01_Capa_204.qxp N.º 204 Maio 2009 Mensal 2,00 € 27-04-2009 11:43 Page 1 TempoLivre www.inatel.pt Desporto Inatel Joana Bárbara, uma terna guerreira Maravilhas Portuguesas no Mundo Ásia Terra Nossa Beja Entrevista Celeste Hagatong 02 pub conferencia.qxp 27-04-2009 11:46 Page 1 03_Sumario.qxp 27-04-2009 12:08 Page 3 Sumário Na capa Fotografia: José Frade 16 4 6 34 Joana Bárbara Para Joana Bárbara nadar é uma paixão. Sem muito tempo “para ir ao cinema ou sair à noite”, divide os dias entre o estágio de Enfermagem no Instituto Português de Oncologia, em Lisboa, e a natação. Por mês, tem ainda uma a duas provas, por norma na INATEL. Os títulos estão aí, à distância de umas valentes braçadas. EDITORIAL CARTAS E COLUNA DO PROVEDOR 8 CONCURSO DE FOTOGRAFIA 10 40 NOTÍCIAS MEMÓRIA Amélia Rey Colaço, um conservatório de teatro 48 50 OLHO VIVO A CASA NA ÁRVORE Maria Celeste Hagatong, banqueira Membro do Conselho de Administração do BPI, Maria Celeste Hagatong (1952), uma das raras excepções de uma mulher no topo de uma instituição bancária, acredita na superação da actual crise. 28 CHEFE SUGERE PATRIMÓNIO INATEL Foz do Arelho Museu de Portimão: uma fábrica com memória Inaugurado há um ano, reúne um acervo industrial, etnográfico e arqueológico que testemunha importantes aspectos da identidade local. O TEMPO E AS PALAVRAS Maria Alice Vila Fabião 82 22 VIAGENS NA HISTÓRIA Bolo de Azeite e mel 81 Beja: coração branco Cidade calorosa e hospitaleira, Beja não é apenas passado, não é apenas os seus monumentos dentro de muralhas, há equipamentos novos, uns mais recentes que outros. A biblioteca municipal, que tem como patrono José Saramago, o museu (Casa das Artes) Jorge Vieira, a galeria dos Escudeiros e o Parque da Cidade, estão aí, a torná-la agradável não apenas a quem a visita, mas, também, para quem a habita o ano inteiro. ENTREVISTA LUSOFONIAS Paula Osório e Luis Todo Bom escrevem sobre o turismo angolano 52 54 79 TERRA NOSSA CRÓNICA Álvaro Belo Marques 37 TERMAS EM PORTUGAL 55 72 BOA VIDA Chaves: “Uma cidade que faz bem” CLUBE TEMPO LIVRE Passatempos, Novos Livros e Cartaz 42 MARAVILHAS PORTUGUESAS NO MUNDO Ásia: o mundo das especiarias Revista Mensal e-mail: [email protected] | Propriedade da Fundação INATEL Presidente do Conselho de Administração: Vítor Ramalho Vice-Presidente: Carlos Mamede Vogais: Cristina Baptista, José Moreira Marques e Rogério Fernandes Sede da Fundação: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Fax: 210027027 Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Director: Vítor Ramalho Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: António Sérgio Azenha, Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Gil Montalverne, Guiomar Belo Marques, Humberto Lopes, Joaquim Diabinho, Joaquim Magalhães de Castro, Joaquim Durão, José Jorge Letria, José Luís Jorge, Lurdes Féria, Maria Augusta Drago, Maria João Duarte, Maria Mesquita, Pedro Barrocas, Pedro Soares, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Suzana Neves, José Lattas, Vítor Ribeiro. Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, Baptista Bastos, Fernando Dacosta, João Aguiar, Maria Alice Vila Fabião, Mário Zambujal. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA, Telef. 210027000 Fax: 210027061 Publicidade: Fundação INATEL, Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA Telef. 210027000; Fax: 210027027 Impressão: Lisgráfica Impressão e Artes Gráficas, SA - Rua Consiglieri Pedroso, n.º 90, Casal de Sta. Leopoldina, 2730-053 Barcarena, Tel. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade na D.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 168.158 exemplares 04e05_Editorial.qxp 27-04-2009 12:09 Page 4 Editorial Responder à crise V í t o r Ra m a l h o s Estatutos da INATEL vigoram desde 1.07.2008, após a publicação do Dec. Lei 106/2008 de 25 de Junho. O facto da Administração ter tomado posse três meses antes do final do ano, a 8 de Setembro, implicou que fosse esta a apresentar o relatório e contas de 2008, e não a direcção anterior. Coube também à actual Administração proceder à extinção do ex-Inatel, Instituto Público, reportada a 30.06.2008. Estando já nomeados o Conselho Fiscal, o Conselho Consultivo e o Conselho Geral, todos os referidos instrumentos contabilísticos foram ou vão-lhes ser presentes, para parecer, e de seguida enviados ao Sr. Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social para a elaboração da portaria de extinção e de homologação do relatório e contas. Ao arrepio do previsto pela direcção anterior os resultados de 2008 são negativos e fortemente negativos – 2.854.000 euros e o desvio, também negativo, em 30.06.2008, data do encerramento do processo de extinção do ex-Inatel, Instituto Público, é de 3.855.000 euros. Quer isto dizer que entre 30.06.2008 e 31.12.2008,houve uma “recuperação” de cerca de um milhão de euros (3.855.000 – 2.854.000). As contas foram auditadas por entidades idóneas, duas contratadas pela anterior direcção e uma outra, pela actual Administração. Os resultados apurados merecem uma análise séria pelas consequências nos orçamentos seguintes, incluindo o de 2009, elaborado “em linha” com a previsão de 2008. Temos perfeita consciência que a Fundação deve caminhar para a sua auto-sustentabilidade mas não deixaremos de, no imediato, procedermos à análise daqueles números, veiculando ao Governo as medidas de reforço que terão de ser adoptadas, para além das que se justificarem no plano interno, da responsabilidade da Administração, e que esta não declinará, incluindo a dimi- O 4 TempoLivre | MAIO 2009 nuição das despesas e o reforço das receitas. Todos devemos disto ter consciência. Os resultados negativos devem-se em grande parte ao facto de no primeiro semestre de 2008 não terem sido implementados programas governamentais, incluindo os do turismo sénior e da saúde e termalismo, por atraso na assinatura dos despachos correspondentes pelos membros do Governo. Face à importância destes programas para a economia em geral e para a economia social em particular, a situação terá de ser obrigatoriamente corrigida no futuro. Por essa razão, apesar dos atrasos dos despachos governamentais também este ano, foi feito um esforço muito profundo para a 1ª fase se iniciar em 12 de Maio, prolongando-se até final de Junho, com a 2ª fase a ser iniciada em Outubro. consciência da crise estrutural em que presentemente o mundo vive, de par com a exigência de respostas de novo tipo, pró-activas e menos dependentes, fundamentadas na natureza fundacional da nossa instituição, levou a Administração, a encetar desde a primeira hora um conjunto de medidas, coerentemente integradas e que, em jeito de avaliação aqui se relevam. Essas medidas atendem à estrutura, à imagem, ao reforço dos recursos próprios, aos trabalhadores e aos beneficiários. Assim, a importância da estrutura justificou a alteração do organigrama existente, concebido agora para responder a preocupações plurianuais e estratégicas, também a desafios novos, de índole social, ao reforço da interacção das direcções e dos objectivos fixados e ao controle deles, com permanente aferição do custo - beneficio. A própria concepção da representação distrital da Fundação foi reanalisada, modificando-se o conceito de Delegação para o de Agência, conceito com um conteúdo mais pró-activo, facto que se fez acompanhar também de outras alte- A 04e05_Editorial.qxp 27-04-2009 12:09 Page 5 rações orgânicas, ditadas por razões comerciais e pela necessidade de maior proximidade com os beneficiários colectivos e individuais. Daí a criação dos delegados regionais. Decorrente destas respostas, de natureza estrutural, foram reenquadrados numa lógica de maior eficiência os programas de informatização, incluindo o SAP, calendarizaram-se requalificações do património imobiliário, com afectação precisa das correspondentes verbas orçamentais e encetaram-se processos negociais com vista á abertura de novas unidades hoteleiras. Não se descuraram também os conflitos existentes com o Polis Albufeira, a Câmara Municipal de Albufeira e o Polis da Costa da Caparica, encetando-se acções que possibilitarão não só a curto prazo a superação desses conflitos mas também o reforço das receitas próprias. Aproveitando-se este impulso dirimiram-se outros conflitos, que se arrastavam há anos como os que envolviam a Somague e o antigo Presidente da Direcção, Dr.Eduardo Graça. imagem da Fundação beneficiou da uniformização da mensagem, com novas abordagens nos instrumentos de relação com terceiros, desde a Tempo Livre, que já recebe publicidade comercial, ao Sítio. Esse esforço, será prosseguido e foi acompanhado da divulgação pública semanal, num grande jornal diário desportivo, dos jogos de futebol da “Liga Inatel” e da parceria com um grande clube desportivo nacional, no Parque de Jogos 1º de Maio. Outras medidas do mesmo tipo foram adoptadas, explorando-se a presença da Fundação em eventos que se justificaram, pela repercussão pública, encetando-se ainda as Conferências “Novas Respostas a Novos Desafios”, com regularidade quinzenal e a presença de personalidades nacionais de reconhecido mérito público nelas, como oradores. No domínio das relações com os trabalhadores está em curso a reestruturação da chamada divisão A de pessoal, por forma a salvaguardar o controle temporal efectivo dos contratos de natureza precária, preparando-se um novo regimento das relações de trabalho, facto que foi precedido da integração recente no quadro de 88 trabalhadores contratados a termo ou em prestação de serviços. Tanto quanto possível tem-se atendido à mobilidade interna, a pedido dos próprios, sempre que essa pretensão corresponde também aos interesses da Fundação. or fim, e sem que o elenco descrito esgote as medidas assumidas no quadro acima referido, prepararam-se medidas de contenção de despesas e de reforço de receitas, ponderando-se uma gestão futura por objectivos, quer nas unidades de férias quer nas agências. Estão em preparação a alteração dos mecanismos de subsidiação aos CCD´s, bem como o aprofundamento das relações da Fundação com estes beneficiários colectivos, sobretudo no domínio da cultura tradicional portuguesa e o reforço das relações de parceria internacionais, tendo sido também já aprovado o estatuto do beneficiário. A Administração espera num prazo tão breve quanto possível aprovar o “cartão Inatel”, com a inclusão de novas regalias para os beneficiários individuais e para os trabalhadores da Fundação. Como inicialmente se referiu toda esta acção foi levada a efeito com a preparação da extinção do ex-Inatel IP, a elaboração do plano de actividades e orçamento para 2009 e agora também do relatório e contas de 2008. Temos plena consciência da crise e da situação envolvente, a exigirem medidas que reforcem as receitas próprias e façam diminuir as despesas, - repete-se – a serem prosseguidas sem afectação da qualidade dos serviços que prestamos e até com o seu reforço. O objectivo é o de trabalharmos para que a nossa Fundação seja cada vez uma instituição prestigiada e determinante na economia social, em que se insere. Com o contributo de todos, vamos conseguir. ! P MAIO 2009 | TempoLivre 5 06.qxp 27-04-2009 12:10 Page 6 Cartas A correspondência para estas secções deve ser enviada para a Redacção de “Tempo Livre”, Calçada de Sant’Ana, nº. 180, 1169-062 Lisboa, ou por e-mail: [email protected] Yoga no Porto O meu marido é sócio há muitos anos e eu, na qualidade de cônjuge, frequento, há cinco anos, as escolas de lazer na Inatel Porto. Dá-me muito gosto frequentar as aulas nas diversas modalidades que existem, especialmente o yoga. Como todos sabemos, é muito benéfico manter-nos activos, quer fisicamente como psiquicamente e dada a crise que atravessamos, não é fácil frequentar outros ginásios, por as mensalidades serem muito altas. M. Paula, Porto (recebido por e-mail) Vagas Nunca beneficiei dos vossos serviços mas cada vez que contacto os centros de férias para usufruir de uma estada ao fim-de-semana ou alguns dias durante o verão a resposta é sempre a mesma “não há vagas”. Quem trabalha e só tem os sábados e domingos livres para passear, só consegue usufruir de estadias se fizer reservas com vários dias de antecedência. Não será possível melhorar o sistema? José Augusto (recebido por e-mail) 50 anos na INATEL Completaram, este mês, 50 anos de ligação à Fundação Inatel os membros associados: José Luz Mariano, Aljustrel; Alfredo Januário Gromicho, Amadora; Artur Vieira Miranda, Coimbra; António José Correia, Évora; Joaquim Nazaré Monteiro, Leiria; Vitor Quintão e Mª de Lourdes Levy Ribeiro, Lisboa; António Francisco Trindade, Santarém; José Carlos Carreira, Torres Novas. Coluna do Provedor ATRAVÉS DO DIÁLOGO aberto e fraterno que temos Kalidás Barreto [email protected] Igualmente são várias as sugestões para que se ocupações relevantes que se repetem, quer às relati- crie um espaço residencial em Lisboa, bem como vas a alterações regulamentares nos diversos progra- nas sedes de distrito, por construção, aquisição ou mas sociais, quer as que se referem a melhoramentos. protocolo, lacuna que continua a ser sentida pelos Todas têm sido objecto de atenção e transmitidas associados. Pelo que diz respeito a Lisboa lembram à Administração da Fundação para ponderação e a necessidade de reconstrução do degradado edifício oportuna decisão. da Av. Infante Santo. A remodelação dos Parques de Campismo, aliás Os associados continuam a exigir maior investi- urgentissima, são objecto de frequentes sugestões, mento nos alojamentos degradados de alguns tal como as instalações do histórico 1º de Maio; tam- Centros de Férias. bém o Teatro da Trindade é objecto de recomendações e melhorias. com as autarquias, que se mostrem interessadas em criação de condições apropriadas para deficientes estabelecer condições para o exercício de actividades motores não só nos Centros de Férias, mas também turísticas e desportivas susceptíveis de constituírem na Sede da Fundação. veículos de atracção e pólos de desenvolvimento, Sem ter de cuidar aqui das causas, mas sim dos servindo também o imperativo nacional de contri- efeitos, não errarei que todos temos deficientes buir para contrariar a tendência de desertificação do motores, entre familiares, vizinhos, amigos ou sim- interior. Nesse âmbito lembram a INATEL, dentro do ples conhecidos. E eis que surge o drama da loco- equilíbrio financeiro necessário deveria criar novos moção; e eis que surge o drama das barreiras arqui- Centros de Férias ou Parques de Campismo, aumen- tectónicas, testemunho claro de uma sociedade indi- tando a sua oferta de acolhimento. Regozija saber que os associados confiam que tal preocupação faz parte da Administração que sente a TempoLivre | MAIO 2009 Finalmente, no sentido de incrementar o desenvolvimento regional, sugerem acordos ou protocolos Outras sugestões importantes referem-se à ferente e egoísta. 6 urgência de quebrar essas barreiras. mantido com os nossos associados chegam-nos pre- Esta participação e interesse dos associados são a melhor demonstração de como é diferente a Fundação INATEL. ! 07.qxp 27-04-2009 11:59 Page 1 08e09_Conc_Fotog.qxp 27-04-2009 Fotografia 12:12 Page 8 XIII Concurso “Tempo Livre” Fotos premiadas [1] [2] 8 TempoLivre | MAIO 2009 08e09_Conc_Fotog.qxp 27-04-2009 12:12 Page 9 Regulamento 1. Concurso Nacional de Fotografia da revista Tempo Livre. Periodicidade mensal. Podem participar todos os membros associados da Fundação Inatel, excluindo os seus funcionários e os elementos da redacção e colaboradores da revista Tempo Livre. 2. Enviar as fotos para: Revista Tempo Livre - Concurso de Fotografia, Calçada de Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa. 3. A data limite para a recepção dos trabalhos é o dia 10 de cada mês. 4. O tema é livre e cada concorrente pode enviar, mensalmente, um máximo de 3 fotografias de formato mínimo de 10x15 cm e máximo de 18x24 cm., em papel, cor ou preto e branco, sem qualquer suporte. Menções honrosas [ a ] Fernando Pereira, Ermesinde Sócio n.º 426645 [ b ] Maria António, Porto Sócio n.º 457699 [ c ] Regina Costa, Fundão Sócio n.º 318102 [a] 5. Não são aceites diapositivos e as fotos concorrentes não serão devolvidas. 6. O concurso é limitado aos membros associados da Inatel. Todas as fotos devem ser assinaladas no verso com o nome do autor, direcção, telefone e número de associado da Inatel. 7. A Tempo Livre publicará, em cada mês, as seis melhores fotos (três premiadas e três menções honrosas), seleccionadas entre as enviadas no prazo previsto. [b] 8. Não serão seleccionadas, no mesmo ano, as fotos de um concorrente premiado nesse ano [3] 9. Prémios: cada uma das três fotos seleccionadas terá como prémio duas noites ou um fim de semana para duas pessoas num dos Centros de Férias do Inatel, durante a época baixa, em regime APA (alojamento e pequeno almoço). O prémio tem a validade de um ano. O premiado(a) deve contactar a redacção da «TL». [c] [ 1 ] Mizael Fonseca, Porto Sócio n.º 82698 [ 2 ] Ana Fialho, Malveira Sócio n.º 122630 [ 3 ] Óscar Saraiva, S. Mamede Infesta Sócio n.º 31309 10. Grande Prémio Anual: uma viagem a escolher na Brochura Inatel Turismo Social até ao montante de 1750 Euros. A este prémio, a publicar na revista Tempo Livre de Setembro de 2009, concorrem todas as fotos premiadas e publicadas nos meses em que decorre o concurso. 11. O júri será composto por dois responsáveis da revista T. Livre e por um fotógrafo de reconhecido prestígio. MAIO 2009 | TempoLivre 9 10a14.qxp 28-04-2009 12:17 Page 10 Notícias Protocolos INATEL Vítor Ramalho, José Moreira Marques e Maria João Caxias na assinatura do protocolo INATEL/Misericórdia de Lisboa. À direita, Carlos Mamede, Vítor Ramalho e Luis dos Santos Jorge ! Reforçar os laços existentes entre a INATEL e a Misericórdia de Lisboa é o objectivo do protocolo estabelecido entre a Fundação e a Casa do Pessoal daquela importante instituição nacional. O acordo possibilita aos trabalhadores e associados da Santa Casa o acesso aos Centros de Férias durante a época média e baixa, a participação em viagens e excursões e o acesso às actividades culturais e desportivas da INATEL, incluindo os eventos do Teatro da Trindade. Na ocasião, Vítor Ramalho lembrou os laços estreitos que a instituição a que preside mantém com a Santa Casa da Misericórdia, membro do Conselho Geral da Inatel e sublinhou ser “um enorme orgulho ter os trabalhadores de uma instituição centenária com um papel significativo na sociedade portuguesa ligados à nossa Fundação”. Ainda em Abril, foi celebrado um protocolo com o Conselho das Comunidades Portuguesas que prevê a admissão, como sócios da Fundação, os cidadãos portugueses residentes no estrangeiro e o seu movimento associativo. “Este acto – assinalou o presidente da Inatel - pretende não só estreitar relações com as comunidades do nosso país residentes no estrangeiro, como é uma forma de agradecer o contributo que essas comunidades têm dado ao pais”. Vítor Ramalho recordou, a propósito, o programa “Portugal no Coração” que, em Outubro do ano transacto, trouxe ao nosso país cidadãos seniores residentes em vários pontos do mundo, que há mais de dez anos, por razões económicas, não puderam visitar o país. Voz e Piano no Trindade Noite memorável no Trindade no concerto de Carlos Mendes e Filipe Raposo (piano) longamente aplaudidos por uma sala repleta e comovida pela evocação dos belos poemas de grandes poetas portugueses, como Manuel da Fonseca, Torga, Pessoa, Boto, Manuel Alegre, Papiano Carlos, Joaquim Pessoa e Carlos de Oliveira. 