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N.º 204
Maio 2009
Mensal
2,00 €
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TempoLivre
www.inatel.pt
Desporto Inatel
Joana Bárbara,
uma terna guerreira
Maravilhas Portuguesas no Mundo Ásia
Terra Nossa Beja Entrevista Celeste Hagatong
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Sumário
Na capa
Fotografia: José Frade
16
4
6
34
Joana Bárbara
Para Joana Bárbara nadar é
uma paixão. Sem muito
tempo “para ir ao cinema
ou sair à noite”, divide os
dias entre o estágio de
Enfermagem no Instituto
Português de Oncologia, em
Lisboa, e a natação. Por
mês, tem ainda uma a duas
provas, por norma na
INATEL. Os títulos estão aí,
à distância de umas
valentes braçadas.
EDITORIAL
CARTAS E COLUNA
DO PROVEDOR
8
CONCURSO
DE FOTOGRAFIA
10
40
NOTÍCIAS
MEMÓRIA
Amélia Rey Colaço, um
conservatório de teatro
48
50
OLHO VIVO
A CASA NA ÁRVORE
Maria Celeste Hagatong, banqueira
Membro do Conselho de
Administração do BPI, Maria Celeste
Hagatong (1952), uma das raras
excepções de uma mulher no topo de
uma instituição bancária, acredita na
superação da actual crise.
28
CHEFE SUGERE
PATRIMÓNIO
INATEL Foz do Arelho
Museu de Portimão: uma fábrica com
memória
Inaugurado há um ano, reúne um
acervo industrial, etnográfico e
arqueológico que testemunha
importantes aspectos da identidade
local.
O TEMPO E AS PALAVRAS
Maria Alice Vila Fabião
82
22
VIAGENS NA HISTÓRIA
Bolo de Azeite e mel
81
Beja: coração branco
Cidade calorosa e hospitaleira, Beja não
é apenas passado, não é apenas os seus
monumentos dentro de muralhas, há
equipamentos novos, uns mais recentes
que outros. A biblioteca municipal, que
tem como patrono José Saramago, o
museu (Casa das Artes) Jorge Vieira, a
galeria dos Escudeiros e o Parque da
Cidade, estão aí, a torná-la agradável não
apenas a quem a visita, mas, também,
para quem a habita o ano inteiro.
ENTREVISTA
LUSOFONIAS
Paula Osório e Luis Todo Bom
escrevem sobre o turismo
angolano
52
54
79
TERRA NOSSA
CRÓNICA
Álvaro Belo Marques
37
TERMAS EM PORTUGAL
55
72
BOA VIDA
Chaves: “Uma cidade que faz bem”
CLUBE TEMPO LIVRE
Passatempos, Novos
Livros e Cartaz
42
MARAVILHAS PORTUGUESAS NO MUNDO
Ásia: o mundo das especiarias
Revista Mensal e-mail: [email protected] | Propriedade da Fundação INATEL Presidente do Conselho de Administração: Vítor Ramalho Vice-Presidente: Carlos Mamede
Vogais: Cristina Baptista, José Moreira Marques e Rogério Fernandes Sede da Fundação: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Fax: 210027027
Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Director: Vítor Ramalho Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho
Colaboradores: António Sérgio Azenha, Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Gil Montalverne, Guiomar Belo Marques, Humberto Lopes, Joaquim Diabinho,
Joaquim Magalhães de Castro, Joaquim Durão, José Jorge Letria, José Luís Jorge, Lurdes Féria, Maria Augusta Drago, Maria João Duarte, Maria Mesquita, Pedro
Barrocas, Pedro Soares, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Suzana Neves, José Lattas, Vítor Ribeiro. Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, Baptista
Bastos, Fernando Dacosta, João Aguiar, Maria Alice Vila Fabião, Mário Zambujal. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA, Telef. 210027000
Fax: 210027061 Publicidade: Fundação INATEL, Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA Telef. 210027000; Fax: 210027027 Impressão: Lisgráfica Impressão e Artes Gráficas, SA - Rua Consiglieri Pedroso, n.º 90, Casal de Sta. Leopoldina, 2730-053 Barcarena, Tel. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo
de propriedade na D.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 168.158 exemplares
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Editorial
Responder à crise
V í t o r Ra m a l h o
s Estatutos da INATEL vigoram desde
1.07.2008, após a publicação do Dec.
Lei 106/2008 de 25 de Junho.
O facto da Administração ter tomado posse três meses antes do final do ano, a 8 de
Setembro, implicou que fosse esta a apresentar
o relatório e contas de 2008, e não a direcção
anterior.
Coube também à actual Administração proceder à extinção do ex-Inatel, Instituto Público,
reportada a 30.06.2008.
Estando já nomeados o Conselho Fiscal, o
Conselho Consultivo e o Conselho Geral, todos
os referidos instrumentos contabilísticos foram
ou vão-lhes ser presentes, para parecer, e de seguida enviados ao Sr. Ministro do Trabalho e da
Solidariedade Social para a elaboração da portaria de extinção e de homologação do relatório e
contas.
Ao arrepio do previsto pela direcção anterior
os resultados de 2008 são negativos e fortemente
negativos – 2.854.000 euros e o desvio, também
negativo, em 30.06.2008, data do encerramento
do processo de extinção do ex-Inatel, Instituto
Público, é de 3.855.000 euros. Quer isto dizer
que entre 30.06.2008 e 31.12.2008,houve uma
“recuperação” de cerca de um milhão de euros
(3.855.000 – 2.854.000).
As contas foram auditadas por entidades idóneas, duas contratadas pela anterior direcção e
uma outra, pela actual Administração.
Os resultados apurados merecem uma análise
séria pelas consequências nos orçamentos
seguintes, incluindo o de 2009, elaborado “em
linha” com a previsão de 2008.
Temos perfeita consciência que a Fundação
deve caminhar para a sua auto-sustentabilidade
mas não deixaremos de, no imediato, procedermos
à análise daqueles números, veiculando ao
Governo as medidas de reforço que terão de ser
adoptadas, para além das que se justificarem no
plano interno, da responsabilidade da Administração, e que esta não declinará, incluindo a dimi-
O
4
TempoLivre
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nuição das despesas e o reforço das receitas.
Todos devemos disto ter consciência.
Os resultados negativos devem-se em grande
parte ao facto de no primeiro semestre de 2008
não terem sido implementados programas governamentais, incluindo os do turismo sénior e da
saúde e termalismo, por atraso na assinatura dos
despachos correspondentes pelos membros do
Governo.
Face à importância destes programas para a
economia em geral e para a economia social em
particular, a situação terá de ser obrigatoriamente corrigida no futuro.
Por essa razão, apesar dos atrasos dos despachos governamentais também este ano, foi feito
um esforço muito profundo para a 1ª fase se iniciar em 12 de Maio, prolongando-se até final de
Junho, com a 2ª fase a ser iniciada em Outubro.
consciência da crise estrutural em
que presentemente o mundo vive, de
par com a exigência de respostas de
novo tipo, pró-activas e menos
dependentes, fundamentadas na natureza fundacional da nossa instituição, levou a Administração, a encetar desde a primeira hora um conjunto de medidas, coerentemente integradas e
que, em jeito de avaliação aqui se relevam.
Essas medidas atendem à estrutura, à imagem, ao reforço dos recursos próprios, aos trabalhadores e aos beneficiários.
Assim, a importância da estrutura justificou a
alteração do organigrama existente, concebido
agora para responder a preocupações plurianuais
e estratégicas, também a desafios novos, de índole social, ao reforço da interacção das direcções e
dos objectivos fixados e ao controle deles, com
permanente aferição do custo - beneficio.
A própria concepção da representação distrital da Fundação foi reanalisada, modificando-se
o conceito de Delegação para o de Agência, conceito com um conteúdo mais pró-activo, facto
que se fez acompanhar também de outras alte-
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rações orgânicas, ditadas por razões comerciais e
pela necessidade de maior proximidade com os
beneficiários colectivos e individuais. Daí a criação dos delegados regionais.
Decorrente destas respostas, de natureza
estrutural, foram reenquadrados numa lógica de
maior eficiência os programas de informatização,
incluindo o SAP, calendarizaram-se requalificações do património imobiliário, com afectação
precisa das correspondentes verbas orçamentais
e encetaram-se processos negociais com vista á
abertura de novas unidades hoteleiras.
Não se descuraram também os conflitos existentes com o Polis Albufeira, a Câmara Municipal de Albufeira e o Polis da Costa da Caparica,
encetando-se acções que possibilitarão não só a
curto prazo a superação desses conflitos mas
também o reforço das receitas próprias.
Aproveitando-se este impulso dirimiram-se
outros conflitos, que se arrastavam há anos como
os que envolviam a Somague e o antigo
Presidente da Direcção, Dr.Eduardo Graça.
imagem da Fundação beneficiou da
uniformização da mensagem, com
novas abordagens nos instrumentos de
relação com terceiros, desde a Tempo
Livre, que já recebe publicidade comercial, ao Sítio.
Esse esforço, será prosseguido e foi acompanhado
da divulgação pública semanal, num grande jornal
diário desportivo, dos jogos de futebol da “Liga
Inatel” e da parceria com um grande clube desportivo nacional, no Parque de Jogos 1º de Maio.
Outras medidas do mesmo tipo foram adoptadas, explorando-se a presença da Fundação em
eventos que se justificaram, pela repercussão
pública, encetando-se ainda as Conferências
“Novas Respostas a Novos Desafios”, com regularidade quinzenal e a presença de personalidades nacionais de reconhecido mérito público
nelas, como oradores.
No domínio das relações com os trabalhadores
está em curso a reestruturação da chamada divisão
A
de pessoal, por forma a salvaguardar o controle
temporal efectivo dos contratos de natureza precária, preparando-se um novo regimento das relações
de trabalho, facto que foi precedido da integração
recente no quadro de 88 trabalhadores contratados
a termo ou em prestação de serviços. Tanto quanto
possível tem-se atendido à mobilidade interna, a
pedido dos próprios, sempre que essa pretensão
corresponde também aos interesses da Fundação.
or fim, e sem que o elenco descrito esgote as medidas assumidas no quadro
acima referido, prepararam-se medidas
de contenção de despesas e de reforço de
receitas, ponderando-se uma gestão futura por
objectivos, quer nas unidades de férias quer nas
agências. Estão em preparação a alteração dos
mecanismos de subsidiação aos CCD´s, bem como
o aprofundamento das relações da Fundação com
estes beneficiários colectivos, sobretudo no domínio da cultura tradicional portuguesa e o reforço
das relações de parceria internacionais, tendo sido
também já aprovado o estatuto do beneficiário.
A Administração espera num prazo tão breve
quanto possível aprovar o “cartão Inatel”, com a
inclusão de novas regalias para os beneficiários
individuais e para os trabalhadores da Fundação.
Como inicialmente se referiu toda esta acção
foi levada a efeito com a preparação da extinção
do ex-Inatel IP, a elaboração do plano de actividades e orçamento para 2009 e agora também do
relatório e contas de 2008.
Temos plena consciência da crise e da
situação envolvente, a exigirem medidas que
reforcem as receitas próprias e façam diminuir as
despesas, - repete-se – a serem prosseguidas sem
afectação da qualidade dos serviços que prestamos e até com o seu reforço.
O objectivo é o de trabalharmos para que a
nossa Fundação seja cada vez uma instituição
prestigiada e determinante na economia social,
em que se insere.
Com o contributo de todos, vamos conseguir. !
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Cartas
A correspondência
para estas secções
deve ser enviada
para a Redacção de
“Tempo Livre”,
Calçada de Sant’Ana,
nº. 180, 1169-062
Lisboa, ou por e-mail:
[email protected]
Yoga no Porto
O meu marido é sócio há muitos anos e eu, na
qualidade de cônjuge, frequento, há cinco anos,
as escolas de lazer na Inatel Porto.
Dá-me muito gosto frequentar as aulas nas
diversas modalidades que existem, especialmente o yoga. Como todos sabemos, é muito
benéfico manter-nos activos, quer fisicamente
como psiquicamente e dada a crise que atravessamos, não é fácil frequentar outros ginásios,
por as mensalidades serem muito altas.
M. Paula, Porto (recebido por e-mail)
Vagas
Nunca beneficiei dos vossos serviços mas cada
vez que contacto os centros de férias para usufruir de uma estada ao fim-de-semana ou alguns
dias durante o verão a resposta é sempre a
mesma “não há vagas”. Quem trabalha e só tem
os sábados e domingos livres para passear, só
consegue usufruir de estadias se fizer reservas
com vários dias de antecedência. Não será possível melhorar o sistema?
José Augusto (recebido por e-mail)
50 anos na INATEL
Completaram, este mês, 50 anos de ligação à
Fundação Inatel os membros associados: José
Luz Mariano, Aljustrel; Alfredo Januário Gromicho, Amadora; Artur Vieira Miranda, Coimbra; António José Correia, Évora; Joaquim
Nazaré Monteiro, Leiria; Vitor Quintão e Mª de
Lourdes Levy Ribeiro, Lisboa; António Francisco
Trindade, Santarém; José Carlos Carreira, Torres
Novas.
Coluna do Provedor
ATRAVÉS DO DIÁLOGO aberto e fraterno que temos
Kalidás
Barreto
[email protected]
Igualmente são várias as sugestões para que se
ocupações relevantes que se repetem, quer às relati-
crie um espaço residencial em Lisboa, bem como
vas a alterações regulamentares nos diversos progra-
nas sedes de distrito, por construção, aquisição ou
mas sociais, quer as que se referem a melhoramentos.
protocolo, lacuna que continua a ser sentida pelos
Todas têm sido objecto de atenção e transmitidas
associados. Pelo que diz respeito a Lisboa lembram
à Administração da Fundação para ponderação e
a necessidade de reconstrução do degradado edifício
oportuna decisão.
da Av. Infante Santo.
A remodelação dos Parques de Campismo, aliás
Os associados continuam a exigir maior investi-
urgentissima, são objecto de frequentes sugestões,
mento nos alojamentos degradados de alguns
tal como as instalações do histórico 1º de Maio; tam-
Centros de Férias.
bém o Teatro da Trindade é objecto de recomendações e melhorias.
com as autarquias, que se mostrem interessadas em
criação de condições apropriadas para deficientes
estabelecer condições para o exercício de actividades
motores não só nos Centros de Férias, mas também
turísticas e desportivas susceptíveis de constituírem
na Sede da Fundação.
veículos de atracção e pólos de desenvolvimento,
Sem ter de cuidar aqui das causas, mas sim dos
servindo também o imperativo nacional de contri-
efeitos, não errarei que todos temos deficientes
buir para contrariar a tendência de desertificação do
motores, entre familiares, vizinhos, amigos ou sim-
interior. Nesse âmbito lembram a INATEL, dentro do
ples conhecidos. E eis que surge o drama da loco-
equilíbrio financeiro necessário deveria criar novos
moção; e eis que surge o drama das barreiras arqui-
Centros de Férias ou Parques de Campismo, aumen-
tectónicas, testemunho claro de uma sociedade indi-
tando a sua oferta de acolhimento.
Regozija saber que os associados confiam que tal
preocupação faz parte da Administração que sente a
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Finalmente, no sentido de incrementar o desenvolvimento regional, sugerem acordos ou protocolos
Outras sugestões importantes referem-se à
ferente e egoísta.
6
urgência de quebrar essas barreiras.
mantido com os nossos associados chegam-nos pre-
Esta participação e interesse dos associados são a
melhor demonstração de como é diferente a
Fundação INATEL. !
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XIII Concurso “Tempo Livre”
Fotos premiadas
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[2]
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Regulamento
1. Concurso Nacional de Fotografia da
revista Tempo Livre. Periodicidade
mensal. Podem participar todos os
membros associados da Fundação
Inatel, excluindo os seus funcionários
e os elementos da redacção e
colaboradores da revista Tempo Livre.
2. Enviar as fotos para: Revista Tempo
Livre - Concurso de Fotografia, Calçada
de Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa.
3. A data limite para a recepção dos
trabalhos é o dia 10 de cada mês.
4. O tema é livre e cada concorrente
pode enviar, mensalmente, um
máximo de 3 fotografias de formato
mínimo de 10x15 cm e máximo de
18x24 cm., em papel, cor ou preto e
branco, sem qualquer suporte.
Menções honrosas
[ a ] Fernando Pereira, Ermesinde
Sócio n.º 426645
[ b ] Maria António, Porto
Sócio n.º 457699
[ c ] Regina Costa, Fundão
Sócio n.º 318102
[a]
5. Não são aceites diapositivos e as
fotos concorrentes não serão
devolvidas.
6. O concurso é limitado aos
membros associados da Inatel. Todas
as fotos devem ser assinaladas no
verso com o nome do autor, direcção,
telefone e número de associado da
Inatel.
7. A Tempo Livre publicará, em cada
mês, as seis melhores fotos (três
premiadas e três menções honrosas),
seleccionadas entre as enviadas no
prazo previsto.
[b]
8. Não serão seleccionadas, no
mesmo ano, as fotos de um
concorrente premiado nesse ano
[3]
9. Prémios: cada uma das três fotos
seleccionadas terá como prémio duas
noites ou um fim de semana para
duas pessoas num dos Centros de
Férias do Inatel, durante a época baixa,
em regime APA (alojamento e
pequeno almoço). O prémio tem a
validade de um ano. O premiado(a)
deve contactar a redacção da «TL».
[c]
[ 1 ] Mizael Fonseca,
Porto
Sócio n.º 82698
[ 2 ] Ana Fialho,
Malveira
Sócio n.º 122630
[ 3 ] Óscar Saraiva,
S. Mamede Infesta
Sócio n.º 31309
10. Grande Prémio Anual: uma
viagem a escolher na Brochura Inatel
Turismo Social até ao montante de
1750 Euros. A este prémio, a publicar
na revista Tempo Livre de Setembro de
2009, concorrem todas as fotos
premiadas e publicadas nos meses
em que decorre o concurso.
11. O júri será composto por dois
responsáveis da revista T. Livre e por
um fotógrafo de reconhecido prestígio.
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Notícias
Protocolos INATEL
Vítor Ramalho, José Moreira Marques e Maria João Caxias na assinatura do protocolo INATEL/Misericórdia de Lisboa.
À direita, Carlos Mamede, Vítor Ramalho e Luis dos Santos Jorge
! Reforçar
os laços existentes entre a
INATEL e a Misericórdia de Lisboa é
o objectivo do protocolo estabelecido
entre a Fundação e a Casa do Pessoal
daquela importante instituição
nacional. O acordo possibilita aos
trabalhadores e associados da Santa
Casa o acesso aos Centros de Férias
durante a época média e baixa, a
participação em viagens e excursões e
o acesso às actividades culturais e
desportivas da INATEL, incluindo os
eventos do Teatro da Trindade.
Na ocasião, Vítor Ramalho
lembrou os laços estreitos que a
instituição a que preside mantém
com a Santa Casa da Misericórdia,
membro do Conselho Geral da Inatel
e sublinhou ser “um enorme orgulho
ter os trabalhadores de uma
instituição centenária com um papel
significativo na sociedade portuguesa
ligados à nossa Fundação”.
Ainda em Abril, foi celebrado um
protocolo com o Conselho das
Comunidades Portuguesas que prevê
a admissão, como sócios da
Fundação, os cidadãos portugueses
residentes no estrangeiro e o seu
movimento associativo.
“Este acto – assinalou o presidente
da Inatel - pretende não só estreitar
relações com as comunidades do
nosso país residentes no estrangeiro,
como é uma forma de agradecer o
contributo que essas comunidades
têm dado ao pais”. Vítor Ramalho
recordou, a propósito, o programa
“Portugal no Coração” que, em
Outubro do ano transacto, trouxe ao
nosso país cidadãos seniores
residentes em vários pontos do
mundo, que há mais de dez anos, por
razões económicas, não puderam
visitar o país.
Voz e Piano no Trindade
Noite memorável no Trindade no
concerto de Carlos Mendes e Filipe
Raposo (piano) longamente aplaudidos
por uma sala repleta e comovida pela
evocação dos belos poemas de grandes
poetas portugueses, como Manuel da
Fonseca, Torga, Pessoa, Boto, Manuel
Alegre, Papiano Carlos, Joaquim Pessoa
e Carlos de Oliveira.
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“De Malangatana a Pedro Cabrita Reis”
! No Centro Cultural e de Congressos
das Caldas da Rainha está patente,
até 18 de Junho, a primeira exposição
do projecto itinerante “De
Malangatana a Pedro Cabrita Reis –
Colecção Caixa Geral de Depósitos”,
comissariado por Jürgen Bock e que
apresenta, pela primeira vez, a
colecção da CGD fora dos grandes
centros urbanos.
A escolha das obras para este
projecto foi feita em simultâneo com
a selecção dos espaços de exibição,
reunindo um determinado conjunto
de obras capazes de dialogar entre si
e com o espaço expositivo. Foram
visitados 41 locais em todo país para
! Tendo
descobrirem quais os mais
adequados para estas exposições.
Esta exposição pode ser visitada de
2ª a 6ª feira, das 12h00 às 18h00 e
aos fins-de-semana das 10h00 às
14h00 e das 18h00 às 20h00 (durante
o período dos espectáculos no grande
auditório).
“Marginal” de Paulo Ossião na Galeria do Casino
! Uma
exposição de pintura de Paulo
Ossião, considerado um dos mais
importantes aguarelistas portugueses
contemporâneos vai estar patente até
18 de Maio na Galeria de Arte do
Casino do Estoril.
Na presente exposição, a que deu
o título, “A Marginal”, como
homenagem à terra onde sempre
viveu e se iniciou na pintura, Paulo
Ossião apresenta duas dezenas e
meia de trabalhos, que considera
memórias de infância, na sua maioria
sobre as zonas ribeirinhas do Tejo,
desde Alcântara até Cascais.
Booksmile, livros que saltam à vista
! Booksmile, a primeira editora
portuguesa vocacionada para o livro
ilustrado de grande público,
recentemente inaugurada em Lisboa,
apresentou-se no mercado
com o seu bestseller
“Galope!” - um livro para
todas as idades ilustrado
segundo um método
inovador e onde, através
de uma mistura de
tecnologia e encantamento
Fundação INATEL
integra 88 trabalhadores
nos seus quadros
os animais adquirem vida no papel,
tal como acontece com os desenhos
animados no ecrã.
Sob o lema “livros que saltam à
vista” a editora fundada por
Manuel Freitas, promete até
finais do ano editar 27 títulos,
nos quais se inclui a colecção
infantil Princesa Poppy, e os
incríveis álbuns Toots, livros
circulares com capas tácteis,
que irão fascinar.
em atenção a
responsabilidade que uma
entidade como a Fundação Inatel
prossegue no domínio da
economia social, o Conselho de
Administração deliberou integrar
nos seus quadros oitenta e oito
trabalhadores que se
encontravam em situação
precária, por estarem contratados
a termo ou em regime de
prestação de serviços.
À deliberação não foi alheia a
situação de crise existente, a
natureza da Fundação e os
benefícios recentemente
concedidos no domínio da
Segurança Social às entidades
empregadoras que assim
procedessem
Futebol e Atletismo
no Parque 1º de Maio:
Nelson Évora e Obikwelu
regressam à competição
! O Parque de Jogos 1º de Maio
vai ser palco, a 9 de Maio, de um
importante torneio ibérico de
Atletismo, com a participação do
Sporting, Benfica e do campeão
espanhol da modalidade, Playas
de Castellón. O meeting, de
entrada livre, registará a presença
de nomes sonantes do atletismo,
como os portugueses Obikwelu,
Nelson Évora, Rui Silva e o
espanhol Frank Casãnas.
De 27 a 30 de Maio, estádio da
Fundação Inatel recebe o XV
Torneio Internacional “Cidade de
Lisboa” , Futebol – Sub/18, com a
participação das selecções de
Finlândia, Alemanha, Estados
Unidos e Portugal.
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Notícias
Conferências INATEL
“A Europa precisa de um líder com visão estratégica”
– defendeu Ana Gomes em Vila Real
! Os contextos políticos
internacionais que estiveram na
origem da actual crise económica
constituíram o tema central da
intervenção de Ana Gomes na
conferência da série «Novas Respostas
a Novos Desafios», iniciativa conjunta
da Fundação INATEL e da Fundação
Mário Soares.
