DA EVOLUÇÃO DO EMPREGO DOS SETORES
ECONÔMICOS DOS COREDES DO RIO GRANDE DO SUL, 1990/2000
Nali de Jesus de Souza1
Matheus Pinheiro da Fontoura Rodrigues2
Resumo. Este artigo analisa a evolução do emprego dos setores econômicos dos Coredes do RS entre
1990/2000, através do método estrutural-diferencial. Esse método indica os setores dinâmicos por vantagens
locacionais apresentadas pelas diferentes regiões, ou por serem atividades que estão crescendo rapidamente em
nível nacional. A indústria gaúcha apresentou crescimento positivo do emprego, ao contrário do Brasil em que o
emprego se reduziu substancialmente no período. O setor terciário e a agricultura criaram empregos em nível
nacional e regional, gerando um saldo positivo no conjunto dos setores. No conjunto do RS, como nos Coredes,
o efeito estrutural para a indústria foi amplamente negativo, revelando que a estrutura produtiva industrial centra-se em setores que não dinâmicos em nível nacional. Pelo contrário, o efeito diferencial foi positivo no RS e
em praticamente nos Coredes mais distantes da Região Metropolitana de Porto Alegre, área com desvantagem
competitiva. Observa-se que os Coredes com maiores vantagens locacionais são aqueles da Região da Serra e da
Região Norte do RS. Em relação ao terciário, o setor de Ensino foi aquele com maiores vantagens locacionais no
RS.
Palavras-chave: Efeito estrutural-diferencial, desenvolvimento regional no RS, crescimento do emprego.
Abstract. This article examines the evolution of employment of the economic sectors of the coredes of Rio
Grande do Sul (RS) from 1990 to 2000, throw the shift-share analysis. This method indicates the sectors with are
dynamic for having locational advantages, presented by the region, or for being activities which grow very fast at
national level. The growth of the state industry employment was positive, but negative at the national level during the same period. The tertiary and agriculture generated employment at the national and regional levels,
which resulted in labor surplus for the Brazilian economy. The structural effect was negative for the total of the
state as well as for the coredes; this shows that the industrial productive structure is based on the non dynamic
sectors at national level. On the contrary, the differential effect was positive in the state and the in all the coredes
located further away from the Metropolitan Region of Porto Alegre. This region had a competitive disadvantage.
The coredes with the greater location advantages are those in the “Região da Serra” and the Northern Region of
RS. Within the tertiary, the educational sector had the greatest locational advantage in the state of RS.
Keywords: Shift-share analysis, regional development in state of RS, employment growth.
1 - INTRODUÇÃO
O método estrutural-diferencial destina-se a analisar a dinâmica de crescimento intersetorial pela decomposição das duas principais causas do crescimento econômico regional:
causas estruturais (presença de setores dinâmicos) e causas locacionais (economias externas).
As causas estruturais medem o efeito da estrutura intersetorial, pelo fato da região
possuir atividades que em nível nacional crescem rapidamente. Efeito estrutural positivo indica a presença de uma infra-estrutura privilegiada, formada por atividades dinâmicas. Sendo
negativo, a região teria uma economia estruturada em torno de atividades não dinâmicas, que
em nível nacional crescem lentamente. As causas locacionais indicam que a região possui
vantagens em relação a outras áreas e isso se traduz em atração de novas atividades. Efeito
1
Professor Mestrado em Economia da PUCRS. Doutor em Economia pela USP. E-mail: [email protected].
Acadêmico de Ciências Econômicas da PUCRS. Bolsista de Iniciação Científica (FAPERGS). E-mail:
[email protected].
2
diferencial positivo sinaliza a existência na região de atividades que se beneficiam dessas
vantagens; sendo negativo, o efeito mostra desvantagens locacionais.
Desse modo, utilizado o método estrutural-diferencial, este artigo tem como objetivo
analisar o dinamismo de crescimento do emprego dos Coredes do Estado do Rio Grande do
Sul, por setor de atividade, entre 1990/2000, procurando mostrar os setores e os Coredes que
apresentaram dinamismos locacionais e aqueles que cresceram em função de possuir atividades naturalmente dinâmicas em nível estadual e nacional.
2 – APRESENTAÇÃO DO MÉTODO ESTRUTURAL-DIFERENCIAL
2.1 Matriz de informações
Para a aplicação do método estrutural-diferencial, precisa-se da matriz de informações,
dado pelo Quadro 1. Nesse quadro, temos nas linhas os m setores da economia e as n regiões
do sistema estadual ou nacional de regiões. Supondo que os dados sejam os de emprego, o
elemento E21, por exemplo, indica o volume de emprego do setor 2 existente na região 1; enquanto o elemento Eij se refere ao volume de emprego do setor i na região j. No final de cada
linha, temos o emprego total estadual de cada setor; enquanto no final de cada coluna obtémse o emprego total de cada região. No encontro da última linha com a última coluna tem-se o
emprego total da economia estadual.
Quadro 1 - Matriz de informações das regiões do sistema nacional (m setores e n regiões)
Regiões
Total nacional
Setores
Rl
R2
...
Rj
...
Rn
S1
E11
E12
...
E1j
...
E1n
E1
S2
E21
E22
...
E2j
...
E2n
E2
...
...
...
...
...
...
...
...
Si
Ei1
Ei2
...
Eij
...
Ein
Ei
...
...
...
...
...
...
...
...
...
...
Sm
Em1
Em2
Emj
Emn
Em
m
m
Total da região i=1Σm i=1Σm Ei2 ... i=1Σm Eij ...
Σ
E
Σ
Ei
i=1
in
i=1
i1
Obs.: os dados podem serEemprego
(E), exportações (X), valor bruto da produção (Q) etc.
De posse dos dados do Quadro 1, pode-se estudar o dinamismo de crescimento do emprego de cada setor em cada uma das regiões do sistema estadual.
2.2 Efeito estrutural e variação teórica
O efeito estrutural ou proporcional (Pij) mede o efeito da composição setorial (estrutura),
decorrente da existência, em nível estadual, de setores que crescem mais do que os demais. Se
a região possuir uma alta participação desses setores terá um efeito Pij positivo. O efeito diferencial (Dij) indica os setores que crescem mais em uma dada região do que em outras, refletindo vantagens locacionais. O efeito total (Tij), a soma dos dois efeitos anteriormente referidos; ele mede a diferença entre a mudança regional efetiva e a mudança que teria havido no
nível de emprego se a região tivesse crescido às mesmas taxas do Estado (ou do País, se as
regiões forem os Estados, ou regiões maiores).
