UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANA JOÃO HENRIQUE DE SOUZA MORO O IMPACTO DO CISTIANISMO NO IMPÉRIO ROMANO NO SÉCULO II CURITIBA 2007 2 JOÃO HENRIQUE DE SOUZA MORO O IMPACTO DO CISTIANISMO NO IMPÉRIO ROMANO NO SÉCULO II Monografia apresentada à disciplina Orientação Monográfica como requisito parcial à conclusão do Curso de História. Setor de Ciências Humanas, Letras e Arte, Universidade Federal do Paraná. Orientador: Prof. Dr. Renan Frighetto CURITIBA 2007 3 AGRADECIMENTOS A Deus, pela força e inteligência que me foi dada. Ao Professor Renan Frighetto, pela paciência e orientação. 4 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................5 CAPÍTULO I ................................................................................................................6 Situação interna e externa do Império ..............................................................6 Cristianismo e Heresias ..................................................................................10 Apologias e ataques pagãos do século II .......................................................11 Autor da Apologia ...........................................................................................13 Obras de Tertuliano ........................................................................................13 Ideal de cristianismo para Tertuliano ..............................................................15 CAPITULO II .............................................................................................................19 Julgamentos dos cristãos ...............................................................................19 Cristãos e Pagãos: conflitos religiosos ...........................................................24 Pouca expressividade do cristianismo: por quê? Situação Religiosa ..........................................................................................26 Pouca expressividade do cristianismo: por quê? Heresia: sinônimo de confusão ......................................................................31 Cristianismo: Religião bárbara ou civilizada? .................................................33 CONCLUSÃO ...........................................................................................................34 REFERÊNCIA ...........................................................................................................35 5 INTRODUÇÃO Esse trabalho de conclusão de curso pretende responder o impacto do cristianismo no império romano no final século II, analisando a Apologia de Tertuliano. Nesse estudo, pretendo analisar o impacto do cristianismo no império romano ao final do século II, identificar as caracterizações que a sociedade pagã fazia deles, mostrar as diferentes reações dos pagãos em relação a essa nova religião e aos seus seguidores, entendendo essas reações, analisar a política romana para com os cristãos, determinar a visão dos imperadores sobre essa crença e seus adeptos e determinar o que o cristianismo afetou na dinâmica da ordem social romana e na política imperial. No primeiro capitulo eu comentei sobre a situação política, social e econômica do império nos governos de Marco Aurélio (161 a 180 d.C.) e Cômodo (180 a 192 d.C.), chegando até a posse de Septímio Severo ao poder imperial (192 d.C.) e a suas relações com os cristãos. Também introduzirei sobre as heresias que havia neste final de século, assim como apresentarei as maiores religiões mistéricas que atraiam os olhares ocidentais. Acrescentarei as discussões historiográficas sobre todos esses assuntos acima citados. Por último comentarei sobre os escritos pagãos e as apologias feitas no século II, sobre o autor da apologia que foi analisada, a sua vida, apresentar seus escritos, sua visão do cristianismo e sobre as comunidades cristãs de Cartago e da África. No último capítulo, eu analiso quatro capítulos da apologia que mostram as reações e as caracterizações dos pagãos acerca dos cristãos e apresento a razão das reações dos pagãos, como também as atitudes do governo imperial e a caracterização que os últimos dois imperadores do período Antonino faziam dos cristãos. 6 CAPÍTULO I Esse capítulo pretende apresentar a situação política, econômica e social do império romano no final do século II, apresentando a situação do império no tempo de Marco Aurélio (161 a 180 d.C.) até a posse do poder imperial por Septímio Severo (192 d.C.), expondo as discussões historiográficas acerca desse assunto. Essa contextualização será necessária para a compreensão do mundo na época em que aparecem os primeiros apologistas cristãos – dentre eles, Tertuliano - e a relação entre as autoridades imperiais e a sociedade com os cristãos. Também comentarei sobre as heresias cristãs que existiam no final do século II com o intuito de compreender as reações e o pensamento dos pagãos acerca dos cristãos. Por último, mostrarei um breve comentário sobre as apologias e os escritos dos pagãos anteriores à produção da Apologeticus de Tertuliano. Situação interna e externa do Império Marco Aurélio é visto pelos historiadores mais antigos como o ultimo “bom” imperador. Gibbon vê nesta “dinastia Antonina” o mais feliz período do império, como também da história, pois ele afirma que os imperadores buscaram somente a felicidade do seu povo governado. Olhando superficialmente a história dos Antonianos, é possível achar isso. Olhando mais profundamente, percebemos que, além de não ser permitido ao historiador fazer julgamentos e nem generalizações, havia alguns governados que não eram beneficiados com esse desejo dos imperadores. A política de Marco Aurélio foi um marco de uma importante mudança da política imperial com os cristãos - diz o historiador Arcádio del Castillo - pois se intensificaram as críticas e as defesas, e o cristianismo foi condenado na legislação1, pois a opinião pública era adversa aos cristãos e porque não praticavam o culto ao imperador. Também afirma que esta dinastia aumentou a hostilidade e o ódio aos cristãos. Tácito, Plínio, o Jovem e Suetônio condenarão o cristianismo como uma superstição nova e ruim ao império. Na verdade o ruim do cristianismo ao estado 1 – ROLDÁN, José Manuel; BLÁZQUEZ, José Maria; CASTILLO, Arcádio Del. História de Roma: El Império Romano (siglos I-III). Madrid : Cátedra, 1995. p. 490 2 – ROLDÁN, José Manuel; BLÁZQUEZ, José Maria; CASTILLO, Arcádio Del. História de Roma: El Império Romano (siglos I-III). Madrid : Cátedra, 1995. p. 489 7 romano não era a sua periculosidade política, mas a periculosidade dos pagãos do império: a opinião pública não aceitava os cristãos por motivos diversos2, aos quais pretendo apresenta-los mais a diante. Acrescenta também Castillo que entre o governo de Marco Aurélio até o final de Cômodo, houve três momentos distintos na relação poder imperial-cristianismo3: o primeiro, com a condenação de Justino, os cristãos eram condenados “por uma culpa individual”; o segundo momento é marcado pelo processo dos mártires de Lyon (por volta de 177 d.C.). Nesta etapa a apostasia não o salvava da condenação. Devido à difusão do montanismo nas províncias da África é que influencia Marco Aurélio a ser mais rígido em relação aos cristãos. Diz Castillo que a idéia de martírio era comum entre os demais cristãos e esse grupo de sentimento anti-romano. Já a terceira fase, compreendendo o final do governo e Marco Aurélio até a morte de Cômodo, é marcada por uma tentativa de entendimento entre cristãos e autoridade imperial. Já para Daniélou é sobre o governo de Antonino Pio é que começa uma mudança progressiva na relação romano-grega com o cristianismo4. Sobre a economia e a administração no governo de Marco Aurélio, Indro Montanelli comenta mais do que os demais autores citados acima. Diz o historiador que o imperador, por amar mais a filosofia, não tinha traquejo para as finanças, às vezes tendo que ser corrigidas os seus balanços e prestação de contas, e em outras áreas da economia, pouco era o seu conhecimento5. Também Indro comenta sobre as invasões bárbaras para mostrar que, em seu governo, a paz não era duradoura6. Will Durant se prenderá mais sobre as invasões também, colocando todas as guerras que Marco travou com os bárbaros, mostrando que seu governo foi turbulento nas fronteiras, podendo afirmar que ele governou “... num tempo em que a rebelião e a guerra estavam no ar, em diversas províncias e em fronteiras distantes”7. Seguiu o exemplo deixado pelo seu antecessor Antonino Pio: Quando ele achava-se em dúvida sobre o que fazer em alguma situação – diz o historiador 2 – ROLDÁN, José Manuel; BLÁZQUEZ, José Maria; CASTILLO, Arcádio Del. História de Roma: El Império Romano (siglos I-III). Madrid : Cátedra, 1995. p. 489 3 – ROLDÁN, José Manuel; BLÁZQUEZ, José Maria; CASTILLO, Arcádio Del. História de Roma: El Império Romano (siglos I-III). Madrid : Cátedra, 1995. pp. 490-491 4 – DANIÉLOU, Jean; MARROU, Henri. Nova História da Igreja: dos primórdios a São Gregório Magno. Petrópolis : Vozes, 1973. p. 109. 5 – MONTANELLI, Indro. História de Roma. Rio de Janeiro : Record, 1969. p. 340. 6 – MONTANELLI, Indro. História de Roma. Rio de Janeiro : Record, 1969. pp. 337-343. 7 – DURANT, Will. História da Civilização: de César a Cristo. Nova York : Companhia Editorial Nacional, 1957. p. 78. 