Universidade Federal do Tocantins - UFT
Curso de Pós-graduação Lato Sensu em Coordenação Pedagógica
Programa Escola de Gestores
GESTÃO PEDAGÓGICA E O USO DA DIVERSIDADE
TEXTUAL NAS CLASSES DE ALFABETIZAÇÃO1
Cristiane Putencio Gloria Vieira2
Resumo: O estudo abordou a necessidade de a coordenação pedagógica
potencializar sua gestão junto aos professores alfabetizadores para a implantação
do uso da diversidade textual, visando maior eficácia nas turmas de alfabetização. O
problema foi baseado em situações em que a criança não consegue sucesso na
aquisição da leitura e escrita, e na dificuldade do professor que ao alfabetizar não
leva em consideração o conhecimento prévio do aluno. O trabalho utilizou a
pesquisa ação e seus sujeitos foram os 05 professores das turmas de alfabetização
da Escola Municipal Professor Joel Ferreira Soares, os alunos das referidas turmas,
a coordenadora da biblioteca e a coordenadora pedagógica que atuou como
pesquisadora, na busca da solução para o problema em questão. O instrumento de
coleta de dados foi um questionário sobre o trabalho que desenvolvem e os tipos de
textos que utilizam. Como intervenção a coordenadora ministrou oficina sobre notícia
na sala de aula, trabalhou regra de jogos através de brincadeiras com as crianças,
distribuiu textos avulsos aos alunos e aos professores uma coletânea com diversos
tipos de textos. Essas ações possibilitaram ao docente maior conhecimento e
sensibilização do mesmo ao desafio do uso da diversidade textual em sala de aula,
através de novos procedimentos didático-pedagógicos com as crianças, sendo
importante saber que as transformações educacionais acontecem quando a escola
responde às novas exigências da sociedade. Dessa forma a gestão pedagógica
cumpriu seu papel de formadora e favoreceu aos professores o apoio necessário à
conquista de novas metodologias para efetivação de um trabalho consistente e
motivador.
Palavras–Chave: Gestão pedagógica, alfabetização, diversidade textual
1
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito avaliativo do curso de Pós-graduação
Latu Sensu em Coordenação Pedagógica pela Escola de Gestores - Universidade Federal do
Tocantins, sob a orientação das Profa Mestre Lina Maria Gonçalves.
2
Pedagoga, Especialista em Fundamentos de Ensino nas Séries Iniciais. Coordenadora Pedagógica
da Escola Mun. Prof. Joel Ferreira Soares. E-mail: [email protected] . Telefone:
(063)92312925
2
1.
Introdução
Toda e qualquer profissão atualmente exige de seus profissionais uma
formação contínua, até mesmo porque o mundo está em constante evolução. O
papel do profissional da educação nos dias atuais é o de estimular o aluno a
aprender, desenvolver habilidades para se tornar um cidadão capaz de atender as
necessidades do meio. Daí a necessidade de saber sobre a potencialização da
Gestão Pedagógica, isto é, do trabalho pedagógico orientados diretamente para
assegurar o sucesso da aprendizagem dos alunos, junto aos professores
alfabetizadores na Escola Municipal Professor Joel Ferreira Soares, em Gurupi, TO
para a implantação do uso da diversidade textual na alfabetização de seus alunos. O
que se pretende é identificar estratégias de gestão pedagógica e gestão de pessoas
a serem empregadas no contexto investigado; analisar as melhores estratégias de
gestão pedagógica a serem aplicadas com os professores de forma coerente às
situações vivenciadas no processo de ensino e aprendizagem em turmas de
alfabetização; propor ações de formação docente capazes de ajudá-los a
compreender
a
possibilidade
de
a
escola
construir
situações linguísticas
significativas para a criança em fase de alfabetização, orientar e acompanhar ações
de intervenção junto às turmas de alfabetização, haja vista a dificuldade da
implantação do uso da diversidade textual visando maior eficácia na alfabetização e
letramento dos alunos. Voltada para essa temática fez-se um levantamento
bibliográfico embasado nas teorias de SOARES (1985), CONDEMARÍN; GALDAMES;
MEDINA (1997), LIBÂNEO (1996) e PIMENTA (1999), um levantamento geral sobre
a escola campo com levantamento dos dados, sendo realizada no momento a
análise dos dados obtidos através da realização da pesquisa ação pautada numa
ação comunicativa na qual a interação e o diálogo foram garantidos e respeitados
entre pesquisadores e participantes na busca de gerar conhecimentos para
aplicação na prática, dirigidos à solução dos problemas concretos. Os estudos
realizados levam a compreender que a escola, como instituição social, precisa
diminuir a distância em relação às práticas sociais significativas por meio de uma
alfabetização que estabeleça diferentes tipos de interação e de interlocução
comunicativas, através da diversidade de situações que possibilita aos alunos com
os mais variados tipos de textos. O Coordenador Pedagógico deve orientar o
trabalho dos professores para que eles atuem de acordo com a Proposta
3
Pedagógica da escola, desenvolvam planos de curso de qualidade, compreendam
profundamente o processo ensino-aprendizagem e viabilizem o alcance das
competências necessárias pelos alunos.
