Aula nº 32 Considerações energéticas relativamente ao movimento harmónico simples (MHS). Sobreposição de dois MHS na mesma direcção. O movimento circular uniforme como sobreposição de dois MHS. Considerações energéticas relativamente ao movimento harmónico simples Vimos na aula anterior que um oscilador harmónico simples é uma partícula cuja lei de movimento é da forma x (t ) = A cos(ωt + ϕ ) (32.1) sendo, consequentemente, a sua velocidade, que é a derivada de x em ordem ao tempo, v (t ) = − Aω sin(ωt + ϕ ) . (32.2) A força responsável pelo movimento é a força elástica F = − kx , a qual depende unicamente da posição. Trata-se, portanto, de uma força conservativa, à qual podemos associar uma energia potencial. De resto, vimos já na aula nº 10 que a energia potencial associada à força elástica é da forma [ver Eq. (10.8)] Ep = 1 2 kx . 2 (32.3) À medida que a posição da partícula vai variando, a energia potencial varia também. Mas a energia total não varia. De facto, a energia mecânica, que é a soma da energia cinética e da energia potencial, permanece constante e igual ao valor que tiver no instante inicial. Inserindo x(t) dado por (32.1) na expressão da energia potencial (32.3) encontra-se Ep = A energia cinética é E c = velocidade obtém-se Ec = 1 2 kA cos 2 (ωt + ϕ ) . 2 (32.4) 1 2 mv . Inserindo nesta expressão a expressão (32.2) para a 2 1 1 mω 2 A2 sin 2 (ωt + ϕ ) = kA2 sin 2 (ωt + ϕ ) , 2 2 (32.5) tendo-se utilizado a relação (31.5) entre massa, constante elástica e frequência angular: ω = k . A energia mecânica, que é a soma da energia cinética e da energia m potencial, pode então escrever-se, a partir de (32.4) e de (32.5), 1 Em = Ec + Ep = [ ] 1 2 1 kA sin 2 (ωt + ϕ ) + cos 2 (ωt + ϕ ) = kA2 2 2 (32.6) Como se constata, a energia mecânica é independente do tempo. Esta energia é igual à energia potencial para x = ± A , ou seja, nos pontos de retorno do oscilador e que são os pontos de afastamento máximo. Nesses pontos a energia cinética da partícula anula-se e toda a energia mecânica é energia potencial elástica. Na Fig. 32.1 representam-se os dois tipos de energia − cinética e potencial − em função do tempo. A energia total, que é a soma das duas, mantém-se constante. Como mostra a Fig. 32.1, quando a energia cinética é máxima a potencial é mínima e vice-versa. Energia potencial Energias Energia cinética Energia mecânica 0 t Figura 32.1 Também é útil ver como variam os diversos tipos de energia ao longo do espaço. A representação da energia potencial elástica em função de x é uma parábola (ver Fig. 10.6). Como sabemos que a energia mecânica se mantém constante, e igual a 1 E m = kA2 , a energia cinética, que é esta energia menos a energia potencial, vem 2 1 então Ec = k (A2 − x 2 ) . Graficamente esta função de x também é uma parábola. 2 Na Fig. 32.2 representa a energia cinética e a energia potencial em função da coordenada x. A energia cinética é máxima na origem e nula nos pontos x = ± A . Ao contrário, a energia potencial é máxima nestes dois pontos de afastamento máximo e é nula em x = 0 . 2 Energia potencial Energias Energia cinética Energia mecânica -A 0 x A Figura 32.2 Sobreposição de dois movimentos harmónicos simples na mesma direcção Se duas forças elásticas actuarem numa mesma partícula a sua lei do movimento x (t ) é a que resulta da soma das duas funções x1 (t ) e x 2 (t ) correspondentes a cada uma das forças elásticas caso actuassem separadamente. Em geral, estas duas funções são independentes. Mas vamos considerar o caso particular de terem a mesma frequência (o que se verifica quando as duas constantes elásticas são iguais) embora tenham amplitudes e fases na origem diferentes, ou seja x1 (t ) = A1 cos(ωt + ϕ1 ) , x 2 (t ) = A2 cos(ωt + ϕ 2 ) . (32.7) Temos, pois, que x (t ) = x1 (t ) + x 2 (t ) = A1 cos(ωt + ϕ1 ) + A2 cos(ωt + ϕ 2 ) . (32.8) Um caso particularmente simples é as duas fases serem iguais: ϕ 1 = ϕ 2 = ϕ . A Eq. (32.8) fica então x (t ) = A1 cos(ωt + ϕ ) + A2 cos(ωt + ϕ ) = ( A1 + A2 )cos(ωt + ϕ ) . (32.9) O movimento harmónico simples resultante tem uma amplitude que é a soma das duas amplitudes, como se ilustra na Fig. 32.3. 