Diagnóstico do tromboembolismo pulmonar na gravidez Mônica Corso Pereira UNICAMP e PUC-Campinas Congresso Brasileiro de Pneumologia e Tisiologia – Brasília, novembro de 2008 TEP na gravidez: Prevalência Risco de EP é cinco vezes maior na gestante, quando comparada a uma mulher não grávida da mesma idade Cerca de 0,3 - 1 para cada 1000-1500 partos. Rutherford, Obstet Gynecol Clin North Am 1991 Matthews,Br J Radiol 2006 TEV principal causa de mortalidade materna em países desenvolvidos Fatores de risco Aumento da estase venosa Hipercoagulabilidade associada à gravidez Fibrinólise reduzida Eventual repouso no leito Predisposição familiar Ocorre com freqüência semelhante em qualquer dos 3 trimestres de gravidez Toglia, NEJM 1996: 335 Riscos são ainda maiores no puerpério Problema Grávida, 30 anos, 25 ª semana de gestação PS: Dor torácica e dispnéia Encaminhada pelo médico obstetra para exclusão de diagnóstico de TEP Exame físico: FR de 24 rpm, acianótica, PA 100 X 70 mm Hg, FC 120 bpm, SatO2 96% Problema •Qual o escore de probabilidade clínica? • Idade • Presença de neoplasia •Antecedente de TVP/TEP •Cirurgia ou restrição ao leito •Hemoptise / dor em MI •FC •Sinais de TVP Baixa probabilidade clínica Problema •Qual o escore de probabilidade clínica? • Idade • Presença de neoplasia •Antecedente de TVP/TEP •Cirurgia ou restrição ao leito •Hemoptise / dor em MI •FC •Sinais de TVP Investigação diagnóstica ?? Baixa probabilidade clínica Problema •Qual o escore de probabilidade clínica? • Idade • Presença de neoplasia •Antecedente de TVP/TEP •Cirurgia ou restrição ao leito •Hemoptise / dor em MI •FC •Sinais de TVP risco Investigação diagnóstica ?? Tratar ?? (sem confirmação diagnóstica) Baixa probabilidade clínica Problema •Qual o escore de probabilidade clínica? • Idade • Presença de neoplasia •Antecedente de TVP/TEP •Cirurgia ou restrição ao leito •Hemoptise / dor em MI •FC •Sinais de TVP Baixa probabilidade clínica risco Investigação diagnóstica ?? Tratar ?? (sem confirmação diagnóstica) Não tratar??? Alterações fisiológicas na gravidez Progesterona – estímulo respiratório ↑ freqüência respiratória ↑ volume corrente PaO2 é normal durante a gravidez Aumento da ventilação total leva a hipocapnia, que persiste ao longo da gravidez Alterações fisiológicas na gravidez Progesterona – estímulo respiratório * Elevação do diafragma * Mudanças no diâmetro transverso e na circunferência toracoabdominal *↓ VRE *↓ CRF *Utilização dos músculos intercostais ↑ freqüência respiratória ↑ volume corrente PaO2 é normal durante a gravidez Aumento da ventilação total leva a hipocapnia, que persiste ao longo da gravidez Crescimento uterino: Aumento do débito cardíaco Como investigar a grávida com suspeita de TEP? D-dímero US Doppler de membros inferiores Cintilografia pulmonar Angiotomografia de tórax Arteriografia pulmonar Ecocardiograma Concentração do D-dímero na gravidez normal: qual o limite aceitável? N=50 Kline, J. A. et al. Clin Chem 2005;51:825-829 Concentração do D-dímero na gravidez normal: qual o limite aceitável? N=50 Kline, J. A. et al. Clin Chem 2005;51:825-829 Concentração do D-dímero na gravidez normal 1,75 mg/L Elisa, plasma congelado Nolan, 1993 1,2 mg/L Elisa, plasma congelado van Wersch e Ubachs, 1991 1,0 mg/L Elisa, plasma congelado Bellart, 1998 