O presente trabalho, que apresenta e discute os resultados alcançados, bem
como as dificuldades enfrentadas na condução do processo de pesquisa-ação, está
organizado, além dessa introdução, nas seguintes partes: revisão bibliográfica, na
qual apresenta uma alfabetização pautada na construção de situações lingüísticas
significativas para a criança; descrição da metodologia empregada; descrição e
discussão dos resultados alcançados na pesquisa ação e intervenção desenvolvida
com docentes e alunos; e, por fim, as considerações finais da coordenação
pedagógica.
2.
A alfabetização como processo de aquisição do código escrito
e das habilidades de leitura
A linguagem tanto oral como escrita tem um papel fundamental no decorrer
do processo de ensino-aprendizagem. Pode se observar que o grande número de
problema escolar é atribuído ao fracasso em alguma área da lingüística, isto ocorre
quando professores têm dificuldade em entender ou aceitar a linguagem da criança
ou quando há descontinuidade das duas culturas: a do ambiente de casa e do
ambiente da escola ou quando a criança apresenta dificuldade em entender o que
leu. O fracasso escolar não se explica apenas pela complexidade do processo, mas
também porque a escola é tida como instituição dualista e divisora, que insiste em
alfabetizar as crianças como se ler fosse uma atividade mecânica, assim:
aprender a ler e a escrever, para a escola, parece significar apenas a
aquisição de um “instrumento” para futura obtenção de conhecimentos; a
escola desconhece a alfabetização como forma de pensamento, processo
de construção do saber e meio de conquista de poder político. (SOARES,
1985, p.23)
Como se vê, a escola valoriza a língua escrita e desfavorece a língua natural,
principalmente quando essa se diferencia da língua padrão. As classes menos
favorecidas são levadas ao fracasso escolar por falta de oportunidade e as classes
privilegiadas economicamente dominam a forma de pensamento que está sob a
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língua escrita e tem o monopólio da construção do saber considerado legítimo e o
poder político em suas mãos. Nesse sentido Ferreiro e Teberosky (1999, p. 167)
argumentam:
A quantidade de material escrito e de leitores à disposição da criança
tampouco é a mesma; porém, é necessário recordar que ainda a criança
que provém de setores mais desfavorecidos vive imersa numa cultura
letrada (ainda que seus pais sejam analfabetos). Só o fato de a criança sair
à rua é suficiente para mostrar a presença constante de escrita por todos os
lados.
No entanto, como afirmam as autoras na citação anterior, a escola, como
lugar de vida, que permite viver e criar situações enriquecedoras no âmbito
lingüístico, deve se organizar no contexto que induza a discussão, respeito à
diversidade de opiniões e liberdade de expressão de todas as crianças, que,
independente de sua origem social, já tem contato com a cultura letrada. O papel da
escola é sistematizar essa cultura, cabendo a ela:
viabilizar o acesso do aluno ao universo dos textos que circulam
socialmente, ensinar a produzi-los e a interpretá-los. Isso inclui os textos
das diferentes disciplinas, com os quais o aluno se defronta
sistematicamente no cotidiano escolar e, mesmo assim não consegue
manejar, pois não há um trabalho planejado com essa finalidade. (PCN,
1997, p.30)
Analisando a citação anterior, constata-se que a escola precisa oferecer
situações variadas de contato a diversidade de textos e atividades que propiciem
enriquecer as distintas funções da linguagem no âmbito da alfabetização e permitam
desde o início da escolarização apresentar textos de qualidade, de acordo com os
interesses das crianças, bem como a livre expressão sobre aquilo que lêem ou que
desejariam ler, atentos é claro, a cada faixa etária.