Na conferência, que teve lugar em
Vila Real, subordinada ao tema
«Novas respostas internacionais», a
deputada europeia assentou em três
pontos a sua intervenção: um
retrato/diagnóstico da crise; uma
interpretação das causas; um
conjunto de propostas políticas para
alicerçar uma nova ordem económica
e política internacional.
Salientando algumas das
consequências mais negativas do
pensamento neo-liberal –
“economicismo, consumismo
desenfreado, agravamento das
desigualdades e da criminalidade de
colarinho branco” –, Ana Gomes
deixou uma crítica global a um
modelo de produção que conduz “ao
esgotamento dos recursos naturais” e
advogou a criação de um “novo
modelo de crescimento económico
que seja sustentável”. Quanto às
responsabilidades pela actual
situação, a deputada sublinhou que
elas não se circunscrevem “a Reagan,
Tatcher ou às políticas monetaristas”.
Se o descalabro do sistema financeiro
começou nos EUA, “nós também
fomos atrás, até os socialistas foram
contaminados. Todos os bancos
europeus foram atrás desses produtos
tóxicos, que são falcatruas”. É neste
contexto que propõe uma regulação
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TempoLivre
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eficaz do sistema financeiro
internacional e a reforma do Banco
Mundial e do FMI.
A crítica contundente à fraqueza
e falta de liderança e estratégia da
União Europeia, evidenciada na
reunião do G20 (“estavam lá várias
Europas”) ficou patente na expressão:
“Sabem quem é o verdadeiro líder na
Europa? É Obama, e são as suas
ideias que têm inspirado os políticos
europeus”. A Europa deveria afirmar,
defendeu ainda, uma posição
própria nas questões relacionadas
com a segurança, com o Iraque e
com o Afeganistão, e na
reestruturação da ONU.
O regresso da ética à política e,
sobretudo, o “regresso do político”,
deve estar na base da construção de
“um novo paradigma”. Um novo
paradigma que tome como
prioridades a construção de uma
economia sustentável (“baseada nas
energias renováveis”), a consumação
de “uma política social europeia, a
luta contra a corrupção, o diálogo
social e uma política de direitos
humanos mais eficaz”.
Às críticas da audiência por ter
centrado a sua intervenção na
Europa, Ana Gomes justificou-se:
“Precisamos de uma União Europeia
como actor global. Percebemos a
atracção que este modelo, que
conseguiu a paz desde a II Guerra,
exerce sobre os outros povos”. E
pensando, provavelmente, nos
combates políticos que se avizinham,
acrescentou: “Mas precisamos de uma
liderança, de um líder com visão
estratégica”. H.L.
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Gala do Fado no Estoril
! O Casino Estoril vai acolher, no
próximo dia 21 de Maio, no
Salão Preto e Prata, a oitava
edição da “Grande Gala do Fado Carlos Zel”, com a participação
de Ana Moura, Argentina Santos,
Camané, Carlos do Carmo, D.
Vicente da Câmara e Maria da
Fé. Os seis fadistas serão
acompanhados por Mário
Pacheco e Paulo Parreira, na
guitarra, Carlos Garcia, na viola e
Joel Pina, na viola-baixo.
Festival Islâmico
em Mértola
! De 21 a 24 de Maio, Mértola
vai ser o espaço privilegiado de
nova edição do Festival Islâmico,
um encontro invulgar de pessoas
e culturas com concertos
nocturnos de música de
inspiração árabe e mediterrânica
e quatro dias de mercado - o
“souk” de cabedais, djellabas,
incensos, sândalo, chá de menta,
tecidos, tapetes e especiarias e o
inevitável ritual árabe de
regatear um bom preço e pontos
de animação espontânea: um
grupo de djambés, uma
dançarina, um pintor, um poeta
ou um cantor.
Fundação INATEL
na Feira do Livro de Lisboa
!A
Inatel marca presença na Feira
do Livro de Lisboa, a decorrer até
17 do corrente, no Parque Eduardo
VII, com as suas edições a preços
mais acessíveis. Serão livros do dia,
sucessivamente: “Aldeias
Históricas”, “Bandeiras
Portuguesa de Domínio”, “Inatel
Porto Santo / INATEL Palace”, “O
Jogo e o Trabalho”, “Manual
Higiene Segurança Alimentar”,
“Colégio Meninos Órfãos
Mouraria”, “A Arte da Xávega”
(vols. I e II), Vários livros da
Colecção Teatro, “Agrupamentos
de Folclore”, “Heráldica
Corporativa”, “O Desporto e o
Lazer” (vol. I e II), “100 Anos da
Linha do Tua”, “O Trajo Regional
em Portugal / Como Trajava O Povo
Português”, “Estado Novo e Alegria
no Trabalho”, “Novos Tempos de
Lazer Português”, “Parque de Jogos
1º de Maio” e, finalmente, no dia
17, “Novos Textos - Peças de
Teatro”.
Recorde-se que este evento,
fundamental no domínio da
promoção do livro e do fomento dos
hábitos de leitura, surge, este ano,
num espaço completamente
renovado, com novos pavilhões e
áreas de apoio ao visitante e à
comunicação social.
Actualização de registos dos Associados
@
A fim de facilitar o contacto com os seus membros
associados, a Fundação INATEL apela para a necessidade
de actualizar os seus registos junto desta instituição, e solicita a
todos o envio de um endereço electrónico para [email protected],
indicando o nome completo e número de associado.
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Notícias
“Novas Respostas da Educação”
Competência, disciplina e boa gestão
– propõe Jacinta Moreira
! A defesa de uma escola pública que
respeite o princípio da inclusão, sem
descriminações, mas que não descure
os alunos de elevado potencial, foi
um dos pontos salientes da
intervenção da professora Jacinta
Moreira na sua intervenção em Braga,
no Auditório do Instituto Português
da Juventude, subordinada ao tema
“Novas Respostas da Educação”.
Na sua palestra, integrada no ciclo
de conferências “Novas Respostas a
Novos Desafios” que a Fundação
Inatel, em parceria com a Fundação
Mário Soares, promove ao longo deste
ano em todas as capitais de distrito e
nas Regiões Autónomas, Jacinta
Moreira, professora do ano, em 2008,
sublinhou necessidade, para um
melhor ensino, de professores
altamente competentes a nível
científico e pedagógico e com uma
séria formação contínua, mas
integrados numa escola onde
prevaleça a disciplina, uma gestão
rigorosa e pais e encarregados de
educação responsáveis e exigentes
relativamente ao trabalho dos alunos.
“Os alunos responsáveis e de
elevado potencial são geralmente
penalizados pela indisciplina nas
aulas e o Estado deve cumprir a sua
função de autoridade”, acentuou a a
professora da Escola Carolina
Michaelis (Porto), licenciada em
Geologia e doutorada em Ciências da
Educação, ao lembrar, igualmente, o
exemplo inglês na responsabilização
tanto dos pais como dos professores.
“Não há respostas simples, únicas ou
expeditas”, vincou, ainda, Jacinta
Moreira no decorrer da conferência
que terminou num vivo debate, com
a participação de professores e
encarregados de educação presentes
no auditório.
Falta de coragem na actual gestão
das escolas, dúvidas sobre as novas
leis de gestão e do estatuto do aluno,
risco de o ensino actual estar a
reproduzir as classes sociais ao
privilegiar as turmas de nível e a
integração da etnia cigana, foram
alguns dos pontos em foco no debate.
“Um Mundo
em Mudança”
!O
Jardim de Inverno do Teatro
S. Luíz esteve repleto no
lançamento do livro de Mário
Soares, “O Mundo em
Mudança”, que reúne as mais
recentes reflexões do antigo
Presidente da República sobre a
crise global que da “América do
Norte, seu epicentro”, passou
com maior ou menor
intensidade, ao resto do Mundo
e que está longe do fim. Com a
vitória de Obama uma nova era
de mudança está a começar,
sublinha Mário Soares na
introdução da obra,
manifestando a esperança de que
o sucessor de Bush na Casa
Branca consiga corresponder às
“pesadíssimas” expectativas que
despertou.
Net para Todos na Covilhã
!A
Agência INATEL da Covilhã
disponibiliza, a partir do corrente mês,
um novo espaço dedicado à Net para
Todos para utilizadores interessados
em conhecer ou aperfeiçoar
conhecimentos no mundo da Web e
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| MAIO 2009
que irá incluir acções de formação,
com duração de 10 horas, e um
período de acesso livre à internet.
O Novo espaço dispõe de quatro
postos de acesso à internet, um
deles adaptado para cidadãos
portadores de deficiência.
As acções de formação decorrem
de segunda a sexta-feira, entre as
11h00 e as 13h00, e o acesso livre, nos
mesmos dias, entre as 14h00 e as
17h00.
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Terra Nossa
Beja
Coração branco
Ainda ao longe, de onde quer que a estrada nos
traga, a primeira coisa a ganhar forma é a Torre de
Menagem. Altiva e vertical, de imediato se torna
um elemento que os olhos não querem abandonar.
E com razão. É a mais alta torre castelã de quantas
existem em Portugal.
Torre de Menagem.
Em baixo, Casa das
Artes de Jorge Vieira
e vista da Praça da
República
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Terra Nossa
BENEFICIADA por se encontrar no cimo de
uma suave colina, a Torre de Menagem do castelo de Beja é uma estrutura que domina a malha
urbana. Já o castelo é pequeno e mais pequeno se
torna devido aos seus volumosos e esguios
quarenta metros de altura, divididos por três
salas abobadadas. E se a torre se dá a ver ao longe,
também permite ver o longe e o cimo do eirado é
o grande miradouro sobre a cidade, e mais longe
ainda, avançando o olhar livre sobre a peneplanície em redor. Obra atribuída a Dom Diniz,
rei que para além de fazer versos construiu e
ampliou fortalezas pelo país fora. Antes dele
outro rei poeta ligou-se a Beja, embora de outra
forma. Al-Mutamid nasceu na cidade em 1040,
foi rei da taifa (pequeno reino muçulmano) de
Sevilha e um dos poetas mais relevantes do AlAndaluz.
Visitar Beja é poder usufruir de toda a cidade
num só dia. Aqui a escala urbana facilita a mobilidade ao visitante. Por exemplo em menos de
três minutos faço o caminho da Torre de
Menagem até à igreja de Santo Amaro, agora
Núcleo Visigótico do Museu Regional de Beja. O
edifício como hoje se nos apresenta é maioritariamente do final do século XV e início do XVI,
mas as raízes recuam até às primeiras comunidades cristãs e assim as colunas do interior surgem
rematadas por capitéis da época visigótica. É,
sem dúvida, o espaço adequado para expor a
colecção de peças recolhidas ao longo dos anos
na região e alusivas ao período visigótico, lápides, fustes, colunas, pilastras, aras, frontões e frisos. É um conjunto interessante, representando
uma arte antiga e despretensiosa, onde a fé
suplanta a perfeição ou o requinte. Uma arte
onde a simplicidade é mais uma opção estética
do que uma limitação dos artífices.
Em busca de Mariana
Já toda a gente ouviu falar de Mariana
Alcoforado. O que nem toda a gente acredita é
que ela seja a autora das célebres “Lettres
Portugaises”. Nascida em Beja, em 1640, filha de
uma rica família da terra, Mariana entrou para o
convento da Conceição ainda menina. Anos mais
tarde começou a receber visitas, conhecendo
assim Noel Bouton, futuro marquês de Chamilly,
então a combater em Portugal, durante a Guerra
da Restauração. Supostamente Mariana escreveu
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Ovibeja
A Ovibeja é a maior feira agrícola que se
nomeadamente concursos e
realiza em Portugal. Também é
espectáculos. Tony Carreira, José Cid,
considerada a maior feira de actividades
Rita Red Shoes e X-Wife são alguns dos
económicas do Sul do país. Organizada
artistas que actuarão durante o
pela Associação de Criadores de Ovinos
certame.
do Sul, – ACOS – irá decorrer, este ano,
Com uma média anual de 300 mil
de 29 de Abril a 3 de Maio. Esta 26ª
visitantes e cerca de um milhar de
edição tem como tema central a cultura
expositores, a Ovibeja é, hoje, mais do que
do olival e a produção de azeite. Esta é
uma feira, um evento económico, cultural
apenas uma parcela do programa, que
e social com eco em todo o Alentejo e,
contará, como vem sendo hábito, com
simultaneamente, é também um factor de
um conjunto alargado de actividades,
afirmação da cidade de Beja.
cinco arrebatadas cartas ao oficial, que foram
publicadas em França em 1669, obtendo logo
grande êxito, sendo desde então motivo para os
mais desencontrados comentários.
Vou atravessar meia cidade, um curto passeio
como constato, até ao convento da Conceição, na
verdade o que dele resta, para visitar o espaço
onde Mariana viveu, mas também o Museu
Regional de Beja, (também conhecido por Museu
Rainha Dona Leonor) pois aí se encontra instalado desde 1927. Mas vamos por partes.
Conta o museu com um espólio considerável, abrangendo a arqueologia,
azulejaria, ourivesaria, metrologia,
escultura, pintura, ferragens e cerâmica decorativa. Conjunto vasto, sem
dúvida, mas onde merece destaque a
pintura, pela diversidade e valor das
obras. Destas, a carnalíssima figura da
“Virgem do Leite”, pintura flamenga
do século XVI, o elaborado “São Vicente”, dos
Mestres do Sardoal, a trágica “Descida da Cruz”,
de António Nogueira, pintura portuguesa do
século XVI, e o impressivo “São Jerónimo”, de
José Ribera, pintura espanhola do século XVII
sobressaem, mas esta é uma escolha pessoal, logo
subjectiva.
A azulejaria é outra riqueza do museu.
Azulejos portugueses dos séculos XVII e XVIII,
mas também manufacturados em Espanha, em
Valência e principalmente em Sevilha, os deno-
Pormenor do ‘stand’ da Fundação Inatel,
na edição do ano passado
minados hispano-árabes, com o seu característico geometrismo e uma riqueza cromática onde se
combinam e brilham os tons azuis, verdes e
cobres.
O museu conta com um novo espaço desde
Maio de 2007. É o Núcleo da Rua do Sembrano,
um lugar que mergulha nas raízes de Beja e que
concentra um conjunto de “momentos decisivos
da História da cidade”, um lugar onde se justapõem várias épocas, a começar pela Idade do
Ferro, passando pela Época Romana,
continuando pela Idade Média,
avançando até aos séculos XVII e
XVIII. O Núcleo surgiu no seguimento
de escavações arqueológicas, depois
musealizadas e integradas num edifício de feição contemporânea, onde
sobressai um painel de azulejos da
autoria do artista plástico Rogério
Ribeiro, alusivo ao tema da água, motivo muito apropriado pois no período romano o
local albergou umas termas romanas.
Em redor encontram-se outros edifícios
emblemáticos. Posso começar por referir a grande sala de espectáculos da cidade, o teatro municipal Pax Julia inaugurado em 1928 e, após obras
de grande fôlego, reinaugurado em 2005. Por
perto encontra-se a medieval igreja de Santa
Maria, que antes havia sido mesquita, com quatro elegantes torres cilíndricas plasmadas na
fachada, que lhe conferem um aspecto singular.
Página anterior:
Igreja de Santa Maria,
café Luiz da Rocha e
fachada do cine-teatro
Pax-Julia. Nesta
página, pormenor do
Pelourinho
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Terra Nossa
GUIA
Núcleo da Rua do Sembrano,
COMER
Rua do Sembrano
"
Príncipe, Maltesinhas, Pasteis
Largo de São João, Tel: 284
de Santa Clara, Pão de Rala e
326 308
Toucinho do Céu. Estas (e
ÚTEIS
DORMIR
Posto de Turismo
"
Rua Capitão João Francisco de
Largo d. Nuno Álvares Pereira,
Dinis, 11, Tel: 284 325 937
Sousa; Tel: 284 311 913
Tel: 284 313 580
"
"
"
Castelo / Torre de Menagem,
Rua de Dom Diniz
"
Pousada de São Francisco,
Beja Parque Hotel, Rua 1º
"
Dom Dinis, Rua de Dom
Os Infantes, Rua dos
Infantes, 14, Tel: 284 322 789
Museu Regional de Beja,
outras) especialidades podem
ser adquiridas em diversos
estabelecimentos da cidade,
embora se destaquem pela
antiguidade e excelência dos
de Maio, 1, Tel: 284 310 500
VISITAR
DOÇARIA
produtos duas casas, que são:
Av. Fialho de Almeida, Tel: 284
Beja é uma das cidades
"
313 080
portuguesas mais ricas no
dos Açoutados, 12, Tel: 284
"
Hotel Residencial Melius,
Chá das Maltesinhas, Rua
Largo da Conceição, Tel: 284
"
capítulo da doçaria. A maioria
321 500
323 351
Fernando Lopes Graça, Tel: 284
das especialidades foi
"
315 500
desenvolvida em antigos
Rua Capitão João Francisco de
espaços conventuais. A título de
Sousa, 63, Tel: 284 323 179
"
Núcleo Visigótico, Largo de
Hotel Francis, Praça
Santo Amaro
Igreja de Santo
Amaro: núcleo
Visigótico do Museu
Regional de Beja
Onde também houve obras recentes foi na
Praça da República, ampla e geométrica, um
espaço que é uma verdadeira sala a céu aberto. A
sala da cidade. Porém nem todos gostaram das
obras. A junção de mobiliário urbano de linhas
contemporâneas à arquitectura do tempo de Dom
Manuel I foi sacrilégio, na opinião de alguns.
Exagero, digo eu. Um alentejano de gema, – ou
assim parece – homem entroncado, bigode grisalho e pele torrada por muito estio, aproveita o
facto de me ver a tirar apontamentos para emitir
a sua opinião. Decerto que eu tomaria nota do
seu desagrado pelas modificações.
Cidade Branca
Beja é, decididamente, uma cidade branca. O
branco, tradicionalmente da cal, a que se junta
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exemplo podemos citar o Bolo
Restaurante Alcoforado,
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Pastelaria Luíz da Rocha,
o azul e o ocre debruando peitoris e umbrais. É
na cidade dentro de muralhas que continuo,
espaço ocupado por bairros antigos, como a
mouraria e a judiaria, nomes que preservam
uma ideia de passado, dos seus habitantes originais que com a chegada da Inquisição, partiram uns, adaptaram-se às novas regras outros e,
passadas gerações, são parte desse caldo que
deu origem ao português moderno. Apesar do
crescimento da cidade, – um crescimento contido, que livrou Beja de grandes desmandos
construtivos – certamente que é neste espaço
delimitado pelas muralhas que se encontra a
alma de Beja, o ponto de onde irradia a sua personalidade.
E há qualquer coisa na cidade que a tornam
calorosa e hospitaleira. Nada de muito preciso ou
consistente. Talvez a disponibilidade das pessoas
para a conversa, talvez a cortesia genuína e simples. Talvez o azul límpido do céu e o calor estival, que a sombra das paredes brancas atenua.
Depois Beja não é apenas passado, não é apenas
os seus monumentos dentro de muralhas, há
equipamentos novos, uns mais recentes que
outros. A biblioteca municipal, que tem como
patrono José Saramago, o museu (Casa das Artes)
Jorge Vieira, a galeria dos Escudeiros e o Parque
da Cidade, estão aí, a contrariar a interioridade, a
torná-la agradável não apenas a quem a visita,
mas, também, a torná-la apetecível a quem a
habita o ano inteiro. !
José Luís Jorge (texto e fotos)
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Entrevista
Maria Celeste
Hagatong
Banqueira
igada há mais de duas décadas ao BPI, de que é
actualmente membro do Conselho de Administração,
Maria Celeste Hagatong (1952) é uma das raras
excepções de uma mulher no topo de uma instituição
bancária. Mas a actividade da única banqueira portuguesa
ultrapassa largamente a área financeira. Conselho da
Europa, Assembleia da República (Direcção dos Serviços
Financeiros), Ministérios das Finanças e Administração
Interna, recuperação e direcção da Cruz Vermelha, docente
no ISCTE (Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da
Empresa), Simplex, Fundação Jorge Álvares (Macau) foram,
ou são, experiências múltiplas de uma experiente e
dinâmica gestora que acredita numa saída para a actual
crise ao lembrar a grave situação no final dos anos 70, com o
retorno de 700 mil portuguesas das ex-colónias. “Vivemos sublinha - uma situação cambial praticamente em ruptura
com défices públicos elevadíssimos e um sistema
empresarial completamente desmembrado e envelhecido e
conseguimos dar a volta com sucesso.”
L
“Já enfrentámos momentos
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muito mais complicados...”
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Entrevista
Tempo Livre – Num inquérito feito por uma
revista espanhola a uma dezena de homens com
larga experiência no relacionamento com mulheres (cirurgiões, cineasta, escritores, actores,
psiquiatras, ginecologistas, sexólogos e advogados de família) conclui-se que elas são “generosas, mas pouco solidárias. Realistas. Tenazes. Inseguras. Possessivas. Orgulhosas do seu
êxito profissional. Desorientadas. Intuitivas. E
muito mais fortes que os homens”. Concorda?
Maria Celeste Hagatong – Há aí uma série de contradições. Se assim fosse, eram péssimas… com
todos esses defeitos e qualidades. (risos)
TL – Não concorda nada, portanto, com estas
conclusões…
MCH – Não.
TL – Mas há inquéritos sociológicos que afirmam serem as mulheres mais realistas e mais
organizadas na gestão…
MCH- São talvez mais práticas.
TL – Mas, ao contrário do que
O que tivemos
ocorre noutras áreas de activicapacidade para
dade, a presença de mulheres na
ultrapassar nos finais
administração dos Bancos em
da década de 70 e
Portugal é um fenómeno muito
início da de 80 foi
raro...
uma situação muito
MCH – É verdade…na Banca e
mais difícil do que a
noutros sectores de actividade.
que enfrentam
TL – Há, no entanto, importantes
os actualmente…
sectores, como a magistratura, o
ensino e a saúde, onde as mulheres têm um peso importante
na liderança.
MCH – Mas nas estruturas da alta direcção das
empresas as mulheres começam, cada vez mais,
a ter maior participação.
TL – Com o que se está a passar na Banca, talvez
desse jeito mais mulheres na sua gestão..
MCH – No Banco BPI, não obstante ser a única
mulher que integra a comissão executiva do conselho de administração, um número crescente de
cargos importantes de direcção, logo abaixo da
Comissão Executiva, estão confiados a mulheres.
Aliás, no Banco BPI, cerca de 50% dos efectivos
são mulheres.
TL – Isso acontece noutros bancos?
MCH – Não tenho informação para lhe responder, mas no BPI há uma nova vaga de quadros
qualificados, entre os 35 e os 45 anos que têm
ascendido à estrutura de topo, onde está já reflec-
“
”
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tida uma participação crescente de mulheres, o
que resulta da selecção ser sempre feita por mérito.
TL - Tem uma experiência de mais de duas
décadas de actividade na Banca…
MCH – Estou, desde 1985, na banca privada.
Formei-me em Julho de 1974, comecei a trabalhar
em Setembro desse ano, na administração pública e gostei muito desse trabalho. Participei na
primeira lei da reforma das finanças locais, a
seguir ao 25 de Abril. Em 1977 trabalhei no
Ministério das Finanças e na Direcção-Geral do
Tesouro, até entrar para o BPI. Foram boas experiências profissionais.
TL – Com toda essa experiência na área financeira, foi uma surpresa para si a actual crise
económico-financeira?
MCH – Para quem trabalha na banca não foi totalmente uma surpresa. Havia sinais e arautos de
que as coisas não estavam bem e que algo podia
ocorrer. O momento em que aconteceu é que foi
uma surpresa para quase todos.
TL – Concorda com a necessidade de uma profunda reforma do sistema financeiro internacional, defendida por grandes economistas
como o prémio Nobel, Joseph Stiglitz?
MCH – Acredito que haverá grandes mudanças,
aliás já estão a acontecer.
TL – Há muita responsabilidade da Banca nesta
crise…
MCH – Acho que temos que dividir responsabilidades, nomeadamente entre os vários países e
continentes. Portugal não está no mesmo plano
de outros países, mas a crise financeira é global e
por isso também nos afecta. No entanto, o sistema financeiro português mantém uma situação
sólida, bem cotada internacionalmente.
TL – As falências em Portugal aumentam em 80
por cento no período de um ano… Houve mais
131 mil inscritos no desemprego em Janeiro e
Fevereiro passados.
