que o currículo da FMB, implantado em 1997, apresenta desenho “misto”, no sentido de permanecer disciplinar, com o foco na atenção individual, no paciente, com momentos de diversificação de cenários de ensino, nos diferentes níveis de atenção, com abordagem por problemas de saúde que articulam o compromisso do cuidado do sujeito e seu coletivo e de integração disciplinar. O currículo é dividido em três ciclos: Ciclo básico (1a e 2a séries); Ciclo profissionalizante (3a e 4a séries); Internato (5a e 6a séries). Pode-se perceber que uma deficiência do ensino médico na FMB reside na excessiva e precoce fragmentação de conhecimentos, o que dificulta a formação de profissional com capacidade de abordagem voltada à integralidade do processo saúde e doença. Há necessidade de conscientização da comunidade acadêmica para reflexão crítica sobre a formação oferecida hoje pela nossa escola e a iniciativa de mudança. A análise do currículo atual da Faculdade de Medicina de Botucatu, com relação à seleção dos conteúdos que fundamentam a orientação teórica, nos remete à dicotomia entre o texto, aprovado na reforma de 1996, e o currículo efetivamente colocado em prática. Ocorreram dificuldades técnicas e de entendimento que dificultaram o processo. Mudanças recentes empreendidas no Projeto Pedagógico Buscando consolidar a qualidade do ensino contemplando a formação do médico geral, pretendida pela Instituição, esta tem mantido o compromisso de realizar as adequações que se fizerem necessárias no Projeto Pedagógico. A Faculdade entende que a mudança deva ocorrer dentro de dinâmica que exige um conjunto de ações coerentes e inter- 6 relacionadas em várias frentes: formação de professores, condições de trabalho, equipamentos e instalações, organização e funcionamento de novos cenários de ensino, integração do ensino de graduação médica ao Sistema Único de Saúde nos diferentes níveis de atenção, avaliação, serviços de apoio e outras demandas. Para isso, há necessidade de política clara de desenvolvimento curricular, sobre a qual a FMB se debruça no momento atual, optando por construção participativa da comunidade acadêmica. Há, portanto, necessidade de revisão curricular e aperfeiçoamento contínuo do Projeto Pedagógico. Assim, a FMB vem retomando, nos últimos anos, processo progressivo de mudanças. Observa-se em suas comissões, conselhos, departamentos e na opinião da maioria dos docentes o desejo e o compromisso de construir coletivamente essa mudança. Desde 2000, tem-se investido, sob a gerência da Diretoria da FMB, no desenvolvimento do Núcleo de Apoio Pedagógico (NAP) do Curso de Graduação em Medicina da FMB. O NAP tem como função propor políticas e modelos pedagógicos em pról do desenvolvimento da Docência e do Ensino de Graduação em Medicina da FMB. Dentre as metas propostas há quatro frentes de atuação: Desenvolvimento da Docência, Interação Comunitária, Interação Básico-Clínico e Avaliação. Este Núcleo têm apoiado com infra-estrutura, recursos humanos e materiais as iniciativas e necessidades para realizar as inovações pedagógicas da FMB. A partir de 2001, em consonância com as Diretrizes Curriculares dos Cursos de Graduação em Medicina e com o Programa de Incentivo às Mudanças das Escolas Médicas no Brasil (PROMED), proposto e financiado pelo Ministério da Saúde, o ensino médico da Faculdade de Medicina de Botucatu abriu-se a novo debate. Destaque-se aqui, que a FMB, em 2002, foi uma das 19 escolas médicas do Brasil selecionadas para investimento de projeto do Ministério da Saúde, com objetivo de inovar seu ensino, na perspectiva de maior integração ao desenvolvimento do SUS. A partir de 2003, o Ministério da Saúde, introduziu novo incremento ao processo de mudança da FMB, por meio de diretrizes de apoio a iniciativas inovadoras que se proponham a articular a rede de gestão e de serviços com as instituições formadoras de profissionais da área da saúde.Buscam-se mudanças nas práticas de formação para a integralidade da atenção à saúde da população e a educação permanente de trabalhadores para o Sistema Único de Saúde (SUS). Para desenvolver ensino que reveja, criticamente, o modelo centrado no hospital, e no ensino das doenças de maior complexidade, foi proposto o caminho da diversificação de cenários, abrindo-se o curso para formação na atenção primária e secundária. Entendemos que este desafio é difícil de ser enfrentado pois, além de envolver questões ideológicas presentes em nossa sociedade nos remete à própria visão hegemônica de desvalorização do médico geral e do próprio trabalho no SUS. 7 Algumas estratégias têm sido desenvolvidas no sentido de enfrentar e superar estas questões: oficinas para sensibilizar e dar credibilidade às práticas profissionais, com qualidade