Esse estudo é importante porque identifica os setores que possuem um dinamismo dife-
rencial ou estrutural, região por região, bem como as áreas que não possuem nenhum desses
setores de atividades. Esses efeitos podem ser formalizados matematicamente, como segue:
(1)
t
∆ Eij = Eij - Eij
0
A equação (1) diz que a variação real do emprego, entre o ano zero e o ano t, da atividade i na região j ( ∆ Eij) é igual ao volume do emprego no ano t da atividade i da região j
t
0
(Eij ), menos o volume do emprego no ano zero dessa atividade e região (Eij ). Sabendo-se que
t
o volume do emprego no ano t do setor i na região j (Eij ) é igual ao volume do emprego do
0
ano zero desse setor e região (Eij ), multiplicado pela taxa de crescimento do emprego dessa
t
0
indústria e região (Eij /Eij ), tem-se:
(2)
t
0
t
0
0
Eij = Eij Eij / Eij = Eij eij
Substituindo-se a equação (2) na equação (1), chega-se à relação (3) segundo a qual a
variação real do emprego do setor i da região j é uma função do volume do emprego inicial
0
(Eij ), multiplicado pela taxa de crescimento do referido setor no período em estudo.
0
0
0
(3) ∆ Eij = Eij eij - Eij = Eij (eij - 1).
Conhecendo-se outras taxas de crescimento, a equação (3) pode ser modificada, como
segue:
e = Et/E0 → taxa de crescimento do emprego no Estado entre o ano zero e o ano t;
ei = Eit/Ei0 → taxa de crescimento do emprego do setor i no Estado entre o ano zero e o
ano t. Substituindo essas taxas na equação (3), tem-se:
0
0
(4) ∆ Eij = Eij (eij - 1+ e - e + ei - ei) = Eij (e - 1 + ei - e + eij - ei).
Decompondo o segundo membro em parcelas, tem-se:
0
0
0
(5) ∆ Eij = Eij (e - 1) + Eij (ei - e) + Eij (eij - ei).
Substituindo a equação (5) na equação (1), obtém-se:
t
0
0
0
0
(6) ∆ Eij = Eij - Eij = Eij (e - 1) + Eij (ei - e) + Eij (eij - ei).
t
0
A equação (6) diz que a variação real do emprego do setor i na região j (Eij - Eij ) pode
ser decomposta em três parcelas: variação teórica, variação estrutural e variação diferencial.
0
A variação teórica do emprego regional [Eij (e-1)] diz quanto o setor i cresceria na região j se
ele se expandisse com a taxa do nível estadual (e).
0
A variação estrutural ou proporcional [Eij (ei - e)], sendo positiva, indica que o setor i é
dinâmico no nível estadual pois cresce mais do que a média estadual (ei > e); se esse crescimento for negativo (ei < e), o setor i será estagnado, porque cresce menos do que a média es0
tadual dos demais setores. A variação diferencial [Eij (eij - ei)], sendo positiva, indica que o
setor i cresce mais na região j do que no nível estadual. Isso estaria indicando vantagens locacionais para essa atividade na região j. Essas vantagens locacionais podem ser explicadas pelo
grau de facilidade da região de acesso aos mercados e às fontes de insumos.
Reorganizando a equação (6), tem-se que o efeito total (Tij, igual à variação real, menos a
variação teórica), pode ser decomposto no efeito proporcional e no efeito diferencial:
t
0
0
0
0
(7) Tij = (Eij - Eij ) - Eij (e - 1) = Eij (ei - e) + Eij (eij - ei)
Em resumo: a) haverá efeito proporcional positivo se ei > e (setor i crescendo mais do que
a média de crescimento do conjunto de setores do Estado); b) haverá efeito diferencial positi-
vo se eij > ei (o setor i crescendo mais na região j do que no conjunto do Estado). As diferenças entre essas taxas são ponderadas pelo nível inicial do emprego do setor i da região j.
A equação (7) indica a existência ou não de efeitos proporcionais (Pij) e/ou diferenciais
(Dij) na região j, setor por setor. Para computar a existência global da incidência desses efeitos
( Σ i Tij), região por região, é necessário somar os efeitos parciais (positivos e negativos) de
todos os setores i da região j, ou seja:
(8) Σ i Tij = Σ i Pij + Σ i Dij.
A relação (8) indica se o município j apresenta efeitos proporcionais e diferenciais positivos ou negativos para todos os setores. A partir dessa análise, pode-se adotar políticas de regionalização dos investimentos e de incentivos para as diferentes atividades econômicas, segundo o seu dinamismo, de sorte a maximizar a taxa do crescimento econômico dos diferentes municípios. Porém, o efeito diferencial apresenta um problema, como será visto a seguir.
2.3 Efeitos entrelaçados
Rosenfeld (1959) argumentou que o efeito diferencial ou competitivo depende tanto da
natureza dinâmica do setor i no município (eij > ei), como da concentração regional do empre0
go desse setor no ano base Eij . Como pode ser visto na equação (7), os efeitos estrutural e
diferencial encontram-se entrelaçados, pois ambos dependem do nível do emprego do ano
0
base (Eij ). Assim, o efeito competitivo também leva em conta aspectos estruturais (Herzog &
Olsen, 1977, p. 444).
Diante desse problema, Esteban-Marquillas (1972) propôs a reformulação da equação
0*
clássica (6), introduzindo o emprego esperado Eij no lugar do emprego efetivo do período
0
0*
inicial Eij . O emprego esperado para o setor i do município j (Eij ), no ano base, define-se
como aquele que guarda a mesma proporção da economia estadual para o setor i, ou seja:
0*
0
0
0
Eij /ΣEij = (Ei /ΣEi ). Em outras palavras, para o ano base, espera-se que a participação do
0*
0
emprego do setor i da região j no emprego total dessa região (Eij /ΣEij ) seja a mesma do em0
0
prego estadual do setor i em relação ao emprego total do Estado (Ei /ΣEi ). Assim, tem-se:
(9) Eij
0*
0
0
0
= ΣEij (Ei / ΣEi ).
0*
0
Introduzindo Eij no efeito diferencial Dij = Eij (eij - ei), Esteban-Marquillas (1972) procurou eliminar da posição competitiva a influência estrutural. Desse modo, a posição competitiva pura ficou sendo:
(10)
0*
Dij* = Eij (eij - ei).
A influência estrutural do dinamismo diferencial, ou efeito alocação, foi definida como a
diferença entre a posição competitiva espúria e a posição competitiva pura (Dij - Dij* = Aij),
elemento medido como segue (Esteban-Marquillas, 1972, p. 251):
(11)
0
0*
Aij = (Eij - Eij ) (eij - ei).