MCH – Mas é importante lembrar que as falências
em Portugal são processos demorados. A situação
no entanto é mais complicada porque temos uma
economia bastante aberta, vivemos muito do mercado de exportação e se os mercados para onde
exportamos estão em crise, não pode deixar de ter
reflexos negativos no nosso país. No BPI, tenho o
pelouro da Banca de Empresas e tenho visto também que há muitas empresas que trabalham para
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os mercados externo e interno em que as coisas
estão a correr bem, apesar da crise. Há um período negativo para a economia portuguesa que
começa em 2002. Estamos assim a viver o reflexo
dessa situação, agravada pela recente crise dos
mercados externos.
TL – Acredita numa saída para esta crise?
MCH – Sempre houve saídas. Já enfrentámos
momentos muito mais complicados. O que tivemos capacidade para ultrapassar nos finais da
década de 70 e início da de 80 foi uma situação
muito mais difícil do que a que enfrentamos
actualmente. É bom recordar que nessa altura
recebemos 700 mil portugueses sem empregos,
oriundos das ex-colónias, vivemos uma situação
cambial praticamente em ruptura com défices
públicos elevadíssimos e um sistema empresarial
completamente desmembrado e envelhecido e
conseguimos dar a volta com sucesso.
TL – Afirmou, recentemente, a Dr.ª Maria José
Morgado, Directora-Adjunta da PJ, que os offshore são fortalezas do crime organizado…
Concorda?
MCH – O que é necessário é regular e uniformizar o sistema em todo o mundo. E nisso convergem os principais dirigentes mundiais que já
anunciaram a vontade de acabar com esses paraísos fiscais. O sistema deve ser transparente, sem
situações de excepção.
TL - Esteve no Conselho da Europa, na
Assembleia da República (na Direcção dos Serviços Financeiros), nos Ministérios das Finanças e Administração Interna, foi membro da
direcção da Cruz Vermelha, foi professora no
ISCTE (Instituto Superior de Ciências do
Trabalho e da Empresa) é banqueira. Que actividade mais a entusiasmou?
MCH – Posso dizer que todas as experiências profissionais que tive foram muito gratificantes. Na
Cruz Vermelha a experiência, de que também
muito gostei, foi diferente, dado tratar-se de uma
ONG. O início do meu relacionamento com a
Cruz Vermelha teve a ver com uma prestação de
serviços do BPI para a recuperação da situação
financeira desta instituição que na altura se devia
especialmente à gestão deficitária do seu hospital. Só mais tarde é que integrei a direcção da
Cruz Vermelha presidia pela Drª Maria de Jesus
Barroso. Actualmente ainda integro a Conselho
de Administração da sociedade gestora do
Hospital da Cruz Vermelha.
TL – Está ligada às soluções financeiras do BPI
para apoio das Empresas portuguesas nas
exportações, com especial destaque para
Angola. Que potencialidades vê na relação com
Angola para a economia portuguesa?
MCH – O BPI tem uma participação de 50 por
cento no Banco de Fomento de Angola e o que
observamos é um número crescente de empresas
portuguesas a trabalhar em Angola ou com relacionamento com empresas angolanas. É um mercado muito afectivo para os portugueses. Acho
que nos entendemos muito bem e o nosso Banco,
com estas duas plataformas, tem um serviço
muito completo a dar às empresas portuguesas.
Praticamente todas as empresas nacionais que
estão em Angola trabalham com o BPI/BFA. E
temos aqui, em Lisboa, uma estrutura, o Gabinete
Angola, que articula a relação
entre os dois bancos e apoia as
empresas portuguesas no seu
Os principais
relacionamento com Angola.
dirigentes mundiais
TL – Esse crescimento reflecte-se
já anunciaram a
nas nossas exportações?
vontade de acabar com
MCH – Há um elevado cresciesses paraísos fiscais
mento. Angola foi o país de desti(off-shore). O sistema
no onde as exportações portuguedeve ser transparente,
sas mais cresceram nos últimos
sem situações de
anos. Angola é o nosso segundo
excepção
mercado de exportação mais importante fora da Europa, logo a
seguir aos Estados Unidos.
TL – Faz parte dos Interlocutores do SIMPLEX…
MCH – Pertenço apenas a um Conselho Consultivo.
TL – Acha que está a resultar todo esse processo
de simplificação da burocracia em Portugal?
MCH – Tem havido importantes melhorias na
simplificação da burocracia em Portugal que se
fazem sentir no nosso dia a dia. Por vezes esquecemo-nos que ainda há pouco tempo elas não
existiam. Só quem sabe como é difícil levar a
cabo este tipo de projectos, em especial na administração pública, pode dar valor aos resultados
já alcançados. Muitas das soluções já implementadas em Portugal são muito mais avançadas do
que as que ocorrem noutros países europeus e
disso foi dada nota no estudo de avaliação do
Simplex, elaborado recentemente pela OCDE.
TL – Mas há críticas pela lentidão do processo…
“
”
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Entrevista
MCH – A reengenharia de processos administrativos é sempre uma tarefa muito complexa e, portanto nem sempre pode ser feita com a rapidez
que se gostaria.
TL – Faz parte, igualmente, da Fundação Jorge
Álvares, de Macau…
MCH – A minha família do lado do meu pai, tem
raízes em Macau. O meu avô era de ascendência
chinesa e a minha avó era descendente de famílias portuguesas
Angola é o nosso
que tinham partido para Macau,
segundo mercado de
desde 1760.
exportação mais
TL – Chegou a viver em Macau?
importante fora da
MCH – Nunca vivi, mas tenho
Europa, logo a seguir
uma relação muito forte com
aos Estados
Macau. Tenho 50 por cento de sanUnidos
gue macaense, de que me orgulho
imenso. O meu pai teve vários cargos em Portugal ligados a Macau e
foi fundador e presidente da Casa de Macau
durante vários anos. Pertencendo a uma família
tradicional Macaense, o general Rocha Vieira, na
altura Governador do Território, convidou-me
para integrar o conselho de curadores da Fundação
Jorge Álvares. Pertenço também ao conselho de
curadores da Fundação da Casa de Macau.
TL – Com tanta actividade, sobra-lhe algum
tempo para o lazer?
“
”
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MCH – A gestão de tempo tem também de ser eficaz. As actividades fora do campo profissional
permitem um olhar mais abrangente sobre áreas
mais diversificadas e, portanto, também são
entusiasmantes.
TL – Com tantas e diferenciadas experiências,
como reagiria a um convite governamental, designadamente para a área das finanças?
MCH – Nunca senti grande vocação pela política.
Gosto muito da minha actividade actual no BPI e
não penso alterá-la.
TL – E tem tempo, ainda, para a leitura, viagens…
MCH – …e para a família. É tudo uma questão de
boa organização dos tempos livres.
TL – Que ideia faz da Fundação Inatel?
MCH – É uma instituição com um enorme potencial. É nome bem conhecido, com um projecto
muito interessante. Não frequentei nenhuma das
suas actividades, mas já estudei o projecto Inatel
por motivos profissionais e entre as suas importantes valências está o facto de ser conhecida e
reconhecida pelas pessoas. Toda a gente sabe o
que é a Inatel e conhece as actividades que promove, culturais, recreativas, turísticas. O número
de portugueses que envolve é muito grande. Tem
um potencial intrínseco que é imenso.!
Eugénio Alves (texto)
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Património
Museu de Portimão
Uma fábrica
com memória
Inaugurado há um ano, o Museu de
Portimão reúne um acervo industrial,
etnográfico e arqueológico que
testemunha importantes aspectos da
identidade local. A indústria
conserveira é uma das temáticas
centrais do museu.
“TERRITÓRIO E IDENTIDADE” é o título da
exposição principal do Museu de Portimão. A
associação dos dois conceitos define com justeza
a filosofia subjacente a todo o projecto, centrado
na recuperação de património edificado e, em
simultâneo, na preservação e divulgação da
memória e da realidade histórica, cultural e
social da região. A identidade de Portimão tem os
seus esteios nas dimensões representadas nos
espaços expositivos e nos conteúdos do museu, e
a própria localização do edifício, na zona ribeirinha da cidade, sublinha um dos aspectos dessa
identidade, que é o de uma forte ligação com o rio
Arade e com a indústria conserveira.
O museu está exemplarmente instalado no
edifício de uma antiga fábrica de conservas e
abrange, com as suas múltiplas valências, uma
área de cerca de 5000 m2. Adquirido pelo
Município de Portimão em 1996, foi objecto de
reabilitação e adaptação – com projecto assinado
pelo gabinete dos arquitectos Isabel Aires e José
Cid -, tendo sido mantidas as suas características
arquitectónicas fundamentais, nomeadamente a
volumetria e a emblemática fachada principal.
As principais transformações por que passou a
antiga fábrica de conservas Feu (inaugurada em
1902 e encerrada nos anos 80), dizem respeito a
elementos introduzidos na fachada nascente, vol28
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tada para o rio, de forma a criar novos espaços e
permitir novas funcionalidades: Centro de
Documentação, recepção, auditório, restaurante,
esplanada, oficina educativa e áreas técnicas para
acolhimento de reservas museológicas.
Dadas as características do edifício - fábrica,
houve intenção expressa de potenciar a valência
museológica do conjunto, que se estende para o
exterior, para o cais, ao longo da margem do rio.
A recuperação do pontão de descarga, do vaivém
de transporte de peixe, do guindaste Marion 2, o
único existente em Portugal, e da chaminé da
fábrica, insere-se nessa estratégia de conservação
e de evocação dos mais representativos elementos identitários da cidade, entre os quais o velho
edifício da fábrica Feu é uma peça-chave. Como
salienta José Gameiro, director do museu, “a
grande e primeira peça do museu é a fábrica,
como objecto contentor”. O outro elemento,
acrescenta, é a “envolvente fluvio-marítima que
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Património
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caracteriza esta zona do litoral e que é contada
pela exposição ‘Território e Identidade’”.
Memórias e visões do sul
A história do museu de Portimão começa nos
anos 80, quando se constitui a respectiva
comissão instaladora. Por essa altura regista-se já
um declínio da indústria conserveira e assiste-se
ao encerramento das fábricas. “Nós confrontámonos então com um património industrial valiosíssimo e muito importante para a identidade
desta região, verificando-se nessa altura uma
grande dragagem no rio que permitiu ver depositado nos areais um grande potencial arqueológico”, recorda José Gameiro. “Houve um momento
em que estavam criadas as condições para que,
face a estes dois tipos de património, um em
decadência e outro em evidência, se reunissem
as vontades de um grupo de pessoas que interpelou a Câmara no sentido de se criar a comissão
instaladora do museu”. Esse tempo é também um
tempo de mudança na construção naval, uma vez
que a madeira passa a ser substituída pela fibra e
pelo metal.
Dá-se início, nesse contexto, à reunião do
acervo do futuro Museu de Portimão, através de
“recolha nas fábricas, nos areais, nos materiais
arqueológicos e etnográficos; é um momento de
viragem, também, na substituição dos saberes
relacionados com a madeira, e isso levou-nos a
fazer uma recolha enorme que está patente na
exposição”. No processo esteve também envolvido um grupo ligado às questões da defesa do
património, os «Amigos de Portimão», entretanto
desaparecido.
A cooperação da população foi também
importante para a organização do acervo, através
de ofertas, doações e informação. “Há o Centro de
Documentação e um Arquivo Histórico que se
baseia muito nos patrimónios arquivísticos
industriais das colectividades de Portimão”.
Muitos dos objectos expostos têm diferentes origens, uma vez que a exposição “não é só sobre
esta fábrica, é sobre todo o centro conserveiro de
Portimão”.
Entre as actividades desenvolvidas pelo
Museu de Portimão, José Gameiro releva a
Oficina Educativa, vocacionada para a cooperação com as escolas, a par de exposições temporárias e a ocupação quase permanente do auditó-
rio com iniciativas próprias ou alheias. Há frequentes solicitações da comunidade e uma programação própria que se pretende regular. Um
exemplo é o ciclo de cinema documental «Visões
do Sul», realizado no passado Outono.
Vozes de operários, apitos,
sirenes e um fado-anúncio
O acervo – que abarca um espólio industrial,
arqueológico, subaquático, naval e etnográfico - é
bastante diversificado e está repartido por vários
percursos. O correspondente à indústria conserveira é o que ocupa uma maior área expositiva.
A exposição axial do museu, “Portimão –
Território e Identidade”, engloba três percursos
organizados sob esse signo, desdobrados dois
deles por várias temáticas. O terceiro percurso,
Um ano de vida: comemorações
O Museu de Portimão comemora no próximo dia 17 o seu primeiro
aniversário. Entre outras iniciativas, realiza-se no dia 16 um
concurso de fotografia sobre o património natural e cultural da
cidade. Nessa noite o museu abre portas a espaços de exposição e
áreas de trabalho mais reservadas.
No dia 17 é inaugurada a exposição «O Coleccionador de Pintura»,
que reúne pela primeira vez obras que fizeram parte da colecção
pessoal de Manuel Teixeira Gomes, portimonense que foi
diplomata e Presidente da República, e que estão actualmente
dispersas por vários museus. No dia 18, Dia Internacional dos
Museus, há visitas (individuais ou guiadas) gratuitas.
breve, realiza-se através de uma passagem pela
antiga cisterna, também reabilitada. Chama-se
“Do fundo das águas” e é um percurso que evoca,
através de dispositivos multimédia, a fauna e a
flora do rio Arade e da orla marítima da região.
Os dois principais percursos preenchem a
quase totalidade dos espaços de exposição do
museu, inaugurado em 17 de Maio de 2008. O
primeiro percurso – “Origem e destino de uma
comunidade” – assinala alguns aspectos históricos através de um acervo de objectos e reconstituições que recua até aos períodos de ocupação
romana e islâmica. A relação com o rio Arade –
“uma porta entre o Atlântico e o Mediterrâneo” –,
a actividade da construção naval nos estaleiros
de Portimão, o mundo rural e a produção de frutos secos são outras temáticas. «Manuel Teixeira
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Património
Tel. 282405230; e-mail
ALOJAMENTO
Portimão. Em alternativa, não
[email protected]
O Centro de Férias da Fundação
falta oferta hoteleira.
MUSEU DE PORTIMÃO
Horário: Terça-feira, das 14h30
INATEL, na vizinha cidade de
Informação e reservas em:
Contactos
às 18h00; Quarta-feira a
Albufeira, é uma opção de
www.algarve-hoteis.com ou
Rua D. Carlos I, Portimão
domingo, das 15h00 às 23h00.
alojamento para quem visita
www.booking.com.
GUIA
Gomes – viajante, político e escritor», com algumas obras de arte coleccionadas pelo estadista,
conclui este percurso.
O percurso 2 está estreitamente ligado à história e funcionalidade primeira do edifício.
Designado por “A vida industrial e o desafio do
mar”, evoca vários aspectos da ligação das gentes
e da cidade com o Atlântico e com a indústria
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conserveira. Um dos núcleos corresponde à chamada “Casa do Descabeço”, onde tinham lugar as
primeiras operações do processo industrial; recuperada, conserva os tanques de salmoura e os
mecanismos de lavagem, e acolhe uma reconstituição das rotinas laborais. Através da reconstituição dos espaços fabris de transformação da
matéria-prima, o visitante tem uma percepção do
quotidiano laboral que ocupava grande parte das
gentes da região durante os tempos áureos da
indústria conserveira.
Um dos núcleos é designado por “Apitos e
sereias”. A ambiência sonora é, justamente, um
elemento de forte presença e importância “expositiva”. Sereias, sons de água a correr, o serrar das
madeiras e outros sinais sonoros que marcavam
o ritmo do trabalho são uma constante durante a
visita, ao mesmo tempo que se vai ouvindo os
depoimentos de antigos operários da fábrica,
registados em audiovisuais em contínua exibição. “Trazer esses registos na primeira pessoa
para a exposição foi importante. É das populações, das comunidades que no fundo emana
toda esta história, são elas as detentoras dessa
memória e dessa capacidade de reter todos esses
momentos a que só pela documentação não
podemos ter acesso”, reconhece o director do
museu. Há também um filme “publicitário” realizado em 1946, doado pelos familiares de Caetano
Feu, que documenta o processo industrial conserveiro na fábrica de Portimão, um filme que é
“a peça de resistência da exposição”, na opinião
de José Gameiro.
Num dos cantos da nave central, o visitante
descobre uma curiosidade, discreta mas significativa: uma vetusta telefonia reproduz uma gravação em vinil de anúncios radiofónicos das conservas. Um desses anúncios tem a forma de um
fado, breve. A voz que canta excelência das conservas é a de uma jovem que se tornaria tão (ou
mais) conhecida como as conservas de Portimão:
Hermínia Silva. !
Humberto Lopes (texto e fotos)
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Desporto Inatel
Joana Veloso Bárbara
Uma terna guerreira
AJUSTA O FATO DE BANHO e a touca, põe os
Começou aos oito e pretende
continuar até aos 80. Pelo menos.
Para Joana Bárbara nadar é uma
paixão que bateu mesmo bem fundo.
Para além de ser um prazer, dá-lhe
disciplina e responsabilidade.
Hoje está a fazer estágio em
enfermagem mas a natação continua
como parte do dia-a-dia. Os títulos
estão aí, à distância de umas valentes
braçadas.
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óculos e dá pequenos passos em direcção ao
bloco. Larga os chinelos, sobe, dobra o dorso e a
concentração é absoluta. Ao sinal de partida,
mergulha com toda a convicção, é o momento de
“abstracção completa do mundo exterior: não se
ouve nada, só se sente a água e a concentração de
avançar, competir e ganhar”.
Longe vão os dias dos primeiros mergulhos
no mar da Costa da Caparica, onde aprendeu a
nadar. Aos oito anos, e a conselho do médico,
começa a prática da modalidade na Academia
Almadense – Airfa. A adaptação à piscina não
poderia ter sido melhor e, desde o primeiro
momento, bruços é o estilo favorito: “Lembro-me de a minha monitora me ter dito que iria ter
dificuldades em adaptar-me ao estilo de bruços,
por exigir uma técnica muito complicada mas
depois ficou muito surpreendida por eu conseguir nadar bem, logo à primeira”. Este sucesso,
inicial torna-a um exemplo para os outros colegas. E, até hoje, bruços continua a ser o seu melhor estilo, a muita distância dos outros. O que
lhe tem proporcionado arrecadar inúmeras
medalhas em campeonatos regionais e no estrangeiro.
Aos dez anos aceita o convite para entrar em
competição e, um ano depois, torna-se atleta
federada. Tem início a “verdadeira digressão pelo
mundo da natação”. É um desporto complicado
por ser repetitivo e exigir muita motivação individual; aí o treinador e os colegas tornam-se
peças fundamentais como apoio. Por outro lado,
“É um desporto onde não há disputas entre atletas do mesmo clube, nunca tive um inimigo dentro da natação. Não se criam conflitos e a união é
muito forte”.
Até aos 19 anos conseguiu conciliar a alta
competição e os estudos, graças a “um grande
espírito de responsabilidade e de organização do
tempo”. Mas teve de prescindir de actividades
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A INATEL
tem uma forma
óptima de cativar
as pessoas…
“
”
lúdicas, “nunca tive muito tempo para ir ao cinema ou sair à noite”. No final do primeiro ano de
Enfermagem, a exigência da carga horária impossibilitou-a de manter a regularidade dos treinos
diários. A performance começou a baixar e a desmotivação a crescer. Vê-se forçada a abandonar o
desporto federado.
SURGE ENTÃO a hipótese de ingressar nos
Masters de Almada, e estava arranjada a solução
para a falta de tempo. E em que consiste esta
modalidade? Trata-se de uma alternativa encontrada para quando os atletas de alta competição
desistissem de competir não parassem a prática
desportiva. Continua a ser uma competição mas
mais moderada. “Estou no masters de Almada
desde 2007 e tenho, por semana, três treinos de
uma hora. Tenho conseguido manter a forma e
até melhorado o meu desempenho – comparando com o período em que era federada”. Mas não
guarda os louros só para si, que Joana tem
humildade: “O mérito também o dou ao meu
treinador José Gonçalves, que elabora treinos
bastante intensos e motivantes porque, para
além de serem mais curtos, conseguem ser bastante interessantes e estão dentro do ritmo que
praticava anteriormente”.
HOJE JOANA BÁRBARA divide os dias entre o
estágio de Enfermagem no Instituto Português de
Oncologia, em Lisboa, e a natação. Por mês, tem
uma a duas provas, por norma na INATEL, no
Estádio Primeiro de Maio, mas recentemente
também esteve em Coimbra, no Porto, nas Caldas
da Raínha. E louva o espírito desta instituição: “a
INATEL tem uma forma óptima de cativar as pessoas a irem às provas. Pela assiduidade, são-nos
atribuídos pontos que nos permitem ir aos CSIT’s
(Confédération Sportive Internationale du Travail)”, provas desportivas a nível internacional.
“Foi aí que ganhei as provas em Itália”, onde
subiu ao pódium quatro vezes: “vestir o fato da
selecção, ver a bandeira, com a medalha ao peito
e a ouvir o hino, tal qual uma cerimónia olímpica, é espectacular”. No próximo ano conta ir ao
CSIT na Áustria, mais uma experiência boa: é
subsidiada e “dá-nos oportunidade de conhecer
outros países, de competir pelo nosso país o que
é bastante motivante”.
De futuro, conta ter a natação sempre como
complemento à vida profissional. Calma e discreta, como se define, espera “nadar até aos 80
anos e ser exemplo para todas as pessoas, principalmente as mais idosas. Deve manter-se a actividade e ter uma motivação para a vida é sempre
óptimo”. Por enquanto, vai continuar calmamente a somar títulos. !
Manuela Garcia (texto) José Frade (fotos)
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Termas em Portugal [15]
Interior
da buvette
Chaves: “Uma cidade
que faz bem...”
Evocamos as águas hipertermais de
Chaves, das mais quentes da
Península. De todas as
bicarbonatadas sódicas da Europa,
são as mais raras, porque ausentes
de vulcanismo. Quem as prova não
as esquece, tal como da cidade
apelidada de «termal» e preparada
para novos e mais exigentes desafios
e para uma procura de aquistas que
não pára de crescer.
CHAVES É UMA das poucas cidades portuguesas que possuem termas no seu perímetro urbano. Esta realidade passou a enriquecer a sua
história, sobretudo a partir de meados do século
XX, quando se construiu o primeiro edifício destinado aos aquistas que, anteriormente, já usufruíam destas águas, em banhos, nas pensões e
casas particulares.
O balneário foi construído no Campo do
Tabolado, perto das nascentes, sendo que a concessionária local mandou elaborar os estudos
gerais de urbanização e arquitectura, inclusivamente a localização de um hotel com ligação ao
balneário. Porém, nem todos os projectos alcançariam construção nessa fase inicial de desenvolvimento.
A actual buvette de Chaves é um símbolo
notável deste conjunto termal e da arquitectura
modernista em Portugal, o que levou inclusivamente o engenheiro Luís Acciaiuoli, inspector de
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Termas em Portugal [15]
cimento termal é constituído por cinco alas interligadas por um átrio, nas quais se distribuem, de
uma forma clara, o sector clínico, os serviços de
balneoterapia, de tratamento do aparelho digestivo e das vias respiratórias e as salas de descanso
e os serviços de apoio. As práticas termais disponíveis, para além das terapêuticas tradicionais,
permitem corrigir as situações de maior risco da
vida sedentária, através do efeito relaxante dos
banhos e das massagens.
“Mais Chaves”
Em cima, vista da
ponte romana e do
balneário. Em baixo,
o exterior da buvette
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Minas, a aprová-la pela sua «concepção original
brilhante e exequível». Este pavilhão é constituído por uma cúpula, com superfície interior em
desenho de leque, assente sobre seis pilares, em
parte envolvidos por uma grelha de elementos
vazados, erguendo-se, do lado poente, duas paredes, formando um biombo para sombra e abrigo.
As diferenças de nível, devidas à natureza do
terreno, e a necessidade de se fazer a recolha de
água em cotas inferiores deram origem à concepção de uma rampa ampla, suave e de forte
presença no desenho desta «fonte das digestões
difíceis». Aqui, onde Miguel Torga se inspirou,
quando bebeu «religiosamente doses de água
como se bebesse doses de energia» (Diário XIV).