A aquisição da linguagem se dá de forma significativa dentro de uma
diversidade de situações em que os atos de ler e escrever estão integrados. Visto
que a criança necessita ter, realmente, uma participação ativa no processo de
aquisição da leitura e da escrita, nas relações de ensino e no movimento de
transformação histórico-social, como leva a refletir as autoras:
escrever, enquanto modalidade de linguagem constitui uma competência
fundamental comunicativa que se realiza em situações concretas,
diversificadas e com propósitos claros. A produção de um texto escrito
surge da necessidade de se comunicar de maneira diferenciada no tempo
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ou no espaço, seja para relacionar - se com outros; para expressar idéias,
sentimentos, fantasia, humor; para informar, investigar, fazer ou construir;
para facilitar a convivência, brincar com a linguagem, estudar etc.
(CONDEMARÍN; GALDAMES E MEDINA, 1997, p.109)
Concordando com a citação anterior há realmente a necessidade de uma sala
letrada como forma de a criança entrar em contato com a linguagem, haja vista que
as paredes da sala de aula devem estar repletas de variados textos estudadas em
classe, permanentemente expostos, os quais podem ser lidos com diferentes
propósitos de acordo com a necessidade da criança. A presença de material
impresso disponível e suficiente para o uso dos alunos é imprescindível.
O trabalho com a diversidade textual propicia ao aluno desenvolver suas
habilidades sociais e fortalecer os laços afetivos; possuir um significado, um sentido
no processo de organização das experiências, na elaboração do pensamento, na
expressão de sentimentos e na construção de conhecimentos. Para tanto, Matos e
Assumpção (2000, p.09) afirmam: “cabe à escola planejar atividades de contato com
os mais diferentes materiais escritos, em contextos significativos”.
Esta citação destaca a necessidade de valorizar os mais variados tipos de
textos, pois uns promovem discussão coletiva, servem como fonte de pesquisa,
exercitam a leitura, ampliam os meios de comunicação, favorecem a expressão do
conhecimento e outros permitem a familiarização, a compreensão e a formulação de
regras de jogos, advertências, regulamentos, ordens verbais ou escritas pelas
crianças.
E relacionado ao direcionamento das atividades em sala de aula e o apoio ao
aluno pelo docente, Teberosky (2001) ressalta que, o professor é um mediador entre
a criança e o saber, ele deve reconhecer e valorizar o conhecimento dela, através da
observação e da interpretação dos dados. Seguindo esta temática e tendo em vista
que a criança precisa participar ativamente nesse processo, o professor deve está
preparado para assumir seu papel de mediador do conhecimento, assim como
contar com o apoio da gestão pedagógica no quesito formação e acompanhamento.
2.1. A gestão pedagógica e a formação de professores
É evidente a necessidade de se repensar a formação e a prática dos
professores diante das exigências das políticas educacionais atuais. Com base no
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enquadramento legal e conceitual da formação continuada de professores, a
reflexão sobre as práticas, faz-se necessário que o corpo docente seja preparado,
de modo a conhecer e saber utilizar os procedimentos para o desenvolvimento das
atividades do seu cotidiano escolar para melhorar a qualidade do ensino.
Socialmente, tem que se aprender a conviver mais intensamente com os
interesses e o pensamento dos alunos e pais no cotidiano escolar e a ter uma maior
interação com a comunidade escolar através da preparação para o desenvolvimento
de uma ação educativa capaz de formar os alunos para a compreensão e a
transformação positiva e crítica da sociedade em que atuam.