8 Indro Montanelli – “dizia a si mesmo: Age neste caso como Antonino teria agido”8. Além disso, o imperador prosseguiu com força na reforma da lei que Adriano começou. Aumentou o número de horas de trabalho dos tribunais e reduziu o prazo de julgamento. Diz Durant que até ele mesmo sentou e julgou muitos casos em seu reinado9. Sendo Estóico Marco Aurélio, podemos resgatar as idéias de Toynbee sobre religião e história. Como filósofo auto-suficiente, e mais ainda estóico, o exercício intelectual e a moral do filósofo eram levados a sério. Compartilhavam da idéia de que era necessário extinguir as emoções humanas como o amor, a compaixão e outros que demonstrem sentimentos não-egoístas, cultivando o desprendimento. Sêneca afirmava que a “compaixão era uma doença mental induzida pelo espetáculo das misérias alheias...” e que uma pessoa sábia não poderia cair nessa armadilha10. Algumas pessoas viam nele a realização da república de Platão: Marco Aurélio seria aquele que conseguiu “sair da caverna” e levaria as pessoas para fora. Ele percebeu que não seria possível, se contentando em melhorar um pouco a humanidade, como lhe foi aconselhado. Mas essa fama de filósofo-rei tinha a suas desvantagens e, principalmente, exemplificando a inviabilidade de concretizar o sonho de Platão. Certas medidas ou leis criadas por ele chamavam a atenção da população, como a inscrição dos gladiadores nas forças armadas, causando revolta e comentários: ”Ele quer fazer de nós filósofos”; tirando um pouco de sua popularidade e mostrando a pouca vontade das pessoas em tornarem-se filósofos. De certa forma, parece não parecia ser viável em todas as questões a utilização da filosofia na esfera política. O menosprezo das pessoas comuns, com nenhuma ou pouquíssima instrução com a filosofia era um forte argumento para revoltas dentro dos domínios do império, tendo como princípio norteador dessas dinastias a manutenção da paz – tanto nas fronteiras quanto em nos domínios romanos. Em relação a Cômodo e o cristianismo, entre Castillo e Waldir Freitas Oliveira há um entendimento em comum sobre esse assunto. Nas palavras de Oliveira, “foi tolerante para com os cristãos já numerosos nas terras do Ocidente...”. Castillo afirma que no governo de Cômodo se tentou um entendimento entre os cristãos e o 8 – MONTANELLI, Indro. História de Roma. Rio de Janeiro : Record, 1969. p. 337 9 – DURANT, Will. História da Civilização: de César a Cristo. Nova York : Companhia Editorial Nacional, 1957. p. 78. 10 – TOYNBEE, Arnold. A História e a Religião. Rio de Janeiro : Fundo de Cultura, 1961. p.104 9 estado. Tanto Montanelli quanto Durant comenta sobre uma moça do harém de Cômodo chamada Márcia11. Há dúvidas nos dois historiadores sobre a sua profissão de fé cristã - Castillo e Montanelli afirmam que ela é filo-cristã. Indro indaga como ela conciliava a sua fé com “aquele amante debochado”. Mas afirma que ela foi útil aos cristãos, livrando-os de uma provável perseguição e participante ativa no assassinato de Cômodo, administrando veneno a sua bebida. Juntamente com Vitor, bispo de Roma, Márcia pediu o perdão dos cristãos exilados, que trabalhavam forçados em minas12. Em meio a esses governos, há toda uma dinâmica social desenrolando, principalmente na área religiosa. Há tempos as antigas religiões locais que satisfaziam o seu povo foi, aos poucos, sofrendo influências de outras religiões. Parte dessa culpa vem do intercâmbio cultural facilitado pela conquista do mediterrâneo. Dessas influências mútuas nasceu um tipo específico de religião, chamada mistéricas: as religiões mistéricas têm em comum um individualismo espiritual e acreditam na existência transcendente que é concedida pela deidade: este bem lhe é dado se a pessoa tiver um comportamento moral e fizer certos rituais durante a sua vida. Essas religiões se baseiam em certos mistérios e dogmas, de forma semelhante ao cristianismo. Essas divindades obtiveram esses poderes porque fizeram alguma coisa notável que as pessoas comuns não conseguem13. A grande atração que as religiões mistéricas conseguiram na sociedade romana durou mais ou menos um século e meio: de 150d.C. ao ano 300d.C14. Para discutir sobre as religiões mistéricas em relação ao cristianismo, Franz König comenta sobre as religiões helenísticas, Karl Prümm comenta especificamente sobre as religiões mistéricas e sua relação com o cristianismo. Sobre cultos secretos mistéricos, Klausner, em seu livro From Jesus to Paul, ele comenta sobre os ritos religiosos mistérios, principalmente do culto a Átis. Para o presente estudo, trabalharei com quatro grandes religiões o século II: os cultos egípcios, o culto a Átis, os cultos sírios e o culto a Mitra. Ao que os historiadores indicam, havia semelhanças de crenças, 11 – DURANT, Will. História da Civilização: de César a Cristo. Nova York : Companhia Editorial Nacional, 1957. p.102. 12 – ROLDÁN, José Manuel; BLÁZQUEZ, José Maria; CASTILLO, Arcádio Del. História de Roma: El Império Romano (siglos I-III). Madrid : Cátedra, 1995. p. 491. 13 – PRÜMM, Karl. La religión del helenismo. In : König, Franz. Cristo y las religiones de la tierra. Madri : La editorial catolica, 1956. p.221. 14 – PRÜMM, Karl. La religión del helenismo. In : König, Franz. Cristo y las religiones de la tierra. Madri : La editorial catolica, 1956. p.222. 10 sendo comum a elas a idéia de que seus deuses morreram e depois de um período ele voltou à vida, assemelhando-se a doutrina cristã. A estrutura da crença entre as três primeiras religiões acima citadas são iguais, mudando apenas os nomes dos deuses, a forma que morre e o porque; além disso, na estrutura da crença percebemos que a história se desenrola em um casal e um terceiro quebra o vínculo entre eles causando a morte do homem. Como o deus ressurgiu a vida e o tempo que ele levou são também os diferenciais de cada uma. A cada detalhe de cada culto percebemos uma semelhança com o cristianismo, podendo até ser confundido para leigos que não conheçam as religiões. Cristianismo e Heresias Sobre a confusão dos pagãos, também é necessário aqui incluir a influência das heresias cristãs para entender as reações dos imperadores e o “ódio popular” que Tertuliano denuncia na apologia Para entender melhor as heresias, Paul Johnson faz breve comentário sobre várias heresias que existiram desde o início do cristianismo. As de Marcião, dos Montanistas e a influência do gnosticismo15. Um maior comentário sobre as heresias do século II encontramos no livro Nova História da Igreja, de Jean Daniélou e Henri Marrou. Essas heresias mostraram um cristianismo diferente, às vezes perigoso ao império ou às vezes com rituais absurdos, macabros e desumanos. O montanismo caracteriza-se em primeiro lugar a importância atribuída às visões e revelações. Alguns estudiosos propuseram vermos essa heresia como o ressurgimento dos cultos frígios de Cíbele e de Dioniso, mas Daniélou aponta para outra direção. Diz que o montanismo “aparece como um desenvolvimento do espírito do cristianismo asiático”16, mostrando que a teologia cristã frigia e asiática desenvolveu não em conjunto com as demais comunidades cristãs do império. O profetismo e a exaltação da virgindade são características dessa heresia, assim como a crença do milenarismo que pode abrir essa sede de martírio. Evidencia-se um sentimento anti-romano, gerando muitas vezes violência contra os romanos porque eles assimilam a cidade de Roma como se fosse a “cidade de Satanás” e se 15 – JOHNSON, Paul. História do Cristianismo. Londres : Imago, 1976. p. 59. 16 – DANIÉLOU, Jean; MARROU, Henri. Nova História da Igreja: dos primórdios a São Gregório Magno. Petrópolis : Vozes, 1973. p. 120. 11 prendiam a idéia heróica de lutar contra as “forças malignas”, que seria a luta contra os romanos. Montano foi combatido também pelos seus inimigos por romper casamentos e oferecer a essas mulheres divorciadas funções eclesiásticos, deixando claro que elas deveriam unir-se a ele. Marcião era filho do líder da comunidade cristã em Sinope, no Ponto. Ele foi mais ortodoxo em certos traços, tais como: oração para o Oriente, salmos e hinos compostos por cristãos e uma data diferente para a comemoração da Páscoa, baseado no calendário samaritano. Eles foram criticados por Tertuliano por permitirem às mulheres poderem exorcizar, por impor as mãos aos doentes e por deixá-las batizarem. Marcião também defende a continência uma obrigação, mostrando as influências judeu-cristãs nesta heresia17 e a diferença do Deus do velho testamento do novo testamento: O Deus “justo” do velho não é o mesmo do Novo testamento, mais “bondoso”. Tertuliano, em seu tratado Sobre o Batismo (De baptismo) e o Velamento das Virgens (De virginibus velandis), aconselha e proíbe que as mulheres exerçam qualquer função ministerial dentro da comunidade18. Apologias e ataques pagãos do século II Sobre a defesa dos cristãos e os ataques dos pagãos, só da metade do século II em diante é que se encontra escritos defendendo a fé cristã, sua legalidade e seu conteúdo filosófico. Muito dessas apologias não tem autoria, e boa parte delas não se possui o conteúdo. Por causa de Eusébio é que sabemos que foram escritas e até alguns trechos que ele copiou para seus escritos. Mas as apologias não são uma coisa somente do período que analisamos aqui. Segundo Eusébio, a primeira apologia foi no governo de Adriano, entre 124-125 d.C., mas as apologias de grande argumentação foram produzidas depois da metade do século segundo. Temos conhecimento dos mais importantes escritos desse período: Justino e Minúcio Félix. A obra de Justino só foi conservada uma pequena parte. Além dos escritos sobre doutrina e de combate a heresias (a de Marcião) ele escreveu duas apologias. A primeira, Justino manda para Antonino, refutando as acusações que Frontão imputava aos cristãos, mostrando os rituais cristãos e mostra que o cristianismo tem fundamentos filosóficos. A segunda destinava-se a Marco Aurélio. Nelas, ele apela 17 – DANIÉLOU, Jean; MARROU, Henri. Nova História da Igreja: dos primórdios a São Gregório Magno. Petrópolis : Vozes, 1973. p. 115. 