10 TempoLivre | MAIO 2009 10a14.qxp 28-04-2009 12:17 Page 11 “De Malangatana a Pedro Cabrita Reis” ! No Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha está patente, até 18 de Junho, a primeira exposição do projecto itinerante “De Malangatana a Pedro Cabrita Reis – Colecção Caixa Geral de Depósitos”, comissariado por Jürgen Bock e que apresenta, pela primeira vez, a colecção da CGD fora dos grandes centros urbanos. A escolha das obras para este projecto foi feita em simultâneo com a selecção dos espaços de exibição, reunindo um determinado conjunto de obras capazes de dialogar entre si e com o espaço expositivo. Foram visitados 41 locais em todo país para ! Tendo descobrirem quais os mais adequados para estas exposições. Esta exposição pode ser visitada de 2ª a 6ª feira, das 12h00 às 18h00 e aos fins-de-semana das 10h00 às 14h00 e das 18h00 às 20h00 (durante o período dos espectáculos no grande auditório). “Marginal” de Paulo Ossião na Galeria do Casino ! Uma exposição de pintura de Paulo Ossião, considerado um dos mais importantes aguarelistas portugueses contemporâneos vai estar patente até 18 de Maio na Galeria de Arte do Casino do Estoril. Na presente exposição, a que deu o título, “A Marginal”, como homenagem à terra onde sempre viveu e se iniciou na pintura, Paulo Ossião apresenta duas dezenas e meia de trabalhos, que considera memórias de infância, na sua maioria sobre as zonas ribeirinhas do Tejo, desde Alcântara até Cascais. Booksmile, livros que saltam à vista ! Booksmile, a primeira editora portuguesa vocacionada para o livro ilustrado de grande público, recentemente inaugurada em Lisboa, apresentou-se no mercado com o seu bestseller “Galope!” - um livro para todas as idades ilustrado segundo um método inovador e onde, através de uma mistura de tecnologia e encantamento Fundação INATEL integra 88 trabalhadores nos seus quadros os animais adquirem vida no papel, tal como acontece com os desenhos animados no ecrã. Sob o lema “livros que saltam à vista” a editora fundada por Manuel Freitas, promete até finais do ano editar 27 títulos, nos quais se inclui a colecção infantil Princesa Poppy, e os incríveis álbuns Toots, livros circulares com capas tácteis, que irão fascinar. em atenção a responsabilidade que uma entidade como a Fundação Inatel prossegue no domínio da economia social, o Conselho de Administração deliberou integrar nos seus quadros oitenta e oito trabalhadores que se encontravam em situação precária, por estarem contratados a termo ou em regime de prestação de serviços. À deliberação não foi alheia a situação de crise existente, a natureza da Fundação e os benefícios recentemente concedidos no domínio da Segurança Social às entidades empregadoras que assim procedessem Futebol e Atletismo no Parque 1º de Maio: Nelson Évora e Obikwelu regressam à competição ! O Parque de Jogos 1º de Maio vai ser palco, a 9 de Maio, de um importante torneio ibérico de Atletismo, com a participação do Sporting, Benfica e do campeão espanhol da modalidade, Playas de Castellón. O meeting, de entrada livre, registará a presença de nomes sonantes do atletismo, como os portugueses Obikwelu, Nelson Évora, Rui Silva e o espanhol Frank Casãnas. De 27 a 30 de Maio, estádio da Fundação Inatel recebe o XV Torneio Internacional “Cidade de Lisboa” , Futebol – Sub/18, com a participação das selecções de Finlândia, Alemanha, Estados Unidos e Portugal. MAIO 2009 | TempoLivre 11 10a14.qxp 28-04-2009 12:17 Page 12 Notícias Conferências INATEL “A Europa precisa de um líder com visão estratégica” – defendeu Ana Gomes em Vila Real ! Os contextos políticos internacionais que estiveram na origem da actual crise económica constituíram o tema central da intervenção de Ana Gomes na conferência da série «Novas Respostas a Novos Desafios», iniciativa conjunta da Fundação INATEL e da Fundação Mário Soares. Na conferência, que teve lugar em Vila Real, subordinada ao tema «Novas respostas internacionais», a deputada europeia assentou em três pontos a sua intervenção: um retrato/diagnóstico da crise; uma interpretação das causas; um conjunto de propostas políticas para alicerçar uma nova ordem económica e política internacional. Salientando algumas das consequências mais negativas do pensamento neo-liberal – “economicismo, consumismo desenfreado, agravamento das desigualdades e da criminalidade de colarinho branco” –, Ana Gomes deixou uma crítica global a um modelo de produção que conduz “ao esgotamento dos recursos naturais” e advogou a criação de um “novo modelo de crescimento económico que seja sustentável”. Quanto às responsabilidades pela actual situação, a deputada sublinhou que elas não se circunscrevem “a Reagan, Tatcher ou às políticas monetaristas”. Se o descalabro do sistema financeiro começou nos EUA, “nós também fomos atrás, até os socialistas foram contaminados. Todos os bancos europeus foram atrás desses produtos tóxicos, que são falcatruas”. É neste contexto que propõe uma regulação 12 TempoLivre | MAIO 2009 eficaz do sistema financeiro internacional e a reforma do Banco Mundial e do FMI. A crítica contundente à fraqueza e falta de liderança e estratégia da União Europeia, evidenciada na reunião do G20 (“estavam lá várias Europas”) ficou patente na expressão: “Sabem quem é o verdadeiro líder na Europa? É Obama, e são as suas ideias que têm inspirado os políticos europeus”. A Europa deveria afirmar, defendeu ainda, uma posição própria nas questões relacionadas com a segurança, com o Iraque e com o Afeganistão, e na reestruturação da ONU. O regresso da ética à política e, sobretudo, o “regresso do político”, deve estar na base da construção de “um novo paradigma”. Um novo paradigma que tome como prioridades a construção de uma economia sustentável (“baseada nas energias renováveis”), a consumação de “uma política social europeia, a luta contra a corrupção, o diálogo social e uma política de direitos humanos mais eficaz”. Às críticas da audiência por ter centrado a sua intervenção na Europa, Ana Gomes justificou-se: “Precisamos de uma União Europeia como actor global. Percebemos a atracção que este modelo, que conseguiu a paz desde a II Guerra, exerce sobre os outros povos”. E pensando, provavelmente, nos combates políticos que se avizinham, acrescentou: “Mas precisamos de uma liderança, de um líder com visão estratégica”. H.L. 10a14.qxp 28-04-2009 12:17 Page 13 Gala do Fado no Estoril ! O Casino Estoril vai acolher, no próximo dia 21 de Maio, no Salão Preto e Prata, a oitava edição da “Grande Gala do Fado Carlos Zel”, com a participação de Ana Moura, Argentina Santos, Camané, Carlos do Carmo, D. Vicente da Câmara e Maria da Fé. Os seis fadistas serão acompanhados por Mário Pacheco e Paulo Parreira, na guitarra, Carlos Garcia, na viola e Joel Pina, na viola-baixo. Festival Islâmico em Mértola ! De 21 a 24 de Maio, Mértola vai ser o espaço privilegiado de nova edição do Festival Islâmico, um encontro invulgar de pessoas e culturas com concertos nocturnos de música de inspiração árabe e mediterrânica e quatro dias de mercado - o “souk” de cabedais, djellabas, incensos, sândalo, chá de menta, tecidos, tapetes e especiarias e o inevitável ritual árabe de regatear um bom preço e pontos de animação espontânea: um grupo de djambés, uma dançarina, um pintor, um poeta ou um cantor. Fundação INATEL na Feira do Livro de Lisboa !A Inatel marca presença na Feira do Livro de Lisboa, a decorrer até 17 do corrente, no Parque Eduardo VII, com as suas edições a preços mais acessíveis. Serão livros do dia, sucessivamente: “Aldeias Históricas”, “Bandeiras Portuguesa de Domínio”, “Inatel Porto Santo / INATEL Palace”, “O Jogo e o Trabalho”, “Manual Higiene Segurança Alimentar”, “Colégio Meninos Órfãos Mouraria”, “A Arte da Xávega” (vols. I e II), Vários livros da Colecção Teatro, “Agrupamentos de Folclore”, “Heráldica Corporativa”, “O Desporto e o Lazer” (vol. I e II), “100 Anos da Linha do Tua”, “O Trajo Regional em Portugal / Como Trajava O Povo Português”, “Estado Novo e Alegria no Trabalho”, “Novos Tempos de Lazer Português”, “Parque de Jogos 1º de Maio” e, finalmente, no dia 17, “Novos Textos - Peças de Teatro”. Recorde-se que este evento, fundamental no domínio da promoção do livro e do fomento dos hábitos de leitura, surge, este ano, num espaço completamente renovado, com novos pavilhões e áreas de apoio ao visitante e à comunicação social. Actualização de registos dos Associados @ A fim de facilitar o contacto com os seus membros associados, a Fundação INATEL apela para a necessidade de actualizar os seus registos junto desta instituição, e solicita a todos o envio de um endereço electrónico para [email protected], indicando o nome completo e número de associado. 10a14.qxp 28-04-2009 12:17 Page 14 Notícias “Novas Respostas da Educação” Competência, disciplina e boa gestão – propõe Jacinta Moreira ! A defesa de uma escola pública que respeite o princípio da inclusão, sem descriminações, mas que não descure os alunos de elevado potencial, foi um dos pontos salientes da intervenção da professora Jacinta Moreira na sua intervenção em Braga, no Auditório do Instituto Português da Juventude, subordinada ao tema “Novas Respostas da Educação”. Na sua palestra, integrada no ciclo de conferências “Novas Respostas a Novos Desafios” que a Fundação Inatel, em parceria com a Fundação Mário Soares, promove ao longo deste ano em todas as capitais de distrito e nas Regiões Autónomas, Jacinta Moreira, professora do ano, em 2008, sublinhou necessidade, para um melhor ensino, de professores altamente competentes a nível científico e pedagógico e com uma séria formação contínua, mas integrados numa escola onde prevaleça a disciplina, uma gestão rigorosa e pais e encarregados de educação responsáveis e exigentes relativamente ao trabalho dos alunos. “Os alunos responsáveis e de elevado potencial são geralmente penalizados pela indisciplina nas aulas e o Estado deve cumprir a sua função de autoridade”, acentuou a a professora da Escola Carolina Michaelis (Porto), licenciada em Geologia e doutorada em Ciências da Educação, ao lembrar, igualmente, o exemplo inglês na responsabilização tanto dos pais como dos professores. “Não há respostas simples, únicas ou expeditas”, vincou, ainda, Jacinta Moreira no decorrer da conferência que terminou num vivo debate, com a participação de professores e encarregados de educação presentes no auditório. Falta de coragem na actual gestão das escolas, dúvidas sobre as novas leis de gestão e do estatuto do aluno, risco de o ensino actual estar a reproduzir as classes sociais ao privilegiar as turmas de nível e a integração da etnia cigana, foram alguns dos pontos em foco no debate. “Um Mundo em Mudança” !O Jardim de Inverno do Teatro S. Luíz esteve repleto no lançamento do livro de Mário Soares, “O Mundo em Mudança”, que reúne as mais recentes reflexões do antigo Presidente da República sobre a crise global que da “América do Norte, seu epicentro”, passou com maior ou menor intensidade, ao resto do Mundo e que está longe do fim. Com a vitória de Obama uma nova era de mudança está a começar, sublinha Mário Soares na introdução da obra, manifestando a esperança de que o sucessor de Bush na Casa Branca consiga corresponder às “pesadíssimas” expectativas que despertou. Net para Todos na Covilhã !A Agência INATEL da Covilhã disponibiliza, a partir do corrente mês, um novo espaço dedicado à Net para Todos para utilizadores interessados em conhecer ou aperfeiçoar conhecimentos no mundo da Web e 14 TempoLivre | MAIO 2009 que irá incluir acções de formação, com duração de 10 horas, e um período de acesso livre à internet. O Novo espaço dispõe de quatro postos de acesso à internet, um deles adaptado para cidadãos portadores de deficiência. As acções de formação decorrem de segunda a sexta-feira, entre as 11h00 e as 13h00, e o acesso livre, nos mesmos dias, entre as 14h00 e as 17h00. 15.qxp 27-04-2009 12:00 Page 1 16a20.qxp 27-04-2009 12:17 Page 16 Terra Nossa Beja Coração branco Ainda ao longe, de onde quer que a estrada nos traga, a primeira coisa a ganhar forma é a Torre de Menagem. Altiva e vertical, de imediato se torna um elemento que os olhos não querem abandonar. E com razão. É a mais alta torre castelã de quantas existem em Portugal. Torre de Menagem. Em baixo, Casa das Artes de Jorge Vieira e vista da Praça da República 16a20.qxp 27-04-2009 12:18 Page 17 16a20.qxp 27-04-2009 12:18 Page 18 Terra Nossa BENEFICIADA por se encontrar no cimo de uma suave colina, a Torre de Menagem do castelo de Beja é uma estrutura que domina a malha urbana. Já o castelo é pequeno e mais pequeno se torna devido aos seus volumosos e esguios quarenta metros de altura, divididos por três salas abobadadas. E se a torre se dá a ver ao longe, também permite ver o longe e o cimo do eirado é o grande miradouro sobre a cidade, e mais longe ainda, avançando o olhar livre sobre a peneplanície em redor. Obra atribuída a Dom Diniz, rei que para além de fazer versos construiu e ampliou fortalezas pelo país fora. Antes dele outro rei poeta ligou-se a Beja, embora de outra forma. Al-Mutamid nasceu na cidade em 1040, foi rei da taifa (pequeno reino muçulmano) de Sevilha e um dos poetas mais relevantes do AlAndaluz. Visitar Beja é poder usufruir de toda a cidade num só dia. Aqui a escala urbana facilita a mobilidade ao visitante. Por exemplo em menos de três minutos faço o caminho da Torre de Menagem até à igreja de Santo Amaro, agora Núcleo Visigótico do Museu Regional de Beja. O edifício como hoje se nos apresenta é maioritariamente do final do século XV e início do XVI, mas as raízes recuam até às primeiras comunidades cristãs e assim as colunas do interior surgem rematadas por capitéis da época visigótica. É, sem dúvida, o espaço adequado para expor a colecção de peças recolhidas ao longo dos anos na região e alusivas ao período visigótico, lápides, fustes, colunas, pilastras, aras, frontões e frisos. É um conjunto interessante, representando uma arte antiga e despretensiosa, onde a fé suplanta a perfeição ou o requinte. Uma arte onde a simplicidade é mais uma opção estética do que uma limitação dos artífices. Em busca de Mariana Já toda a gente ouviu falar de Mariana Alcoforado. O que nem toda a gente acredita é que ela seja a autora das célebres “Lettres Portugaises”. Nascida em Beja, em 1640, filha de uma rica família da terra, Mariana entrou para o convento da Conceição ainda menina. Anos mais tarde começou a receber visitas, conhecendo assim Noel Bouton, futuro marquês de Chamilly, então a combater em Portugal, durante a Guerra da Restauração. Supostamente Mariana escreveu 18 TempoLivre | MAIO 2009 16a20.qxp 27-04-2009 12:18 Page 19 Ovibeja A Ovibeja é a maior feira agrícola que se nomeadamente concursos e realiza em Portugal. Também é espectáculos. Tony Carreira, José Cid, considerada a maior feira de actividades Rita Red Shoes e X-Wife são alguns dos económicas do Sul do país. Organizada artistas que actuarão durante o pela Associação de Criadores de Ovinos certame. do Sul, – ACOS – irá decorrer, este ano, Com uma média anual de 300 mil de 29 de Abril a 3 de Maio. Esta 26ª visitantes e cerca de um milhar de edição tem como tema central a cultura expositores, a Ovibeja é, hoje, mais do que do olival e a produção de azeite. Esta é uma feira, um evento económico, cultural apenas uma parcela do programa, que e social com eco em todo o Alentejo e, contará, como vem sendo hábito, com simultaneamente, é também um factor de um conjunto alargado de actividades, afirmação da cidade de Beja. cinco arrebatadas cartas ao oficial, que foram publicadas em França em 1669, obtendo logo grande êxito, sendo desde então motivo para os mais desencontrados comentários. Vou atravessar meia cidade, um curto passeio como constato, até ao convento da Conceição, na verdade o que dele resta, para visitar o espaço onde Mariana viveu, mas também o Museu Regional de Beja, (também conhecido por Museu Rainha Dona Leonor) pois aí se encontra instalado desde 1927. Mas vamos por partes. Conta o museu com um espólio considerável, abrangendo a arqueologia, azulejaria, ourivesaria, metrologia, escultura, pintura, ferragens e cerâmica decorativa. Conjunto vasto, sem dúvida, mas onde merece destaque a pintura, pela diversidade e valor das obras. Destas, a carnalíssima figura da “Virgem do Leite”, pintura flamenga do século XVI, o elaborado “São Vicente”, dos Mestres do Sardoal, a trágica “Descida da Cruz”, de António Nogueira, pintura portuguesa do século XVI, e o impressivo “São Jerónimo”, de José Ribera, pintura espanhola do século XVII sobressaem, mas esta é uma escolha pessoal, logo subjectiva. A azulejaria é outra riqueza do museu. Azulejos portugueses dos séculos XVII e XVIII, mas também manufacturados em Espanha, em Valência e principalmente em Sevilha, os deno- Pormenor do ‘stand’ da Fundação Inatel, na edição do ano passado minados hispano-árabes, com o seu característico geometrismo e uma riqueza cromática onde se combinam e brilham os tons azuis, verdes e cobres. O museu conta com um novo espaço desde Maio de 2007. É o Núcleo da Rua do Sembrano, um lugar que mergulha nas raízes de Beja e que concentra um conjunto de “momentos decisivos da História da cidade”, um lugar onde se justapõem várias épocas, a começar pela Idade do Ferro, passando pela Época Romana, continuando pela Idade Média, avançando até aos séculos XVII e XVIII. O Núcleo surgiu no seguimento de escavações arqueológicas, depois musealizadas e integradas num edifício de feição contemporânea, onde sobressai um painel de azulejos da autoria do artista plástico Rogério Ribeiro, alusivo ao tema da água, motivo muito apropriado pois no período romano o local albergou umas termas romanas. Em redor encontram-se outros edifícios emblemáticos. Posso começar por referir a grande sala de espectáculos da cidade, o teatro municipal Pax Julia inaugurado em 1928 e, após obras de grande fôlego, reinaugurado em 2005. Por perto encontra-se a medieval igreja de Santa Maria, que antes havia sido mesquita, com quatro elegantes torres cilíndricas plasmadas na fachada, que lhe conferem um aspecto singular. Página anterior: Igreja de Santa Maria, café Luiz da Rocha e fachada do cine-teatro Pax-Julia. Nesta página, pormenor do Pelourinho MAI0 2009 | TempoLivre 19 16a20.qxp 27-04-2009 12:19 Page 20 Terra Nossa GUIA Núcleo da Rua do Sembrano, COMER Rua do Sembrano " Príncipe, Maltesinhas, Pasteis Largo de São João, Tel: 284 de Santa Clara, Pão de Rala e 326 308 Toucinho do Céu. Estas (e ÚTEIS DORMIR Posto de Turismo " Rua Capitão João Francisco de Largo d. Nuno Álvares Pereira, Dinis, 11, Tel: 284 325 937 Sousa; Tel: 284 311 913 Tel: 284 313 580 " " " Castelo / Torre de Menagem, Rua de Dom Diniz " Pousada de São Francisco, Beja Parque Hotel, Rua 1º " Dom Dinis, Rua de Dom Os Infantes, Rua dos Infantes, 14, Tel: 284 322 789 Museu Regional de Beja, outras) especialidades podem ser adquiridas em diversos estabelecimentos da cidade, embora se destaquem pela antiguidade e excelência dos de Maio, 1, Tel: 284 310 500 VISITAR DOÇARIA produtos duas casas, que são: Av. Fialho de Almeida, Tel: 284 Beja é uma das cidades " 313 080 portuguesas mais ricas no dos Açoutados, 12, Tel: 284 " Hotel Residencial Melius, Chá das Maltesinhas, Rua Largo da Conceição, Tel: 284 " capítulo da doçaria. A maioria 321 500 323 351 Fernando Lopes Graça, Tel: 284 das especialidades foi " 315 500 desenvolvida em antigos Rua Capitão João Francisco de espaços conventuais. A título de Sousa, 63, Tel: 284 323 179 " Núcleo Visigótico, Largo de Hotel Francis, Praça Santo Amaro Igreja de Santo Amaro: núcleo Visigótico do Museu Regional de Beja Onde também houve obras recentes foi na Praça da República, ampla e geométrica, um espaço que é uma verdadeira sala a céu aberto. A sala da cidade. Porém nem todos gostaram das obras. A junção de mobiliário urbano de linhas contemporâneas à arquitectura do tempo de Dom Manuel I foi sacrilégio, na opinião de alguns. Exagero, digo eu. Um alentejano de gema, – ou assim parece – homem entroncado, bigode grisalho e pele torrada por muito estio, aproveita o facto de me ver a tirar apontamentos para emitir a sua opinião. Decerto que eu tomaria nota do seu desagrado pelas modificações. Cidade Branca Beja é, decididamente, uma cidade branca. O branco, tradicionalmente da cal, a que se junta 20 exemplo podemos citar o Bolo Restaurante Alcoforado, TempoLivre | MAIO 2009 Pastelaria Luíz da Rocha, o azul e o ocre debruando peitoris e umbrais. É na cidade dentro de muralhas que continuo, espaço ocupado por bairros antigos, como a mouraria e a judiaria, nomes que preservam uma ideia de passado, dos seus habitantes originais que com a chegada da Inquisição, partiram uns, adaptaram-se às novas regras outros e, passadas gerações, são parte desse caldo que deu origem ao português moderno. Apesar do crescimento da cidade, – um crescimento contido, que livrou Beja de grandes desmandos construtivos – certamente que é neste espaço delimitado pelas muralhas que se encontra a alma de Beja, o ponto de onde irradia a sua personalidade. E há qualquer coisa na cidade que a tornam calorosa e hospitaleira. Nada de muito preciso ou consistente. Talvez a disponibilidade das pessoas para a conversa, talvez a cortesia genuína e simples. Talvez o azul límpido do céu e o calor estival, que a sombra das paredes brancas atenua. Depois Beja não é apenas passado, não é apenas os seus monumentos dentro de muralhas, há equipamentos novos, uns mais recentes que outros. A biblioteca municipal, que tem como patrono José Saramago, o museu (Casa das Artes) Jorge Vieira, a galeria dos Escudeiros e o Parque da Cidade, estão aí, a contrariar a interioridade, a torná-la agradável não apenas a quem a visita, mas, também, a torná-la apetecível a quem a habita o ano inteiro. ! José Luís Jorge (texto e fotos) 21.qxp 27-04-2009 12:02 Page 1 22_entrevista.qxp 28-04-2009 12:18 Page 22 Entrevista Maria Celeste Hagatong Banqueira igada há mais de duas décadas ao BPI, de que é actualmente membro do Conselho de Administração, Maria Celeste Hagatong (1952) é uma das raras excepções de uma mulher no topo de uma instituição bancária. Mas a actividade da única banqueira portuguesa ultrapassa largamente a área financeira. Conselho da Europa, Assembleia da República (Direcção dos Serviços Financeiros), Ministérios das Finanças e Administração Interna, recuperação e direcção da Cruz Vermelha, docente no ISCTE (Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa), Simplex, Fundação Jorge Álvares (Macau) foram, ou são, experiências múltiplas de uma experiente e dinâmica gestora que acredita numa saída para a actual crise ao lembrar a grave situação no final dos anos 70, com o retorno de 700 mil portuguesas das ex-colónias. “Vivemos sublinha - uma situação cambial praticamente em ruptura com défices públicos elevadíssimos e um sistema empresarial completamente desmembrado e envelhecido e conseguimos dar a volta com sucesso.” L “Já enfrentámos momentos 22 TempoLivre | MAIO 2009 22_entrevista.qxp 28-04-2009 12:18 Page 23 muito mais complicados...” MAI0 2009 | TempoLivre 23 22_entrevista.qxp 28-04-2009 12:18 Page 24 Entrevista Tempo Livre – Num inquérito feito por uma revista espanhola a uma dezena de homens com larga experiência no relacionamento com mulheres (cirurgiões, cineasta, escritores, actores, psiquiatras, ginecologistas, sexólogos e advogados de família) conclui-se que elas são “generosas, mas pouco solidárias. Realistas. Tenazes. Inseguras. Possessivas. Orgulhosas do seu êxito profissional. Desorientadas. Intuitivas. E muito mais fortes que os homens”. Concorda? Maria Celeste Hagatong – Há aí uma série de contradições. Se assim fosse, eram péssimas… com todos esses defeitos e qualidades. (risos) TL – Não concorda nada, portanto, com estas conclusões… MCH – Não. TL – Mas há inquéritos sociológicos que afirmam serem as mulheres mais realistas e mais organizadas na gestão… MCH- São talvez mais práticas. TL – Mas, ao contrário do que O que tivemos ocorre noutras áreas de activicapacidade para dade, a presença de mulheres na ultrapassar nos finais administração dos Bancos em da década de 70 e Portugal é um fenómeno muito início da de 80 foi raro... uma situação muito MCH – É verdade…na Banca e mais difícil do que a noutros sectores de actividade. que enfrentam TL – Há, no entanto, importantes os actualmente… sectores, como a magistratura, o ensino e a saúde, onde as mulheres têm um peso importante na liderança. MCH – Mas nas estruturas da alta direcção das empresas as mulheres começam, cada vez mais, a ter maior participação. TL – Com o que se está a passar na Banca, talvez desse jeito mais mulheres na sua gestão.. MCH – No Banco BPI, não obstante ser a única mulher que integra a comissão executiva do conselho de administração, um número crescente de cargos importantes de direcção, logo abaixo da Comissão Executiva, estão confiados a mulheres. Aliás, no Banco BPI, cerca de 50% dos efectivos são mulheres. TL – Isso acontece noutros bancos? MCH – Não tenho informação para lhe responder, mas no BPI há uma nova vaga de quadros qualificados, entre os 35 e os 45 anos que têm ascendido à estrutura de topo, onde está já reflec- “ ” 24 TempoLivre | MAIO 2009 tida uma participação crescente de mulheres, o que resulta da selecção ser sempre feita por mérito. TL - Tem uma experiência de mais de duas décadas de actividade na Banca… MCH – Estou, desde 1985, na banca privada. Formei-me em Julho de 1974, comecei a trabalhar em Setembro desse ano, na administração pública e gostei muito desse trabalho. Participei na primeira lei da reforma das finanças locais, a seguir ao 25 de Abril. Em 1977 trabalhei no Ministério das Finanças e na Direcção-Geral do Tesouro, até entrar para o BPI. Foram boas experiências profissionais. TL – Com toda essa experiência na área financeira, foi uma surpresa para si a actual crise económico-financeira? MCH – Para quem trabalha na banca não foi totalmente uma surpresa. Havia sinais e arautos de que as coisas não estavam bem e que algo podia ocorrer. O momento em que aconteceu é que foi uma surpresa para quase todos. TL – Concorda com a necessidade de uma profunda reforma do sistema financeiro internacional, defendida por grandes economistas como o prémio Nobel, Joseph Stiglitz? MCH – Acredito que haverá grandes mudanças, aliás já estão a acontecer. TL – Há muita responsabilidade da Banca nesta crise… MCH – Acho que temos que dividir responsabilidades, nomeadamente entre os vários países e continentes. Portugal não está no mesmo plano de outros países, mas a crise financeira é global e por isso também nos afecta. No entanto, o sistema financeiro português mantém uma situação sólida, bem cotada internacionalmente. TL – As falências em Portugal aumentam em 80 por cento no período de um ano… Houve mais 131 mil inscritos no desemprego em Janeiro e Fevereiro passados. MCH – Mas é importante lembrar que as falências em Portugal são processos demorados. A situação no entanto é mais complicada porque temos uma economia bastante aberta, vivemos muito do mercado de exportação e se os mercados para onde exportamos estão em crise, não pode deixar de ter reflexos negativos no nosso país. No BPI, tenho o pelouro da Banca de Empresas e tenho visto também que há muitas empresas que trabalham para 22_entrevista.qxp 28-04-2009 12:18 Page 25 os mercados externo e interno em que as coisas estão a correr bem, apesar da crise. Há um período negativo para a economia portuguesa que começa em 2002. Estamos assim a viver o reflexo dessa situação, agravada pela recente crise dos mercados externos. TL – Acredita numa saída para esta crise? MCH – Sempre houve saídas. Já enfrentámos momentos muito mais complicados. O que tivemos capacidade para ultrapassar nos finais da década de 70 e início da de 80 foi uma situação muito mais difícil do que a que enfrentamos actualmente. É bom recordar que nessa altura recebemos 700 mil portugueses sem empregos, oriundos das ex-colónias, vivemos uma situação cambial praticamente em ruptura com défices públicos elevadíssimos e um sistema empresarial completamente desmembrado e envelhecido e conseguimos dar a volta com sucesso. TL – Afirmou, recentemente, a Dr.