Durante as décadas de 1960 e 1970, as instalações balneares de Chaves tomaram formas mais
definitivas e amplas. Presentemente, o estabele-
As termas de Chaves estão localizadas no centro
urbano, entre o rio Tâmega e a zona medieval. E,
sabendo-se também como uma cidade termal
deve ser sentida numa lógica integral, atendendo
às necessidades dos seus utentes para além do
uso das águas, são de assinalar os investimentos
verificados na zona envolvente do balneário e da
buvette, bem como o previsto para a regeneração
do centro histórico da cidade, num projecto denominado «Mais Chaves». É este centro que tem
no seu castelo um cenário para as objectivas atraídas pela paleta de cores do casario, das varandas, dos telhados, da fruta das mercearias de
esquina e dos pastéis, que fazem a foto desta
cidade, onde as suas gentes também têm lugar.
O centro urbano de Chaves será transformado
num espaço de novas actividades económicas e
prestação de serviços, incentivando a competitividade e a articulação com o termalismo que é,
cada vez mais, uma marca basilar da sua imagem
externa, que se complementa ainda com um
património cultural à escala, não só da cidade,
mas de todo o concelho, testemunhado por vestígios rupestres, muralhas, castros, pelourinhos,
pontes, igrejas, capelas e solares. Se a isto juntarmos os novos hotéis, casino, centro cultural, as
novas acessibilidades e o seu sentido estratégico,
podemos ter em Chaves, seguramente, uma
«cidade que faz bem», tal como as suas águas
quentes. !
Jorge Mangorrinha e Helena Gonçalves Pinto
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Memória
Amélia Rey Colaço
Um conservatório de teatro
Amélia e Luisa
Barbosa eram
grandes amigas.
À direita, no Museu
do Teatro quando da
inauguração da
exposição dedicada
à Companhia Rey
Colaço Robles
Monteiro
Foi João Villaret, o actor que
aprendeu tudo ao lado de Amélia,
quem um dia disse: «Amélia Rey
Colaço vale um Conservatório de
Teatro.»
E TINHA RAZÃO. A actriz e encenadora que se
gabava de não ter sequer a instrução primária
(estudara sempre em casa tendo por mestra a
mãe, senhora de enorme cultura), foi uma grande
mulher de teatro. Em setenta anos de teatro,
Amélia Rey Colaço foi intérprete, encenadora,
fundadora e directora de uma Companhia,
dinamizadora do nosso Teatro Nacional, foi, enfim, como disse alguém, «uma mulher sábia».
Do pé descalço a rainha
Foi em 1917, no dia 17 de Novembro, que Amélia se
estreou no teatro na peça «Marianela», interpretando uma rapariguinha de pé descalço que fêz as delí-
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cias da crítica da época. Tinha então 19 anos. Em
1985, 68 anos depois, Amélia Rey Colaço despedia-se do palco na peça de José Régio, «El-Rei Sebastião, desta vez no papel de Rainha D. Catarina.
Entre a rapariguinha de pé descalço e a rainha, a vida desta mulher foi um somatório de êxitos e fracassos, de tristeza e alegrias, mas nunca
de desistências. Porque Amélia sempre foi uma
m ulher de fibra, arrebatadora , dominando tudo
e todos.
E a primeiro sinal de que era assim apareceu
logo quando, muito jovem, disse que queria ir para o teatro.
Filha de um pianista, Alexandre Rey Colaço, que
fora professor do último rei de Portugal, sobrinha de
uma poetisa, Branca de Gonta Colaço, vivendo em
ambiente muito tradicional, nem por isso Amélia
sentiu oposição à sua vontade de ser actriz.
Com 23 anos casa-se com Robles Monteiro,
fundam ambos a Companhia Rey Colaço Robles
Monteiro e em 1929 tomam conta do Teatro Nacional.
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Por aqui, pelo Teatro do Rossio, passaram textos de autores de renome. Gil Vicente, Camões,
Shakespeare, Cervantes e todos os grandes clássicos do teatro mas também Lorca, Eugene
O’Neill, Mrozek, Bernard Shaw, Cocteau, Albee e
muitos, muitos outros.
E ali se revelaram grandes actrizes e actores:
Eunice Muñoz, Carmen Dolores, Lurdes Norberto, Helena Félix, João Villaret, João Perry, José de
Castro, João Mota. Entre os artistas plásticos que
trabalharam para a Companhia de Amélia destacam-se os nomes de Almada Negreiros e Stuart
Carvalhais.
Naquela terrível madrugada do incêndio
Numa longa conversa que tive, certa vez, com
Amélia Rey Colaço pude sentir como ela ainda
sofria ao recordar o incêndio ocorrido na noite de
1 para 2 de Dezembro de 1964 e que destruiu por
completo o Nacional. Era o fim da Companhia
Rey Colaço/Robles Monteiro. Amélia ainda andou pelo Avenida, Capitólio, Trindade e São
Luiz, mas com o fim do Nacional a vida para ela
nunca mais foi a mesma.
«Sabe que nunca mais voltei ao Nacional? Na
noite do incêndio jurei sobre as cinzas do meu
teatro que nunca mais lá entraria. Aquilo foi a
ruína total.»
Com 83 anos e mais de sessenta de trabalho,
Amélia Rey Colaço ainda se preparou para representar uma peça que vira em Paris com a sua
amiga, Madeleine Renaud, «Harold and Maud» (o
filme passou por cá com o nome de «Ensina-me a
viver»). Seria seu companheiro o jovem Alvaro
Faria, ao tempo actor do Teatro Experimental de
Cascais.
O projecto não foi por diante mas pude ver o
entusiasmo com que a actriz se preparava para o
regresso ao palco.
Fotos desta página:
Figurinos desenhados
para a actriz nas
peças “Romance”
(1928)e “Quando o
amor acaba” (1925).
Ao centro, Amélia e o
actor Raul de
Carvalho na peça
“Desencontro” (1935)
O «é» de Amélia
No Dafundo, numa casa que lhe fora cedida pela
sua grande amiga Olga, marquesa de Cadaval,
Amélia confessava-me que a vida lhe tinha dado
tantas alegrias como tristezas. «A vida dá e tira,
dá e tira. É ela por ela...Não me queixo.» Mostrame um livro de André Maurois. «Gosto muito
deste autor. Leio muito, gosto de ler.» E sobre as
condecorações que lhe foram atribuidas confessa
e ri com gosto que quem gosta muito de brincar
com os colares são os bisnetos...«Ficam orgulhosos, cada um com um colar ao pescoço...»
Já no fim do nosso encontro, Amélia confessou a sua admiração por Amália Rodrigues e deume uma quadra que a fadista lhe fizera bincando
com os nomes de ambas:
«Amélia queria ter sido / Só o não fui por um
triz / Foi só por uma vogal / O seu «é» foi bem
escolhido/ Fez de si uma grande actriz/ O meu «a»
tratou-me mal».
Amélia e Amália, duas mulheres sábias. Da
primeira aqui fica um retrato breve. Como disse
Amália o seu «é» fez dela uma grande actriz. !
Maria João Duarte
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Maravilhas Portuguesas no Mundo [2]
Foram portas que se abriram e que um século depois se voltaram a fechar.
Davam acesso (estavam inseridas, pode-se dizer) a um universo muito
próprio de interligações comerciais com séculos de existência com o qual
beneficiava, quase em regime de exclusividade, a cidade-estado de Veneza, a
grande distribuidora das especiarias e outros produtos do Oriente na Europa.
Ásia: O mundo
das especiarias
1
PELA MÃO FÉRREA de Albuquerque, Portugal
alteraria esse xadrez, impondo a sua vontade e as
novas regras do jogo. Mascate. Ormuz. Bahrain.
Todas estas fortalezas passariam a ser portuguesas e desse modo permaneceriam, ao longo de
mais de uma centúria.
Nas costas do lado ocidental da Índia –
Gujarate, Cambaia e Malabar – no Ceilão, na
costa do Coromandel e ao longo de toda a
Insulíndia (actuais Malásia e Indonésia), estavam
os sempre apetecidos produtos exóticos, sobretudo as especiarias. Foi em seu nome que se ocuparam as praças-fortes de Damão, Diu e Goa, apesar das dificuldades que representavam e a distribuição das forças em confronto no terreno ser
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escandalosamente desproporcional. Dão-nos
conta disso os testemunhos coevos dos nossos
cronistas, mas também os de cronistas como o
árabe Zinadim, que realça, como seria de esperar,
o lado negativo da nossa actuação nestas paragens.
Os jesuítas tinham em Goa a sua sede e na
Igreja de Bom Jesus – o «Taj Mahal de Goa» – a
sua jóia da coroa, que sobreviria às demolições
decretadas pelo Marquês do Pombal, pois ali
estava, e ainda está, o túmulo do São Francisco
Xavier, venerado em toda a Ásia.
Goa, capital da denominada Índia Portuguesa,
foi exemplo do melhor e do pior que fizemos na
Ásia. O inicial cosmopolitismo, marcado por um
espírito de tolerância, cedo seria aniquilado pela
soberba, pela vaidade, pela cobiça e por um pesadelo chamado Santo Ofício.
Rival de Goa dourada (ironicamente símbolo
da nossa decadência) estava Baçaim, a capital do
norte, a pouca distância de Bombaim, hoje praticamente desconhecida para maioria dos portugueses. Como desconhecidos continuam os
locais da fase Malabar – Calicute, Cochin,
Coulão,Cananor – onde tudo começou.
Mas havia especiarias e especiarias. E as
mais apetecidas estavam onde comerciava o
chinês há já muito tempo, entendendo-se com
o malaio e o javanês e evitando o pirata
japonês; e onde dominava o árabe, eficiente
difusor do islão e guardião das portas do estrei-
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Maravilhas Portuguesas no Mundo [2]
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Maravilhas Portuguesas no Mundo [2]
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to de Malaca, indispensáveis para o controlo de
todo comércio.
Para Malaca avançou Albuquerque, conquistando-a em 1511. A partir desse entreposto – agora eram já os reinóis e os casados a fazerem-se à
vida – houve quem teimasse ir mais além, e descobrir o Japão; e algo ainda mais ousado do que
isso: houve quem lançasse uma âncora na China,
essa fascinante civilização teimosamente virada
para si própria.
A bordo de juncos chegamos a Macau e ali
ficamos quatro séculos e meio. Foi Macau, tal
como Goa, importante centro irradiador do pen10
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samento e da cultura europeias, tendo ficado para a posteridade as ruínas da igreja e colégio de
São Paulo, onde funcionou a primeira Universidade da Ásia.
Macau foi também símbolo de resistência.
Quando tudo se desmoronava, face ao poderio
naval e pragmatismo holandês, Macau permanecia símbolo da iniciativa individual, da persistência, da lealdade à coroa portuguesa usurpada pelos Filipes de Espanha. Por isso ganhou o
epíteto «a Mais Leal» e sobreviveu à queda do
império, até ao último ano do século XX. !
Joaquim Magalhães Castro (texto e fotos)
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1 - Ormuz
2 - Bahrain
3 - Damão
4 - Malaca
5 - Macau
6 e 7 - Goa, Sé Catedral
8 e 9 - Goa, Bom Jesus
10 - Diu
11 - Baçaim
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Olho Vivo
Verões longos prejudicam fauna marinha
A subida da temperatura da água do Mar Mediterrâneo aliada a
Verões mais prolongados originou a morte massiva de várias
espécies marinhas, incluindo corais e esponjas, segundo
investigadores do Conselho Superior de Investigações
Científicas da revista Proceedings publicada pela Academia
Nacional de Ciências dos Estados Unidos. Entre 1974 e 2006,
as condições estivais do fundo do mar prolongaram-se cerca de
um dia por ano e condicionaram a duração e intensidade da estratificação da
coluna de água que, entre Maio e Outubro, se caracteriza por uma ausência de
mistura entre as águas frias do fundo e as quentes da superfície. As espécies de
invertebrados são capazes de suportar as alterações produzidas pelos Verões
normais, mas não conseguem sobreviver a situações persistentemente anómalas.
Spam? não obrigado!
Pôr fim ao entupimento publicitário da caixa do correio
convencional passou a resolver-se colocando um
autocolante na dita cuja, mas mais complexo é dar a
volta ao assunto na sua irmã virtual. Segundo a
Microsoft, mais de 97 por cento das mensagens que
recebemos na Net têm origem publicitária, ou seja, pertencem
ao chamado Spam, com a agravante de muitos deles trazerem consigo arquivos
danosos. No entanto, segundo referiu à BBC o chefe de segurança e privacidade
da Microsoft no Reino Unido, Cliff Evans, a maioria deste “lixo” não chega ao
destino, graças aos cada vez mais apertados sistemas de filtragem. Segundo o
estudo desta empresa, que incidiu no segundo semestre de 2008, a lista dos países
nos quais os usuários mais sofrem infecções no seu software é encabeçada pela
Rússia e Brasil, seguindo-se a Turquia, Sérvia e Montenegro. Para atingirem os
seus alvos com maior precisão, os piratas informáticos servem-se de ficheiros
Office e Adobe, pelo que é indispensável realizar actualizações destas aplicações,
também para melhor proteger o computador deste lixo, por vezes tóxico.
Árctico menos gelado
Nas últimas três décadas a camada de gelo fino do Árctico reduziu-se em 720 mil
quilómetros. Ou seja, depois de, como habitualmente, ter derretido no Verão, a
extensão de zona que voltou a congelar durante os meses frios foi inferior.
Relativamente à camada mais grossa de gelo que antes correspondia a uma
percentagem variável entre 30 e 40 por cento, é agora de apenas dez por cento.
Recolhidos por satélites desde 1979, estes dados esclarecem que, além de a
tendência para a redução da superfície gelada se manter desde há alguns anos,
este Inverno a extensão de gelo do Árctico foi a quinta mais
reduzida. Segundo cientistas da Universidade do
Colorado referidos pelo diário espanhol El País, os gelos
árcticos são como o ar condicionado do sistema global,
já que arrefecem o ar e as águas, além de reflectirem a
radiação solar para o Espaço.
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Má onda
A exposição às ondas
emitidas pelas antenas
das operadoras de
telemóvel atinge o seu
ponto de maior
intensidade a cerca de
280 metros de distância
das mesmas, em zonas
urbanas, e a um
quilómetro, fora destas,
de acordo com um
estudo dirigido pelo
francês Jean-François
Viel, da Universidade de
Besançon, e publicado
pela revista britânica
Occupational &
Environmental Medicine.
Apesar de não se saber
exactamente qual o efeito
que estas ondas
produzem no nosso
organismo, é possível
concluir que, sejam quais
forem os riscos, a
existirem, serão sempre
maiores para aqueles que
vivem perto de uma
antena do que para os
que estão debaixo dela. O
estudo envolveu 200
pessoas equipadas,
durante 24 horas, com
aparelhos destinados a
medir as variações da
exposição às
radiofrequências nas suas
deslocações.
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G u i o m a r B e l o M a r q u e s ( t ex t o s ) A n d r é L e t r i a ( i l u s t r a ç õ e s )
Será que Saya diz “saia!” aos seus alunos?
É capaz de expressar facialmente seis emoções graças a 18 motores integrados no
seu corpo e possui um léxico composto por setecentas palavras. Chama-se Saya e
foi concebida não em nove meses, como os seus alunos, mas ao longo de 15 anos,
por uma equipa de investigadores japoneses dirigida por Hiroshi Koyabashi. Para
já, dá aulas numa escola primária de Tóquio envergando um saia-casaco
amarelado. As notícias não explicam se esta professora-robot inclui entre
uma das suas seis emoções a festa carinhosa nos cabelos dos alunos,
ou a repreensão austera perante um comportamento mais travesso.
A sua memória digital não é uterina nem recorrerá, por certo, à
tolerância da lembrança dos seus íntimos tempos de escola. A
ciber-professora está com certeza apetrechada para “dar
matéria”, distribuir tarefas e dificilmente será alvo de
agressão física por parte de algum aluno abusador. Mas de
toque morno e detentora daquele odor adocicado que
guardamos na tão intensa memória olfactiva da nossa infância é
que não parece mesmo nada que seja capaz.
Matéria auto-reparável
Um risco no carro pode deixar de ser uma contrariedade em dia de sol. Cientistas
norte-americanos criaram um novo material que afirmam ter a capacidade de
auto-reparar rupturas e fissuras desde que exposto a um raio de luz ultravioleta. O
segredo deste material, um poliuretano, explicam os investigadores da
Universidade do Sul do Mississipi, em artigo publicado na revista Science, reside
no recurso a moléculas de uma substância natural derivada das conchas de
crustáceos às quais agregaram uma mistura base de poliuretano. “Estes materiais
são capazes de se repararem a si mesmos em menos de
uma hora”, afirma Marek Urban, um dos autores do
estudo, acrescentando que “podem ser
utilizados em muitas aplicações de cobertura
como, por exemplo, na indústria dos
transportes, moda ou biomedicina”.
Sabores de outrora
O facto de um sabor nos agradar, ou não, tem a ver com as memórias da nossa
infância. Esta conclusão resulta de um estudo que Tim Jacob,
especialista do olfacto, vem desenvolvendo. Segundo este professor
da Escola de Biociência da Universidade de Cardiff, no Reino
Unido, os sabores resultam de uma combinação entre o olfacto e o
gosto, sentidos que, para muitas pessoas, são profundamente
conservadores devido ao facto de a alimentação das crianças ser em
geral baseada em produtos doces e insonsos. Mas não só. Jacob afirma
que “as emoções estão intimamente associadas aos sabores que
escolhemos, para o resto da vida”.
Bateria de
anticorpos
combate SIDA
Há várias décadas que
investigadores de todo
o mundo procuram
entender as razões por
que algumas pessoas
infectadas com o VIH
não desenvolvem
SIDA. Tal deve-se,
segundo divulgaram
cientistas da
Universidade
Rockefeller, de Nova
Iorque, em estudo
publicado na revista
Nature, ao facto de,
nalguns indivíduos, se
produzir um ataque
combinado de
diferentes anticorpos
quando em presença
do vírus. Em geral,
uma pessoa infectada
que não se submeta a
tratamento levará entre
cinco a dez anos até
que a doença se
declare. No entanto, e
baseando-se em seis
casos estudados, estes
investigadores
concluíram que uma
bateria de anticorpos
agindo em conjunto
consegue bloquear o
vírus, desenvolvendo
biologicamente uma
terapia semelhante à
farmacológica.
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Lusofonia
Industria turística em Angola
Pa u l a O s ó r i o
Angola tem condições ímpares para o
desenvolvimento da actividade
turística – clima, praias, paisagens,
água, gastronomia, cultura e
sobretudo um povo alegre, amigável
e acolhedor.
Lu í s To d o
Bom
E
ste conjunto de características constituem as condições necessárias mas não
suficientes para o desenvolvimento de
uma verdadeira Industria Turística em
Angola.
Só é possível atingir esse objectivo com um
programa coerente e estruturado que contemple
o enquadramento jurídico de todas as actividades
ligadas ao “cluster” do turismo, o desenvolvimento das infra-estruturas físicas associadas ao
ordenamento do território, as garantias de segurança e livre circulação por todo o território e um
conjunto de actividades empresariais ordenado,
diversificado e interligado.
Embora não existindo um corpo jurídico
resultante de uma estratégia integrada no âmbito
deste sector, alguns passos têm sido dados no
sentido de uma maior abertura face à indústria
do turismo. De facto, desde 2007 que a lei prevê
especificamente a atribuição, pelos serviços consulares, de visto de turismo. Este passo, embora
incipiente, é revelador da mudança de mentalidade, e representa, a vários níveis, um novo ciclo
na vida do País.
Já em 2003, na Lei de Bases do Investimento
Privado, o legislador tinha considerado o sector
do turismo como de “interesse económico” relevante estabelecendo o acesso a incentivos e facilidades, a par de sectores tradicionais como a
agricultura e pecuária, a indústria, as infra-estruturas, as telecomunicações, a energia e águas, a
habitação, a saúde e a educação.
Mas o grande constrangimento jurídico que se
coloca é relativamente à Lei dos Solos. De facto,
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a noção de propriedade privada plena é muito
cara aos investidores, sobretudo do mundo ocidental. Esta questão tem sido amplamente discutida e importa saber se o legislador pretende alterar a lei e com que extensão.
A legislação fiscal atribui ao Fundo de
Turismo 1.8% da receita proveniente do Imposto
Predial Urbano, que esta entidade deverá aplicar
em projectos de desenvolvimento turístico.
Está em curso a preparação de um plano
director do turismo que, entre outras vantagens,
possibilitará uma melhor canalização dos programas de cooperação e de apoios existentes para o
País. Na Feira de Turismo de Madrid, a Organização Mundial do Turismo disponibilizou apoio
técnico às iniciativas do Estado Angolano neste
sector, o que é um bom sinal.
Neste momento, este é um sector crítico para
Angola pois está agendado para 2010 o Campeonato Africano das Nações, evento grandioso que
mobilizará milhares de pessoas, e que exigirá um
grande esforço por parte das infra-estruturas
turísticas actuais para o seu acolhimento. Será
por outro lado uma oportunidade para que as
autoridades angolanas detectem as fragilidades
deste sector e promovam a sua correcção através
dum Programa Estratégico de intervenção.
É, por isso, o momento indicado para a criação
de um corpo integrado de legislação que desenvolva instrumentos específicos de garantia dos
investimentos e da operação das unidades turísticas, nomeadamente no âmbito do ordenamento
do território, da introdução de incentivos fiscais
e aduaneiros em algumas áreas para que seja possível uma alteração significativa e verdadeiramente apelativa para os investidores de projectos
de grande qualidade.
Este quadro jurídico de referência estabilizado
atrairá uma classe empresarial de qualidade que
promoverá investimentos nos vários produtos
turísticos adaptados à geografia específica de
Angola.
Permitirá ainda a elaboração de um Plano
Estratégico de Desenvolvimento da Actividade
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Baía de Luanda
Turística em Angola que contemple, para além
das unidades turísticas específicas as infra-estruturas físicas, económicas, sociais e culturais que
constituem sempre a base do crescimento desta
indústria multifacetada.
No âmbito das infra-estruturas físicas, a indústria turística contribuiria de um modo significativo para a sua rentabilização, permitindo, inclusive, que se pudesse acelerar a construção de grandes unidades de capital intensivo sobretudo na área da energia desde que
integrassem o Plano Estratégico de Turismo de
Angola.
Um programa ambicioso de desenvolvimento
da actividade turística em Angola permitirá também a criação de condições para a implantação
de uma industria de materiais de construção civil
(cimentos, cerâmicas de barro branco e barro vermelho), metalomecânica ligeira, electrónica de
consumo, de uma industria de mobiliário e decoração, de novas técnicas e processos construtivos
e de ordenamento do território, para além de uma
actividade alargada de prestação de serviços
turísticos e similares – gastronomia, desporto,
caça e cultura.
Este último ponto é crucial para encararmos
estas propostas como prioritárias para a consolidação da imagem de Angola como uma nação
rica em valores e tradições no Continente
Africano.
O modelo que desenvolvemos no presente
artigo – um programa estruturado e tecnicamente fundamentado para o desenvolvimento do sector turístico em Angola, é exactamente o oposto
do que ocorre neste momento – o aparecimento
desordenado e incipiente de várias unidades
hoteleiras e similares por todo o território, sem
uma estratégia clara, sem qualidade, sem preocupação de divulgação adequada do imenso potencial de que Angola dispõe no âmbito paisagístico,
dos recursos naturais, da sua gastronomia, história e cultura.
É pois urgente alterar esta situação.
Até para que todos nós, Angolanos, possamos
sentir orgulho no que a nossa terra oferece a
quem nos visita. !
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A Casa na árvore
Susana Neves
O fósforo de Hércules
Com o choupo sobrevive-se ao
Inferno através da arte e das virtudes
do algodão.
egundo Plínio, o Velho, as folhas do
choupo branco acompanham o movimento do Sol durante o solstício de
Verão, a 21 de Junho. Desconhecemos
se o historiador e enciclopedista romano, autor
de “Naturalis Historiae” (cerca de 77 A.C.) saberia que um osso humano tem uma densidade
semelhante à madeira do género “Populus”,
palavra latina que significa também povo.
Exercida a mesma pressão, osso e madeira
apresentam fracturas parecidas, uma proximidade
entre humano e vegetal à qual parece indiferente a
populicultura: exploração intensiva de choupos
(em Leão e Castela, na vizinha Espanha, reservamlhe 45 mil hectares), destinada às fábricas de contraplacado, à produção de pasta de papel ou à
paradoxal “indústria de bio-combustíveis”.