Ser professor, ser educador sempre foi uma tarefa árdua, tensa, uma tarefa
nada fácil. Gratificante, por um lado, mas difícil por outro, pois exige esforço tanto do
aluno como do professor. De acordo com Charlot (2005, p.57) “a relação com o
saber está circunscrita às relações com o aprender”, daí a necessidade de cada ator
envolvido no processo educacional aprender a aprender. Para aquele que está mais
diretamente ligado ao aluno, cabe à gestão pedagógica, um acompanhamento
constante no trabalho, essência do que se concebe sua atribuição no campo educacional,
como afirma o autor:
o coordenador pedagógico ou professor coordenador supervisiona, acompanha,
assessora, avalia as atividades pedagógico-curriculares. Sua atribuição prioritária
é prestar assistência pedagógico-didática aos professores em suas respectivas
disciplinas, no que diz respeito ao trabalho interativo com os alunos. LIBÂNEO
(2001, p. 05)
Conforme a citação anterior deve-se compreender que o coordenador, estando a
serviço do grupo no encaminhamento dos objetivos de buscar a superação dos problemas
diagnosticados, possa promover a dinâmica coletiva necessária para o diálogo.
Dentro dessa dinâmica o Coordenador Pedagógico é um orientador das
práticas do professor ao promover oportunidades de reflexão sobre as estratégias
adotadas, redefinindo-as, em conjunto, quando necessário. Para exercer esse papel,
ele deve apresentar as competências de relacionamento interpessoal, bem como as
de selecionar, organizar, relacionar e interpretar dados, a fim de identificar
corretamente as necessidades do corpo docente, além de tomar decisões e
enfrentar situações-problema no seu cotidiano.
O professor alfabetizador como mediador de conhecimento deve propiciar aos
seus alunos uma convivência democrática, oportunizando-lhes a construção de um
mundo progressivamente melhor, com o desenvolvimento de competências através
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de situações motivadoras ligadas ao desejo e à necessidade de comunicar-se
através de variados tipos de textos, que tragam informações a ser compartilhadas
com os que os rodeiam. Neste contexto, é importante compreender a possibilidade
de a escola construir situações lingüísticas significativas para a criança, onde a
gestão pedagógica de forma atuante possa orientar e acompanhar através de ações
de intervenções junto ao corpo docente para capacitá-lo no uso da multiplicidade de
textos, para ampliar as possibilidades de comunicação através do contato com os
vários gêneros orais e escritos, favorecendo o processo de alfabetização e
letramento.
3.
A prática na sala de aula da alfabetização
Pesquisa-ação que é um método de condução de pesquisa aplicada,
orientada para elaboração de diagnósticos, identificação de problemas e busca de
soluções.
Foi baseado neste conceito que todos os envolvidos no processo de
alfabetização da Escola Municipal Professor Joel Ferreira Soares buscaram gerar
conhecimentos para aplicação na prática, referente às novas estratégias de como o
coordenador pedagógico pode potencializar a Gestão Pedagógica junto aos
professores alfabetizadores para a implantação do uso da diversidade textual em
sua prática, visando maior eficácia na alfabetização e letramento de seus alunos.
Dirigidos
à
solução
desse
problema
mencionado,
os
professores
alfabetizadores foram convidados a refletirem sobre o processo de alfabetização que
vem desenvolvendo em relação ao alcance ou não dos objetivos, e desafiados a
adotar novos procedimentos didático-pedagógicos em sala de aula.
Os sujeitos da pesquisa foram os 05 (cinco) professores das turmas de
alfabetização, correspondente ao primeiro e segundo anos do Ensino Fundamental
da Escola Municipal Professor Joel Ferreira Soares, seus alunos com idade
correspondente a seis a sete anos, num total de 125 educandos, bem como, a
coordenadora da biblioteca e a coordenadora pedagógica que atuou como
pesquisadora, elemento participante na busca da solução para o problema em
questão.
O instrumento de coleta de dados foi um questionário composto por 04
questões fechadas de respostas múltiplas e 02 questões abertas sobre o trabalho
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que desenvolvem e os tipos de textos que utilizam. Foram indagadas sobre o
processo de alfabetização adotado, suas vantagens e desvantagens, bem como
sobre as possibilidades de utilização da diversidade textual e suas necessidades de
capacitação para tal trabalho.
Da mesma forma a coordenadora da biblioteca e a coordenadora pedagógica
foi indagada sobre as estratégias que vem sendo utilizadas às situações vivenciadas
pelos docentes referentes ao ensino aprendizagem na alfabetização.
Adotou-se, ainda, a análise dos materiais dos alunos em curso do ano letivo
de 2011 colhendo informações e relacionando/registrando os tipos de textos usados
nas aulas.
