UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “VEZ DO MESTRE”
RECURSOS HUMANOS E RESPONSABILIDADE SOCIAL
EMPRESARIAL: VALORES OU ESTRATÉGIA ?
Elaborado por:
Letícia Ferreira Leite
Orientador: Prof. Antonio Fernando Vieira Ney
Rio de Janeiro,
JULHO/2003
LETÍCIA FERREIRA LEITE
RECURSOS HUMANOS E RESPONSABILIDADE SOCIAL
EMPRESARIAL: VALORES OU ESTRATÉGIA ?
Apresentação de monografia à Universidade Candido
Mendes como condição prévia para a conclusão do
Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Gestão de
Recursos Humanos.
Por: Letícia Ferreira Leite
Rio de Janeiro,
JULHO/2003
AGRADECIMENTOS
À Deus, todo poderoso, que me ilumina e
fortalece na busca pelos meus ideais; aos
meus pais e irmã, minha querida família;
ao meu noivo Robson, pelo amor e
dedicação e aos amigos pelo incentivo.
SUMÁRIO
pag
INTRODUÇÃO.............................................................................5
CAPÍTULO 1: A Década de 90 eo Fortalecimento do Terceiro Setor........... 7
1.1.Considerações Gerais: A Emergência do Neoliberalismo..................7
1.2. O Surgimento e o Fortalecimento do Terceiro Setor no Contexto
Brasileiro...................................................................................................9
CAPÍTULO
2:
Responsabilidade
Social
Empresarial:
Valores
ou
Estratégia?.......................................................................................................16
2.1. Considerações Gerais......................................................................16
2.2. O conceito de Responsabilidade Social Empresarial ......................19
2.3. Responsabilidade social Empresarial: Valores Éticos ou Estratégia.23
CAPÍTULO 3: O Papel do Recursos Humanos Estratégico na
Responsabilidade Social Empresarial..................................................................30
Considerações Finais......................................................................................34
Referências Bibliográficas..............................................................................37
Folha de Avaliação..........................................................................................39
RESUMO
O presente trabalho tem o propósito de investigar sobre o tema
Responsabilidade Social Empresarial, com a intenção de buscar um maior
entendimento sobre as reais motivações na implantação de conceitos e
ferramentas de Responsabilidade Social na gestão empresarial.
Ressalta-se a relevância do tema que vem atualmente conquistando
notável destaque e espaço para discussão. Apresenta-se como um tema
complexo e dinâmico, apresentando uma literatura variada e pouco convergente.
O estudo está calcado em análises acerca da implantação de ferramentas
de Responsabilidade Social na gestão empresarial como uma estratégia
empresarial, frente ao mercado que se apresenta cada vez mais competitivo.
Portanto, a idéia central deste trabalho consiste na Responsabilidade
Social Empresarial como um comprometimento ético das empresas com o
desenvolvimento econômico e social, tendo como motivações empresariais, a
construção de uma boa imagem institucional, tendo como fim o aumento do seu
lucro e a potencialização de seu desenvolvimento.
INTRODUÇÃO
A escolha pelo tema da Responsabilidade Social Empresarial surgiu dado
ao destaque recebido pelos meios de comunicação; tendo sido emergente nos
dias atuais enquanto um dos temas debatidos e propagados pela gestão
empresarial.
Com
as
diversas
transformações
político-econômicas
e
sociais,
tecnológicas, de organização produtiva, relações de trabalho; são profundas as
mudanças no modo de as sociedades se organizarem. Alteram-se os papéis do
Estado, das empresas e das pessoas. Engendram-se reflexões sobre o exercício
da cidadania, e constituem-se novas modalidades de direitos coletivos. Há um
grande crescimento do Terceiro Setor, com a proliferação das organizações não
governamentais, sendo apresentado um caráter diferenciado.
Esse contexto apresenta como desafio um mercado cada vez mais
competitivo, e introduz uma nova concepção de qualidade, onde a busca pela
satisfação do cliente não é suficiente; e sim a satisfação de todos os elementos
que compõe o modelo da organização - os empregados, os fornecedores, os
consumidores e clientes, a comunidade, a sociedade e o meio ambiente.
A Responsabilidade Social Empresarial está intimamente relacionada a
esta nova concepção de qualidade. As empresas estão desenvolvendo bases
sólidas, através de soluções socialmente corretas, ambientalmente sustentáveis e
economicamente viáveis; com a preocupação crescente com sua legitimidade
social.
A implantação de ferramentas de Responsabilidade Social na gestão
empresarial se apresenta como uma estratégia empresarial, frente ao mercado
que se apresenta cada vez mais competitivo.
O presente trabalho tem o propósito de investigar sobre o tema
Responsabilidade Social Empresarial, com a intenção de buscar um maior
entendimento sobre as reais motivações na implantação de conceitos e
ferramentas
de
Responsabilidade
Social
na
gestão
empresarial.
Outra
preocupação está em como o setor de Recursos Humanos está inserido nesta
discussão, no desenvolvimento de uma atuação estratégica.
Este trabalho foi desenvolvido utilizando como metodologia, a abordagem
qualitativa tendo como base levantamento e revisão bibliográfica sobre o assunto.
Para tanto, o presente trabalho encontra-se estruturado em três capítulos.
O primeiro capítulo traz a análise sobre a década de 90 com o
aprofundamento do neoliberalismo e as mudanças no cenário político-econômico
e social; contextualizando o surgimento e fortalecimento das organizações do
Terceiro Setor.
No segundo capítulo o estudo centra-se na Responsabilidade Social
Empresarial, buscando uma análise acerca da implantação desta ferramenta nos
seus diversos aspectos, destacando a análise sobre as reais motivações de sua
implantação na gestão empresarial.
O terceiro capítulo enfatiza a análise do papel do setor de Recursos
Humanos na Responsabilidade Social Empresarial no desenvolvimento de uma
atuação estratégica.
Portanto, a idéia central deste trabalho consiste na Responsabilidade
Social Empresarial como um comprometimento ético das empresas com o
desenvolvimento econômico e social, tendo como motivações empresariais, a
construção de uma boa imagem institucional, tendo como fim o aumento do seu
lucro e a potencialização de seu desenvolvimento.
CAPÍTULO 1: A DÉCADA DE 90 E O FORTALECIMENTO DO
TERCEIRO SETOR
1.1. Considerações Gerais: a emergência do neoliberalismo
A década de 90 se apresenta no contexto do avanço das teses neoliberais,
implicando no redirecionamento do papel do Estado no Brasil.
