DOR DURANTE A PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA Fernando Rodrigues Onofre¹; Msc. Ralph Fernando Rosas² (Orientador) RESUMO Introdução: Assim que uma pessoa inicia a pratica de atividades físicas, se torna sujeita a lesões musculares e articulares, e consequentemente a um quadro álgico em um ou vários seguimentos do seu corpo. Objetivo: O estudo teve como objetivo geral a análise da presença de dor na prática de exercício físico em academias. Materiais e Métodos: Os instrumentos que foram utilizados para a coleta foram à escala de desconforto para as diferentes partes do corpo e uma ficha para coleta de dados para anotações a respeito da dor. Os dados foram analisados de maneira descritiva e os resultados foram expostos em forma de gráficos e tabelas. Resultados: O local da dor predominante foi o ombro, seguido pelo tipo de dor em fisgada (40%), pela profundidade da dor sendo a dor profunda (50%) e a intensidade da dor sendo uma dor suportável (43,33%). Discussão: Identificou-se que a predominância de dor se dá no ombro principalmente, seguido pela dor na coluna lombar; o tipo de dor mais relatado foi a dor em fisgada, seguido pela dor em queimação; quanto a profundidade da dor, a dor profunda foi mais citada, seguido pela dor superficial; e relacionado a intensidade da dor, a dor suportável foi mais citada, seguido pela dor intensa. Conclusão: São necessários mais estudos que evidenciem com maiores detalhes a dor durante a atividade física, dissecando ao máximo todos os seus tipos e características, assim fornecendo informações importantes para todos os profissionais que atuam na área como também os praticantes. Palavras-chaves: Dor, Atividade Física, Estudos Transversais. _____________________ 1 Acadêmico do Curso de Fisioterapia da Unisul. Bolsista do artigo 171. E-mail: [email protected] 2 Professor e do Curso de Fisioterapia da Unisul. E-mail: [email protected] Introdução Atividade física e exercício físico significam respectivamente qualquer movimento do corpo capaz de gerar gasto energético e atividade que busca mudar algum componente corporal. São exemplos de atividade física as danças, lutas, os esportes, as atividades em academias e os deslocamentos (SABÁ, 2001; PITANGA, 2004). Sabe-se que o número de pessoas que praticam atividade física aumenta constantemente. Seja por razões estéticas, para a melhora do condicionamento físico, para o tratamento de patologias, para a prevenção de afecções a saúde ou com a finalidade de melhorar a sua qualidade de vida. Diante dos princípios de cada modalidade presente nas academias os frequentadores optam ou são encamados pelos profissionais a que lhe convém ser a mais adequada. Porém, nem sempre a modalidade é praticada sem que o indivíduo sinta algum tipo de desconforto físico. É evidente que na prática de exercício físico se sinta pelo menos alguma vez a presença de dor em algum movimento corporal. Com a ajuda e a correção realizada pelos profissionais essa condição pode ser evitada. Porém, mesmo com esse auxílio alguns indivíduos ainda possuem alguma condição álgica devido à fraqueza muscular, processos patológicos agudos ou crônicos, por realizar algum exercício sem qualidade e ocasionar lesão e entre outros motivos (OLIVA, BANKOFF, ZAMAI, 1998). Para Borg (2000), o significado da dor é dado principalmente pelas reações subjetivas de cada indivíduo, suas percepções sensórias, experiências, emoções, memórias e ideias. O estudo presente tem como objetivo geral analisar a presença de dor (muscular, na coluna vertebral, nas articulações, tardia ou durante a atividade, etc..) na prática de exercício físico em academias. Metodologia A população desta pesquisa foi composta pelos indivíduos que frequentam a academia da ACREF (Associação dos funcionários da Unisul), do Campus de Tubarão da Unisul, no Município de