A equação (11) mostra que o efeito alocação (Aij) pode assumir valores positivos, negativos ou nulos, dependendo do sinal . O setor i será de especialização quando o emprego efetivo
0
0*
for maior do que o emprego esperado (Eij > Eij ); ele apresentará vantagem competitiva se
crescer no período acima da média estadual (eij > ei). Há quatro possibilidades para o sinal de
Aij, sendo que em três casos o efeito alocação poderá ser nulo (Quadro 2).
Quadro 2 - Sinais dos efeitos alocação da região em relação à economia nacional
Possibilidades para o efeito alocação
Efeito alocação
(Aij)
1. Desvantagem competitiva especializada
2. Desvantagem competitiva não especializada
3. Vantagem competitiva não especializada
4. Vantagem competitiva especializada
5. Vant./desv. compet. c/mesma estrutura nacional
6. Neutralidade compet. espec./não especializada
7. Neutralidade compet. c/mesma estrut. nacional
(-)
(+)
(-)
(+)
0
0
0
Especialização
0
0*
(Eij - Eij )
(+)
(-)
(-)
(+)
0
+/0
Vantagem competitiva (eij - ei)
(-)
(-)
(+)
(+)
+/0
0
Obs.: As possibilidades inseridas nos itens 5 a 7 são de Souza (1999, p. 92).
Fonte: Herzog and Olsen, 1977, p. 445.
As áreas mais dinâmicas são aquelas com vantagem competitiva especializada (possibilidade 4), ou seja, o setor i é mais representativo e cresce mais na região j do que no Estado
como um todo. Contudo, uma variação alocativa positiva também pode indicar que a região j
não é especializada nesse setor e cresce menos do que a média estadual (possibilidade 2). Da
mesma forma, efeito alocação negativo pode mostrar duas alternativas: a) desvantagem competitiva especializada (possibilidade 1, setor i mais concentrado na região j, mas cresce menos
que a média estadual; e b) vantagem competitiva não especializada (possibilidade 3, setor i é
menos concentrado na região e cresce mais do que a média estadual). Finalmente, o efeito
alocação pode ser nulo, seja porque o setor i da região guarda a mesma proporção do Estado,
seja porque ele cresceu no mesmo ritmo do conjunto do Estado, ou por ambas as razões.
A equação modificada do método estrutural-diferencial de Esteban-Marquillas fica sendo
a seguinte, para um dado setor e município:
(12)
t
0
0
0
0*
0
0*
(Eij - Eij ) = Eij (e-1) + Eij (ei - e) + Eij (eij - ei) + (Eij - Eij ) (eij - ei)
t
0
A equação (12) afirma que a variação real (Eij - Eij ) é igual à soma das variações teórica
0
0
0*
Eij (e-1), proporcional ou estrutural [Eij (ei - e)], competitiva pura [Eij (eij - ei)] e alocativa
0
0*
[(Eij - Eij ) (eij - ei)].
3 – EVOLUÇÃO DA ECONOMIA GAÚCHA EM RELAÇÃO AO BRASIL, 1990/2000
O modelo apresentado na seção anterior foi aplicado às regiões definidas pelos Coredes do conjunto do Rio Grande do Sul (RS). Contudo, primeiro a análise enfocou o Estado
do RS em relação ao Brasil, para depois concentrar-se no estudo do dinamismo dos setores de
atividade no interior dos Coredes em comparação com a performance desses mesmos setores
em nível estadual.
3.1 Panorama do crescimento do emprego setorial, 1990/2000
A Tabela 1 apresenta um comparativo do emprego total de cada setor do Rio Grande
do Sul (RS) com o conjunto do Brasil. A análise foi feita para 15 setores da indústria (incluindo-se serviços industriais de utilidade pública e construção civil), nove setores do terciário,
além da agricultura e outros setores ou ignorados. No ano 2000, as principais indústrias do RS
pelo número de empregados eram Calçados (119.271), Alimentos e bebidas (85.242), Construção civil (66.999), Metalurgia (44.928), Madeira e Mobiliário (41.758) e Borracha, fumo e
couros (41.503). No nível nacional, as indústrias que mais empregavam em 2000 eram Construção civil (1.071.505), Alimentos e bebidas (970.955), Têxtil (688.849), Química (503.245)
e Metalúrgica (475.526).
Tabela 1 - Nível de emprego, variação real e taxa de crescimento do
emprego do Rio Grande do Sul e do Brasil, por setor de atividade, 1990/2000
Setores de Atividade
Extrativa Mineral
Miner. não metálicos
Indústria metalúrgica
Indústria mecânica
Elétrico/comunicação
Material transporte
Madeira e mobiliário
Papel e gráfica
Borracha/fumo/couro
Indústria química
Indústria Têxtil
Indústria calçados
Alimentos/Bebidas
Serv Utilidad Pública
Construção civil
Total da indústria
Comercio/varejo
Com atacado
Instit. Financeiras
Adm Tecnico Profis
Transporte/comunic.
Alojamento/aliment.
Med Odon Veterin.