18 – JOHNSON, Paul. História do Cristianismo. Londres : Imago, 1976. p. 65. 12 para os sentimentos filosóficos, a sua piedade e virtude pois ele afirma que a doutrina está de acordo com os melhores gregos: Sócrates, Heráclito e Platão. Mostra a moral cristã e a observação destes às leis romanas, denunciando as crenças pagãs como imorais. Essa será uma estrutura de apologia muito utilizada pelos apologistas posteriores19. Em relação aos escritos dos pagãos, podemos citar Luciano (160 a.C.), Frontão, Crescênio, e até Celso. Frontão, Mestre de Antonino e Marco Aurélio, cônsul em 143 a.C. sob o governo de Adriano, afirma que os cristãos adoram uma cabeça de asno, que imolam e comem crianças nas cerimônias de iniciação e uniões incestuosas após os banquetes em dias festivos. Suas acusações foram elaboradas no começo do governo de Antonino. Luciano descreve os cristãos como “aqueles imbecis”, que são ”desdenhosos dos bens terrenos e querendo que todas as coisas sejam comuns a todos”20. Em sua Vida de Peregrino, narra um personagem charlatão, que entra numa comunidade cristã e logo recebe cargos importantes: ele finge ser profeta, depois eles o nomeiam chefe da assembléia, começa a interpretar as escrituras, e até compõe outros. No final ele é preso. Os cristãos lhe presenteiam na prisão e Peregrino sai da prisão, sai da comunidade e continua a sua vida. Não vê os cristãos como criminosos, mas como pessoas ingênuas. Também ataca o cristianismo argumentando contra o escrito de Justino. Ainda no governo de Antinino o filósofo Crescênio possivelmente escreve, entre 152 a 153 a.C. em Roma, as mesmas acusações que Frontão havia feito anteriormente. Mas o grande debate mesmo começou com Celso. Celso apresenta Cristo e os apóstolos como pessoas loucas, que acham que são importantes e que a sua doutrina são junções e empréstimos de máximas tradicionais. Alem disso defende que o cristianismo constitui um perigo para o império. Daniélou acredita que o cristianismo já não se apresentava mais como uma seita fanática ou superstição sem importância, supondo que a radicalização dos pagãos intelectuais exige que haja intelectuais cristãos21. Para os intelectuais dessa segunda metade do século II, os cristãos faziam parte do mundo dos mistagogos orientais ao mesmo tempo inquietantes por seus poderes mágicos e desprezíveis por seus costumes 19 – DANIÉLOU, Jean; MARROU, Henri. Nova História da Igreja: dos primórdios a São Gregório Magno. Petrópolis : Vozes, 1973. p. 111. 20 – DURANT, Will. História da Civilização: de César a Cristo. Nova York : Companhia Editorial Nacional, 1957. p. 278. 21 – DANIÉLOU, Jean; MARROU, Henri. Nova História da Igreja: dos primórdios a São Gregório Magno. Petrópolis : Vozes, 1973. p. 108. 13 duvidoso22. Autor da Apologia Quinto Septímio F. Tertuliano nasceu em Cartago, por volta do ano 160 d.C. Era filho de um centurião romano e estudou retórica na mesma em que Apuleio cursou23. Johnson afirma que o cartaginês era um mestre da prosa retórica e do polemista. Por vários anos advogou em Roma. A data de sua conversão ainda não foi descoberta, mas é possível afirmar que só na maturidade de Tertuliano é que se converteu ao cristianismo. Casou com uma cristã e (diz Jerônimo) se ordenou padre. Ele utilizou todos os recursos de retórica e de direito romano para defender o cristianismo da perseguição política e social que sofria e construir uma unidade entre as comunidades através da elaboração de uma doutrina rígida; para conseguir dissipar a caracterização que os pagãos faziam dos cristãos e conquistar a legalidade do culto na lei. Na sua apologia ele levanta mais a fundo a questão jurídica dos cristãos, dando pouca atenção à discussão filosófica que os antigos apologistas debatiam. Ele utiliza muito de argumentos jurídicos ao decorrer do seu escrito para mostrar as falhas de julgamento do caráter cristão, discute a validade jurídica das condenações de cristãos e analisa das crenças, ritos e cultura pagã para apontarem falhas, utilizando a razão e até a filosofia pagã. Obras de Tertuliano Tertuliano, junto com Minúcio Felix, foram os primeiros a escrever em latim. A literatura cristã do Ocidente começa com esse dois personagens. A primeira obra de Tertuliano foi o Apologeticus. Foi escrita num tempo em que os cristãos estavam sendo condenados por Lesa Majestade e por deslealdade ao império e suas instituições. Eles sofriam severas torturas e eram condenados a morte. Além dessa obra, o cartaginês escreveu muitas outras: algumas condenando as heresias que havia em seu tempo e sobre doutrina cristã, outras para admoestar sobre condutas cristãs exemplares e outras apologias. Tertuliano foi um doutrinador muito aplicado, escreveu intensamente a fim de defender o cristianismo e criar uma unidade nas 22 – DANIÉLOU, Jean; MARROU, Henri. Nova História da Igreja: dos primórdios a São Gregório Magno. Petrópolis : Vozes, 1973. p. 107. 23 – DURANT, Will. História da Civilização: de César a Cristo. Nova York : Companhia Editorial Nacional, 1957 p. 295 14 crenças. Sobre condutas, percebemos que o autor era extremamente rígido em alguns aspectos. Um exemplo era o seu ponto de vista sobre a mulher cristã. No seu escrito titulado ad uxorem, Tertuliano defende que a mulher não pode passar da segunda noite de núpcias (esse escrito é um testamento espiritual, sendo possível acreditar que ele teve uma experiência que o levou a pensar deste jeito). Pouco tempo depois ele irá escrever o De exhortatione castitatis: é ainda mais severo e rígido com relação à segunda noite de núpcias e outras condutas de mulheres cristãs. Mais radical ainda sobre as núpcias é o escrito De monogamia, proibindo a segunda núpcias e outras condutas no casamento. A obra De Cultu Feminarum impõe certos tipos de vestimentas e ornamentos femininos, prezando que sejam bem modestos e discretos para não ostentarem riqueza ou não atraírem “maus” pensamentos nas outras pessoas. Nesta mesma obra ele mostra como ele via a mulher: ele diz que a mulher era a “porta por onde os demônios entram”, e dizia que “por causa delas Jesus morrera”24. Tertuliano também discute sobre os véus das virgens em De virginibus velandis. O cartaginês via a mulher como um peso nas costas da humanidade, muito mais pecadora que o homem e canal do mal na terra. Para conte-las, ele impunha diversas condutas rígidas, e até absurdas às vezes, para controlar o mal que dela provinha. Possivelmente ele teve alguma experiência com uma mulher que o levou a pensar deste jeito, sendo possível que a sua própria esposa seja um exemplo para ele escrever assim. De forma mais geral, defende muitas práticas morais rígidas aos cristãos como um todo na obra De spetaculis. Existiram também outros escritos por Tertuliano. Várias foram as obras defendendo uma doutrina cristã: Adversus Iudaecus discorre sobre as controvérsias Judaico-cristãs. De oratione fala sobre as orações e sobre o pai-nosso; De paenitentia trata da penitência necessária para receber o batismo; De baptismo enfoca sobre o batismo, sua invalidade, seu efeito; Em De carne christi ele discorre sobre a encarnação de Cristo; De resurrectione mortuorum fala sobre a segunda vinda de Cristo, da salvação do elemento corporal, da exigência do Juízo e da necessidade da ressurreição; De corona diz que é incompatível o serviço militar aos cristãos; De idolatria condena toda prática de idolatria e toda atividade o profissão que esteja em contato com ídolos; No De fuga in persecutione, Tertuliano não admite a fuga dos cristãos em tempo de perseguição; Em De iriunio adversus 24 – DURANT, Will. História da Civilização: de César a Cristo. Nova York : Companhia Editorial Nacional, 1957 p. 297 15 Psychicos defende a prática montanista sobre o jejum e ataque as psychia (os futuros católicos) acusados de serem laxistas e; De pucticitia onde Tertuliano nega a Igreja o direito de perdoar os pecados, reservando aos homens espirituais esse direito. Sobre heresias, foram sete escritos: De praescriptione haereticorum fala mais sobre o poder de ler e interpretar as escrituras mas comenta sobre algumas heresias de seu tempo; Em Adversus Hermogenum, o cartaginês defende a doutrina cristã da criação contra aqueles, entre os gnósticos, que consideravam a matéria eterna; No escrito Adversus Marcionem condena as idéias de Marcião, que separa o Deus do velho Testamento do novo Testamento; Adversus Valentinianos mostra as doutrinas gnósticas valentinianas e as refuta; De anima, em que se discute sobre a natureza, da origem, do desenvolvimento e do destino das almas e refuta doutrinas contrárias; Scorpiace condena a influência de idéias gnósticas, mais especificamente sobre o valor do martírio e; Adversus Praexean é contra o patripassiano (Norlo de Ermirna acreditava que o Filho é um modo e ser e de manifestar-se do Pai-iniciador)25. Ideal de cristianismo para Tertuliano Paul Johnson resume a visão de tertuliano sobre o cristianismo: “...e o pessimista, convencido da corruptibilidade básica das criaturas humanas e da necessidade do mecanismo de danação”26. Acreditava que a Igreja era a nata valiosa de “crentes” e que era necessário defende-la de qualquer influência pagã. O cartaginês aconselhava que os cristãos devessem diminuir ao máximo suas relações com as instituições romanas e locais: não prestar o serviço militar, no serviço civil ou mesmo nas escolas romanas, não deveriam trabalhar com