A análise das repostas dos professores alfabetizadores, do coordenador da
biblioteca, do coordenador pedagógico foi feita através da análise comparativa
apontando as convergências e divergências, comparando com o registro da
observação feita no material do aluno.
Os resultados da pesquisa bibliográfica foram confrontados com os dados
analisados para a consolidação da proposta de formação dos professores,
orientação e acompanhamento/monitoramento do trabalho destes com os alunos, a
fim de propor uma intervenção na realidade escolar observada. A intervenção foi
elaborada e desenvolvida coletivamente. De posse de diversos tipos de textos e nos
mais variados portadores como livros, revistas, jornais, panfletos, gibis, bulas,
convites, encartes, livro didático e paradidático, os professores alfabetizadores,
coordenador da biblioteca e coordenador pedagógico tiveram a oportunidade de
manusear o material, discutir e planejar oficina para contemplar alguns gêneros
textuais. Foi elaborado pela coordenação pedagógica e da biblioteca uma coletânea
com textos diversos, sendo distribuído um exemplar da coletânea para cada
professor e textos avulsos para os alunos.
4.
O uso dos textos em sala de aula
No questionário aplicado aos docentes, a primeira questão buscou relacionar
os tipos de textos que eles mais utilizam para trabalhar com seus alunos. Nessa
questão foram disponibilizados (quatorze) 14 gêneros textuais para serem
enumerados pelos pesquisados, de acordo a ordem de utilização. Para 60% dos
professores, os textos mais utilizados são os do livro didático, poemas e músicas e
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os menos utilizados são as entrevistas, as quadrinhas e os contos. Houve 40% de
professores que não entenderam a questão marcando (X) ao invés de enumerar.
Para a coordenadora da biblioteca o que ela mais utiliza, em sua função,
como estratégia para incentivo ao professor são as quadrinhas, as parlendas e as
fábulas. Ela menos utiliza a notícia, o bilhete e a entrevista. Para a mesma questão,
a coordenadora pedagógica respondeu que os textos mais utilizados por ela são as
letras de música, as quadrinhas e os poemas. Os menos utilizados são as notícias,
as entrevistas e as regras de jogos.
Através da verificação dos diversos tipos de textos registrados no caderno do
aluno, o texto mais encontrado foi aquele do livro didático e as quadrinhas. Não
foram encontradas no caderno deles, entrevistas, regras de jogos e notícias.
Avaliando as respostas dos docentes e a observação feita no caderno dos
alunos, destacam-se, no diagrama 01, a seguir, respectivamente os gêneros textuais
mais usados e os menos usados, pelos docentes na escola.
Diagrama 01: Gêneros textuais mais usados
Músicas
Quadrinhas ou Poemas
Textos do livro didático
Fonte: Confronto entre respostas docentes e análise dos materiais discentes
A partir desse resultado verifica-se que a utilização do texto em sala de aula é
definida pelo próprio professor e, ao que parece, ele nem sempre acata as
sugestões da coordenação pedagógica ou da biblioteca. A predominância de uso
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dos textos presentes nos livros didáticos demonstra uma contradição com o que
apregoam os Parâmetros Curriculares Nacionais sobre o papel da escola em
viabilizar o acesso do aluno ao universo dos textos de circulação social, ensinandoos não somente a lê-los, mas a produzi-los e a interpretá-los. Percebe-se,
entretanto, que os textos que demandam mais trabalho de execução não estão
sendo trabalhados e aqueles de fácil acesso como os do livro didático têm
prioridade.
Quais seriam os motivos dessa aparente contradição?
Conheceriam os docentes as propostas oficiais e entenderiam as reais
necessidades do uso dos diversos gêneros textuais, na formação dos alunos?
Uma análise preliminar parece indicar que essa escolha depende muito
menos da compreensão das propostas ou da facilidade que o docente tem em
trabalhar com esse ou aquele gênero textual, do que da disponibilidade desses
textos, ou seja, lançar mão do livro didático para uso em sala de aula é mais prático,
pois os livros estão sempre às mãos, sem necessitar de reprografia ou outra forma
de preparação para o uso em sala de aula.