Considerado em França, símbolo da democra-
S
cia (no dia 1 de Maio de 1790 inaugurou-se em
Laon a tradição de celebrar a liberdade pelo
plantio de carvalhos e choupos), é interessante
verificar como em Portugal, a possível destruição
de uma parte do Choupal de Coimbra (mata cujo
projecto original remonta ao século XVIII e onde
além do choupo negro existem outras espécies de
grande beleza), devido à futura construção de
mais um viaduto rodoviário, gerou um tão
expressivo movimento cívico de protesto (ver
site: www.plataformadochoupal.org).
O Portugal “europeu” que pretende abater
uma espécie arbórea europeia, localizada numa
cidade antiga, exaltada pelo fado de Coimbra, de
registar a inesquecível interpretação do tema “Do
Choupal à Lapa” por Zeca Afonso, aparece assim
ambivalente e contraditório.
Muito mais do que uma árvore ornamental,
cuja rapidez de crescimento satisfaz a ânsia de
lucro dos que vivem pouco tempo, o “Populus
L.”, e sobretudo a espécie Alba (também conhecida por Alámo Branco) cujas folhas são bicolores, por cima verdes (ou amarelas, no Outono) e
por baixo brancas, é desde a Antiguidade
Fotografias: Susana Neves
Choupo branco
no jardim
da Gulbenkian
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À esquerda, folha de
choupo.
À direita, Choupo
Branco, pormenor
das folhas e do
tronco
Clássica a expressão da dualidade e da convivência de forças antagónicas.
Espécie medicinal e tintureira, foi ela consagrada a Hércules que na descida aos Infernos
(“Hades”) se fez coroar com ramos de “Populus
Alba”. Inspiradora de actos de coragem, as folhas
do choupo que Hércules coloca sobre a cabeça
acusam a passagem do herói e criminoso pelo
fogo subterrâneo mas apesar de tudo resistem. A
face mais escura é a queimada pelo calor infernal, a mais clara aquela onde se acumulou a sua
transpiração.
Vitorioso na tarefa de entrar e sair do mundo
dos mortos, regressando à superfície com um troféu vivo (o próprio guardião de “Hades”, um cão
de três cabeças), o herói desencadeia novas toxicidades: da baba de “cerberus” nasce uma planta
venenosa, o lindíssimo acónito (Aconitum napellus L.), muito usado na medicina homeopática.
Capaz de se enraizar até aos 40 metros de profundidade, destruindo por vezes canalizações e
paredes, o choupo (do qual existem belos exemplares das diferentes espécies mencionadas, no
Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian) é também uma árvore radar e farol: sensíveis ao mínimo sopro de vento, as suas folhas, sobretudo, as
do “Populus Tremula”, parecem a todo o instante
comentar o frenesim e o silêncio do mundo.
Alimento de centenas de lagartas de borboletas diurnas e nocturnas, insectos aliados na sua
polinização, os choupos (árvores dióicas da família das “Salicaceae”) saúdam a Primavera libertando minúsculas sementes envolvidas em diáfanos pedaços de algodão que parecem neve e se
acumulam entre as ervas e arbustos como se os
quisessem aquecer.
Se Claude Monet pintou “Debaixo dos choupos, efeitos do Sol”, 1883, numa homenagem à
verticalidade e luminosidade do choupo negro,
os mistérios de “Mona Lisa”, de Leornardo da
Vinci, ficaram, como em tantos outras pinturas
italianas da Renascença, guardados na madeira
delicada do “Populus” que lhes serviu de
suporte.
Contradições de uma espécie cuja madeira é
utilizada para fazer as caixas redondas do delicado Queijo Camembert e ao mesmo tempo produz
o carvão vegetal mais eficaz no combate ao “peidorrear”, para usar um termo caro ao erudito,
popular e controverso escritor François Rabelais.
E se o garbo e o gosto pela escrita (repare-se
nas peculiares marcas no tronco do “Populus”
branco) fazem do choupo um aristocrata, não é
menos verdade que a transformação da sua distinta madeira em fósforos diz mais da sua natureza contraditória do que popular. !
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Viagens na história
João Aguiar
“Arraial por Portugal!”
Descansem, que não se trata de um
arraial de pancada, que é o sentido
— altamente poético — em que hoje
mais se usa o termo.
ão, eu refiro-me a «arraial» no sentido de: «aclamação que antigamente
se fazia aos reis de Portugal», segundo uma das definições enciclopédicas da palavra.
Mas afinal não ando muito longe do significado anterior, porque se trata de um arraial revolucionário; e onde há revolução há pancada.
Vamos, pois, a uma época de que já tenho falado: em 1383, logo que o rei D. Fernando I morreu, a
regente, Leonor Teles, mandou aclamar a sua filha
D. Beatriz, casada com Juan I de Castela. Espero que
N
O Cavaleiro
Gil Fernandes
os leitores ainda se lembrem disto. E que se lembrem, também, que essa aclamação provocou distúrbios em várias cidades e vilas, porque aceitar D.
Beatriz como rainha significava aceitar Juan I como
rei, o que seria o fim da independência.
Ora bem: há um pormenor menos conhecido
(julgo eu) do grande público. Em Elvas, depois
que o alcaide procedeu à aclamação, um certo Gil
Fernandes, escudeiro, que nesse dia estivera
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ausente da vila, regressou a casa e, ao saber do
sucedido, juntou a população; foi alçada outra
bandeira e com ela percorreram Elvas, bradando:
«Arraial por Portugal».
Não senhor, isto não é nenhuma evocação patrioteira cheirando a mofo de Estado Novo. Eu estudei nessa época (a do Estado Novo, entenda-se) e
nessa altura, tanto quanto me lembro, não se falava muito deste episódio contado por Fernão Lopes.
É que esse «Arraial» era mesmo revolucionário em 1383. Bradava-se então arraial por um
soberano, somente. Só que os de Elvas ainda não
sabiam bem que rei haviam de aclamar; sabiam
apenas que não queriam D. Beatriz e que queriam
o reino livre. Daí terem gritado «arraial por
Portugal».
É-nos difícil, hoje, medir bem a, digamos, enormidade deste brado, em termos de finais do século XIV. Não que a Europa desconhecesse os movimentos contestatários — as «jacqueries» em
França, os cardadores de lã em Florença, Wat Tyler
em Inglaterra. Eram, essencialmente, movimentos
de classes desfavorecidas. É certo que a revolução
portuguesa teve igualmente ingredientes de luta
de classes, nem poderia ser de outro modo, tendo
em conta a situação social e as diversas crises que
abalaram o torturado século XIV. Mas…
Mas — entre outras coisas — os de Elvas bradaram arraial por Portugal, o que expressa uma
tomada de consciência de alcance extraordinário
naquela época.
Isto não servirá, espero, para evocar nacionalismos exacerbados. Mesmo porque nós, hoje,
sofremos do mal oposto: adoramos resmungar
que as coisas más só acontecem «neste país». O
que eu espero é que isto sirva para recordar que
uma época de crise e revolução como foi a de
1383-1385 foi também uma época de desafio —
um desafio vital, à nossa própria existência — e
que encontrámos modo de lhe dar resposta.
No processo, muitos solavancos houve,
mudanças no tecido social, mudanças de poder,
mudanças de fortuna. Um novo mundo e nova
geração de gentes, como observou Fernão Lopes.
O que, feitas bem as contas, e considerando quer
a época do brado de Elvas quer a nossa época,
não me parece que seja mau de todo. !
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CONSUMO O governo aprovou medidas para uma maior transparência
e diminuição da conflitualidade entre os consumidores e a banca.Pág. 56 !
LIVRO ABERTO Em destaque “Os Segredos da Capela Sistina - Mensagens
Proibidas no Coração do Vaticano”, de Benjamin Blech e Roy Doliner. Pág.
58 ! ARTES A exposição que Carlos Calvet na Valbom (Lisboa) confirma um
dos nomes mais destacados da arte contemporânea portuguesa. Pág. 60 !
PALCO Em foco Os Artistas Unidos, em digressão nacional, e estreias em
Almada, Porto (Campo Alegre e. São João) e Lisboa (TNDMII). Pág. 62 !
CINEMA EM CASA Em Maio, mês do Festival de Cannes, uma selecção de
filmes premiados na edição 2008 do mais antigo certame cinematográfico.
Pág. 64 ! GRANDE ECRÃ “Um conto de Natal”, de
Arnaud Desplechin, da selecção de Cannes 2009, é
proposta de estreia nas salas nacionais.Pág. 65 !
MÚSICAS Ao cabo de 28 anos de existência, os “Pet
Shop Boys” lançam um novo CD, “Yes”, uma forma superior da música
pop. Pág. 66 ! SAÚDE É preciso não confundir velhice com depressão.
Existem muitos idosos que respondem positivamente às partidas que os
anos lhes pregam… Pág. 67 ! TEMPO INFORMÁTICO Há novidades nos
leitores multimédia, nos antivírus e nos programas de limpeza do lixo que
inundam os nossos computadores. Pág. 68 ! VOLANTE Knight Xv, um carro
“amigo do ambiente” que funciona a biocombustível mas custa o
equivalente a quatro Hummers. Pág. 69 ! PALAVRAS DA LEI Num processo
de Inventário, é o cabeça-de-casal que tem, no requerimento de inventário,
de apresentar a relação de bens e o respectivo valor. Pág. 70
!
BOAVIDA
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Boavida|Consumo
Bancos mais transparentes?
O governo aprovou um conjunto de medidas na área financeira, que irá contribuir
para uma maior transparência e diminuição da conflitualidade no sector, onde as
reclamações dos consumidores têm grande incidência.
Carlos Barbosa de Oliveira
s serviços bancários são, com frequência, uma
dor de cabeça para os consumidores e indesejável fonte de conflitos. Não é um problema
exclusivamente português. Embora as reclamações dos consumidores portugueses sobre os serviços
de crédito surjam, habitualmente, logo a seguir às reclamações contra os serviços de interesse geral (água, gás,
electricidade e comunicações), também na União Europeia
os bancos estão a mira dos consumidores.
Com efeito, o Painel de Avaliação do Consumidor que
analisa pormenorizadamente 19 sectores de actividade no
mercado global da UE, com o objectivo de o tornar mais
transparente e responsável, revela que os serviços
bancários são, a seguir ao sector da energia, os que
recebem as maiores críticas dos consumidores europeus.
Desde que tomou posse, o actual secretário de estado
da defesa do consumidor tem prestado especial atenção às
relações entre consumidores e serviços bancários, no
intuito de as tornar mais transparentes e reduzir a conflitualidade.
Noutras ocasiões, já aqui fiz referência às medidas
tomadas por Fernando Serrasqueiro, nomeadamente quanto à uniformização dos arredondamentos, fixação da datavalor dos depósitos e transferências bancárias.
Este ano, por altura da comemoração do Dia Mundial
dos Direitos do Consumidor, o governo aprovou um conjunto de medidas visando a protecção dos consumidores
na sua relação com os bancos.
Por um lado, estabeleceu um limite máximo para as
taxas de juro no crédito ao consumo (a ser definido pelo
Banco de Portugal) que deverão ser revistas de três em três
meses. Esta medida é de especial relevância, se atentarmos
que nos contratos de crédito ao consumo a taxa de juro
O
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cobrada pelas instituições financeiras chegava a atingir os
30 por cento. Ao criar e definir o conceito de usura, o governo criou condições para impedir a aplicação de taxas
consideradas exageradas, nomeadamente nos cartões de
crédito.
Outra medida de grande alcance vem terminar com
um grave imbróglio: o reconhecimento de invalidade de
um contrato de crédito, quando o contrato de compra e
venda for anulado.
Em termos práticos esta medida traduz-se no seguinte:
Até aqui, quando um consumidor contraía um crédito
para a aquisição de um bem mas o contrato de compra e
venda por qualquer razão era anulado, continuava obrigado a cumprir as suas obrigações em relação ao contrato de
crédito, apesar de não usufruir do bem. A partir de agora,
se o contrato de compra e venda for anulado, considera-se
igualmente anulado o contrato de crédito, ficando o consumidor desobrigado de cumprir as obrigações a ele referentes.
Ainda neste âmbito, o governo pretende pôr um travão
à concessão do crédito fácil estimulado pelos bancos e
instituições financeiras, controlando assim o endividamento excessivo das famílias portuguesas. Nesta conformidade, a entidade credora fica obrigada a prestar
informação detalhada ao consumidor, na fase pré-contratual e a consultar a Central de Riscos de Crédito do Banco
de Portugal, antes de conceder o crédito.
É certo que bancos e entidades financeiras já estavam
“obrigados” a fazê-lo mas, na maioria dos casos, concediam o crédito sem fazer essa consulta, tornando o acesso
ao crédito um mero acto formal de assinatura de um contrato. Esta prática foi responsável pelo endividamento
excessivo de muitas famílias portuguesas que, aliciadas
pela publicidade e a ilusão do crédito fácil, acabaram por
contrair empréstimos que não tinham capacidade para
ANDRÉ LETRIA
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cumprir. Depois, ou renegociavam a dívida, ou contraíam créditos noutras instituições, numa espiral que só terminava
quando já não havia solução.
Ainda neste âmbito, o governo determinou que nos casos em que o consumidor pretenda fazer amortizações antecipadas do seu crédito, a indemnização não
poderá ultrapassar os 0,5%. Anteriormente, os
bancos desincentivavam as amortizações, cobrando indemnizações elevadas que chegavam a atingir os
4 pontos percentuais.
Destaque, finalmente, para a medida tomada no
âmbito dos custos de transferência dos PPR.
Habitualmente, as comissões por transferência destes
produtos oneravam os contratos em percentagens que
atingiam os 5% do capital, a que eram acrescentadas as
comissões de subscrição e reembolso ou resgate. Com a
entrada em vigor da nova legislação, esses custos são
substancialmente reduzidos, permitindo maior
transparência neste mercado cada vez mais florescente,
em virtude da necessidade que os portugueses terão de
recorrer a planos que complementem a sua reforma.
Saliente-se, ainda, que vão ser uniformizadas as designações das comissões cobradas pelas entidades gestoras
destes produtos, o que conferirá aos consumidores
maior facilidade na escolha dos produtos que pretendam
subscrever.
As medidas agora aprovadas não são apenas vantajosas
para os consumidores. Também os bancos e outras
instituições financeiras saem favorecidos, pois numa
altura em que são vistos pelos consumidores como os
grandes responsáveis da crise financeira, medidas que
tornem mais transparente a sua actividade, contribuem
para a recuperação da sua credibilidade. !
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Boavida|Livro Aberto
Dos segredos de Miguel Ângelo
à sabedoria de Napoleão
As vidas e as obras de geniais criadores como Leonardo Da Vinci ou Miguel Ângelo
continuam, século após as suas mortes, a suscitar a curiosidade e o interesse de
investigadores e do público em geral, não tanto pelo que ficou expresso e legível em telas,
frescos ou no mármore, mas também, e cada vez mais, pelas mensagens ocultas nas obras
que o tempo e o gosto de sucessivas gerações conseguiram eternizar.
José Jorge Letria
sso faz de “Os Segredos da Capela Sistina-Mensagens
Proibidas no Coração do Vaticano” (Casa das Letras),
de Benjamin Blech e Roy Doliner, um livro fascinante. Ao longo de quase três centenas de páginas,
com ilustrações comprovativas, os autores demonstram
que Miguel Ângelo, de forma engenhosa e subtil, conseguiu inscrever nas suas pinturas mensagens de exaltação
I
da liberdade e da fraternidade, contrapostas ao pensamento e à doutrina depressivos do Vaticano, do mesmo modo
que conseguiu, sem ser descoberto, caricaturar a própria
figura papal. Estas descobertas, sendo polémicas,
reforçam ainda mais a ideia de que os criadores geniais
foram sempre pessoas à frente do seu tempo e com um
sentido de liberdade individual que nunca lhes permitiu
subordinarem-se, de forma submissa, aos ditames de
quem lhes encomendava as obras. Assim, muitas mensagens ficaram ocultas, à espera de quem um dia viesse a
descobri-las e a decifrá-las.
DESDE A CANDIDATURA de Barack Obama à Presidência
dos Estados Unidos que muito se tem escrito sobre as
qualidades intelectuais e humanas de sua mulher, a agora
Primeira Dama, Michelle Obama, a quem o marido chama
“The Boss”. Advogada de sucesso e mulher de fortes convicções, Michelle Obama foi determinante para o triunfo
político do marido, que iniciou um novo ciclo na história
norte-americana e, eventualmente, do mundo.
“Michelle – Uma Biografia”( Planeta), de Liz Mundy, é
um retrato de corpo inteiro da Primeira Dama negra dos
Estados Unidos, descendente de escravos e que atinge, ao
lado do marido, uma posição cimeira na vida política e
social da mais poderosa potência mundial. Dela se diz
que tem humor e determinação, sentido prático e afectividade, sendo, por isso, uma figura central da vida de
Barack Obama e, por essa via, também da Administração
americana, na qual não deixará de colocar a marca das
suas convicções e opiniões.
“GOVERNA-SE mais facilmente os homens com base nos
seus vícios do que base nas suas virtudes”-esta terá sido
uma das teses que levaram Napoleão Bonaparte a ser
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quem foi, a governar como governou e a tornar-se imperador num contexto de triunfo republicano após o violento derrube da monarquia. Ernesto Ferrero, em “Lições de
Napoleão” (Teorema) ajuda-nos a compreender o pensamento político e estratégico do pequeno grande corso que
conseguiu dominar militarmente a Europa do seu tempo,
acabando por morrer tragicamente, envenenado ou não,
no agreste exílio da ilha de Santa Helena, nas mãos do
ingleses. Este livro ajuda-nos, seguindo o percurso e as
notas escritas por Napoleão, a compreender melhor a
natureza humana, as suas grandezas e vilezas, bem como
a arte de governar, de manipular e de gerir as vitórias e as
derrotas. Um livro recomendável para quem gosta de
História e para quem acredita que os grandes líderes
políticos deixaram indicações úteis para a gestão empresarial, entre outras.
Na mesma linha, mas com o peso e a sabedoria da
antiguidade, surge no mercado “Conselhos aos Políticos
para Bem Governar”(EuropaAmérica), do grego Plutarco, para
quem a filosofia e a política se
encontravam intimamente ligadas, sendo a primeira uma da
vida e do homem e a segunda a
sua concretização prática. Este
breve tratado foi escrito por
Plutarco para um amigo que pretendia fazer carreira como homem
de Estado. A pensar nele e nesse
desiderato, Plutarco alinhou um
conjunto de regras e de conselhos
práticos que se conservam actuais
e certeiros nos dias de hoje.
Da mesma editora é “A Filha do Partisan”, Lois
Bernières, uma engenhosa história de amor entre uma
mulher chamada Roza e um homem chamado Chris,
ambos unidos pela paixão de contar e ouvir contar
histórias. Refira-se que o autor já dera à estampa “O
Bandolim do Capitão Corelli”, distinguido com um importante prémio internacional em 1994 e adaptado com êxito
ao cinema.
“Gasolina”(Teorema) é um surpreendente romance de
Quim Monzó, apontado por alguns críticos como das
vozes mais interessantes da actual literatura europeia.
Nascido em Barcelona em 1952, o autor publicou dois
romances e várias colectâneas de contos, sendo apontado
como o mais original escritor catalão da sua geração. Este
livro surpreende-nos pela mestria da linguagem e pelo
domínio do processo narrativo, que envolve o leitor da
primeira à última página, sem quaisquer cedências à facilidade ou à previsibilidade.
O crítico, professor universitário e poeta Fernando
Pinto do Amaral acaba de se estrear na ficção na narrativa
como o romance “O Segredo de Leonardo Volpi” (D.
Quixote), para ler com atenção.
A brasileira Iza Salles acaba de
ver editado em Portugal o seu
romance biográfico “O Coração
do Rei” (Planeta), sobre a vida
breve e emocionante de D. Pedro
IV, primeiro imperador do Brasil,
obra justamente elogiada por
autores como Alberto Dines.
Realce ainda para “Charlotte
Simmons”(D. Quixote), considerado um dos grandes
romances do norte-americano
Tom Wolfe, sempre a não perder.
Outros títulos de ficção a
merecerem destaque e leitura
disponível e atenta: “A Mão Esquerda de Deus”( D.
Quixote), segundo romance de carácter histórico de Pedro
Almeida Vieira, “A Sul da Fronteira, a Oeste do Sol”, (Casa
das Letras), do japonês Haruki Murakami, “Fora de
Horas”(Oceanos), nova edição do romance de estreia do
diplomata Paulo Castilho, “Regresso a Barcelona” (Oficina
do Livro), de Luís Soares, “Alguém Como Tu”(Quinta
Essência), de Cathy Kelly, “Os
Naufrágios do Amor” (Oficina
do Livro), do jornalista Rui
Araújo, “Escrito na Pele”
(Oceanos), de Nafisa Haji, “O
Quarto dos Hóspedes”
(Oceanos), de Helen Garner, a
obra-prima “Dom Casmurro”(D.
Quixote), do clássico brasileiro
Machado de Assis, e “A
Vingança de Marcolina ou o
Último Duelo de Casanova”, de
José Sasportes. Propostas de
leitura de todos os géneros e para todos os gostos.
Destaque ainda para o excelente trabalho de investigação de Ernesto Rodrigues, prestigiado crítico, ensaísta e
professor universitário Ernesto Rodrigues, que lançou em
edição própria “”O Século” de Lopes de Mendonça: o
Primeiro Jornal Socialista”. !
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Boavida|Artes
Carlos Calvet em Lisboa
A Plenitude da Geometrização
A exposição que Carlos
Calvet apresenta na Galeria
Valbom, Lisboa, até 30 de
Junho, é tão inesperada
quanto original. Evoluindo,
aos 81 anos, para um
crescente esquematismo,
em busca de uma maior
simplificação, confirma-se
definitivamente como um
dos nomes mais
destacados da arte
contemporânea portuguesa.
Rodrigues Vaz
rquitecto que se dedica há mais de 50 anos à
pintura, desde o início ligado ao Grupo
Surrealista de Lisboa de Cesariny, em cuja
exposição de 1949 participou, a par de Mário
Cesariny de Vasconcelos e Cruzeiro Seixas, Carlos Calvet,
cuja influência do cubismo sintético de Braque e da pintura metafísica de Chirico é notória, tinha transitado,
muito recentemente, da geometrização da natureza morta
para a construção de um espaço ambíguo, mas só agora
avança com uma espécie de ruptura com a sua obra anterior, embora se continuem a notar vestígios dos
Metafísicos e da Pop Art.
Diz Jorge Listopad, cidadão português nado e criado
em Praga, Checoslováquia, que «a pintura de Carlos
Calvet é uma poesia de pedra, de pedras, para a qual há
vários nomes: luna, parque astral, religação sem dúvidas,
A
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meta-metafísica tantas vezes repetida, dita, como o
Castelo K.» Digamos, portanto, que desta nova fase do
Mestre se pode falar em plenitude, porque, como diz o
crítico, «A sua maneira é sempre concreta, e se algo falta
nessa concretude, esse algo é sonho, nostalgia, abstracção,
se quiseres, plenitude de novo, mas neste caso, plenitude
que deseja a totalidade que não tem. Não pode ter. Tem
mais do que isso.»
DE NADIR AFONSO A RAOUL DE KEYSER
Quem ainda há pouco reconheceu também que «a minha
sensibilidade evoluiu» foi Nadir Afonso, cujo conjunto de
trabalhos subordinado ao título “Século XXI” pode ser
visto até ao próximo dia 22 no Museu Municipal de
Coimbra.
Como diz o vereador municipal da cultura local, Mário
Nunes, «A sua obra é a afirmação de uma vida pautada,
sempre, pela procura incessante do Absoluto na Arte, da
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necessidade de no quadro colocar a forma exacta como
pedra de fecho. Arte que para o seu pensar é a chama que
lhe dá sentido à vida, é o ar que respira, que sustenta a
sua paixão irresistível pela pintura.»
Por sua vez, o Museu de Serralves, Porto, apresenta
“Obras inéditas de Raoul De Keyser”, 60 aguarelas realizadas entre 2001 e 2008, que complementam a visão
deste mestre belga dado a conhecer ao público português
numa notável exposição realizada neste mesmo local em
2005.