Entretanto, no panorama internacional, surge o neoliberalismo que se deu
logo após a II Guerra Mundial, nas regiões da Europa e América do Norte –
impérios do capitalismo; com o objetivo de combater o Keynesianismo – calcado
no estado de bem-estar, e preparar as bases de um outro tipo de capitalismo,
duro e isento de regras para o futuro. O discurso dos neoliberais propagava o
estado de bem-estar como o destruidor da liberdade dos cidadãos e da vitalidade
da concorrência, ameaçando a prosperidade de todos; além de considerar a
desigualdade um valor positivo.
Em meados da década de 70, o pós-guerra representou uma longa e
profunda recessão do mundo capitalista avançado caracterizado por baixas taxas
de crescimento e altas taxas de inflação, abrindo espaço ao neoliberalismo. Seus
defensores culpavam o poder excessivo dos sindicatos e o movimento operário
em geral pela crise do capitalismo.
Como resposta à crise, buscou-se a
manutenção de um Estado forte, que rompesse com o poder dos sindicatos e
fosse frugal com os gastos sociais e intervenções econômicas; tendo como
prioridade a estabilidade monetária.
Conseqüentemente, houve contenção dos
gastos com o bem-estar e a criação de um exército de mão-de-obra – alta taxa de
desemprego com o objetivo da quebra dos sindicatos.
Em nível econômico, o neoliberalismo fracassou, não havendo qualquer
revitalização do capitalismo avançado. Em nível social, o neoliberalismo atingiu
seus
objetivos,
engendrando
sociedades
marcadas
pela desigualdade social, embora não totalmente desestatizadas.
A grande
conquista do neoliberalismo se caracterizou por sua hegemonia políticoideológica. O discurso neoliberal se incorpora tanto ao conjunto das relações
sociais das quais é o suporte e garantidor quanto às tecnologias; tornando os
opositores em adversários do progresso e da modernidade, em irracionais. A
mídia e os programas governamentais tornam invisível à população a situação de
exclusão a que está submetida.
As grandes transformações oriundas do fortalecimento do neoliberalismo,
principalmente as transformações do mundo do trabalho, que incidem diretamente
no bem-estar da população, geraram significativas mudanças culturais como o
enfraquecimento dos sindicatos e apatia dos trabalhadores na luta por seus
direitos. As condições gerais do trabalho passam por tentativas de redefinição,
tendo como objetivo a desregulamentação. Ou seja, a redução ao mínimo da
legislação de proteção ao trabalho, possibilitando o domínio do mercado.
A prática do neoliberalismo tem se aprofundado e o discurso se
generalizado dando uma aparência de vitória necessária ao capitalismo,
permitindo eludir o caráter de classe das opções político-econômicas.
No Brasil, este processo se aprofunda no governo Collor (1990-92) com a
defesa explícita da “modernidade e do mercado livre”.
Na transição pós-
impeachment no governo Itamar (1993-94) houve a continuação embora de forma
mais atenuada, cristalizando-se de forma nítida no governo de Fernando Henrique
Cardoso (1995-aos dias atuais).
Neste contexto de mudanças vem ocorrendo uma deterioração das
políticas sociais públicas, com diminuição da qualidade no atendimento, redução
dos gastos e cortes de benefícios, privatização de serviços, além de maior
seletividade e focalização nas suas ações assistenciais; visando a diminuição da
ação reguladora do Estado.
princípios
norteadores
De acordo com análise de BRAVO (1999), os
das
políticas
sociais
públicas
neste momento são:
“a descentralização, visando a aumentar a eficiência e a
eficácia do gasto e a ampliar a interação dos recursos públicos
com
os
não-governamentais;
a
focalização,
com
direcionamento da gestão social a programas e públicos alvos
específicos (seletivamente escolhidos), e a privatização, com o
deslocamento da produção de bens e serviços públicos para o
setor privado”.
O Estado sujeita-se às forças do mercado, abandonando medidas de
implementação e crescimento das políticas sociais básicas.
De acordo com Kameyama (2001), identifica-se quatro tendências que se
complementam neste cenário: a descentralização, a privatização, a renda mínima
e as conjurações dos esforços públicos e privados.
“A crise econômica e o aumento dos déficits públicos
favoreceram um profundo exame do papel do Estado na
maioria dos países Industrializados e o desenvolvimento de
alternativas do Estado-providência e ao mercado”.
(op.cit,p.24)
1.2. O surgimento e o Fortalecimento do Terceiro Setor no Contexto Brasileiro
Por diversos e contraditórios motivos como, a democratização e a
articulação da sociedade civil concomitante à crise do Estado e das Políticas
Sociais, o fortalecimento do neoliberalismo e o aprofundamento da miséria e da
apartação social: a crise das ideologias e dos projetos globalizantes –
tem aumentado a visibilidade e os debates sobre o papel das entidades nãogovernamentais e sem fins lucrativos voltados para uma ação no campo político e
social.
As organizações do Terceiro Setor são celebradas como alternativas
eficientes, flexíveis e dinâmicas na prestação de serviços sociais. Salienta-se
acerca da construção de novas fronteiras entre o público e o privado.
No contexto brasileiro, as organizações não governamentais (ONGs) vêm
surgindo no país desde os anos 70 e se ampliam em meados da década de 80.
De acordo com Landim (1994: 37):
“Nas raízes da história das atuais ONGs estão os ‘Centros
de Educação Popular’, ou de ‘Assessoria e Apoio’ a
grupos populares que surgem pouco a pouco nos anos
70, em pleno regime militar, como entidades voltadas para
um trabalho de pouca visibilidade junto a grupos
localizados, espalhados pelo país: um sem número de
especialistas em trabalhos ‘de base’ dedicam-se a
‘assessorar’ pequenos projetos como alfabetização,
grupos de compra e venda, postos de saúde, produção
coletiva, práticas comunitárias diversas, junto a grupos
populares na cidade e nas áreas rurais.”
Portanto, nos anos 70, as ONGs constituíram em um novo movimento
inspirado num ideário de esquerda e anti-ditatorial, por parte de agentes da classe
média em direção ao povo e ao contrário do Estado.
Uma característica pertinente às ONGs consistia no financiamento obtido
através da cooperação internacional; visto que os canais de cooperação com o
Estado não ocorriam devido suas práticas e a aliança com o setor empresarial era
quase impossível nos anos mais duros do regime autoritário.