e resolutividade, fora do ambiente do H.C.; encontros com egressos para discussão sobre inserção no mercado de trabalho; oficinas para busca de objetivos comuns entre graduação e Residência Médica; oficinas para rediscussão e proposição do ensino de Semiologia, sob nova ótica, na perspectiva de reconhecer os limites da disciplina na atualidade e estrategicamente ensinar a Semiologia como encontro do estudante de medicina com o paciente/ indivíduo/família e a singularidade determinada pelo contexto biopsicossocial. Embora cada vez mais sensíveis às novas necessidades dos nossos estudantes e atentos à qualidade dos serviços a serem prestados à comunidade, os docentes têm dificuldade em diagnosticar suas próprias fragilidades e operar mudanças concretas e eficazes na prática com os alunos. Para que se promova uma nova forma de ensinar e aprender, tendo em vista: ensino em grupos menores (majoritariamente); ensino majoritariamente fundamentado na problematização da realidade; atividades estruturadas a partir das necessidades de saúde do SUS; integração disciplinar; ensino em ambientes diversificados - biblioteca, comunidade, laboratórios de simulação e uso intensivo de informática; avançar nas diversas formas de avaliação do estudante e do curso; Com apoio de recursos do PROMED, tem-se desenvolvimento ações e atividades listadas a seguir: atividades pedagógicas que priorizem a promoção da saúde da população. encontros entre os docentes da FMB, os profissionais da rede e a comunidade para que, em parceria, criem e providenciem espaços e condições para atividades que objetivem reunir dados sobre a realidade saúde/doença em nossa região. divulgação de experiências de mudança na educação médica que já venham acontecendo, unindo profissionais da escola, comunidade e centros de saúde, valorizando os resultados do trabalho e aqueles que os fazem. Implantação de instrumentos de avaliação formativa e somativa, abordando todos os aspectos da formação (competências, habilidades, conhecimentos, atitudes) e do curso com assessoria qualificada. utilização da avaliação como referência no balizamento das ações pedagógicas empreendidas e aprimoramento dos cursos e do processo ensino/aprendizagem. 8 analise periodicamente os instrumentos utilizados, de forma a verificar sua atualidade, eficácia e fidedignidade. avaliação das atividades pedagógicas realizadas, oportunizando reuniões regulares entre os profissionais de diferentes áreas para discussão do processo de mudança em andamento. É importante ressaltar que o PROMED veio potencializar discussão que já estava colocada como eixo central da agenda da instituição, para os próximos anos. Em função disso, ao lado das ações de capacitação desencadeou-se amplo processo de discussão, por meio da realização de várias oficinas de planejamento estratégico, contando-se com a presença de representantes do corpo discente, docentes de todos os Departamentos da FMB e do Instituto de Biociências, do Campus de Botucatu (responsáveis pelas disciplinas básicas do currículo médico). Houve participação importante da direção da FMB e da Secretaria Municipal de Saúde.Nos grupos de trabalho, além do diagnóstico e formulação de propostas, foram sendo construídas parcerias, assumindo-se publicamente o compromisso com a mudança – não apenas o que mudar, mas principalmente por quê, para quê e como mudar. Como parte desse processo, desde 2001, desenvolve-se programa de capacitação docente, focalizando três aspectos principais: 1. Capacitação pedagógica para melhoria do currículo e do processo ensinoaprendizagem, envolvendo trabalho de consultoria externa: aplicação de questionários para os professores da FMB, no final de 2001, para levantamento das principais dificuldades no processo de ensino-aprendizagem e diagnóstico de necessidades de capacitação docente; desenvolvimento de oficinas/cursos de capacitação pedagógica, em 2002, 2003,e 2004 focalizando os seguintes assuntos: avaliação da aprendizagem; metodologia de ensino; multimeios no ensino médico; ensino por competências profissionais; aprendizagem baseada em problemas, além de visitas e palestras com profissionais da área da Pedagogia Universitária. 2.Capacitação para o exercício profissional em Medicina Baseada em Evidências (“integração das melhores evidências de pesquisa com a habilidade clínica e preferência do paciente”) para 50 docentes da FMB, em 2002 e 2003. 