algum serviço relacionado com a religião pagã. Não via com bons olhos as tentativas racionalistas de Marcião tentando conciliar a doutrina cristã e a filosofia grega. Em relação à doutrina alguns podem acreditar que ele era anti-paulino, mas há várias semelhanças entre eles. Acreditava piamente no poder irresistível da fé, da dádiva divina da eleição e no “mover do espírito”: via a comunidade cristã sendo guiada pelo Espírito Santo, via os cristãos sendo movidos pelo Espírito. Achava importante a comunicação direta entre a divindade cristã e o cristão e exaltava a 25 – BERARDINO, Angelo Di. (org.) Dicionário Patrístico e de antiguidades cristãs. Petrópolis :Vozes, 2002. pp. 1347-1351 26 – JOHNSON, Paul. História do Cristianismo. Londres : Imago, 1976. p. 62 16 coragem dos mártires27. Johnson acredita que Tertuliano tinha uma visão elitista da Igreja. Tertuliano condenava os lideres espirituais das comunidades cristãs de “brandura” nos pecados dos pecadores e decaídos. Apesar de seu apelo e sua natureza universalista, ele acreditava que a eleição era um processo estrito: qualquer um poderia ser batizado, mas depois de seu batismo, a pessoa deveria se abster dos pecados graves (adultério, apostasia, ...), senão não tinha valor algum sua profissão de fé. Ele afirmava que se ele cometeu era porque nunca tinha aceitado verdadeiramente e, principalmente, cria que a Igreja não poderia fazer nada diante desse acontecimento. O cartaginês também introduziu na teologia um vocabulário jurídico, que marcará a teologia ocidental até hoje, mostra a relação entre Deus e os homens baseado por leis, em que Deus as faz e o homem tem que cumpri-las: o pecado seria a desobediência da lei, chamada culpa ou reatus. Já o contrário, a “ação virtuosa satisfaz (satisfacit) a lei e constitui obra meritória (promereri)”28. Mas nem sempre ele defendeu a mesma tese. Houve também mudanças de opinião no defensor das ortodoxias. Sobre as funções do sacerdócio, ele defendia uma centralização de funções ao líder espiritual da comunidade (alguns historiadores chamam de bispados, mas nesse tempo não havia uma generalização da utilização do título), mas, nos últimos anos de sua vida, ele muda a sua opinião escrevendo no De Exhortatione Castitatis essas palavras:’... Pois, onde houver três, existirá uma igreja, ainda que sejam leigos (...) você tem direitos de um sacerdote em sua própria pessoa, quando surgir necessidade’. Analisando essa situação, podemos perceber que esses líderes afirmavam poder perdoar pecados graves com o intuito de manter o seu status dentro da comunidade e legitimar mais ainda o seu ofício29. O cartaginês acreditava que dava para viver pacificamente com a sociedade pagã, mesmo tendo diferenças que chegavam a ser opostas, contraditórias, mas depois Tertuliano compartilhou o ideal de um cristianismo de combate, que não aceitasse o mundo pagão e ter nenhuma relação com ele. Nos seus escritos, percebemos que tem a influência de vários clássicos: “o vigor e a virulência de Cícero, a veia satírica de Juvenal e às vezes rivalizava com 27 – DANIÉLOU, Jean; MARROU, Henri. Nova História da Igreja: dos primórdios a São Gregório Magno. Petrópolis : Vozes, 1973. p. 167 28 – DANIÉLOU, Jean; MARROU, Henri. Nova História da Igreja: dos primórdios a São Gregório Magno. Petrópolis : Vozes, 1973. p. 170 29 – JOHNSON, Paul. História do Cristianismo. Londres : Imago, 1976. p.100 17 Tácito na ácida concentração do estilo”30. Daniélou afirma que Tertuliano possui umas reminiscências de Lucrécio (na verdade ele cita o clássico autor no escrito De Anima). Também afirma que Tertuliano também foi filósofo, mas menos profundo do que u Orígenes. Ele conheceu o médio-platonismo (que foram as influências dos antigos apologistas), ele utiliza algumas expressões do estoicismo mas com o tempo tenta colocar na teologia cristã a filosofia estóica em partes iguais, tem influências de Albino em seus pensamentos e de Platão (mas futuramente ele não a utiliza mais). Recusa qualquer idéia do meio alexandrino31. Sobre a comunidade e a região em que o apologista viveu, há algumas considerações a fazer. Daniélou acredita que o cristianismo chegou a Cartago em fins do primeiro século. Ele coloca essa possível data porque utiliza Tertuliano que diz: “Enchemos vossas praças, vossos mercados, vossos anfiteatros”. O fenômeno de a comunidade cristã ter um número considerável de adeptos só é possível se houvesse um grande período de tempo de proselitismo cristão32, afirma ele. Aquela região tem grandes quantidades de comunidades judias, facilitando um pouco as primeiras conversões. Não se sabe como a evangelização se processou na África, mas Johnson coloca evidências de que o proselitismo cristão nessa região e no litoral da África tenha sido feito por essênios e zelotes cristãos, assimilando uma tradição de militância e resistência à autoridade33. Antes que o cartaginês e convertesse, a África apresentava: um povo cristão de origem acentuadamente latina, povo numeroso, mas com uma cultura que é praticamente só grega34. Tertuliano vivia num Cartago nas últimas décadas do séc. II muito peculiar: entusiasmada, grandemente corajosa, inteiramente desafiadora perante as autoridades romanas, intolerante, intransigente, perseguida e violenta. Em relação à Igreja em Cartago, ela tornou-se um baluarte de resistência púnica às idéias romanas. Desde seu início, era um repositório da cultura cartaginesa, além de sempre constituir um forte elemento judaico. Nos anos finais de sua vida, Tertuliano entre para o grupo herético montanista. 30 – DURANT, Will. História da Civilização: de César a Cristo. Nova York : Companhia Editorial Nacional, 1957 p. 295 31 – DANIÉLOU, Jean; MARROU, Henri. Nova História da Igreja: dos primórdios a São Gregório Magno. Petrópolis : Vozes, 1973. p. 170 32 – DANIÉLOU, Jean; MARROU, Henri. Nova História da Igreja: dos primórdios a São Gregório Magno. Petrópolis : Vozes, 1973. p. 165 33 – JOHNSON, Paul. História do Cristianismo. Londres : Imago, 1976. p.63 34 – DANIÉLOU, Jean; MARROU, Henri. Nova História da Igreja: dos primórdios a São Gregório Magno. Petrópolis : Vozes, 1973. p. 166 18 Olhando rapidamente para o fato, parece incoerente, ou parece que o doutrinador implacável perdeu a razão por causa de sua velhice. Mas temos que levar em conta de que muitas coisas aconteceram, muitas críticas foram feitas, não somente as comunidades heréticas e seus líderes, mas também as demais comunidades cristãs que eram “normais”. Houve sim muitas críticas aos montanistas, mas Tertuliano via nela coisas em que ele admirava. Uma delas é a valorização do martírio. Outra é de que Tertuliano, sendo cartaginês, tinha suas desavenças com as autoridades romanas, já demonstrando bem antes em seus escritos. Acrescenta-se a isso a rígida moral montana, que também Tertuliano admirava e as desavenças com as outras comunidades por causa de doutrina - como o caso da centralização das funções do sacerdote, das questões do direito de poder perdoar pecados graves e da tentativa de incorporar elementos da filosofia grega - faz com que ele opte pelos montanistas. Vale aqui afirmar que esse grupo herético tem algum mérito moral, pois fez com que Tertuliano, uma pessoa da envergadura de Tertuliano, com prática e ideal de uma fé ardente e moral rígida, uni-se a eles35. 35 – JOHNSON, Paul. História do Cristianismo. Londres : Imago, 1976. p.65 19 CAPÍTULO II Tertuliano escreve essa apologia em defesa da profissão da fé cristã no império, argumentando sobre as qualidades dos cristãos e os defeitos dos pagãos. Em alguns capítulos, o cartaginês denuncia as injustiças feitas pelos juizes aos cristãos nos julgamentos, argumenta que os cristãos não são responsáveis pelas calamidades que acontecerem por pedidos deles e mostrar como é essa religião realmente: seus ritos, crenças e doutrinas, diferenciando ela das demais religiões existentes no Império e fora dele. Ele utiliza-se muito de analogias e de comparações para argumentar a favor da religião cristã. Julgamentos dos cristãos Ao longo do texto, percebemos que ele denuncia uma atitude dos pagãos: aos cristãos eram-lhes imputados crimes que vão desde pequenos delitos até crimes abomináveis: “por ventura dirá você que não apura outros crimes nas torturas exceto o nome cristão, porque se presume que todos os pecados caminham atados nele”1. Também é possível notar argumentos mostrando que os cristãos não são criminosos ou para negar denúncias dos pagãos tais como: homicida, de sacrílego, de incestuoso, de público inimigo2 e de praticarem orgias. No capítulo II, Tertuliano condena as injustiças cometidas pelos juizes romanos por não investigarem as denúncias dos pagãos contra os cristãos, não fazerem o processo correto do julgamento e cerceiam os direitos deles. Diz o autor que os juizes viam os cristãos como criminosos, passíveis de fazerem qualquer tipo de delito. Com essa crença, eles somente tiravam deles a confissão de sua fé: “Você pensa que o cristão é criminoso de toda a maldade? Que é homem tão mau que ele transgrediu contra os deuses, contra imperadores, contra leis e que é o inimigo público do mundo e da natureza, ...”3. Retirado do acusado a confissão de sua fé, eram condenados como 1 – TERTULIANO, Quinto Septimio. Apología contra los gentiles. Buenos Aires : Espasa, 1947. p.20. 2 – TERTULIANO, Quinto Septimio. Apología contra los gentiles. Buenos Aires : Espasa, 1947. p.19. 3 – TERTULIANO, Quinto Septimio. Apología contra los gentiles. Buenos Aires : Espasa, 1947. p.22. 