ª Maria José Morgado, Directora-Adjunta da PJ, que os offshore são fortalezas do crime organizado… Concorda? MCH – O que é necessário é regular e uniformizar o sistema em todo o mundo. E nisso convergem os principais dirigentes mundiais que já anunciaram a vontade de acabar com esses paraísos fiscais. O sistema deve ser transparente, sem situações de excepção. TL - Esteve no Conselho da Europa, na Assembleia da República (na Direcção dos Serviços Financeiros), nos Ministérios das Finanças e Administração Interna, foi membro da direcção da Cruz Vermelha, foi professora no ISCTE (Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa) é banqueira. Que actividade mais a entusiasmou? MCH – Posso dizer que todas as experiências profissionais que tive foram muito gratificantes. Na Cruz Vermelha a experiência, de que também muito gostei, foi diferente, dado tratar-se de uma ONG. O início do meu relacionamento com a Cruz Vermelha teve a ver com uma prestação de serviços do BPI para a recuperação da situação financeira desta instituição que na altura se devia especialmente à gestão deficitária do seu hospital. Só mais tarde é que integrei a direcção da Cruz Vermelha presidia pela Drª Maria de Jesus Barroso. Actualmente ainda integro a Conselho de Administração da sociedade gestora do Hospital da Cruz Vermelha. TL – Está ligada às soluções financeiras do BPI para apoio das Empresas portuguesas nas exportações, com especial destaque para Angola. Que potencialidades vê na relação com Angola para a economia portuguesa? MCH – O BPI tem uma participação de 50 por cento no Banco de Fomento de Angola e o que observamos é um número crescente de empresas portuguesas a trabalhar em Angola ou com relacionamento com empresas angolanas. É um mercado muito afectivo para os portugueses. Acho que nos entendemos muito bem e o nosso Banco, com estas duas plataformas, tem um serviço muito completo a dar às empresas portuguesas. Praticamente todas as empresas nacionais que estão em Angola trabalham com o BPI/BFA. E temos aqui, em Lisboa, uma estrutura, o Gabinete Angola, que articula a relação entre os dois bancos e apoia as empresas portuguesas no seu Os principais relacionamento com Angola. dirigentes mundiais TL – Esse crescimento reflecte-se já anunciaram a nas nossas exportações? vontade de acabar com MCH – Há um elevado cresciesses paraísos fiscais mento. Angola foi o país de desti(off-shore). O sistema no onde as exportações portuguedeve ser transparente, sas mais cresceram nos últimos sem situações de anos. Angola é o nosso segundo excepção mercado de exportação mais importante fora da Europa, logo a seguir aos Estados Unidos. TL – Faz parte dos Interlocutores do SIMPLEX… MCH – Pertenço apenas a um Conselho Consultivo. TL – Acha que está a resultar todo esse processo de simplificação da burocracia em Portugal? MCH – Tem havido importantes melhorias na simplificação da burocracia em Portugal que se fazem sentir no nosso dia a dia. Por vezes esquecemo-nos que ainda há pouco tempo elas não existiam. Só quem sabe como é difícil levar a cabo este tipo de projectos, em especial na administração pública, pode dar valor aos resultados já alcançados. Muitas das soluções já implementadas em Portugal são muito mais avançadas do que as que ocorrem noutros países europeus e disso foi dada nota no estudo de avaliação do Simplex, elaborado recentemente pela OCDE. TL – Mas há críticas pela lentidão do processo… “ ” MAI0 2009 | TempoLivre 25 22_entrevista.qxp 28-04-2009 12:18 Page 26 Entrevista MCH – A reengenharia de processos administrativos é sempre uma tarefa muito complexa e, portanto nem sempre pode ser feita com a rapidez que se gostaria. TL – Faz parte, igualmente, da Fundação Jorge Álvares, de Macau… MCH – A minha família do lado do meu pai, tem raízes em Macau. O meu avô era de ascendência chinesa e a minha avó era descendente de famílias portuguesas Angola é o nosso que tinham partido para Macau, segundo mercado de desde 1760. exportação mais TL – Chegou a viver em Macau? importante fora da MCH – Nunca vivi, mas tenho Europa, logo a seguir uma relação muito forte com aos Estados Macau. Tenho 50 por cento de sanUnidos gue macaense, de que me orgulho imenso. O meu pai teve vários cargos em Portugal ligados a Macau e foi fundador e presidente da Casa de Macau durante vários anos. Pertencendo a uma família tradicional Macaense, o general Rocha Vieira, na altura Governador do Território, convidou-me para integrar o conselho de curadores da Fundação Jorge Álvares. Pertenço também ao conselho de curadores da Fundação da Casa de Macau. TL – Com tanta actividade, sobra-lhe algum tempo para o lazer? “ ” 26 TempoLivre | MAIO 2009 MCH – A gestão de tempo tem também de ser eficaz. As actividades fora do campo profissional permitem um olhar mais abrangente sobre áreas mais diversificadas e, portanto, também são entusiasmantes. TL – Com tantas e diferenciadas experiências, como reagiria a um convite governamental, designadamente para a área das finanças? MCH – Nunca senti grande vocação pela política. Gosto muito da minha actividade actual no BPI e não penso alterá-la. TL – E tem tempo, ainda, para a leitura, viagens… MCH – …e para a família. É tudo uma questão de boa organização dos tempos livres. TL – Que ideia faz da Fundação Inatel? MCH – É uma instituição com um enorme potencial. É nome bem conhecido, com um projecto muito interessante. Não frequentei nenhuma das suas actividades, mas já estudei o projecto Inatel por motivos profissionais e entre as suas importantes valências está o facto de ser conhecida e reconhecida pelas pessoas. Toda a gente sabe o que é a Inatel e conhece as actividades que promove, culturais, recreativas, turísticas. O número de portugueses que envolve é muito grande. Tem um potencial intrínseco que é imenso.! Eugénio Alves (texto) 27.qxp 27-04-2009 14:06 Page 1 28a32.qxp 27-04-2009 12:22 Page 28 Património Museu de Portimão Uma fábrica com memória Inaugurado há um ano, o Museu de Portimão reúne um acervo industrial, etnográfico e arqueológico que testemunha importantes aspectos da identidade local. A indústria conserveira é uma das temáticas centrais do museu. “TERRITÓRIO E IDENTIDADE” é o título da exposição principal do Museu de Portimão. A associação dos dois conceitos define com justeza a filosofia subjacente a todo o projecto, centrado na recuperação de património edificado e, em simultâneo, na preservação e divulgação da memória e da realidade histórica, cultural e social da região. A identidade de Portimão tem os seus esteios nas dimensões representadas nos espaços expositivos e nos conteúdos do museu, e a própria localização do edifício, na zona ribeirinha da cidade, sublinha um dos aspectos dessa identidade, que é o de uma forte ligação com o rio Arade e com a indústria conserveira. O museu está exemplarmente instalado no edifício de uma antiga fábrica de conservas e abrange, com as suas múltiplas valências, uma área de cerca de 5000 m2. Adquirido pelo Município de Portimão em 1996, foi objecto de reabilitação e adaptação – com projecto assinado pelo gabinete dos arquitectos Isabel Aires e José Cid -, tendo sido mantidas as suas características arquitectónicas fundamentais, nomeadamente a volumetria e a emblemática fachada principal. As principais transformações por que passou a antiga fábrica de conservas Feu (inaugurada em 1902 e encerrada nos anos 80), dizem respeito a elementos introduzidos na fachada nascente, vol28 TempoLivre | MAIO 2009 28a32.qxp 27-04-2009 12:22 Page 29 tada para o rio, de forma a criar novos espaços e permitir novas funcionalidades: Centro de Documentação, recepção, auditório, restaurante, esplanada, oficina educativa e áreas técnicas para acolhimento de reservas museológicas. Dadas as características do edifício - fábrica, houve intenção expressa de potenciar a valência museológica do conjunto, que se estende para o exterior, para o cais, ao longo da margem do rio. A recuperação do pontão de descarga, do vaivém de transporte de peixe, do guindaste Marion 2, o único existente em Portugal, e da chaminé da fábrica, insere-se nessa estratégia de conservação e de evocação dos mais representativos elementos identitários da cidade, entre os quais o velho edifício da fábrica Feu é uma peça-chave. Como salienta José Gameiro, director do museu, “a grande e primeira peça do museu é a fábrica, como objecto contentor”. O outro elemento, acrescenta, é a “envolvente fluvio-marítima que MAI0 2009 | TempoLivre 29 28a32.qxp 27-04-2009 12:22 Património 30 TempoLivre | MAIO 2009 Page 30 28a32.qxp 27-04-2009 12:22 Page 31 caracteriza esta zona do litoral e que é contada pela exposição ‘Território e Identidade’”. Memórias e visões do sul A história do museu de Portimão começa nos anos 80, quando se constitui a respectiva comissão instaladora. Por essa altura regista-se já um declínio da indústria conserveira e assiste-se ao encerramento das fábricas. “Nós confrontámonos então com um património industrial valiosíssimo e muito importante para a identidade desta região, verificando-se nessa altura uma grande dragagem no rio que permitiu ver depositado nos areais um grande potencial arqueológico”, recorda José Gameiro. “Houve um momento em que estavam criadas as condições para que, face a estes dois tipos de património, um em decadência e outro em evidência, se reunissem as vontades de um grupo de pessoas que interpelou a Câmara no sentido de se criar a comissão instaladora do museu”. Esse tempo é também um tempo de mudança na construção naval, uma vez que a madeira passa a ser substituída pela fibra e pelo metal. Dá-se início, nesse contexto, à reunião do acervo do futuro Museu de Portimão, através de “recolha nas fábricas, nos areais, nos materiais arqueológicos e etnográficos; é um momento de viragem, também, na substituição dos saberes relacionados com a madeira, e isso levou-nos a fazer uma recolha enorme que está patente na exposição”. No processo esteve também envolvido um grupo ligado às questões da defesa do património, os «Amigos de Portimão», entretanto desaparecido. A cooperação da população foi também importante para a organização do acervo, através de ofertas, doações e informação. “Há o Centro de Documentação e um Arquivo Histórico que se baseia muito nos patrimónios arquivísticos industriais das colectividades de Portimão”. Muitos dos objectos expostos têm diferentes origens, uma vez que a exposição “não é só sobre esta fábrica, é sobre todo o centro conserveiro de Portimão”. Entre as actividades desenvolvidas pelo Museu de Portimão, José Gameiro releva a Oficina Educativa, vocacionada para a cooperação com as escolas, a par de exposições temporárias e a ocupação quase permanente do auditó- rio com iniciativas próprias ou alheias. Há frequentes solicitações da comunidade e uma programação própria que se pretende regular. Um exemplo é o ciclo de cinema documental «Visões do Sul», realizado no passado Outono. Vozes de operários, apitos, sirenes e um fado-anúncio O acervo – que abarca um espólio industrial, arqueológico, subaquático, naval e etnográfico - é bastante diversificado e está repartido por vários percursos. O correspondente à indústria conserveira é o que ocupa uma maior área expositiva. A exposição axial do museu, “Portimão – Território e Identidade”, engloba três percursos organizados sob esse signo, desdobrados dois deles por várias temáticas. O terceiro percurso, Um ano de vida: comemorações O Museu de Portimão comemora no próximo dia 17 o seu primeiro aniversário. Entre outras iniciativas, realiza-se no dia 16 um concurso de fotografia sobre o património natural e cultural da cidade. Nessa noite o museu abre portas a espaços de exposição e áreas de trabalho mais reservadas. No dia 17 é inaugurada a exposição «O Coleccionador de Pintura», que reúne pela primeira vez obras que fizeram parte da colecção pessoal de Manuel Teixeira Gomes, portimonense que foi diplomata e Presidente da República, e que estão actualmente dispersas por vários museus. No dia 18, Dia Internacional dos Museus, há visitas (individuais ou guiadas) gratuitas. breve, realiza-se através de uma passagem pela antiga cisterna, também reabilitada. Chama-se “Do fundo das águas” e é um percurso que evoca, através de dispositivos multimédia, a fauna e a flora do rio Arade e da orla marítima da região. Os dois principais percursos preenchem a quase totalidade dos espaços de exposição do museu, inaugurado em 17 de Maio de 2008. O primeiro percurso – “Origem e destino de uma comunidade” – assinala alguns aspectos históricos através de um acervo de objectos e reconstituições que recua até aos períodos de ocupação romana e islâmica. A relação com o rio Arade – “uma porta entre o Atlântico e o Mediterrâneo” –, a actividade da construção naval nos estaleiros de Portimão, o mundo rural e a produção de frutos secos são outras temáticas. «Manuel Teixeira MAI0 2009 | TempoLivre 31 28a32.qxp 27-04-2009 12:22 Page 32 Património Tel. 282405230; e-mail ALOJAMENTO Portimão. Em alternativa, não [email protected] O Centro de Férias da Fundação falta oferta hoteleira. MUSEU DE PORTIMÃO Horário: Terça-feira, das 14h30 INATEL, na vizinha cidade de Informação e reservas em: Contactos às 18h00; Quarta-feira a Albufeira, é uma opção de www.algarve-hoteis.com ou Rua D. Carlos I, Portimão domingo, das 15h00 às 23h00. alojamento para quem visita www.booking.com. GUIA Gomes – viajante, político e escritor», com algumas obras de arte coleccionadas pelo estadista, conclui este percurso. O percurso 2 está estreitamente ligado à história e funcionalidade primeira do edifício. Designado por “A vida industrial e o desafio do mar”, evoca vários aspectos da ligação das gentes e da cidade com o Atlântico e com a indústria 32 TempoLivre | MAIO 2009 conserveira. Um dos núcleos corresponde à chamada “Casa do Descabeço”, onde tinham lugar as primeiras operações do processo industrial; recuperada, conserva os tanques de salmoura e os mecanismos de lavagem, e acolhe uma reconstituição das rotinas laborais. Através da reconstituição dos espaços fabris de transformação da matéria-prima, o visitante tem uma percepção do quotidiano laboral que ocupava grande parte das gentes da região durante os tempos áureos da indústria conserveira. Um dos núcleos é designado por “Apitos e sereias”. A ambiência sonora é, justamente, um elemento de forte presença e importância “expositiva”. Sereias, sons de água a correr, o serrar das madeiras e outros sinais sonoros que marcavam o ritmo do trabalho são uma constante durante a visita, ao mesmo tempo que se vai ouvindo os depoimentos de antigos operários da fábrica, registados em audiovisuais em contínua exibição. “Trazer esses registos na primeira pessoa para a exposição foi importante. É das populações, das comunidades que no fundo emana toda esta história, são elas as detentoras dessa memória e dessa capacidade de reter todos esses momentos a que só pela documentação não podemos ter acesso”, reconhece o director do museu. Há também um filme “publicitário” realizado em 1946, doado pelos familiares de Caetano Feu, que documenta o processo industrial conserveiro na fábrica de Portimão, um filme que é “a peça de resistência da exposição”, na opinião de José Gameiro. Num dos cantos da nave central, o visitante descobre uma curiosidade, discreta mas significativa: uma vetusta telefonia reproduz uma gravação em vinil de anúncios radiofónicos das conservas. Um desses anúncios tem a forma de um fado, breve. A voz que canta excelência das conservas é a de uma jovem que se tornaria tão (ou mais) conhecida como as conservas de Portimão: Hermínia Silva. ! Humberto Lopes (texto e fotos) 33.qxp 27-04-2009 12:01 Page 1 34e35.qxp 27-04-2009 12:23 Page 34 Desporto Inatel Joana Veloso Bárbara Uma terna guerreira AJUSTA O FATO DE BANHO e a touca, põe os Começou aos oito e pretende continuar até aos 80. Pelo menos. Para Joana Bárbara nadar é uma paixão que bateu mesmo bem fundo. Para além de ser um prazer, dá-lhe disciplina e responsabilidade. Hoje está a fazer estágio em enfermagem mas a natação continua como parte do dia-a-dia. Os títulos estão aí, à distância de umas valentes braçadas. 34 TempoLivre | MAIO 2009 óculos e dá pequenos passos em direcção ao bloco. Larga os chinelos, sobe, dobra o dorso e a concentração é absoluta. Ao sinal de partida, mergulha com toda a convicção, é o momento de “abstracção completa do mundo exterior: não se ouve nada, só se sente a água e a concentração de avançar, competir e ganhar”. Longe vão os dias dos primeiros mergulhos no mar da Costa da Caparica, onde aprendeu a nadar. Aos oito anos, e a conselho do médico, começa a prática da modalidade na Academia Almadense – Airfa. A adaptação à piscina não poderia ter sido melhor e, desde o primeiro momento, bruços é o estilo favorito: “Lembro-me de a minha monitora me ter dito que iria ter dificuldades em adaptar-me ao estilo de bruços, por exigir uma técnica muito complicada mas depois ficou muito surpreendida por eu conseguir nadar bem, logo à primeira”. Este sucesso, inicial torna-a um exemplo para os outros colegas. E, até hoje, bruços continua a ser o seu melhor estilo, a muita distância dos outros. O que lhe tem proporcionado arrecadar inúmeras medalhas em campeonatos regionais e no estrangeiro. Aos dez anos aceita o convite para entrar em competição e, um ano depois, torna-se atleta federada. Tem início a “verdadeira digressão pelo mundo da natação”. É um desporto complicado por ser repetitivo e exigir muita motivação individual; aí o treinador e os colegas tornam-se peças fundamentais como apoio. Por outro lado, “É um desporto onde não há disputas entre atletas do mesmo clube, nunca tive um inimigo dentro da natação. Não se criam conflitos e a união é muito forte”. Até aos 19 anos conseguiu conciliar a alta competição e os estudos, graças a “um grande espírito de responsabilidade e de organização do tempo”. Mas teve de prescindir de actividades 34e35.qxp 27-04-2009 12:24 Page 35 A INATEL tem uma forma óptima de cativar as pessoas… “ ” lúdicas, “nunca tive muito tempo para ir ao cinema ou sair à noite”. No final do primeiro ano de Enfermagem, a exigência da carga horária impossibilitou-a de manter a regularidade dos treinos diários. A performance começou a baixar e a desmotivação a crescer. Vê-se forçada a abandonar o desporto federado. SURGE ENTÃO a hipótese de ingressar nos Masters de Almada, e estava arranjada a solução para a falta de tempo. E em que consiste esta modalidade? Trata-se de uma alternativa encontrada para quando os atletas de alta competição desistissem de competir não parassem a prática desportiva. Continua a ser uma competição mas mais moderada. “Estou no masters de Almada desde 2007 e tenho, por semana, três treinos de uma hora. Tenho conseguido manter a forma e até melhorado o meu desempenho – comparando com o período em que era federada”. Mas não guarda os louros só para si, que Joana tem humildade: “O mérito também o dou ao meu treinador José Gonçalves, que elabora treinos bastante intensos e motivantes porque, para além de serem mais curtos, conseguem ser bastante interessantes e estão dentro do ritmo que praticava anteriormente”. HOJE JOANA BÁRBARA divide os dias entre o estágio de Enfermagem no Instituto Português de Oncologia, em Lisboa, e a natação. Por mês, tem uma a duas provas, por norma na INATEL, no Estádio Primeiro de Maio, mas recentemente também esteve em Coimbra, no Porto, nas Caldas da Raínha. E louva o espírito desta instituição: “a INATEL tem uma forma óptima de cativar as pessoas a irem às provas. Pela assiduidade, são-nos atribuídos pontos que nos permitem ir aos CSIT’s (Confédération Sportive Internationale du Travail)”, provas desportivas a nível internacional. “Foi aí que ganhei as provas em Itália”, onde subiu ao pódium quatro vezes: “vestir o fato da selecção, ver a bandeira, com a medalha ao peito e a ouvir o hino, tal qual uma cerimónia olímpica, é espectacular”. No próximo ano conta ir ao CSIT na Áustria, mais uma experiência boa: é subsidiada e “dá-nos oportunidade de conhecer outros países, de competir pelo nosso país o que é bastante motivante”. De futuro, conta ter a natação sempre como complemento à vida profissional. Calma e discreta, como se define, espera “nadar até aos 80 anos e ser exemplo para todas as pessoas, principalmente as mais idosas. Deve manter-se a actividade e ter uma motivação para a vida é sempre óptimo”. Por enquanto, vai continuar calmamente a somar títulos. ! Manuela Garcia (texto) José Frade (fotos) MAI0 2009 | TempoLivre 35 36.qxp 