3.Capacitação em Ensino à Distância, a partir da criação do Núcleo de Educação à Distância da FMB – NEAD, em 2001, com oferecimento de diversos cursos para docentes interessados na área. 9 AÇÕES EDUCATIVAS IMPLEMENTADAS O ensino em diferentes cenários: No espaço hospitalar e na atenção básica Entendemos que novos cenários devem propiciar a participação dos alunos em ações de promoção da saúde e área territorial definida ,com referência a uma Unidade Básica de Saúde ou uma Equipe de Saúde da Família, no qual o estudante participe ativamente da integralidade das ações das equipes junto às comunidades. A partir de 2003, os estudantes do 1o ano desenvolvem atividades na atenção básica, contemplando a idéia de ensino mais próximo da prática profissional, desde o início do curso. Neste sentido, busca-se romper com a dicotomia preventivo/curativo, saúde coletiva/prática clínica, ações individuais/ações coletivas Nas reformulações feitas no projeto pedagógico do Curso de Medicina da FMB, incluíramse ações educativas no espaço hospitalar, valorizando o cuidado integral e humanizado com o paciente. No sentido de se considerar a necessidade de cuidar do cuidador, a FMB tem desenvolvido, por meio da criação de serviço máximo de psicologia (em funcionamento desde1993), trabalho de atendimento e preparo dos estudantes para a vivência hospitalar, para o lidar com pacientes com problemas graves de saúde e para melhor enfrentar outros sofrimentos gerados no cotidiano e na evolução do curso médico. Este trabalho tem representado apoio significativo aos estudantes. É necessário ressaltar, também, que a relação com a Secretaria Municipal de Saúde e a Secretaria de Estado da Saúde é elemento facilitador das ações implantadas. As parcerias com hospitais secundários permitem que nossos alunos participem de atividades em hospitais de menor complexidade. Em algumas áreas básicas, como Ginecologia e Obstetrícia, Pediatria, Saúde Pública e Clínica Médica (Geriatria e Pneumologia) os alunos atuam no Centro de Saúde Escola de Botucatu (unidade própria da universidade, em convênio com a Secretaria de Estado da Saúde) e nas Unidades Básicas de Saúde. Atendem pacientes, e, comprovam na prática a importância do atendimento médico nos diferentes níveis de complexidade e a incorporação de temáticas essenciais frente ao quadro de saúde de nossa população, como o envelhecimento e a humanização do parto. PROPOSTA PARA O NOVO INTERNATO Em 1999, durante visita de representantes do MEC para recredenciamento do curso de graduação médica da FMB foi assinalada a inadequação do internato oferecido na Instituição, por ter sido considerado muito fragmentado e ministrado, em mais de 50% da carga horária dos dois anos, em especialidades médicas. Concordando com a avaliação feita pelo MEC, a Direção da Instituição e a comunidade acadêmica entenderam que o 10 Internato precisava ser reformulado, deixando de ter seu foco nas especialidades médicas e passando a ser organizado nas grandes áreas: Pediatria, Medicina Interna, Saúde da Mulher, Saúde Pública, Emergência e Urgência e Clínica Cirúrgica. Haveria, ainda, espaço para estágio opcional, de escolha do estudante. Este desenho de Internato foi aprovado pela congregação da FMB, em 2001, e está em processo de finalização. Alguns resultados já foram alcançados. Além do aprofundamento da discussão em torno das mudanças necessárias, houve importante movimento no sentido de melhorar o treinamento dos docentes, no que se refere a métodos e instrumentos de avaliação. Durante todo o processo, observamos o crescimento do interesse por parte do corpo docente em discutir e implementar ações pedagógicas mais efetivas, reestruturando atividades do Internato. Também foi implantado, em 2001 e consolidado em 2003, avaliação dos estágios, com a participação de estudantes e de docentes, que tem permitido a socialização dos resultados à comunidade acadêmica e incentivado a melhoria e aprimoramento de cada estágio. A análise dos dados tem permitido adotar medidas úteis para o planejamento e o desenvolvimento dos estágios de Internato e é base para discussão do novo Internato em grandes áreas, em competências profissionais.Tem também proporcionado a criação de cultura avaliativa, compartilhada entre alunos e docentes. A escolha da formação, no internato, orientada por competência está fundamentada na aprendizagem a partir da prática profissional e do contato com situações reais de saúdedoença. A abordagem de competência, assegura as dimensões técnica, ética e sóciopolíticas explicitadas nas Diretrizes Curriculares e na filosofia e missão de nossa Faculdade. Também aparece como aspecto inovador o conjunto de desempenhos comuns a todas as áreas e os específicos de cada uma. Essa organização gera reflexos na escolha de atividades e cenários de ensino-aprendizagem, na grade curricular e carga horária das áreas, bem como nos processos internos de trabalho de preceptores e internos, incluindo a avaliação. Foram realizadas várias oficinas de trabalho para cada grande área e Pronto Socorro, envolvendo docentes, representantes