Departamento de Matemática e Ciências Experimentais FÍSICA – 12.º Ano Texto de apoio n.º 6 Assunto: Forças de Atrito __________________________________________________________________________________________ As forças de atrito são muito importantes na vida quotidiana. Se por um lado, provocam desgaste nas peças móveis das máquinas e são responsáveis pelo aumento da energia interna das mesmas, porque as peças aquecem. Por outro, sem atrito não haveria transmissão do movimento por correias, não poderíamos caminhar, nem tão pouco escrever e até mesmo a agitação do ar faria com que em nossas casas os móveis se movessem. Fig. 1 O atrito entre superfícies sólidas é devido à sua rugosidade, que muitas vezes acontece a uma escala microscópica. Quando tentamos deslizar uma superfície sobre a outra essa rugosidade impede o movimento dos corpos. Os átomos das duas superfícies, devido à sua proximidade, tentam fazer ligações químicas entre si, fixando uma superfície na outra, veja Fig. 1. Mesmo quando um objecto roda sobre uma superfície existe uma força de atrito que actua no sentido inverso ao do movimento, que é conhecido como atrito de rolamento. Fig.2 Quando um corpo está em movimento ao longo de uma superfície rugosa, a força de atrito cinético actua em sentido contrário ao do movimento do corpo. A intensidade da força de atrito cinético depende da natureza das duas superfícies que contactam. Para uma dada superfície, a experiência mostra que força de atrito é proporcional à reacção normal entre as duas superfícies, veja Fig. 2. A força de atrito é independente da área de contacto. Para velocidades pequenas, é independente da velocidade. Assim, podemos escrever a seguinte equação de proporcionalidade: onde c é uma constante de proporcionalidade, conhecida por coeficiente de atrito cinético, o seu valor depende da natureza das duas superfícies em contacto. Se estiver ligado à internet, veja a simulação de uma caixa que é empurrada em cima de uma mesa com atrito. (Faça clik sobre a figura 3). Fig. 3 Observe na simulação que o objecto começa a mover-se, a partir do instante em que a força aplicada passa a ser superior à força de atrito estático máximo. Em seguida, a força de atrito cinético (vector vermelho) começa a actuar na interface entre as superfícies da caixa e da mesa. Observe também, que a força de atrito cinético é inferior em módulo à força de atrito estático máximo, logo antes de iniciar o movimento. A descrição anterior está representada no gráfico da figura 4. Fig. 4 A Tab. 1, mostra valores de alguns coeficientes de atrito estático e de atrito cinético. Por se tratar de grandezas macroscópicas que dependem das propriedades microscópicas dos dois materiais, os coeficientes de atrito são variáveis para cada par de superfícies. Coeficiente de Coeficiente de atrito estático e atrito cinético c Níquel / níquel 0,74 0,57 Gelo / gelo 0,10 0,03 Cobre / aço 0,53 0,36 Madeira / madeira 0,40 0,20 Vidro / vidro 0,94 0,40 Cobre / ferro 1,05 0,29 Aço / aço 0,74 0,57 Superfícies Tab. 1 Até agora analisámos o conceito de atrito cinético, que surge quando o corpo está em movimento. Existe também o atrito estático, que foi estudado experimentalmente, pela primeira vez pelo físico francês Charles Coulomb (1736-1806), e refere-se à força paralela que surge antes dos corpos começarem a deslizar um em relação ao outro. Suponha, por exemplo, um caixote que está em repouso em relação ao solo. Se não existir uma força horizontal sobre ele, consequentemente não haverá força de atrito. Suponha agora, que tenta arrastar o caixote e ele não se move. Então estamos a exercer uma força, mas o caixote não se move, logo, deve existir uma outra força horizontal que actua sobre o caixote de tal forma que a força resultante na horizontal é nula, caso contrário, o caixote movia-se. Esta força oposta à força aplicada é a força de atrito estático exercida no caixote pelo solo. Á medida que se aumenta a força sobre o caixote, consequentemente a força de atrito estático aumenta. Mas, existe um limite! Isto significa que ao aumentarmos a força aplicada a partir de um certo instante o caixote começa a mover-se. Neste instante, dizemos que a força de atrito estático foi superada, isto é, nessa situação limite, a força aplicada é igual à força de atrito estático. máximo A partir daí a força de atrito será do tipo cinético. A força de atrito estático pode variar de zero até um valor máximo e tem as seguintes características: 1. É independente da extensão das superfícies em contacto; 2. Depende da natureza das superfícies que contactam; 3. O seu valor é proporcional à força normal do plano. Estas três conclusões experimentais traduzem-se numa lei de força cuja expressão é: Se colocamos uma moeda sobre um livro e o inclinarmos lentamente, veremos que a moeda permanece em repouso (fixa no livro) até que a inclinação atinja um ângulo máximo, e a partir daí a moeda começa a deslizar sobre o livro. Isto pode ser explicado, considerando que à medida que a inclinação aumenta, a força gravitacional na moeda, vai criando uma componente tangencial à capa do livro. Esta força tangencial é responsável pelo movimento da moeda. Quando ela atinge um valor que supera a força de atrito entre a moeda e o livro o movimento inicia-se, isto é, a moeda começa a deslizar. Se estiver ligado à internet, veja a simulação desta situação. (Faça clik sobre a figura 5). Fig. 5 Nestas condições, as forças que actuam na moeda são: o peso P e a reacção do plano (de componentes Rn e Fa máx ). Decompondo o peso P nas componentes Pt (segundo a linha de maior declive do plano inclinado) e Pn (perpendicular ao plano inclinado), ver Fig. 6, teremos, uma vez que há equilíbrio: Pt Fa máx 0 Fa máx P sin (a) Pn Rn 0 Rn P cos Dado que Fa máx e Rn , a primeira equação fica: e Rn P sin (b) Dividindo membro a membro as expressões (a) e (b), obtém-se: e Rn Rn P sin P cos e tg Medindo o ângulo para o qual a moeda fica na eminência de escorregar sobre o plano inclinado, ficamos a saber o coeficiente de atrito estático entre o material da moeda e o material do plano inclinado, ver tabela 1, onde se apresentam alguns valores para diversos pares de materiais. Prof. Luís Perna