27-04-2009 12:03 Page 1 37e38.qxp 27-04-2009 12:25 Page 37 Termas em Portugal [15] Interior da buvette Chaves: “Uma cidade que faz bem...” Evocamos as águas hipertermais de Chaves, das mais quentes da Península. De todas as bicarbonatadas sódicas da Europa, são as mais raras, porque ausentes de vulcanismo. Quem as prova não as esquece, tal como da cidade apelidada de «termal» e preparada para novos e mais exigentes desafios e para uma procura de aquistas que não pára de crescer. CHAVES É UMA das poucas cidades portuguesas que possuem termas no seu perímetro urbano. Esta realidade passou a enriquecer a sua história, sobretudo a partir de meados do século XX, quando se construiu o primeiro edifício destinado aos aquistas que, anteriormente, já usufruíam destas águas, em banhos, nas pensões e casas particulares. O balneário foi construído no Campo do Tabolado, perto das nascentes, sendo que a concessionária local mandou elaborar os estudos gerais de urbanização e arquitectura, inclusivamente a localização de um hotel com ligação ao balneário. Porém, nem todos os projectos alcançariam construção nessa fase inicial de desenvolvimento. A actual buvette de Chaves é um símbolo notável deste conjunto termal e da arquitectura modernista em Portugal, o que levou inclusivamente o engenheiro Luís Acciaiuoli, inspector de MAI0 2009 | TempoLivre 37 37e38.qxp 27-04-2009 12:25 Page 38 Termas em Portugal [15] cimento termal é constituído por cinco alas interligadas por um átrio, nas quais se distribuem, de uma forma clara, o sector clínico, os serviços de balneoterapia, de tratamento do aparelho digestivo e das vias respiratórias e as salas de descanso e os serviços de apoio. As práticas termais disponíveis, para além das terapêuticas tradicionais, permitem corrigir as situações de maior risco da vida sedentária, através do efeito relaxante dos banhos e das massagens. “Mais Chaves” Em cima, vista da ponte romana e do balneário. Em baixo, o exterior da buvette 38 TempoLivre | MAIO 2009 Minas, a aprová-la pela sua «concepção original brilhante e exequível». Este pavilhão é constituído por uma cúpula, com superfície interior em desenho de leque, assente sobre seis pilares, em parte envolvidos por uma grelha de elementos vazados, erguendo-se, do lado poente, duas paredes, formando um biombo para sombra e abrigo. As diferenças de nível, devidas à natureza do terreno, e a necessidade de se fazer a recolha de água em cotas inferiores deram origem à concepção de uma rampa ampla, suave e de forte presença no desenho desta «fonte das digestões difíceis». Aqui, onde Miguel Torga se inspirou, quando bebeu «religiosamente doses de água como se bebesse doses de energia» (Diário XIV). Durante as décadas de 1960 e 1970, as instalações balneares de Chaves tomaram formas mais definitivas e amplas. Presentemente, o estabele- As termas de Chaves estão localizadas no centro urbano, entre o rio Tâmega e a zona medieval. E, sabendo-se também como uma cidade termal deve ser sentida numa lógica integral, atendendo às necessidades dos seus utentes para além do uso das águas, são de assinalar os investimentos verificados na zona envolvente do balneário e da buvette, bem como o previsto para a regeneração do centro histórico da cidade, num projecto denominado «Mais Chaves». É este centro que tem no seu castelo um cenário para as objectivas atraídas pela paleta de cores do casario, das varandas, dos telhados, da fruta das mercearias de esquina e dos pastéis, que fazem a foto desta cidade, onde as suas gentes também têm lugar. O centro urbano de Chaves será transformado num espaço de novas actividades económicas e prestação de serviços, incentivando a competitividade e a articulação com o termalismo que é, cada vez mais, uma marca basilar da sua imagem externa, que se complementa ainda com um património cultural à escala, não só da cidade, mas de todo o concelho, testemunhado por vestígios rupestres, muralhas, castros, pelourinhos, pontes, igrejas, capelas e solares. Se a isto juntarmos os novos hotéis, casino, centro cultural, as novas acessibilidades e o seu sentido estratégico, podemos ter em Chaves, seguramente, uma «cidade que faz bem», tal como as suas águas quentes. ! Jorge Mangorrinha e Helena Gonçalves Pinto 39.qxp 27-04-2009 12:01 Page 1 40e41.qxp 27-04-2009 12:28 Page 40 Memória Amélia Rey Colaço Um conservatório de teatro Amélia e Luisa Barbosa eram grandes amigas. À direita, no Museu do Teatro quando da inauguração da exposição dedicada à Companhia Rey Colaço Robles Monteiro Foi João Villaret, o actor que aprendeu tudo ao lado de Amélia, quem um dia disse: «Amélia Rey Colaço vale um Conservatório de Teatro.» E TINHA RAZÃO. A actriz e encenadora que se gabava de não ter sequer a instrução primária (estudara sempre em casa tendo por mestra a mãe, senhora de enorme cultura), foi uma grande mulher de teatro. Em setenta anos de teatro, Amélia Rey Colaço foi intérprete, encenadora, fundadora e directora de uma Companhia, dinamizadora do nosso Teatro Nacional, foi, enfim, como disse alguém, «uma mulher sábia». Do pé descalço a rainha Foi em 1917, no dia 17 de Novembro, que Amélia se estreou no teatro na peça «Marianela», interpretando uma rapariguinha de pé descalço que fêz as delí- 40 TempoLivre | MAIO 2009 cias da crítica da época. Tinha então 19 anos. Em 1985, 68 anos depois, Amélia Rey Colaço despedia-se do palco na peça de José Régio, «El-Rei Sebastião, desta vez no papel de Rainha D. Catarina. Entre a rapariguinha de pé descalço e a rainha, a vida desta mulher foi um somatório de êxitos e fracassos, de tristeza e alegrias, mas nunca de desistências. Porque Amélia sempre foi uma m ulher de fibra, arrebatadora , dominando tudo e todos. E a primeiro sinal de que era assim apareceu logo quando, muito jovem, disse que queria ir para o teatro. Filha de um pianista, Alexandre Rey Colaço, que fora professor do último rei de Portugal, sobrinha de uma poetisa, Branca de Gonta Colaço, vivendo em ambiente muito tradicional, nem por isso Amélia sentiu oposição à sua vontade de ser actriz. Com 23 anos casa-se com Robles Monteiro, fundam ambos a Companhia Rey Colaço Robles Monteiro e em 1929 tomam conta do Teatro Nacional. 40e41.qxp 27-04-2009 12:28 Page 41 Por aqui, pelo Teatro do Rossio, passaram textos de autores de renome. Gil Vicente, Camões, Shakespeare, Cervantes e todos os grandes clássicos do teatro mas também Lorca, Eugene O’Neill, Mrozek, Bernard Shaw, Cocteau, Albee e muitos, muitos outros. E ali se revelaram grandes actrizes e actores: Eunice Muñoz, Carmen Dolores, Lurdes Norberto, Helena Félix, João Villaret, João Perry, José de Castro, João Mota. Entre os artistas plásticos que trabalharam para a Companhia de Amélia destacam-se os nomes de Almada Negreiros e Stuart Carvalhais. Naquela terrível madrugada do incêndio Numa longa conversa que tive, certa vez, com Amélia Rey Colaço pude sentir como ela ainda sofria ao recordar o incêndio ocorrido na noite de 1 para 2 de Dezembro de 1964 e que destruiu por completo o Nacional. Era o fim da Companhia Rey Colaço/Robles Monteiro. Amélia ainda andou pelo Avenida, Capitólio, Trindade e São Luiz, mas com o fim do Nacional a vida para ela nunca mais foi a mesma. «Sabe que nunca mais voltei ao Nacional? Na noite do incêndio jurei sobre as cinzas do meu teatro que nunca mais lá entraria. Aquilo foi a ruína total.» Com 83 anos e mais de sessenta de trabalho, Amélia Rey Colaço ainda se preparou para representar uma peça que vira em Paris com a sua amiga, Madeleine Renaud, «Harold and Maud» (o filme passou por cá com o nome de «Ensina-me a viver»). Seria seu companheiro o jovem Alvaro Faria, ao tempo actor do Teatro Experimental de Cascais. O projecto não foi por diante mas pude ver o entusiasmo com que a actriz se preparava para o regresso ao palco. Fotos desta página: Figurinos desenhados para a actriz nas peças “Romance” (1928)e “Quando o amor acaba” (1925). Ao centro, Amélia e o actor Raul de Carvalho na peça “Desencontro” (1935) O «é» de Amélia No Dafundo, numa casa que lhe fora cedida pela sua grande amiga Olga, marquesa de Cadaval, Amélia confessava-me que a vida lhe tinha dado tantas alegrias como tristezas. «A vida dá e tira, dá e tira. É ela por ela...Não me queixo.» Mostrame um livro de André Maurois. «Gosto muito deste autor. Leio muito, gosto de ler.» E sobre as condecorações que lhe foram atribuidas confessa e ri com gosto que quem gosta muito de brincar com os colares são os bisnetos...«Ficam orgulhosos, cada um com um colar ao pescoço...» Já no fim do nosso encontro, Amélia confessou a sua admiração por Amália Rodrigues e deume uma quadra que a fadista lhe fizera bincando com os nomes de ambas: «Amélia queria ter sido / Só o não fui por um triz / Foi só por uma vogal / O seu «é» foi bem escolhido/ Fez de si uma grande actriz/ O meu «a» tratou-me mal». Amélia e Amália, duas mulheres sábias. Da primeira aqui fica um retrato breve. Como disse Amália o seu «é» fez dela uma grande actriz. ! Maria João Duarte MAI0 2009 | TempoLivre 41 42a47.qxp 27-04-2009 12:30 Page 42 Maravilhas Portuguesas no Mundo [2] Foram portas que se abriram e que um século depois se voltaram a fechar. Davam acesso (estavam inseridas, pode-se dizer) a um universo muito próprio de interligações comerciais com séculos de existência com o qual beneficiava, quase em regime de exclusividade, a cidade-estado de Veneza, a grande distribuidora das especiarias e outros produtos do Oriente na Europa. Ásia: O mundo das especiarias 1 PELA MÃO FÉRREA de Albuquerque, Portugal alteraria esse xadrez, impondo a sua vontade e as novas regras do jogo. Mascate. Ormuz. Bahrain. Todas estas fortalezas passariam a ser portuguesas e desse modo permaneceriam, ao longo de mais de uma centúria. Nas costas do lado ocidental da Índia – Gujarate, Cambaia e Malabar – no Ceilão, na costa do Coromandel e ao longo de toda a Insulíndia (actuais Malásia e Indonésia), estavam os sempre apetecidos produtos exóticos, sobretudo as especiarias. Foi em seu nome que se ocuparam as praças-fortes de Damão, Diu e Goa, apesar das dificuldades que representavam e a distribuição das forças em confronto no terreno ser 42 TempoLivre | MAIO 2009 escandalosamente desproporcional. Dão-nos conta disso os testemunhos coevos dos nossos cronistas, mas também os de cronistas como o árabe Zinadim, que realça, como seria de esperar, o lado negativo da nossa actuação nestas paragens. Os jesuítas tinham em Goa a sua sede e na Igreja de Bom Jesus – o «Taj Mahal de Goa» – a sua jóia da coroa, que sobreviria às demolições decretadas pelo Marquês do Pombal, pois ali estava, e ainda está, o túmulo do São Francisco Xavier, venerado em toda a Ásia. Goa, capital da denominada Índia Portuguesa, foi exemplo do melhor e do pior que fizemos na Ásia. O inicial cosmopolitismo, marcado por um espírito de tolerância, cedo seria aniquilado pela soberba, pela vaidade, pela cobiça e por um pesadelo chamado Santo Ofício. Rival de Goa dourada (ironicamente símbolo da nossa decadência) estava Baçaim, a capital do norte, a pouca distância de Bombaim, hoje praticamente desconhecida para maioria dos portugueses. Como desconhecidos continuam os locais da fase Malabar – Calicute, Cochin, Coulão,Cananor – onde tudo começou. Mas havia especiarias e especiarias. E as mais apetecidas estavam onde comerciava o chinês há já muito tempo, entendendo-se com o malaio e o javanês e evitando o pirata japonês; e onde dominava o árabe, eficiente difusor do islão e guardião das portas do estrei- 42a47.qxp 27-04-2009 12:30 Page 43 2 3 MAI0 2009 | TempoLivre 43 42a47.qxp 27-04-2009 12:30 Page 44 Maravilhas Portuguesas no Mundo [2] 4 44 TempoLivre | MAIO 2009 42a47.qxp 27-04-2009 12:30 Page 45 5 MAI0 2009 | TempoLivre 45 42a47.qxp 27-04-2009 12:31 Page 46 Maravilhas Portuguesas no Mundo [2] 6 7 to de Malaca, indispensáveis para o controlo de todo comércio. Para Malaca avançou Albuquerque, conquistando-a em 1511. A partir desse entreposto – agora eram já os reinóis e os casados a fazerem-se à vida – houve quem teimasse ir mais além, e descobrir o Japão; e algo ainda mais ousado do que isso: houve quem lançasse uma âncora na China, essa fascinante civilização teimosamente virada para si própria. A bordo de juncos chegamos a Macau e ali ficamos quatro séculos e meio. Foi Macau, tal como Goa, importante centro irradiador do pen10 46 TempoLivre samento e da cultura europeias, tendo ficado para a posteridade as ruínas da igreja e colégio de São Paulo, onde funcionou a primeira Universidade da Ásia. Macau foi também símbolo de resistência. Quando tudo se desmoronava, face ao poderio naval e pragmatismo holandês, Macau permanecia símbolo da iniciativa individual, da persistência, da lealdade à coroa portuguesa usurpada pelos Filipes de Espanha. Por isso ganhou o epíteto «a Mais Leal» e sobreviveu à queda do império, até ao último ano do século XX. ! Joaquim Magalhães Castro (texto e fotos) 11 | MAIO 2009 42a47.qxp 27-04-2009 12:31 Page 47 8 9 1 - Ormuz 2 - Bahrain 3 - Damão 4 - Malaca 5 - Macau 6 e 7 - Goa, Sé Catedral 8 e 9 - Goa, Bom Jesus 10 - Diu 11 - Baçaim MAI0 2009 | TempoLivre 47 48a54.qxp 27-04-2009 12:33 Page 48 Olho Vivo Verões longos prejudicam fauna marinha A subida da temperatura da água do Mar Mediterrâneo aliada a Verões mais prolongados originou a morte massiva de várias espécies marinhas, incluindo corais e esponjas, segundo investigadores do Conselho Superior de Investigações Científicas da revista Proceedings publicada pela Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos. Entre 1974 e 2006, as condições estivais do fundo do mar prolongaram-se cerca de um dia por ano e condicionaram a duração e intensidade da estratificação da coluna de água que, entre Maio e Outubro, se caracteriza por uma ausência de mistura entre as águas frias do fundo e as quentes da superfície. As espécies de invertebrados são capazes de suportar as alterações produzidas pelos Verões normais, mas não conseguem sobreviver a situações persistentemente anómalas. Spam? não obrigado! Pôr fim ao entupimento publicitário da caixa do correio convencional passou a resolver-se colocando um autocolante na dita cuja, mas mais complexo é dar a volta ao assunto na sua irmã virtual. Segundo a Microsoft, mais de 97 por cento das mensagens que recebemos na Net têm origem publicitária, ou seja, pertencem ao chamado Spam, com a agravante de muitos deles trazerem consigo arquivos danosos. No entanto, segundo referiu à BBC o chefe de segurança e privacidade da Microsoft no Reino Unido, Cliff Evans, a maioria deste “lixo” não chega ao destino, graças aos cada vez mais apertados sistemas de filtragem. Segundo o estudo desta empresa, que incidiu no segundo semestre de 2008, a lista dos países nos quais os usuários mais sofrem infecções no seu software é encabeçada pela Rússia e Brasil, seguindo-se a Turquia, Sérvia e Montenegro. Para atingirem os seus alvos com maior precisão, os piratas informáticos servem-se de ficheiros Office e Adobe, pelo que é indispensável realizar actualizações destas aplicações, também para melhor proteger o computador deste lixo, por vezes tóxico. Árctico menos gelado Nas últimas três décadas a camada de gelo fino do Árctico reduziu-se em 720 mil quilómetros. Ou seja, depois de, como habitualmente, ter derretido no Verão, a extensão de zona que voltou a congelar durante os meses frios foi inferior. Relativamente à camada mais grossa de gelo que antes correspondia a uma percentagem variável entre 30 e 40 por cento, é agora de apenas dez por cento. Recolhidos por satélites desde 1979, estes dados esclarecem que, além de a tendência para a redução da superfície gelada se manter desde há alguns anos, este Inverno a extensão de gelo do Árctico foi a quinta mais reduzida. Segundo cientistas da Universidade do Colorado referidos pelo diário espanhol El País, os gelos árcticos são como o ar condicionado do sistema global, já que arrefecem o ar e as águas, além de reflectirem a radiação solar para o Espaço. 48 TempoLivre | MAIO 2009 Má onda A exposição às ondas emitidas pelas antenas das operadoras de telemóvel atinge o seu ponto de maior intensidade a cerca de 280 metros de distância das mesmas, em zonas urbanas, e a um quilómetro, fora destas, de acordo com um estudo dirigido pelo francês Jean-François Viel, da Universidade de Besançon, e publicado pela revista britânica Occupational & Environmental Medicine. Apesar de não se saber exactamente qual o efeito que estas ondas produzem no nosso organismo, é possível concluir que, sejam quais forem os riscos, a existirem, serão sempre maiores para aqueles que vivem perto de uma antena do que para os que estão debaixo dela. O estudo envolveu 200 pessoas equipadas, durante 24 horas, com aparelhos destinados a medir as variações da exposição às radiofrequências nas suas deslocações. 48a54.qxp 27-04-2009 12:33 Page 49 G u i o m a r B e l o M a r q u e s ( t ex t o s ) A n d r é L e t r i a ( i l u s t r a ç õ e s ) Será que Saya diz “saia!” aos seus alunos? É capaz de expressar facialmente seis emoções graças a 18 motores integrados no seu corpo e possui um léxico composto por setecentas palavras. Chama-se Saya e foi concebida não em nove meses, como os seus alunos, mas ao longo de 15 anos, por uma equipa de investigadores japoneses dirigida por Hiroshi Koyabashi. Para já, dá aulas numa escola primária de Tóquio envergando um saia-casaco amarelado. As notícias não explicam se esta professora-robot inclui entre uma das suas seis emoções a festa carinhosa nos cabelos dos alunos, ou a repreensão austera perante um comportamento mais travesso. A sua memória digital não é uterina nem recorrerá, por certo, à tolerância da lembrança dos seus íntimos tempos de escola. A ciber-professora está com certeza apetrechada para “dar matéria”, distribuir tarefas e dificilmente será alvo de agressão física por parte de algum aluno abusador. Mas de toque morno e detentora daquele odor adocicado que guardamos na tão intensa memória olfactiva da nossa infância é que não parece mesmo nada que seja capaz. Matéria auto-reparável Um risco no carro pode deixar de ser uma contrariedade em dia de sol. Cientistas norte-americanos criaram um novo material que afirmam ter a capacidade de auto-reparar rupturas e fissuras desde que exposto a um raio de luz ultravioleta. O segredo deste material, um poliuretano, explicam os investigadores da Universidade do Sul do Mississipi, em artigo publicado na revista Science, reside no recurso a moléculas de uma substância natural derivada das conchas de crustáceos às quais agregaram uma mistura base de poliuretano. “Estes materiais são capazes de se repararem a si mesmos em menos de uma hora”, afirma Marek Urban, um dos autores do estudo, acrescentando que “podem ser utilizados em muitas aplicações de cobertura como, por exemplo, na indústria dos transportes, moda ou biomedicina”. Sabores de outrora O facto de um sabor nos agradar, ou não, tem a ver com as memórias da nossa infância. Esta conclusão resulta de um estudo que Tim Jacob, especialista do olfacto, vem desenvolvendo. Segundo este professor da Escola de Biociência da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, os sabores resultam de uma combinação entre o olfacto e o gosto, sentidos que, para muitas pessoas, são profundamente conservadores devido ao facto de a alimentação das crianças ser em geral baseada em produtos doces e insonsos. Mas não só. Jacob afirma que “as emoções estão intimamente associadas aos sabores que escolhemos, para o resto da vida”. Bateria de anticorpos combate SIDA Há várias décadas que investigadores de todo o mundo procuram entender as razões por que algumas pessoas infectadas com o VIH não desenvolvem SIDA. Tal deve-se, segundo divulgaram cientistas da Universidade Rockefeller, de Nova Iorque, em estudo publicado na revista Nature, ao facto de, nalguns indivíduos, se produzir um ataque combinado de diferentes anticorpos quando em presença do vírus. Em geral, uma pessoa infectada que não se submeta a tratamento levará entre cinco a dez anos até que a doença se declare. No entanto, e baseando-se em seis casos estudados, estes investigadores concluíram que uma bateria de anticorpos agindo em conjunto consegue bloquear o vírus, desenvolvendo biologicamente uma terapia semelhante à farmacológica. MAIO 2009 | TempoLivre 49 48a54.qxp 27-04-2009 12:33 Page 50 Lusofonia Industria turística em Angola Pa u l a O s ó r i o Angola tem condições ímpares para o desenvolvimento da actividade turística – clima, praias, paisagens, água, gastronomia, cultura e sobretudo um povo alegre, amigável e acolhedor. Lu í s To d o Bom E ste conjunto de características constituem as condições necessárias mas não suficientes para o desenvolvimento de uma verdadeira Industria Turística em Angola. Só é possível atingir esse objectivo com um programa coerente e estruturado que contemple o enquadramento jurídico de todas as actividades ligadas ao “cluster” do turismo, o desenvolvimento das infra-estruturas físicas associadas ao ordenamento do território, as garantias de segurança e livre circulação por todo o território e um conjunto de actividades empresariais ordenado, diversificado e interligado. Embora não existindo um corpo jurídico resultante de uma estratégia integrada no âmbito deste sector, alguns passos têm sido dados no sentido de uma maior abertura face à indústria do turismo. De facto, desde 2007 que a lei prevê especificamente a atribuição, pelos serviços consulares, de visto de turismo. Este passo, embora incipiente, é revelador da mudança de mentalidade, e representa, a vários níveis, um novo ciclo na vida do País. Já em 2003, na Lei de Bases do Investimento Privado, o legislador tinha considerado o sector do turismo como de “interesse económico” relevante estabelecendo o acesso a incentivos e facilidades, a par de sectores tradicionais como a agricultura e pecuária, a indústria, as infra-estruturas, as telecomunicações, a energia e águas, a habitação, a saúde e a educação. Mas o grande constrangimento jurídico que se coloca é relativamente à Lei dos Solos. De facto, 50 TempoLivre | MAIO 2009 a noção de propriedade privada plena é muito cara aos investidores, sobretudo do mundo ocidental. Esta questão tem sido amplamente discutida e importa saber se o legislador pretende alterar a lei e com que extensão. A legislação fiscal atribui ao Fundo de Turismo 1.8% da receita proveniente do Imposto Predial Urbano, que esta entidade deverá aplicar em projectos de desenvolvimento turístico. Está em curso a preparação de um plano director do turismo que, entre outras vantagens, possibilitará uma melhor canalização dos programas de cooperação e de apoios existentes para o País. Na Feira de Turismo de Madrid, a Organização Mundial do Turismo disponibilizou apoio técnico