Segundo Kameyama (2001:26):
“Essas ONGs surgiram em um contexto de regimes militares e
representavam formas de ação política que se opunham ao
autoritarismo. Eram uma alternativa ao fechamento do sistema
político e seu principal propósito era o de manter espaços de
ação cidadã e de defesa de certos valores democráticos. As
ONGs tinham como objetivo favorecer à participação dos
excluídos e eram dotadas de uma forte identificação com os
setores populares, as suas ‘bases’ sociais. A sua característica
fundamental era a total independência com relação ao Estado:
a sua independência do poder político.”
Landim (1994:37) coloca, que:
“Mais do que resultados materiais significativos para os grupos
atingidos, importava nos projetos levados a cabo nas ‘bases’ a
criação de contra-poderes e a promoção de valores como
autonomia e participação popular, dentro de um ideário crítico
ao modelo de desenvolvimento capitalista brasileiro e onde o
socialismo era projeto freqüentemente evocado.”
A partir da segunda metade da década de 70, se intensificam as relações
dessas
entidades
com
agências
de
cooperação
internacionais
basicamente européias e canadenses, em sua maioria não-governamentais,
pautadas por ideários democráticos e de defesa de direitos humanos e fortemente
ligada a igrejas cristãs.
A atuação das ONGs se aprofunda na virada das décadas de 70 e 80, na
medida em que se constrói e se fortalece a sociedade civil organizada no país.
“As entidades de ‘assessoria e apoio’ multiplicam-se na
mesma medida em que crescem os movimentos sindicais,
as associações de moradores, as associações
comunitárias, os movimentos por terra, etc. Ou seja,
constroem-se e consolidam na medida em que se constrói
e se fortalece a sociedade organizada no país.”
(Idem,1994:38)
Na década de 80, com o início do processo de democratização política,
muda-se o contexto político e econômico e também as instituições. As ONGs
neste momento, vão passar por crises, engendrando mudanças. Conforme coloca
Ibidem (1994: 39):
“é na virada dos anos 80 que as entidades ‘de assessoria e
apoio aos movimentos populares’ vão viver algumas crises
de ”aparelhamento” por partidos ou correntes políticas,
superadas pelo esforço de afirmação – evidenciado em
debates, escritos, reformulações institucionais – de sua
autonomia com relação aos movimentos populares. Afirmase o caráter não representativo das futuras ONGs:
definem-se como entidades autônomas de prestação de
serviços diversos a setores populares, apartidárias, e que
não pretendem representar ninguém, a não ser a si
m e s m a s .”
Ressaltar-se ainda,
“As ONGs se constroem, portanto, em um jogo de
ambigüidades entre ser instituição ou ser movimento, entre
profissionalismo e militância, entre autonomia e
independência de igrejas, sindicatos, associações, partido
– não podendo ser esquecidos os laços internacionais
d a d o s p o r s u a s f o n t e s d e fi n a n c i a m e n to ” . ( o p . c i t, p . 3 9 )
As ONGs, na década de 80, vão paulatinamente se especializando em
diferentes campos como, ambiental, questões de gênero, sociedades indígenas,
AIDS, negritude, crianças de ruas, mulheres. Contam com representantes da
intelectualidade, mantém laços internacionais e se relacionam de modo
privilegiado com grandes instituições como igrejas, partidos, universidades;
adquirindo “visibilidade particular como protagonista da sociedade civil brasileira”
(Ib ibid:40).
Thompson (apud Kameyama 2001:26-27) coloca em relação às instituições
do Terceiro Setor:
“Em particular, começa a confundir-se e desvanecer-se
aquela percepção de um ‘Terceiro Setor’ formado por dois
blocos preponderantes de instituições: um, histórico,
tradicional e conservador, integrado pelas instituições de
caridade e beneficência, voltadas para o serviço social e,
outro, as novas ONGs, guiadas por uma lógica política
alternativa, opositora, moderna, e voltadas para o
d e s e n v o l v i m e n t o s o c i a l s u s t e n t á v e l . É n e s t a fa s e q u e
começa a ser falar do ‘Terceiro Setor’. Além do mercado e
do Estado formado por organizações dos dois blocos,
ganha peso uma percepção funcional em lugar de uma
percepção político-ideológica“.
A tendência de conjugação público e privado vem se desenvolvendo, a
partir da década de 80, em nível mundial e particularmente na América Latina,
com a transferência de recursos, através de parceria para as organizações
sociais.
O Terceiro Setor representa neste momento uma mudança de orientação
no Brasil, no que diz respeito ao papel do Estado e do mercado; e ainda, à forma
de participação do cidadão na esfera pública.
“No processo de reforma do Estado, o papel do Terceiro
Setor se destaca entre as propostas para o
redirecionamento das políticas públicas. Sendo a princípio
alternativas no campo da política, o interesse por ele
cresce devido ao seu potencial papel funcional na
economia. Surge, dessa forma, o interesse dos
organismos como o Banco Mundial, o Banco
Interamericano de Desenvolvimento e até algumas
empresas com relação ao papel que possam ter
organizações da sociedade civil, no sentido de aliviar a
pobreza e os problemas sociais que o mercado traz
consigo”. (Op. cit. p.28)
Vale ressaltar, que não cabem as organizações do Terceiro Setor
substituírem o Estado, e sim, atuar como parceiros, através de projetos em
cooperação com órgãos governamentais, assim como, em cooperação com novos
atores sociais, como o setor empresarial, no enfrentamento da crise social.
Em reação a todo esse processo de instabilidade política e social, com a
crise do Estado e das Políticas Sociais, que vem aprofundando a miséria e a
apartação social; tem-se engendrado reflexões sobre o exercício da cidadania nas
pessoas e nas empresas, originando uma esfera pública não estatal.
CAPÍTULO 2: RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL:
VALORES OU ESTRATÉGIA?
2.1. Considerações Gerais
Com
as
diversas
transformações
político-econômicas
e
sociais,
tecnológicas, de organização produtiva, relações de trabalho, ocorridas no mundo
e, conseqüentemente no contexto brasileiro nas últimas décadas; o ambiente
empresarial brasileiro vem se tornando profundamente competitivo.