Seguindo o questionamento 60% dos professores revelaram que utilizam
como critério para selecionar os textos a serem usados em sala, o grau de
dificuldade dos alunos.
Destaca-se que esse foi o mesmo mencionado pelas coordenadoras de
biblioteca e pedagógica. 20% dos professores disseram escolher os textos como
atividades complementares e outras 20% disseram variar os textos para tentar
nivelar a turma. Observa-se que, apenas esses três critérios foram abordados pelos
docentes como mostra o diagrama 02, a seguir.
Nenhum professor mencionou a facilidade de acesso aos textos ou mesmo a
problema para reprodução de cópias, preparação de cartazes, elaboração de
interpretação ou outras tarefas a serem desempenhadas pelo professor, quando
escolhe textos que não constam do livro adotado.
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Diagrama 02: Critérios para seleção de textos
Nivelamento da turma
Necessidade de atividades
complementares
Grau de dificuldade dos alunos
Fonte: Questionário aplicado aos docentes
Esses critérios apresentados pelos docentes parecem coerentes com as
propostas teóricas defensoras do uso da diversidade de gêneros textuais,
entretanto, não se observou, na prática que tais critérios tenham sidos colocados em
prática, uma vez que poucos gêneros de texto foram usados.
Solicitados a descrever o que seria um trabalho direcionado ao uso da
diversidade de textos na alfabetização, 60% dos professores pesquisados, assim
como a coordenadora da biblioteca disseram que é ter a sala com cantinho de leitura
que apresenta somente livros de literatura infantil – historinhas.
Já para os outros 40% dos professores e a coordenadora pedagógica uma
sala de aula repleta de variados textos, estudados em classe, permanentemente
expostos, demonstram o trabalho com a diversidade textual.
Para 60% dos professores o que mais dificulta o trabalho em questão é o fato
de o aluno ainda não saber ler. Para 20% dos professores é o elevado número de
conteúdos previstos para a série. Para outros 20% dos professores, assim como
para as coordenadoras da biblioteca e pedagógica a dificuldade está na falta de
habilidade do professor em trabalhar a estrutura e as particularidades de cada
gênero textual.
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As duas questões abertas, por sua vez, trouxeram os seguintes resultados:
Na primeira todos que responderam o questionário afirmaram ser importante o uso
da diversidade de textos no processo de alfabetização. Na segunda, apresentou a
metodologia de oficinas como sugestão de formação continuada da temática, a fim
de instrumentalizá-los para trabalhar os diferentes gêneros com crianças que ainda
não sabem ler.
Observa-se
que
tanto
professores
quanto
a
coordenação
parecem
demonstrar um bom nível de consciência sobre a importância do uso da diversidade
de textos na alfabetização e letramento dos alunos. Esses dados coincidem com
que afirma Ferreiro (1999) que o conhecimento se constrói a partir do sujeito
cognoscente e do objeto a conhecer, no qual o objeto serve de ocasião para que o
conhecimento se desenvolva, ou seja, não são apenas os teóricos que discutem
reservadamente tal tema, a prática requer tal sensibilização.
4.1. Caminhos para superar os problemas identificados
Como foi sugerida pelos docentes oficinas para uso dos diversos tipos de
textos para crianças que ainda não sabem ler, a coordenadora pedagógica propiciou
oficinas dentro da sala de aula. Em uma oficina a coordenadora pedagógica foi para
a sala de aula e ministrou uma aula sobre notícia para os alunos juntamente com o
alfabetizador.
A aula foi planejada pela coordenação em consonância com a
realidade da turma e o apoio do professor. A oficina proporcionou momentos de
formação ao docente e momentos de aquisição de conhecimento aos alunos.
Outra oficina foi sobre regras de jogos, que aconteceu través da interação
coordenador, professor e alunos. A coordenadora levou para a sala de aula vários
jogos pedagógicos acompanhados de suas regras, apresentou o material para os
alunos em grupos, que puderam manusear, e após, ouve a exposição oral e
discussão sobre a regra de cada jogo. Em seguida as crianças brincaram e tiveram
a oportunidade de aprender e valorizar mais um gênero textual, assim como,
receberam textos diversos em fichas para leitura fora da sala de aula.