às iniciativas do Estado Angolano neste sector, o que é um bom sinal. Neste momento, este é um sector crítico para Angola pois está agendado para 2010 o Campeonato Africano das Nações, evento grandioso que mobilizará milhares de pessoas, e que exigirá um grande esforço por parte das infra-estruturas turísticas actuais para o seu acolhimento. Será por outro lado uma oportunidade para que as autoridades angolanas detectem as fragilidades deste sector e promovam a sua correcção através dum Programa Estratégico de intervenção. É, por isso, o momento indicado para a criação de um corpo integrado de legislação que desenvolva instrumentos específicos de garantia dos investimentos e da operação das unidades turísticas, nomeadamente no âmbito do ordenamento do território, da introdução de incentivos fiscais e aduaneiros em algumas áreas para que seja possível uma alteração significativa e verdadeiramente apelativa para os investidores de projectos de grande qualidade. Este quadro jurídico de referência estabilizado atrairá uma classe empresarial de qualidade que promoverá investimentos nos vários produtos turísticos adaptados à geografia específica de Angola. Permitirá ainda a elaboração de um Plano Estratégico de Desenvolvimento da Actividade 48a54.qxp 27-04-2009 12:33 Page 51 Baía de Luanda Turística em Angola que contemple, para além das unidades turísticas específicas as infra-estruturas físicas, económicas, sociais e culturais que constituem sempre a base do crescimento desta indústria multifacetada. No âmbito das infra-estruturas físicas, a indústria turística contribuiria de um modo significativo para a sua rentabilização, permitindo, inclusive, que se pudesse acelerar a construção de grandes unidades de capital intensivo sobretudo na área da energia desde que integrassem o Plano Estratégico de Turismo de Angola. Um programa ambicioso de desenvolvimento da actividade turística em Angola permitirá também a criação de condições para a implantação de uma industria de materiais de construção civil (cimentos, cerâmicas de barro branco e barro vermelho), metalomecânica ligeira, electrónica de consumo, de uma industria de mobiliário e decoração, de novas técnicas e processos construtivos e de ordenamento do território, para além de uma actividade alargada de prestação de serviços turísticos e similares – gastronomia, desporto, caça e cultura. Este último ponto é crucial para encararmos estas propostas como prioritárias para a consolidação da imagem de Angola como uma nação rica em valores e tradições no Continente Africano. O modelo que desenvolvemos no presente artigo – um programa estruturado e tecnicamente fundamentado para o desenvolvimento do sector turístico em Angola, é exactamente o oposto do que ocorre neste momento – o aparecimento desordenado e incipiente de várias unidades hoteleiras e similares por todo o território, sem uma estratégia clara, sem qualidade, sem preocupação de divulgação adequada do imenso potencial de que Angola dispõe no âmbito paisagístico, dos recursos naturais, da sua gastronomia, história e cultura. É pois urgente alterar esta situação. Até para que todos nós, Angolanos, possamos sentir orgulho no que a nossa terra oferece a quem nos visita. ! MAIO 2009 | TempoLivre 51 48a54.qxp 27-04-2009 12:33 Page 52 A Casa na árvore Susana Neves O fósforo de Hércules Com o choupo sobrevive-se ao Inferno através da arte e das virtudes do algodão. egundo Plínio, o Velho, as folhas do choupo branco acompanham o movimento do Sol durante o solstício de Verão, a 21 de Junho. Desconhecemos se o historiador e enciclopedista romano, autor de “Naturalis Historiae” (cerca de 77 A.C.) saberia que um osso humano tem uma densidade semelhante à madeira do género “Populus”, palavra latina que significa também povo. Exercida a mesma pressão, osso e madeira apresentam fracturas parecidas, uma proximidade entre humano e vegetal à qual parece indiferente a populicultura: exploração intensiva de choupos (em Leão e Castela, na vizinha Espanha, reservamlhe 45 mil hectares), destinada às fábricas de contraplacado, à produção de pasta de papel ou à paradoxal “indústria de bio-combustíveis”. Considerado em França, símbolo da democra- S cia (no dia 1 de Maio de 1790 inaugurou-se em Laon a tradição de celebrar a liberdade pelo plantio de carvalhos e choupos), é interessante verificar como em Portugal, a possível destruição de uma parte do Choupal de Coimbra (mata cujo projecto original remonta ao século XVIII e onde além do choupo negro existem outras espécies de grande beleza), devido à futura construção de mais um viaduto rodoviário, gerou um tão expressivo movimento cívico de protesto (ver site: www.plataformadochoupal.org). O Portugal “europeu” que pretende abater uma espécie arbórea europeia, localizada numa cidade antiga, exaltada pelo fado de Coimbra, de registar a inesquecível interpretação do tema “Do Choupal à Lapa” por Zeca Afonso, aparece assim ambivalente e contraditório. Muito mais do que uma árvore ornamental, cuja rapidez de crescimento satisfaz a ânsia de lucro dos que vivem pouco tempo, o “Populus L.”, e sobretudo a espécie Alba (também conhecida por Alámo Branco) cujas folhas são bicolores, por cima verdes (ou amarelas, no Outono) e por baixo brancas, é desde a Antiguidade Fotografias: Susana Neves Choupo branco no jardim da Gulbenkian 52 TempoLivre | MAIO 2009 48a54.qxp 27-04-2009 12:33 Page 53 À esquerda, folha de choupo. À direita, Choupo Branco, pormenor das folhas e do tronco Clássica a expressão da dualidade e da convivência de forças antagónicas. Espécie medicinal e tintureira, foi ela consagrada a Hércules que na descida aos Infernos (“Hades”) se fez coroar com ramos de “Populus Alba”. Inspiradora de actos de coragem, as folhas do choupo que Hércules coloca sobre a cabeça acusam a passagem do herói e criminoso pelo fogo subterrâneo mas apesar de tudo resistem. A face mais escura é a queimada pelo calor infernal, a mais clara aquela onde se acumulou a sua transpiração. Vitorioso na tarefa de entrar e sair do mundo dos mortos, regressando à superfície com um troféu vivo (o próprio guardião de “Hades”, um cão de três cabeças), o herói desencadeia novas toxicidades: da baba de “cerberus” nasce uma planta venenosa, o lindíssimo acónito (Aconitum napellus L.), muito usado na medicina homeopática. Capaz de se enraizar até aos 40 metros de profundidade, destruindo por vezes canalizações e paredes, o choupo (do qual existem belos exemplares das diferentes espécies mencionadas, no Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian) é também uma árvore radar e farol: sensíveis ao mínimo sopro de vento, as suas folhas, sobretudo, as do “Populus Tremula”, parecem a todo o instante comentar o frenesim e o silêncio do mundo. Alimento de centenas de lagartas de borboletas diurnas e nocturnas, insectos aliados na sua polinização, os choupos (árvores dióicas da família das “Salicaceae”) saúdam a Primavera libertando minúsculas sementes envolvidas em diáfanos pedaços de algodão que parecem neve e se acumulam entre as ervas e arbustos como se os quisessem aquecer. Se Claude Monet pintou “Debaixo dos choupos, efeitos do Sol”, 1883, numa homenagem à verticalidade e luminosidade do choupo negro, os mistérios de “Mona Lisa”, de Leornardo da Vinci, ficaram, como em tantos outras pinturas italianas da Renascença, guardados na madeira delicada do “Populus” que lhes serviu de suporte. Contradições de uma espécie cuja madeira é utilizada para fazer as caixas redondas do delicado Queijo Camembert e ao mesmo tempo produz o carvão vegetal mais eficaz no combate ao “peidorrear”, para usar um termo caro ao erudito, popular e controverso escritor François Rabelais. E se o garbo e o gosto pela escrita (repare-se nas peculiares marcas no tronco do “Populus” branco) fazem do choupo um aristocrata, não é menos verdade que a transformação da sua distinta madeira em fósforos diz mais da sua natureza contraditória do que popular. ! MAIO 2009 | TempoLivre 53 48a54.qxp 27-04-2009 12:33 Page 54 Viagens na história João Aguiar “Arraial por Portugal!” Descansem, que não se trata de um arraial de pancada, que é o sentido — altamente poético — em que hoje mais se usa o termo. ão, eu refiro-me a «arraial» no sentido de: «aclamação que antigamente se fazia aos reis de Portugal», segundo uma das definições enciclopédicas da palavra. Mas afinal não ando muito longe do significado anterior, porque se trata de um arraial revolucionário; e onde há revolução há pancada. Vamos, pois, a uma época de que já tenho falado: em 1383, logo que o rei D. Fernando I morreu, a regente, Leonor Teles, mandou aclamar a sua filha D. Beatriz, casada com Juan I de Castela. Espero que N O Cavaleiro Gil Fernandes os leitores ainda se lembrem disto. E que se lembrem, também, que essa aclamação provocou distúrbios em várias cidades e vilas, porque aceitar D. Beatriz como rainha significava aceitar Juan I como rei, o que seria o fim da independência. Ora bem: há um pormenor menos conhecido (julgo eu) do grande público. Em Elvas, depois que o alcaide procedeu à aclamação, um certo Gil Fernandes, escudeiro, que nesse dia estivera 54 TempoLivre | MAIO 2009 ausente da vila, regressou a casa e, ao saber do sucedido, juntou a população; foi alçada outra bandeira e com ela percorreram Elvas, bradando: «Arraial por Portugal». Não senhor, isto não é nenhuma evocação patrioteira cheirando a mofo de Estado Novo. Eu estudei nessa época (a do Estado Novo, entenda-se) e nessa altura, tanto quanto me lembro, não se falava muito deste episódio contado por Fernão Lopes. É que esse «Arraial» era mesmo revolucionário em 1383. Bradava-se então arraial por um soberano, somente. Só que os de Elvas ainda não sabiam bem que rei haviam de aclamar; sabiam apenas que não queriam D. Beatriz e que queriam o reino livre. Daí terem gritado «arraial por Portugal». É-nos difícil, hoje, medir bem a, digamos, enormidade deste brado, em termos de finais do século XIV. Não que a Europa desconhecesse os movimentos contestatários — as «jacqueries» em França, os cardadores de lã em Florença, Wat Tyler em Inglaterra. Eram, essencialmente, movimentos de classes desfavorecidas. É certo que a revolução portuguesa teve igualmente ingredientes de luta de classes, nem poderia ser de outro modo, tendo em conta a situação social e as diversas crises que abalaram o torturado século XIV. Mas… Mas — entre outras coisas — os de Elvas bradaram arraial por Portugal, o que expressa uma tomada de consciência de alcance extraordinário naquela época. Isto não servirá, espero, para evocar nacionalismos exacerbados. Mesmo porque nós, hoje, sofremos do mal oposto: adoramos resmungar que as coisas más só acontecem «neste país». O que eu espero é que isto sirva para recordar que uma época de crise e revolução como foi a de 1383-1385 foi também uma época de desafio — um desafio vital, à nossa própria existência — e que encontrámos modo de lhe dar resposta. No processo, muitos solavancos houve, mudanças no tecido social, mudanças de poder, mudanças de fortuna. Um novo mundo e nova geração de gentes, como observou Fernão Lopes. O que, feitas bem as contas, e considerando quer a época do brado de Elvas quer a nossa época, não me parece que seja mau de todo. ! 55a70_Boavida.qxp 28-04-2009 12:22 Page 55 66 CONSUMO O governo aprovou medidas para uma maior transparência e diminuição da conflitualidade entre os consumidores e a banca.Pág. 56 ! LIVRO ABERTO Em destaque “Os Segredos da Capela Sistina - Mensagens Proibidas no Coração do Vaticano”, de Benjamin Blech e Roy Doliner. Pág. 58 ! ARTES A exposição que Carlos Calvet na Valbom (Lisboa) confirma um dos nomes mais destacados da arte contemporânea portuguesa. Pág. 60 ! PALCO Em foco Os Artistas Unidos, em digressão nacional, e estreias em Almada, Porto (Campo Alegre e. São João) e Lisboa (TNDMII). Pág. 62 ! CINEMA EM CASA Em Maio, mês do Festival de Cannes, uma selecção de filmes premiados na edição 2008 do mais antigo certame cinematográfico. Pág. 64 ! GRANDE ECRÃ “Um conto de Natal”, de Arnaud Desplechin, da selecção de Cannes 2009, é proposta de estreia nas salas nacionais.Pág. 65 ! MÚSICAS Ao cabo de 28 anos de existência, os “Pet Shop Boys” lançam um novo CD, “Yes”, uma forma superior da música pop. Pág. 66 ! SAÚDE É preciso não confundir velhice com depressão. Existem muitos idosos que respondem positivamente às partidas que os anos lhes pregam… Pág. 67 ! TEMPO INFORMÁTICO Há novidades nos leitores multimédia, nos antivírus e nos programas de limpeza do lixo que inundam os nossos computadores. Pág. 68 ! VOLANTE Knight Xv, um carro “amigo do ambiente” que funciona a biocombustível mas custa o equivalente a quatro Hummers. Pág. 69 ! PALAVRAS DA LEI Num processo de Inventário, é o cabeça-de-casal que tem, no requerimento de inventário, de apresentar a relação de bens e o respectivo valor. Pág. 70 ! BOAVIDA MAIO 2009 | TempoLivre 55 55a70_Boavida.qxp 27-04-2009 12:52 Page 56 Boavida|Consumo Bancos mais transparentes? O governo aprovou um conjunto de medidas na área financeira, que irá contribuir para uma maior transparência e diminuição da conflitualidade no sector, onde as reclamações dos consumidores têm grande incidência. Carlos Barbosa de Oliveira s serviços bancários são, com frequência, uma dor de cabeça para os consumidores e indesejável fonte de conflitos. Não é um problema exclusivamente português. Embora as reclamações dos consumidores portugueses sobre os serviços de crédito surjam, habitualmente, logo a seguir às reclamações contra os serviços de interesse geral (água, gás, electricidade e comunicações), também na União Europeia os bancos estão a mira dos consumidores. Com efeito, o Painel de Avaliação do Consumidor que analisa pormenorizadamente 19 sectores de actividade no mercado global da UE, com o objectivo de o tornar mais transparente e responsável, revela que os serviços bancários são, a seguir ao sector da energia, os que recebem as maiores críticas dos consumidores europeus. Desde que tomou posse, o actual secretário de estado da defesa do consumidor tem prestado especial atenção às relações entre consumidores e serviços bancários, no intuito de as tornar mais transparentes e reduzir a conflitualidade. Noutras ocasiões, já aqui fiz referência às medidas tomadas por Fernando Serrasqueiro, nomeadamente quanto à uniformização dos arredondamentos, fixação da datavalor dos depósitos e transferências bancárias. Este ano, por altura da comemoração do Dia Mundial dos Direitos do Consumidor, o governo aprovou um conjunto de medidas visando a protecção dos consumidores na sua relação com os bancos. Por um lado, estabeleceu um limite máximo para as taxas de juro no crédito ao consumo (a ser definido pelo Banco de Portugal) que deverão ser revistas de três em três meses. Esta medida é de especial relevância, se atentarmos que nos contratos de crédito ao consumo a taxa de juro O 56 TempoLivre | MAIO 2009 cobrada pelas instituições financeiras chegava a atingir os 30 por cento. Ao criar e definir o conceito de usura, o governo criou condições para impedir a aplicação de taxas consideradas exageradas, nomeadamente nos cartões de crédito. Outra medida de grande alcance vem terminar com um grave imbróglio: o reconhecimento de invalidade de um contrato de crédito, quando o contrato de compra e venda for anulado. Em termos práticos esta medida traduz-se no seguinte: Até aqui, quando um consumidor contraía um crédito para a aquisição de um bem mas o contrato de compra e venda por qualquer razão era anulado, continuava obrigado a cumprir as suas obrigações em relação ao contrato de crédito, apesar de não usufruir do bem. A partir de agora, se o contrato de compra e venda for anulado, considera-se igualmente anulado o contrato de crédito, ficando o consumidor desobrigado de cumprir as obrigações a ele referentes. Ainda neste âmbito, o governo pretende pôr um travão à concessão do crédito fácil estimulado pelos bancos e instituições financeiras, controlando assim o endividamento excessivo das famílias portuguesas. Nesta conformidade, a entidade credora fica obrigada a prestar informação detalhada ao consumidor, na fase pré-contratual e a consultar a Central de Riscos de Crédito do Banco de Portugal, antes de conceder o crédito. É certo que bancos e entidades financeiras já estavam “obrigados” a fazê-lo mas, na maioria dos casos, concediam o crédito sem fazer essa consulta, tornando o acesso ao crédito um mero acto formal de assinatura de um contrato. Esta prática foi responsável pelo endividamento excessivo de muitas famílias portuguesas que, aliciadas pela publicidade e a ilusão do crédito fácil, acabaram por contrair empréstimos que não tinham capacidade para ANDRÉ LETRIA 55a70_Boavida.qxp 27-04-2009 12:52 Page 57 cumprir. Depois, ou renegociavam a dívida, ou contraíam créditos noutras instituições, numa espiral que só terminava quando já não havia solução. Ainda neste âmbito, o governo determinou que nos casos em que o consumidor pretenda fazer amortizações antecipadas do seu crédito, a indemnização não poderá ultrapassar os 0,5%. Anteriormente, os bancos desincentivavam as amortizações, cobrando indemnizações elevadas que chegavam a atingir os 4 pontos percentuais. Destaque, finalmente, para a medida tomada no âmbito dos custos de transferência dos PPR. Habitualmente, as comissões por transferência destes produtos oneravam os contratos em percentagens que atingiam os 5% do capital, a que eram acrescentadas as comissões de subscrição e reembolso ou resgate. Com a entrada em vigor da nova legislação, esses custos são substancialmente reduzidos, permitindo maior transparência neste mercado cada vez mais florescente, em virtude da necessidade que os portugueses terão de recorrer a planos que complementem a sua reforma. Saliente-se, ainda, que vão ser uniformizadas as designações das comissões cobradas pelas entidades gestoras destes produtos, o que conferirá aos consumidores maior facilidade na escolha dos produtos que pretendam subscrever. As medidas agora aprovadas não são apenas vantajosas para os consumidores. Também os bancos e outras instituições financeiras saem favorecidos, pois numa altura em que são vistos pelos consumidores como os grandes responsáveis da crise financeira, medidas que tornem mais transparente a sua actividade, contribuem para a recuperação da sua credibilidade. ! MAIO 2009 | TempoLivre 57 55a70_Boavida.qxp 27-04-2009 12:52 Page 58 Boavida|Livro Aberto Dos segredos de Miguel Ângelo à sabedoria de Napoleão As vidas e as obras de geniais criadores como Leonardo Da Vinci ou Miguel Ângelo continuam, século após as suas mortes, a suscitar a curiosidade e o interesse de investigadores e do público em geral, não tanto pelo que ficou expresso e legível em telas, frescos ou no mármore, mas também, e cada vez mais, pelas mensagens ocultas nas obras que o tempo e o gosto de sucessivas gerações conseguiram eternizar. José Jorge Letria sso faz de “Os Segredos da Capela Sistina-Mensagens Proibidas no Coração do Vaticano” (Casa das Letras), de Benjamin Blech e Roy Doliner, um livro fascinante. Ao longo de quase três centenas de páginas, com ilustrações comprovativas, os autores demonstram que Miguel Ângelo, de forma engenhosa e subtil, conseguiu inscrever nas suas pinturas mensagens de exaltação I da liberdade e da fraternidade, contrapostas ao pensamento e à doutrina depressivos do Vaticano, do mesmo modo que conseguiu, sem ser descoberto, caricaturar a própria figura papal. Estas descobertas, sendo polémicas, reforçam ainda mais a ideia de que os criadores geniais foram sempre pessoas à frente do seu tempo e com um sentido de liberdade individual que nunca lhes permitiu subordinarem-se, de forma submissa, aos ditames de quem lhes encomendava as obras. Assim, muitas mensagens ficaram ocultas, à espera de quem um dia viesse a descobri-las e a decifrá-las. DESDE A CANDIDATURA de Barack Obama à Presidência dos Estados Unidos que muito se tem escrito sobre as qualidades intelectuais e humanas de sua mulher, a agora Primeira Dama, Michelle Obama, a quem o marido chama “The Boss”. Advogada de sucesso e mulher de fortes convicções, Michelle Obama foi determinante para o triunfo político do marido, que iniciou um novo ciclo na história norte-americana e, eventualmente, do mundo. “Michelle – Uma Biografia”( Planeta), de Liz Mundy, é um retrato de corpo inteiro da Primeira Dama negra dos Estados Unidos, descendente de escravos e que atinge, ao lado do marido, uma posição cimeira na vida política e social da mais poderosa potência mundial. Dela se diz que tem humor e determinação, sentido prático e afectividade, sendo, por isso, uma figura central da vida de Barack Obama e, por essa via, também da Administração americana, na qual não deixará de colocar a marca das suas convicções e opiniões. “GOVERNA-SE mais facilmente os homens com base nos seus vícios do que base nas suas virtudes”-esta terá sido uma das teses que levaram Napoleão Bonaparte a ser 58 TempoLivre | MAIO 2009 55a70_Boavida.qxp 27-04-2009 12:52 Page 59 quem foi, a governar como governou e a tornar-se imperador num contexto de triunfo republicano após o violento derrube da monarquia. Ernesto Ferrero, em “Lições de Napoleão” (Teorema) ajuda-nos a compreender o pensamento político e estratégico do pequeno grande corso que conseguiu dominar militarmente a Europa do seu tempo, acabando por morrer tragicamente, envenenado ou não, no agreste exílio da ilha de Santa Helena, nas mãos do ingleses. Este livro ajuda-nos, seguindo o percurso e as notas escritas por Napoleão, a compreender melhor a natureza humana, as suas grandezas e vilezas, bem como a arte de governar, de manipular e de gerir as vitórias e as derrotas. Um livro recomendável para quem gosta de História e para quem acredita que os grandes líderes políticos deixaram indicações úteis para a gestão empresarial, entre outras. Na mesma linha, mas com o peso e a sabedoria da antiguidade, surge no mercado “Conselhos aos Políticos para Bem Governar”(EuropaAmérica), do grego Plutarco, para quem a filosofia e a política se encontravam intimamente ligadas, sendo a primeira uma da vida e do homem e a segunda a sua concretização prática. Este breve tratado foi escrito por Plutarco para um amigo que pretendia fazer carreira como homem de Estado. A pensar nele e nesse desiderato, Plutarco alinhou um conjunto de regras e de conselhos práticos que se conservam actuais e certeiros nos dias de hoje. Da mesma editora é “A Filha do Partisan”, Lois Bernières, uma engenhosa história de amor entre uma mulher chamada Roza e um homem chamado Chris, ambos unidos pela paixão de contar e ouvir contar histórias. Refira-se que o autor já dera à estampa “O Bandolim do Capitão Corelli”, distinguido com um importante prémio