20 criminosos somente por isso. Diz ele ainda que os juizes aplicassem torturas para eles negarem as suas crenças e assim inocentá-los de qualquer acusação; e que os juizes são forçados a julgar contra as leis por forças políticas e sociais. Tertuliano acreditava que a falta de uma investigação maior do governo imperial em relação aos cristãos e as suas práticas religiosas conduz a um pensamento superficial dela, assim reproduzindo essas idéias ao povo romano. Temos que ter em mente que esse tratamento diferenciado dos juizes era uma conseqüência. Lembremos que o culto imperial era a religio civilis, religião oficial do império e obrigatória a todas as pessoas do império de praticá-la. Quem não cultuava o imperador, era acusado de Lesa Majestade e quem não adorava os deuses era acusado de sacrilégio. Em todo o império havia culturas diversas, cada uma com as suas expressões culturais, com várias religiões e crenças múltiplas. Os romanos adoravam principalmente as suas instituições como ídolos, uma adoração por demais remota, impessoal e distante para conquistar afeição das pessoas4, pois não despertava neles uma emoção semelhante a adorar a deusa Atenas Políade, ou cultuar o sol, ou a um deus local. Indro Montanelli acredita que Antonino Pio foi um dos últimos romanos a acreditar sinceramente nos deuses romanos5. Numa “babel” de culturas, a lealdade ä autoridade imperial e as instituições romanas eram fracas: a falta de semelhanças entre os cultos locais e a cultura romana geravam conflitos, podendo causando tumultos e revoltas nas cidades. Também era incumbência de Roma trazer a civilização, a paz e a segurança a todos aqueles que estivessem em seus domínios. Os romanos sentiam a presença de muitos estrangeiros em seus domínios, e cada um deles com a sua cultura, com a sua religião e estio de vida. O senado combatia as mais diversas crenças religiosas as quais eles achavam ser abjetas e perversas, mas na maioria das vezes concedia aos seus praticantes o direito de cultuar seus deuses6. Ao império era fundamental alguma expressão cultural que unisse as pessoas com Roma, algo que os fizesse sentir parte do império e que fosse comum a todos7; enfim, que gerasse cooperação, concórdia e paz entre as pessoas e as instituições romanas. 4 – TOYNBEE, Arnold. A História e a Religião. Rio de Janeiro : Fundo de Cultura, 1961. p.76. 5 – MONTANELLI, Indro. História de Roma. Rio de Janeiro : Record, 1969. p. 337. 6 – GIBBON, Edward. Declínio e queda do império romano. São Paulo : Companhia das Letras, 1989. pp.49-50. 7 – PRÜMM, Karl. La religión del helenismo. In : König, Franz. Cristo y las religiones de la tierra. Madri : La editorial catolica, 1956. p.214. 21 Para os romanos a alternativa de lealdade, num tempo em que a religião invadia todas as esferas da vida pública e privada8, um dirigente endeusado era uma forma mais eficaz de atingir esse objetivo. Há muito tempo essa política de unificação cultural era implantada, começando o processo de divinização do imperador desde Tibério. Ao longo do processo, o culto ao imperador tornou-se um dever cívico, uma obrigação que os cidadãos deveriam cumprir. No inicio do processo de deificação, no oriente, o culto teve uma receptividade maior. Cada vez que a cultura oriental influenciava o império, o culto ao imperador era mais praticado. A legitimação do culto ao imperador foi tirada das idéias orientais: a idéia persa de hvarenó9; ou o imperador identificando-se com algum deus antigo ou novo já existente; ou ainda identificar-se como representante de algum deus. Entrando em conflito de crenças, os cristãos recusavam-se a praticar o culto ao imperador pois eles adorariam um humano e só Deus era divino ou porque eles sacrificariam aos deuses pagãos pela saúde do imperador, num tipo de idolatria. Quando não praticavam o culto ao imperador, implicitamente a pessoa estaria contra o imperador e contra as instituições romanas. A tudo isso, Tertuliano argumenta porque os cristãos não praticavam o culto ao imperador e a razão pela qual eles não admitiam que a autoridade imperial fosse divina, dedicando dois capítulos10. Pela recusa de cultuar o imperador, os cristãos não eram considerados cidadãos; não sendo cidadãos, não tinham direitos. Por isso tinham aquele tipo de tratamento que o autor da apologia denunciava. Eram tratados como estrangeiros; Além disso, o que pesava mais nos julgamentos é que eles eram passíveis de sofrerem a flagitia: a condenação por participarem de rituais contrários à moral. E mesmo que conseguissem a absolvição como inocentes de praticarem coisas imorais, poderiam ser submetidos a atos culturais que não poderiam fazer por causa de sua doutrina que era sacrificar aos deuses. Não cumprindo essa ordem, eles eram condenados por pertinacia. Até quando o cristão era acusado de ter cometido outros crimes a utilização de torturas para retirar do réu a confissão11 e depois da confissão era 8 – TEJA, Ramón. El Cristianismo Primitivo em la Sociedad Romana. Madrid : Istmo, 1990. p. 30. 9 – PRÜMM, Karl. La religión del helenismo. In : König, Franz. Cristo y las religiones de la tierra. Madri : La editorial catolica, 1956. p.214. 10 – Nos capítulos XXXIII e XXXIV, Tertuliano argumenta porque os cristãos não acreditam que o imperador era divino e porque não o adoravam. 11 – TERTULIANO, Quinto Septimio. Apología contra los gentiles. Buenos Aires : Espasa, 1947. p.22. 22 permitida por que os cristãos não cultuavam o imperador. Sobre a política imperial devemos aqui comentar sobre a relação de Marco Aurélio e os cristãos, acrescentando as suas diferenças. Marco Aurélio foi desde cedo iniciado em várias ciências: retórica, filosofia, direito romano, gramática e outras ciências, como também nas artes e desde cedo foi iniciado no serviço dos templos, conseguindo até decorar todas as palavras da antiga e ininteligível liturgia12. Mas ele sempre gostou muito de seu professor de filosofia. Desde cedo já adotava os ideais estóicos: diz Durant que ele preferia dormir no chão, usava somente os capotes que os filósofos vestiam; deixando claro que ele levava a sério esse estilo de vida e sua ‘devoção’ a filosofia13. Em seu mandato imperial, ele nunca largou seus ideais estóicos aprendidos em sua infância, influenciando as suas decisões. Amor e Compaixão eram emoções extinguidas de um filósofo estóico14, sendo visível nas atitudes de Marco Aurélio. O cristianismo é justamente o oposto, sendo grandes virtudes a demonstração de amor e compaixão, entrando em conflito no campo das idéias com a filosofia. Sobre a influencia de grupos sociais e de forças políticas nos julgamentos dos cristãos, Tertuliano acusa que há grupos sociais que influenciam os julgamentos: “(...) deveria causar suspeita em homens sábios pensar que há um pouco de força de domínio escondida aqui que furiosamente agarra você para julgar contra a natureza da justiça, contra o estilo dos tribunais, contra a disposição das leis”15. No início da fé cristã ela era perseguida pelas autoridades religiosas judias que não queriam que essa seita conseguisse adeptos entre os judeus. Naquele tempo eles tinham alguma força política nas províncias. Dependendo da localidade, eles usufruíam de maior influência com as autoridades romanas. No final do século II, a força política dos sacerdotes judeus era pouco significativa, pois desde a revolta judia em Jerusalém perderam o seu direito de culto, além dos romanos terem destruído o templo. No tempo do autor da Apologia, os judeus resumiam-se em pequenos grupos nas grandes cidades comerciantes do império. Se havia algum grupo influenciando qualquer julgamento, só era possível grupos locais organizados 12 – DURANT, Will. História da Civilização: de César a Cristo. Nova York : Companhia Editorial Nacional, 1957. p.75. 13 – DURANT, Will. História da Civilização: de César a Cristo. Nova York : Companhia Editorial Nacional, 1957. p.76. 14 – TOYNBEE, Arnold. A História e a Religião. Rio de Janeiro : Fundo de Cultura, 1961. p.104. 15 – TERTULIANO, Quinto Septimio. Apología contra los gentiles. Buenos Aires : Espasa, 1947. p.21. 23 que foram prejudicados pelos cristãos é que reclamavam e poderiam ter influência política para induzir julgamentos parciais. Neste mesmo capítulo, Tertuliano mostra-se pasmo e confuso com a resposta de Trajano a Plínio, o Jovem, não respeitando os processos judiciais da época, não respeitando os direitos e indo contra o Senado-consulto16; dando assim a entender que se os juizes não respeitarem as leis promulgadas pelo senado, estão contra o império; e ao imperador, se não obedecer ao senado-consulto, tirará o domínio civil e implantará um poder tirânico. Tertuliano afirma que eles não investigam o caso, indo contra as leis; e depois da confissão, os absolve se abjurassem, novamente contrariando as leis que previam que fossem condenados e pagassem as penas impostas. No caso da abjuração, a pessoa renegava a suas crenças e deveria sacrificar aos deuses como prova de que havia de fato não seria mais cristão. Era por causa disso que a pessoa era liberada da punição, pois o que o juiz cobrava era uma forma de pena. Interessante notar que parece que os juízes ainda utilizam esse texto como lei para os processos dos cristãos. Aqui Também podemos perceber que os cristãos eram conhecidos pelas autoridades romanas, pois Plínio, o Jovem já tinha julgados vários cristãos em sua província. Os governadores de província sabiam da existência dos cristãos, mas desconheciam seus cultos e crenças. Nas resposta de Trajano percebemos que eles já admitem que os cristãos sejam culpados, e somente há a dúvida em relação ao procedimento do julgamento e sobre a pena de sua condenação, deixando indignado Tertuliano, pois ele defende que o nome cristão não é criminoso. Mas nos julgamentos, a condenação era certa para os cristãos, pois eles realmente não cultuavam o imperador e admitiriam isso perante a autoridade romana se fossem inquiridos. E se admitiam o crime, não era necessária mesmo uma investigação porque já conseguiram uma confissão do acusado. Na verdade parece que os juizes tentam perder menos tempo possível com os julgamentos dos cristãos. Uma das maiores revoltas que Tertuliano demonstra no capítulo II é dos pagãos acusarem os cristãos de homicidas, incestuosos, infanticidas, de inimigos públicos e de praticarem rituais “bárbaros”, desumanos e as autoridades romanas não investigarem. O texto deixa claro que na região do apologista, os cristãos tinham essa má fama. Cristão era sinônimo de criminoso. Os juizes acreditavam que todos 16 – TERTULIANO, Quinto Septimio. Apología contra los gentiles. Buenos Aires : Espasa, 1947. p.21. 