Tubarão-SC que estavam de acordo com os critérios de inclusão e exclusão. Os critérios de inclusão consistiam em, ser aluno matriculado na academia, ser maior de idade, praticar musculação, poderão participar ambos os gêneros e estes terão que aceitar participar da pesquisa por vontade própria. Para participar, o pesquisado deverá assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os critérios de exclusão consistiam em, ter doença reumatológica e ortopédica congênita (p.ex. doença de Scheuermann, escoliose severa visível, amputação, etc...), os indivíduos que não praticarem atividade física no mínimo duas vezes por semana, quem frequenta a academia há menos de seis meses, indivíduos que praticam outros esportes fora da academia e aqueles que praticam mais de uma modalidade ao mesmo tempo. Primeiramente foi entrado em contato com a ACREF, colocando de maneira clara e objetiva as intenções do projeto e solicitada à autorização. Foi explanado aos alunos igualmente os objetivos do projeto e os que desejaram participar receberam um termo de consentimento livre e esclarecido para ser assinado. Os instrumentos que foram utilizados para a coleta: escala de desconforto para as diferentes partes do corpo (MORAES, 2002) (ANEXO A) e uma ficha para coleta de dados para anotações a respeito da dor, tais como local da dor, tipo da dor e o gênero do praticante. A escala de desconforto consiste em graduar o nível de desconforto manifesto sob a forma de dor em cada parte do corpo, numa escala representada por cores, sendo “verde” nenhuma dor, “amarelo” dor suportável: dor que se caracteriza por um leve desconforto, consegue executar suas tarefas mesmo sentindo-a, “alaranjada” dor intensa: dor que obriga por instantes parar o que está fazendo e manter-se em repouso ou mudar de posição para aliviar a dor possibilitando depois continuar e “vermelho” dor insuportável: caracteriza-se a incapacidade de continuar realizando as tarefas obrigandoo a parar. A partir dos dados coletados nas avaliações relacionamos onde houve maior queixa de dor com a idade do praticante, comparamos o local da dor referida conforme o segmento corporal onde foi mais relatado que houve dor no exercício. Além disso, apresentamos as características da dor como localização, extensão, profundidade e descrição, relacionando o local da dor referida com o gênero do praticante. Os dados foram analisados de maneira descritiva e os resultados foram expostos em forma de gráficos e tabelas. Os dados obtidos com a escala mencionada e as informações da dor foram armazenados em uma planilha do Microsoft Office Excel 2010® e em documentos do Microsoft Office Word® 2010, com uso de gráficos e planilhas e analisados sob a luz de análise descritiva simples. Resultados A escala de desconforto para diferentes partes do corpo foi aplicada juntamente com a ficha para coleta de dados nos 30 indivíduos que frequentam a academia citada. Na Tabela 1, encontra-se a relação entre o local da dor, a idade e o gênero de cada indivíduo, sendo que dentre os 30 indivíduos entrevistados, 16 eram homens com média de idade de 30,8 ± 15,4 anos e 14 eram mulheres com média de idade de 30,6 ± 13,2 anos. Tabela 1 – Descrição dos resultados para local da dor. MASC (n=16) FEM (n=14) TOTAL Idade 30,8 ± 15,4 30,6 ± 13,2 30,7 ± 14,21 Coluna Cervical Indivíduos 0 2 (14,29%) 2 (6,67%) Ombro Indivíduos 7 (43,75%) 3 (21,43%) 10 (33,33%) Braço Indivíduos 0 1 (7,14%) 1 (3,33%) Cúbito Indivíduos 4 (25%) 0 4 (13,33%) Antebraço Indivíduos 2 (12,5%) 0 2 (6,67%) Punho Indivíduos 1 (6,25%) 1 (7,14%) 1 (3,33%) Coluna Lombar Indivíduos 1 (6,25%) 5 (35,71%) 6 (20%) Quadril Indivíduos 0 2 (14,29%) 2 (6,67%) Coxa Indivíduos 0 3 (21,43%) 3 (10%) Joelho Indivíduos 4 (25%) 1 (7,14%) 5 (16,67%) Perna Indivíduos 1 (6,25%) 1 (7,14%) 2 (6,67%) Fonte: dados coletados pelo pesquisador (2014). Dos 