0,9 – 1,1 mg/L (3º. trimestre) Plasma fresco, método turbidimétrico Giavarina,2001 ↑ 36% entre as semanas 0-26ª ↑ 36% entre a 26-36ª semanas Plasma fresco, IL teste Morse, 2004 Aumento de 39% a cada trimestre Plasma fresco, MDA assay Kline, 2005 Concentração do D-dímero na gravidez normal 1,75 mg/L Elisa, plasma congelado Nolan, 1993 1,2 mg/L Elisa, plasma congelado van Wersch e Ubachs, 1991 Na gravidez, 1,0 mg/L um D-dímero normal tem oBellart, mesmo Elisa, plasma 1998 valor para exclusão de EPcongelado que na pessoa não grávida. 0,9 – 1,1 mg/L (3º. trimestre) Plasma fresco, método turbidimétrico Giavarina,2001 Plasma fresco, MDA assay Kline, 2005 European Society of Cardiology Guidelines Plasma fresco, IL teste Morse, 2004 ↑ 36% entre as semanas 0-26ª Eur Heart J, 2008, 29:2276 ↑ 36% entre a 26-36ª semanas Aumento de 39% a cada trimestre US Doppler MMII Vantagens Método não ionizante, sem radiação, não invasivo 70% dos pacientes com EP tem TVP Proporção em grávidas é desconhecida Matthews, Br J Radiol 2006 US Doppler Limitações na gestação Hormônios e efeito compressivo do útero gravídico: Aumento do diâmetro dos vasos dos MMII Redução no fluxo sanguíneo Edema de MMII Veias ilíacas não são avaliadas Acurácia não está bem determinada Perrier, Am J Med 2004 Diagnosis of deep vein thrombosis and pulmonary embolism in pregnancy: a systematic review M. NIJKEUTER et al, Journal of Thrombosis and Haemostasis, 2006 Não há trabalhos grandes e prospectivos que abordem este ponto Um resultado positivo deve ser valorizado Ausência de TVP ao USD não é confiável para exclusão do diagnóstico Repetir exame em alguns dias Venografia unilateral Venografia com ressonância magnética Ecocardiograma Não invasivo Factível à beira do leito Especificidade variável Baixa sensibilidade (60-70%) Boa opção Pacientes graves e instáveis hemodinamicamente Scarsbrook,BMJ 2007;334 ESC Guidelines Eur Heart J, 2008, 29:2276 Cintilografia e Angiotomografia Riscos biológicos potenciais da exposição à radiação para o feto: Morte pré-natal Restrição ao crescimento intra-uterino Retardo mental Microcefalia Má formação orgânica Câncer na infância McCollough et al. Radiographics 2007:27;909 Exposição do feto à radiação Fatores que influenciam no risco da exposição Idade gestacional ao tempo da exposição Dose de radiação absorvida Estudos em animais e humanos permitiram a seguinte estimativa: Doses menores que 50.000 µGy - risco desprezível Doses maiores que 100.000 µGy – risco pequeno de má formação McCollough et al. Radiographics 2007:27;909 Estimativa da radiação absorvida pelo feto µGy mSv Raio X de tórax <10 0,01 Cintilo perfusional * 99mTc MAA, 200 MBq * 99mTc MAA, 40 MBq 200-600 110-200 0,2-0,6 0,11-0,2 Cintilo ventilatória 100-300 0,1-0,3 Angio TC de tórax 1 º trimestre 3-20 0,003-0,02 2 º trimestre 8-77 0,008-0,08 3 º trimestre 51-130 0,051-0,13 2210-3740 2,2-3,7 500 < 0,5 Angiografia pulmonar Acesso femoral Acesso braquial Ginsberg, Thromb Haemost 1989 Winer-Muram, Radiology 2002 Recomendações •American College of Radiology •International Comission on Radiological Protection •American College of Obstreticians and Gynecologists Não interromper gravidez se a exposição fetal for menor que100.000 µGy Radiação pré-natal secundária aos procedimentos Não aumenta o risco de