24 os cristãos cometiam esses crimes em suas reuniões, só precisando tirar do acusado a confissão de ser cristão. Tertuliano acredita que essa má fama é gerada pelo ódio popular; e o ódio popular era gerado pelo desconhecimento a religião cristã: “bem se infere que os que detestam a religião cristã a aborrecem porque não a conhecem,...”17. Ao povo, o cristianismo ainda era um culto misterioso. Praticado fora da vista das demais pessoas e em lugares pouco visíveis (cavernas, nas casas e em galerias subterrâneas), os pagãos levantavam dúvidas em relação à conduta deles e as suas práticas religiosas. Dessa maneira, não seria anormal pensar que os cristãos praticavam ritos “macabros” em suas reuniões; e boa parte das reuniões era feita nas casas deles, sendo possível a mentes mais humildes achar que faziam orgias, incestos e de até matar crianças. Devido a essas suposições, os pagãos poderiam crer que os cristãos invocavam as desgraças naturais e sociais contra as pessoas18; que eles oravam para trazer catástrofes. Não era difícil acreditar nisso, porque desde Nero já ouve uma tentativa de culpar os cristãos, fazendo deles como “bodes expiatórios”. Ao longo desses dois séculos a seguir, não seria impossível crer que algum outro governador de província utilizasse a mesma tática ou até a própria sociedade, encabeçada por algum agitador, culpá-los. Cristãos e Pagãos: conflitos religiosos Mas creio que a imputação da culpa aos cristãos pelas desgraças naturais e sociais era por causa da depreciação dos deuses pagãos e dos cultos tradicionais19. Aqui é válido lembrar que as divindades pagãs tinham os seus poderes e que eles representavam alguma força da natureza ou apresentavam algum caráter humano ao extremo. Alguns exemplos eram: Ceres, deusa romana, que cuidava das plantações; Netuno, deus dos mares, Júpiter, deus romano da guerra; etc. A cada um era “incumbido” algum poder sobre a natureza. A adoração a eles era uma forma de agradá-los para que ele os abençoasse com boas colheitas, com mares tranqüilos, com vitórias nas guerras e etc. A adoração a esses deuses era fundamental para a manutenção da ordem da natureza, da prosperidade dos 17 – TERTULIANO, Quinto Septimio. Apología contra los gentiles. Buenos Aires : Espasa, 1947. p.16. 18 – TERTULIANO, Quinto Septimio. Apología contra los gentiles. Buenos Aires : Espasa, 1947. p.105. 19 – TEJA, Ramón. El Cristianismo Primitivo em la Sociedad Romana. Madrid : Istmo, 1990. p.30. 25 trabalhos humanos e da permanência do império. A não adoração aos deuses deixaria as divindades irritadas; e irritados, trariam alguma desgraça: más colheitas, mares turbulentos, derrotas nas batalhas e outros. Em algumas cidades, era público que os cristãos não adoravam os deuses pagãos nem sacrificavam a eles. Quando acontecia alguma desgraça, ao povo era imediato, no seu pensamento, culpar os cristãos por não terem adorado os deuses. Juntando a isso, a reprodução do sentimento anti-judeu que já havia no tempo do fundador da religião cristã, ao longo do tempo, foi passando para os cristãos20). Além desta questão, e analisando a situação moral e religiosa do império, conseguimos perceber que há uma depreciação em relação à antiga religião romana. Ela já não mais satisfazia as necessidades e nem lhes causava nenhuma emoção ao cultuar os antigos deuses. Há muito tempo à sociedade romana vivia numa atmosfera em que pouco a pouco os valores e proposições tradicionais começavam a se evaporar. Boa parte desse fenômeno se deve a grande atração pelas coisas orientais: as trocas culturais com o oriente: tanto as diferentes formas culturais como as religiões e até bárbaras. Além disso, algumas práticas religiosas cristãs eram semelhantes as dos pagãos, sendo possíveis algumas comparações: “...Esta suspeita nasceu de nos ver rezando para o Oriente, e que nós celebramos no dia do sol nossa festa”21. Também essas relações nasceram de pagãos que diziam quem eram os cristãos: “Mas uma impressão nova de nosso Deus mostrou nesta cidade estes dias, depois de um gladiador que foi condenado escapou dos animais selvagens, (...), ele tirou uma imagem com esta inscrição: "O deus dos cristãos: Ononichites "”22, fazendo uma caracterização errônea dos cristãos ou reproduzindo idéias já existentes no pensamento pagão. Frontão afirmava que o Deus dos cristãos era uma cabeça de jumento, por causa da relação existente entre o cristianismo com o judaísmo. Essa idéia parecia que ainda era forte no final do século II porque Tertuliano ainda refuta essa afirmação, falando que Cneo Pompeyo, quando conquistou a cidade, não viu nenhuma imagem de jumento quando entrou no lugar sagrado do templo de Jerusalém23. Essas muitas suposições dos pagãos e o reforço de idéias existentes 20 – TEJA, Ramón. El Cristianismo Primitivo en la Sociedad Romana. Madrid : Istmo, 1990. p.30. 21 – TERTULIANO, Quinto Septimio. Apología contra los gentiles. Buenos Aires : Espasa, 1947. p.56. 22 – TERTULIANO, Quinto Septimio. Apología contra los gentiles. Buenos Aires : Espasa, 1947. p.56. 23 – TERTULIANO, Quinto Septimio. Apología contra los gentiles. Buenos Aires : Espasa, 1947. p.55. 26 criavam uma confusão em relação aos cristãos e suas crenças, sendo difícil aos próprios praticantes a exposição das crenças. Interessante notar que o cristianismo ainda não tinha uma identidade formada no pensamento social romano, mas ele era conhecido ou pelos menos os pagãos sabiam da sua existência. Intrigante notar que o cristianismo já era conhecido, mas era visto superficialmente e eram feitas comparações simples com as demais crenças existentes. As diferentes correntes teológicas dentro do cristianismo e a reprodução de preconceitos conduziam os pagãos a acreditar em práticas religiosas que chegavam até ser absurdas ou não conhecerem mesmo seus rituais. Neste aspecto, o cristianismo ainda não era uma religião demasiado conhecida pela sociedade romana do século II. Mas porque ela era analisada superficialmente? Pouca expressividade do cristianismo: por quê? Situação Religiosa Alguns aspectos auxiliam a compreensão da pouca expressividade do cristianismo no final do século II. A primeira é que o contexto religioso da época não era propício para a difusão de uma religião que acredita em um único deus. O mundo mediterrânico passou séculos acreditando no politeísmo. Em quase todas as religiões da antiguidade percebemos um panteão de deuses para a explicação de sua origem e da natureza. No contexto de Tertuliano, até a filosofia apoiava a existência de vários seres divinos para poder explicar o que rodeava o homem. As pessoas estavam acostumadas à idéia de haver outros deuses e não viam problemas em adorar outros deuses, pois os deuses eram, no final das contas, os mesmos, mas com nomes diferentes. Vale a pena aqui expor um pouco as religiões existentes no império, mostrar qual era os grupos sociais e econômicos que praticam e as semelhanças de ritos e de crença com as cristãs. No mundo imperial romano do século II, havia três tipos de religiões: Os cultos greco-itálicos; os cultos tradicionais locais e; os cultos mistéricos dos deuses orientais24. Apesar de poucas pessoas ainda praticarem, os cultos aos deuses romanos e gregos eram praticados nas suas terras natais, sendo ainda 23 – TERTULIANO, Quinto Septimio. Apología contra los gentiles. Buenos Aires : Espasa, 1947. p.55. 24 – PRÜMM, Karl. La religión del helenismo. In : König, Franz. Cristo y las religiones de la tierra. Madri : La editorial catolica, 1956. p.213. 