Ao longo de quase toda a sua carreira, Raoul De Keyser
(1930) alterou continuamente os parâmetros da sua pintura, renovando desse modo com regularidade o desafio
proposto pela sua obra. Como afirma Ulrich Loock, comissário da exposição, no texto que escreveu para o catálogo,
«os seus quadros são em geral determinados por uma
observação, localização ou situação específica, um precedente pictórico, ou um objecto retirado do seu meio próximo, que é depois assumido e consumido pela obra individual ou pelo grupo de obras no seu percurso em busca
de uma certa auto-suficiência.»
ARTE ROMENA NO MUSEU DO CHIADO
Sob o título “Cores da Vanguarda – Arte na Roménia 19101950” está o Museu do Chiado, Lisboa, a apresentar, por
seu lado, uma exposição promovida pelo incansável director do Instituto Cultural Romeno, Virgil Mihiau, abrangendo pela primeira vez um conjunto fundamental do desenvolvimento das vanguardas da pintura romena entre 1919
e 1950. Integram esta exposição 65 obras das mais significativas da história da arte romena provenientes de 10
museus nacionais, criteriosamente seleccionadas pelo
curador da exposição Erwin Kessler, dando assim continuidade e aprofundamento ao estreitamento do conhecimento da arte romena no nosso país e abrindo outros horizontes numa Europa comum fora das centralidades dominantes através de questões e problemáticas, que por vezes
se aproximam das que a nossa história conheceu.
A cultura romena é pouco conhecida do público português, ainda que de modo disperso alguns nomes sejam
familiares. Conhecemo-los muitas vezes pela divulgação
das suas obras em países mais próximos e esquecemos
injustamente a sua origem. Desde Tristan Tzara, criador
do dadaísmo, de Zurique e de Paris, a Mircea Eliade, que
entre nós viveu; da amizade e mútua admiração de
Amadeo de Souza-Cardoso e de Brancusi, à admiração
dos surrealistas portugueses por Victor Brauner são estes
apenas alguns exemplos dessas trocas e pequenos encontros, ecos e persistentes memórias entre dois países
meridionais, em extremos quase opostos da Europa.!
Composição de Nadir Afonso, aguarela
de Raoul De Keyser e uma das 60 obras
que integram a exposição de arte romena
no Museu do Chiado. Na página anterior,
Marinha simples, de Carlos Calvet
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Boavida|No Palco
A força da realidade
Até 10 de Maio, na Sala Experimental do Teatro Municipal de Almada, estará em cena “O Vendedor de
Elogios”, uma história que conta, por sua vez, muitas outras histórias e, sabe-se que quem conta um conto…
Maria Mesquita
uma pequena casa vivem duas pessoas: o
Carteiro, que é o dono, antigo polícia que agora
dedica a sua vida a abrir correspondência
alheia, fotocopiando as cartas para as ler e
coleccionar (nada de mais, para quem tem um passado
duvidoso), Leslie, jovem espertalhão, a quem algumas
famílias encomendam elogios fúnebres para que o passados dos seus falecidos são seja tão “negro” ou sórdido (algo
que é elaborado com tal perfeição que Leslie praticamente
inventa novas “vidas” aos defuntos). Miss Oona, namorada
de Leslie, empregada num bar de uma estação ferroviária,
costuma passar por lá frequentemente. Com isto tudo,
cada um acaba por imaginar situações que podem até nem
corresponder à realidade, mas muitas vezes, as pessoas
não querem ser lembradas só por aqueles motivos e há que
se fazer uma selecção à memória de todos.
No dia em que Leslie recebe uma encomenda para um
funeral, a vida aparentemente pacata destas personagens
muda. Com o início de uma perseguição, têm os três que
mudar o rumo dos seus destinos e trocarem as suas
histórias fantasiosas, que na verdade são as histórias de
outras pessoas.
A peça aborda uma questão que persegue Michel
Simonot no seu teatro: que responsabilidade é a nossa,
quando na nossa vida, na nossa profissão, pomos as nossas palavras na existência dos outros em vez de vivermos
por nós próprios?
N
Da autoria de José Maria Vieira Mendes, “Onde vamos
morar” é principalmente, uma história de perdidos e
achados, famílias desencontradas, onde tem lugar a distância e o perdão, onde os esquecidos retornam ao pensamento e onde os que estão longe voltam a estar próximo.
A trama pode parecer confusa, tantas são as personagens,
mas o destino é comum a todas elas: uma cidade que fica
deserta quando cai a noite, uma família desavinda, um
comboio que vai e vem sem saber para onde vai, partidas
e abandonos, num local onde nem as ruas parecem ser as
mesmas.
No meio do escuro em que tudo parece ficar e da
solidão, a qual entra por vezes em nossas casas sem pedir
permissão para tal, a morte costuma ser um pensamento
banal e recorrente, extinguem-se laços antigos e restam os
segredos que se querem manter escondidos e as palavras
que já não se conseguem pronunciar.
FICHA TÉCNICA: Autoria: José Maria Vieira Mendes;
Interpretação: Andreia Bento, Cecília Henriques, Pedro
Carmo, Pedro Gil, Pedro Lacerda, Sérgio Godinho e Sílvia
Filipe; Cenografia e Figurinos: Rita Lopes Alves; Luz: Pedro
Domingos; Encenação: Jorge Silva Melo; Assistência de
encenação: Luís Godinho; Co-produção: São Luiz Teatro
Municipal/Artistas Unidos " Datas: No Teatro Municipal de
Portimão a 2 e 3 de Maio; No Teatro Viriato (Viseu) a 8 e 9 de
Maio; No Centro Cultural Olga Cadaval (Sintra) a 15 de Maio;
No Teatro Virgínia (Torres Novas) a 16 de Maio; No Teatro Gil
Vicente (Coimbra) a 19 de Maio; No Teatro de Vila Real a 23
de Maio; No Teatro Municipal da Guarda a 29 de Maio; No
FICHA TÉCNICA: Autor e encenador: Michel Simonot;
Fórum Municipal Romeu Correia (Almada) a 30 e 31 de Maio;
Intérpretes Alberto Quaresma, Bernardo de Almeida, Andreza
No Porto (Fitei/TNSJ) a 3 de Junho.
Soares; Tradução José Martins; Cenário Jean-Guy Lecat; Luz
José Carlos Nascimento; Produção Teatro Municipal de
Almada
A MENINA JÚLIA
“ONDE VAMOS MORAR”
Durante todo o mês de Maio, os Artistas Unidos vão estar
em digressão com a peça “Onde vamos morar”. Um itinerário que começa em Portimão e termina no Porto. Em
cena, uma vez mais, o tema “família”, com a participação
especial de Sérgio Godinho.
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“A Menina Júlia”, de Strindberg, fala-nos de uma história
de amor aparentemente simples que se transforma numa
série de intrigas e derrotas. Em cena, até 24 de Maio, no
TNDMII.
Júlia, a chamada “menina” Júlia, filha de um importante senhor, decide não acompanhar o pai a uma visita a
casa de parentes, após ter-se quebrado o seu noivado, e
resolve passar a noite mais curta do ano, a de São João, na
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“A Falecida Vapt-Vupt”, para ver no palco do Teatro
Nacional de São João, onde o mundo real se torna na
única coisa que nos pode levar mais longe.
Antunes Filho é um dos mais respeitados encenadores
brasileiros do último século. Poucos foram os actores e
actrizes que não tiveram oportunidade de com ele trabalhar
em inúmeras peças que resultaram invariavelmente em
enormes sucessos. Agora, no Teatro Nacional de São João,
Antunes Filho traz-nos dois trabalhos. O primeiro, A
Falecida Vapt-Vupt resulta na mistura de vários cenários e
ambientes temporais, nos quais uma mulher tuberculosa,
que sabe estar a morrer, tenta reparar alguns dos males da
sua vida com um funeral de luxo. Até ao desenlace, esta
personagem irá ter que atravessar um sem-número de outras vivências, de vários quotidianos, de, por sua vez, variadas pessoas de uma grande cidade modernizada, onde
dominam os telemóveis, os computadores, a internet, os
blogues, os noticiários, a violência gratuita, a novela e o
mediatismo desenfreado. Numa altura em que tudo é considerado “notícias de ontem”, velho e ultrapassável, esta
encenação é a matéria-prima exacta para um ensaio sobre a
vida contemporânea, as suas velocidades e interferências.
FICHA TÉCNICA: Autoria: Nelson Rodrigues; Encenação:
Beatriz Batarda em “A Menina Júlia”
Antunes Filho; Cenografia e figurinos: Rosângela Ribeiro;
Desenho de luz: Davi de Brito; Sonoplastia: Raul Teixeira;
propriedade da família na companhia dos criados, que
estão em celebração pela festa do santo. Durante o baile, o
inevitável acontece e Júlia inicia uma relação brusca, pautada pela diferença hierárquica e social, com João, um dos
serventes, que está noivo de Cristina, a cozinheira da casa.
O resultado desta aproximação não poderia ser mais
óbvio: Júlia, com todos os seus recalques de menina de
boas famílias, fina-flor, sente-se absolutamente atraída
pelo homem mais “impróprio” possível, e é correspondida.
Moral da história: nem todas as pessoas são objectos
adquiríveis…
FICHA TÉCNICA: Autor: August Strindberg; Tradução: Augusto
Sobral; Encenação: Rui Mendes; Cenografia: Manuel Amado e
Interpretação: Adriano Bolshi, Andrell Lopes, Angélica
Colombo, Bruna Anauate, Eloisa Costa, Erick Gallani, Fred
Mesquita, Geraldo Mário, João Paulo, Lee Thalor, Marco Biglia,
Marcos de Andrade, Michelle Boesche, Tatiana Lenna, Ygor
Fiori; Co-produção: CPT – Centro de Pesquisa Teatral, Grupo
de Teatro Macunaíma (São Paulo, Brasil)
“PORTO EM DIRECTO”
Uma criação colectiva que fala da cidade do Porto e das
pessoas que a habitam, como se fosse um programa de
televisão. Sete actores, 70 personagens, 44 situações, 20
canções e 100 minutos cheios de humor. “Falamos da
nossa Cidade, amamos a nossa Cidade, cantamos a nossa
Cidade”. Este é mais um espectáculo sobre o Porto!
Ana Paula Rocha; Figurinos: Ana Paula Rocha Luz: Carlos
Gonçalves; Música: Rui Rebelo; Interpretação: Beatriz Batarda,
FICHA TÉCNICA: Autores: Criação Colectiva, coordenada por
Albano Jerónimo e Isabel Abreu; Figurantes: Ana Gil, Bruno
Claudio Hochman e Ricardo Alves; Direcção / Encenação:
Gonçalves, Nuno Nolasco, Raimundo Cosme, Regina Gaspar e
Claudio Hochman; Música: Carlos Azevedo; Figurinos:
Teresa Athayde; Assistência de encenação: Maria Arriaga;
Catarina Marques; Cenografia: Sandra Neves; Desenho de
Produção: TNDMII
Luz: Júlio Filipe Elenco: Adriana Faria, Alexandra Calado,
Cristina Cardoso, Joana Duarte Silva, Jorge Loureiro, Nuno
“A FALECIDA VAPT-VUPT”
Preto e Rui Pena. Até 30 de Junho, no Teatro do Campo
Até 24 de Maio, uma nova interpretação da peça brasileira
Alegre. Horários: de 3ª a Sábado – 21H45; Domingo – 16H00.
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Boavida|Cinema em casa
Maio em Cannes
Sérgio Alves
orque é Maio, o mês do consagrado ao Festival
de Cannes, cuja 62 ª edição tem início no próximo dia 13 - com a exibição de Up, a ilustrar a
crescente importância da animação no actual
panorama cinematográfico – seleccionamos alguns dos
P
filmes que marcaram o festival 2008. Casos de “A Turma”,
vencedor da Palma de Ouro, de “Ensaio sobre a Cegueira”,
que abriu o certame, e “Eu quero Ver”, exibido na secção
paralela Un Certain Regard. A completar esta selecção de
Maio, assinala-se o regresso do espião mais famoso do
mundo: James Bond em “Quantum of Solace”.
A TURMA
Rabah Naït Oufella; França,
Meirelles; COM: Julianne
QUANTUM OF SOLACE
A Turma é a história de um
128m, cor, 2008; EDIÇÃO: Midas
Moore, Mark Ruffalo, Gael
Quantum of Solace começa
professor que se prepara
Filmes
García Bernal, Danny Glover
onde havia terminado o últi-
e Alice Braga; Canadá/Brasil
mo filme (Casino Royale) com
Bond em busca da verdade
para um novo ano escolar no
liceu de um
ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA
/Japão, 120m, cor, 2008;
bairro dos su-
Ensaio sobre a Cegueira, a
EDIÇÃO:
búrbios de
mais recente adaptação ao
Multimédia
Paris onde os
cinema da obra de José
alunos de ori-
Saramago (depois de A
EU QUERO VER
afinal envolvi-
gens e culturas
Jangada de Pedra) abriu
Julho de 2006. Israel lança
da com uma
diferentes coexistem. O dis-
Festival de Cannes 2008.
uma ofensiva militar no Sul
cente insiste numa atmosfera
Dirigido pelo brasileiro
do Líbano. Uns meses depois
nização internacional que o
de respeito e empenho mas
Fernando Meirelles (A Cidade
a actriz francesa Catherine
quer eliminar. Pelos cenários
os alunos começam a desafi-
de Deus e o Fiel Jardineiro), o
Deneuve chega a Beirute para
reais de Itália, Áustria e
ar os seus métodos e apesar
filme é um thriller poderoso
assistir a uma
Bolívia, num ritmo aluci-
de divertidos. Resultado de
que narra a chegada de uma
gala de soli-
nante, um 007 distante da
um ano de preparação com
praga misteriosa de cegueira
dariedade.
força e charme do original
um grupo de alunos de uma
que ameaça a humanidade.
!"#$%&'!()!*#+,'
*&,!**#&-+"&.
2
PALMA DE OURO - CANNES 2008
a turma
entre les murs
Castello Lopes
sobre a morte
!"#$%"&#'&#()*+&,-#.),-&-
.$5" 8&
('3-%$"
da namorada,
Vesper Lynd,
8& &96%$"
!"#$%&"'())*'+',-.&$/0-'1$%$'.&23-%'452.&'&"6%$,7&5%-
poderosa orga-
Apesar do
Sean Connery, persegue, na
escola de Paris e um actor
Os primeiros a
horário apertado
companhia da bela Camille,
escolhido para o papel do
serem infectados
e da viagem
os membros da poderosa
professor, o filme de Laurent
são colocados
perigosa, inicia uma viagem
organização inimiga.
Cantet, registou, em jeito de
num hospital
pelo Sul do Líbano para ver
É o segundo filme da série 007,
falso documentário, o ambi-
abandonado em
com os seus próprios olhos.
com o actor britânico Daniel
ente de uma sala de aula
quarentena. A
Pela mão do actor libanês
Craig no papel de protagonista,
com todos os conflitos da
única pessoa que consegue
Rabih Mroué a actriz de Belle
assinado pelo alemão Mark
escola francesa contem-
ver é uma mulher que finge
de Jour embarca numa
Forster (Monster`s Ball -
porânea. “A Turma” recebeu
ser atingida pela epidemia
viagem surpreendente. É o
Depois do Ódio).
a Palma de Ouro, do Festival
para poder estar com o seu
olhar do cinema sobre a
TÍTULO ORIGINAL:
da Cinema de Cannes de
marido enquanto lá fora reina
destruição e o sofrimento no
Solace; REALIZAÇÃO: Marc
2008 e foi o pretexto para
o caos.
Médio Oriente.
um amplo debate sobre o
O filme integra um elenco de
TÍTULO ORIGINAL:
papel do professor e do
peso - Julianne Moore, Mark
REALIZAÇÃO:
aluno na escola de hoje.
Ruffalo Danny Glover e Gael
Hadjithomas e Khalil Joreige;
TÍTULO ORIGINAL: Entre
Garcia Bernal – na recriação
COM:
Murs ; REALIZAÇÃO: Laurent
de uma das obras marcantes
Rahib Mroué; França/Líbano,
Cantet; COM: François
do Nobel português.
75m, cor, 2008; EDIÇÃO:
Bégaudeau, Lucie Landrevie,
TÍTULO ORIGINAL:
Agame Malembo-Emene e
REALIZAÇÃO:
64
TempoLivre
| MAIO 2009
Les
Blindness;
Fernando
Forster; COM: Daniel Craig,
Je Veux Voir;
Joana
Catherine Deneuve,
Atalanta Filmes
Quantum of
Judi Dench, Olga Kurylenko,
Mathieu Amalric; EUA/GB,
106m, cor, 2008; EDIÇÃO:
Castello Lopes Multimédia
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Boavida|Grande Ecrã
Um retrato de família
Depois do belo “Esther Kahn”, e de “Reis e Rainha”, uma alegre e comovente fábula de tensão
existencial entre uma mulher e o seu marido, Arnaud Desplechin (o mais singular dos realizadores
franceses dos anos 90, intransigentemente fiel a si próprio) regressa em força com uma impressionante
história centrada no microcosmo familiar.
Joaquim Diabinho
m Conto de Natal”, é o relato de acontecimentos na vida de uma família desestruturada que ao longo de várias celebrações do
natal se confrontam com as mágoas do passado pela morte por doença degenerativa de um dos filhos.
Anos depois, a mesma doença manifesta-se na mãe e a
transfusão da medula volta a reunir a família para se
encontrar o dador – que será o filho “rebelde” ou o neto
que sofre de perturbações mentais.
O mérito maior de Arnaud Desplechin reside numa
livre construção narrativa, na capacidade genial de criar
atmosferas, enveredando pela comédia e o drama, aplicando vários estilos e cadências ao ritmo, experimentando
outras abordagens, trabalhando diálogos informais, visualizando fantasias, sem temor de desafiar hábitos e ideias
dominantes. Arnaud Desplechin tem a consciência dos
seus limites, e até a acção dramática é acompanhada por
uma banda sonora a sublimar um momento particular e a
remeter, em jeito de homenagem, para a memória do cinema clássico. Tudo em Desplechin tem o toque cinéfilo mesmo se não suspeitamos que Bergman, Hitchcock e
“
U
Truffaut foram “convocados” como referências, eles
andam por lá – ou do gosto literário.
“Um Conto de Natal” é, ainda, um filme brilhante
sobre a natureza humana: que não resvala para a melancolia lamecha, onde familiares não dissimulam a sua
condição de seres mais ou menos fragilizados, face à
tragédia ou à morte; alegres ou tristes com os (des) afectos, irascíveis com as frustrações ou bem dispostos com o
humor ou jocosidade, sem escamotear outros expedientes
seculares como a inveja ou a raiva.
Pese a sua longa duração de duas horas e meia, “Um
Conto de Natal” é um filme excelentemente ritmado e
visualmente muito belo com excelentes composições de
Catherine Deneuve, Jean-Paul Roussillon, Anne Consigny,
Mathieu Amalric, Chiara Mastroianni, entre outros.
Em jeito de apelo: escapemos, uma vez que seja, às
futilidades que inundam o circuito comercial e entreguemo-nos com prazer à genialidade de Arnaud Desplechin. !
UM CONTO DE NATAL / UN CONTE DE NOËL
de Arnaud Desplechin
(França, 2008 | 2h30 ) com Catherine Deneuve, Jean-Paul
Roussillon, Anne Consigny, Mathieu Amalric, Chiara
Mastroianni, etc. (Estreia: 7 de Maio)
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Boavida|Músicas
“Pet Shop Boys” – Uma forma
superior de música pop
Ao cabo de 28 anos de existência, os “Pet Shop Boys” acabam de lançar um novo CD. “Yes” é o título
genérico deste disco que merece a nossa atenção.
Vítor Ribeiro
eil Tennant e Chris Lowe constituem este duo
com longevidade rara, que integrou a vanguarda da transformação operada na música pop
durante a década de 80 do século passado. Um
pouco ao contrário da generalidade da música rock, irreverente, contestatária, “agressiva”, a música pop foi-se caracterizando pela “leveza” da
forma e do conteúdo, assim
preenchendo, com mais eficácia do que aquela, os interesses comerciais da indústria
discográfica.
Os “Pet Shop Boys”, porém,
têm contribuído para elevar a música pop a um patamar
superior, designadamente ao abordarem com alguma
minúcia a realidade e assim estabelecerem laços de identificação com quem os ouve.
A título de exemplo, eis as palavras iniciais do tema
“Bulding a wall”, que integra o novo álbum: “Protection
/Prevention/Detection/Detention (…) I`m building a
wall/a fine wall/not so much to keep you out/more to
keep me in”.
Não é fácil descrever o Mundo actual em tão poucas
palavras: constroem-se muros no Médio Oriente, nas favelas do Brasil, nos condomínios de luxo das capitais
europeias…
Resta acrescentar que “Yes” foi produzido pela
“Xenomania” e que os “Pet Shop Boys” foram recentemente galardoados com o prémio “Outstanding
Contribution To Music”, no âmbito da atribuição dos Brit
Awards.
N
“GOTA D`ÁGUA” EM PORTUGAL
“Gota d`Água” é o título do espectáculo musical de Chico
Buarque de Holanda e Paulo Pontes, com encenação de
João Fonseca e que estará em Maio em várias salas do País.
A saber, dia 1, em Guimarães, no CCVF, entre os dias 6
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TempoLivre
| MAIO 2009
e 9, em Lisboa, no CCB, dia 13, nas Caldas da Rainha, no
CCC, dia 15, em Estarreja, no Cine-Teatro, dia 16, na
Figueira da Foz, no CAE, no dia 20, no Porto, no Coliseu e
no dia 23, em Faro, no Teatro das Figuras.
MÚSICA E DANÇA DE CUBA NO PORTO E LISBOA
O espectáculo de música e dança cubana “Pasión de
Buena Vista” estará no Coliseu do Porto dia 26 de Maio e
no de Lisboa no dia seguinte.
“Pasión de Buena Vista” vem a Portugal quase no final
de uma digressão europeia que envolve 38 espectáculos
em 31 cidades de 19 países.
Este espectáculo, que dura cerca de 90 minutos, conta
com oito bailarinos do grupo “Tropicana”, os grupos “La
Idea”, com onze músicos e três cantores de apoio (dirigidos por António Castro), e os três cantores dos
“Compaeros de Buena”, assim como um vasto guardaroupa com trajes únicos.
Os grupos de música e dança mostrarão em palco os
estilos tradicionais de Cuba, nomeadamente o “Son
Cubano”, um dos mais populares, inventado nos anos 20
pelos trabalhadores dos campos de cana de açúcar, e que
mais tarde veio dar origem à moderna “Salsa”. !
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Boavida|Saúde
Depressão no idoso – um outro caso
No número anterior desta revista contei a história da Sra. M. J., de 71 anos, e da maneira
como ela reagiu à perda do conjugue, abordando o tema da depressão no idoso como resposta ao luto.
Hoje proponho-me evocar um outro caso.
M. Augusta Drago
medicofamí[email protected]
rata-se de um homem de 73 anos que viveu toda a
sua vida na periferia da grande cidade, numa zona
industrial, na qual trabalhou até à reforma, há
cerca de 10 anos. Gostava muito do seu emprego
como mecânico de automóveis, trabalhou desde rapazola,
progrediu dentro da empresa e chegou a encarregado da
oficina. Só aquele acidente que lhe roubou a força do braço
direito é que o fez meter os papéis para a reforma
mais cedo…
Logo aí a sua situação de saúde piorou.
Sentia-se e dizia a toda a gente que era
um inválido, que já não prestava para
nada…Sentava-se no sofá e aí ficava o
dia inteiro a ver televisão e, por fim,
nem mesmo cuidava de si – ficava todo o
dia em pijama e arrastava os chinelos pela
casa.
Quando a mulher faleceu, meteu-se na cama e recusava
qualquer comida, só dizia que queria morrer. Foi aí que o vi
pela primeira vez. O exame físico, as análises e outros
exames feitos na altura não revelaram alterações significativas. Conversámos e tentei convencê-lo a ir a uma consulta
de Psiquiatria. Recusou. Só as súplicas da filha o convenceram a consultar o psiquiatra e dessa consulta veio, como eu
esperava, com o diagnóstico de depressão grave.