Ensino
Administr. pública
Total do terciário
Agricultura
Outras/ignoradas
Total geral
1990
2000
RS
BRASIL
RS
BRASIL
5.886
130.875
4.564
108.083
13.286
310.772
13.184
271.050
52.621
569.350
44.928
475.526
40.290
368.573
36.393
274.594
12.680
328.719
11.919
190.839
19.134
378.170
22.658
294.791
33.668
341.195
41.758
388.543
19.898
318.550
23.481
304.737
49.818
370.019
41.503
216.478
30.936
514.023
38.252
503.245
33.821
831.414
25.147
688.849
117.620
226.634 119.271
238.411
74.645
907.017
85.242
970.955
21.662
323.392
18.706
289.896
43.274
959.341
66.999 1.071.505
569.239 6.878.044 594.005 6.287.502
218.090 2.395.267 258.214 3.455.383
48.336
583.993
48.026
677.505
60.787
790.163
37.201
545.960
122.292 1.689.762 119.807 2.522.614
72.841 1.035.950
91.007 1.365.462
161.171 2.336.384 140.099 2.229.233
37.019
386.757
80.642
900.860
8.235
209.703
60.168
945.174
337.067 4.773.467 362.480 5.769.376
1.065.838 14.201.446 1.197.644 18.411.567
27.803
372.960
67.953 1.051.672
83.631 1.746.206
85
1.508
1.746.511 23.198.656 1.859.687 25.752.249
RS
L
-1.322
-102
-7.693
-3.897
-761
3.524
8.090
3.583
-8.315
7.316
-8.674
1.651
10.597
-2.956
23.725
24.766
40.124
-310
-23.586
-2.485
18.166
-21.072
43.623
51.933
25.413
131.806
40.150
-83.546
113.176
%
-22,5
-0,8
-14,6
-9,7
-6,0
18,4
24,0
18,0
-16,7
23,6
-25,6
1,4
14,2
-13,6
54,8
4,4
18,4
-0,6
-38,8
-2,0
24,9
-13,1
117,8
630,6
7,5
12,4
144,4
-99,9
6,5
BRASIL
L
%
-22.792 -17,4
-39.722 -12,8
-93.824 -16,5
-93.979 -25,5
-137.880 -41,9
-83.379 -22,0
47.348 13,9
-13.813 -4,3
-153.541 -41,5
-10.778 -2,1
-142.565 -17,1
11.777 5,2
63.938 7,0
-33.496 -10,4
112.164 11,7
-590.542 -8,6
1.060.116 44,3
93.512 16,0
-244.203 -30,9
832.852 49,3
329.512 31,8
-107.151 -4,6
514.103 132,9
735.471 350,7
995.909 20,9
4.210.121 29,6
678.712 182,0
-1.744.698 -99,9
2.553.593 11,0
Fonte: Relação Anual de Informações Sociais (RAIS)
Entre 1990 e 2000, a indústria do RS criou 24.766 empregos (4,4%), enquanto no
conjunto do Brasil houve queda de 590.542 empregos (-8,6%). No RS, o crescimento do emprego do conjunto da indústria se deve, basicamente, ao desempenho da Construção civil
(+23.725), dos setores de Alimentos e bebidas (10.597), Madeira e mobiliário (8.090) e Química (7.316). O desemprego foi substancial nas indústrias Têxtil (-8.674), Borracha, fumo e
couros (-8.315), Metalúrgica (-7.693) e Mecânica (-3.897). Serviços industriais de utilidade
pública desempregaram quase três mil pessoas na década de 1990.
No nível nacional, as poucas indústrias que criaram emprego foram Construção civil
(112.164), Alimentos e bebidas (63.938), Madeira e mobiliário (47.348) e Calçados (11.777).
As indústrias que mais desempregaram em nível nacional foram Borracha, fumo e couros (153.541), Têxtil (-142.565), Eletrônica e comunicações (-137.880), Mecânica (-93.979) e
Metalúrgica (-93.824). Isso se deve à reestruturação da indústria brasileira provocada pela
abertura às importações, que aumentou a concorrência interna de produtos importados, como
facilitou a importação de máquinas e equipamentos que gerou desemprego tecnológico.
O setor terciário acabou absorvendo grande parte do pessoal desempregado pela indústria, principalmente no conjunto do Brasil, onde ele cresceu 29,6%, representando mais
4.210.121 novos empregos. A taxa de crescimento do emprego no setor terciário do RS foi
mais modesta: 12,4%, ou mais 131.806 novos postos de trabalho. No RS, os segmentos do
setor terciário que mais cresceram foram os Serviços de ensino (+51.933), seguido pelos Serviços médicos, odontológicos e veterinários (+43.623 empregos), pelo comércio varejista
(+40.124 empregos) e pela Administração Pública (+25.413); reduziram o emprego as Instituições financeiras (-23.586), Alojamento e alimentação (-21.072), Serviços administrativos e
técnicos (-2.485) e o Comércio atacadista (-310). A Agricultura gaúcha empregou mais
40.150 pessoas.3
Em nível nacional, os segmentos do Terciário que mais cresceram foram praticamente os mesmos do nível estadual, destacando-se a Administração pública com mais
995.909 postos de trabalho, além do Comércio varejista (+1.060.116), dos Serviços administrativos e técnicos (+832.852) e Ensino (+735.471). A Agricultura apresentou um crescimento
substancial, mas como essas estatísticas coletadas pela RAIS dizem respeito ao emprego formal, pode ocorrer que os dados de 1990 estejam subestimados.
3.2 Efeito estrutural-diferencial do RS em relação ao Brasil, 1990/2000
Como no caso dos Coredes, o estudo contemplou 14 setores industriais (incluindo-se
os Serviços industriais de utilidade pública – SIUP – e a Construção civil), 9 setores do terciário, além dos totais da indústria, terciário e agricultura. Embora tenham sido positivos o efeito
diferencial puro (66.988) e o efeito alocação (6.653), a indústria do RS apresentou efeito total
negativo (-37.893), fruto do alto valor negativo para o efeito estrutural (-111.533) (Tabela 2).
Os valores negativos mais expressivos para o efeito estrutural ocorreu com os setores Borracha/fumo/couros (-26.156), Mecânica (-14.708), Metalúrgica (-14.464) e Têxtil (9.522). Também perderam dinamismo estrutural, no período, Materiais elétrico/ comunicações, Material de transporte e Calçados. Isso afetou negativamente a economia gaúcha porque
são setores industriais que em nível nacional também perderam dinamismo. Os únicos setores
que adquiriram dinamismo estrutural, assim mesmo de pequena magnitude, foram Madeira/mobiliário e Construção civil.
A Construção civil foi o setor com os maiores efeitos diferenciais (31.153), fruto de
vantagens locacionais no RS, seguido de Materiais de transporte, Química e Materiais elétricos/comunicações. O efeitos estrutural negativo destes últimos setores indica que, a despeito
de a nível nacional estarem perdendo dinamismo, as vantagens locacionais do RS compensarem em parte, uma vez que os efeitos totais ainda permanecem negativos para Materiais elétrico/comunicações. A indústria têxtil, sem dinamismo estrutural, também mostrou desvantagem locacional de alguma expressão. Também apresentaram desvantagem locacional e efeito
estrutural negativo SIUP e Calçados.
O setor terciário do RS apresentou efeito total positivo, fruto da grande magnitude
do efeito estrutural (198.653), embora o efeito diferencial tenha sido altamente negativo (184.743). O RS possui um setor terciário forte, sobretudo Comércio varejista, Serviços administrativos/ técnicos/profissionais e Serviços médicos/odontológicos/veterinários, mas com
debilidade no setor financeiro e nos setores de Alojamento/alimentação. Os grandes valores
negativos para o efeito diferencial puro ocorreram nos Serviços administrativos/técnicos/profissionais, Comércio Varejista e Administração pública. Significa que esses
setores não apresentam vantagens locacionais no RS. Somente o setor Ensino apresentou
vantagens locacionais e de grande magnitude (44.192).
3
Outros setores e ignorados desempregaram 83.546 pessoas. Todavia, esse “setor” funciona como variável de
ajuste e ele não será considerado na análise.