27 cultuados pelos senadores romanos. Para muitos senadores, as crises políticas e sociais eram causadas pela abstenção dos romanos e das autoridades imperiais de cultuar os antigos deuses romanos do tempo da República. A influência pagã romana no cristianismo é expressiva com os escritos de Platão. Da religião dos romanos, algumas poucas coisas foram incorporadas naquele tempo, somente tendo bastante influência depois do século IV d.C. Não eram bem vistos pelos cristãos os cultos greco-itálicos pois ainda estavam relacionados com a autoridade imperial romana, sendo combatido qualquer idéia provinda dessas culturas religiosas. Os cultos tradicionais locais trabalham com a coletividade, com a ordem da comunidade local em geral, Os praticantes eram de grupos trabalhadores como artesãos, pescadores e outros grupos e corporações, sendo assim minorias no conjunto da sociedade imperial romana no século II. O mais interessante notar é que no meio do século II inicia-se uma maior influência das religiões orientais no império, principalmente as mistéricas. Karl Prümm afirma que as religiões mistéricas nasceram num processo de individualismo unilateral e a relação com o problema existencial do homem25. As religiões mistéricas têm em comum um individualismo espiritual e acreditam na existência transcendente que é concedida pela deidade: este bem lhe é dado se a pessoa tiver um comportamento moral e fizer certos rituais durante a sua vida. Essas religiões se baseiam em certos mistérios semelhantes as do cristianismo. Essas divindades obtiveram esses poderes porque fizeram alguma coisa notável que as pessoas comuns não conseguem. A grande atração que as religiões mistéricas conseguiram na sociedade romana durou mais ou menos um século e meio: de 150d.C. ao ano 300d.C26. No tempo de Tertuliano, elas tinham uma grande força social e política. Essas religiões abrangiam grande parte dos grupos sociais romanos: desde os mercadores, comerciante, soldados, burocratas, trabalhadores rurais, até para as autoridades locais e imperiais; enfim, elas eram praticadas por quase todos os grupos sociais. Entre essas muitas crenças mistéricas, destaco aqui as mais praticadas no tempo da produção da apologia: os cultos egípcios, o culto a Átis, os cultos sírios e o culto a Mitra. Esses quatro cultos são interessantes porque, além de 25 – PRÜMM, Karl. La religión del helenismo. In : König, Franz. Cristo y las religiones de la tierra. Madri : La editorial catolica, 1956. p.185. 26 – PRÜMM, Karl. La religión del helenismo. In : König, Franz. Cristo y las religiones de la tierra. Madri : La editorial catolica, 1956. p.222. 28 terem muitos adeptos, tem semelhanças com o cristianismo em seus rituais e/ou nas suas crenças. Nos cultos egípcios há como maiores expoentes o culto a Ísis ou a Osíris. Para os antigos adoradores, a crença nesses deuses não incluía em um princípio de idéias de cerimônias mistéricas. O mistério baseia-se no episódio antigo do assassinato de Osíris e da busca de Isis pelos pedaços de Osíris espalhados pelas margens do Nilo. Em um dos ritos, a pessoa que queria iniciar-se deveria apresentar-se em público como um deus e chamava a ele mesmo de renascido27. Assim como acreditavam os cristãos que quando eles eram batizados, diziam que foram renascidos, no culto a Ísis podemos perceber semelhanças nesse ritual, além de acreditarem que o seu Deus e os seus deuses voltaram a viver depois de mortos. Alguns historiadores acreditam que essa crença é anterior a era cristã, sendo possível ver a prática dessa cerimônia no Império Médio28, mas as cerimônias chamadas “descoberta de Osíris” eram celebradas no ocidente na época helenísticoromana. O culto sírio mais praticado era uma versão “nacional” do mito do “achado de Osíris”, em que o herói é Adonis, esposo da mãe natureza chamada Atargates. Um pouco diferente é a história: ele morre não por um rival mas por um javali que invade a sua casa. As mulheres choravam a morte de Adonis todos os anos em duelos violentos entre elas, ferindo a si mesmas. Ao final encontrava-se a imagem de Adonis que havia sido escondida especialmente para aquela cerimônia e enterravam a imagem do deus. Esses adoradores acreditavam que um dia depois do sepultamento, Adonis voltava a viver29 e, depois de alguns dias, os adoradores de Adonis celebravam alegremente a sua volta. O culto a Átis, vindo da frigia, é semelhante ao sírio, porém Átis não foi morto por um animal, mas por ter mutilado a sua própria genitália, por ter sido infiel a Cibeles, sua esposa. Alguns historiadores afirmam que os seus adoradores acreditavam que Átis havia voltado à vida, mas não há um escrito daquele tempo que confirme. Em todos esses cultos orientais, percebemos semelhanças entre eles que 27 – PRÜMM, Karl. La religión del helenismo. In : König, Franz. Cristo y las religiones de la tierra. Madri : La editorial catolica, 1956. p.193. 28 – PRÜMM, Karl. La religión del helenismo. In : König, Franz. Cristo y las religiones de la tierra. Madri : La editorial catolica, 1956. p.192. 29 – PRÜMM, Karl. La religión del helenismo. In : König, Franz. Cristo y las religiones de la tierra. Madri : La editorial catolica, 1956. p.195. 29 são interessantes: primeiro, Osíris, Átis e Adonis não eram exatamente deuses, mas semi-deuses. Eles eram humanos que ou conseguiram fazer coisas fora do alcance dos humanos comuns, ou um dos pais era um deus e o outro um humano. A esses semi-deuses não era possível, depois de mortos, viverem no lugar onde os deuses moravam. A eles é dado algum crédito por terem ressuscitado e conseguirem ter uma existência além dessa. Ao conseguirem voltar a viver, eles possibilitam aos humanos comuns uma existência depois da morte ou no mundo dos deuses ou em outro lugar (Campos de Eliseu por exemplo) através deles. Para eles conseguirem uma vida após a morte, era preciso adorar esses deuses em cerimônias e praticar certos rituais para ingressar nesses cultos. Alguns desses cultos eram até secretos, como o culto a Átis. Também compartilhavam da crença que nos banquetes os adoradores acreditavam que comiam coisas magicamente simbólicas dos seus deuses. Creio que para alguns pagãos, o cristianismo era somente mais uma religião que acreditava num herói que morreu, mas no fim ressuscitou e garante aos seus seguidores uma existência após a morte, como as demais religiões mistéricas orientais diziam, dificultando a sua visualização na sociedade. Não sendo muito diferente, o culto a Mitra é desenvolvido com essas características peculiares acima mostradas. Ela é construída com as bases míticas indo-germânicas (procede do círculo cultural dos agricultores30) com grande influência grega. O centro do mito de Mitra é que Apolo pede que o jovem deus rapte o touro da lua e sacrifique o touro e ele faz isso. A representação da cena do sacrifício mostra uma forte influência helenística através do leão que simboliza a força e da serpente que representa a encarnação da terra. É imputado ao deus Mitra o poder da salvação, por ter raptado o touro lunar que contem em si a fertilidade cósmica, capaz de dar vida aos mortos. Ao final da lenda, Mitra luta com o deus sol, Hélios, em que no final termina com uma reconciliação: Hélios leva Mitra consigo no seu carro solar e leva-o às alturas. Esse culto é mais semelhante às crenças cristãs porque não é só possível fazer uma analogia da ascensão de Cristo aos céus com a de Mitra, mas também do poder de Cristo de dar vida aos seus seguidores como esse jovem deus poderia. Além disso, o mitraísmo tinha uma crença escatológica que seguramente se baseava nos mistérios persas e nos mistérios de Mitra os adoradores recebiam o pão e a água consagrados, de forma semelhante ao 30 – PRÜMM, Karl. La religión del helenismo. In : König, Franz. Cristo y las religiones de la tierra. Madri : La editorial catolica, 1956. p.203. 30 simbolismo da carne e sangue de Cristo pelo pão e vinho. Essa religião cresceu muito na sociedade romana, principalmente dentro do exército, através dos soldados, sendo difundida a muitos lugares, principalmente nas fronteiras do império. Além disso, por ter bastante de seus adeptos nas fileiras do exército, usufruía de certo poder político na época vivida por Tertuliano. Tertuliano nega algumas crenças imputadas pelos pagãos sobre os cristãos e sua religião, nos aspectos ritualísticos e de doutrinas: “Por isso eu acredito que não há nenhuma coisa ruim dentro de nossa religião...”31. Percebemos que era possível aos pagãos confundem o cristianismo com outras religiões por causa de certos rituais ou crenças semelhantes às demais, mostrando que o cristianismo ainda não está solidamente formado como uma religião, mas ainda é encarado ou como uma seita judaica ou um segmento de uma outra religião mistérica. Acrescentando a isso os “preconceitos” estabelecidos pelos romanos aos judeus são reproduzidos aos cristãos, como se fossem da mesma religião e tivessem o mesmo caráter. Também era comparado com religiões orientais, ou filósofos ou pessoas que tinham práticas espirituais (bramares, gimnosofistas32), tidas pelos romanos como “bárbaras”. Tertuliano tenta entender o porquê “censuram por absurdas”, feitas pelos adoradores de imagens e objetos, a adoração da cruz de madeira dos cristãos. A adoração da Cruz era a devoção mais freqüente na Igreja Primitiva. Tertuliano compara a adoração cristã com a veneração a Palas Atenienses33. Diz que a cruz de madeira era semelhante a das palas que representavam a deusa: um tronco de madeira, bruto, colocado nas hortas para a deusa Ceres Farrea era igual a dois troncos de madeira cruzados. Eram somente troncos de madeira dispostos em formas diferentes. Além disso, A cruz era somente uma representação do seu Deus, e não a divindade própria; Pelas palavras do autor, os romanos não toleravam esse tipo de adoração: era algo repugnante e mórbido essa veneração, pois a cruz era o instrumento de punição para crimes de alta gravidade. Eram ali que criminosos penavam, sofriam e agonizavam até morrer pendurados nelas. Essa veneração a morte só é encontrada no século II na religião hindu, religião “bárbara” para as autoridades imperiais. Nos cultos hindus, as divindades necessitavam de sacrifícios 31 – TERTULIANO, Quinto Septimio. Apología contra los gentiles. Buenos Aires : Espasa, 1947. p.20. 32 – TERTULIANO, Quinto Septimio. Apología contra los gentiles. Buenos Aires : Espasa, 1947. p.109. 33 – TERTULIANO, Quinto Septimio. Apología contra los gentiles. Buenos Aires : Espasa, 1947. p.56. 