A falta de instabilidade política e social, a ineficiência e ineficácia do Estado
em responder aos problemas de ordem social; aliada a competitividade
empresarial, tem permitido que muitas empresas, diretamente ou por intermédio
de instituições do Terceiro Setor, através de ações sociais – que denominam
Responsabilidade Social – assumam este papel.
Até a década de 90, as empresas tinham como preocupação oferecer aos
seus clientes serviços de qualidade, relacionada diretamente à satisfação destes
clientes, ou melhor eficiência ou eficácia no relacionamento com o mesmo.
Em relação a ações sociais, quando realizadas, eram feitas através dos
seus acionistas, de forma individual, dependendo de sua visão e de seus
recursos. Num segundo momento, as empresas começam a empreender ações
sociais na comunidade, contudo, sem incluí-las na sua estratégia empresarial
(Kameyama, 2001).
Atualmente, a Responsabilidade Social Empresarial se incorpora à gestão,
abarcando toda a cadeia de relacionamentos: funcionários, clientes, fornecedores,
governo, concorrentes, acionistas, meio ambiente e a sociedade em geral.
Esta evolução vem acompanhando as modificações sofridas pelo mercado
que conforme colocado, tem se apresentado cada vez mais competitivo.
O conceito de qualidade hoje não se restringe tão somente na busca da
satisfação do cliente, mas de todos os elementos que compõem o modelo da
organização – a cadeia de relacionamentos citada anteriormente.
Dessa forma, percebe-se que a Responsabilidade Social Empresarial está
intimamente relacionada a esta nova concepção de qualidade, que ao evoluir
abarcou o conceito de qualidade de vida pessoal e qualidade de vida no trabalho;
tornando-se um diferencial competitivo.
A Responsabilidade Social Empresarial vem se dando no investimento das
empresas em ações sociais, através de doações de recursos, implementação
direta de programas ou projetos, ações voluntárias de seus funcionários e
parcerias com organizações da sociedade civil. A constituição de fundações com
fins filantrópicos, com fins de investigação, conservação de patrimônio, etc,
consiste em uma outra maneira destas empresas investirem no campo de ação
social de maneira mais ampliada (Kameyama, 2001).
Segundo Ashley (2002:6):
“Responsabilidade social pode ser definida como o
compromisso que uma organização deve ter para com a
sociedade, expresso por meio de atos e atitudes que a
a fe ta m p o s i ti v a m e n te , d e m o d o a m p l o , o u a a l g u m a
comunidade, de modo específico, agindo proativamente e
coerentemente no que tange a seu papel específico na
sociedade e a sua prestação de contas para com ela. A
organização, neste sentido, assume obrigações de caráter
moral, além das estabelecidas em lei, mesmo que não
diretamente vinculadas a suas atividades, mas que possam
contribuir para o desenvolvimento sustentável dos povos.
Assim, numa visão expandida, responsabilidade social é
toda e qualquer ação que possa contribuir para melhoria da
q u a lid a d e d e v id a d a s o c ie d a d e ” .
“A nova realidade de mercado fez com que as empresas
investissem mais em outros atributos hoje essenciais, além
de preços e qualidade: confiabilidade, serviços de pósvenda, produtos ambientalmente corretos e relacionamento
ético da empresa com seus consumidores, fornecedores e
varejistas, além da valorização de práticas ligadas ao
ambiente interno, como a política adotada em relação à
segurança de seus funcionários ou produtos e à qualidade
e preservação do meio ambiente.
Essas inovações, no lado tecnológico, nos processos de
produção, nas formas de organização, no relacionamento
da empresa com seus funcionários e comunidade e no lado
social e ambiental, dizem respeito a um tema que não é
novo, mas que, nos últimos anos, apresenta importância
crescente: a responsabilidade social das empresas.”
(op.cit., p.5)
Borger (2001) ainda coloca em relação à Responsabilidade Social
Empresarial:
“As empresas estão tendo de competir num ambiente de
n e g ó c io s c a d a v e z m a is c o m p le x o , o n d e n ã o é m a is
suficiente oferecer qualidade e preço competitivo, não é
mais suficiente obedecer às leis e pagar impostos. As
companhias de sucesso serão cada vez mais pressionadas
para olhar intensamente o impacto das suas operações
dentro e fora de suas paredes institucionais e,
cuidadosamente, verificar os impactos de suas políticas e
ações nos seus empregados, clientes, comunidades e na
s o c i e d a d e c o m o u m to d o ” .
2.2. O Conceito de Responsabilidade Social Empresarial
O conceito de Responsabilidade Social Empresarial está em construção.
Embora não seja um tema novo, ganha visibilidade na década de 90, suscitando
uma série de interpretações. Consiste num conceito complexo e dinâmico, com
diferentes significados, em contextos diversos.
Dentre
as
diversas
interpretações
sobre
Responsabilidade
Social
Empresarial, aparecem idéias como, atrelamento ao cumprimento de leis –
compromisso legal, compromisso com os clientes internos – os funcionários,
filantropia empresarial, comportamento eticamente responsável e filantropia
empresarial.
De acordo com Votaw (1975 apud Ashley 2002:7):
“Responsabilidade social significa algo, mas nem sempre a
mesma coisa, para todos. Para alguns, ela representa a
idéia de responsabilidade ou obrigação legal; para outros,
significa um comportamento responsável no sentido ético;
para outros, ainda, o significado transmitido é o de
responsável por, num modo causal. Muitos, simplesmente,
equiparam-na a uma contribuição caridosa; outros tornamn a p e l o s e n t i d o d e s o c i a l m e n te c o n s c i e n t e ” .
Borger (2001:17) afirma que:
“Atualmente é inegável que as atividades e as operações
das empresas afetam a sociedade como um todo. O
público começou a expressar suas preocupações com o
comportamento social das empresas em relação aos
problemas sociais e ambientais exigindo maior
envolvimento delas na solução destes. Mais do que isso,
passou a questionar o papel das empresas na sociedade.