Tabela 2 – Efeito estrutural-diferencial do
Rio Grande do Sul, em relação ao Brasil, por setor de atividade, 1990/2000
Setores de
Atividade
Miner. não metálicos
Indústria metalúrgica
Indústria mecânica
Elétrico e comunicação
Material de transporte
Madeira e mobiliário
Papel e gráfica
Borracha/fumo/couros
Indústria química
Indústria Têxtil
Indústria de calçados
Alimentos/Bebidas
Serv Utilidade Pública
Construção civil
Total Indústria
Comercio/varejo
Com atacado
Instituições Financeiras
Adm.Tecn. Profissional
Transportes e comunic.
Alojamento/aliment.
Med Odon Veterinários
Ensino
Administração pública
Total Terciário
Agricultura
Outras/ignoradas
Total geral
Fonte dos dados brutos: RAIS.
Variação
teórica
1.462
5.792
4.435
1.396
2.106
3.706
2.190
5.484
3.405
3.723
12.947
8.217
2.384
4.763
62.659
24.006
5.321
6.691
13.461
8.018
17.741
4.075
906
37.103
117.322
3.060
9.206
192.247
Efeito
total
-1.564
-13.485
-8.332
-2.157
1.418
4.384
1.393
-13.799
3.911
-12.397
-11.296
2.380
-5.340
18.962
-37.893
16.118
-5.631
-30.277
-15.946
10.148
-38.813
39.548
51.027
-11.690
14.484
37.090
-92.752
52.735
Efeito estrutural
Efeito
diferenEfeito
cial puro alocação
-3.161
2.811
-14.464
797
-14.708
4.391
-6.714
8.895
-6.325
11.521
966
2.608
-3.053
5.358
-26.156
6.910
-4.054
9.963
-9.522
-5.320
-6.835
-647
-2.955
4.881
-4.628
-801
296
31.153
-111.533
66.988
72.518 -46.634
2.419
-7.322
-25.478
-4.697
46.814 -65.286
15.151
-5.357
-25.133 -14.930
45.133
-4.393
27.975
44.192
33.221 -47.883
198.653 -184.743
47.535 -10.549
-92.764
20
41.891 -128.284
-1.215
181
1.985
-4.337
-3.778
810
-912
5.447
-1.998
2.445
-3.814
455
88
-12.487
6.653
-9.766
-728
-103
2.526
354
1.250
-1.192
-21.141
2.972
573
103
-7
0
Especialização
(Eoij-Eo*ij)
-10.110
9.757
12.542
-12.068
-9.337
7.981
-4.084
21.961
-7.762
-28.772
100.558
6.360
-2.685
-28.950
51.425
37.762
4.370
1.300
-4.922
-5.151
-14.724
7.902
-7.552
-22.304
-3.318
-275
-47.832
0
Vantagem
competitiva
(eij-ei)
0,120
0,019
0,158
0,359
0,405
0,102
0,223
0,248
0,257
-0,085
-0,038
0,071
-0,033
0,431
0,129
-0,259
-0,167
-0,079
-0,513
-0,069
-0,085
-0,151
2,799
-0,133
-0,173
-0,376
0,000
-0,045
A Agricultura gaúcha apresentou efeito total positivo (37.090), fruto do grande
efeito estrutural positivo (47.535), mas efeito diferencial puro negativo (-10.549). Isso significa que, embora a agricultura gaúcha seja importante e significativa em nível nacional, a atividade não apresenta os mesmos dinamismos locacionais do passando, por estar perdendo espaço no cenário nacional, tendo em vista a expansão da fronteira agrícola para o Centro Oeste e
para áreas da Bahia, Maranhão e Pará.
A indústria gaúcha apresentou efeito alocação positivo derivado de especialização e
vantagem competitiva também positivos; já o efeito alocação dos setores agrícola e terciário
resultaram de desvantagem competitiva e não especialização. O desempenho positivo desse
efeito para o conjunto da indústria resultou dos grandes valores da especialização para Calçados, assim como valores positivos de menor expressão para Mecânica, Metalurgia, Borracha/fumo/couros, Madeira/mobiliário e Alimentos/bebidas. O conjunto da indústria apresentou vantagem competitiva. Em nível setorial os destaques foram para Construção civil, Material de transporte e Materiais elétricos/comunicações, com as maiores vantagens competitivas.
Apresentaram desvantagem competitiva nos anos de 1990 os setores de Calçados, Têxtil e
Serviços industriais de utilidade pública. De um modo geral, a indústria gaúcha apresentou
maior dinamismo nesse período do que o conjunto do Brasil.
4 – EVOLUÇÃO DO EMPREGO DOS COREDES EM RELAÇÃO AO RS, 1990/2000
A Tabela 3, em anexo, apresenta a variação real do emprego dos Coredes do RS, por
setor de atividade, entre 1990 e 2000. O emprego cresceu 6,5% no RS, contra 11% no Brasil
em seu conjunto. No RS, como no Brasil, foi o setor terciário que criou a maioria dos empregos; no RS, a indústria e a agricultura criaram poucos empregos; porém, em nível nacional, a
indústria reduziu mais de 590 postos de trabalho, assim como as Instituições financeiras (-244
mil), em razão de sua restruturação e do fim da inflação.
Neste período, para o RS, os três setores da economia tiveram um incremento no
emprego, sendo que o setor industrial empregou +24.766 trabalhadores, o setor terciário
+131.806 trabalhadores e a agricultura empregou +40.150 trabalhadores. No setor industrial
os setores que apresentaram maior crescimento do emprego foram: Construção civil
(+23.275), Alimentos/bebidas (+10.597), Madeira e mobiliário (+8.090), Indústria química
(+7.316) e Material de transporte (+3.524).
Os Coredes com as maiores taxas de crescimento do emprego foram: Litoral (59,4%),
Paranhana Encosta da Serra (48%), Norte (43%) e Médio Uruguai (42,2%). O emprego do
Corede Metropolitano encolheu 2%; os Coredes onde o emprego mais se reduziu foram os da
pecuária tradicional: Centro-Sul (-25,5%), Sul (-14%) e Campanha (-12%). O emprego industrial também caiu nessas regiões, com destaque para o Corede Sul (-10.825), mais Fronteira Oeste (-3.054), Hortênsias (-1.229) e o Corede Metropolitano (-19.890). Este último vem
sofrendo um processo de desindustrialização, notadamente a partir de Porto Alegre e cidades
vizinhas (ver Souza & Santin, 2003).