dos estudantes, equipe do Núcleo de Apoio Pedagógico, Coordenadores, Direção e consultores externos à Faculdade. As áreas de competência resultaram de um processo de agrupamento das tarefas afins, inicialmente dentro de cada grande área, e, posteriormente, entre as grandes áreas. As tarefas coincidentes representam o núcleo da prática profissional. Caracterizam e diferenciam a carreira médica de outras profissões. Dessa forma, a utilização das áreas de competência, que passam a orientar a seleção dos conteúdos (atributos) e a organização das atividades de ensino-aprendizagem, a definição dos cenários para desenvolvê-las e o processo de avaliação, inaugura uma nova fase para o desenvolvimento do internato da Faculdade de Medicina. 11 São apresentados, a seguir, os desempenhos comuns a todas as áreas, segundo as competências para o Internato. Área de Competência: Cuidado Integral à Saúde de Indivíduos Realiza observação clínica: Anamnese e Exame clínico Formula hipóteses diagnósticas, baseado na observação clínica Investiga hipótese e estabelece diagnóstico Elabora plano para o cuidado integral à saúde: promoção, prevenção, tratamento e reabilitação Executa e/ou conduz o plano para o cuidado integral à saúde Registra o atendimento realizado Área de Competência: Cuidado Integral à Saúde de Populações Identifica necessidades de atenção à saúde da população Formula e prioriza problemas a partir das necessidades de saúde Elabora plano contextualizado de intervenção sobre os problemas, visando o cuidado integral à saúde da população Executa e/ou conduz plano de intervenção Registra dados, planos e resultados Área de Competência: Organização e Avaliação do Trabalho Organiza o próprio trabalho e participa do trabalho em equipe multiprofissional, visando eficácia e efetividade Atua no sistema hierarquizado de saúde, visando a integralidade do cuidado Avalia sua aprendizagem e o trabalho em saúde A reestruturação do internato seguiu as novas Diretrizes Curriculares do MEC, estabelecendo a realização do mesmo nas cinco grandes áreas. Entretanto, para manter a identidade das disciplinas, o Conselho de Curso de Graduação tomou o cuidado de arrolar, no interior de cada área de estágio, todas as disciplinas envolvidas com os respectivos programas, o que será utilizado por ocasião dos concursos docentes. AMPLIAÇÃO DO ENSINO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA A Interação Universidade - Serviço - Comunidade é uma atividade educacional desenvolvida no curso de graduação em medicina e que tem contribuído para a mudança educacional da Faculdade de Medicina de Botucatu. Está em desenvolvimento, desde 2003, como atividade complementar e como integração disciplinar. Centra seu foco na família, humanizada e inserida no universo das relações históricas, culturais, sócioeconômicas e políticas da sociedade. Assim, os alunos interagem com uma série de 12 desafios e conflitos do cotidiano das famílias, inclusive na relação com a saúde e com o cuidar da saúde, em no seu espaço de vida, na casa, no bairro e na unidade de saúde. O processo privilegia o ensino baseado na resolução de problemas, em grupos pequenos e com atividades estruturadas a partir das necessidades de saúde que se apresentam ao Sistema de Saúde no Brasil (SUS). Está sendo desenvolvida desde 2003, em 11 onze áreas de Unidades Básicas de Saúde ou do Programa de Saúde da Família com a participação dos alunos do 1º e 2ºano médico. As atividades acontecem em parceria com a Prefeitura de Botucatu e com a comunidade. Os alunos participam das estratégias de proteção e de cuidados à saúde, desenvolvidas pela rede básica do Município de Botucatu1. São características do projeto: inserção do aluno, por meio de pequenos grupos, na equipe da Unidade Básica de Saúde (UBS) ou da Unidade de Saúde da Família (USF), sob supervisão de tutor didático, destacado entre profissionais de nível superior e de um docente da Faculdade de Medicina; integração de atividades com estudantes de enfermagem e de nutrição; estabelecimento de vínculo com a Comunidade e com as equipes de saúde, uma vez que os grupos de Interação, do 1º ao 6º anos, atuarão na mesma área de abrangência da UBS ou com as famílias adstritas à equipe da USF; desenvolvimento de atividades, apresentando aos alunos diferentes formas de inserção da prática do trabalho médico, articulando o conhecimento médico com a realização de ações na comunidade; priorização de atividades de aprendizagem que tenham pertinência e relevância social, a partir da problematização de questões, intimamente ligadas ao contexto de cada região, ao modo de vida da população e ao perfil demográfico e epidemiológico; ampliação do diálogo entre profissionais de saúde, entre profissionais e