I n i c i a l m e n t e , e s te q u e s t i o n a m e n t o m a n i fe s t o u - s e n a
preocupação com as relações de trabalho, como a
obtenção e garantia de benefícios e encargos trabalhistas,
as questões relacionadas às condições de ambiente de
trabalho, ou seja, aspectos restritos ao universo interno da
empresa. Posteriormente, as questões ultrapassaram os
limites internos das organizações, trazendo novas
questões como meio ambiente, eqüidade para grupos em
desvantagem (mulheres, minoria visíveis, deficientes
físicos), segurança e estabilidade no emprego, tratamento
justo entre os administradores, proprietários e força de
trabalho. O que se verifica atualmente é que não existe
mais uma linha divisória entre problemas que estão fora e
dentro das empresas: as soluções devem ser
compartilhadas com a sociedade de forma geral e as
empresas devem contribuir ativamente com as soluções,
sob o risco de serem questionadas, processadas e
cobradas pelos seus atos.“
Em 1953, a Responsabilidade Social Empresarial já era discutida, sendo
definida por Bowen como “a obrigação do homem de negócios de adotar
orientações, tomar decisões e seguir linhas de ação que sejam compatíveis com
os fins e valores da sociedade” (Bowen apud Ashley 2002:6).
A partir de então, tem-se uma crescente conscientização acerca da
ampliação do papel das organizações na sociedade, levando à constituição de
uma cidadania organizacional, no âmbito interno da empresa; e à implementação
de direitos sociais, no âmbito externo (Ashley 2002).
Na concepção de Fridman (1970 apud Borger 2001), a Responsabilidade
Social Empresarial deve se limitar à obediência às leis e à maximização dos
lucros. Coloca que, considerações sociais são de responsabilidade da sociedade
e não dos negócios.
“a empresa é socialmente responsável ao gerar novos
empregos, pagar salários justos e melhorar as condições
de trabalho, além de contribuir para o bem-estar público ao
pagar seus impostos. A empresa que desvia seus recursos
para ações sociais pode prejudicar sua competitividade”.
(Friedman apud Ashley 2002:21)
Para ratificarmos a posição de Friedman em relação à Responsabilidade
Social Empresarial, citamos um trecho da colocação acerca deste autor por
Borger (2001: 19):
“Friedman é um crítico feroz das ações e decisões tomadas
pelos administradores para a contribuição social em
detrimento dos interesses da corporação. E cita como
exemplos: deixar de aumentar preços dos produtos para
contribuir com o objetivo social de prevenir a inflação; com
o objetivo de reduzir a poluição despender recursos que
vão além dos requisitos legais para melhoria do meio
ambiente, à custa dos lucros da corporação; contratar
desempregados em vez de trabalhadores mais qualificados
com o objetivo de reduzir a pobreza. Ele vê estas ações
como uma violação da função dos negócios. O dinheiro
gasto em projetos sociais é uma imposição e o dispêndio
de taxas com o dinheiro dos outros para atender ao
interesse geral da sociedade reduz os salários e os
dividendos dos acionistas e aumenta os preços ao
consumidor. (Friedman, 1970, apud Makower, p.43). Essas
ações transformam os executivos em funcionários
públicos ou servidores da sociedade civil, os quais tomam
decisões seguindo critérios políticos e sociais para alocar
recursos e definir quais são os interesses sociais
c o l e ti v o s . ”
A posição de Friedman é questionada por autores como Peter Drucker, que
coloca, que a Responsabilidade Social é um importante fator para que as
empresas mantenham sua sustentabilidade.
Para ele “as empresas e os
empresários são percebidos como liderança e liderança impõe responsabilidade e
integridade pessoal” (Idem,2001:21).
Para Drucker (1999 apud Ibidem, 2001:23):
“Considerando que a ideologia predominante nos anos 60
– de que o governo-Estado podia e devia cuidar dos
problemas da comunidade – foi superada pelas evidências
de que os governos não podem tomar conta dos problemas
da comunidade, e tampouco os negócios e o mercado livre
podem tomar conta dos problemas da comunidade, mas,
em parceria com a sociedade civil, representada pelo
terceiro setor, compreendido pelas organizações
comunitárias não lucrativas, as empresas devem se
responsabilizar pelas soluções dos problemas da
comunidade fornecendo os recursos materiais e o trabalho
voluntário de seus colaboradores”.
Segundo Jaramillo e Ángel (1996 apud Ashley 2002:7):
“responsabilidade social pode ser também o compromisso
que a empresa tem com o desenvolvimento, bem-estar e
melhoramento de qualidade de vida dos empregados, suas
famílias e comunidade em geral”.
Essas colocações contrárias às idéias de Friedman reconhecem que as
empresas têm um papel social e político a desempenhar; e que os negócios vão
além do cumprimento das leis e maximização dos lucros.
2.3. Responsabilidade Social Empresarial: Valores Éticos ou Estratégia
Ao discutirmos sobre responsabilidade social empresarial, podemos
observar posições difusas entre os vários autores.
A primeira baseada nos
conceitos de direitos da propriedade, calcada nas idéias do autor Friedman,,
coloca que as empresas são socialmente responsáveis quando cumprem com
suas obrigações legais (tributárias, fiscais, trabalhistas, ambientais, etc); e ainda,
que as empresas tem o objetivo tão somente de maximização dos lucros, e
conseqüentemente atender aos objetivos de seus acionistas. Outras instituições
como igrejas, sindicatos e ONGs teriam a função institucional voltadas para
Responsabilidade Social.
Outra posição consiste na defesa da Responsabilidade Social Empresarial
como ações que vão além das obrigações legais; tendo seu público de
beneficiados ampliado: funcionários, clientes, fornecedores, competidores e
outros com os quais as empresas mantenham transações comerciais.
Andrade & Mendonça (2002:2) colocam que:
“a conceituação de responsabilidade social empresarial
vem passando por transformações. Como salientam Aglieri
e Borinelli (2001) havia inicialmente uma visão de
obrigação social focada em critérios econômicos, isto é, na
maximização de lucros e na satisfação de obrigações
legais, adequadas exclusivamente a esses princípios.
Porém, outras visões começaram a ser incorporadas, como
a aprovação social, que concebe a empresa como um
membro da sociedade, responsável tanto pela satisfação
de obrigações legais como sociais ou ainda, mais
recentemente, uma perspectiva mais abrangente vinculada
à stakeholders theory, que supõe um envolvimento mais
diretivo das empresas com questões sociais, a partir de
uma abordagem de interdependência”.
A segunda posição citada, podemos enquadrá-la em duas linhas básicas:
ética e instrumental (Ashley, 2002). A linha ética, calcada em argumentos éticos,
oriundos dos princípios religiosos e normas sociais prevalecentes; onde a
realização das ações tem uma dimensão moral, e a empresa ou pessoas
envolvida estaria agindo de maneira socialmente responsável.