No Corede Metropolitano, as indústrias Metalúrgica (-8.509), Têxtil (-4.802), Química
(-3.267), Materiais elétrico/comunicações (-3.077) e Borracha/fumo/couros (-2.758) foram as
que mais desempregaram; em nível estadual os destaques negativos foram: Têxtil (-8.674),
Borracha/fumo/couros (-8.315) e Metalúrgica (-7.693); a indústria Química aumentou o emprego em nível estadual (+7.316), assim como Madeira e mobiliário (+8.090), que a nível
metropolitano perdeu volume importante de emprego na década passada (-1.620). Outras indústrias cresceram em nível estadual e perderam emprego no Corede Metropolitano, como
papel e gráfica e material de transportes, indicando a perda de competitividade da região da
capital por indústrias que buscam o interior.
Em nível federal as indústrias que mais desempregaram foram Borracha/fumo/couros (153.541), Têxtil (-142.565) e Materiais elétricos/comunicações (-137.880). Como se observa
na Tabela 3, poucas foram as indústrias com o aumento do número de emprego entre 1990/00.
4.1 – Análise do efeito estrutural por Corede e por setor de atividade
A partir da Tabela 4, em anexo, encontram-se os efeitos desagregados do modelo
estrutural-diferencial para os Coredes do RS no período anteriormente citado. Os coredes com
efeito estrutural positivo foram: Sul (+3.477), Nordeste (+2.177), Vale do Taquari (+1.304),
Produção (+1.142), Fronteira Noroeste (+896), Alto do Jacuí (+628), Fronteira Oeste (+543),
Central (+374), Metropolitano-Delta do Jacuí (+305), Serra (+291) e Hortênsias (+251). Esses
Coredes possuem uma estrutura especializada em setores que em nível estadual estão crescendo com relativa rapidez.
Os efeitos estruturais negativos foram: Vale do Rio dos Sinos (-6.637), Campanha (1.159), Litoral (-798), Paranhama-Encosta da Serra (-657), Missões (-618), Vale do Rio Pardo
(-445), Vale do Caí (-376), Centro-Sul (-219), Noroeste Colonial (-218), Médio-Alto Uruguai
(-193) e Norte (-68). Deve-se ressaltar a forte variação negativa do vale do Rio dos Sinos,
enquanto que os outros Coredes tiveram variações bem menos significativas. Com isso, verifica-se que estes Coredes possuem uma estrutura produtiva especializada em atividades que a
nível estadual estão perdendo dinamismo. No Corede Sul, os efeitos estruturais positivos mais
expressivos ocorreram na agricultura (+8.087) e terciário (+4.396), sendo negativo no setor
industrial (-669). A agricultura e o terciário desse corede cresceram acima da média estadual,
compensando positivamente o efeito negativo apresentado pela indústria.
Desagregando o efeito estrutural negativo do Corede Vale do Rio dos Sinos (6.637), vê-se que a indústria (-2.866) e o setor outros/ignorado (-9.734) foram os responsáveis
pelo seu alto valor negativo total; enquanto que o setor borracha/fumo/couros (-4.164) foi o
principal responsável pelo resultado negativo do setor industrial. Porém o setor ensino (8.382)
atuou como redutor dos impactos negativos, visto que o setor terciário obteve um saldo positivo de +5.625.
Analisando-se o efeito estrutural a partir dos setores de atividade, pode-se dizer que
o setor mais afetado foi o de Alojamento e Alimentação (-31.516 no total), que apresentou
efeito estrutural negativo em todos os Coredes. Os demais setores que apresentaram efeitos
negativos significativos foram a indústria Metalúrgica (-11.103), Borracha/Fumo/Couros (11.543), Têxtil (-10.866), Instituição Financeira (-27.525) e Administração Técnico Profissional (-10.410). Estes setores, assim como o de Alojamento e Alimentação, apresentaram efeito
estrutural negativo em todos os Coredes, ou seja, estes setores não alcançaram um crescimento acima da média estadual nos Coredes.
Tendo-se os setores com crescimento acima da média estadual, apresentando efeito
estrutural positivo, deve-se ressaltar o bom resultado do setor terciário (+62.738), destacandose Comércio/Varejo (+25.992), Produtos médicos, odontológicos e veterinários (+41.224) e
Ensino (+51.339). Em relação ao setor industrial, os setores que apresentaram efeito positivo
no total foram Material de Transporte (+2.284), Madeira e Mobiliário (+5.908), Papel e Gráfica (+2.294), Química (+5.311), Alimentos e Bebidas (+5.760) e o mais significativo foi a
Construção Civil (+20.921). Estes setores atenuaram o efeito total negativo da indústria.
4.2 – Análise do efeito diferencial puro por região e por setor de atividade
Os efeitos diferenciais puros (EDP) da Tabela 5 indicam os setores que mais cresceram por refletir vantagens locacionais. Os cinco Coredes com os mais altos efeitos diferenciais puros foram: Serra (+25.976), Paranhama-Encosta da Serra (+21.106), Vale do Rio dos
Sinos (+16.949), Litoral (+12.817) e Vale do Taquari (12.705); a seguir, com valores menores, destacaram-se os seguintes coredes: Produção (+9.672), Vale do Caí (+9.629), Norte
(+7.762), Central (+5.661), Uruguai (+4.828), Vale do Rio Pardo (+3.650), Hortênsias
(+3.007), Fronteira Noroeste (+1.178), Nordeste Colonial (+779), Médio Alto Nordeste
(+653) e Alto Jacuí (+249). Os Coredes que apresentaram este efeito negativo, ou seja, que
não possuem vantagens locacionais, foram: Metropolitano Delta do Jacuí (-74.092), Sul (26.807), Fronteira Oeste (-11.092), Centro-Sul (-8.710), Campanha (-5.520) e Missões (-995).
No Corede Metropolitano, o efeito diferencial foi negativo para a indústria (-42.054), terciário
(-22.995) e agricultura (-9.029), com maior destaque para a indústria de calçados (-33.661),
comércio varejista (-11.496), madeira/mobiliário (-8.503) e a indústria metalúrgica (-6.329).
São atividades que não suportam os custos dos terrenos e os aluguéis das áreas mais urbanizadas da capital, assim como os altos custos salariais.
Em relação a indústria, os Coredes que obtiveram os maiores efeitos diferenciais positivos foram: Produção (8.802, destacando-se a indústria metalúrgica, química e calçados);
Central (6.732 - calçados e borracha/fumo/couros); Vale do Taquari (5.476 - metalurgia, Ma-
teriais elétricos/comunicação e calçados); Norte (5.124 - calçados, química e papel/gráfica).
Ainda em relação à indústria, os Coredes que apresentaram os maiores efeitos diferenciais negativos foram: Metropolitano Delta do Jacuí (-42.054, destacando-se a indústria
metalúrgica, madeira/mobiliário, química, calçados e construção civil; Sul (-15.157, com os
piores resultados pelas indústrias de calçados e alimentos/bebidas; Fronteira Oeste (-7.339,
principalmente a mecânica, madeira/mobiliário, química, calçados e alimentos/bebidas).