internacional em 1994 e adaptado com êxito ao cinema. “Gasolina”(Teorema) é um surpreendente romance de Quim Monzó, apontado por alguns críticos como das vozes mais interessantes da actual literatura europeia. Nascido em Barcelona em 1952, o autor publicou dois romances e várias colectâneas de contos, sendo apontado como o mais original escritor catalão da sua geração. Este livro surpreende-nos pela mestria da linguagem e pelo domínio do processo narrativo, que envolve o leitor da primeira à última página, sem quaisquer cedências à facilidade ou à previsibilidade. O crítico, professor universitário e poeta Fernando Pinto do Amaral acaba de se estrear na ficção na narrativa como o romance “O Segredo de Leonardo Volpi” (D. Quixote), para ler com atenção. A brasileira Iza Salles acaba de ver editado em Portugal o seu romance biográfico “O Coração do Rei” (Planeta), sobre a vida breve e emocionante de D. Pedro IV, primeiro imperador do Brasil, obra justamente elogiada por autores como Alberto Dines. Realce ainda para “Charlotte Simmons”(D. Quixote), considerado um dos grandes romances do norte-americano Tom Wolfe, sempre a não perder. Outros títulos de ficção a merecerem destaque e leitura disponível e atenta: “A Mão Esquerda de Deus”( D. Quixote), segundo romance de carácter histórico de Pedro Almeida Vieira, “A Sul da Fronteira, a Oeste do Sol”, (Casa das Letras), do japonês Haruki Murakami, “Fora de Horas”(Oceanos), nova edição do romance de estreia do diplomata Paulo Castilho, “Regresso a Barcelona” (Oficina do Livro), de Luís Soares, “Alguém Como Tu”(Quinta Essência), de Cathy Kelly, “Os Naufrágios do Amor” (Oficina do Livro), do jornalista Rui Araújo, “Escrito na Pele” (Oceanos), de Nafisa Haji, “O Quarto dos Hóspedes” (Oceanos), de Helen Garner, a obra-prima “Dom Casmurro”(D. Quixote), do clássico brasileiro Machado de Assis, e “A Vingança de Marcolina ou o Último Duelo de Casanova”, de José Sasportes. Propostas de leitura de todos os géneros e para todos os gostos. Destaque ainda para o excelente trabalho de investigação de Ernesto Rodrigues, prestigiado crítico, ensaísta e professor universitário Ernesto Rodrigues, que lançou em edição própria “”O Século” de Lopes de Mendonça: o Primeiro Jornal Socialista”. ! MAIO 2009 | TempoLivre 59 55a70_Boavida.qxp 27-04-2009 12:52 Page 60 Boavida|Artes Carlos Calvet em Lisboa A Plenitude da Geometrização A exposição que Carlos Calvet apresenta na Galeria Valbom, Lisboa, até 30 de Junho, é tão inesperada quanto original. Evoluindo, aos 81 anos, para um crescente esquematismo, em busca de uma maior simplificação, confirma-se definitivamente como um dos nomes mais destacados da arte contemporânea portuguesa. Rodrigues Vaz rquitecto que se dedica há mais de 50 anos à pintura, desde o início ligado ao Grupo Surrealista de Lisboa de Cesariny, em cuja exposição de 1949 participou, a par de Mário Cesariny de Vasconcelos e Cruzeiro Seixas, Carlos Calvet, cuja influência do cubismo sintético de Braque e da pintura metafísica de Chirico é notória, tinha transitado, muito recentemente, da geometrização da natureza morta para a construção de um espaço ambíguo, mas só agora avança com uma espécie de ruptura com a sua obra anterior, embora se continuem a notar vestígios dos Metafísicos e da Pop Art. Diz Jorge Listopad, cidadão português nado e criado em Praga, Checoslováquia, que «a pintura de Carlos Calvet é uma poesia de pedra, de pedras, para a qual há vários nomes: luna, parque astral, religação sem dúvidas, A 60 TempoLivre | MAIO 2009 meta-metafísica tantas vezes repetida, dita, como o Castelo K.» Digamos, portanto, que desta nova fase do Mestre se pode falar em plenitude, porque, como diz o crítico, «A sua maneira é sempre concreta, e se algo falta nessa concretude, esse algo é sonho, nostalgia, abstracção, se quiseres, plenitude de novo, mas neste caso, plenitude que deseja a totalidade que não tem. Não pode ter. Tem mais do que isso.» DE NADIR AFONSO A RAOUL DE KEYSER Quem ainda há pouco reconheceu também que «a minha sensibilidade evoluiu» foi Nadir Afonso, cujo conjunto de trabalhos subordinado ao título “Século XXI” pode ser visto até ao próximo dia 22 no Museu Municipal de Coimbra. Como diz o vereador municipal da cultura local, Mário Nunes, «A sua obra é a afirmação de uma vida pautada, sempre, pela procura incessante do Absoluto na Arte, da 55a70_Boavida.qxp 27-04-2009 12:52 Page 61 necessidade de no quadro colocar a forma exacta como pedra de fecho. Arte que para o seu pensar é a chama que lhe dá sentido à vida, é o ar que respira, que sustenta a sua paixão irresistível pela pintura.» Por sua vez, o Museu de Serralves, Porto, apresenta “Obras inéditas de Raoul De Keyser”, 60 aguarelas realizadas entre 2001 e 2008, que complementam a visão deste mestre belga dado a conhecer ao público português numa notável exposição realizada neste mesmo local em 2005. Ao longo de quase toda a sua carreira, Raoul De Keyser (1930) alterou continuamente os parâmetros da sua pintura, renovando desse modo com regularidade o desafio proposto pela sua obra. Como afirma Ulrich Loock, comissário da exposição, no texto que escreveu para o catálogo, «os seus quadros são em geral determinados por uma observação, localização ou situação específica, um precedente pictórico, ou um objecto retirado do seu meio próximo, que é depois assumido e consumido pela obra individual ou pelo grupo de obras no seu percurso em busca de uma certa auto-suficiência.» ARTE ROMENA NO MUSEU DO CHIADO Sob o título “Cores da Vanguarda – Arte na Roménia 19101950” está o Museu do Chiado, Lisboa, a apresentar, por seu lado, uma exposição promovida pelo incansável director do Instituto Cultural Romeno, Virgil Mihiau, abrangendo pela primeira vez um conjunto fundamental do desenvolvimento das vanguardas da pintura romena entre 1919 e 1950. Integram esta exposição 65 obras das mais significativas da história da arte romena provenientes de 10 museus nacionais, criteriosamente seleccionadas pelo curador da exposição Erwin Kessler, dando assim continuidade e aprofundamento ao estreitamento do conhecimento da arte romena no nosso país e abrindo outros horizontes numa Europa comum fora das centralidades dominantes através de questões e problemáticas, que por vezes se aproximam das que a nossa história conheceu. A cultura romena é pouco conhecida do público português, ainda que de modo disperso alguns nomes sejam familiares. Conhecemo-los muitas vezes pela divulgação das suas obras em países mais próximos e esquecemos injustamente a sua origem. Desde Tristan Tzara, criador do dadaísmo, de Zurique e de Paris, a Mircea Eliade, que entre nós viveu; da amizade e mútua admiração de Amadeo de Souza-Cardoso e de Brancusi, à admiração dos surrealistas portugueses por Victor Brauner são estes apenas alguns exemplos dessas trocas e pequenos encontros, ecos e persistentes memórias entre dois países meridionais, em extremos quase opostos da Europa.! Composição de Nadir Afonso, aguarela de Raoul De Keyser e uma das 60 obras que integram a exposição de arte romena no Museu do Chiado. Na página anterior, Marinha simples, de Carlos Calvet MAIO 2009 | TempoLivre 61 55a70_Boavida.qxp 27-04-2009 12:52 Page 62 Boavida|No Palco A força da realidade Até 10 de Maio, na Sala Experimental do Teatro Municipal de Almada, estará em cena “O Vendedor de Elogios”, uma história que conta, por sua vez, muitas outras histórias e, sabe-se que quem conta um conto… Maria Mesquita uma pequena casa vivem duas pessoas: o Carteiro, que é o dono, antigo polícia que agora dedica a sua vida a abrir correspondência alheia, fotocopiando as cartas para as ler e coleccionar (nada de mais, para quem tem um passado duvidoso), Leslie, jovem espertalhão, a quem algumas famílias encomendam elogios fúnebres para que o passados dos seus falecidos são seja tão “negro” ou sórdido (algo que é elaborado com tal perfeição que Leslie praticamente inventa novas “vidas” aos defuntos). Miss Oona, namorada de Leslie, empregada num bar de uma estação ferroviária, costuma passar por lá frequentemente. Com isto tudo, cada um acaba por imaginar situações que podem até nem corresponder à realidade, mas muitas vezes, as pessoas não querem ser lembradas só por aqueles motivos e há que se fazer uma selecção à memória de todos. No dia em que Leslie recebe uma encomenda para um funeral, a vida aparentemente pacata destas personagens muda. Com o início de uma perseguição, têm os três que mudar o rumo dos seus destinos e trocarem as suas histórias fantasiosas, que na verdade são as histórias de outras pessoas. A peça aborda uma questão que persegue Michel Simonot no seu teatro: que responsabilidade é a nossa, quando na nossa vida, na nossa profissão, pomos as nossas palavras na existência dos outros em vez de vivermos por nós próprios? N Da autoria de José Maria Vieira Mendes, “Onde vamos morar” é principalmente, uma história de perdidos e achados, famílias desencontradas, onde tem lugar a distância e o perdão, onde os esquecidos retornam ao pensamento e onde os que estão longe voltam a estar próximo. A trama pode parecer confusa, tantas são as personagens, mas o destino é comum a todas elas: uma cidade que fica deserta quando cai a noite, uma família desavinda, um comboio que vai e vem sem saber para onde vai, partidas e abandonos, num local onde nem as ruas parecem ser as mesmas. No meio do escuro em que tudo parece ficar e da solidão, a qual entra por vezes em nossas casas sem pedir permissão para tal, a morte costuma ser um pensamento banal e recorrente, extinguem-se laços antigos e restam os segredos que se querem manter escondidos e as palavras que já não se conseguem pronunciar. FICHA TÉCNICA: Autoria: José Maria Vieira Mendes; Interpretação: Andreia Bento, Cecília Henriques, Pedro Carmo, Pedro Gil, Pedro Lacerda, Sérgio Godinho e Sílvia Filipe; Cenografia e Figurinos: Rita Lopes Alves; Luz: Pedro Domingos; Encenação: Jorge Silva Melo; Assistência de encenação: Luís Godinho; Co-produção: São Luiz Teatro Municipal/Artistas Unidos " Datas: No Teatro Municipal de Portimão a 2 e 3 de Maio; No Teatro Viriato (Viseu) a 8 e 9 de Maio; No Centro Cultural Olga Cadaval (Sintra) a 15 de Maio; No Teatro Virgínia (Torres Novas) a 16 de Maio; No Teatro Gil Vicente (Coimbra) a 19 de Maio; No Teatro de Vila Real a 23 de Maio; No Teatro Municipal da Guarda a 29 de Maio; No FICHA TÉCNICA: Autor e encenador: Michel Simonot; Fórum Municipal Romeu Correia (Almada) a 30 e 31 de Maio; Intérpretes Alberto Quaresma, Bernardo de Almeida, Andreza No Porto (Fitei/TNSJ) a 3 de Junho. Soares; Tradução José Martins; Cenário Jean-Guy Lecat; Luz José Carlos Nascimento; Produção Teatro Municipal de Almada A MENINA JÚLIA “ONDE VAMOS MORAR” Durante todo o mês de Maio, os Artistas Unidos vão estar em digressão com a peça “Onde vamos morar”. Um itinerário que começa em Portimão e termina no Porto. Em cena, uma vez mais, o tema “família”, com a participação especial de Sérgio Godinho. 62 TempoLivre | MAIO 2009 “A Menina Júlia”, de Strindberg, fala-nos de uma história de amor aparentemente simples que se transforma numa série de intrigas e derrotas. Em cena, até 24 de Maio, no TNDMII. Júlia, a chamada “menina” Júlia, filha de um importante senhor, decide não acompanhar o pai a uma visita a casa de parentes, após ter-se quebrado o seu noivado, e resolve passar a noite mais curta do ano, a de São João, na 55a70_Boavida.qxp 27-04-2009 12:52 Page 63 “A Falecida Vapt-Vupt”, para ver no palco do Teatro Nacional de São João, onde o mundo real se torna na única coisa que nos pode levar mais longe. Antunes Filho é um dos mais respeitados encenadores brasileiros do último século. Poucos foram os actores e actrizes que não tiveram oportunidade de com ele trabalhar em inúmeras peças que resultaram invariavelmente em enormes sucessos. Agora, no Teatro Nacional de São João, Antunes Filho traz-nos dois trabalhos. O primeiro, A Falecida Vapt-Vupt resulta na mistura de vários cenários e ambientes temporais, nos quais uma mulher tuberculosa, que sabe estar a morrer, tenta reparar alguns dos males da sua vida com um funeral de luxo. Até ao desenlace, esta personagem irá ter que atravessar um sem-número de outras vivências, de vários quotidianos, de, por sua vez, variadas pessoas de uma grande cidade modernizada, onde dominam os telemóveis, os computadores, a internet, os blogues, os noticiários, a violência gratuita, a novela e o mediatismo desenfreado. Numa altura em que tudo é considerado “notícias de ontem”, velho e ultrapassável, esta encenação é a matéria-prima exacta para um ensaio sobre a vida contemporânea, as suas velocidades e interferências. FICHA TÉCNICA: Autoria: Nelson Rodrigues; Encenação: Beatriz Batarda em “A Menina Júlia” Antunes Filho; Cenografia e figurinos: Rosângela Ribeiro; Desenho de luz: Davi de Brito; Sonoplastia: Raul Teixeira; propriedade da família na companhia dos criados, que estão em celebração pela festa do santo. Durante o baile, o inevitável acontece e Júlia inicia uma relação brusca, pautada pela diferença hierárquica e social, com João, um dos serventes, que está noivo de Cristina, a cozinheira da casa. O resultado desta aproximação não poderia ser mais óbvio: Júlia, com todos os seus recalques de menina de boas famílias, fina-flor, sente-se absolutamente atraída pelo homem mais “impróprio” possível, e é correspondida. Moral da história: nem todas as pessoas são objectos adquiríveis… FICHA TÉCNICA: Autor: August Strindberg; Tradução: Augusto Sobral; Encenação: Rui Mendes; Cenografia: Manuel Amado e Interpretação: Adriano Bolshi, Andrell Lopes, Angélica Colombo, Bruna Anauate, Eloisa Costa, Erick Gallani, Fred Mesquita, Geraldo Mário, João Paulo, Lee Thalor, Marco Biglia, Marcos de Andrade, Michelle Boesche, Tatiana Lenna, Ygor Fiori; Co-produção: CPT – Centro de Pesquisa Teatral, Grupo de Teatro Macunaíma (São Paulo, Brasil) “PORTO EM DIRECTO” Uma criação colectiva que fala da cidade do Porto e das pessoas que a habitam, como se fosse um programa de televisão. Sete actores, 70 personagens, 44 situações, 20 canções e 100 minutos cheios de humor. “Falamos da nossa Cidade, amamos a nossa Cidade, cantamos a nossa Cidade”. Este é mais um espectáculo sobre o Porto! Ana Paula Rocha; Figurinos: Ana Paula Rocha Luz: Carlos Gonçalves; Música: Rui Rebelo; Interpretação: Beatriz Batarda, FICHA TÉCNICA: Autores: Criação Colectiva, coordenada por Albano Jerónimo e Isabel Abreu; Figurantes: Ana Gil, Bruno Claudio Hochman e Ricardo Alves; Direcção / Encenação: Gonçalves, Nuno Nolasco, Raimundo Cosme, Regina Gaspar e Claudio Hochman; Música: Carlos Azevedo; Figurinos: Teresa Athayde; Assistência de encenação: Maria Arriaga; Catarina Marques; Cenografia: Sandra Neves; Desenho de Produção: TNDMII Luz: Júlio Filipe Elenco: Adriana Faria, Alexandra Calado, Cristina Cardoso, Joana Duarte Silva, Jorge Loureiro, Nuno “A FALECIDA VAPT-VUPT” Preto e Rui Pena. Até 30 de Junho, no Teatro do Campo Até 24 de Maio, uma nova interpretação da peça brasileira Alegre. Horários: de 3ª a Sábado – 21H45; Domingo – 16H00. MAIO 2009 | TempoLivre 63 55a70_Boavida.qxp 27-04-2009 12:53 Page 64 Boavida|Cinema em casa Maio em Cannes Sérgio Alves orque é Maio, o mês do consagrado ao Festival de Cannes, cuja 62 ª edição tem início no próximo dia 13 - com a exibição de Up, a ilustrar a crescente importância da animação no actual panorama cinematográfico – seleccionamos alguns dos P filmes que marcaram o festival 2008. Casos de “A Turma”, vencedor da Palma de Ouro, de “Ensaio sobre a Cegueira”, que abriu o certame, e “Eu quero Ver”, exibido na secção paralela Un Certain Regard. A completar esta selecção de Maio, assinala-se o regresso do espião mais famoso do mundo: James Bond em “Quantum of Solace”. A TURMA Rabah Naït Oufella; França, Meirelles; COM: Julianne QUANTUM OF SOLACE A Turma é a história de um 128m, cor, 2008; EDIÇÃO: Midas Moore, Mark Ruffalo, Gael Quantum of Solace começa professor que se prepara Filmes García Bernal, Danny Glover onde havia terminado o últi- e Alice Braga; Canadá/Brasil mo filme (Casino Royale) com Bond em busca da verdade para um novo ano escolar no liceu de um ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA /Japão, 120m, cor, 2008; bairro dos su- Ensaio sobre a Cegueira, a EDIÇÃO: búrbios de mais recente adaptação ao Multimédia Paris onde os cinema da obra de José alunos de ori- Saramago (depois de A EU QUERO VER afinal envolvi- gens e culturas Jangada de Pedra) abriu Julho de 2006. Israel lança da com uma diferentes coexistem. O dis- Festival de Cannes 2008. uma ofensiva militar no Sul cente insiste numa atmosfera Dirigido pelo brasileiro do Líbano. Uns meses depois nização internacional que o de respeito e empenho mas Fernando Meirelles (A Cidade a actriz francesa Catherine quer eliminar. Pelos cenários os alunos começam a desafi- de Deus e o Fiel Jardineiro), o Deneuve chega a Beirute para reais de Itália, Áustria e ar os seus métodos e apesar filme é um thriller poderoso assistir a uma Bolívia, num ritmo aluci- de divertidos. Resultado de que narra a chegada de uma gala de soli- nante, um 007 distante da um ano de preparação com praga misteriosa de cegueira dariedade. força e charme do original um grupo de alunos de uma que ameaça a humanidade. !"#$%&'!()!*#+,' *&,!**#&-+"&. 2 PALMA DE OURO - CANNES 2008 a turma entre les murs Castello Lopes sobre a morte !"#$%"&#'&#()*+&,-#.),-&- .$5" 8& ('3-%$" da namorada, Vesper Lynd, 8& &96%$" !"#$%&"'())*'+',-.&$/0-'1$%$'.&23-%'452.&'&"6%$,7&5%- poderosa orga- Apesar do Sean Connery, persegue, na escola de Paris e um actor Os primeiros a horário apertado companhia da bela Camille, escolhido para o papel do serem infectados e da viagem os membros da poderosa professor, o filme de Laurent são colocados perigosa, inicia uma viagem organização inimiga. Cantet, registou, em jeito de num hospital pelo Sul do Líbano para ver É o segundo filme da série 007, falso documentário, o ambi- abandonado em com os seus próprios olhos. com o actor britânico Daniel ente de uma sala de aula quarentena. A Pela mão do actor libanês Craig no papel de protagonista, com todos os conflitos da única pessoa que consegue Rabih Mroué a actriz de Belle assinado pelo alemão Mark escola francesa contem- ver é uma mulher que finge de Jour embarca numa Forster (Monster`s Ball - porânea. “A Turma” recebeu ser atingida pela epidemia viagem surpreendente. É o Depois do Ódio). a Palma de Ouro, do Festival para poder estar com o seu olhar do cinema sobre a TÍTULO ORIGINAL: da Cinema de Cannes de marido enquanto lá fora reina destruição e o sofrimento no Solace; REALIZAÇÃO: Marc 2008 e foi o pretexto para o caos. Médio Oriente. um amplo debate sobre o O filme integra um elenco de TÍTULO ORIGINAL: papel do professor e do peso - Julianne Moore, Mark REALIZAÇÃO: aluno na escola de hoje. Ruffalo Danny Glover e Gael Hadjithomas e Khalil Joreige; TÍTULO ORIGINAL: Entre Garcia Bernal – na recriação COM: Murs ; REALIZAÇÃO: Laurent de uma das obras marcantes Rahib Mroué; França/Líbano, Cantet; COM: François do Nobel português. 75m, cor, 2008; EDIÇÃO: Bégaudeau, Lucie Landrevie, TÍTULO ORIGINAL: Agame Malembo-Emene e REALIZAÇÃO: 64 TempoLivre | MAIO 2009 Les Blindness; Fernando Forster; COM: Daniel Craig, Je Veux Voir; Joana Catherine Deneuve, Atalanta Filmes Quantum of Judi Dench, Olga Kurylenko, Mathieu Amalric; EUA/GB, 106m, cor, 2008; EDIÇÃO: Castello Lopes Multimédia 55a70_Boavida.qxp 27-04-2009 12:53 Page 65 Boavida|Grande Ecrã Um retrato de família Depois do belo “Esther Kahn”, e de “Reis e Rainha”, uma alegre e comovente fábula de tensão existencial entre uma mulher e o seu marido, Arnaud Desplechin (o mais singular dos realizadores franceses dos anos 90, intransigentemente fiel a si próprio) regressa em força com uma impressionante história centrada no microcosmo familiar. Joaquim Diabinho m Conto de Natal”, é o relato de acontecimentos na vida de uma família desestruturada que ao longo de várias celebrações do natal se confrontam com as mágoas do passado pela morte por doença degenerativa de um dos filhos. Anos depois, a mesma doença manifesta-se na mãe e a transfusão da medula volta a reunir a família para se encontrar o dador – que será o filho “rebelde” ou o neto que sofre de perturbações mentais. O mérito maior de Arnaud Desplechin reside numa livre construção narrativa, na capacidade genial de criar atmosferas, enveredando pela comédia e o drama, aplicando vários estilos e cadências ao ritmo, experimentando outras abordagens, trabalhando diálogos informais, visualizando fantasias, sem temor de desafiar hábitos e ideias dominantes. Arnaud Desplechin tem a consciência dos seus limites, e até a acção dramática é acompanhada por uma banda sonora a sublimar um momento particular e a remeter, em jeito de homenagem, para a memória do cinema clássico. Tudo em Desplechin tem o toque cinéfilo mesmo se não suspeitamos que Bergman, Hitchcock e “ U Truffaut foram “convocados” como referências, eles andam por lá – ou do gosto literário. “Um Conto de Natal” é, ainda, um filme brilhante sobre a natureza humana: que não resvala para a melancolia lamecha, onde familiares não dissimulam a sua condição de seres mais ou menos fragilizados, face à tragédia ou à morte; alegres ou tristes com os (des) afectos, irascíveis com as frustrações ou bem dispostos com o humor ou jocosidade, sem escamotear outros expedientes seculares como a inveja ou a raiva. Pese a sua longa duração de duas horas e meia, “Um Conto de Natal” é um filme excelentemente ritmado e visualmente muito belo com excelentes composições de Catherine Deneuve, Jean-Paul Roussillon, Anne Consigny, Mathieu Amalric, Chiara Mastroianni, entre outros. Em jeito de apelo: escapemos, uma vez que seja, às futilidades que inundam o circuito comercial e entreguemo-nos com prazer à genialidade de Arnaud Desplechin. ! UM CONTO DE NATAL / UN CONTE DE NOËL de Arnaud Desplechin (França, 2008 | 2h30 ) com Catherine Deneuve, Jean-Paul Roussillon, Anne Consigny, Mathieu Amalric, Chiara Mastroianni, etc. (Estreia: 7 de Maio) MAIO 2009 | TempoLivre 65 55a70_Boavida.qxp 28-04-2009 12:23 Page 66 Boavida|Músicas “Pet Shop Boys” – Uma forma superior de música pop Ao cabo de 28 anos de existência, os “Pet Shop Boys” acabam de lançar um novo CD. “Yes” é o título genérico deste disco que merece a nossa atenção. Vítor Ribeiro eil Tennant e Chris Lowe constituem este duo com longevidade rara, que integrou a vanguarda da transformação operada na música pop durante a década de 80 do século passado. Um pouco ao contrário da generalidade da música rock, irreverente, contestatária, “agressiva”, a música pop foi-se caracterizando pela “leveza” da forma e do conteúdo, assim preenchendo, com mais eficácia do que aquela, os interesses comerciais da indústria discográfica. Os “Pet Shop Boys”, porém, têm contribuído para elevar a música pop a um patamar superior, designadamente ao abordarem com alguma minúcia a realidade e assim estabelecerem laços de identificação com quem os ouve. A título de exemplo, eis as palavras iniciais do tema “Bulding a wall”, que integra o novo álbum: “Protection /Prevention/Detection/Detention (…) I`m building a wall/a fine wall/not so much to keep you out/more to keep me in”. Não é fácil descrever o Mundo actual em tão poucas palavras: constroem-se muros no Médio Oriente, nas favelas do Brasil, nos condomínios de luxo das capitais europeias… Resta acrescentar que “Yes” foi produzido pela “Xenomania” e que os “Pet Shop Boys” foram recentemente galardoados com o prémio “Outstanding Contribution To Music”, no âmbito da atribuição dos Brit Awards. N “GOTA D`ÁGUA” EM PORTUGAL “Gota d`Água” é o título do espectáculo musical de Chico Buarque de Holanda e Paulo Pontes, com encenação de João Fonseca e que estará em Maio em várias salas do País. A saber, dia 1, em Guimarães, no CCVF, entre os dias 6 66 TempoLivre | MAIO 2009 e 9, em Lisboa, no CCB, dia 13, nas Caldas da Rainha, no CCC, dia 15, em Estarreja, no Cine-Teatro, dia 16, na Figueira da Foz, no CAE, no dia 20, no Porto, no Coliseu e no dia 23, em Faro, no Teatro das Figuras. MÚSICA E DANÇA DE CUBA NO PORTO E LISBOA O espectáculo de música e dança cubana “Pasión de Buena Vista” estará no Coliseu do Porto dia 26 de Maio e no de Lisboa no dia seguinte. “Pasión de Buena Vista” vem a Portugal quase no final de uma digressão europeia que envolve 38 espectáculos em 31 cidades de 19 países. Este espectáculo, que dura cerca de 90 minutos, conta com oito bailarinos do grupo “Tropicana”, os grupos “La Idea”, com onze músicos e três cantores de apoio (dirigidos por António Castro), e os três cantores dos “Compaeros de Buena”, assim como um vasto guardaroupa com trajes únicos. Os grupos de música e dança mostrarão em palco os estilos tradicionais de Cuba, nomeadamente o “Son Cubano”, um dos mais populares, inventado nos anos 20 pelos trabalhadores dos campos de cana de açúcar, e que mais tarde veio dar origem à moderna “Salsa”. ! 