Para finalizar o trabalho, foi discutida no Dia Pedagógico a questão de como o
coordenador pedagógico poderia contribuir com a formação dos professores
alfabetizadores para o uso dos diversos gêneros textuais e após, foi distribuído a
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cada alfabetizador uma coletânea contendo os mais variados tipos de textos. Esta
coletânea veio contribuir com textos, favorecendo novas estratégias a serem
aplicadas aos alunos, de forma coerente às situações vivenciadas no processo de
ensino e aprendizagem nas turmas de alfabetização.
5. Considerações Finais
Como o coordenador pedagógico pode potencializar a gestão pedagógica,
junto aos professores alfabetizadores, quando estes realizam o trabalho de modo
tradicional; e, ao simplificar o modo de ensinar, desvinculam as práticas de leitura e
escrita do movimento histórico e subestimam a capacidade cognitiva das crianças?
Foi movida por essa indagação que a coordenação pedagógica pôs-se a investigar
as melhores estratégias pedagógicas junto aos professores visando à capacitação
docente para a incorporação do uso de textos diversos no processo de alfabetização
e letramento de seus alunos.
Do ponto de vista das teorias estudadas fica evidenciado que se deve
trabalhar de forma que a diversidade textual vivenciada na sala de aula propicie ao
alfabetizando construir estratégias e hipóteses cada vez mais relevantes para
efetivação de sua aprendizagem. As concepções e imagens que as crianças vão
formando por meio da interação com os vários tipos de textos, de suas partes, suas
organizações espaciais no papel e suas características discursivas têm um papel
fundamental no desenvolvimento lingüístico como um todo.
Do ponto de vista das questões analisadas neste estudo, contraditoriamente
fica evidenciado no trabalho desenvolvido, a predominância dos textos constantes
dos livros didáticos. Ressalvando os avanços detectados nas edições mais recentes
dos livros didáticos, que buscam diversificar os gêneros de seus textos, continua
faltando a interpretação dos textos, dentro do seu contexto de uso social, em sua
função original e em seu suporte de origem.
O coordenador Pedagógico, ao identificar essa dicotomia, precisa analisar as
melhores estratégias e propor ações de formação docente capazes de ajudá-los a
compreender
a
possibilidade
de
a
escola
construir
situações linguísticas
significativas.
Após a intervenção pode-se observar o empenho dos professores em
diversificar mais os textos em sala de aula, mesmo frente a alunos que não sabem
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ler. Estes por sinal se apropriam dos textos naturalmente o que facilita a aquisição
da leitura, da escrita e do entendimento dos mesmos. No geral os alunos têm
demonstrado satisfação pelas aulas inovadoras que tem ocorrido.
Conclui-se que a construção da identidade individual no processo de
produção do conhecimento lingüístico se dá através da alfabetização voltada para a
diversidade textual e está fundada na articulação, na integração das diversas
habilidades e na construção da identidade social.
Referências
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Parâmetros Curriculares
nacionais (PCN’S) Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEED, 1997, 144p. p.30
CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber, formação de professores e
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P.57
CONDEMARÍN, Mabel; GALDAMES, Viviana e MEDINA, Alejandra. Oficina de
Linguagem - Módulos para desenvolver a linguagem oral e escrita. São Paulo:
Moderna, 1997.
FERREIRO, Emília e TEBEROSKY, Ana. A Psicogênese da língua escrita. Trad.
Diana Myriam Lichtenstein, Liana Di Marco e Mário corso. Porto Alegre: Artes
Médicas Sul, 1999, p. 167.
LIBÂNEO, José Carlos. “O sistema de organização e gestão da escola” In:
Organização e Gestão da Escola - teoria e prática. 4 ed. Goiânia: Alternativa, 2001.
MATOS, Magna Diniz; ASSUMPÇÃO, Solange Bonomo. Na trilha do texto Alfabetização. Belo Horizonte: Dimensão, 2000.
PIMENTA, S. G. (org.). Saberes pedagógicos e atividade docente. São Paulo,
Cortez,1999.
SOARES, Magda Becker. As muitas facetas da alfabetização. In: Cadernos de
Pesquisa. Fundação Carlos Chagas, fevereiro de 1985, nº. 52, p. 23.
TEBEROSKY, A. Psicopedagogia da Linguagem Escrita. 5 ed. Campinas - São
Paulo: Vozes, 2001.
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