No setor de serviços, destacam-se os Coredes Litoral, Paranhama-Encosta da Serra,
Serra e Vale do Rio dos Sinos. Nesses Coredes, o setor terciário apresentou efeito diferencial
mais significativo; para agricultura, os Coredes mais dinâmicos foram: Campanha, Fronteira
Oeste, Paranhama-Encosta da Serra e Vale do Rio Pardo; os dois últimos coredes situam-se
na Metade Sul do Estado, região agrícola com vantagens locacionais. Estas podem estar associadas a incentivos fiscais, economias de aglomeração, boas condições de transporte, acesso a
matérias-primas e mercados, entre outros.
4.3 – Análise do efeito alocação e das vantagens competitivas
A Tabela 6 apresenta o efeito alocação dos Coredes; sendo positivo, conforme o
Quadro 2, esse efeito pode decorrer de vantagem competitiva especializada (+, +) ou de desvantagem competitiva não especializada (-, -); sendo negativo, ele pode resultar de vantagem
competitiva não especializada (-, +), ou de desvantagem competitiva especializada (+, -).
Na indústria, este efeito foi mais significativo nos Coredes Metropolitano Delta do
Jacuí (16.513), decorrente de uma não especialização (-83.976, Tabela 7) e de desvantagem
competitiva (- 0.20, conforme a Tabela 8). Isso indica que o emprego industrial cresceu mais
em nível estadual do que em nível regional. Em relação aos demais coredes com efeitos alocação positivos e expressivos tem-se:
a) Especialização e vantagem competitiva: Paranhana Encosta da Serra (5.335), Serra
(3.246), Vale do Caí (2.581) e Vale do Taquari (3.753);
b) Não especialização e desvantagem competitiva: Fronteira Oeste (3.888); Sul (2.966) e
Campanha (921).
Com efeitos alocação negativos expressivos temos os Coredes Central (-3.395), Médio Alto Uruguai (-2.030) e Produção (-2.175), derivados de não especialização e vantagem
competitiva; com efeito alocação negativo de grande magnitude temos o Corede Vale do Rio
dos Sinos (-3.395), derivado de uma grande especialização, mas de desvantagem competitiva.
Esse Corede também está perdendo indústrias, notadamente Calçados, Mecânica, Metalurgia
e Alimentos e Bebidas (Tabela 8).
Em relação ao setor terciário, este efeito foi positivo apenas nos Coredes Centro Sul
(257), Litoral (240), Médio Alto Uruguai (391) e Produção (103), sendo negativos para o
restante dos Coredes. O primeiro apresentou desvantagem competitiva não especializada para
esse setor, enquanto os outros três tiveram vantagem competitiva especializada. Os coredes
com efeito alocação negativo, ou apresentaram desvantagem competitiva com especialização,
ou não especialização com vantagem competitiva. Os valores negativos mais expressivos foram Serra (-9.426), Paranhana Encosta da Serra (-9.034), Vale do Rio dos Sinos (-8.563) e
Metropolitano Delta do Jacuí (-5.390). Os três primeiros apresentaram vantagem competitiva
não especializada (o terciário cresceu mais do que o conjunto do RS, mas ele não é importante), enquanto o corede Metropolitano teve desvantagem competitiva especializada (o terciário
é muito importante, mas cresceu menos do que no RS).
Em relação à agricultura os efeitos alocação positivos mais expressivos ocorreram
nos coredes Metropolitano, Fronteira Oeste, Vale dos Sinos e Campanha. Os coredes Metro-
politano e Vale dos Sinos apresentaram desvantagem competitiva não especializada, enquanto
a Fronteira Oeste e a Campanha tiveram vantagem competitiva especializada. Em relação aos
efeitos negativos para a agricultura, o destaque é para os coredes Sul (-3.928), Paranhana Encosta da Serra (-3.291) e Vale do Taquari (-1.256). O Corede Paranhana apresentou vantagem
competitiva não especializada para a agricultura, enquanto os outros dois tiveram desvantagem competitiva especializada (Tabelas 6, 7 e 8).
Alguns setores industriais apresentam altos efeitos alocação, seja positivo, seja negativo. É o caso da indústria de calçados, da química, madeira e mobiliário, material de transporte e da mecânica. A indústria de calçados apresenta efeito alocação positivo expressivo nos
coredes Metropolitano (33.414), Sul (5.652), Fronteira Oeste (3.391), Paranhana (6.626) e
Vale do Taquari (3.369), sendo desvantagem competitiva não especializada nos três primeiros
coredes e vantagem competitiva especializada nos dois últimos, que certamente acolheram
novas fábricas de calçados no período. Os efeitos alocação negativos expressivos dessa indústria ocorreram nos coredes Central (-32.989), Campanha (-14.494), Produção (-6.846),
Vale do Rio dos Sinos (-6.698) e Hortênsias (-1.233). Os três primeiros coredes apresentaram
vantagem competitiva não especializada, enquanto nos dois últimos houve desvantagem competitiva especializada.
Em relação à indústria química, os efeitos mais expressivos foram os negativos,
principalmente nos coredes Fronteira Noroeste (-18.155), Campanha (-8.879) e Hortências (2.111), onde ocorreu vantagem competitiva não especializada. Esses efeitos alocação negativos ainda foram relativamente elevados em muitos outros coredes e em raros coredes eles
foram positivos, sendo ainda de pequena magnitude. O setor Madeira/mobiliário apresentou
efeito alocação positivo expressivo no corede Metropolitano (5.981, desvantagem competitiva
não especializada); enquanto Material de transporte foi negativo no corede Centro Sul (9.329, vantagem competitiva não especializada); a indústria mecânica apresentou efeitos alocação negativos expressivos nos coredes Nordeste (-4.186), Vale do Rio Pardo (-3.896), Paranhana Encosta da Serra (-2.651) e Serra (-1.499). Nos três primeiros coredes o efeito alocação
negativo resultou de vantagem competitiva não especializada, enquanto no corede da Serra ele
derivou de desvantagem competitiva especializada.
Em relação aos ramos do terciário, aqueles com efeito alocação mais expressivos foram Ensino e Administração pública. Para o Ensino, os efeitos alocação negativos mais expressivos ocorreram nos coredes Centro-Sul (-42.870), Campanha (-10.361) e Alto Jacuí (1.526). Eles derivaram de vantagem competitiva não especializada. Quanto à Administração
pública, os efeitos alocação foram negativos nos coredes Paranhana Encosta da Serra (-5.165),
Serra (-3.931) e Vale do Taquari (-2.000), sendo positivo no Vale do Rio dos Sinos (3.486).