30 indivíduos 13,33% relataram que o tipo da sua dor era um choque, 40% uma dor de fisgada, 3,33% dor de formigamento, 10% não souberam dizer, 30% dor de queimação e 3,33% dor de queimação e fisgadas. Observando-se predominância da dor em fisgada tal como se vê no gráfico abaixo. Gráfico 1 - Gráfico apresentando o tipo de dor. Tipo de Dor 1 4 Choque 9 Fisgada Formigamento Não soube dizer 12 Queimação Queimação e Fisgadas 3 1 Fonte: dados coletados pelo pesquisador (2014). Dos 30 indivíduos 10% não souberam dizer a profundidade da dor, 50% relataram sentir dor profundamente, 16,67% dor profunda em todos, 23,33% dor superficial, 3,33% dor superficial no ombro e profunda no quadril. Observando-se predominância da dor profunda como é visto no gráfico abaixo. Gráfico 2 – Gráfico apresentando a profundidade da dor. Profundidade da Dor 1 Não souber dizer 3 7 Profunda Profunda em todos Superficial 5 15 Superficial no ombro e profunda no quadril Fonte: dados coletados pelo pesquisador (2014). Dos 30 indivíduos 13,3% relataram sentir dor intensa, 6,67% dor intensa em todos, 43,33% dor suportável, 30% dor suportável em todos, 3,33% dor suportável na esquerda e intensa na direita e 3,33% dor suportável no ombro e intensa no quadril. Observando-se predominância de uma dor suportável. O gráfico abaixo simboliza os achados anteriores. Gráfico 3 – Gráfico apresentando a intensidade da dor. Intensidade da Dor 1 1 Intensa 4 2 9 Intensa em todos Suportável Suportável em todos 13 Fonte: dados coletados pelo pesquisador (2014). Suportável na esquerda e intensa na direita Discussão Os resultados obtidos no presente estudo demonstram presença de dor nos vários seguimentos corporais, principalmente na região do ombro (33,33%) e na coluna lombar (20%). As características da dor que predominaram foram: fisgada (40%), profunda (48%) e suportável (43%), não havendo diferença significante em relação à predominância de algum gênero para com o local da dor. De acordo com estudos realizados por Moreira, Boery E. e Boery R. (2010), expõe que a dor articular, a perda de movimento e edema são indícios de algum tipo de lesões. O aumento exagerado da carga e do número de repetições dentro de academias são motivos para o aparecimento de lesões musculares, tendinosas e ligamentares durante a prática dos exercícios. Moreira, Boery E. e Boery R. (2010) em seu estudo, ainda mostram que 43% dos indivíduos analisados relataram ter lesão em algum segmento corporal, sendo: coluna (58%), ombro (18%), joelho (12%), cotovelo (6%), quadril (2%), tórax (2%) e panturrilha (2%), corroborando com o presente estudo onde o ombro e a coluna são os segmentos corporais em que a maioria dos participantes relatou sentir dor, indicando uma possível lesão. Em um estudo realizado por Rosas e Cardoso (2011), com a participação de sete indivíduos, foi observada a relação entre a modalidade de musculação e o Questionário de Dor de McGill, sendo a dor em fisgada (n=3) o descritor mais citado, assim como apresentado neste estudo, onde se constatou que o tipo de dor em fisgada prevalece sobre os demais. O presente artigo afirma que o ombro é o seguimento em que a dor mais se apresenta durante a atividade física em academias, concordando com essa afirmação o estudo apresentado por Shigunov e Wagner (2013), onde encontraram uma grande prevalência de lesões no ombro (96%) entre 25 sujeitos praticantes de musculação. Segundo Socorro et al. (2008), o exercício físico está intimamente relacionado com a qualidade de vida da população e a musculação vem crescendo em todas as faixas etárias como um meio de prevenção de diversas doenças. Apesar de a musculação estar se firmando como uma modalidade popular entre os praticantes de atividades em academia e de ser uma atividade que pode apresentar efeitos colaterais severos, pouco se relata sobre a