3 1.5 x(t) 1.0 x2(t) 0.5 x x1(t) 0.0 -0.5 -1.0 -1.5 0 2 4 t/s 6 8 10 Figura 32.3 Também se tem uma situação particularmente simples quando os dois movimentos estão desfasados de π , ou seja, quando ϕ 1 = ϕ ;ϕ1 = ϕ ± π . Como cosα = − cos(α ± π ) , a Eq. (32.8) reduz-se a x (t ) = x1 (t ) + x 2 (t ) = A1 cos(ωt + ϕ ) + A2 cos(ωt + ϕ ± π ) = ( A1 − A2 )cos(ωt + ϕ ) (32.10) Ao contrário da situação anterior, a nova amplitude é a diferença das amplitudes, ou melhor, o módulo dessa diferença A1 − A2 já que a amplitude é positiva por definição. A Fig. 32.4 ilustra este caso. 1.5 x2(t) 1.0 x1(t) x 0.5 x(t) 0.0 -0.5 -1.0 -1.5 0 2 4 t/s 6 8 10 Figura 32.4 4 A situação complica-se quando a diferença de fase não é 0 nem π . Usando várias relações da trigonometria pode-se concluir que, em geral, a soma de duas funções sinusoidais com a mesma frequência é ainda uma função sinusoidal com essa mesma frequência, ou seja, da Eq. (32.8) pode escrever-se x (t ) = x1 (t ) + x 2 (t ) = A cos(ωt + ϕ ) , (32.11) sendo a amplitude e a fase são dados, respectivamente, por A= A12 + A22 + 2 A1 A2 cos(ϕ1 − ϕ 2 ) tan ϕ = (32.12) A1 sin ϕ1 + A2 sin ϕ 2 . A1 cos ϕ1 + A2 cos ϕ 2 (32.13) Deixa-se como exercício para o leitor a obtenção dos resultados para os dois casos particulares anteriormente considerados a partir destas expressões gerais. A soma de duas funções sinusoidais faz-se numericamente sem qualquer dificuldade, mas a dedução analítica da amplitude (32.12) e da fase (32.13) é trabalhosa. A Fig. 32.5 mostra as duas funções x1 (t ) e x 2 (t ) , com a mesma frequência angular mas diferentes fases na origem e amplitudes, e a sua soma, x (t ) . Voltaremos ainda a este assunto no final da aula. 1.0 x2(t) x 0.5 x1(t) x(t) 0.0 -0.5 -1.0 0 2 4 t/s 6 8 10 Figura 32.5 Movimento circular uniforme como sobreposição de dois MHS O movimento circular uniforme, que foi estudado na 4ª aula, tem uma relação muito próxima como o movimento harmónico simples. É essa relação que vai ser agora apresentada. 5 Uma partícula com movimento harmónico simples pode ser descrita por um vector posicional r (t ) com origem no centro da circunferência que a partícula descreve ao longo da sua trajectória. O vector r (t ) roda com velocidade angular ω (velocidade angular da partícula). Designemos por θ o ângulo que o vector faz com uma direcção de referência, por exemplo, o eixo dos xx (sentido positivo), como mostra a Fig. 32.6. y ω y(t) r θ x(t) x Figure 32.6 O ângulo θ e a frequência angular ω relacionam-se através de θ = ωt + θ 0 , em que θ 0 é o valor do ângulo θ no instante inicial. Designemos o módulo de r por A: r = A . As duas projecções do vector posicional da Fig. 32.6 nos dois eixos coordenados permitem escrever: x (t ) = A cos(ωt + θ 0 ) (32.14) y (t ) = A sin (ωt + θ 0 ) = A cos(ωt + θ 0 − π2 ) (32.15) (lembrar que as funções seno e co-seno diferem de uma fase π ). As duas equações 2 anteriores mostram que, segundo x ou segundo y, o movimento é harmónico simples com a mesma frequência. A amplitude dos dois movimentos é também igual mas há π uma diferença de fase . Podemos portanto concluir que o movimento circular 2 uniforme é a sobreposição de dois movimentos harmónicos simples em direcções perpendiculares. Esta conclusão pode ser visualizada, por exemplo, com o esquema da Fig. 32.7, em que um objecto em movimento circular uniforme é iluminado, projectando-se a sua sombra num plano. O movimento da sombra é harmónico simples. O movimento da sombra projectada num ecrã perpendicular ao da figura (com a luz a vir também de uma direcção perpendicular à considerada) seria também harmónico simples. 6 ecrã -A ω A 0 luz Figura 32.7 Quando se estuda o movimento harmónico simples é sempre útil o recurso a um diagrama como o da Fig. 32.6. Também a situação da secção anterior da sobreposição de dois movimentos harmónicos simples na mesma direcção fica mais clara com recurso a uma figura como a Fig. 32.6. Cada um dos movimentos harmónicos simples (32.7) pode ser representado por um "fasor". A soma (32.11) é representada pela soma vectorial destes dois fasores (Fig. 32.8). y ω r A r2 ϕ2 x2 A2 ϕ ϕ1 r1 x1 x x A1 Figura 32.8 7