Para os três primeiros, houve vantagem competitiva não especializada e, para o último, desvantagem competitiva não especializada.
5 - CONCLUSÃO
Este trabalho teve como objetivo analisar a evolução do emprego dos Coredes do Rio
Grande do Sul, por setor de atividade, entre 1990/2000, destacando aqueles Coredes e setores
que mais cresceram no período em função de vantagens locacionais ou por apresentarem uma
estrutura produtiva com setores dinâmicos em nível estadual ou nacional.
A indústria gaúcha cresceu no período, criando 24,8 mil novos empregos, enquanto
em nível nacional a indústria desempregou mais de 590,5 mil trabalhadores. Em nível estadual, as indústrias com maior crescimento foram Construção civil (+ 23,7 mil), Alimentos/bebidas (+ 10,6 mil), Madeira/mobiliário (+ 8,1 mil) e Química (+ 7,3 mil); enquanto em
nível nacional, as indústrias que mais desempregaram foram Borracha/fumo/couros (- 153
mil), Têxtil (- 142 mil) e Materiais elétricos/comunicações (- 138 mil). Em nível estadual essas indústrias também desempregaram trabalhadores; as indústrias que mais reduziram o emprego no RS, entre 1990/2000, foram também Borracha/fumo/couros (- 8,3 mil) e Têxtil (- 8,7
mil), além da indústria metalúrgica (- 7,7 mil empregos).
O terciário foi o setor que mais criou empregos na economia brasileira, no período (+
4.210,1 mil), destacando-se o Comércio varejista (+ 1.060,1 mil), a Administração pública (+
995,9 mil) e os Serviços administrativos/técnicos/profissionais (+ 832,9 mil). No RS, os ramos do Terciário com maior crescimento do emprego foram Ensino (+ 51,9 mil), Serviços
médicos/odontológicos/veterinários (+ 43,6 mil) e o Comércio varejista (+ 40,1 mil).
Em nível estadual, Madeira/mobiliário e Construção civil foram os únicos setores industriais com efeito estrutural positivo, sendo que os efeitos diferenciais, por refletirem vantagens locacionais, foram mais significativos, abrangendo um número maior de setores. Os
cinco setores com os efeitos diferenciais mais significativos foram, pela ordem: Construção
civil, Material de transporte, Química, Materiais elétricos/comunicações e Borracha/fumo/
couros. São os setores que mais aproveitaram as vantagens locacionais oferecidas pelo RS.
Outros setores também sensíveis às vantagens locacionais encontradas no RS foram: Papel/gráfica, Alimentos/bebidas, Mecânica, Madeira/mobiliário, Minerais não-metálicos e
Metalurgia.
Os setores do terciário e a agricultura apresentaram um comportamento oposto ao da
indústria. Os efeitos estruturais foram todos positivos (exceto Instituições financeiras e Alojamento/alimentação), indicando serem setores dinâmicos em nível nacional. Os efeitos diferenciais, pelo contrário, foram todos negativos, exceto para o Ensino. Isso indica que o RS
possui vantagens locacionais relacionadas com o ensino em todos os seus níveis.
Os Coredes com maior crescimento do emprego industrial foram: Serra (+ 11,2 mil),
Paranhana Encosta da Serra e Vale do Taquari (+ 10,3 mil cada), Vale do Caí (+ 7,4 mil) e
Produção (+ 7,2 mil). Os que mais desempregaram trabalhadores industriais foram: Metropolitano Delta do Jacuí (- 19,9 mil), Sul (- 10,8 mil), Fronteira Oeste (- 3,1 mil) e Centro Sul (- 3
mil). O emprego no setor terciário cresceu em praticamente todos os Coredes, com destaque
para o Metropolitano (+ 32,7 mil), Vale do Rio dos Sinos (+ 28 mil), Serra (+ 21,9 mil) e Litoral (+ 11,6 mil). O ensino cresceu substancial no Metropolitano (+ 20,4 mil) e no Vale dos
Sinos (+ 8,4 mil), constituindo mais de 50% do total do RS (+ 51,9 mil). O emprego agrícola
cresceu de modo mais ou menos uniforme no conjunto dos Coredes, com algum destaque para
a Fronteira Oeste (+ 9,9 mil), Central (+ 4,2 mil) e Nordeste (+ 3,3 mil).
Em todos os 22 coredes, o efeito estrutural da indústria foi negativo e os do terciário e
da agricultura foram positivos. Isso reflete a tendência do conjunto do RS. Em relação ao
efeito diferencial, ele foi negativo em sete Coredes e positivo em 15, indicando que as vantagens locacionais foram importantes na maioria das regiões do RS. Os Coredes com efeito diferencial negativo mais importantes foram do Corede Metropolitano (-42,1 mil) e do Corede
Sul (- 15,2 mil). Isso reflete as deseconomias de aglomeração da Região Metropolitana, sobretudo de Porto Alegre, bem como a necessidade de reconversão industrial do Sul, sobretudo
de Pelotas, com sua indústria agroalimentar com velhos problemas de competitividade. Nesse
mesmo rol de desvantagem locacional encontramos também os Coredes da Região da Campanha, com efeitos diferenciais negativos: Fronteira Oeste (- 7,3 mil), Centro-Sul (- 3,4 mil),
Campanha (- 2,5 mil). Por último o efeito diferencial negativo do Vale do Rio dos Sinos também revela, de certo modo, deseconomias de aglomeração (- 4,7 mil).
Os Coredes com efeito diferencial positivo mais relevantes, revelando vantagens locacionais (como proximidade de matérias-primas, disponibilidade de mão-de-obra, infraestruturas) foram: Produção (+ 8,8 mil), Central (+ 6,7 mil), Norte (+ 5,1 mil), Vale do Caí (+
4,3 mil), Serra (+ 4 mil), Paranhana Encosta da Serra (+ 3,9 mil) e Médio Alto Uruguai (+ 3,2
mil). Isso estaria revelando que o RS apresentou maior dinamismo de crescimento industrial
em Coredes mais distantes da Região Metropolitana de Porto Alegre, notadamente na Região
da Serra e no norte do Estado do RS.
6 – REFERÊNCIAS
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SOUZA, Nali de J. & SANTIN, Maria F. C. de L. Estrutura do emprego e nível de desemprego do Município de
Porto Alegre, 1990/2000. Porto Alegre: Análise, PUCRS, 2003, p. 147-169.
7 – ANEXO
Ver “Tabelas do artigo da Evolução do emprego dos setores econômicos dos Coredes
do Rio Grande do Sul, 1990/2000 ”
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