55a70_Boavida.qxp 27-04-2009 12:53 Page 67 Boavida|Saúde Depressão no idoso – um outro caso No número anterior desta revista contei a história da Sra. M. J., de 71 anos, e da maneira como ela reagiu à perda do conjugue, abordando o tema da depressão no idoso como resposta ao luto. Hoje proponho-me evocar um outro caso. M. Augusta Drago medicofamí[email protected] rata-se de um homem de 73 anos que viveu toda a sua vida na periferia da grande cidade, numa zona industrial, na qual trabalhou até à reforma, há cerca de 10 anos. Gostava muito do seu emprego como mecânico de automóveis, trabalhou desde rapazola, progrediu dentro da empresa e chegou a encarregado da oficina. Só aquele acidente que lhe roubou a força do braço direito é que o fez meter os papéis para a reforma mais cedo… Logo aí a sua situação de saúde piorou. Sentia-se e dizia a toda a gente que era um inválido, que já não prestava para nada…Sentava-se no sofá e aí ficava o dia inteiro a ver televisão e, por fim, nem mesmo cuidava de si – ficava todo o dia em pijama e arrastava os chinelos pela casa. Quando a mulher faleceu, meteu-se na cama e recusava qualquer comida, só dizia que queria morrer. Foi aí que o vi pela primeira vez. O exame físico, as análises e outros exames feitos na altura não revelaram alterações significativas. Conversámos e tentei convencê-lo a ir a uma consulta de Psiquiatria. Recusou. Só as súplicas da filha o convenceram a consultar o psiquiatra e dessa consulta veio, como eu esperava, com o diagnóstico de depressão grave. Ninguém o convenceu a tomar a medicação, dizia que nunca na sua vida tinha tomado medicamentos e não era então que o ia fazer… Acontece com muitas pessoa quando chegam à idade avançada. Têm na sua bagagem afectiva uma imensa dor acumulada pelas múltiplas perdas que sofreram ao longo da vida. A tristeza e a saudade que sentem pelos familiares e amigos que viram partir empurra-os para uma negação a tudo, para um isolamento físico e social, que não é mais do que a depressão enquanto doença. A fronteira entre o normal e o patológico nem sempre é fácil de estabelecer. O luto, ou seja a dor sentida pela perda de um ser ou objecto querido, é uma reacção natural e varia muito de pessoa para pessoa. Devemos estar atentos aos nossos idosos e se esse período tem tendência para se pro- T ANDRÉ LETRIA longar para além do tempo razoável e se, concomitantemente, surgirem outros sintomas físicos ou psicológicos, é tempo de procurar ajuda. Os sintomas físicos que surgem com a idade tais como maior vulnerabilidade à doença, menor resistência física, menor capacidade de adaptação a situações novas, alterações motoras, défices visuais, auditivos e cognitivos, não são sobreponíveis a um quadro clínico de depressão, mas contribuem para o seu aparecimento. O facto dos idosos sofrerem de várias patologias e estarem polimedicados também pode contribuir para o surgimento de um quadro depressivo, uma vez que alguns medicamentos têm esse efeito adverso, assim como algumas associações medicamentosas. O risco de um idoso vir a sofrer de depressão vai para além dos lutos e acontece também quando lhe é diagnosticada uma doença maligna ou incapacitante, como por exemplo a artrite reumatóide. Quando o idoso se apercebe de que a sua vida fica ainda mais limitada reage, recolhendo-se na sua solidão e isolando-se. É preciso não confundir velhice com depressão. Existem muitos idosos que respondem positivamente às partidas que os anos lhes pregam…Temos que evitar o isolamento físico e social dos mais idosos, bem como tratar as diversas patologias que vão surgindo naturalmente. É muito importante manter as pessoas idosas com as suas actividades sempre que possível e, quando necessário, com as devidas adaptações. A depressão nos mais velhos nem sempre é reconhecida porque se mascara de queixas somáticas, tais como a perda de apetite ou a dificuldade em dormir…O diagnóstico nem sempre é fácil, e se para as queixas somáticas existir uma justificação fisiológica, a depressão pode passar despercebida. Apesar de hoje em dia a medicina dispor de medicamentos antidepressivos muito mais eficazes e com menos efeitos indesejáveis do que há alguns anos, e que inclusivamente são mais fáceis de administra e de controlar, continuamos a ter por todo o mundo idosos que sofrem de depressão e que não se encontram medicados.! MAIO 2009 | TempoLivre 67 55a70_Boavida.qxp 27-04-2009 12:53 Page 68 Boavida|Tempo informático Sempre a melhorar Uma tecnologia que se desenvolve pelos seus próprios meios como é o caso da Informática, tanto em Hardware como Software, não pára de nos servir cada vez com maiores capacidades e comodidade. Haja algo que nos maravilha num mundo tão cinzento. Gil Montalverne [email protected] o que acontece com os já aqui referidos Leitores Multimédia ou MediaPlayers, discos externos com ligação USB, de imediato reconhecidos pelos computadores. Neles armazenamos tudo o que é multimédia, filmes, fotografias e músicas. Depois, ligados ao televisor sem a necessidade da presença de um PC, reproduzimos o que lá está com grande qualidade. Podem colocar-se os filmes dos nossos DVDs preferidos. Com capacidades entre 500 Gigas e 1 Terabyte, 500 Gigas é espaço suficiente para mil horas de vídeo em MPEG ou 6.300 horas de áudio MP3 ou 250.000 fotos de 5 megapixeis, tudo isto a ser visionado independentemente do PC, como dissemos, num televisor ou ouvido num sistema de áudio de sala. Mas para tudo isto, e muito mais, existe agora o Conceptronic CM3PVRD da série Grab’n’GO que grava filmes e programas de televisão no disco rígido incorporado através do sintonizador de TV, servindo-se do televisor para a respectiva configuração. Com comando infravermelhos, pode programar-se para gravar como se faz com qualquer leitor-gravador de vídeo de sala. E pode igualmente gravar directamente de um leitor de DVD ou de cassetes (VCR), de uma set-top box ou câmara de vídeo através das várias entradas de sinal: cabo (TV híbrido), vídeo composto fichas RCA, USB ou cartões de memória. Qualidade de gravação entre HQ, SP e LP. A Conceptronic tem Também actualmente um modelo excepcional de É 68 TempoLivre | MAIO 2009 Leitor Multimédia, o FULLHDMAi, que é estado de arte para alta definição permitindo gravar directamente da Internet, através de uma ligação de rede, a qualidade dos filmes de BitTorrent. GRANDE MELHORAMENTO é tam- bém o software de antivirus especial para os jogos, nomeadamente para quem joga on-line. O Norton Antivirus 2009 Gaming Edition é a protecção mais eficaz e rápida conseguida até hoje. Instala-se rapidamente (47”), ocupa muito pouca memória (5,3Mb), pouco espaço no disco (49,7Mb), rápido scan (52”) e como quem está a jogar não gosta de ser incomodado, consegue protecção total sem abrandar o desempenho do PC. Rápidas actualizações cada 5-15 minutos são feitas em absoluto silêncio. Para 3 PCs por 44 E. MELHORAR o desempenho do PC eliminando megabytes de lixo que por lá existe é uma tarefa fácil para um software gratuito na Internet e em português. Para ter o Crop Cleaner escreva no Google Ccleaner faça o download e instale. Tudo lá está explicado sobre as opções a escolher. 55a70_Boavida.qxp 27-04-2009 12:53 Page 69 Boavida|Ao volante Knight Xv: o novo cavaleiro das estradas A boa notícia é que este carro é "amigo do ambiente" por poder funcionar com biocombustível. A má notícia é que este carro custa o equivalente a quatro Hummers. Carlos Blanco penas 100 exemplares deste "cavaleiro" das estradas estarão disponíveis a partir de 232 mil euros. O Knight XV, com os seus seis metros de comprimento, faz o Hummer parecer uma miniatura. O conforto interior é igual ao de um salão "lá de casa". Os extras tornam o Knight único, como se não bastassem as características de segurança e defesa de que está dotado. É o ego elevado à máxima potência. As suas dimensões dizem tudo: seis metros de comprimento, com 3,75 m de entre-eixos, 2,48 m de largura e expressivos 2,54 m de altura. A blindagem materializa-se em vidros de 6,4 cm de espessura (que suportam tiros de metralhadora), além de materiais compostos, como aramida, kevlar, aço de alta resistência e alumínio balístico. Até os pneus são blindados radiais de uso misto, Mickey Thompson Baja - e podem continuar a rodar mesmo após terem sido atingidos. As rodas, feitas de alumínio forjado, têm aro 20. O motor é um V10 de 6.8 litros, capaz de gerar 405 cavalos de potência, ecológico e com sistema flex. O Knight XV pesa 4.500 quilos. A blindagem de alto nível abrange toda a carroçaria, inclusive nos pára-choques, pneus e rodas. A SISTEMAS DE SEGURANÇA Câmaras capazes de captar imagens térmicas na frente e na traseira. Este dispositivo assinala, através da detecção do calor emitido, imagens mais nítidas que um sistema infravermelho tradicional. A circulação do ar pode ser interrompida, accionando cilindros de oxigénio no porta -bagagens. Pode ser equipado com geradores de fumo, nas laterais e na traseira. Detector anti-bombas na parte inferior do veículo, que funciona em conjunto com o arranque do motor por meio de controlo remoto. OUTRAS CARACTERÍSTICAS Depósito de combustível de 151 litros. Possui tracção às quatro rodas de accionamento electrónico por meio de um botão giratório no painel. Telas de cristal líquido e DVD. Mesinhas para laptop. PlayStation3. Monitores de televisão. Frigobar e humidificador de charutos. Cortinas eléctricas nas portas e janelas. Câmara para auxiliar na marcha-atrás, visão nocturna, dois tectos solares blindados. Bancos eléctricos em couro, carpetes de lã de luxo, iluminação interna de LEDs e até uma PlayStation3! Segundo o fabricante, o Knight XV tem no seu interior tanto espaço que cabem seis jogadores de basquetebol. Com produção limitada, o carro é feito à mão e leva 1.500 horas de trabalho para ficar pronto. Fabricado pela empresa canadiana, Conquest, o Knight XV é um "utilitário" blindado baseado no veículo militar Gurkha, utilizado pelo exército norte-americano. Um veículo do outro Mundo que nunca deverá chegar a Portugal, já que a sua reduzida produção, aliada ao seu elevado preço tornam praticamente inviável a sua aquisição. ! MAIO 2009 | TempoLivre 69 55a70_Boavida.qxp 27-04-2009 12:53 Page 70 Boavida|As Palavras da lei Avaliação de bens em partilha judicial Um mediador de seguros fez uma doação ? do seu negócio a um dos filhos, talvez há mais de 20 anos. Entretanto faleceu e foi requerido inventário judicial para partilhar os bens deixados, entre os vários filhos, que não se entendem. Ora, entre outros problemas, põe-se a questão de saber qual o valor do negócio de mediação (carteira de clientes e valor da clientela, rendimentos, etc.) doado àquele filho, para que os outros filhos não fiquem prejudicados. Como se pode e/ou quem poderá fazer esta avaliação? Sócio devidamente identificado - Pombal Pedro Baptista-Bastos um processo de Inventário, é o cabeça-de-casal que tem que no requerimento de inventário e nas declarações que prestar em Tribunal, apresentar a relação de bens e o respectivo valor, nos termos dos artigos 1345º e 1346º do Código de Processo Civil. Os restantes interessados na herança são notificados para se pronunciarem contra ou a favor dessa relação de bens em 10 dias, nos termos do artigo 1348º do Código de Processo Civil. Se reclamarem, os interessados fá-lo-ão com base na falta de bens que deveriam integrar a partilha, na exclusão de bens que foram indevidamente relacionados e que não deviam integrar a partilha, ou arguindo quaisquer outras inexactidões na descrição dos bens, que sejam relevantes para a partilha, o que nos parece ser este o caso. E, se considerarmos esta curiosa situação, muitas são as interrogações que se levantam, na avaliação deste negócio, e que foram levantadas pelo nosso leitor. Nestes casos, bem como noutros semelhantes – a avaliação de obras-de-arte, por exemplo – o Tribunal opta por suspender o processo, dada a complexidade da matéria de facto, e, grosso modo, pede para que sejam as partes a determinarem uma solução para a resolução da questão controvertida que deve ser resolvida. É o que nos diz o nº N 70 TempoLivre | MAIO 2009 1 do artigo 1350º, juntamente com o nº 2 do artigo 1336º do C.P.Civil. A lei determina esta solução, porque entende que o Juiz não estará imediatamente preparado para prosseguir com o processo, devendo os interessados lançar mão de uma expressão curiosa: “…o juiz abstém-se de decidir e remete os interessados para os meios comuns.” Que pretende a lei dizer com isto? A solução que a lei determina é a de se lançar mão de um meio que já ouviram: o da avaliação por peritos. Se houver uma situação como a descrita, em que exista a incapacidade do Juiz determinar o valor de um bem na relação, e em que cabeça-de-casal e interessados não sabem, ou não se entendem sobre o valor do bem, lançase mão de um meio dispendioso, mas objectivo: a avaliação pericial, prevista nos artigos 568º a 591º, do C.P.C.. Quer a parte, quer o Tribunal, poderá indicar os peritos – até ao número de três, se a matéria for complexa, ou a parte os requerer, nos termos do nº 1 do art. 569º C.P.C. – indicando-se o objecto e as questões de facto a serem resolvidas na perícia. O Juiz designa a data e local da perícia, e estes realizam um relatório pericial, devidamente fundado, sobre o objecto em causa – art. 586º C.P.C.; as partes podem reclamar da perícia, e até requerer uma outra perícia, após o que o Tribunal decidirá. ! ANDRÉ LETRIA 71.qxp 27-04-2009 12:00 Page 1 72e73_Passatempos.qxp 27-04-2009 12:57 Page 72 ClubeTempoLivre > Passatempos Xadrez | por Joaquim Durão A posição verificou-se na 7ª partida do “match” Boris SpasskyVictor Korchnoi, disputado em Kiev, em Setembro de 1968, em que o primeiro ganhou por 6,5-3,5. SÃO AS BRANCAS A JOGAR QUAL O MELHOR LANCE? SOLUÇÕES O melhor lance é aquele com que se ganha mais rapidamente. 1. Dh6+! Rxh6 (se 1…. Rg8 2. Tc8+ Tf8 3. Txf8++) 2. Th1++. Voltamos a não enunciar a quantidade de lances para se chegar ao mate, para não dar pistas evidentes aos leitores. Repare-se que é falso 1. Th1+? Rg8 2. Dh6??... com mate à vista… mas para o adversário 2…. Dd3+ 3. Rh1 Cc2+ 4.Rb1 Ca3+ 5. Ra1 Db1+ 6. Txb1 Cc2++. Um exemplo de que a ordem dos factores de mate… não é arbitrária. Ambos tiveram uma vida atribulada devido à Guerra Mundial de 1939/45. Akiba Rubinstein (Stawiski, Polónia, 12.10.1882 – Bruxelas, 14.03.1961), judeu foragido ao Holocausto, e o russo naturalizado francês, Alexandre Alekhine (Moscovo, 18.10.1892 – Estoril, 23.03.1946), campeão mundial (1927-35 e 1937-46), foram dois dos maiores xadrezistas do seu tempo. No campeonato da Rússia de 1912, disputado em Vilnius (actual Lituânia), o primeiro, com pretas, bate o futuro campeão do Mundo, com a Defesa Aberta contra a abertura Ruy Lopez ou Espanhola. 1. e4 e5 2. Cf3 Cc6 3. Bb5 a6 4. Ba4 Cf6 5. 0-0 Cxe4 (Hoje vê-se mais a Defesa Fechada 5. Be7) 6. d4 b5 7. Bb3 d5 8. dxe5 Be6 9. c3 Be7 10. Cbd2 Cc5 11. Bc2 Bg4 12. h3 (Hoje prefere-se 12. Te1 0-0 13. Cf1 Te8 14.h3 Bh5 15. Cg3 Bg6 e as ramificações que seguem têm tendência a favorecer as brancas) Bh5; 13. De1 Ce6 14. Ch2 (Pretendendo um ataque à baioneta – com os peões – na ala do rei, via f4 e g4) Bg6! (Defender o Bc2 com 15. Dd1 era uma humilhante perda de tempo, pelo que a troca se pode considerar forçada) 15. Bxg6 fxg6!! (Esta é que é uma grande e lúcida decisão, pois o habitual nestes casos é hxg6, abrindo a coluna “h” sobre o roque, Rubinstein entendeu bem que a coluna “f” aberta é mais importante) 16. Cb3 g5! 17. Be3 0-0 18. Cf3 (Melhor teria sido 18. De2 Cxe5 19. Bxg5 Cxg5 20. Dxe5 Dd6 21. Cg4) Dd7 (Mais forte foi considerada a continuação 18…., Txf3 19. Gxf3 Cxe5 20. De2 Bd6 21. Cd4 com compensação pelo sacrifício da “qualidade”) 19. Dd2 Txf3! 20. gxf3 Cxe5 21. De2 Tf8 22. Cd2 Cg6 (O salto e sustentação de um cavalo em “f4” é decisivo) 23. Tfe1 Bd6 24. f4 Cexf4 25. Df1 Cxh3+ 26. Rh1 g4 27. De2 Df5 e as brancas abandonam (Df5-h5 é fatal). Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos N.º 5 Preencha a grelha com os algarismos de 1 a 9 sem que nenhum deles se repita em cada linha, coluna ou quadrado N.º 5 SOLUÇÕES 72 TempoLivre | MAIO 2009 72e73_Passatempos.qxp 27-04-2009 12:57 Page 73 Palavras Cruzadas | por José Lattas Verticais: 1-Glóbulo calcário, nacarado, produzido por certos lamelibrânquios, especialmente pelas ostras perlíferas; Queridos. 2-Astanino (s.q.); Preposição em e artigo definido a. 3-Instrumento musical, de sopro, de forma ovóide e timbre semelhante ao da flauta. 4-Comparecer; Fruto silvestre; Nota musical. 5-Hora canónica; Dama de companhia; Decifrar. 6-A parte imaterial do ser humano; Terreno cheio de árvores silvestres. 7-Portas (fig.); O m. q. Ameba (pl.). 8-Interjeição de pancada; Sapo do Amazonas. 9-Dispõe em camadas; Peça, geralmente de loiça, em que se come ou se servem iguarias (pl.). 10-Gira; Raspa. 11-Estime; Antigo navio de vela, de guerra ou mercante; Grande quantidade. 12Maléfica; Amarrara; Divindade solar, dos antigos egípcios. 13Determinou a valia ou o valor de. 14-Antemeridiano (abrev.); A parte mais larga da enxada. 15-Substância alimentar feita de grãos de cereais, reduzidos a grânulos por meio de moagem incompleta; Discursaras. 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 SOLUÇÕES 1-PAGINAS; ARAMEUS. 2-E; ROLA; COMA;E. 3-RA; AMIZADE; AM. 4-OTO; ADAMA; AMO. 5-L; CA; ASA; AV; L. 6-ARAMAIS; SENTARA. 7-ROI; AAL. 8-ATIRADA; PRURIDO. 9-M; NA; MAR; AO; R. 10-ANA; MIRAR; UPA. 11-DA; LABUTAR; AR. 12-O; META; OPOR; A. 13SUMIRAS; SARADAS. Horizontais: 1-Qualquer das faces de uma folha de papel (pl.); Indivíduo pertencente ao povo dos Arameus, que habitava a Síria antiga (pl.). 2Ave columbina, semelhante ao pombo; Estado de inconsciência profunda em que não se regista actividade cerebral, mantendo-se a respiração e a circulação. 3-Rádio (s.q.); Afeição por uma pessoa; Amerício (s.q.). 4Ouvido (pref.); Efemina; Patrão. 5- Cálcio (s.q.); Pega do cabaz; Abreviatura de avenida. 6-Carcais de arame; Assentara. 7-Tritura com os dentes; Árvore da fam. das anacardiáceas, cujas raízes e cascas são utilizadas, na Índia, em tinturaria e em aromatizações. 8-Lançada; Comichão. 9-Sódio (s.q.); Grande extensão de água salgada; Contracção de preposição e artigo definido. 10-Nome de mulher; espreitar; Nome com que se incita uma pessoa ou animal, a levantar-se. 11- Concede gratuitamente; Trabalhar intensamente e com perseverança; Atmosfera. 12Alvo; Contrapor. 13-Desapareceras; Tratadas. 1 74e75_Novos Livros.qxp 28-04-2009 12:24 Page 74 ClubeTempoLivre > Novos livros os doze conceitos básicos A sua um segredo terrível é para uma educação positiva; viagem revelado: Fen, a malévola O CÃO de seguida, apresenta começa rapariga-dragão, no cativeiro H. Bastos Machado 136 pg. |13 (PVP) histórias infantis para contar neste desde o seu nascimento e às crianças, acompanhadas preciso enlouquecida pelo ódio, quer Uma obra de ficção por tópicos para análise dos momento e a todo o custo pôr fim à vida inspirada na memória adultos. este livro é a do corajoso Sam. colectiva de uma aldeia, Um guia imprescindível para chave, pois só você pode Quando os seus caminhos desde a implantação da os pais que ajuda a mudar a sua vida e criar um se cruzam, dá-se a República até ao final do identificar, reconhecer e futuro fantástico cheio de derradeira luta pela sua vida século XX. Um vencer os medos típicos da amor, alegria e abundância. e pelo destino da republicano infância. ÂNCORA EDITORA Humanidade. O LEGADO 731 fervoroso achava que a GRÁVIDA - LIVRO DE Lynn Sholes e Joe Moore 292 pg. | 20,99 (PVP) INTRIGA EM OXFORD República só INSTRUÇÕES se Quando um homem vítima Veronica Stallwood 226 pg. | 20,51 (PVP) consolidaria se se desse S. Jordan e D. Ufberg 216 pg. |16 (PVP) de uma doença terrível A romancista Kate Ivory instrução ao povo. Como não Trazer um bebé ao mundo é entra em Satellite News recebe muitas cartas dos teve apoios, fundou uma um dos momentos mais Network e, pouco antes de seus fiéis leitores. Porém, escola na sua casa. O 25 de marcantes da morrer, murmura ao ouvido quando se depara com uma Abril e os meses seguintes vida; mas não de Cotten Stone — encomenda que contém só não passaram há como evitá- «Agulhas Negras» — apenas um despercebidos na aldeia por lo: estar ninguém podia prever que pequeno e dois motivos: a aparatosa grávida pode dias depois mais mortes se misterioso ser uma prisão do cacique em sua seguiriam. anel casa, onde se reunia com experiência assustadora. Cotten para descobrir o que dourado, notórios fascistas vindos de Uma obra que responde a está por detrás desta fica muito várias partes do País; e o todas as questões que epidemia, enceta uma medo de ocupação das suas afectam as grávidas, desde o investigação que vai da Convidada pelo seu editor terras, como ocorreu nas enjoo matinal, tamanho do Coreia do Norte até ao para várias sessões de grandes herdades do bebé à melhor maneira de castelo do próprio Drácula. autógrafos, Kate é Alentejo. evitar festinhas na barriga, Será que Cotten conseguirá acompanhada por Devlin ou dormir descansada. salvar a Humanidade sem Hayle, um famoso autor de arriscar vender a alma ao policiais. Porém, o Filho da Aurora? exuberante Devlin tem um ARTEPLURAL O PEQUENO SAMURAI intrigada. talento especial para atrair EUROPA-AMÉRICA SAM E O CORAÇÃO DA sarilhos e é perseguido por Becker 224 pg. |18 (PVP) A CHAVE PARA VIVER A LEI SERPENTE – Livro III da vários homens que querem DA ATRACÇÃO Trilogia do Dragão vê-lo morto. A obra apresenta um método inovador na área da Jack Canfiel e D. D. Watkins 144 pg. | 13,90 (PVP) Thomas Bloor 208 pg. | 15,90 (PVP) A PACIENTE MISTERIOSA pedopsicologia, segundo o O autor partilha Sam é vítima de uma qual conhecimentos e maldição que assombra a P.D. James 344 pg. | 22,90 (PVP) educadores e experiências e apresenta um sua família há gerações e o Quando uma famosa crianças conjunto de técnicas para transforma numa horrível jornalista de investigação é trabalham em aplicar a Lei da Atracção à criatura e numa ameaça internada na clínica privada conjunto os sua vida, num guia para todos os que o rodeiam. do Sr. Chandler-Powell, em medos e as Christian Lüdcke e Andreas detalhado que o ajudará a Os seus inimigos de outrora Dorset, para uma operação preocupações dos mais conquistar os sonhos e estão determinados a matar de rotina, nada fazia prever a pequenos. Primeiro descreve ambições. Sam e, num local longínquo, sua morte súbita. 