Ninguém o convenceu a tomar a medicação, dizia que
nunca na sua vida tinha tomado medicamentos e não era
então que o ia fazer…
Acontece com muitas pessoa quando chegam à idade
avançada. Têm na sua bagagem afectiva uma imensa dor
acumulada pelas múltiplas perdas que sofreram ao longo da
vida. A tristeza e a saudade que sentem pelos familiares e
amigos que viram partir empurra-os para uma negação a
tudo, para um isolamento físico e social, que não é mais do
que a depressão enquanto doença.
A fronteira entre o normal e o patológico nem sempre é
fácil de estabelecer. O luto, ou seja a dor sentida pela perda
de um ser ou objecto querido, é uma reacção natural e varia
muito de pessoa para pessoa. Devemos estar atentos aos
nossos idosos e se esse período tem tendência para se pro-
T
ANDRÉ LETRIA
longar para além do tempo razoável e se, concomitantemente, surgirem outros sintomas físicos ou psicológicos, é
tempo de procurar ajuda.
Os sintomas físicos que surgem com a idade tais como
maior vulnerabilidade à doença, menor resistência física,
menor capacidade de adaptação a situações novas, alterações motoras, défices visuais, auditivos e cognitivos, não
são sobreponíveis a um quadro clínico de depressão, mas
contribuem para o seu aparecimento.
O facto dos idosos sofrerem de várias patologias
e estarem polimedicados também pode contribuir para o surgimento de um quadro
depressivo, uma vez que alguns
medicamentos têm esse efeito adverso, assim como algumas associações
medicamentosas.
O risco de um idoso vir a sofrer de
depressão vai para além dos lutos e acontece também quando lhe é diagnosticada uma
doença maligna ou incapacitante, como por exemplo a
artrite reumatóide. Quando o idoso se apercebe de que a
sua vida fica ainda mais limitada reage, recolhendo-se na
sua solidão e isolando-se.
É preciso não confundir velhice com depressão. Existem
muitos idosos que respondem positivamente às partidas
que os anos lhes pregam…Temos que evitar o isolamento
físico e social dos mais idosos, bem como tratar as diversas
patologias que vão surgindo naturalmente. É muito importante manter as pessoas idosas com as suas actividades
sempre que possível e, quando necessário, com as devidas
adaptações.
A depressão nos mais velhos nem sempre é reconhecida
porque se mascara de queixas somáticas, tais como a perda
de apetite ou a dificuldade em dormir…O diagnóstico nem
sempre é fácil, e se para as queixas somáticas existir uma justificação fisiológica, a depressão pode passar despercebida.
Apesar de hoje em dia a medicina dispor de medicamentos antidepressivos muito mais eficazes e com menos
efeitos indesejáveis do que há alguns anos, e que inclusivamente são mais fáceis de administra e de controlar, continuamos a ter por todo o mundo idosos que sofrem de
depressão e que não se encontram medicados.!
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Boavida|Tempo informático
Sempre a
melhorar
Uma tecnologia que se
desenvolve pelos seus
próprios meios como é o
caso da Informática, tanto
em Hardware como
Software, não pára de nos
servir cada vez com maiores
capacidades e comodidade.
Haja algo que nos maravilha
num mundo tão cinzento.
Gil Montalverne
[email protected]
o que acontece com os já aqui referidos Leitores
Multimédia ou MediaPlayers, discos externos
com ligação USB, de imediato reconhecidos
pelos computadores. Neles armazenamos tudo o
que é multimédia, filmes, fotografias e músicas. Depois,
ligados ao televisor sem a necessidade da presença de um
PC, reproduzimos o que lá está com grande qualidade.
Podem colocar-se os filmes dos nossos DVDs preferidos.
Com capacidades entre 500 Gigas e 1 Terabyte, 500 Gigas
é espaço suficiente para mil horas de vídeo em MPEG ou
6.300 horas de áudio MP3 ou 250.000 fotos de 5 megapixeis, tudo isto a ser visionado independentemente do PC,
como dissemos, num televisor ou ouvido num sistema de
áudio de sala. Mas para tudo isto, e muito mais, existe
agora o Conceptronic CM3PVRD da série Grab’n’GO que
grava filmes e programas de televisão no disco rígido
incorporado através do sintonizador de TV, servindo-se do
televisor para a respectiva configuração. Com comando
infravermelhos, pode programar-se para gravar como se
faz com qualquer leitor-gravador de vídeo de sala. E pode
igualmente gravar directamente de um leitor de DVD ou
de cassetes (VCR), de uma set-top box ou câmara de vídeo
através das várias entradas de sinal: cabo (TV híbrido),
vídeo composto fichas RCA, USB ou cartões de memória.
Qualidade de gravação entre HQ, SP e LP. A Conceptronic
tem Também actualmente um modelo excepcional de
É
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TempoLivre
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Leitor Multimédia, o FULLHDMAi, que é estado de arte
para alta definição permitindo gravar directamente da
Internet, através de uma ligação de rede, a qualidade dos
filmes de BitTorrent.
GRANDE MELHORAMENTO é tam-
bém o software de antivirus especial para os jogos, nomeadamente
para quem joga on-line. O Norton
Antivirus 2009 Gaming Edition é a
protecção mais eficaz e rápida
conseguida até hoje. Instala-se rapidamente (47”), ocupa muito
pouca memória (5,3Mb), pouco
espaço no disco (49,7Mb), rápido
scan (52”) e como quem está a jogar não gosta de ser incomodado, consegue protecção total sem abrandar o desempenho do PC. Rápidas actualizações cada 5-15 minutos
são feitas em absoluto silêncio. Para 3 PCs por 44 E.
MELHORAR o desempenho do PC
eliminando megabytes de lixo
que por lá existe é uma tarefa
fácil para um software gratuito na
Internet e em português. Para ter
o Crop Cleaner escreva no Google Ccleaner faça o
download e instale. Tudo lá está explicado sobre as
opções a escolher.
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Boavida|Ao volante
Knight Xv: o novo
cavaleiro das estradas
A boa notícia é que este carro é "amigo do ambiente" por poder funcionar com biocombustível. A má
notícia é que este carro custa o equivalente a quatro Hummers.
Carlos Blanco
penas 100 exemplares deste "cavaleiro" das
estradas estarão disponíveis a partir de 232 mil
euros. O Knight XV, com os seus seis metros de
comprimento, faz o Hummer parecer uma
miniatura.
O conforto interior é igual ao de um salão "lá de casa".
Os extras tornam o Knight único, como se não bastassem
as características de segurança e defesa de que está dotado. É o ego elevado à máxima potência.
As suas dimensões dizem tudo: seis metros de comprimento, com 3,75 m de entre-eixos, 2,48 m de largura e
expressivos 2,54 m de altura.
A blindagem materializa-se em vidros de 6,4 cm de
espessura (que suportam tiros de metralhadora), além de
materiais compostos, como aramida, kevlar, aço de alta
resistência e alumínio balístico. Até os pneus são blindados radiais de uso misto, Mickey Thompson Baja - e podem continuar a rodar mesmo após terem sido atingidos. As rodas,
feitas de alumínio forjado, têm aro 20. O motor é um V10 de
6.8 litros, capaz de gerar 405 cavalos de potência, ecológico e
com sistema flex. O Knight XV pesa 4.500 quilos. A
blindagem de alto nível abrange toda a carroçaria, inclusive
nos pára-choques, pneus e rodas.
A
SISTEMAS DE SEGURANÇA
Câmaras capazes de captar imagens térmicas na frente e
na traseira. Este dispositivo assinala, através da detecção
do calor emitido, imagens mais nítidas que um sistema
infravermelho tradicional.
A circulação do ar pode ser interrompida, accionando
cilindros de oxigénio no porta -bagagens. Pode ser equipado com geradores de fumo, nas laterais e na traseira.
Detector anti-bombas na parte inferior do veículo, que
funciona em conjunto com o arranque do motor por meio
de controlo remoto.
OUTRAS CARACTERÍSTICAS
Depósito de combustível de 151 litros. Possui tracção às
quatro rodas de accionamento electrónico por meio de um
botão giratório no painel. Telas de cristal líquido e DVD.
Mesinhas para laptop. PlayStation3. Monitores de televisão. Frigobar e humidificador de charutos. Cortinas eléctricas nas portas e janelas. Câmara para auxiliar na marcha-atrás, visão nocturna, dois tectos solares blindados.
Bancos eléctricos em couro, carpetes de lã de luxo, iluminação interna de LEDs e até uma PlayStation3!
Segundo o fabricante, o Knight XV tem no seu interior
tanto espaço que cabem seis jogadores de basquetebol.
Com produção limitada, o carro é feito à mão e leva 1.500
horas de trabalho para ficar pronto. Fabricado pela empresa canadiana, Conquest, o Knight XV é um "utilitário"
blindado baseado no veículo militar Gurkha, utilizado
pelo exército norte-americano. Um veículo do outro
Mundo que nunca deverá chegar a Portugal, já que a sua
reduzida produção, aliada ao seu elevado preço tornam
praticamente inviável a sua aquisição. !
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Boavida|As Palavras da lei
Avaliação de bens
em partilha judicial
Um mediador de seguros fez uma doação
?
do seu negócio a um dos filhos, talvez há
mais de 20 anos.
Entretanto faleceu e foi requerido inventário
judicial para partilhar os bens deixados, entre os
vários filhos, que não se entendem. Ora, entre
outros problemas, põe-se a questão de saber
qual o valor do negócio de mediação (carteira
de clientes e valor da clientela, rendimentos,
etc.) doado àquele filho, para que os outros
filhos não fiquem prejudicados. Como se pode
e/ou quem poderá fazer esta avaliação?
Sócio devidamente identificado - Pombal
Pedro Baptista-Bastos
um processo de Inventário, é o cabeça-de-casal
que tem que no requerimento de inventário e
nas declarações que prestar em Tribunal, apresentar a relação de bens e o respectivo valor,
nos termos dos artigos 1345º e 1346º do Código de
Processo Civil.
Os restantes interessados na herança são notificados
para se pronunciarem contra ou a favor dessa relação de
bens em 10 dias, nos termos do artigo 1348º do Código de
Processo Civil. Se reclamarem, os interessados fá-lo-ão
com base na falta de bens que deveriam integrar a partilha, na exclusão de bens que foram indevidamente relacionados e que não deviam integrar a partilha, ou arguindo quaisquer outras inexactidões na descrição dos bens,
que sejam relevantes para a partilha, o que nos parece ser
este o caso. E, se considerarmos esta curiosa situação,
muitas são as interrogações que se levantam, na avaliação
deste negócio, e que foram levantadas pelo nosso leitor.
Nestes casos, bem como noutros semelhantes – a avaliação de obras-de-arte, por exemplo – o Tribunal opta por
suspender o processo, dada a complexidade da matéria de
facto, e, grosso modo, pede para que sejam as partes a
determinarem uma solução para a resolução da questão
controvertida que deve ser resolvida. É o que nos diz o nº
N
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1 do artigo 1350º, juntamente com o nº 2 do artigo 1336º
do C.P.Civil. A lei determina esta solução, porque entende
que o Juiz não estará imediatamente preparado para
prosseguir com o processo, devendo os interessados
lançar mão de uma expressão curiosa: “…o juiz abstém-se
de decidir e remete os interessados para os meios
comuns.” Que pretende a lei dizer com isto?
A solução que a lei determina é a de se lançar mão de
um meio que já ouviram: o da avaliação por peritos.
Se houver uma situação como a descrita, em que exista
a incapacidade do Juiz determinar o valor de um bem na
relação, e em que cabeça-de-casal e interessados não
sabem, ou não se entendem sobre o valor do bem, lançase mão de um meio dispendioso, mas objectivo: a avaliação pericial, prevista nos artigos 568º a 591º, do C.P.C..
Quer a parte, quer o Tribunal, poderá indicar os peritos –
até ao número de três, se a matéria for complexa, ou a
parte os requerer, nos termos do nº 1 do art. 569º C.P.C. –
indicando-se o objecto e as questões de facto a serem
resolvidas na perícia. O Juiz designa a data e local da perícia, e estes realizam um relatório pericial, devidamente
fundado, sobre o objecto em causa – art. 586º C.P.C.; as
partes podem reclamar da perícia, e até requerer uma
outra perícia, após o que o Tribunal decidirá. !
ANDRÉ LETRIA
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ClubeTempoLivre > Passatempos
Xadrez | por Joaquim Durão
A posição verificou-se na 7ª partida do “match” Boris SpasskyVictor Korchnoi, disputado em Kiev, em Setembro de 1968, em
que o primeiro ganhou por 6,5-3,5.
SÃO AS BRANCAS A JOGAR QUAL O MELHOR LANCE?
SOLUÇÕES
O melhor lance é aquele com que se ganha mais rapidamente.
1. Dh6+! Rxh6 (se 1…. Rg8 2. Tc8+ Tf8 3. Txf8++) 2. Th1++.
Voltamos a não enunciar a quantidade de lances para se chegar
ao mate, para não dar pistas evidentes aos leitores. Repare-se
que é falso 1. Th1+? Rg8 2. Dh6??... com mate à vista… mas
para o adversário 2…. Dd3+ 3. Rh1 Cc2+ 4.Rb1 Ca3+ 5. Ra1
Db1+ 6. Txb1 Cc2++. Um exemplo de que a ordem dos
factores de mate… não é arbitrária.
Ambos tiveram uma vida atribulada devido à Guerra Mundial de
1939/45. Akiba Rubinstein (Stawiski, Polónia, 12.10.1882 –
Bruxelas, 14.03.1961), judeu foragido ao Holocausto, e o russo
naturalizado francês, Alexandre Alekhine (Moscovo, 18.10.1892
– Estoril, 23.03.1946), campeão mundial (1927-35 e 1937-46),
foram dois dos maiores xadrezistas do seu tempo.
No campeonato da Rússia de 1912, disputado em Vilnius (actual
Lituânia), o primeiro, com pretas, bate o futuro campeão do
Mundo, com a Defesa Aberta contra a abertura Ruy Lopez ou
Espanhola.
1. e4 e5 2. Cf3 Cc6 3. Bb5 a6 4. Ba4 Cf6 5. 0-0 Cxe4 (Hoje vê-se
mais a Defesa Fechada 5. Be7) 6. d4 b5 7. Bb3 d5 8. dxe5 Be6 9.
c3 Be7 10. Cbd2 Cc5 11. Bc2 Bg4 12. h3 (Hoje prefere-se 12. Te1
0-0 13. Cf1 Te8 14.h3 Bh5 15. Cg3 Bg6 e as ramificações que
seguem têm tendência a favorecer as brancas) Bh5; 13. De1 Ce6
14. Ch2 (Pretendendo um ataque à baioneta – com os peões – na
ala do rei, via f4 e g4) Bg6! (Defender o Bc2 com 15. Dd1 era uma
humilhante perda de tempo, pelo que a troca se pode considerar
forçada) 15. Bxg6 fxg6!! (Esta é que é uma grande e lúcida
decisão, pois o habitual nestes casos é hxg6, abrindo a coluna “h”
sobre o roque, Rubinstein entendeu bem que a coluna “f” aberta
é mais importante) 16. Cb3 g5! 17. Be3 0-0 18. Cf3 (Melhor teria
sido 18. De2 Cxe5 19. Bxg5 Cxg5 20. Dxe5 Dd6 21. Cg4) Dd7
(Mais forte foi considerada a continuação 18…., Txf3 19. Gxf3
Cxe5 20. De2 Bd6 21. Cd4 com compensação pelo sacrifício da
“qualidade”) 19. Dd2 Txf3! 20. gxf3 Cxe5 21. De2 Tf8 22. Cd2
Cg6 (O salto e sustentação de um cavalo em “f4” é decisivo) 23.
Tfe1 Bd6 24. f4 Cexf4 25. Df1 Cxh3+ 26. Rh1 g4 27. De2 Df5 e as
brancas abandonam (Df5-h5 é fatal).
Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos
N.º 5
Preencha a grelha com os
algarismos de 1 a 9 sem
que nenhum deles se
repita em cada linha,
coluna ou quadrado
N.º 5 SOLUÇÕES
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Palavras Cruzadas | por José Lattas
Verticais: 1-Glóbulo calcário, nacarado, produzido por certos lamelibrânquios, especialmente pelas ostras perlíferas; Queridos. 2-Astanino
(s.q.); Preposição em e artigo definido a. 3-Instrumento musical, de
sopro, de forma ovóide e timbre semelhante ao da flauta. 4-Comparecer;
Fruto silvestre; Nota musical. 5-Hora canónica; Dama de companhia;
Decifrar. 6-A parte imaterial do ser humano; Terreno cheio de árvores
silvestres. 7-Portas (fig.); O m. q. Ameba (pl.). 8-Interjeição de pancada;
Sapo do Amazonas. 9-Dispõe em camadas; Peça, geralmente de loiça,
em que se come ou se servem iguarias (pl.). 10-Gira; Raspa. 11-Estime;
Antigo navio de vela, de guerra ou mercante; Grande quantidade. 12Maléfica; Amarrara; Divindade solar, dos antigos egípcios. 13Determinou a valia ou o valor de. 14-Antemeridiano (abrev.); A parte
mais larga da enxada. 15-Substância alimentar feita de grãos de cereais,
reduzidos a grânulos por meio de moagem incompleta; Discursaras.
2
3
4
5
6
7
8
9 10 11 12 13 14 15
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
SOLUÇÕES
1-PAGINAS; ARAMEUS. 2-E; ROLA; COMA;E. 3-RA; AMIZADE; AM.
4-OTO; ADAMA; AMO. 5-L; CA; ASA; AV; L. 6-ARAMAIS; SENTARA.
7-ROI; AAL. 8-ATIRADA; PRURIDO. 9-M; NA; MAR; AO; R. 10-ANA;
MIRAR; UPA. 11-DA; LABUTAR; AR. 12-O; META; OPOR; A. 13SUMIRAS; SARADAS.
Horizontais: 1-Qualquer das faces de uma folha de papel (pl.); Indivíduo
pertencente ao povo dos Arameus, que habitava a Síria antiga (pl.). 2Ave columbina, semelhante ao pombo; Estado de inconsciência profunda em que não se regista actividade cerebral, mantendo-se a respiração
e a circulação. 3-Rádio (s.q.); Afeição por uma pessoa; Amerício (s.q.). 4Ouvido (pref.); Efemina; Patrão. 5- Cálcio (s.q.); Pega do cabaz;
Abreviatura de avenida. 6-Carcais de arame; Assentara. 7-Tritura com os
dentes; Árvore da fam. das anacardiáceas, cujas raízes e cascas são utilizadas, na Índia, em tinturaria e em aromatizações. 8-Lançada;
Comichão. 9-Sódio (s.q.); Grande extensão de água salgada; Contracção
de preposição e artigo definido. 10-Nome de mulher; espreitar; Nome
com que se incita uma pessoa ou animal, a levantar-se. 11- Concede gratuitamente; Trabalhar intensamente e com perseverança; Atmosfera. 12Alvo; Contrapor. 13-Desapareceras; Tratadas.
1
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ClubeTempoLivre > Novos livros
os doze conceitos básicos
A sua
um segredo terrível é
para uma educação positiva;
viagem
revelado: Fen, a malévola
O CÃO
de seguida, apresenta
começa
rapariga-dragão, no cativeiro
H. Bastos Machado
136 pg. |13 (PVP)
histórias infantis para contar
neste
desde o seu nascimento e
às crianças, acompanhadas
preciso
enlouquecida pelo ódio, quer
Uma obra de ficção
por tópicos para análise dos
momento e
a todo o custo pôr fim à vida
inspirada na memória
adultos.
este livro é a
do corajoso Sam.
colectiva de uma aldeia,
Um guia imprescindível para
chave, pois só você pode
Quando os seus caminhos
desde a implantação da
os pais que ajuda a
mudar a sua vida e criar um
se cruzam, dá-se a
República até ao final do
identificar, reconhecer e
futuro fantástico cheio de
derradeira luta pela sua vida
século XX. Um
vencer os medos típicos da
amor, alegria e abundância.
e pelo destino da
republicano
infância.
ÂNCORA EDITORA
Humanidade.
O LEGADO 731
fervoroso
achava que a
GRÁVIDA - LIVRO DE
Lynn Sholes e Joe Moore
292 pg. | 20,99 (PVP)
INTRIGA EM OXFORD
República só
INSTRUÇÕES
se
Quando um homem vítima
Veronica Stallwood
226 pg. | 20,51 (PVP)
consolidaria se se desse
S. Jordan e D. Ufberg
216 pg. |16 (PVP)
de uma doença terrível
A romancista Kate Ivory
instrução ao povo. Como não
Trazer um bebé ao mundo é
entra em Satellite News
recebe muitas cartas dos
teve apoios, fundou uma
um dos momentos mais
Network e, pouco antes de
seus fiéis leitores. Porém,
escola na sua casa. O 25 de
marcantes da
morrer, murmura ao ouvido
quando se depara com uma
Abril e os meses seguintes
vida; mas não
de Cotten Stone —
encomenda que contém
só não passaram
há como evitá-
«Agulhas Negras» —
apenas um
despercebidos na aldeia por
lo: estar
ninguém podia prever que
pequeno e
dois motivos: a aparatosa
grávida pode
dias depois mais mortes se
misterioso
ser uma
prisão do cacique em sua
seguiriam.
anel
casa, onde se reunia com
experiência assustadora.
Cotten para descobrir o que
dourado,
notórios fascistas vindos de
Uma obra que responde a
está por detrás desta
fica muito
várias partes do País; e o
todas as questões que
epidemia, enceta uma
medo de ocupação das suas
afectam as grávidas, desde o
investigação que vai da
Convidada pelo seu editor
terras, como ocorreu nas
enjoo matinal, tamanho do
Coreia do Norte até ao
para várias sessões de
grandes herdades do
bebé à melhor maneira de
castelo do próprio Drácula.
autógrafos, Kate é
Alentejo.
evitar festinhas na barriga,
Será que Cotten conseguirá
acompanhada por Devlin
ou dormir descansada.
salvar a Humanidade sem
Hayle, um famoso autor de
arriscar vender a alma ao
policiais. Porém, o
Filho da Aurora?
exuberante Devlin tem um
ARTEPLURAL
O PEQUENO SAMURAI
intrigada.
talento especial para atrair
EUROPA-AMÉRICA
SAM E O CORAÇÃO DA
sarilhos e é perseguido por
Becker
224 pg. |18 (PVP)
A CHAVE PARA VIVER A LEI
SERPENTE – Livro III da
vários homens que querem
DA ATRACÇÃO
Trilogia do Dragão
vê-lo morto.
A obra apresenta um método
inovador na área da
Jack Canfiel e D. D. Watkins
144 pg. | 13,90 (PVP)
Thomas Bloor
208 pg. | 15,90 (PVP)
A PACIENTE MISTERIOSA
pedopsicologia, segundo o
O autor partilha
Sam é vítima de uma
qual
conhecimentos e
maldição que assombra a
P.D. James
344 pg. | 22,90 (PVP)
educadores e
experiências e apresenta um
sua família há gerações e o
Quando uma famosa
crianças
conjunto de técnicas para
transforma numa horrível
jornalista de investigação é
trabalham em
aplicar a Lei da Atracção à
criatura e numa ameaça
internada na clínica privada
conjunto os
sua vida, num guia
para todos os que o rodeiam.
do Sr. Chandler-Powell, em
medos e as
Christian Lüdcke e Andreas
detalhado que o ajudará a
Os seus inimigos de outrora
Dorset, para uma operação
preocupações dos mais
conquistar os sonhos e
estão determinados a matar
de rotina, nada fazia prever a
pequenos. Primeiro descreve
ambições.
Sam e, num local longínquo,
sua morte súbita.
74
TempoLivre
| MAIO 2009
74e75_Novos Livros.qxp
28-04-2009
12:24
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A vida em Cheverell Manor, a
COMO POUPAR SEM
Avis, a Conquista de Ceuta, o
estes princípios podem
pitoresca casa de campo que
PERDER A CABEÇA
início da expansão, a
lançar luz sobre todos os
alberga a clínica, é
vocação monástica e morte
aspectos da criação, desde a
perturbada quando uma
Ana Galán
166 pg. | 9,95 (PVP)
do condestável.
origem da vida à natureza da
segunda vítima é
Há muitas formas de poupar
Um romance surpreendente
religião.
encontrada. Que mistérios
dinheiro sem sacrifício de
onde Nun’Alvares Pereira
encerra Cheverell Manor?
forma divertida e até mesmo
ressurge como “um guerreiro
PATRIMÓNIO, HERANÇA E
Quem matou os dois
boa para a saúde.
que trazia a paz no coração”
MEMÓRIA
pacientes?