morte pré-natal ou má formação Não causa prejuízo no desenvolvimento mental Exposição fetal a doses menores que 50.000 µGy não está associada a anomalias fetais ou perda do feto Cintilografia pulmonar PIOPED, JAMA 1990 Alto valor preditivo negativo População geral: alta frequência de resultados indeterminados (50 a 70%) Pacientes grávidas Jovens Doença pulmonar prévia menos provável Qual a acurácia? “Suspected Pumonary Embolism in Pregnancy” Chan e col, Arch Intern Med 2002 anticoagulação 121 8 cintilografia 83 (73%) normais Seguimento de 20 meses (05-108) 113 28 (25%) inconclusivas 2 (2%) alta probabilidade Não tratadas Nenhum evento de TEV Não houve aumento nas taxas de anomalias congênitas e de desenvolvimento Cintilografia pulmonar Resultados inconclusivos em apenas 25% das gestantes (contra 70% na população geral) Para minimizar os “resultados inconclusivos” e reduzir a dose de radiação Fazer somente a perfusional Comparar com RX Triar pacientes com RX anormal para angio-TC Multidetector Computed Tomography for Acute Pulmonary Embolism PIOPED II 824 pacientes, excluídas grávidas 83% de sensibilidade 96% especificidade Paul D. Stein et al, 2006, n 22, vol 354 Multidetector Computed Tomography for Acute Pulmonary Embolism PIOPED II 824 pacientes, excluídas grávidas 83% de sensibilidade 96% especificidade Paul D. Stein et al, 2006, n 22, vol 354 Angio Tomografia de Tórax Alta sensibilidade e especificidade para o diagnóstico Permite excluir outros diagnósticos negativo permite afastar o diagnóstico com alguma segurança X Exposição à radiação (feto e mãe) Risco para o feto do uso do contraste iodado Poucos estudos em grávidas Resultado Matthews, Br J Radiol 2006 Quiroz JAMA 2005 ESC Guidelines - Eur Heart J, 2008, 29:2276 Angio TC ou Cintilografia? PIOPED II (Stein NEJM 2006) Maioria dos investigadores (69%) recomenda Cintilografia, e 31%, Angio TC. Necessário esclarecer a gestante dos riscos Schuster, AJR 2003 53% dos radiologistas indicam Angio-TC como primeira alternativa diagnóstica Destes, 60% obtém consentimento informado 40% modificam o protocolo para reduzir a radiação D-Dímero 1º. ou 2º. trimestre Normal aumentado Avaliação clínica da probabilidade pré-teste TEP excluído ou suspensão do tratamento D-Dímero 1º. ou 2º. trimestre Normal aumentado Avaliação clínica da probabilidade pré-teste 3º. trimestre e puerpério US Doppler MMII Normal TEP excluído ou suspensão do tratamento TVP TEP confirmado ou tratamento D-Dímero 1º. ou 2º. trimestre Normal aumentado Avaliação clínica da probabilidade pré-teste US Doppler MMII 3º. trimestre e puerpério Normal RX Outro diagnóstico Anormal TVP AngioTC Normal TEP confirmado ou tratamento Cintilo perfusional TEP excluído ou suspensão do tratamento Negativa TEP excluído ou suspensão do tratamento Positiva Conclusões Incidência aumentada na gravidez Quadro clínico inespecífico Em geral, baixa probabilidade clínica D-dímero tem alto valor preditivo negativo US doppler e ecocardiograma podem ser usados (não invasivos) Conclusões Exames que emitem radiação ao feto são relativamente seguros, com dose de radiação bem inferior à considerada segura Cintilografia pode ser usada, com alto valor preditivo negativo AngioTC de tórax também, especialmente quando o RX é anormal ou persiste dúvida diagnóstica. FIM