instalação de quadros de agravo à saúde em virtude de sua prática, ou mesmo sobre a manifestação de sintomas deles resultantes, como a lombalgia (PINTO et al., 2008). Souza e Júnior (2010) realizaram uma pesquisa com 40 indivíduos, sendo o seu objetivo a verificação da existência de dor lombar durante a prática de musculação, 27 dos praticantes (67%) apresentaram dor lombar, diante disso, assim como apresentado neste artigo, a dor lombar sempre aparece como uma das principais dores relatadas, quando relacionado dor muscular a atividade física em academias. Corroborando com essa afirmação temos o estudo de Pinto, Silva, Novaes e Batista (2008), onde exibem a prevalência de lombalgia em 260 praticantes de musculação, sendo que 123 (47,3%) destes indivíduos apresentaram um quadro de lombalgia. Conclusão A partir dos dados obtidos neste estudo, pode-se comprovar que, independente do gênero ou da idade, todo indivíduo que pratica algum tipo de atividade física está suscetível a um possível quadro álgico, que pode variar desde uma dor suportável até uma dor intensa. Pode ocorrer em qualquer tipo de seguimento, como por exemplo, no ombro ou na coluna, apresentando características como: dor em fisgada, dor profunda, dor superficial e em queimação e etc. Diante disso, enfatiza-se a importância da realização de mais estudos na área, como a coleta de dados mais específicos sobre a dor, com um número maior de indivíduos participantes, e que se possa acompanhar o quadro álgico de cada indivíduo, perdurando durante o tempo necessário para que se avalie a evolução e compreenda até que ponto a atividade física promove benefícios sem causar danos. Referências BORG, Gunnar. Escala de Borg para a dor e o esforço percebido. São Paulo: Manole, 2000. MOREIRA, Ramon Missias; BOERY, Eduardo Nagib; BOERY, Rita Narriman. Lesões corporais mais freqüentes em alunos da academia de ginástica e musculação de Ituaçu, Bahia. EFDeportes.com, Revista Digital, n.151, Buenos Aires, 2010. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd151/lesoes-corporais-mais-frequentesem-academia.htm >. Acesso em: mar/2011. OLIVA, Ocimar Jose; BANKOFF, Antonia Dalla Pria; ZAMAI, Carlos Aparecido. Possíveis lesões musculares e ou articulares causadas por sobrecarga na prática da musculação. Rev. bras. ativ. fís. saúde;3(3):15-23, mar.1998. PINTO, SERGIO MEDEIROS; SILVA, M. A. G.; NOVAES, J. S.; BATISTA L. A. Prevalência de lombalgia em praticantes de musculação. Fisioterapia Brasileira, 9(3): 189-193, maio-jun. 2008. PITANGA, Francisco José Gondim. Epidemiologia, atividade física e saúde. Rev. Bras. Ciên. e Mov, Brasília, v.10, n.3 p. 49-54, jul. 2002. ROSAS, Ralph Fernando; CARDOSO, Morgana. Presença de dor em praticantes de exercício físico em academia nas diferentes modalidades. Monografia [Pósgraduação]. Universidade do Extremo Sul Catarinense, 2011. SABA, Fabio. Aderência: à prática de exercício físico em academias. São Paulo: Manole, 2001. SOCORRO, A.; MUTRAN, A.J.; BESSA A.M.; ARAÚJO, F.C. Desequilíbrio lombopélvico em praticantes de musculação portadores de lombalgia de três academias no centro de Belém. 2008, 60f. Monografia (Graduação em Fisioterapia), Universidade da Amazônia, Belém, 2008. SOUZA, RAFAELLI F. C.; JÚNIOR, A. A. P. Prevalência de dor lombar em praticantes de musculação. Unifebe, Brusque, p. 4, 2010. SHIGUNOV, Viktor; WAGNER, Eduardo. Estudo de lesões musculares e articulares em praticantes de musculação no município de Florianópolis. Monografia [Bacharel em Ed. Física]. Universidade Federal de Santa Catarina, 2013. FOMENTO O trabalho teve a concessão de Bolsa proveniente do Fundo de Apoio à Manutenção e ao Desenvolvimento da Educação Superior – Fumdes, concedido pela Secretaria do Estado da Educação de Santa Catarina - SED, pela Bolsa de Extensão do Artigo 171 da Constituição Estadual de Santa Catarina.