A linha instrumental considera a existência de uma relação positiva entre o
comportamento socialmente responsável e o desempenho econômico da
empresa. Ou seja, a empresa socialmente responsável gera oportunidades
oriundas do desenvolvimento de sentimentos de empatia e cumplicidade com os
consumidores e populações adjacentes; destacando-se de seus competidores
menos responsáveis socialmente.
Andrade & Mendonça (2002), colocam como pressupostos básicos para
definição de responsabilidade social corporativa, os conceitos de racionalidade
substantiva e racionalidade instrumental.
A racionalidade substantiva está relacionada à linha ética, citada
anteriormente. Baseia-se numa lógica substantiva da vida humana associada a
qualquer processo organizacional, preponderando a ética em suas ações. São
elementos constitutivos da ação substantiva, de acordo com Serva (1997 apud
Idem 2002): autorealização, entendimento, julgamento ético, autenticidade,
valores emancipatórios e autonomia.
A racionalidade instrumental diz respeito à linha instrumental citada
anteriormente. Consiste na lógica subjacente às ações nas organizações
produtivas, combinando recursos e meios adequados a fins deliberadamente
elegidos (Ramos 1983 apud Ibidem 2002). São elementos constitutivos da ação
instrumental de acordo com Serva (1997 apud IbIbid 2002): cálculos, fins,
maximização dos recursos, resultados, desempenho, utilidade, rentabilidade e
estratégia interpessoal.
“A ação instrumental é uma ação baseada no cálculo,
orientada para o alcance de metas técnicas ou de
finalidade, ligadas a interesses econômicos ou de poder
social, através da maximização dos recursos disponíveis.
Enquanto a ação substantiva está orientada em duas
dimensões, uma que quer potencializar o indivíduo e outra
potencializadora das relações sociais, voltada ao
entendimento e dirigida à responsabilidade social”.
( o p . c i t. p . 4 )
Ressalta-se como questão relevante fazer a distinção entre adoção de
práticas filantrópicas, dirigidas às comunidades; de práticas socialmente
responsáveis, com uma perspectiva de responsabilidade social corporativa.
De acordo com Borger (2001), a filantropia empresarial vem conquistando
visibilidade no contexto brasileiro, compartilhando e disputando espaço com
outras formas de ações privadas em benefício público. Contudo não consiste em
um novo campo de atuação, apenas assumiu um novo caráter, ao associar este
investimento sobre a política da empresa.
As ações de filantropia são iniciativas voluntárias e espontâneas da
empresa em favor da comunidade, com a idéia de que a empresa não se
beneficia
destas
ações,
atendendo
às
necessidades
da
sociedade
ou
comunidade; adquirindo um caráter benevolente, de caridade.
A
Responsabilidade
Social
Empresarial
transcende
a
filantropia
empresarial, estando esta inserida num conjunto de atividades orientadas para a
Responsabilidade Social Empresarial.
Melo Neto & Froes (2001 apud Andrade & Mendonça 2002:2), estabelecem
a distinção entre responsabilidade social e filantropia ao “firmar o conceito de
responsabilidade social a partir de uma perspectiva substanciada num
comprometimento ético das empresas com o desenvolvimento econômico-social e
não através de uma simples adoção de práticas beneficentes”.
A definição do que seriam ações socialmente responsáveis não é de fácil
determinação; visto que irá envolver as relações que a empresa tem com o
ambiente social, o político, o econômico e o legal onde está inserida, e que se
modificam com o decorrer do tempo, ou seja, é dinâmica.
Coloca-se então que a responsabilidade social empresarial é “um processo
constante de monitoramento do ambiente e das relações e não uma missão fixa
em relação a grupos que permanece estática (Borger 2001: 36)”.
“O conceito de responsabilidade social empresarial está
associado ao reconhecimento de que as decisões e os
resultados das atividades das companhias alcançam um
universo de agentes sociais muito mais amplo do que o
composto por seus sócios e acionistas. Muitas das
decisões e atividades dos negócios têm conseqüência para
a comunidade local, para o meio ambiente e para muitos
outros aspectos da sociedade. Essas conseqüências vão
muito além do mercado e, portanto, são de interesse de
uma sociedade mais ampla que não está diretamente e,
necessariamente envolvida com uma troca de mercado
processada com os negócios”. (op.cit.,p. 36)
Carroll (1979 apud Idem 2001) desenvolveu um modelo conceitual amplo
acerca da responsabilidade social. Consiste em uma estrutura – uma pirâmide de quatro dimensões definindo responsabilidade social como responsabilidade
econômica, legal, ética e filantrópica.
A responsabilidade filantrópica está na
ponta da pirâmide, consistindo nos recursos destinados para a comunidade, no
sentido de melhorar a qualidade – ser um bom cidadão. Na segunda parte da
pirâmide está a responsabilidade ética, consistindo na obrigação de fazer o que é
certo, justo e evitar danos. Na terceira parte da pirâmide está a responsabilidade
legal, que consiste na obediência às leis, tendo a legislação como a codificação
do certo e errado. Na base da pirâmide está a responsabilidade econômica,
realização de lucros e a base de tudo.
Portanto,
a
responsabilidade
social
empresarial
consiste
num
comprometimento ético das empresas com o desenvolvimento econômico e
social, associado aos pressupostos tanto da racionalidade substantiva quanto aos
pressupostos da racionalidade instrumental. Visto que, as ações no campo social
vão engendrar a construção de uma imagem corporativa ao cooperarem com
públicos-chaves da organização – que lhe dão suporte e aos seus negócios,
desenvolvendo uma relação interdependente entre sociedade e empresas.
A responsabilidade social não se restringe a um comprometimento ético
das empresas, associada a pressupostos tão somente da racionalidade
substantiva. As motivações empresariais estão associadas à construção de uma
boa imagem institucional, frente ao aumento da complexidade e competitividade
do mercado. Ou seja, a responsabilidade social empresarial é vista como uma
estratégia empresarial competitiva e diferencial tendo como fim, o aumento do
lucro e a potencialização do seu desenvolvimento.
Utilizando-se a responsabilidade social empresarial como estratégia, as
empresas estão desenvolvendo bases sólidas, através de soluções socialmente
corretas, ambientalmente sustentáveis e economicamente viáveis.