31 para elas ficarem satisfeitas. Neste tempo, ainda era comum os sacrifícios humanos. No culto a morte funcionava assim também. As pessoas poderiam utilizar essa veneração a cruz para explicar os rituais macabros que imputavam aos cristãos acima citados, como também acreditar que os cristãos eram como esses adoradores hindus da morte ou até eram hindus. Pouca expressividade do cristianismo: por quê? Heresia: sinônimo de confusão Se na sociedade romana o cristianismo era confundindo com outras religiões por ter semelhanças em suas cerimônias e crenças, até para os próprios cristãos era difícil saber quais eram os rituais praticados, pois não havia uma unicidade de ritos em todas as comunidades cristãs. Paul Johnson afirma que os líderes das comunidades cristãs ainda “exerciam sua autoridade mediante dons do Espírito, não em virtude do ofício”34. Os dons mais bem quistos eram o da profecia e da pregação. O dom da profecia tem por característica a revelação: tanto do futuro ou do passado e/ou revelações de palavras de uma divindade, Tendo isso como referência, é possível acreditarmos que os rituais cristãos não eram iguais em todos os lugares por terem diferentes “revelações”, sendo possível a afirmação de que o culto cristão ainda era desorganizado (apesar de alguns ritos serem comuns), pois não havia um controle específico35. Em muitas comunidades cristãs havia um ritual chamado ‘beijo do amor’: na grande maioria delas era de homem a homem, e mulher a mulher; Em algumas não havia essa distinção. Muitos participantes sentiam um prazer nada teológico, fazendo com que Tertuliano ficasse na oposição à prática nesta cerimônia, afirmando que isso tinha um fundo sexual36. Depois do século III esse ritual foi gradualmente desaparecendo. Com esse tipo de ritual, os pagãos tinham argumentos para afirmar que os cristãos praticavam orgias em seus ajuntamentos. Também os pagãos acusavam os cristãos de infanticidas; diziam que eles utilizavam as crianças para sacrificarem nos seus cultos. Essa prática era comum em religiões secretas. Provavelmente essa crença do povo nasceu por causa de algumas comunidades cristãs que tinham uma espécie de orfanato: Os cristãos recolhiam as 34 – JOHNSON, Paul. História do Cristianismo. Londres : Imago, 1976. p. 59. 35 – JOHNSON, Paul. História do Cristianismo. Londres : Imago, 1976. p. 59. 36 – DURANT, Will. História da Civilização: de César a Cristo. Nova York : Companhia Editorial Nacional, 1957. p.279. 32 crianças abandonadas, batizavam-nas e criavam-nas com os recursos próprios37. Aqui podemos perceber que as denúncias não eram geradas do nada, como Tertuliano dá a entender, mas eram pouco ou bastante fundamentadas em rituais ou em serviços: as heresias eram o que mais davam razões para os pagãos afirmarem e suspeitarem de cultos absurdos e imorais praticados pelos cristãos. Neste mesmo tempo, surgiram grandes heresias dentro do cristianismo: as de Marcião, dos Montanistas e a influência do gnosticismo38. Destaco aqui um traço ritualístico que poderá exemplificar que as heresias confundiam os pagãos em relação à doutrina cristã: Em Marcião, entre outros aspectos doutrinários divergentes, exigia da sua comunidade que fizessem oração para o oriente. Essa era uma prática religiosa da Persa, comum dos adoradores do sol, como afirma Tertuliano: “Por ventura estes quiseram nos fazer Persas (...)? Esta suspeita nasceu de nos ver rezando para o Oriente, e que nós celebramos no dia do sol nossa festa”39. No todo das comunidades cristãs, não era um ritual utilizado pela maioria. Aqueles que seguiam as normas de Marcião poderiam fazer com que os pagãos acreditassem que os cristãos adorassem deuses bárbaros com os dos persas, assim como outras heresias tinham semelhanças com os rituais de outras religiões. Nas heresias percebemos que seus adeptos utilizam-se de rituais de outras religiões, ou incorporam crenças no credo cristão. (Tertuliano combate às idéias de Marcião em seu escrito adversvs Marcionem e outras heresias do seu tempo: adversvs hermogenvm em que busca defender a doutrina cristã da criação contra aqueles, entre os gnósticos, que consideravam a matéria eterna e outras40), dificultado aos pagãos saberem ao certo em que os cristãos acreditavam. Em Montano evidencia-se um sentimento anti-romano que precisa ser combatida. Assim como na vida religiosa os cristãos não se misturavam com o mal, assim as pessoas repudiavam o império. Montado mostrava um cristianismo perigoso ao império, e mais ainda a paz nas outras comunidades cristãs. Defendia que os cristãos não poderiam lutar nas fileiras do império, trazendo problemas ao império. Se eles 37 – DURANT, Will. História da Civilização: de César a Cristo. Nova York : Companhia Editorial Nacional, 1957. p.280. 38 – Um comentário mais profundo é feito por Paul Johnson. JOHNSON, Paul. História do Cristianismo. Londres : Imago, 1976. p. 59. 39 – TERTULIANO, Quinto Septimio. Apología contra los gentiles. Buenos Aires : Espasa, 1947. p.56. 40 – Para saber quais outras obras Tertuliano escreveu, consultar o Dicionário Patrístico e de antiguidades cristãs 33 recusassem a ser soldados, diminuiria o efetivo militar romano, não podendo defender as fronteiras do império, já tão extensas. Para a política imperial, isso traria problemas. Também esse sentimento anti-romano caminhava contra a política de unificação cultural, gerando mais revoltas e muitas preocupações com a manutenção da ordem e do domínio romano. Cristianismo: Religião bárbara ou civilizada? Essas afirmações prejudicavam a visão dos romanos com respeito ao Cristianismo. Com essas suposições, Tertuliano acreditava que não era possível uma avaliação justa e correta sobre os cristãos. O autor tenta separar o cristianismo das demais religiões e refuta essas suposições e crenças populares com o intuito de mostrar quem são. Na apologia ele apresenta o Cristianismo como religião civilizada, diferente das demais religiões existentes, em que muitas delas eram praticadas ou provinham de fora dos domínios romanos, sendo considerado bárbaro o que estava fora dos domínios das instituições romanas. Utilizando dessa idéia, o cartaginês separa o culto cristão das demais religiões provindas das demais regiões que eram consideradas “bárbaras”, como o culto ao sol, provinda dos Persas, ou os cultos aos deuses germânicos e indianos e até de práticas religiosas e espirituais de “bramares selvagens”41 da Índia, como o próprio cartaginês o denomina. Ele joga com esses conceitos romanos de forma sutil, afirmando que os cristãos nasceram nos domínios romanos, dando um ar de religião civilizada e menosprezando as demais, imputando elas de bárbaras. Além disso, Tertuliano escreve mostrando que as idéias que as pessoas tinham dos cristãos não eram verdadeiras, refutando qualquer coisa que apresente o cristianismo como sendo não civilizada: praticarem homicídios, sacrificar crianças, ter relações sexuais com seus parentes e outras práticas. Analisando isso, podemos crer que as autoridades romanas e a sociedade ainda imaginavam o cristianismo como uma religião “bárbara” no século II. 41 – TERTULIANO, Quinto Septimio. Apología contra los gentiles. Buenos Aires : Espasa, 1947. p. 109. 34 CONCLUSAO Ao analisar a fonte, percebi que o cristianismo ainda não tinha uma identidade formada no pensamento social romano. Ao ver as reações dos pagãos - as acusações, a violência e as condenações influenciadas por grupos sociais - é notório que a povo sabia da existência dos cristãos mas é visível que a sociedade pagã em geral desconhecia o culto e a doutrina cristã. As reações dos pagãos era a resposta das atitudes dos cristãos: pelas semelhanças com religiões mistéricas mais praticadas, pela confusão que causava as heresias e pelo mistério que envolvia os cultos cristãos, praticados fora da vista das pessoas e em lugares pouco apropriados. Isso contribuía como reforço às caracterizações já existentes no imaginário social e também político. Apesar da pouca expressividade, em algumas áreas os cristãos mudaram a dinâmica das relações sociais e políticos. Na política, Marco Aurélio mudou a relação entre os cristãos e as autoridades imperiais, sendo mais rígido e menos tolerante por causa da hostilidade da heresia montana. Na área social, vemos que os cristãos, de alguma forma, prejudicavam alguns grupos sociais ou adeptos de alguma religião local. As alterações nas dinâmicas não afetam o império como um todo mas somente a dinâmica local, tendo pouca repercussão. Com todas essas considerações, concluo que o cristianismo causou pouco impacto no império romano no século II. 35 REFERÊNCIAS - ROLDÁN, José Manuel; BLÁZQUEZ, José Maria; CASTILLO, Arcádio Del. História de Roma: El Império Romano (siglos I-III). Madrid : Cátedra, 1995. - TEJA, Ramón. El Cristianismo Primitivo em la Sociedad Romana. Madrid : Istmo, 1990. - DANIÉLOU, Jean; MARROU, Henri. Nova História da Igreja: dos primórdios a São Gregório Magno. Petrópolis : Vozes, 1973. - DURANT, Will. História da Civilização: de César a Cristo. Nova York : Companhia Editorial Nacional, 1957 - OLIVEIRA, Waldir Freitas. Antiguidade Tardia: De Marco Aurélio a Romulus Augustulus. Salvador : Ática, 1990. - JOHNSON, Paul. História do Cristianismo. Londres : Imago, 1976. - PRÜMM, Karl. La religión del helenismo. In : König, Franz. Cristo y las religiones de la tierra. Madri : La editorial catolica, 1956. - TOYNBEE, Arnold. A História e a Religião. Rio de Janeiro : Fundo de Cultura, 1961. - BERARDINO, Angelo Di. (org.) Dicionário Patrístico e de antiguidades cristãs. Petrópolis :Vozes, 2002. - MONTANELLI, Indro. História de Roma. Rio de Janeiro : Record, 1969. - GIBBON, Edward. Declínio e queda do império romano. São Paulo : Companhia das Letras, 1989 - LISSNER, Ivar. Os césares: Apogeu e Loucura. Belo Horizonte : Italiana, 1964