Fazer os seus próprios
e “um eleito, fonte de graça
A Cultura como criação
presentes, convidar amigos
para o seu país” que o autor,
para comer em sua casa,
natural de Baden-Baden,
Guilherme d’Oliveira Martins
12 (PVP)
trocar o carro por uma
muito admira.
Uma reflexão de grande
EVEREST EDITORA
bicicleta, entre outros, são
relevância sobre a
BELEZA!
algumas das sugestões
A EVOLUÇÃO PARA TODOS
importância da cultura na
Tudo para ficar radiante
apresentadas numa obra que
Como a teoria de Darwin
vida política e económica
Uschka Pittroff e Sílvia Wolf
160 pg. | 19,95 (PVP)
reúne mais de 100
pode mudar a nossa forma
contemporânea.
conselhos. Escolha o que
de pensar na vida
“Deixou de
Um programa para estar
melhor se adequa ao seu
fazer sentido a
radiante por dentro e por
estilo de vida.
David Sloan Wilson
556 pg. | 29 (PVP)
Qual a razão biológica dos
políticas
mexericos? E do riso? E da
públicas
fora. Todas as mulheres
querem estar bonitas. Qual o
GRADIVA
melhor creme, que
oposição entre
centradas no
criação de arte? Porque é
maquilhagem mais a
A LAMPARINA DE PRATA
que os cães
património histórico, por
beneficia, como pode
O romance do Santo
têm caudas
contraponto à criação
dissimular as imperfeições?
Condestável
enroladas?
contemporânea. A
Este livro revela e realça os
Estas e
complementaridade é óbvia e
pontos fortes do aspecto
Reinhold Schneider
235 pg. | 11,60 (PVP)
muitas outras
necessária. Basta olharmos
físico, com numerosas e
Uma obra que homenageia a
questões são
os grandes marcos da
extraordinárias ideias e
figura do condestável
abordadas
presença humana ao longo
conselhos para uma
Nun’Alvares Pereira. Ao
pelo célebre evolucionista
do tempo para percebermos
maquilhagem perfeita e um
longo destas
Sloan Wilson numa obra
que há sempre uma
cuidado do corpo dos pés à
páginas,
inteligente e inovadora. Com
simbiose de diversas
cabeça.
podemos
histórias cativantes, o autor
influências, de diversas
Inclui truques e dicas para
revisitar a
descreve os princípios
épocas, ligando património
solucionar problemas
crise de
básicos da evolução e
material e imaterial, herança
estéticos e outros conselhos
1983-1385, a
mostra como, se
e criação…”.
sobre cosméticos.
dinastia de
devidamente entendidos,
Glória Lambelho
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ClubeTempoLivre > Cartaz Inatel
BRAGA
Concelhio de Bandas da
Filarmónica Paionense em
Taveiro; dia 30 às 21h30 –
Fundação INATEL
Paião.
“Uma casa com escritos”
Música
!
dia 14 às 21h00 –“Sons e
Maria, Barril de Alva, Vila
Teatro
Cantares do Ave” em Delães;
Nova de Poiares, S. Miguel e
19º Ciclo de Primavera - dia 9
dia 15 às 21h30 – “Terra
S. José de Lavegadas;
às 21h30 - “Casos da vida” e
Etnografia e Folclore
Divinus” em Delães; dia 23
!
concerto às 17h30 no
“Alberto em sarilhos” pelo Gr.
dia 3 às 15h - XXVIII Festival
às 21h45 – Conjunto de
Jardim Municipal de Vila
de Teatro Cordinha de Água,
Rancho Folclórico Flores do
Guitarras Manuel Lima no
Nova de Poiares com Bandas
em S. Frutuoso e peça
Monte em Seixo e às 16h –
Auditório Vita, em Braga; dia
filarmónicas de Vila Nova de
“Leandro da Helíria pelo Gr.
Recreação do Dia da Bela
24 às 15h30 – Cavaquinhos
Poiares, Lousã, Góis, Vila
de Teatro Pedra Rija em S.
Cruz pelo Rancho Folcl. e
“Flores da Primavera” na Av.
Nova do Ceira, Miranda do
Frutuoso; dia 10 às 16h – “O
Etnog. de Zagalho e Vale do
da Colónia em Apúlia.
Corvo, Lorvão, Penacova,
Gaiteiros”, “A Feira”, “O
Conde; dia 23 às 14h -
Folclore: dia 10 às 16h – 28º
Arganil, Barril de Alva, Vila
Ceguinho”, “O Polícia de
Reconstituição das “Maias,
Cova de Alva e Côja.
ronda” e “A descoberta do
Doces e Cantares” na Praça
Festival do Rancho Regional
pelo Gr. de Teatro de Ribeira
desfile às 11h em Santa
de Frades em Formoselha.
Dr. Quaresma” pelo Gr.
do Comércio em Coimbra;
XXIV Festival de S. Martinho
Workshop
Cénico de Ourentã, na Junta
dia 30 às 21h30 – Festival
de Brufe; dia 17 às 18h30 –
dias 1 e 2 – Manutenção de
de Freg. da Camarneira,
Nacional do Gr. Folclórico de
Gr. Folclórico da Casa do
Instrumentos de Sopro pela
pelas 21h30 “ A face do caos”
Taveiro, em Taveiro e XIX
Povo de Martim, em Tenões;
Associação de Arte e Cultura
pelo Gr. de Teatro “Curral da
Encontro de Folclore em
dia 31 às 15h – Festival do
do Concelho de Cantanhede
Mula” em Pereira do Campo;
Cova do Ouro; dia 31 às 10h
Rancho Folclórico da Casa
na Agência INATEL em
dias 16 e 23 às 21h30 – “O
– Feira à Moda Antiga pelo
do Povo de Calendário.
Coimbra.
primo da Califórnia” pelo Gr.
Rancho Folclórico
de Teatro de Seixo de Mira
Camponeses de Montessão,
de Fradelos; dia 16 às 21h –
Atletismo
Musica
em Arzila e Pocariça,
em Montessão e às 15h -
dia 31 às 9h30 – 24º Grande
dia 10 às 15h – Coro dos
respectivamente; dias 16 e 23
Aniversário do Grupo Típico
Prémio da Cruz, pelos
Professores de Coimbra no
às 21h30 –“O domador de
de Ançã, em Ançã e “Sons
arruamentos da freguesia da
Salão de Festas da
sogras” pelo Gr. de Teatro do
da Beira” (concertinistas) em
S. Tiago da Cruz, Vila Nova
Associação para o
Centro de Recreio Popular de
Murtede.
de Famalicão, para
Desenvolvimento e
Formoselha em Seixo de Mira
associados com mais de 15
Formação Profissional de
e Lavos, respectivamente; dia
Atletismo
anos.
Miranda do Corvo; dia 23 às
22 às 21h30 – “A Farsa de
dia 3 – I Rampa Fruticoimbra
22h – Encontro de
Inês Pereira” pelo Gr. de
pelos arruamentos de S.
Tiro
Orquestras Juvenis no
Teatro Trai-la-ró no Centro
Frutuoso.
dias 2, 9, 16 e 23 às 10h -
Auditório da Soc.
Paroquial de Soure; dia 23 e
Torneios de Tiro, informações
Filarmónica de Covões; dia
30 às 21h30 – “Só o Faraó
na Agência INATEL.
24 às 15h – Encontro de
tem alma” pelo Gr. de Teatro
Bandas no Parque Joaquim
O Celeiro em Vinha da
Vela
Pereira, em Abrunheira; dia
Rainha e Sobral de Ceira,
Cursos de iniciação e
29 às 22h – Serenata Futrica
respectivamente; dia 23 às
aperfeiçoamento na Ria
Btt
pelo Grupo Folclórico de
21h30 –“La Nonna” pelo Gr.
Formosa
dia 10 às 9h - III Raid BTT –
Coimbra, nas escadas da
de Teatro da Sociedade
Idade Mínima: 14 anos
Rota dos Moinhos de Água
Igreja de S. Tiago em
Instrução Tavaredense em
Duração: 4 sábados (das
e Passeio Pedestre em
Coimbra (Recuperação de
Santana e “ O lixo” e “Ai a
14h30 às 17h30)
Caçarelhos, Vimioso
canções, fados e baladas
safada” pelo Gr. de Teatro de
Idade Mínima: 14 anos
entoados por Tricanas e
Teatro Experimental A Fonte
Preço: Beneficiários 25 euros
Futricas nos finais do séc.
em Oliveira do Hospital; dia
// Não Beneficiários: 60
euros - Inclui material,
BRAGANÇA
COIMBRA
FARO
XIX e início do séc. XX); dia
29 às 21h30 – “Os
Mega-Concerto
30 às 21h30 - Dixie Gringos
Saltimbancos” pelo Gr. de
acompanhamento técnico,
dia 1 – Encontro Inter-
Jazz Band na Sociedade
Teatro de Sobral de Ceira em
seguro, instalações de apoio
76
TempoLivre
| MAIO 2009
76e77.qxp
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13:01
Page 77
e diploma. Local: Doca de
Conservatório de Seia na Casa
Faro – Ginásio Clube Naval
da Cultura de Meda.
de Faro.
dia 28 às 21h30
Almeirim na Festa da N. Sra
SANTARÉM
Passeio
INATEL.
dia 30 - Visita Cultural a
Futebol
Cáceres, informações na
dia 1 - Festa da Final de
Agência INATEL
Futebol no Campo de Jogos
Cavalos no CCD de Olaia.
VIANA DO CASTELO
das Fazendas de Almeirim,
GUARDA
informações na Agência
Cinema
LISBOA
INATEL.
Filme: UM CASAMENTO
Teatro da Trindade
Atletismo
21h30 na Associação Desp. e
dia 9 às 21h30 - Orquestra
Ligeira de Gouveia no Edif.
da Conceição em Várzea e
Rancho Folclórico de Vale de
nformações na Agência
Concertos:
17h – Rancho Folclórico de
QUASE PERFEITO - dia 2 às
dia 24 - Travessia das Pontes
Cult. de Subportela e dia 8 às
21h30 - Orquestra Juvenil da
SAIA CURTA E
com almoço convívio em
21h30 na Associação Recr. e
Serra da Estrela na Casa da
CONSEQUÊNCIAS – M/12
Almeirim, informações na
Cult. de S. João de Rio Frio.
Cultura de Famalicão da Serra;
dias 6 a 10 - 4ª e sáb às
Agência INATEL.
dia 17 às 14h - Encontro de
21h30 | dom. às 16h
Tocadores de Concertina, no
PEDRO TOCHAS – LADO B –
Música
Auditório da Agência INATEL;
Lgo Serpa Pinto em Figueira
M/16
dia 30 às 22h - Grupo de
dia 31 às 16h na Associação
de Castelo Rodrigo; dia 31 às
dias 8 e 10 às 23h59
Cantares “ Os Cavaquinhos”
Recr. Cult. Estudantil e
17h - Grupo de Metais do
ENSALADAS (MÚSICA)
no CCD de Ortiga; dia 31 às
Agrícola GARCEA.
Cultural de Gonçalo; dia 16 às
Filme: COMÉDIA INFANTIL –
dia 6 e 20 às 15h no
78_CUP.qxp
27-04-2009
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ClubeTempoLivre > Cupões
NOTA: os cupões para aquisição de Livros são válidos até ao final do ano de 2009
DESCONTO
Este cupão só é válido na compra
de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora
2,74
Euros
DESCONTO
Este cupão só é válido na compra
de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora
VALIDADE
Clube TempoLivre
31de Dezembro/2009
2,74
Euros
Clube TempoLivre
31de Dezembro/2009
31de Dezembro/2009
DESCONTO
Este cupão só é válido na compra
de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora
VALIDADE
Clube TempoLivre
Euros
VALIDADE
DESCONTO
Este cupão só é válido na compra
de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora
2,74
2,74
Euros
VALIDADE
Clube TempoLivre
31de Dezembro/2009
Remeter para
Fundação INATEL –
Livros, Calçada de
Sant’Ana nº 180 –
1169-062 Lisboa, o
seguinte:
! Pedido, referenciando a editora e o título
da obra pretendida;
! Cheque ou Vale dos
Correios, correspondente ao valor (PVP)
do livro, deduzindo
2,74 euros de desconto
do cupão.
! Portes dos Correios
referente ao envio da
encomenda, com
excepção do
estrangeiro, serão
suportados pelo Clube
Tempo Livre. Em caso
de devolução da
encomenda, os custos
de reenvio deverão ser
suportados pelo
associado.
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A chefe sugere | Inatel Foz do Arelho
Bolo de azeite e mel
Maria
Te r e s i n a
Gonçalves
zeite e mel, dois produtos que
sendo bem Portugueses, se podem
enquadrar num padrão de alimentação mediterrânico.
O azeite, por ser uma gordura essencialmente
monoinsaturada, promove a saúde cardiovascular, contribuindo para aumentar o “bom” colesterol sanguíneo e para diminuir o “mau”. Tem
ainda a vantagem de ser uma gordura que suporta altas temperaturas sem se degradar, mais um
motivo para ser uma boa opção como a gordura
para a confecção de um bolo. No entanto, não nos
podemos esquecer que é quase 100% ácidos gordos, ou seja, gordura e que por isso não deve ser
utilizado em excesso.
Quanto ao mel, composto na sua quase totalidade por açúcares dá o sabor característico a este
delicioso bolo de tonalidade escura.
Depois da degustação de uma fatia deste saboroso bolo, sugere-se para desgastar a energia ingerida uma caminhada na bonita Costa Oeste, na
praia da Foz do Arelho.
A
Ingredientes para 10 pessoas:
125g de açúcar, 2dl de azeite, 300g de farinha,
2,5dl de mel, 4 ovos, 1 colher de café de fermento.
Prepara-se assim:
Bate-se muito bem o mel com o azeite e juntamse os ovos um a um. Em seguida, acrescenta-se o
açúcar e a farinha.
Leva-se a cozer em forno médio, cerca de 40
minutos, numa forma de “chaminé” untada com
margarina e polvilhada com farinha.
Composição nutricional por fatia de 110 gramas
• 6,19 g de proteínas; • 21,1 g de gordura; • 56,49
g de hidratos de carbono; • 0,87 g de fibra; •
432,67 kcal
Informações e reservas
INATEL FOZ DO ARELHO
Rua Francisco de Almeida Grandela, 2500-487 Foz
do Arelho – Tel: 262 975100 – Fax: 262 975140
Email: [email protected]
MAIO 2009 |
TempoLivre 79
80.qxp
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O Tempo e as palavras
M a r i a A l i c e Vi l a Fa b i ã o
O tempo e a memória
Diz-me: / Olha a pedra. / Olha-a outra vez. / Que muda em ti / Quando olhas a pedra? / As cores cantam ao
desaparecer. / Que resta / daquele que abraçaste e não mais / está contigo / a sussurrar na noite? / A alba há-de cobrilo / e há-de cobrir-te a ti. / A mancha branca, a pedra, / esfumar-se-á no teu sonho. / Nem a tua respiração / Ouvirás.
// Não lhe respondo. / Não o vejo. / Obedeço. // […] Quando encontrares a pedra / deixa-a em paz, disse-lhe, // repousar
na palma da tua mão. // […] Quando a paisagem em volta se apagar / Estarás só nas trevas.[…] Dan Armon,1
emory…”. A voz da Streisand expande-se,
enche a noite, arrasta-me no seu eco, de
volta ao passado. A caminho de Maio,
regresso a outros Maios, que me atardo a
viver, mansa e longamente, em toda a sua plenitude.
Heráclito de Éfeso afirmava, tão convicto da sua verdade
como só um filósofo grego poderia estar, que, considerando
a impermanência universal, considerando o mundo em
eterno devir, a vida corria no tempo como rio sem regresso.
“Tudo passa, nada subsiste… Nada existe, mas tudo se
transforma” Jamais poderíamos banhar-nos duas vezes na
mesma água, que tal não permitiria o tempo, “imagem
móvel, da eternidade imóvel”, para Santo Agostinho.
Sentindo, como Baudelaire, que o tempo é o “inimigo
vigilante e funesto, o obscuro inimigo que nos corrói o
coração”, deixo-me conquistar por uma breve sensação de
triunfalismo, muito própria da ignorância: Sim, mas… E a
memória? Se o tempo é o inimigo, com que travo uma luta
renhida em todos os segundos da existência, a memória é a
aliada que me ajuda a vencer a transitoriedade que ele
impõe à vida.
Fisicamente imóvel, avanço, tacteando, pelos corredores
da memória. Utreque. Wilhelmina Park. Primeiro de Maio de
1960 - o primeiro vivido em liberdade, ainda que transitória.
Debruço-me na janela sobre o parque que exibe um verde
lagarta pontilhado de tufos de narcisos amarelos e açafrões
brancos e roxos.
Subitamente, avistamo-lo. Mora sozinho num quarto na
semi-cave, com uma janela quase ao nível dos nossos passos.
Jamais o vemos à luz do dia. Avistamo-lo, ao anoitecer,
quando regressamos do parque, e caminhamos rente à parede,
ao longo do passeio, lá no fundo, sempre sentado, de fato
completo, absolutamente imóvel, virado para a janela.
Uma vez em que havia um pouco mais de luz,
verificámos que naquele invólucro rígido em que vivia uma
pessoa, havia um movimento quase imperceptível dos
lábios e dos dedos, como se os primeiros estivessem a ditar
qualquer coisa que os segundos fossem anotando sob a
forma de estranhos hieróglifos. Olhámo-nos e sorrimos. Tão
“
M
barato é então o riso a dois! E ainda tínhamos um florim, o
equivalente a sete escudos!
Batem à porta: como sempre, atendemos os dois. São ainda
poucas as visitas. Quem sabe se alguém que fale português?!?
É ele, que, com um gesto hirto, me estende o meu primeiro
raminho de lírios do vale.
– Bonne chance!, diz quase secamente.
É belga, diz depois a dona da pensão. Ah!, e é comunista.
Sorrimos ambos. Também aqui!
Resistindo ao tempo, na cópia da realidade guardada pela
minha memória, ele continua sentado na sua cadeira a
desenhar com os dedos uma misteriosa história em hieróglifos.
Guardo também, é claro, uma cópia de outros primeiros de
Maio: Paris, 68, Rue Cujas, e Madame Savage, em cujo nome
introduzimos, em dias em que se encontra de mau humor, um
epentético “u,” para que o nome fique mais de acordo com a
pessoa; Primeiro de Maio de 74, em Lisboa. Faculdade
fechada, de tarde, e meia dúzia de estudantes à espera de
entrarem para um exame. A rodear os edifícios, uma
bordadura de polícia com viseira, metralhadora e os
respectivos cães, armados com os próprios dentes.
Para proteger a Gina, faço frente ao “meu” polícia: meiaidade, olhos azuis, de pupilas contraídas, e dois sinais em
relevo no lado direito do rosto. Falo lentamente, como convém
falar aos animais descontrolados, digo que estou à espera do
marido. Em obediência à ordem de circular, de desaparecer,
volto calmamente as costas…
Foi longo o tratamento do traumatismo craniano.
76… Melhor esquecer... A primeira morte na família. É
terrível a memória, que tão duramente se faz pagar pela sua
ajuda contra o tempo: terrível quando nos não permite
esquecer o que não queremos recordar, e terrível quando nos
abandona e nos deixa entregues ao tempo. Grata, porém, lhe
estou por me permitir reviver plenamente o que vivi um dia.
Dentro de dias, novo Primeiro de Maio. Nada me diz dele
a memória, que só com o passado se interessa.
Um dia feliz para todos, Senhores Leitores! !
1
Poeta Israelita, 1948
MAIO 2009 |
TempoLivre 81
79a82.qxp
27-04-2009
14:03
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Crónica
O Vicente
Álvaro Belo
Marques
Ao longo da estorinha, nota-se que
este Vicente tem alguns pontos em
comum com o Vicente do Torga; um
deles, a teimosia, outra a sua
aparência durante o dilúvio.
ois o meu Vicente, modestíssimo
Renault estafado e olheirento, tão triste era a sua sorte que nem foi comprado por mim; foi trocado, como nos
tempos anteriores à moeda.
A sua vida conta-se em dois tempos e duas lágrimas: uma professora, comprou-o e, consta, teve um
acidente com ele. O carro (ainda não se chamava
Vicente, mas sim um monte de sucata) ficou tão
danificado que a senhora não teve dinheiro para
pagar a respectiva reparação. Ficou o carro então
para o mecânico como pagamento, o qual passou a
utilizá-lo para emprestar aos clientes que ficavam
com os veículos em reparação na oficina.
Andou, pois, de mão em mão e maltratado a
maior parte das vezes, como sempre acontece
com os carros alheios e modestos. (Com as pessoas também isto acontece.) E ele, coitado, não
protestava. Sempre de cabeça baixa lá ia de mão
em mão, que remédio, era a sua sina. Então um
dia animou-se quando ouviu o patrão mandar
lavá-lo e limpá-lo por dentro. Talvez desta vez
fosse para mãos decentes, amigas. Foi.
E lá viemos os dois, do norte até ao Alentejo,
vigiando-nos, não fosse sair alguma válvula pelo
tubo de escape. Mas via-se mesmo, sentia-se o
seu esforço em se portar bem, em ser simpático.
Na auto-estrada chegou a dar 120 mas ruidava
por todo o lado pelo que lhe fiz uma festa no pescoço dos seus 67 cavalos e passei para modestos
90 quilómetros por hora, o que ele agradeceu
chocalhando menos.
Quando chegámos no monte alentejano,
olhei-o bem nos olhos e disse-lhe: - Passas a chamar-te Vicente, como o Corvo que desafiou Deus.
– E ele não foi contra isso; não tugiu nem mugiu.
Nos meses seguintes procedeu-se a pequenas
renovações, beneficiações, alindamentos. Tapetes,
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TempoLivre
| MAIO 2009
travões, bomba de água, pneus novinhos e lindos
e ainda uma “placa de aquecimento”, brilhante,
nova em folha, por causa dos nocturnos frios alentejanos que, como sabem, são muito ásperos.
Foi então que a Fazenda mandou dizer que eu
tinha de pagar uma fortuna ao fisco por uma
empresa que nunca funcionou, da qual se dera
baixa e cujo processo já tinha sido arquivado há
anos. Mas não paguei porque não tinha e porque
achava injusto castigar um homem por querer
exportar livros portugueses para Moçambique.
Então, mandaram-me entregar o livrete e o título
de propriedade, pois o carro estava confiscado.
Assim se fez. Pusemos (eu e o dono do sítio) o
Vicente sob uma oliveira, à entrada do monte,
quietinho e eu disse-lhe: “Não te preocupes; é só
por uns dias.” Foi por mais de dois anos, que nestas coisas com a Fazenda nunca ninguém sabe.
E um dia, depois de, por duas vezes, ter ajudado
o TiZéMarques a apanhar as nozes, a dita Fazenda
manda uma carta de meia dúzia de linhas a dizer
que estava tudo sem efeito e enviando os documentos para que o Vicente pudesse circular. Mas já não
podia, coitado. Era tarde. Tinha-se finado sob a oliveira. Ali abandonado demasiado tempo, demasiado frio, demasiada chuva e humidade, demasiada
geada nocturna, demasiada má sina.
Fui dar-lhe a notícia mas nem reagiu. Indiferente. Quieto. Sujo. Enfim morto.
Acabaram-se as idas a Lisboa para ver a família, às vezes com o avisador da gasolina a piscar
desesperadamente, e eu a dizer-lhe “não me deixes ficar mal, sabes que não tenho saúde para
andar quilómetros com uma lata de gasolina na
mão”. E ele não deixava. Uma vez cheguei ao
supermercado de Montemor mesmo, mesmo
com a última gota, que se foi quando o Vicente
parou na bomba. Ouvi então um sopro. Deveria
ser ele a dizer em desabafo “Uf! chegámos!”
Um vizinho distante, levou-mo – julgo que
para o desmanchar.
Agora, quando passo na entrada do monte,
naquele cantinho sob a oliveira, faço por não o
recordar porque, mesmo que vos pareça estranho,
tenho-lhe saudades. Transportava-me e fazia-me
companhia. !
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