De acordo com Ibidem (2001: 31)::
“As atividades sem fins lucrativos são justificadas pelo
critério econômico como uma contribuição calculada para
o lucro marginal da operação. Isso significa que as
despesas e custos podem ser contrabalançados por
argumentos que demonstrem outros tipos de ganhos,
muitas vezes a médio e longo prazo, que a empresa
adquire no mercado ao se envolver em tais ações. Essas
atividades podem trazer benefícios como atrair públicosalvo para a organização, melhorar as relações com a
comunidade, com as contrapartes, melhorar a imagem e a
reputação da empresa de forma a obter a boa vontade
destas para obter licença para operar em momentos de
crise. A justificativa é o auto-interesse da organização”.
Kameyama (2001: 28) coloca sobre a imagem corporativa:
“Hoje, o marketing social deve ser um reflexo da
“personalidade” da empresa, na medida em que os
consumidores passam a avaliar a conduta social da
empresa antes de comprar seus produtos. Neste contexto,
as marcas, por seu poder de mobilização, podem se
transformar em eficazes canais de adesão para as mais
variadas causas: da criança carente ao idoso abandonado,
da cultura ao meio ambiente, do esporte à recuperação do
patrimônio arquitetônico etc”.
CAPÍTULO 3: O PAPEL DO SETOR DE RECURSOS
HUMANOS ESTRATÉGICO NA RESPONSABILIDADE
SOCIAL EMPRESARIAL
O setor de Recursos Humanos de uma organização só será efetivamente
estratégico se entender do negócio, conhecer os objetivos e metas da
organização, além de obter uma visão mais sistêmica e menos operacional.
Um papel relevante do setor de Recursos Humanos consiste na atuação e
retenção de talentos. Esta tarefa não consiste tão somente numa relação
criteriosa, mas também em perspectivas de crescimento e desenvolvimento
profissional.
No atual contexto político-econômico e social, marcado por compressões
econômicas e políticas globais, caracterizado pelo neoliberalismo; muitas das
necessidades do coletivo dos cidadãos, perderam o status de direito e se viram
enfraquecidas pela ausência de pactos sociais, ancorados em projetos
efetivamente coletivos e emancipatórios. As demandas sociais perderam o caráter
coletivista e universalista. Ou seja, o Estado-nação vem se desresponsabilizando
cada vez mais pela oferta e distribuição de políticas públicas, fundamentadas no
reconhecimento dos direitos sociais.
Com isso, as empresas vêm desempenhando cada vez mais o caráter não
só produtivo, mas também social.
Este último voltado ao atendimento das
necessidades de seus colaboradores (empregados) e familiares, e ainda, a
comunidade em que se situa, em interação dinâmica e produtiva.
A
Responsabilidade Social Empresarial vem assumindo novas características,
englobando o público externo e interno, além do investimento na área ambiental.
A responsabilidade social empresarial é considerada cada vez mais como
uma das principais estratégias para alavancar o crescimento das empresas.
Promove a imagem da empresa e amplia a capacidade de atração e retenção de
talentos. Também ganha em comprometimento e adesão dos funcionários, além
de atrair os consumidores, aumentar o potencial de vendas e gerar maiores
lucros.
De acordo com Ashley (2002), há pelo menos sete vetores que direcionam
o processo de gestão empresarial para o fortalecimento da dimensão social da
empresa e facilitam o investimento das empresas na Responsabilidade Social. Os
sete vetores são: apoio ao desenvolvimento da comunidade na qual atua,
preservação do meio ambiente, investimento no bem-estar dos funcionários e
dependentes e em um ambiente de trabalho agradável, comunicações
transparentes, retorno aos acionistas e sinergia com os parceiros.
Vale ressaltar, que a Responsabilidade Social deve resultar de uma
motivação legítima, ligada aos valores internos da empresa, de acordo com a
missão e os objetivos da empresa. Dessa forma, permite criar uma nova cultura
dentro da empresa, sendo praticada e incorporada na gestão e em atividades
regulares como produção, distribuição, Recursos Humanos e marketing (Idem,
2002). A autora citada coloca que:
“A empresa socialmente responsável assume uma postura
proativa, ou seja, considera sua responsabilidade buscar e
implementar soluções para os problemas sociais. Cultiva e
pratica um conjunto de valores que podem ser explicitados
em um código de ética, formando a própria cultura interna
e funcionando como referência de ação para todos os
dirigentes em suas transações”. (op.cit.,p. 11)
O Instituto Ethos afirma que empresas socialmente responsáveis são
agentes de nova cultura empresarial e de mudança social; produtoras de valor
para todos o colaboradores, acionistas e comunidade; diferenciadas e de maior
potencial de sucesso e longevidade (Ibidem, 2002).
Ashley
(2002)
coloca
algumas
tendências
e
desafios
para
a
responsabilidade social nos negócios, em direção a uma sociedade sustentável,
atuando sobre os impactos das decisões e ações de todos os agentes sociais –
dos stakeholders associados aos negócios de uma organização empresarial. O
primeiro desafio levantado consiste na avaliação de desempenho, incluindo a
avaliação
quanto
aos
aspectos
ambientais
(responsabilidade
ambiental);
econômicos (responsabilidades societária, financeira, comercial e fiscal) e sociais
(ação social da empresa e responsabilidade trabalhista / previdenciária).
Quanto aos aspectos sociais, um instrumento de avaliação utilizado
consiste no balanço social, que recapitula “em um único documento os principais
dados que permitem apreciar a situação da organização no domínio social,
registrar as realizações efetuadas e medir as mudanças ocorridas no curso do
ano em referência e dos anos anteriores” (Chiavenato 2002: 592). Consiste num
instrumento de delimitação e definição da responsabilidade social da organização.