74 TempoLivre | MAIO 2009 74e75_Novos Livros.qxp 28-04-2009 12:24 Page 75 A vida em Cheverell Manor, a COMO POUPAR SEM Avis, a Conquista de Ceuta, o estes princípios podem pitoresca casa de campo que PERDER A CABEÇA início da expansão, a lançar luz sobre todos os alberga a clínica, é vocação monástica e morte aspectos da criação, desde a perturbada quando uma Ana Galán 166 pg. | 9,95 (PVP) do condestável. origem da vida à natureza da segunda vítima é Há muitas formas de poupar Um romance surpreendente religião. encontrada. Que mistérios dinheiro sem sacrifício de onde Nun’Alvares Pereira encerra Cheverell Manor? forma divertida e até mesmo ressurge como “um guerreiro PATRIMÓNIO, HERANÇA E Quem matou os dois boa para a saúde. que trazia a paz no coração” MEMÓRIA pacientes? Fazer os seus próprios e “um eleito, fonte de graça A Cultura como criação presentes, convidar amigos para o seu país” que o autor, para comer em sua casa, natural de Baden-Baden, Guilherme d’Oliveira Martins 12 (PVP) trocar o carro por uma muito admira. Uma reflexão de grande EVEREST EDITORA bicicleta, entre outros, são relevância sobre a BELEZA! algumas das sugestões A EVOLUÇÃO PARA TODOS importância da cultura na Tudo para ficar radiante apresentadas numa obra que Como a teoria de Darwin vida política e económica Uschka Pittroff e Sílvia Wolf 160 pg. | 19,95 (PVP) reúne mais de 100 pode mudar a nossa forma contemporânea. conselhos. Escolha o que de pensar na vida “Deixou de Um programa para estar melhor se adequa ao seu fazer sentido a radiante por dentro e por estilo de vida. David Sloan Wilson 556 pg. | 29 (PVP) Qual a razão biológica dos políticas mexericos? E do riso? E da públicas fora. Todas as mulheres querem estar bonitas. Qual o GRADIVA melhor creme, que oposição entre centradas no criação de arte? Porque é maquilhagem mais a A LAMPARINA DE PRATA que os cães património histórico, por beneficia, como pode O romance do Santo têm caudas contraponto à criação dissimular as imperfeições? Condestável enroladas? contemporânea. A Este livro revela e realça os Estas e complementaridade é óbvia e pontos fortes do aspecto Reinhold Schneider 235 pg. | 11,60 (PVP) muitas outras necessária. Basta olharmos físico, com numerosas e Uma obra que homenageia a questões são os grandes marcos da extraordinárias ideias e figura do condestável abordadas presença humana ao longo conselhos para uma Nun’Alvares Pereira. Ao pelo célebre evolucionista do tempo para percebermos maquilhagem perfeita e um longo destas Sloan Wilson numa obra que há sempre uma cuidado do corpo dos pés à páginas, inteligente e inovadora. Com simbiose de diversas cabeça. podemos histórias cativantes, o autor influências, de diversas Inclui truques e dicas para revisitar a descreve os princípios épocas, ligando património solucionar problemas crise de básicos da evolução e material e imaterial, herança estéticos e outros conselhos 1983-1385, a mostra como, se e criação…”. sobre cosméticos. dinastia de devidamente entendidos, Glória Lambelho 76e77.qxp 27-04-2009 13:01 Page 76 ClubeTempoLivre > Cartaz Inatel BRAGA Concelhio de Bandas da Filarmónica Paionense em Taveiro; dia 30 às 21h30 – Fundação INATEL Paião. “Uma casa com escritos” Música ! dia 14 às 21h00 –“Sons e Maria, Barril de Alva, Vila Teatro Cantares do Ave” em Delães; Nova de Poiares, S. Miguel e 19º Ciclo de Primavera - dia 9 dia 15 às 21h30 – “Terra S. José de Lavegadas; às 21h30 - “Casos da vida” e Etnografia e Folclore Divinus” em Delães; dia 23 ! concerto às 17h30 no “Alberto em sarilhos” pelo Gr. dia 3 às 15h - XXVIII Festival às 21h45 – Conjunto de Jardim Municipal de Vila de Teatro Cordinha de Água, Rancho Folclórico Flores do Guitarras Manuel Lima no Nova de Poiares com Bandas em S. Frutuoso e peça Monte em Seixo e às 16h – Auditório Vita, em Braga; dia filarmónicas de Vila Nova de “Leandro da Helíria pelo Gr. Recreação do Dia da Bela 24 às 15h30 – Cavaquinhos Poiares, Lousã, Góis, Vila de Teatro Pedra Rija em S. Cruz pelo Rancho Folcl. e “Flores da Primavera” na Av. Nova do Ceira, Miranda do Frutuoso; dia 10 às 16h – “O Etnog. de Zagalho e Vale do da Colónia em Apúlia. Corvo, Lorvão, Penacova, Gaiteiros”, “A Feira”, “O Conde; dia 23 às 14h - Folclore: dia 10 às 16h – 28º Arganil, Barril de Alva, Vila Ceguinho”, “O Polícia de Reconstituição das “Maias, Cova de Alva e Côja. ronda” e “A descoberta do Doces e Cantares” na Praça Festival do Rancho Regional pelo Gr. de Teatro de Ribeira desfile às 11h em Santa de Frades em Formoselha. Dr. Quaresma” pelo Gr. do Comércio em Coimbra; XXIV Festival de S. Martinho Workshop Cénico de Ourentã, na Junta dia 30 às 21h30 – Festival de Brufe; dia 17 às 18h30 – dias 1 e 2 – Manutenção de de Freg. da Camarneira, Nacional do Gr. Folclórico de Gr. Folclórico da Casa do Instrumentos de Sopro pela pelas 21h30 “ A face do caos” Taveiro, em Taveiro e XIX Povo de Martim, em Tenões; Associação de Arte e Cultura pelo Gr. de Teatro “Curral da Encontro de Folclore em dia 31 às 15h – Festival do do Concelho de Cantanhede Mula” em Pereira do Campo; Cova do Ouro; dia 31 às 10h Rancho Folclórico da Casa na Agência INATEL em dias 16 e 23 às 21h30 – “O – Feira à Moda Antiga pelo do Povo de Calendário. Coimbra. primo da Califórnia” pelo Gr. Rancho Folclórico de Teatro de Seixo de Mira Camponeses de Montessão, de Fradelos; dia 16 às 21h – Atletismo Musica em Arzila e Pocariça, em Montessão e às 15h - dia 31 às 9h30 – 24º Grande dia 10 às 15h – Coro dos respectivamente; dias 16 e 23 Aniversário do Grupo Típico Prémio da Cruz, pelos Professores de Coimbra no às 21h30 –“O domador de de Ançã, em Ançã e “Sons arruamentos da freguesia da Salão de Festas da sogras” pelo Gr. de Teatro do da Beira” (concertinistas) em S. Tiago da Cruz, Vila Nova Associação para o Centro de Recreio Popular de Murtede. de Famalicão, para Desenvolvimento e Formoselha em Seixo de Mira associados com mais de 15 Formação Profissional de e Lavos, respectivamente; dia Atletismo anos. Miranda do Corvo; dia 23 às 22 às 21h30 – “A Farsa de dia 3 – I Rampa Fruticoimbra 22h – Encontro de Inês Pereira” pelo Gr. de pelos arruamentos de S. Tiro Orquestras Juvenis no Teatro Trai-la-ró no Centro Frutuoso. dias 2, 9, 16 e 23 às 10h - Auditório da Soc. Paroquial de Soure; dia 23 e Torneios de Tiro, informações Filarmónica de Covões; dia 30 às 21h30 – “Só o Faraó na Agência INATEL. 24 às 15h – Encontro de tem alma” pelo Gr. de Teatro Bandas no Parque Joaquim O Celeiro em Vinha da Vela Pereira, em Abrunheira; dia Rainha e Sobral de Ceira, Cursos de iniciação e 29 às 22h – Serenata Futrica respectivamente; dia 23 às aperfeiçoamento na Ria Btt pelo Grupo Folclórico de 21h30 –“La Nonna” pelo Gr. Formosa dia 10 às 9h - III Raid BTT – Coimbra, nas escadas da de Teatro da Sociedade Idade Mínima: 14 anos Rota dos Moinhos de Água Igreja de S. Tiago em Instrução Tavaredense em Duração: 4 sábados (das e Passeio Pedestre em Coimbra (Recuperação de Santana e “ O lixo” e “Ai a 14h30 às 17h30) Caçarelhos, Vimioso canções, fados e baladas safada” pelo Gr. de Teatro de Idade Mínima: 14 anos entoados por Tricanas e Teatro Experimental A Fonte Preço: Beneficiários 25 euros Futricas nos finais do séc. em Oliveira do Hospital; dia // Não Beneficiários: 60 euros - Inclui material, BRAGANÇA COIMBRA FARO XIX e início do séc. XX); dia 29 às 21h30 – “Os Mega-Concerto 30 às 21h30 - Dixie Gringos Saltimbancos” pelo Gr. de acompanhamento técnico, dia 1 – Encontro Inter- Jazz Band na Sociedade Teatro de Sobral de Ceira em seguro, instalações de apoio 76 TempoLivre | MAIO 2009 76e77.qxp 27-04-2009 13:01 Page 77 e diploma. Local: Doca de Conservatório de Seia na Casa Faro – Ginásio Clube Naval da Cultura de Meda. de Faro. dia 28 às 21h30 Almeirim na Festa da N. Sra SANTARÉM Passeio INATEL. dia 30 - Visita Cultural a Futebol Cáceres, informações na dia 1 - Festa da Final de Agência INATEL Futebol no Campo de Jogos Cavalos no CCD de Olaia. VIANA DO CASTELO das Fazendas de Almeirim, GUARDA informações na Agência Cinema LISBOA INATEL. Filme: UM CASAMENTO Teatro da Trindade Atletismo 21h30 na Associação Desp. e dia 9 às 21h30 - Orquestra Ligeira de Gouveia no Edif. da Conceição em Várzea e Rancho Folclórico de Vale de nformações na Agência Concertos: 17h – Rancho Folclórico de QUASE PERFEITO - dia 2 às dia 24 - Travessia das Pontes Cult. de Subportela e dia 8 às 21h30 - Orquestra Juvenil da SAIA CURTA E com almoço convívio em 21h30 na Associação Recr. e Serra da Estrela na Casa da CONSEQUÊNCIAS – M/12 Almeirim, informações na Cult. de S. João de Rio Frio. Cultura de Famalicão da Serra; dias 6 a 10 - 4ª e sáb às Agência INATEL. dia 17 às 14h - Encontro de 21h30 | dom. às 16h Tocadores de Concertina, no PEDRO TOCHAS – LADO B – Música Auditório da Agência INATEL; Lgo Serpa Pinto em Figueira M/16 dia 30 às 22h - Grupo de dia 31 às 16h na Associação de Castelo Rodrigo; dia 31 às dias 8 e 10 às 23h59 Cantares “ Os Cavaquinhos” Recr. Cult. Estudantil e 17h - Grupo de Metais do ENSALADAS (MÚSICA) no CCD de Ortiga; dia 31 às Agrícola GARCEA. Cultural de Gonçalo; dia 16 às Filme: COMÉDIA INFANTIL – dia 6 e 20 às 15h no 78_CUP.qxp 27-04-2009 13:04 Page 78 ClubeTempoLivre > Cupões NOTA: os cupões para aquisição de Livros são válidos até ao final do ano de 2009 DESCONTO Este cupão só é válido na compra de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora 2,74 Euros DESCONTO Este cupão só é válido na compra de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora VALIDADE Clube TempoLivre 31de Dezembro/2009 2,74 Euros Clube TempoLivre 31de Dezembro/2009 31de Dezembro/2009 DESCONTO Este cupão só é válido na compra de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora VALIDADE Clube TempoLivre Euros VALIDADE DESCONTO Este cupão só é válido na compra de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora 2,74 2,74 Euros VALIDADE Clube TempoLivre 31de Dezembro/2009 Remeter para Fundação INATEL – Livros, Calçada de Sant’Ana nº 180 – 1169-062 Lisboa, o seguinte: ! Pedido, referenciando a editora e o título da obra pretendida; ! Cheque ou Vale dos Correios, correspondente ao valor (PVP) do livro, deduzindo 2,74 euros de desconto do cupão. ! Portes dos Correios referente ao envio da encomenda, com excepção do estrangeiro, serão suportados pelo Clube Tempo Livre. Em caso de devolução da encomenda, os custos de reenvio deverão ser suportados pelo associado. 79a82.qxp 27-04-2009 14:03 Page 79 A chefe sugere | Inatel Foz do Arelho Bolo de azeite e mel Maria Te r e s i n a Gonçalves zeite e mel, dois produtos que sendo bem Portugueses, se podem enquadrar num padrão de alimentação mediterrânico. O azeite, por ser uma gordura essencialmente monoinsaturada, promove a saúde cardiovascular, contribuindo para aumentar o “bom” colesterol sanguíneo e para diminuir o “mau”. Tem ainda a vantagem de ser uma gordura que suporta altas temperaturas sem se degradar, mais um motivo para ser uma boa opção como a gordura para a confecção de um bolo. No entanto, não nos podemos esquecer que é quase 100% ácidos gordos, ou seja, gordura e que por isso não deve ser utilizado em excesso. Quanto ao mel, composto na sua quase totalidade por açúcares dá o sabor característico a este delicioso bolo de tonalidade escura. Depois da degustação de uma fatia deste saboroso bolo, sugere-se para desgastar a energia ingerida uma caminhada na bonita Costa Oeste, na praia da Foz do Arelho. A Ingredientes para 10 pessoas: 125g de açúcar, 2dl de azeite, 300g de farinha, 2,5dl de mel, 4 ovos, 1 colher de café de fermento. Prepara-se assim: Bate-se muito bem o mel com o azeite e juntamse os ovos um a um. Em seguida, acrescenta-se o açúcar e a farinha. Leva-se a cozer em forno médio, cerca de 40 minutos, numa forma de “chaminé” untada com margarina e polvilhada com farinha. Composição nutricional por fatia de 110 gramas • 6,19 g de proteínas; • 21,1 g de gordura; • 56,49 g de hidratos de carbono; • 0,87 g de fibra; • 432,67 kcal Informações e reservas INATEL FOZ DO ARELHO Rua Francisco de Almeida Grandela, 2500-487 Foz do Arelho – Tel: 262 975100 – Fax: 262 975140 Email: [email protected] MAIO 2009 | TempoLivre 79 80.qxp 27-04-2009 14:07 Page 1 79a82.qxp 27-04-2009 14:03 Page 81 O Tempo e as palavras M a r i a A l i c e Vi l a Fa b i ã o O tempo e a memória Diz-me: / Olha a pedra. / Olha-a outra vez. / Que muda em ti / Quando olhas a pedra? / As cores cantam ao desaparecer. / Que resta / daquele que abraçaste e não mais / está contigo / a sussurrar na noite? / A alba há-de cobrilo / e há-de cobrir-te a ti. / A mancha branca, a pedra, / esfumar-se-á no teu sonho. / Nem a tua respiração / Ouvirás. // Não lhe respondo. / Não o vejo. / Obedeço. // […] Quando encontrares a pedra / deixa-a em paz, disse-lhe, // repousar na palma da tua mão. // […] Quando a paisagem em volta se apagar / Estarás só nas trevas.[…] Dan Armon,1 emory…”. A voz da Streisand expande-se, enche a noite, arrasta-me no seu eco, de volta ao passado. A caminho de Maio, regresso a outros Maios, que me atardo a viver, mansa e longamente, em toda a sua plenitude. Heráclito de Éfeso afirmava, tão convicto da sua verdade como só um filósofo grego poderia estar, que, considerando a impermanência universal, considerando o mundo em eterno devir, a vida corria no tempo como rio sem regresso. “Tudo passa, nada subsiste… Nada existe, mas tudo se transforma” Jamais poderíamos banhar-nos duas vezes na mesma água, que tal não permitiria o tempo, “imagem móvel, da eternidade imóvel”, para Santo Agostinho. Sentindo, como Baudelaire, que o tempo é o “inimigo vigilante e funesto, o obscuro inimigo que nos corrói o coração”, deixo-me conquistar por uma breve sensação de triunfalismo, muito própria da ignorância: Sim, mas… E a memória? Se o tempo é o inimigo, com que travo uma luta renhida em todos os segundos da existência, a memória é a aliada que me ajuda a vencer a transitoriedade que ele impõe à vida. Fisicamente imóvel, avanço, tacteando, pelos corredores da memória. Utreque. Wilhelmina Park. Primeiro de Maio de 1960 - o primeiro vivido em liberdade, ainda que transitória. Debruço-me na janela sobre o parque que exibe um verde lagarta pontilhado de tufos de narcisos amarelos e açafrões brancos e roxos. Subitamente, avistamo-lo. Mora sozinho num quarto na semi-cave, com uma janela quase ao nível dos nossos passos. Jamais o vemos à luz do dia. Avistamo-lo, ao anoitecer, quando regressamos do parque, e caminhamos rente à parede, ao longo do passeio, lá no fundo, sempre sentado, de fato completo, absolutamente imóvel, virado para a janela. Uma vez em que havia um pouco mais de luz, verificámos que naquele invólucro rígido em que vivia uma pessoa, havia um movimento quase imperceptível dos lábios e dos dedos, como se os primeiros estivessem a ditar qualquer coisa que os segundos fossem anotando sob a forma de estranhos hieróglifos. Olhámo-nos e sorrimos. Tão “ M barato é então o riso a dois! E ainda tínhamos um florim, o equivalente a sete escudos! Batem à porta: como sempre, atendemos os dois. São ainda poucas as visitas. Quem sabe se alguém que fale português?!? É ele, que, com um gesto hirto, me estende o meu primeiro raminho de lírios do vale. – Bonne chance!, diz quase secamente. É belga, diz depois a dona da pensão. Ah!, e é comunista. Sorrimos ambos. Também aqui! Resistindo ao tempo, na cópia da realidade guardada pela minha memória, ele continua sentado na sua cadeira a desenhar com os dedos uma misteriosa história em hieróglifos. Guardo também, é claro, uma cópia de outros primeiros de Maio: Paris, 68, Rue Cujas, e Madame Savage, em cujo nome introduzimos, em dias em que se encontra de mau humor, um epentético “u,” para que o nome fique mais de acordo com a pessoa; Primeiro de Maio de 74, em Lisboa. Faculdade fechada, de tarde, e meia dúzia de estudantes à espera de entrarem para um exame. A rodear os edifícios, uma bordadura de polícia com viseira, metralhadora e os respectivos cães, armados com os próprios dentes. Para proteger a Gina, faço frente ao “meu” polícia: meiaidade, olhos azuis, de pupilas contraídas, e dois sinais em relevo no lado direito do rosto. Falo lentamente, como convém falar aos animais descontrolados, digo que estou à espera do marido. Em obediência à ordem de circular, de desaparecer, volto calmamente as costas… Foi longo o tratamento do traumatismo craniano. 76… Melhor esquecer... A primeira morte na família. É terrível a memória, que tão duramente se faz pagar pela sua ajuda contra o tempo: terrível quando nos não permite esquecer o que não queremos recordar, e terrível quando nos abandona e nos deixa entregues ao tempo. Grata, porém, lhe estou por me permitir reviver plenamente o que vivi um dia. Dentro de dias, novo Primeiro de Maio. Nada me diz dele a memória, que só com o passado se interessa. Um dia feliz para todos, Senhores Leitores! ! 1 Poeta Israelita, 1948 MAIO 2009 | TempoLivre 81 79a82.qxp 27-04-2009 14:03 Page 82 Crónica O Vicente Álvaro Belo Marques Ao longo da estorinha, nota-se que este Vicente tem alguns pontos em comum com o Vicente do Torga; um deles, a teimosia, outra a sua aparência durante o dilúvio. ois o meu Vicente, modestíssimo Renault estafado e olheirento, tão triste era a sua sorte que nem foi comprado por mim; foi trocado, como nos tempos anteriores à moeda. A sua vida conta-se em dois tempos e duas lágrimas: uma professora, comprou-o e, consta, teve um acidente com ele. O carro (ainda não se chamava Vicente, mas sim um monte de sucata) ficou tão danificado que a senhora não teve dinheiro para pagar a respectiva reparação. Ficou o carro então para o mecânico como pagamento, o qual passou a utilizá-lo para emprestar aos clientes que ficavam com os veículos em reparação na oficina. Andou, pois, de mão em mão e maltratado a maior parte das vezes, como sempre acontece com os carros alheios e modestos. (Com as pessoas também isto acontece.) E ele, coitado, não protestava. Sempre de cabeça baixa lá ia de mão em mão, que remédio, era a sua sina. Então um dia animou-se quando ouviu o patrão mandar lavá-lo e limpá-lo por dentro. Talvez desta vez fosse para mãos decentes, amigas. Foi. E lá viemos os dois, do norte até ao Alentejo, vigiando-nos, não fosse sair alguma válvula pelo tubo de escape. Mas via-se mesmo, sentia-se o seu esforço em se portar bem, em ser simpático. Na auto-estrada chegou a dar 120 mas ruidava por todo o lado pelo que lhe fiz uma festa no pescoço dos seus 67 cavalos e passei para modestos 90 quilómetros por hora, o que ele agradeceu chocalhando menos. Quando chegámos no monte alentejano, olhei-o bem nos olhos e disse-lhe: - Passas a chamar-te Vicente, como o Corvo que desafiou Deus. – E ele não foi contra isso; não tugiu nem mugiu. Nos meses seguintes procedeu-se a pequenas renovações, beneficiações, alindamentos. Tapetes, P 82 TempoLivre | MAIO 2009 travões, bomba de água, pneus novinhos e lindos e ainda uma “placa de aquecimento”, brilhante, nova em folha, por causa dos nocturnos frios alentejanos que, como sabem, são muito ásperos. Foi então que a Fazenda mandou dizer que eu tinha de pagar uma fortuna ao fisco por uma empresa que nunca funcionou, da qual se dera baixa e cujo processo já tinha sido arquivado há anos. Mas não paguei porque não tinha e porque achava injusto castigar um homem por querer exportar livros portugueses para Moçambique. Então, mandaram-me entregar o livrete e o título de propriedade, pois o carro estava confiscado. Assim se fez. Pusemos (eu e o dono do sítio) o Vicente sob uma oliveira, à entrada do monte, quietinho e eu disse-lhe: “Não te preocupes; é só por uns dias.” Foi por mais de dois anos, que nestas coisas com a Fazenda nunca ninguém sabe. E um dia, depois de, por duas vezes, ter ajudado o TiZéMarques a apanhar as nozes, a dita Fazenda manda uma carta de meia dúzia de linhas a dizer que estava tudo sem efeito e enviando os documentos para que o Vicente pudesse circular. Mas já não podia, coitado. Era tarde. Tinha-se finado sob a oliveira. Ali abandonado demasiado tempo, demasiado frio, demasiada chuva e humidade, demasiada geada nocturna, demasiada má sina. Fui dar-lhe a notícia mas nem reagiu. Indiferente. Quieto. Sujo. Enfim morto. Acabaram-se as idas a Lisboa para ver a família, às vezes com o avisador da gasolina a piscar desesperadamente, e eu a dizer-lhe “não me deixes ficar mal, sabes que não tenho saúde para andar quilómetros com uma lata de gasolina na mão”. E ele não deixava. Uma vez cheguei ao supermercado de Montemor mesmo, mesmo com a última gota, que se foi quando o Vicente parou na bomba. Ouvi então um sopro. Deveria ser ele a dizer em desabafo “Uf! chegámos!” Um vizinho distante, levou-mo – julgo que para o desmanchar. Agora, quando passo na entrada do monte, naquele cantinho sob a oliveira, faço por não o recordar porque, mesmo que vos pareça estranho, tenho-lhe saudades. Transportava-me e fazia-me companhia. ! 83.qxp 27-04-2009 12:05 Page 1 84.qxp 27-04-2009 12:03 Page 1