população, entre profissionais de saúde e administração para tornar as relações mais equânimes; desenvolvimento de atividades de aprendizagem e de pesquisa que resultem em benefícios concretos para a saúde da comunidade. O ENSINO DA URGÊNCIA EMERGÊNCIA Reconhecendo-se a importância da formação médica na área de urgência e emergência, tem-se priorizado o estágio no Pronto Socorro. Os internos realizam procedimentos clínicos e cirúrgicos, com supervisão docente, no atendimento ao paciente (em todas as fases do ciclo biológico) que necessita de atendimento de urgência, nos diferentes níveis de atenção: Pré-Hospitalar/ Pronto – Socorro/ UTI/ Centro Cirúrgico, desde o início do curso 1 Formado por Unidades Básicas de Saúde, Centro de Saúde Escola de Botucatu, equipes de Unidades de Saúde da Família e de Agentes Comunitários de Saúde. 13 médico. Objetiva-se a percepção da necessidade do trabalho em grupo, propondo-se a observação, a capacitação e a participação nas ações médicas no atendimento inicial das urgências e emergências. Em 2003, houve implementação deste modelo no estágio de internato de Pronto Socorro, valorizando-se o acolhimento com avaliação de risco, garantindo o conhecimento e participação no acesso referenciado dos pacientes aos demais níveis de assistência. AVALIAÇÃO DO CURSO DE GRADUAÇÃO A relevância do curso de medicina da FMB é enorme e tem sido destacada em nível nacional e internacional, pelo trabalho desempenhado por seus egressos, que, ao longo destes 40 anos se destacam como profissionais de qualidade no cenário da prática do exercício profissional, como pesquisadores, gestores e como professores universitários. A seleção da FMB como uma das 19 escolas médicas brasileiras no PROMED, no qual o MS se propõe a investir para o incentivo à mudança curricular, é um fator de mobilização e de reconhecimento da qualidade do ensino de nossa graduação em medicina. Como apresentado, o curso médico da FMB vem realizando, em suas instâncias acadêmicas, processo progressivo de mudanças. Neste processo, a avaliação tem sido extremamente valorizada, no sentido de melhorar a competência dos docentes, em métodos e instrumentos avaliativos da avaliação educacional e no desenvolvimento pedagógico de ações mais efetivas. Quanto à forma de avaliação educacional do desempenho dos alunos, a FMB, segue sua organização por disciplinas. A avaliação dos estudantes dá-se de maneira convencional, com ênfase na avaliação somativa, e em alguns casos formativa, privilegiando conceitos, em detrimento de habilidades e atitudes. A partir do terceiro ano médico há o início de formas de avaliação de habilidades, atitudes e competências, nos estágios voltados à prática profissional. Têm-se buscado valorizar o trabalho docente na graduação. Sabe-se que a promoção dos professores nas escolas médicas, ao menos nas universidades públicas, está bastante articulada à pesquisa. Inclusive, goza de maior prestigio o investigador em relação ao excelente professor de graduação médica. Em outras palavras, pode-se admitir que a dedicação ao ensino pode ficar em segundo plano, dada a enorme pressão sobre o professor da escola médica, do qual é esperado bom desempenho em tantas áreas de atividade. Fazer oficinas, organizar grupos de estudo, promover encontros e discussões intra e interdepartamentais permitem melhor compreensão do que são as mudanças na educação e os caminhos apontados pelas novas Diretrizes Curriculares do Ensino Médico. Desde 1999, os estudantes vêm coordenando eventos que discutem a educação médica na FMB, promovendo em âmbito interno, a divulgação de experiências que já vinham 14 acontecendo, unindo profissionais da escola, comunidade e centros de saúde, valorizando os resultados dos trabalhos e aqueles que os fazem. Entre 2002 e 2004, realizaram-se 7 oficinas para discussão do novo Internato, com os objetivos de promover sua adequação às novas Diretrizes Curriculares. Houve participação de 90 professores e estudantes, definindo-se o Internato por competências, para formação geral do médico. Em 2003 e 2004, 123 professores e estudantes participaram de oficinas de trabalho para analisar criticamente o projeto de reforma curricular; sensibilizar a comunidade sobre a necessidade de mudança frente às novas Diretrizes Curriculares. Observa-se que o quadro aqui descrito refere-se a momento de avaliação de diagnóstico, de um momento anterior, e a identificação das necessidades presentes na mudança do projeto pedagógico. Analisa-se o que foi proposto e o que foi, ou não, implantando. Mais ainda discute-se o que está atualmente sendo implementado, tendo em vista o anseio da comunidade acadêmica e a necessidade de adequação às Diretrizes Curriculares, que já se constituem em Lei Federal. 15