DIÓXIDO DE CARBONO E OXIGÊNIO EM VINHOS ESPUMANTES: METODOLOGIA ANALÍTICA EBERT, Leandro Correia¹; SILVA, Heber Rodrigues²; SAUTTER, Claudia Kaehler³ BRACKMAN, Auri 4; DAUDT, Carlos Eugênio³ Palavras-Chave: Metodologia. Vinhos Espumantes. Dióxido de Carbono. Introdução O consumo de vinhos espumantes apresenta uma alta sazonalidade no Brasil, estando associado a datas de fim de ano e comemorações especiais, o consumo é mais baixo do que as demais categorias de vinhos, no entanto, vêm crescendo acentuadamente nos últimos anos. Conforme Santos (2009) o consumo de 2004 a 2008 obteve um aumento acumulado de 63,5%. Uma das características fundamentais em vinhos espumantes é a formação de“perlage”, que é a formação de borbulhas durante a liberação do dióxido de carbono dissolvido na bebida. Esse gás origina-se da elaboração do espumante, durante a segunda fermentação, que pode ser na própria garrafa (Método Champenoise) ou em grandes tanques isobáricos (Método Charmat), com um mínimo de quatro atmosferas de pressão. A presença de proteína no espumante confere a capacidade de aprisionar o dióxido de carbono, sendo essa, proporcional à formação de perlage e a persistência de espuma. Estudos demonstram que o dióxido de carbono ingerido em quantidades excessivas dificulta a digestibilidade do alimento e a saciedade. Com base nesses aspectos, podemos ressaltar que o teor de tais gases quando balanceados, confere características visuais e sensoriais apreciáveis em um vinho espumante. Em contra partida, um teor excessivo pode comprometer a qualidade do vinho além da digestibilidade do consumidor. _______________________ ¹ Acadêmico do Curso de Agronomia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). ² Mestrando do Programa de Pós Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos da UFSM. . ³ Professor Titular do Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos da UFSM 4 Professor titular do Departamento de Fitotecnia da UFSM. [email protected] A EMBRAPA Uva e Vinho ressalta a interferência do dióxido de carbono no equilíbrio organoléptico. Este aspecto é observado em todos os vinhos, não apenas nos espumantes. Foi demonstrado que o vinho branco, com baixo teor de tanino, torna-se mais palatável quando a concentração de dióxido de carbono situa-se à margem de 0,5 g L-1. Nos vinhos espumantes o teor é 10 a 20 vezes superior aos vinhos não espumantes. A produção científica voltada para essa área ainda se encontra defasada no Brasil. Por isso, torna-se importante o desenvolvimento de metodologias eficazes de rápida determinação quantitativa dos teores de gás carbônico e oxigênio em espumantes. Metodologia As análises foram desenvolvidas nos laboratórios do Núcleo de Desenvolvimento de Análises Laboratoriais (NIDAL) e no Núcleo de Pesquisa Pós-Colheita (NPP) do Centro de Ciências Rurais da Universidade Federal de Santa Maria. As amostras utilizadas são de vinhos espumantes adquiridos no comércio local. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado, composto de dois tratamentos com três repetições cada. A unidade experimental constituiu-se de 50 mL. Foram aplicados Análise de Variância e teste de Tukey (p≤0,05) para comparação das médias, através do software Assistat©. Foram coletados 50 mL da amostra de vinho espumante (5ºC), sem perturbar o meio, afim de evitar a liberação do CO2 dissolvido na amostra. Esta alíquota foi transferida para um Erlenmeyer de 500 mL vertendo-o lentamente pela parede do frasco. Em seguida o Erlenmeyer foi vedando com uma rolha de silicone que possuía dois orifícios para inserção das agulhas do analisador. A coleta do headspace foi pelo orifício mais próximo da rolha e o retorno do gás pelo orifício que continha uma mangueira de silicone que retornava ao ambiente próximo a amostra. Tornando então sistema fechado entre o headspace e o analisador de gases. Antes da análise dos gases, a amostra foi submetida a um banho termostático para que a temperatura fosse estabilizada em 30ºC, parâmetro este estabelecido através de ensaios prévios, para reduzir a dissolução de gases na amostra. Em seguida o Erlenmeyer foi submetido ao banho de ultra-som onde permaneceu por 30 minutos, atingindo total desgaseificação da amostra e incorporando-se ao headspace. O tempo de desgaseificação foi determinado através de ensaios realizados previamente. Após, o Erlenmeyer foi encaminhado para o analisador de CO2 e O2 AGRIDATALOG®, e as agulhas do analisador foram inseridas pelos orifícios da rolha de silicone, onde o analisador quantificou CO2 e O2 do headspace formado (450mL) do Erlenmeyer de (500mL). Os resultados dos gases foram expressos em porcentagem. Cálculo: Resultados e Discussões Os resultados das análises estão demonstrados nos quadros 1 e 2. Quadro 1: Teores de CO2 expressos em mL CO2/ mL vinho espumante. Amostra Porcentagem CO2 mL CO2/ mL vinho espumante A1 25,0 0,583 A2 22,9 0,534 A3 19,3 0,450 Amostra - - B1 25,4 0,592 B2 23,1 0,539 B3 21,2 0,494 Quadro 2: Teores de O2 expressos em mL O2/ mL vinho espumante. Amostra Porcentagem O2 mL O2/ mL vinho espumante A1 9,3 0,217 A2 12,3 0,287 A3 10,9 0,254 Amostra - - B1 9,8 0,228 B2 11,8 0,275 B3 12,9 0,301 As presentes amostras não diferiram estatisticamente entre si, porém, o método demonstrou que ainda havia concentrações de CO2 presente no meio. A metodologia proposta mostrou-se eficaz na determinação quantitativa de CO2 e O2 em vinhos espumantes, mostrando-se uma alternativa coerente e adequada. Os tratamentos apresentaram medidas consideráveis de CO2 e O2, o que indica uma boa formação e persistência de espuma. É necessário ainda que se efetuem novas análises e testes que comprovem sua eficácia e verifiquem a aplicabilidade do método. A legislação brasileira não prevê a analise de CO2 e O2 residual em vinhos espumantes, levando-se em conta a crescente demanda de produção, seria interessante podermos ter o controle sobre os campos mais específicos deste tipo de produto. Futuros estudos pretendem analisar os gases provenientes de diferentes métodos de fabricação e cultivares utilizadas na elaboração. Conclusões Este método torna-se uma ferramenta de analise rápida para detecção de CO2 e O2 residual em vinhos espumantes, ajudando a lançar conceitos e solidificando o campo de conhecimento acerca dos vinhos espumantes, tornando-o mais amplo e acessível tanto ao meio acadêmico quanto a indústria. Referências MELLO, L. R. Tendências de consumo e perspectivas do mercado de vinhos no Brasil. Disponível em: <http://www.cnpuv.embrapa.br/publica/artigos/tendencia.pdf>. Acesso em: 26 de agosto de 2010. RIZZON, L. A; MENEGUZZO, J.; ABARZUA, C. E. Elaboração de vinho espumante na propriedade vitícola. Embrapa Uva e Vinho: Bento Gonçalves, Documentos 29, 2000. 24 pág. VENTURINI FILHO, Waldemar Gastoni et al. Tecnologia de bebidas: matéria prima, processamento, BFP/APPCC, legislação e mercado. São Paulo: Edgar Blücher, 2005. 550p. WITT, M. Z: Elaboração de espumantes pelo método champenoise na vinícola Cave de Amadeu. Bento Gonçalves: 2006.