O balanço social deve ilustrar as relações entre a organização e seu
pessoal, além das relações entre a organização e a sociedade. Ou seja, engloba
informações a respeito dos empregados, acionistas, clientes e usuários,
fornecedores, comunidade e governo. Dessa forma, o balanço social:
“passa a ser um sistema de informação dirigido ao público
a respeito do comportamento socialmente responsável da
organização. A nova concepção da organização carregada
da convicção de sua responsabilidade social impõem uma
profunda mudança quanto à informação a oferecer ao
(op.cit.,p.595).
público interno e externo”
O segundo desafio levantado consiste na descentralização do debate sobre
responsabilidade social, adotando novas premissas:
“buscar a responsabilidade social de todos os indivíduos,
organizações e instituições em suas decisões e ações na
sociedade; considerar o poder de compra e consumo como
fomentador da responsabilidade social nos negócios;
educação em todos os níveis e meios, para uma sociedade
sustentável, proporcionando a consciência de vivermos em
uma rede de complexidade com múltiplos e simultâneos
fatores antecedentes e resultantes”. (Ashley 2002:35)
O terceiro desafio levantado por Ashley (2002) está na transparência
organizacional, onde as empresas atuam a partir de normas, princípios e valores
assumidos com seus stakeholders e praticados no cotidiano. Ressalta-se, que o
conhecimento das expectativas mútuas na rede de relacionamentos é condição
indispensável para a sustentação de uma orientação estratégica para a
Responsabilidade Social nos negócios. Portanto, o setor de Recursos Humanos
sendo responsável pela conquista e retenção de funcionários qualificados, além
de um clima organizacional satisfatório; tem na gestão socialmente responsável
uma estratégia para a atuação de um setor de Recursos Humanos estratégico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho buscou analisar a Responsabilidade Social Empresarial como
um comprometimento ético das empresas com o desenvolvimento econômico e
social, tendo como motivações empresariais, a construção de uma boa imagem
institucional, tendo como fim o aumento do seu lucro e a potencialização de seu
desenvolvimento.
Percebe-se que com o aprofundamento do neoliberalismo na década de
90, o cenário político, econômico e social sofre modificações.
Ocorre o
redirecionamento do papel do Estado no Brasil, principalmente com as mudanças
nas relações do trabalho, incidindo diretamente nas condições de vida da
população; gerando o aumento da miséria e apartação social.
Neste contexto vem ocorrendo uma deteriorização das políticas sociais
públicas, com redução dos gastos e cortes de benefícios, diminuição da qualidade
no atendimento, privatização de serviços, além de mais seletividade e focalização
nas suas ações assistenciais; visando a diminuição da ação reguladora do
Estado. O Estado sujeita-se às forças do mercado, abandonando medidas de
implementação e crescimento das políticas sociais básicas.
O Terceiro Setor, a partir da década de 80, adquire visibilidade particular
como protagonista da sociedade civil brasileira, ganhando percepção funcional no
redirecionamento das políticas públicas, na forma de participação do cidadão na
esfera pública.
Constata-se o desenvolvimento da tendência de conjugação entre os
esforços público e privado, evidenciado com o aumento da visibilidade das
organizações do Terceiro Setor como alternativas eficientes, flexíveis e dinâmicas
na prestação de serviços sociais.
Frente
às
diversas
modificações
político-econômicas
e
sociais,
tecnológicas, na organização produtiva e relações de trabalho; apresenta-se
como desafio um mercado cada vez mais competitivo. Uma nova concepção de
qualidade é introduzida, onde a busca pela satisfação do cliente não é suficiente;
e sim a satisfação de todos os elementos que
compõe o modelo da
organização - os empregados, os fornecedores, os consumidores e
clientes, a comunidade, a sociedade e o meio ambiente.
Como ferramenta de gestão empresarial e diferencial competitivo, muitas
empresas, diretamente ou por intermédio de instituições do Terceiro Setor, vem
investindo
em
ações
sociais,
denominando-as
Responsabilidade
Social
Empresarial.
Ressalta-se como questão relevante a distinção entre a adoção de práticas
filantrópicas – iniciativas voluntárias e espontâneas da empresa em favor da
comunidade, de caráter benevolente; de práticas socialmente responsáveis, com
uma perspectiva de responsabilidade social corporativa.
A
Responsabilidade
Social
Empresarial
transcende
a
filantropia
empresarial, estando esta inserida num conjunto de atividades orientadas para
aquela.
Convém destacar ainda, que a atuação das empresas orientada para
Responsabilidade Social Empresarial não implica em abandonar seus objetivos
econômicos, visto que uma empresa é socialmente responsável por desempenhar
seu papel econômico na sociedade produzindo bens e serviços, gerando
empregos e retorno para seus acionistas dentro das normas legais e éticas da
sociedade. Contudo não é suficiente; sendo necessário o desenvolvimento de
bases sólidas, através de soluções socialmente corretas, ambientalmente
sustentáveis e economicamente viáveis; com a preocupação crescente com a
legitimidade social da organização.
Podemos
definir
Responsabilidade
Social
Empresarial
como
o
compromisso ético de uma organização com o desenvolvimento econômico
e social. Suas ações vão além das obrigações legais, assume obrigações de
caráter
moral,
comprometendo-se
com
ações
sociais
voltados
para
a
comunidade, que possam contribuir para o desenvolvimento sustentável da
sociedade.
A implantação de ferramentas de Responsabilidade Social na gestão
empresarial se apresenta como uma estratégia empresarial competitiva e
diferencial, frente ao mercado que se apresenta cada vez mais competitivo. Pois
as ações no campo social vão engendrar a construção de uma imagem
corporativa positiva, aumentando o vínculo que seus consumidores e clientes
estabelecem com ela, desenvolvendo uma relação interdependente entre
sociedade e empresa.
Ao observar os vários preceitos éticos da Responsabilidade Social na
relação com seus públicos-chaves, a empresa está buscando estabelecer um
ambiente favorável quanto ao seu posicionamento no mercado, beneficiando
direta e indiretamente a sociedade.
Portanto a Responsabilidade Social Empresarial é cada vez mais
considerada como uma das principais estratégias para alavancar o crescimento
das empresas.
Promove a imagem da empresa, constitui um ambiente de
trabalho saudável e propício para a realização profissional das pessoas e amplia
a capacidade de atração e retenção de talentos. Também ganha em
comprometimento
e
adesão
de
seus
funcionários,
além
de
atrair
os
consumidores, aumentar o potencial de vendas e gerar maiores lucros.
Dessa forma, o setor de Recursos Humanos tem na Responsabilidade
Social Empresarial uma ferramenta de gestão empresarial que desenvolverá uma
nova cultura empresarial e engendrará mudança social, agregando valores para
todos os colaboradores, acionistas e comunidade.
Assim, diferenciando e
desenvolvendo maior potencial de sucesso e longevidade às organizações e
passando pelas políticas de relacionamento da empresa com seus vários públicos
- os stakeholders.
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes
Título da Monografia: Recursos Humanos e Responsabilidade Social
Empresarial: Valores ou Estratégia?
Autor: Letícia Ferreira Leite
Data da entrega: 05/07/2003
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Elaborado por: Letícia Ferreira Leite